Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 IURGUEN OTOWICZ ANÁLISE DO APOIO DOS PÉS NO CHÃO E A SUA CORRELAÇÃO COM AS DISFUNÇÕES BIOMECÂNICAS DA ARTICULAÇÃO ÍLIO-SACRA CASCAVEL 2004 Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 IURGUEN OTOWICZ ANÁLISE DO APOIO DOS PÉS NO CHÃO E A SUA CORRELAÇÃO COM AS DISFUNÇÕES BIOMECÂNICAS DA ARTICULAÇÃO ÍLIO-SACRA Trabalho de Conclusão de Curso curso de Fisioterapia do Centro Ciências Biológicas e da Saúde Universidade Estadual do Oeste Paraná – Campus Cascavel. do de da do Orientador: Prof. André Pêgas de Oliveira CASCAVEL 2004 Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 TERMO DE APROVAÇÃO IURGUEN OTOWICZ TÍTULO: ANÁLISE DO APOIO DOS PÉS NO CHÃO E A SUA CORRELAÇÃO COM AS DISFUNÇÕES BIOMECÂNICAS DA ARTICULAÇÃO ÍLIO-SACRA Trabalho de Conclusão de Curso aprovado como requisito parcial para obtenção do título graduado em Fisioterapia, na Universidade Estadual do Oeste do Paraná. .......................................................................... Orientador: Prof. André Pegas de Oliveira Colegiado de Fisioterapia - UNIOESTE .......................................................................... Prof. Rodrigo Genske Colegiado de Fisioterapia – UNIOESTE .......................................................................... Profª . Juliana Cristina Frare Colegiado de Fisioterapia – UNIOESTE Cascavel, 11/02/2004 ii Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 iii RESUMO A presente pesquisa tem por finalidade verificar a existência da relação biomecânica entre o apoio dos pés no chão e as estruturas localizadas acima destes, ilustradas neste estudo pela articulação ílio-sacra. Pretende-se analisar entre os indivíduos, segundo o tipo de disfunção ilíaca apresentada, a ocorrência de efeitos da técnica corretiva empregada na modificação dos apoios plantares, observando a tendência ao pé cavo, normal ou plano dos indivíduos manipulados e a prevalência ou não dessas alterações logo após a manipulação osteopática. Para esta finalidade utilizamos uma amostra de 41 indivíduos de ambos os sexos, os quais foram submetidos a uma avaliação das suas articulações sacro-ilíacas, através do teste de Gillett. Em seguida estes mesmos indivíduos realizaram apoio estático sobre um pedígrafo, registrando-se então a impressão plantar. Após essa etapa, os indivíduos passaram por uma manipulação osteopática para correção da disfunção ilíaca apresentada e tiveram logo após o novo registro dos apoios plantares. Com os resultados, os indivíduos foram divididos em 4 grupos de acordo com o tipo de disfunção ilíaca apresentada: à direita anterior (DDA) e posterior (DDP) e à esquerda anterior (DEA) e posterior (DEP). O mais numeroso foi aquele portador de disfunção direita posterior (DDP), com 21 indivíduos, seguido por aqueles com disfunção direita anterior (DDA), com 14. Os resultados mostram que um grande percentual de indivíduos (65%) sofreu alguma alteração no apoio plantar após a manipulação ilíaca, alterando a sua classificação dentro dos critérios utilizados na pesquisa. Os indivíduos com disfunção ilíaca do lado direito (DDA e DDP) sofreram alterações que tendiam ao cavo em sua maior parte e os indivíduos com disfunção ilíaca à esquerda anterior (DEA) tiveram alterações que tendiam ao plano, também em sua maior parte. Conclui-se com isso que existe uma relação biomecânica descendente entre a articulação ílio-sacra e os pés, haja vista que logo após a manipulação osteopática observou-se sensível alteração no apoio plantar. PALAVRAS-CHAVE: osteopatia, apoio plantar, disfunção ílio-sacra. Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 SUMÁRIO RESUMO ................................................................................. iii LISTA DE FIGURAS ............................................................... v LISTA DE TABELAS ................................................................ vi LISTA DE GRÁFICOS............................................................. vii AGRADECIMENTOS............................................................... viii 1 INTRODUÇÃO....................................................................... 1 1.1 OBJETIVOS...........................................................................................3 1.2 JUSTIFICATIVA ....................................................................................3 1.3 CONTRIBUIÇÃO ESPERADA..............................................................4 2 REVISÃO DA LITERATURA ................................................. 5 3 ANATOMIA............................................................................ 6 3.1 SACRO ..................................................................................................6 3.2 INOMINADO ..........................................................................................7 3.3 ÍLIO.........................................................................................................7 4 CINTURA PÉLVICA .............................................................. 8 4.1 ASPECTOS MORFOLOGICOS...........................................................8 4.2 ASPECTOS BIOMECÂNICOS .............................................................8 4.3 ARTICULAÇÃO SACROILÍACA (ASI).................................................9 4.3.1 MÚSCULOS DA ASI .............................................................................................12 4.3.2 LIGAMENTOS DA ASI .........................................................................................13 4.3.3 VASCULARIZAÇÃO DA ASI ..............................................................................14 4.3.4 INERVAÇÃO DA ASI............................................................................................15 4.3.5 FUNÇÃO DA ASI...................................................................................................15 4.3.6 ASPECTOS BIOMECÂNICOS DA ASI................................................................16 4.3.6.1 MOVIMENTOS ASSIMÉTRICOS .....................................................................17 4.3.6.2 MOVIMENTOS ILIOSACROS DE ROTAÇÃO................................................17 4.3.7 DISFUNÇÕES ÍLIO-SACRAS ...............................................................................19 4.3.7.1 DISFUNÇÃO ILÍACA ANTERIOR....................................................................19 4.3.7.2 DISFUNÇÃO ILÍACA POSTERIOR ..................................................................20 5 OSTEOPATIA...................................................................... 21 5.1 LESÃO OSTEOPATICA (DISFUNÇÃO SOMÁTICA) .......................21 5.2 NEUROFISIOLOGIA DA LESÃO OSTEOPÁTICA............................25 6 O PÉ .................................................................................... 27 6.1 VASCULARIZAÇÃO DO PÉ...............................................................29 6.2 INERVAÇÃO DO PÉ...........................................................................29 6.3 ARCOS PLANTARES.........................................................................31 6.3.1 ARCO INTERNO....................................................................................................32 6.3.2 ARCO EXTERNO...................................................................................................32 6.3.3 ARCO ANTERIOR .................................................................................................33 Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 v 6.4 MÉTODOS DE CLASSIFICAÇÃO DO PÉ.........................................34 6.4.1 TIPOS DE PÉ ..........................................................................................................35 6.4.1.1 PÉS CAVOS.........................................................................................................35 6.4.1.2 PÉS PLANOS.......................................................................................................36 6.4.2 EQUILÍBRIO ARQUITETÔNICO DO PÉ ............................................................36 6.5 DISTRIBUIÇÃO DAS PRESSÕES.....................................................37 6.6 FISIOLOGIA MECÂNICA DO PÉ.......................................................39 6.6.1 ARTICULAÇÃO TIBIOTÁRSICA (TIBIOTALAR) ............................................39 6.6.2 ARTICULAÇÃO TIBIOFIBULAR........................................................................40 6.7 SISTEMA ESTÁTICO .........................................................................40 6.7.1 ARTICULAÇÕES SUBTALARES ........................................................................40 6.7.2 ARTICULAÇÃO MÉDIOTÁRSICA .....................................................................41 6.7.3 ARTICULAÇÃO TARSOMETATÁRSICA ..........................................................42 7 PEDIGRAFO........................................................................ 43 8 MATERIAL E MÉTODOS .................................................... 45 9 RESULTADOS .................................................................... 51 10 DISCUSSÃO...................................................................... 58 11 CONCLUSÃO .................................................................... 63 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................... 64 Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 v LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 - Ossos do pé..................................................................................................... 27 FIGURA 2 - Vista posterior do pé ilustrando parte da irrigação e inervação............. 30 FIGURA 3 - Representação de pedígrafo da marca salvapé........................................ 43 FIGURA 4 - Representação da forma de avaliar o pé, segundo Staheli..................... 44 FIGURA 5 - Representação das linhas de referência. ................................................... 49 FIGURA 6 - Classificação da impressão plantar segundo os critérios de VALENTI (1979). A = Normal; B = Grau 1; C = Grau 2; D = Grau 3; E = Grau 4 ........................ 50 FIGURA 7 e FIGURA 8 – Representação da impressão plantar de um indivíduo do sexo masculino com disfunção ilíaca direita posterior (DDP) antes e após a manipulação osteopática na articulação ílio-sacra. Notar a diminuição de apoio em mediopé.................................................................................................................................. 52 FIGURA 9 e FIGURA 10 - Representação do apoio plantar no podoscópio antes e após as correções das diversas disfunções apresentadas pelo indivíduo. Notar ausência de apoio no arco externo esquerdo antes e a sua presença após as manipulações. Obs: o indivíduo apresentava disfunção sacroilíaca à esquerda....... 61 FIGURA 11 e FIGURA 12 – Representação do apoio plantar no podoscópio antes e após as correções das diversas disfunções apresentadas pelo indivíduo, segundo RICARD e THERBAULT (1991). Notar melhora no apoio dos arcos, principalmente o esquerdo. Obs: o indivíduo apresentava disfunção sacroilíaca à direita, com ílio posterior.................................................................................................................................. 61 Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 vi LISTA DE TABELAS TABELA 1 - Distribuição das alterações ocorridas nos pés dos indivíduos do grupo com DDP................................................................................................................................ 53 TABELA 2 - Distribuição das alterações ocorridas nos pés dos indivíduos do grupo com DDA ................................................................................................................................ 54 TABELA 3 - Distribuição das alterações ocorridas nos pés dos indivíduos do grupo com DEA. ............................................................................................................................... 54 TABELA 4 - Distribuição das mudanças de classificação dos tipos de pés, sem considerar o lado da disfunção ilíaca. ............................................................................... 56 Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 1 - Distribuição dos indivíduos por disfunção ilíaca..................................... 51 GRÁFICO 2 - Distribuição dos indivíduos com alguma alteração de apoio e distribuição de pés com alteração após a manipulação................................................. 55 GRÁFICO 3 - Distribuição percentual dos pés que sofreram alteração ...................... 56 GRÁFICO 4 - Distribuição percentual das alterações nos pés considerando somente a disfunção ilíaca do lado direito. ....................................................................................... 57 GRÁFICO 5 - Distribuição percentual das alterações nos pés considerando somente a disfunção ilíaca do lado esquerdo. ................................................................................. 57 Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 AGRADECIMENTOS Agradeço... ...a minha família, ausente, mas presente em segredo na saudade que me deixou continuar. Obrigado pelo apoio, sem vocês eu simplesmente seria indivíduo, com vocês, me tornei pessoa. ...ao professor André pelo apoio, incentivo, compreensão e disponibilidade para a execução deste projeto. ... a minha namorada, aos meus colegas e amigos, e todos que de alguma forma contribuíram com este trabalho, meu eterno obrigado! ...principalmente a DEUS, pelo dom da vida e pela oportunidade de chegar a esse dia trazendo tão poucas ilusões acerca de mim mesmo, foram-se as ilusões, ficaram as esperanças... Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 1 1 INTRODUÇÃO Este trabalho visa realizar um estudo analítico acerca da existência de correlação da estrutura da pelve e o apoio dos pés no chão. Segundo BIENFAIT (1989), “os apoios dos pés no chão condicionam toda a estática. Não há boa estática sem bons apoios, sejam as deformações dos pés causa ou conseqüência da estática deficiente”. Ainda, conforme BRICOT (1998), “uma deformação ou assimetria qualquer dos pés repercutirá sempre mais acima e necessitará de uma adaptação do sistema postural”. Estas citações despertam à importância da boa estática, condicionada pelo bom apoio dos pés no chão, e demonstra que a análise da sua mecânica patológica pode se tornar imprecisa ao ser realizada isoladamente, tornando por muitas vezes o tratamento terapêutico ineficaz por não relacionar uma estrutura às outras. Com relação à biomecânica ascendente, KAPANDJI (2000) afirma que “a cintura pélvica é considerada um conjunto que transmite forças para a coluna vertebral e membros inferiores. O conjunto formado pela coluna vertebral, pelo sacro, ilíaco e membros inferiores constituem um sistema articulado: por um lado na articulação coxo-femoral e por outro, a articulação sacroilíaca”. E mais, que “a reação do chão exercida ao nível das articulações coxo-femorais forma com o peso do corpo sobre o sacro um par de rotações, que tem a tendência de retroversão ilíaca, que é impedida por ligamentos. O peso do tronco, ao recair sobre o sacro tende a deslocar o promontório para baixo, promovendo a anteversão”. Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 2 Estas interações entre as articulações da cintura pélvica e as suas influências sobre as estruturas à distância, seja ascendente ou descendentemente caracterizam a biomecânica estática. Quando da existência de quaisquer alterações de apoio, sejam elas causativas ou não, observam-se compensações adjacentes e, evolutivamente, à distância, as quais são reunidas de forma específica quando relacionadas com determinadas assimetrias. BRICOT (1998) faz uma análise das cadeias posturais reacionais às alterações mais comuns em relação ao apoio dos pés: o pé plano e o pé cavo. O pé plano é a acompanhado de desordens posturais de forma característica: calcâneo valgo; rotação interna de tíbia e fêmur; patelas mais medializadas; báscula articular medial, tendência ao flexo; abertura da pelve; anteversão dos ilíacos e aumento da lordose lombar. O pé cavo tem como conseqüências opostas em todos os pontos anteriores: calcâneo varo; rotação externa da tíbia e do fêmur, levando a um defeito de cobertura anterior da cabeça femoral, patelas mais lateralizadas que levam à hiperpressão patelar lateral; tendência ao recurvatum e báscula lateral; retroversão ilíaca e diminuição da curvatura lombar. Por se tratar de um tema pouco explorado e dispormos na literatura de algumas considerações que associam a provável relação existente entre a articulação sacroilíaca (ASI) e uma modificação no apoio plantar, fomos motivados a pesquisar de forma objetiva e direta, se de fato ocorre uma alteração no apoio dos pés no chão - aqui discriminada e classificada em pé normal, cavo ou plano – após uma manipulação osteopática na referida articulação pélvica. Diante do que foi citado pelos referidos autores, é possível acreditar que a inter-relação funcional entre as estruturas da pelve e dos pés é bastante provável, e Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 3 que a busca da sua veracidade torna-se importante e interessante para a comunidade e terapeutas. 1.1 OBJETIVOS O presente estudo teve como objetivo verificar se há a correlação biomecânica entre a articulação ílio-sacra e os pés, pela integração osteomuscular entre as estruturas citadas, através das correções das disfunções ilíacas, repercutindo em alterações na descarga realizada pelos pés no chão em todos os indivíduos estudados. Por se tratar de um tema pouco explorado e dispormos na literatura de algumas considerações que associam o ilíaco (articulação ílio-sacra) e o apoio plantar, buscamos analisar entre os indivíduos, segundo o tipo de disfunção ilíaca apresentada, a ocorrência de efeitos da técnica corretiva empregada na modificação dos apoios plantares, observando a tendência ao pé cavo, normal ou plano dos indivíduos manipulados e a prevalência dessas alterações logo após a manipulação osteopática. 1.2 JUSTIFICATIVA Pretende-se através desta pesquisa buscar a veracidade prática dos achados bibliográficos, os quais trazem a relação biomecânica entre a articulação ílio-sacra e os apoios plantares. Se, quaisquer alterações ao nível da cintura pélvica exercem influência na biomecânica dos apoios dos pés e vice-versa, imagina-se com isso que a aplicação de uma técnica corretiva ílio-sacra, depois de constatada a alteração da Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 4 sua biomecânica, terá um reflexo nos apoios plantares e por conseqüência em todo perfil postural adotado pelo indivíduo. A principal justificativa para este fato reside na íntima relação apresentada entre as estruturas osteomusculares do corpo humano que se articulam de maneira sinérgica, preconizando a integridade funcional, modificando-se frente a uma estrutura lesionada. 1.3 CONTRIBUIÇÃO ESPERADA Espera-se com esta pesquisa demonstrar a existência da associação biomecânica funcional dos pés com a articulação ílio-sacra, já que as patologias podais são, na maioria das vezes, encaradas e tratadas isoladamente de uma alteração descendente. Isto repercute em mudanças na análise clínica adotada para a elaboração do plano de tratamento adequado quando este visar a reabilitação das disfunções podálicas. Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 2 REVISÃO DA LITERATURA 5 Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 6 ANATOMIA 3.1 SACRO O nome do osso sacro deriva da palavra grega sacer, que significa sagrado. Origina-se da fusão de cinco somitos do mesoderma. Durante a quarta semana embrionária, de 42 a 44 pares de somitos surgem do mesoderma paraxial. Embora de forma irregular, o sacro se desenvolve a partir do 31o ao 35o somito. Cada um desses somitos se divide em 3 componentes, esclerótomo, miótomo e dermátomo. A condrificação do sacro precede a ossificação e começa na sexta semana embrionária. Os principais centros de ossificação para a massa central das vértebras e para cada metade do arco vertebral aparecem entre a décima e a vigésima semana, enquanto os principais centros dos elementos costais aparecem mais tarde, entre o sexto e oitavo mês. Possui formato triangular e está situado na base da coluna vertebral, entre os dois inominados. É formado pela fusão de cinco vértebras sacrais. Esse osso apresenta grandes variações, tanto entre os indivíduos como entre as faces direita e esquerda do mesmo osso. A superfície articular do sacro possui formato irregular (em forma de L) e é inteiramente contida pelos elementos costais dos três primeiros segmentos sacrais (LEE, 2001). O braço curto da superfície em forma de L situa-se no plano vertical esta contida dentro do primeiro segmento sacral. O braço longo situa-se no plano ânteroposterior dentro do segundo e terceiro segmento sacrais. Os contornos da superfície articular exibem grandes variações. KAPANDJI (2000), relata a presença de um Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 7 sulco curvado margeado por duas cristas longitudinais, que corresponde a uma crista longitudinal convexa na superfície articular do ilíaco. 3.2 INOMINADO O inominado é composto de três partes: o ílio, o ísquio e o púbis, que se fundem no adulto para formar um só osso (LEE, 2001). 3.3 ÍLIO É uma estrutura em forma de leque que forma a face superior do inominado e conforma a porção superior do acetábulo. A crista ilíaca é convexa no plano sagital e sinusoidal no plano transversal, de forma que porção anterior é côncava no sentido medial e a porção posterior é convexa no sentido medial. A inversão da curva ocorre no mesmo plano coronal do braço curto da superfície articular em forma de L. A espinha ilíaca ântero-superior (EIAS) e a espinha ilíaca póstero-superior (EIPS) estão localizadas nas duas extremidades da crista ilíaca. Inferior à (EIPS), o ílio descreve uma curva irregular e termina na espinha ilíaca póstero-inferior (EIPI). Assim como o sacro, a sua superfície articular é em formato de L, com o eixo do braço curto no planto ínfero-superior e o eixo do braço longo no plano ânteroposterior. Foram constatados inúmeras elevações, depressões, cristas e sulcos que se desenvolvem com a idade. A articulação ilíaca com o sacro não pode ser palpada (LEE, 2001). Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 8 4 CINTURA PÉLVICA 4.1 ASPECTOS MORFOLOGICOS A pelve é constituída por três peças ósseas e três articulações. Duas articulações sacroilíacas e a sínfise púbica. Pelas articulações sacroilíacas o sacro se articula posteriormente com os dois ossos do quadril (inominado). A articulação sacroilíaca põe em contato duas superfícies articulares. Na face lateral do sacro observamos a superfície auricular que se articula com ilíaco. Essa superfície tem a forma de um L invertido, sendo que no homem ela geralmente ocupa do primeiro ao terceiro segmento sacral e na mulher do primeiro ao segundo Essa superfície não é orientada uniformemente no plano sagital, mas se assemelha a uma hélice. Posteriormente à superfície auricular encontramos a faceta auricular que se articula com o sacro. Através dessa observamos uma área rugosa para inserção do ligamento sacroilíaco interósseo (GRAY, 1988). 4.2 ASPECTOS BIOMECÂNICOS A cintura pélvica considerada em conjunto transmite forças entre a coluna vertebral e os membros inferiores e, através dos tecidos moles que a envolvem permite-se à estabilidade do anel pélvico (MARINZECK, 2003). O peso (P) que a quinta vértebra lombar suporta se reparte em duas partes iguais em direção às asas do sacro para depois, através das espinhas ciáticas, dirigir-se até a cavidade cotilóide. Nesse ponto a resistência do chão é recebida ao peso do corpo (R) e transmitida pelo colo do fêmur e pela cabeça femoral. Uma parte desta resistência Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 9 fica anulada pela resistência oposta, no nível da sínfise púbica após ter atravessado o ramo horizontal do púbis. O conjunto dessas linhas de forcas constitui um anel completo representado pela abertura superior da pelve (KAPANDJI 2000). Devido à sua largura mais ampla em cima do que embaixo na sua parte articular, se pode considerar o sacro como uma cunha que se incrusta verticalmente entre as duas asas ilíacas. Unido a elas por ligamentos, o sacro esta mais apertado entre as asas quanto maior for o peso exercido sobre ele: trata-se de um sistema de autobloqueio. Além disso, o sacro se encontra encaixado entre as duas asas ilíacas no plano transversal. Cada asa ilíaca pode ser considerada como um braço de alavanca cujo ponto de apoio estaria localizada na articulação sacroilíaca e cuja resistência e potência estaria localizada nas extremidades superiores e inferiores (KAPANDJI, 2000). 4.3 ARTICULAÇÃO SACROILÍACA (ASI) Localizada no centro da cintura pélvica, a ASI é projetada principalmente para estabilidade e projeção de forças. Os elementos ósseos da articulação incluem especificamente a região póstero-lateral da asa do sacro ao nível do primeiro e segundo segmento do sacro e da superfície ântero-medial do ilíaco adjacente a espinha ilíaca póstero-inferior (EIPI). A articulação pode ser dividida em dois componentes: (a) A porção sinovial que é anterior e que consiste nas superfícies auriculares do sacro e ilíaco; e (b) a porção sindesmótica, que fica em posição mais posterior e que consiste na área rugosa das tuberosidades do sacro e do ilíaco. Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 10 LEE (2001) relata que a articulação sacroilíaca é uma verdadeira articulação diartroidal formada pela junção entre o sacro e a região ântero medial do ilíaco. A natureza sinovial da ASI foi descrita pela primeira vez em 1700 por Sigefried Albinus e William Hunter. Segundo a mesma autora, no nascimento as superfícies articulares são bastante lisas e achatadas, permitindo movimentos deslizantes em virtualmente todas as direções. Conseqüentemente, nesse estágio as articulações sacroilíacas lembram articulações sinoviais. Durante a primeira década, as superfícies permanecem bastante achatadas, mas tornam-se menos lisas, já que se torna mais pronunciada a diferença na textura entre cartilagens sacral e ilíaca. Antes do inicio da terceira década, a superfície articular sacral torna-se deprimida ao longo de seu comprimento. A depressão sacral e a elevação ilíaca são algumas vezes referidas como sulco sacral e a crista ilíaca. As superfícies articulares reais gradualmente desenvolvem um complexo padrão irregular de sulcos, cristas, eminências e depressões que são recíprocas entre si apenas parcialmente. As superfícies irregulares e desiguais são típicas de articulações sinoviais comuns. Ademais, embora as articulações sinoviais comuns sejam habitualmente feitas para permitir uma grande amplitude de movimento, o intertravamento parcial das superfícies articulares da ASI restringe intensamente o movimento. Em idade avançada, a cavidade articular da ASI freqüentemente torna-se obliterada com um aumento gradual nas aderências fibrocartilaginosas (LEE, 2001). O formato geral das superfícies auriculares varia entre um formato de C e um de L. Para propósito descritivo, cada superfície auricular é com freqüência dividida Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 11 em porções cranial e caudal. Com o sacro a posição anatômica, a porção cranial aponta para cima e, em alguns casos, levemente para trás, enquanto a porção caudal aponta para trás e, em alguns casos, levemente para baixo. A região entre as porções cranial e caudal é algumas vezes referida como o ângulo da superfície auricular (WATKINS, 2001). A superfície auricular sinovial tem forma semelhante à aurícula do ouvido externo, com uma borda superior ampla orientada de forma ântero-superior. Na superfície do sacro a borda superior ocupa aproximadamente dois terços da asa posterior do sacro e a borda inferior se estende abaixo do tubérculo transverso do segundo sacro da crista lateral. A parte mais anterior da ASI é formada pelo ápice da convexidade das superfícies auriculares ao nível do primeiro forame do sacro anterior. Dentro da superfície auricular do sacro há um sulco longitudinal central aproximadamente paralelo aos limites anterior e posterior da articulação. Este sulco articular é complementar a uma crista articular óssea na superfície auricular do ilíaco e pode ter a função de engrenar o mecanismo de estabilização da articulação (LEE, 2001). As superfícies auriculares da ASI são únicas quanto ao tipo de cartilagem que as demarcam. A superfície auricular do sacro e demarcada por uma camada de 3 mm de cartilagem de hialina, típica das articulações sinoviais em geral, e esta camada e aproximadamente três vezes mais espeça do que a do lado do ilíaco (COX, 2002). Histologicamente, esta cartilagem hialina é homogênea e composta por condrócitos grandes, arredondados, emparelhados, distribuídos por toda matriz e organizados em colunas de células paralelas com a superfície articular. Em Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 12 contraste a superfície auricular do ilíaco é demarcada por uma camada fina de 1 mm de fibrocartilagem caracterizada por condrócitos menores, em forma de carretel, incrustados em uma matriz de colágeno. Os dois tipos de cartilagem articular presente nos lados opostos desta articulação sugerem uma disparidade na função entre as duas superfícies articulares (LEE, 2001). 4.3.1 MÚSCULOS DA ASI Segundo COX (2002), não existe um músculo intrínseco para a ASI. Entretanto, aproximadamente 40 músculos podem influenciar o movimento desta articulação. Alguns desses músculos aderem em três pontos, incluindo uma pequena porção conectando o sacro e o ilíaco da ASI. Estes são o eretor da espinha, o multifídio, o iliopsoas, o glúteo máximo e os músculos piriformes. Os músculos que cobrem a superfície anterior da ASI são o iliopsoas e o piriforme e os músculos que cobrem a superfície posterior são os glúteos. A ASI também é afetada pelos músculos capazes de inclinar a cintura pélvica. Os movimentos da ASI são criados (a) pelos músculos que flexionam, estendem ou giram a coluna vertebral, movendo o sacro; (b) os músculos que flexionam, estendem, abduzem, aduzem e pronam a coxa, movendo o ilíaco e (c) pelos músculos que inclinam a pelve anteriormente, movendo o sacro posteriormente, inclinam lateralmente para ambos os lados, movendo o ilíaco. Os músculos sartórios estendem o ilíaco enquanto que os músculos tendinosos flexionam o ilíaco. Os músculos retos abdominais e eretores da coluna inclinam a pelve anterior e posteriormente (COX, 2002). Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 13 RICARD (2000) relata que se os músculos flexores e extensores possuem um tônus normal, a sacroilíaca se estabiliza. A disfunção somática devido aos espasmos musculares que fixam a lesão associa uma hipomobilidade e um desequilíbrio tônico agonista-antagonista: o espasmo do agonista produz a inibição do antagonista por via reflexa. A hipotonia favorece a hipomobilidade reacional suprajacente à zona hipomóvel. Os músculos implicados são o psoas e o espinhais lombares. 4.3.2 LIGAMENTOS DA ASI Segundo COX (2002), a cápsula fibrosa da ASI é fortalecida anteriormente e posteriormente por ligamentos capsulares intrínsecos e extrínsecos. Posteriormente, ligamentos interósseos enchem o espaço entre a crista sacra lateral e o lado interno da tuberosidade ilíaca. Estes ligamentos possuem fibras multidirecionais e cobrem cerca da metade da extensão da articulação. Várias camadas de ligamentos sacroilíacos posteriores curtos e longos cobrem os ligamentos dos ílios e a face posterior do sacro. Estes se fixam na tuberosidade dos ílios (na linha glútea posterior) e são dirigidos medial e distalmente para fixar-se no sacro. No lado ventral estão os ligamentos sacroilíacos anteriores, que são finos e não tão extensos quanto os ligamentos posteriores. Os ligamentos sacroilíacos anteriores e posteriores suspendem o sacro dos ílios e, à medida que a sustentação de peso impulsiona o sacro distalmente sobre os ílios, estes ligamentos atuam como amortecedores. O forte ligamento longitudinal anterior, que cobre as vértebras lombares no sacro e ligamentos iliolombares, é confundido com as vértebras. Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 14 Os ligamentos sacrotuberositários e sacroespinhosos são ligamentos largos, longos, que conectam a face do sacro à espinha e à tuberosidade do ísquio. Estes ligamentos possuem excelente alavancagem para manter a área distal do sacro no lugar contra as forças de sustentação de peso anterior que tendem a fazer o promontório sacro inclinar-se anterior e distalmente. A combinação da arquitetura óssea e o forte e extenso sistema ligamentar da ASI produzem um mecanismo autotravado. À medida que as forças aumentam para causar movimento para baixo do sacro sobre ílios, os ligamentos posteriores apertam e puxam os ílios para mais juntos como uma pinça (SMITH et. al, 1997). 4.3.3 VASCULARIZAÇÃO DA ASI Ramos da divisão posterior da artéria ilíaca interna supre a região anterior da articulação sacroilíaca. O principal ramo para articulação anteriormente é a artéria lateral do sacro, que geralmente é o ramo direito da divisão posterior da artéria ilíaca interna. Essa artéria passa inferiormente ao longo da lateral do sacro para o forame do sacro anterior para o qual pode enviar ramos radiculares e penetra o músculo piriforme, que ele supre, para atingir a ASI. Posteriormente, a ASI é suprida por ramos que penetram na artéria glútea superior e também um ramo da artéria ilíaca interna, que entra na região glútea profundamente no músculo glúteo máximo através do forame ciático maior. A artéria glúteo superior tem divisões superficiais e profundas; a divisão superficial ramifica-se de forma medial para suprir o glúteo máximo e penetra no músculo multifídio para atingir o aspecto posterior da ASI (COX, 2002). Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 15 4.3.4 INERVAÇÃO DA ASI A articulação sacroilíaca é ricamente inervada tanto por nociceptores (receptores de dor) quanto por proprioceptores (sensores de movimento e posição). Essa rica inervação pode se dar pelo fato de a articulação monitorar o movimento e a posição da cintura pélvica, contribuindo dessa forma, para manter o corpo equilibrado e ereto. Há muita variação entre indivíduos e entre lados diferentes do mesmo indivíduo. Os nervos de L2 à S4 podem ser encontrados na ASI. Posteriormente os nervos correm entre a camada superficial dos ligamentos interósseos sacroilíacos e os ligamentos sacroilíacos dorsais. A superfície anterior da articulação é freqüentemente inervada pelos ramos primários anteriores de S1 e S2 (COX, 2002). A porção anterior da articulação é inervada pelos ramos anteriores primários das raízes L2 até S2, com a maior fonte vindo de L4 e L5. A porção posterior recebe inervação dos ramos posteriores das raízes S1 e S2 (GREENSTEIN, 1997). 4.3.5 FUNÇÃO DA ASI Sua função permanece discutível, como citou DONTIGNY (1985) apud 1 MARINZECK (2003) “as articulações sacroilíacas permanecem um mistério e o conhecimento de seu preciso modo de função é ainda incompleto”. GRAY (1988), coloca que as articulações reduzem a força de impacto ao solo, absorvendo as energias inércias entre o tronco e a pelve. Durante a marcha, um momento de desaceleração é criado no toque inicial do calcanhar. Essa força é Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 16 transmitida até a pelve pelo membro inferior onde encontra o momento inercial do tronco. As articulações sacroilíacas ajudam a absorver essas forças concorrentes. As articulações sacroilíacas através de um movimento de contra-rotação reduzem a transferência das rotações da pelve para a coluna, mantendo-a estável. De uma forma geral, a presença das ASI (ainda que possuindo pequenos movimentos) permitem uma maior flexibilidade à pelve dispondo-a de uma maior adaptabilidade aos movimentos ao mesmo tempo em que permite maior estabilidade através da redução de forças torcionais (MARINZECK, 2003). 4.3.6 ASPECTOS BIOMECÂNICOS DA ASI Acredita-se que ASI nos bípedes suporte duas vezes a carga do tronco, devido a influências gravitacionais, conseqüentemente devido a necessidade de equilibrar e sustentar o peso, acredita-se que ASI do bípede tenha sofrido uma transformação posicional e esteja mais alinhada em paralelo com a coluna vertebral. Além disso, ela é metade sindesmótica e metade sinovial. Para garantir a estabilidade e ainda lidar com seu papel funcional, ASI transformada é fortalecida pelo ligamento interósseo e por superfícies ósseas congruentes que facilitam a integração óssea. Não há um consenso na literatura para um modelo único de movimento da articulação sacroilíaca ou para um eixo fixo desse movimento. Há, entretanto, um consenso com relação à qualidade de alguns movimentos e a quantidade desses. O sacro e o ilíaco podem se mover um em relação ao outro de forma simétrica ou assimétrica. A este nível temos os movimentos iliossacros que consistem em 1 DONTIGNY, R. L. Function and phatomecanicsof the sacroiliac joint. Physical Therapy 65(1): 35-43, 1985. Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 17 deslocamentos da asa ilíaca em relação ao sacro fixo e movimentos sacroilíacos, que consistem em deslocamento do sacro em relação a asa ilíaca considerada fixa (MARINZECK, 2003). 4.3.6.1 MOVIMENTOS ASSIMÉTRICOS O sacro tende a seguir a coluna lombar durante os movimentos do tronco. Uma rotação na coluna lombar causa uma rotação homolateral do sacro e concomitante inclinação contralateral, juntamente com uma insignificante rotação sacral. Observa-se que quando o indivíduo em pé eleva o membro inferior direito com o joelho fletido, o ilíaco direito retroverte de forma que a espinha ilíaca pósterosuperior (EIPS) se mova posteriormente e inferiormente em relação ao segundo tubérculo sacral. Este movimento foi denominado flexão da ASI direita. Porém, se o membro inferior esquerdo é elevado, um movimento diferente é visto na articulação sacro ilíaco direito. A medida em que o membro é elevado o ilíaco esquerdo retroverte até que atinja o seu limite de movimento em relação ao sacro. A partir daí, o ilíaco carrega o sacro em seu movimento de rotação posterior e esse movimento é verificado na articulação sacroilíaca direita e é chamado de extensão da ASI direita (MARINZECK, 2003). 4.3.6.2 MOVIMENTOS ILIOSACROS DE ROTAÇÃO O ilíaco realiza dois tipos de rotação anterior e posterior. Em relação ao sacro, os ilíacos giram como um volante em torno de um centro teórico situado ao nível do ligamento interósseo. Na rotação anterior o braço menor desce enquanto o maior Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 18 recua, isso consiste no movimento da asa ilíaca para frente, a espinha ilíaca ânterosuperior baixa para frente e a tuberosidade isquiática se eleva para trás (FILHO, 2001). Num primeiro momento se produz um deslizamento a baixo e para frente sobre o braço menor da superfície articular do ilíaco em relação ao sacro. Após se produz um deslizamento abaixo e para trás sobre o braço maior da superfície auricular ilíaca em relação ao sacro. Este movimento está limitado pela tensão da sínfise púbica, pelos músculos reto abdominal e isquiotibiais e também pelos ligamentos sacroilíacos (RICARD, 1991). A rotação posterior do ilíaco é um movimento inverso, ou seja, o ílio gira para trás, com isso a espinha ilíaca póstero-superior desce também para trás e a espinha ilíaca ântero-superior sobe. No primeiro momento se produz um deslizamento para cima e para frente, no braço maior da superfície ilíaca em relação ao sacro. No segundo momento se produz um deslizamento para cima e para trás no braço menor da superfície auricular ilíaca em relação ao sacro. Este movimento está limitado pela tensão da sínfise púbica, pelo tônus dos músculos adutores maiores e espinhais lombares e também pelo plano ligamentar sacroilíaco. Os movimentos ilíacos repercutem sobre o membro inferior através da articulação ílio-femoral e vice-versa. A adução do quadril provoca uma rotação anterior juntamente com uma descida e aproximação da asa ilíaca. Já a abdução do quadril provoca uma rotação posterior, subida e separação da asa ilíaca. A extensão e a rotação externa do quadril são responsáveis por uma rotação anterior do ílio pela colocação de tensão nos ligamentos ílio-femorais anteriores. Uma flexão com Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 19 rotação interna de quadril produzem uma rotação posterior da asa ilíaca pela colocação de tensão no plano ligamentar ílio-femoral posterior (RICARD, 1991). 4.3.7 DISFUNÇÕES ÍLIO-SACRAS Correspondem a movimentos fisiológicos exagerados em relação ao sacro, sendo responsáveis pelo estiramento dos ligamentos sacroilíacos, dos fusos neuromusculares (FNM) e dos músculos da região, o que origina uma mensagem aferente que chegam até a medula espinhal. Conforme MARINZECK (2003), podem ocorrer alterações posicionais de um ilíaco em relação ao outro associado à disfunção pélvica. Essa alteração chamada de assimetria pélvica é caracterizada por um ilíaco mais ântero ou retrovertido que o outro. Quando por uma razão qualquer a articulação é impedida de realizar seus movimentos normais um ciclo vicioso se inicia. Há alterações em suas estruturas os tecidos a sua volta também sofrem alterações, há hipomobilidade, dor e espasmo muscular. As articulações ao redor, assim como os tecidos moles, se adaptam à disfunção gerando outras complicações. Segundo RICARD (1991), existem cinco tipos de disfunções ílio-sacras: ilíaca anterior, posterior, up-slip, out-flare e in-flare. Em nosso trabalho estudaremos a disfunção anterior e a posterior. 4.3.7.1 DISFUNÇÃO ILÍACA ANTERIOR Esta lesão acompanha a anteversão pélvica (hipotonia do psoas e hipertonia dos espinhais, favorecendo a hiperlordose lombar e o joelho recurvado. A lesão se Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 20 produz sobre o terceiro eixo transverso. O ílio se fixa em rotação anterior pelo espasmo dos músculos homolaterais (sacro lombar, adutores, reto anterior, sartório e ilíaco). A rotação anterior do ílio se traduz clinicamente em: uma perna maior homolateral; uma rotação interna da articulação ílio-femoral devido aos adutores e a posição baixa do acetábulo; espinha ilíaca ântero-superior baixa e anterior, espinha ilíaca póstero-superior alta e anterior; crista ilíaca mais baixa (RICARD, 1991). 4.3.7.2 DISFUNÇÃO ILÍACA POSTERIOR A lesão se produz sobre o terceiro eixo transverso, o ilíaco se verticaliza e é fixado em rotação posterior pelo espasmo dos músculos reto abdominal, bíceps femoral, glúteo máximo e psoas menor. A rotação posterior do ilíaco se traduz clinicamente por: uma perna mais curta homolateral; uma rotação externa da articulação ílio-femoral; EIAS homolateral alta e posterior; EIPS baixa e posterior; crista ilíaca homolateral mais alta e base sacra relativamente posterior do lado homolateral (RIC ARD, 1991). 21 Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 5 OSTEOPATIA Conforme LÓPEZ (2001) e CHAITOW (1982), a osteopatia é um método de terapia manual baseado nas descobertas do Dr. Andrew Still (1828-1917) que relaciona a estrutura e a função do organismo humano. Ela oferece um método de diagnóstico e tratamento das alterações de uma estrutura relativa à outra em um foco global, pelo estudo das relações adequadas entre as diferentes partes do corpo. Ela dispõe de uma grande variedade de técnicas de tratamento, incluindo manipulações e mobilizações articulares. 5.1 LESÃO OSTEOPATICA (DISFUNÇÃO SOMÁTICA) Para LÓPEZ (2001), a perda da mobilidade de qualquer articulação do corpo provocará uma alteração na informação proprioceptiva que desencadeará uma alteração de tônus. O termo aceito na atualidade para definir esta perda de mobilidade é disfunção somática. Uma disfunção somática é uma função alterada ou deteriorada dos componentes relacionados com o sistema somático: estruturas esqueléticas, articulares e miofasciais, e seus correspondentes elementos vasculares, linfáticos e nervosos. A lesão osteopática manifesta-se essencialmente por: hiperestesia dos músculos; hiperinstabilidade evidenciada pela fisiologia muscular; modificações da textura do tecido muscular, conjuntivo e da pele; modificações de funções vegetativas e uma perda de mobilidade (RICARD, 1996). Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 22 A atividade e o estado dos tecidos são internamente influenciados pelos nervos eferentes que seriam do sistema nervoso central e que conduzem os impulsos nervosos para estes tecidos e esses órgãos. Essa atividade nervosa depende do número das fibras envolvidas e da quantidade dos impulsos nervosos transportados ao longo de cada fibra eferente. O grau de contração muscular é proporcional ao número de neurônios motores e à quantidade média de impulsos/segundo levados até o músculo. Assim, uma hiper ou hipoatividade crônica dos nervos eferentes pode criar perturbações funcionais nos tecidos supridos por eles. A hiperatividade prolongada de um músculo pode ocasionar o desenvolvimento de uma fibrose e assim, modificar o seu metabolismo. Ao contrário, uma hipoatividade nervosa pode ocasionar uma atrofia (MANUARD e ALMEIDA, 2003). Dois fatores são essenciais para o controle da atividade nervosa: o princípio da reciprocidade que consiste em neurônios de associação que fazem a conexão entre neurônios motores e sensitivos ou entre diferentes níveis medulares; e o princípio da convergência, onde cada neurônio motor recebe numerosas fibras présinápticas que conduzem impulsos oriundos de vários pontos. Assim, neurônios eferentes representam uma via comum final de vários locais do SNC (MANUARD e ALMEIDA, 2003). Aplicando esses dois princípios nas células do corno anterior da medula, cada célula motora do corno anterior recebe impulsos advindos de numerosas origens pelas fibras pré-sinápticas, convergindo e fazendo sinapse com a mesma. Isso significa que: 1) todos os feixes descendentes ao longo da medula (proveniente do córtex, do bulbo, do cerebelo, etc) mandam fibras colaterais para células do corno 23 Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 anterior; 2) os proprioceptores, como os receptores de Golgi ou fusos neuromusculares, também mandam impulsos para o corno anterior e 3) outras estruturas que enviam impulsos ao corno anterior são as fibras aferentes provenientes das visceras. Todos esses impulsos exercem uma efluência sobre a via comum final, os nervos motores. As fibras exercem influência inibidora ou excitadora dos motoneurônios. Assim, a atividade dos neurônios aferentes é a resultante de todos os impulsos excitadores e inibidores. Se a maioria dos impulsos é excitadora, ocorrera uma hiperatividade e se a maioria dos impulsos é inibidora, vai ocorrer uma hipoatividade (MANUARD e ALMEIDA, 2003). Numa lesão osteopática, o corno anterior da medula é mantido num estado de hiperexcitabilidade permanente. As células do corno anterior são submetidas a uma fonte constante de impulsos sensitivos eferentes, o que faz diminuir o limiar de excitabilidade dessas células. Portanto, um estímulo nervoso leve, qualquer que seja a origem, é suficiente para desencadear uma descarga dos neurônios motores. As fontes mais importantes de impulsos sensitivos para os motoneurônios são os proprioceptores situados nos músculos e no tecido conjuntivo organizado (tendão, ligamento e fáscia). Esses receptores informam ao SNC sobre as modificações mecânicas dos tecidos músculo-esqueléticos. Os receptores intra-articulares estão localizados dentro e ao redor das articulações (cápsula e ligamentos), e informam ao SNC e à medula sobre os movimentos da articulação e a sua posição. As terminações de Ruffini, localizadas nas cápsulas, indicam muito precisamente a direção e a velocidade do movimento, assim como a posição dos elementos da articulação. O papel desses receptores está essencialmente ligado ao controle da postura e da locomoção, sendo Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 24 informadores articulares para centros superiores, mas não possuem influência direta sobre o controle muscular (MANUARD e ALMEIDA, 2003). Os receptores tendinosos de Golgi estão situados nos tendões (próximo à junção tendino-muscular), os quais são tecidos relativamente pouco extensíveis. São sensíveis a variações de força e de tensão. Quando o músculo se contrai contra uma carga, uma resistência ou contra a contração dos músculos antagonistas, a freqüência da descarga de impulsos se torna proporcional à tensão criada por esse músculo. Esses impulsos originados nos receptores tendinosos caminham até a medula, passando pelas fibras das raízes posteriores; essa última faz sinapse com os motoneurônios do mesmo músculo. Assim, a estimulação dos órgãos tendinosos de Golgi inibe o motoneurônio do músculo, para evitar uma tensão exagerada do mesmo. Os fusos neuromusculares (FNM), situados no ventre dos músculos, são cercados de fibras musculares e se situam paralelamente a essa fibras. Quando o músculo é estirado, o FNM é também estirado. O encurtamento do músculo relaxa o FNM. Cada fuso contém fibras próprias em cada extremidade, chamadas fibras intrafusais. Essas fibras intrafusais são inervadas por motoneurônio gama, originados no corno anterior da medula. No centro do FNM se situa a parte sensível formada de terminações primarias, ângulo-espiraladas e secundárias, chamadas fibras em bouquet. Essas duas terminações nervosas são sensíveis ao estriamento da parte central do fuso (MANUARD e ALMEIDA, 2003). Assim, quando um músculo é estirado bruscamente, o fuso é estirado e por via reflexa o músculo protege-se contraindo. Ao contrário, o encurtamento do 25 Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 músculo diminui a descarga aferente, reduz a excitação dos motoneurônios alfa, favorecendo assim o relaxamento do músculo (MANUARD e ALMEIDA, 2003). Segundo LÓPEZ (2001), o organismo se organizará em relação à disfunção somática existente provocando uma alteração na distribuição da linha de gravidade no interior do polígono de sustentação. Um das áreas onde esta alteração será refletida será na impressão plantar do indivíduo. 5.2 NEUROFISIOLOGIA DA LESÃO OSTEOPÁTICA A lesão osteopática está associada a um segmento facilitado da medula, mantida neste estado pelos impulsos endógenos que chegam pela raiz dorsal correspondente. Todas as estruturas que recebem fibras eferentes oriundas desse nível facilitado são, por conseqüência, submetidas a uma inibição ou a uma excitação excessiva. Os fusos neuromusculares (FNM) são sensíveis ao alongamento muscular e continuam descarregando durante todo o tempo em que estão estimulados mecanicamente. Por exemplo, em caso de aproximação brusca e imprevista das inserções musculares (um movimento em falso, os FNM vão se tornar repentinamente silenciosos – o SNC vai adaptar mandando impulsos excitatórios para as fibras intrafusais através dos motoneurônios gama, até que os fusos se tornem novamente emissores de sinais. E isso vai manter o encurtamento muscular). Secundariamente, a necessidade de equilíbrio antigravitário, de simetria, tenderá a restaurar o comprimento inicial do músculo espasmado. Isso será possível devido à descarga continua dos fusos. Assim, cria-se um espasmo que fixa a lesão. Devido à sua incompleta adaptação à posição ereta, o organismo humano é particularmente predisposto a problemas articulares e periarticulares, em particular Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 26 nas articulações vertebrais e pélvicas. Esses problemas articulares constituem as lesões osteopáticas, que associam sensibilidade ou hiperestesia dos tecidos paravertebrais e dos tecidos infrajacentes; modificações do comportamento muscular como rigidez, contrações prolongadas e limiares reflexos mais baixos; perturbações neurovegetativas; dor local ou projetada e restrição de mobilidade articular (MANUARD e ALMEID A, 2003). Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 27 6 O PÉ Segundo VEGA (2003), o pé é a parte do sistema músculo esquelético que recebe e distribui o peso do corpo ao caminhar, correr ou na postura estática. É composto por 26 ossos assim distribuídos: sete ossos do tarso (tálus, calcâneo, cubóide e os três cuneiformes); cincos ossos do metatarso; 14 falanges (três para cada um dos dedos, exceto para o hálux, que tem apenas duas). Os ossos são mantidos unidos através dos ligamentos, que se totalizam em um número de 107, formando as articulações. (figura 1) FIGURA 1 - Ossos do pé. Fonte: SANDOVAL R.C. B., Estrutura ósteo-articular, ligamentar e muscular do pé. Disponível em: http://www.hu.ufsc.br/~grumad. Adquirido em 29/11/2003. 28 Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 Conforme LEUNG, CHENG e MAK (2001) os ossos estão relacionados para 30 articulações sinoviais, unidas por ligamentos e cápsulas articulares, incluindo músculos e tendões que envolvem o pé. MOORE (1994), descreve que anatomicamente o esqueleto do pé é composto por: 1. Tarso: tálus, calcâneo, navicular, cubóide e 3 cuneiformes; 2. Metatarso: 5 metatarsianos; 3. Dedos: formado por 14 falanges. Segundo GRAY (1988), o pé apresenta as seguintes articulações: A. Mediotarsiana ou de Chopart: formado entre o tálus - calcâneo e o navicular-cubóide. B.Tarsometatarsiana ou de Lisfranc: entre os cuneiformes e os metatarsianos. C. Metatarsofalangeana: entre os metatarsianos e as primeiras falanges dos dedos. D. Interfalangianas: Proximal: entre as primeiras e segundas falanges; distal: entre as segundas e terceiras falanges. Para os efeitos clínicos, SMITH et. al (1997) divide o pé também em três partes: ü Retropé: formado pelo tálus e calcâneo; ü Médiopé: formado pelo navicular, cubóide e os três cuneiformes. ü Antepé: formado pela parte medial e distal dos metatarsianos e pelas falanges. Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 29 6.1 VASCULARIZAÇÃO DO PÉ O suprimento arterial do pé é fornecido principalmente pela artéria tibial posterior e tibial anterior. A artéria tibial posterior dividi-se a nível inframaleolar em artéria plantar medial e lateral, que suprem a planta do pé e formam o arco plantar. Próximo à sua origem, a artéria tibial posterior fornece a artéria fibular, que irriga os músculos do compartimento lateral da perna. A artéria tibial anterior irriga os músculos anteriores da perna, passa em frente ao tornozelo e termina no dorso do pé como artéria dorsal do pé ou pediosa. Ramos desta artéria irrigam o dorso do pé e se anastomosam com o arco plantar, na planta do pé. Através do arco plantar há uma intercomunicação entre estas três artérias, formando as artérias metatársicas e posteriormente as digitais, que são responsáveis pela irrigação anterior do antepé e dos pododáctilos. O retorno venoso é feito pelas veias digitais dorsais e plantares, posteriormente seguem como veias metatársicas que confluem para formar os arcos venosos. Na planta do pé formam as veias plantares mediais e laterais, posteriormente seguem como veias tíbias posteriores. No dorso do pé formam as veias safena magna e parva e veias tibiais anteriores (MOORE, 1994). 6.2 INERVAÇÃO DO PÉ Os nervos tibial, fibular e safeno que vão da perna ao pé inervam os músculos que realizam os movimentos do tornozelo e dos dedos. Além disso, captam mensagens dos receptores sensoriais localizados na pele do pé. Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 30 O nervo tibial dividi-se em nervo plantar medial e plantar lateral. O nervo plantar medial inerva a pele da sola do pé e os músculos adjacentes ao hálux. O nervo plantar lateral inerva a pele e os músculos dos outros quatro dedos do pé. O nervo fibular controla os músculos dorsiflexores do pé e recebe sensações da parte anterior da perna e do pé. Ramos do nervo safeno suprem a pele e fáscia na frente do joelho, da perna e do pé até a base do hálux (MOORE, 1994). FIGURA 2 - Vista posterior do pé ilustrando parte da irrigação e inervação. Fonte: SANDOVAL R.C. B., Estrutura ósteoarticular, ligamentar e muscular do pé. Disponível em: http://www.hu.ufsc.br/~grumad. Adquirido em 29/11/2003. Os movimentos do pé são controlados pelos músculos que se originam na perna e cujos tendões se inserem no pé. Conforme GRAY (1988), os músculos são classificados em extrínsecos e intrínsecos. Os extrínsecos possuem origem abaixo do joelho e inserção no pé, e realizam os movimentos do tornozelo como dorsiflexão, a plantiflexão, a inversão e eversão, além de atuarem na movimentação dos artelhos. Os músculos intrínsecos são representados pelos que se originam abaixo Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 31 da articulação do tornozelo, podendo situar-se no dorso ou na planta do pé, estes músculos realizam a movimentação dos artelhos. 6.3 ARCOS PLANTARES Segundo KIM (2003), o pé é uma ligação importante na cadeia cinética inferior. Os arcos do pé são fatores importantes para a distribuição apropriada do peso. O pé apresenta funções múltiplas assumidas pelo que a fisiologia chama de abóboda plantar. Para KAPANDJI (2000), a abóboda plantar é formada por três arcos (arco interno, arco externo, arco transverso anterior) a que se apóiam no chão através de três pontos: as cabeças do primeiro e quinto metatarsiano na frente e a tuberosidade do calcâneo atrás. No plano sagital, o arco interno entre calcâneo e o primeiro metatarsiano e o arco externo entre o calcâneo e a cabeça do quinto metatarsiano. No plano frontal, o arco anterior transverso estende-se da cabeça do primeiro metatarsiano à cabeça do quinto. Esses três arcos possuem funções fisiológicas como receber o peso do corpo, amortecerem os choques da deambulação, participar da adaptação do pé ao chão e constituir alavancas de impulso na marcha (BIENFAIT, 1989). Normalmente, o arco longitudinal (interno e externo) do pé desenvolve-se durante a infância, devido em parte à perda de tecido gorduroso subcutâneo e em parte à redução da flexibilidade das articulações, o que normalmente se produz com o crescimento (SANTOS, 2003). Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 32 6.3.1 ARCO INTERNO Entre os seus dois pontos de apoio anterior e posterior, o arco interno é constituído por cinco ossos: de trás para frente, o calcâneo, o tálus, o navicular, o cuneiforme medial e o primeiro metatarso (KAPANDJI, 2000). Numerosos ligamentos plantares ligam as cinco peças ósseas: cúneometatarsiana, cúneo-navicular, mas especialmente a calcâneo-navicular inferior e a subtalar ou a talo-calcâneo. Eles resistem todas as forças violentas, embora de curta duração ao contrário dos músculos que opõem as deformações prolongadas. Os músculos que unem dois pontos mais ou menos afastados formam cordas parciais ou totais. Eles agem como verdadeiros tensores. O tibial posterior constitui uma corda parcial situada perto do vértice do arco. Ele dirige o escafóide para baixo e para trás sobre a cabeça do tálus. O fibular lateral longo também influi sobre o arco interno cuja cavidade aumenta, flexionando o primeiro osso do metatarso sobre o primeiro cuneiforme, e este por sua vez sobre o navicular. O flexor do hálux forma uma curva subtotal do arco interno agindo com potencia em sua concavidade, ajudado pelo flexor comum dos dedos que o cruza para baixo. O flexor do hálux também desempenha o papel de estabilizador do tálus e do calcâneo. O adutor do hálux constitui a corda total do arco interno aproximando as suas duas extremidades (KAPANDJI, 2000). 6.3.2 ARCO EXTERNO É um arco rígido, composto por três peças ósseas: o quinto metatarso, o cubóide e o calcâneo. Esta em contato com o solo através de suas partes moles. A Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 33 transmissão de forças mecânicas se realiza através do tálus, fixada ao calcâneo por dois sistemas trabeculares originadas na cortical anterior da tíbia e na cortical posterior da mesma (KAPANDJI, 2000). Sua rigidez é devida ao sistema ligamentar, em particular ao potente e espesso ligamento calcâneo-cubóide plantar. O arco externo é a alavanca do pé na marcha. O ponto de apoio é o antepé no chão; a resistência, ao peso do corpo; a potencia, a forca do tríceps sural e do fibular longo. (BIENFAIT, 1989) Ainda, conforme KAPANDJI (2000), três músculos são os tensores ativos deste arco: o fibular curto que impede a abertura inferior das articulações; o fibular longo que mantém elasticamente sua extremidade anterior como o flexor do hálux no lado interno e o abdutor do 5º dedo que tem função análoga ao adutor do hálux. 6.3.3 ARCO ANTERIOR O arco anterior se estende entre a cabeça do primeiro metatarso, que repousa sobre os dois sesamóides, e a cabeça do 5º metatarso. Este arco anterior passa pela cabeça de outros metatarsianos. KAPANDJI (2000), relata que a concavidade deste arco é pouca acentuada e entra em contato com chão por intermédio das partes moles, constituindo o que alguns denominam “o calcanhar anterior do pé”. O autor relata também que este arco está subtenso pelo ligamento intermetatarsiano, sem uma grande eficácia, e por um só músculo, o fascículo transverso do abdutor do hálux, que forma uma série de cordas parciais e totais entre a cabeça do primeiro metatarsiano e dos outros quatro. Sendo, por isso, um músculo relativamente pouco potente e fácil de forçar. Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 34 Os cinco raios metatarsianos finalizam no arco anterior. O primeiro raio é o mais erguido e forma, segundo Fick, um ângulo de 18º a 25º com o chão. A seguir, este ângulo metatarsiano/chão diminui regularmente: 15º para o segundo, 10º para o terceiro, 8º para o quarto e só 5º para o quinto osso do metatarso, quase paralelo ao chão (KAPANDJI, 2000). 6.4 MÉTODOS DE CLASSIFICAÇÃO DO PÉ Em uma revisão da literatura realizada por RAZEGHI e BATT (2002), está claro que não há um consenso geral de um método ideal para classificação dos tipos de pé. Os métodos existentes são tipicamente baseados na medida de parâmetros morfológicos do pé, principalmente na postura estática ou durante a locomoção. Para MATHIESON, UPTON e BIRCHENOUGH (1999), apesar do uso difundido destes parâmetros, esta ausência de uma medida absoluta do tipo de pé conduziu a uma variação considerável na escolha da medida usada como a variável de exposição para estudos relativos ao tipo de pé. É primeiro necessário ter um sistema válido de classificação que permita o reconhecimento preciso de cada estado. Poucas características funcionais do pé são usadas para nomear e separar os pés em diferentes grupos. Métodos de classificação dos tipos de pé baseado na morfologia poderia ser posta em uma das seguintes categorias: inspeção visual não quantitativa; valores antropométricos; parâmetros da impressão plantar ou avaliação radiográfica (RAZEGHI e BATT, 2002). Ainda conforme o mesmo autor, índices da impressão plantar foram obtidos e usados para classificar os pés em grupos. Tanto utilizando uma impressão do pé Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 35 realizada pelo contanto com tinta na região plantar (pedígrafo), como com aparelhos mais sofisticados (transdutores de pressão). Em qualquer caso, a suposição central é que qualquer mudança na forma e orientação dos componentes estruturais do pé, adquirido enquanto parado (estático) ou se movendo, seria refletido na impressão plantar. A medida da largura ou área de contato na impressão é sugerida para prover meios simples e objetivos para a classificação dos pés. 6.4.1 TIPOS DE PÉ A medida da região do médio pé serve como parâmetro para definir o tipo de pé. VILADOT (1987) apud 2 (PRYZSIEZNY, 2003), descrevem como sendo o tipo cavo o pé que apresenta uma medida menor que um terço da medida do antepé e do tipo plano o pé que apresenta uma medida maior que um terço da medida do antepé. 6.4.1.1 PÉS CAVOS A curvatura e a orientação da abóboda plantar dependem de um equilíbrio entre as diferentes ações musculares. A abóboda plantar esta aplainada pelo peso do corpo e pela contratura dos músculos que se incerem em sua convexidade. A abóboda esta escavada pela contratura dos músculos que se incerem na sua concavidade. A insuficiência ou a contratura de um só dos músculos destrói todo o equilíbrio e provocam uma deformação (KAPANDJI 2000). 2 VILADOT, P. A. Patologia do antepé. 3. ed. São Paulo: Roca, 1987. 303 p. Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 36 Segundo o mesmo autor, dintinguem-se três tipos de pés cavos: pé cavo posterior, médio e anterior. O autor relata ainda que a análise da impressão plantar facilita o diagnóstico de pé cavo. Com relação à impressão normal, o inicio do pé cavo se caracteriza por uma proeminência convexa na borda externa e por um aumento da profundidade do istmo (mediopé) da borda interna; a seguir, o fundo do istmo alcança a borda externa dividindo a impressão em dois. 6.4.1.2 PÉS PLANOS Para KAPANDJI (2000), o afundamento da abóboda plantar é devido à debilidade de suportes naturais, músculos e ligamentos. Os ligamentos são suficientes para manter a curvatura normal da abóboda durante um curto período de tempo. Se os suportes musculares se enfraquecem, os ligamentos acabam por distender-se e a abóboda se aplaina definitivamente. Portanto, o pé plano se deve, principalmente, a uma insuficiência muscular, mais freqüentemente do fibular longo. 6.4.2 EQUILÍBRIO ARQUITETÔNICO DO PÉ O pé tem uma estrutura triangular com: • Um lado inferior, a abóboda subtensa pelos músculos e ligamentos plantares, • Um lado ântero-superior, onde se localiza os flexores dos tornozelos e os extensores dos dedos; • Um lado posterior, que compreende os extensores dos tornozelos e os flexores dos dedos. Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 37 Uma forma normal da planta do pé, que condiciona sua adaptação correta ao chão, é o resultado do equilíbrio entre as forças próprias de cada um destes três lados, organizados sobre três raios esqueléticos articulados entre si, no nível do tornozelo e do complexo articulado do tarso posterior: • Um aumento da curvatura plantar, provocando um pé cavo, pode deverse tanto a uma retração dos movimentos plantares ou a uma contratura dos músculos plantares, quanto a uma insuficiência dos músculos flexores dos tornozelos. • Um aplainamento da curvatura plantar, o pé plano, pode dever-se tanto a uma insuficiência nas formações ligamentares ou musculares plantares, quanto a um tonos exagerado dos músculos anterior ou posterior (KAPANDJI, 2000). A associação harmoniosa de elementos ósteo-articulares, ligamentares e musculares do pé permitem que esta meia-cúpula modifique sua curvatura e tenha elasticidade para se adaptar a todos os tipos de terreno, distribuir o peso do corpo nas mais variadas situações, desempenhando o papel de amortecedor para a suavidade da marcha (SANDOVAL, 2003). 6.5 DISTRIBUIÇÃO DAS PRESSÕES O pé é o meio primários de interação do corpo com o chão. Para LEDOUX e HILLSTROM (2002) ele funciona como um complacente mecanismo (por exemplo, durante aceitação de peso) e como uma alavanca rígida (por exemplo, durante propulsão). A estruturas anatômicas do pé suportam e distribuem adequadamente a força de reação do chão em ambos estas situações. Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 38 BIENFAIT (1989) não acredita ser exata a repartição das forças em idênticas proporções entre retropé e antepé recebidas pelo tálus. A linha de gravidade traçada do centro de gravidade até a base de sustentação cai sobre uma linha que atinge os cuneiformes intermédios. É nesse nível que se exerce a gravidade e ela se divide em duas forças iguais. Essa força da gravidade divide-se ainda ao nível do antepé, aproximadamente dois terços para a cabeça do primeiro metatarso e um terço para a cabeça do quinto. É evidente que dependendo da forma do pé e de seu alinhamento em relação ao chão, tais distribuições são muito variáveis. Segundo VEGA (2003), forças descendentes dos membros superiores são recebidas pela parte superior do tálus. Um percentual dessa volta, o restante é então distribuída por duas vias: uma seguindo as fibras do corpo do tálus, passa o sistema talâmico e termina na tuberosidade inferior do calcâneo. A outra parte continua adiante para as fibras do tálus e termina distribuída em dois setores: • Pelos três cuneiformes e daí passam aos três metatarsianos; • Pelo cubóide e destes passam aos últimos dois metatarsianos. Para KELLIS (2001), a distribuição da pressão plantar é afetada por vários fatores como: estruturas anatômicas do pé, massa corpórea, gênero e alcance articular do movimento. Segundo MANFIO (2001), houve um esforço para quantificar a distribuição de pressão plantar no final do século XIX, porém, avanços significativos no desenvolvimento de sistemas de medição só foram feitos a partir de 1980. Há diferentes métodos projetados e testados para essa finalidade, sendo documentados mais de 40 sistemas diferentes, o que dificulta a comparação dos resultados. Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 39 6.6 FISIOLOGIA MECÂNICA DO PÉ Mecanicamente o pé é composto por dois grandes sistemas articulares: - Um sistema de propulsão e recepção constituído pelas articulações tibiotársica, metatarsofalangeana do hálux, tibiofibulares superior e inferior. - O sistema de adaptação ao chão constituída pelas articulações subtalares, médiotarsicas, tarsiometatársicas e todas as pequenas articulações dos ossos do pé entre si (BIENFAIT, 1995). 6.6.1 ARTICULAÇÃO TIBIOTÁRSICA (TIBIOTALAR) Segundo SMITH (1997), essa é uma articulação em dobradiça com um grau de liberdade de movimento e é usualmente designada “articulação do tornozelo”. É também a articulação da marcha, pois através dos movimentos de flexoextensão, ela comanda toda essa dinâmica. A flexão aproxima a região superior do pé da face anterior da perna e possui uma amplitude que varia de 25º a 30º. O movimento pode ser limitado por três coisas: o encontro da região superior do tálus com o bordo marginal anterior da tíbia, a tensão do feixe superior dos ligamentos laterais e a tonicidade do tríceps sural (BIENFAIT, 1989). O mesmo autor também relata que a extensão distancia a face dorsal do pé da face anterior da perna. Sua amplitude de movimento é de 40º e limitada pelo encontro do tubérculo posterior e a borda marginal posterior da tíbia. A estabilidade lateral da articulação é devido ao encaixe ósseo e também aos ligamentos laterais. Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 40 6.6.2 ARTICULAÇÃO TIBIOFIBULAR A tíbia e a fíbula são firmemente conectadas nas articulações tibiofibulares pela membrana interóssea, que é classificada como uma sindesmose (SMITH et.al 1997). Duas articulações ligam a tíbia à fíbula, uma superior e uma inferior. A articulação superior está situada sobre as tuberosidades externa ligeiramente para trás e para fora. Os seus deslocamentos sobre a superfície tibial podem ser para cima, para trás e para dentro, para frente e para fora. A articulação inferior não é propriamente uma articulação, não tem cartilagem nem cavidade sinovial. Os dois ossos são separados por uma camada de tecido celular gorduroso e é mantido pela membrana interóssea implantada acima das duas superfícies em contato (BIENFAIT, 1989). 6.7 SISTEMA ESTÁTICO O sistema estático articular do pé tem como função primária a adaptação do pé às variações da gravidade e as variações do solo. Todas essas articulações foram agrupadas em subtalares, médiotársicas e tarsiometatársicas. 6.7.1 ARTICULAÇÕES SUBTALARES A superfície superior do calcâneo apresenta três articulações (posterior, média e anterior) que se articulam com facetas correspondentes na superfície inferior do talo. A posterior é convexa, enquanto a média e a anterior são côncavas, Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 41 assim limitando o desvio anterior ou posterior do talo sobre o calcâneo. (SMITH et.al 1997) A articulação subtalar posterior é a articulação talocalcânea é composta por duas lâminas tendinosas que se inserem embaixo do tarso. A lâmina anterior oblíqua para frente, fixa-se à porção inferior do colo do tálus, a lâmina posterior, oblíqua para trás fixa-se no teto do tarso. As articulações subtalares, em especial a articulação posterior, são sede dos movimentos de báscula do retropé. Essas duas articulações têm um importante papel na adaptação à gravidade (BIENFAIT, 1989). 6.7.2 ARTICULAÇÃO MÉDIOTÁRSICA A fisiologia da articulação médiotársica é dominada pela articulação navicularcubóide, ela é a chave da adaptação do pé ao chão, não apenas no aumento ou diminuição dos arcos plantares, mas, sobretudo pela possibilidade que traz à interdependência do antepé em relação ao retropé. O navicular e o cubóide são dispostos transversalmente sobre um eixo frontal com uma inclinação de 45º. Fazem a ligação entre o tarso e o metatarso, mas fisiologicamente pertencem ao antepé. Estão em contato através de duas facetas verticais: externa para navicular e interna para cubóide. Articulação entre os dois ossos e constituída pelo ligamento bifurcado (ligamento em Y de Chopard). O elemento principal da estática do pé seja qual for a função é o osso cubóide, pois todos os ossos do pé repousam sobre ele no arco externo, ele recebe o calcâneo que suporta o tálus atrás, o quinto e o quarto metatarso na frente; no arco transverso o navicular repousa sobre o cubóide atrás e os três cuneiformes Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 42 atrás do lateral na região anterior e ainda no arco interno, todos os metatarsos através dos cuneiformes. Admite-se que o cubóide recebe o peso do corpo. Essa força descendente é submetida a muitas modificações (BIENFAIT, 1989). 6.7.3 ARTICULAÇÃO TARSOMETATÁRSICA Ela coloca em contato o tarso anterior, ou seja, o cubóide e os cuneiformes, e a base dos cinco metatarsos. Fisiologicamente podemos considerar que os cuneiformes e os três primeiros metatarsos pertencem ao arco externo (BIENFAIT, 1989). O forte encaixe do segundo metatarsiano pelos cuneiformes e os metatarsianos adjacentes permite apenas movimentos leves de flexão e extensão. As outras articulações metatarsianas permitem rotações leves em arcos em torno do segundo segmento mais rígido (SMITH et.al 1997). Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 43 7 PEDÍGRAFO A impressão plantar segundo URRY e WEARING (2001), é um método popular para registrar e analisar a área e a forma do contato do pé no chão. Essa impressão plantar têm um forte impacto visual e provê um registro permanente, além disso, é um método simples e barato. (figura 3) Figura 3 - Representação de pedígrafo da marca salvapé. Fonte: http://www.ortoponto.com.br/palmil ha%20sob%20medida.htm Em 1987, STAHELI apud 3 SANTOS (2003), um dos mais conceituados ortopedistas pediátricos do mundo, realizou um estudo em 441 indivíduos normais com o objetivo de estabelecer uma faixa de valores normais para todos os grupos etários, para uma abordagem segura nos diagnósticos e terapias. Para tanto foi necessário antes de tudo propor uma forma de avaliar. Assim, pintava a sola do pé com giz e imprimia um carimbo da sola do pé em um papel. Em seguida tomava as medidas da largura da marca na altura do calcanhar e do arco. A 3 STAHELI L.T., CHEW D. D., CORBETT M. T.: The Longitudinal Arch, J. Bone and Joint Surg., 69: 426-428, 1987. Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 44 largura do arco era dividida pela do calcanhar obtendo-se assim um índice – o índice do arco plantar. (Figura 4) Figura 4 - Representação da forma de avaliar o pé, segundo Staheli. Fonte: SANTOS, Angela. Diagnóstico postural precoce. IX Congresso Paranaense De Pediatria. Disponível em: http://www.centrodesaopaulo.com.br/artigos.h tm . Adquirido em 18/11/2003. Segundo PERIAGO (2001), o pedígrafo é um sistema para registrar a impressão plantar que distingue as áreas de apoio no chão das que não se apóiam. Ele tem a vantagem de sua imagem ser registrada em papel, isto permite fazer uma melhor análise da impressão e ter alguns parâmetros objetivos mensuráveis. Ainda, segundo NERY ([199_]), os podogramas, imagens grafadas em papel de superfícies plantares dos pés com a carga do peso corporal, são obtidos a fim de se observar a relação dos eixos, a forma da imagem plantar e as relações lineares e angulares entre as diversas regiões do pé. Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 45 8 MATERIAL E MÉTODOS Os indivíduos analisados participaram de maneira voluntária e esclarecida da presente pesquisa, sendo todos pertencentes à comunidade acadêmica da UNIOESTE (Universidade Estadual do Oeste do Paraná), campus de Cascavel. Os critérios de inclusão eram o indivíduo apresentar uma disfunção ilíaca anterior ou posterior, ter idade entre 19 e 23 anos e que pudesse receber uma manipulação osteopática na disfunção ilíaca apresentada. Foi utilizada uma amostra de 48 indivíduos de ambos os sexos. Deste total, 7 foram excluídos da pesquisa, já que, ou não apresentavam disfunção ilíaca ou tinham alguma contra-indicação à manipulação osteopática. Para o desenvolvimento e análise dos dados utilizou-se como instrumento de mensuração um pedígrafo (pedigrama) da marca salvapé, o qual registrou as pressões exercidas pelos pés, individualmente, durante a realização de uma descarga de peso unipodal e estática com o pé descalço sobre o referido aparelho, o qual proporcionou o registro e a visualização das possíveis alterações de apoio plantar dos indivíduos. A pelve, ilustrada pelos ilíacos direito e esquerdo, foi avaliada através do teste de Gillett (LEE, 2001 e BIENFAIT, 1997) conforme pode ser visto na foto 1. Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 46 FOTO 1 - Teste de Gillet Fonte: O autor Este consiste na avaliação biomecânica o qual mostra onde está a fixação na articulação sacro-ilíaca. Ela pode estar no braço menor, o que configura um ilíaco posterior no mesmo lado, ou no braço maior, que configura um ilíaco anterior do mesmo lado. O paciente esteve em pé e o terapeuta atrás abaixado com seus olhos na altura da pelve do paciente. O terapeuta palpa as duas espinhas ilíacas pósterosuperiores (EIPS) com o polegar, e pede para o paciente realizar uma flexão de quadril e joelho até os 90o. O polegar do lado do movimento deve abaixar. Se assim o fizer, consideramos a articulação sacro-ilíaca livre. Caso contrário, devemos avaliar onde está a fixação, colocamos então o polegar que estava na EIPS deste lado sobre o braço menor (um dedo acima) e o outro dedo ao seu lado, na mesma horizontal. Pede-se então nova flexão de membros inferiores. Se o polegar sobre o braço abaixar este está livre, caso contrário, existe uma fixação neste braço. O mesmo procedimento é repetido para o braço inferior. Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 47 Constatada então fixação na articulação sacro-ilíaca, o paciente teve então o seu apoio plantar registrado sobre o pedígrafo. Em seguida, o mesmo foi submetido a uma manipulação osteopática ilíaca. Esta intitulada de técnica de Thompson (RICARD, 2000) é realizada com o paciente em decúbito ventral (DV) sobre uma mesa de drop. Quando o ilíaco está posterior (foto 2), o lado a ser manipulado é colocado em extensão de quadril e extensão de joelho. A mão que manipula fica sobre a superfície dorsal da crista ilíaca (EIPS) e a mão que coloca os parâmetros sobre a superfície ventral da coxa distal, com suporte do terapeuta para a perna do paciente, o movimento corretivo é aplicado de forma oblíqua em direção à mesa de drop. Se a lesão for anterior (foto 3), então as mãos sobrepostas tomam um contato com o ísquio homolateral e realizam um impulso em direção ao solo. FOTOS 2 e 3 – Manipulação ilíaca posterior e anterior Fonte: O autor Logo após, o individuo realizou novamente o apoio estático sobre o pedígrafo, a fim de colher novamente a impressão plantar. Os indivíduos que passaram pela manipulação ilíaca foram divididos em 4 grupos de acordo com o tipo de disfunção ilíaca, ou seja: para fixação em ilíaco direito, disfunção direita posterior (DDP) e disfunção direita anterior (DDA); para Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 48 ilíaco esquerdo, disfunção esquerda posterior (DEP) e disfunção esquerda anterior (DEA). A verificação das alterações nos registros plantares levou em consideração não apenas o pé homolateral à disfunção ilíaca, como também o pé contralateral à mesma. Com as impressões plantares obteve-se as medidas das descargas de peso, tal medida foi obtida tomando-se a divisão do pé em 3 regiões: antepé (região que compreende os artelhos e os dedos); mediopé (compreendendo a região do arco plantar longitudinal); e retropé a qual corresponde ao calcâneo. Inicialmente encontramos o ponto médio transversal da região do retropé. Em seguida com auxílio de uma régua simples, traçamos uma linha L1 (figura 5) com origem nesse ponto inicial, a qual era projetada até o segundo interdigito. Após, outras duas linhas (L2 e L3), paralelas à primeira, eram traçadas nas duas bordas (medial e lateral) da região do antepé. Com essas duas linhas traçadas, tomava-se a medida entre elas, com graduação em milímetros, a qual corresponde à medida da largura da região do antepé. Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 49 Figura 5- Representação das linhas de referência. Fonte: O autor Logo após encontramos a medida da região do mediopé, a qual é delimitada anteriormente pelos metatarsos e posteriormente pelo início da curvatura do calcâneo. Essa medida foi obtida da seguinte maneira: tendo como referência a linha L1, traçamos outras duas linhas perpendiculares à ela ( L4 e L5) na região correspondente ao ponto mais extremo do retropé (L4) e na região mais extrema do antepé (L5), excluindo a região dos dedos. Com o ponto médio da distância entre as linhas L4 e L5, traçamos outra linha perpendicular à linha L1, a qual indica a região do médio pé e de onde com o auxilio de uma regra tomamos a medida em milímetros do mediopé (região com descarga de peso impressa). Com a finalidade de se analisar e qualificar a repercussão da manipulação ilíaca observou-se os registros plantares anteriores e posteriores à manipulação. Para isso, classificamos as impressões plantares utilizando a classificação do pé Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 50 plano segundo VALENTI (1979) apud 4 BARROCO (2003), o qual utiliza os seguintes parâmetros: Pé cavo, quando o indivíduo tem a largura da impressão plantar do médiopé (istmo) menor que 1/3 da medida do antepé. Pé normal, quando o indivíduo tem a largura da impressão plantar do médiopé (istmo) correspondente a 1/3 da largura da impressão plantar do antepé. Grau 1, corresponde ao pé que, na sua impressão plantar, apresenta a largura do médiopé superior a 1/3 da largura do antepé. Grau 2 é considerado o pé que possui a medida do médiopé superior a ½da largura do antepé. Grau 3 é o pé que apresenta a medida da região de médiopé superior à largura do antepé e Grau 4 corresponde ao pé plano que apresenta um abaulamento da borda medial, surgindo a imagem semilunar lateral. (figura 6) Figura 6- Classificação da impressão plantar segundo os critérios de VALENTI (1979). A = Normal; B = Grau 1; C = Grau 2; D = Grau 3; E = Grau 4 Fonte: BARROCO, R; VIANA, S; SALOMÃO, O. Pé plano adquirido do adulto por disfunção do tendão tibial posterior. Sociedade Brasileira de Medicina e Cirurgia do pé. São Paulo – SP, 2003, pg 16. 4 VALENTI, V. Órtesis Del Pie. Madri, Medicina Panamericana Editorial, S.A., 1979. 175p. Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 51 9 RESULTADOS Os 41 indivíduos incluídos na pesquisa estão divididos em 4 grupos de acordo com o tipo de disfunção ilíaca. Sendo que 21 (51,22%) apresentaram disfunção ilíaca direita posterior (DDP), 14 (34,14%) disfunção ilíaca direita anterior (DDA), 3 (7,32%) disfunção ilíaca esquerda anterior (DEA) e 3 (7,32%) disfunção ilíaca esquerda posterior (DEP). (gráfico 1) GRÁFICO 1- Distribuição dos indivíduos por disfunção ilíaca. INDIVIDUOS X DISFUNÇÃO ILÍACA TIPO DE DISFUNÇÃO 3 3 14 21 INDIVIDUOS Fonte: O autor No grupo com disfunção esquerda posterior (DEP), nenhum indivíduo apresentou alteração na classificação no tipo de pé após a manipulação segundo os critérios de VALENTI, ou seja, permaneceram em suas respectivas classificações antes e depois de manipulados. Já no grupo com disfunção ilíaca direita posterior (DDP), dos 21 indivíduos, 12 (57,14%) apresentaram alguma alteração na classificação do tipo de pé após a manipulação e, considerando os dois pés desses 12 indivíduos (num total de 24 pés Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 52 portanto), 16 (66,66%) desses pés tiveram alguma mudança na classificação quanto ao tipo de pé, de ambos os lados. Demonstrando uma alteração na classificação referente ao tipo de pé ocorrida neste grupo, tem-se um exemplo colhido de nossa amostra, onde se evidencia a diminuição de apoio no arco externo após manipulação ilíaca. (Figuras 7 e 8) Figura 7 e Figura 8– Representação da impressão plantar de um indivíduo do sexo masculino com disfunção ilíaca direita posterior (DDP) antes e após a manipulação osteopática na articulação ílio-sacra. Notar a diminuição de apoio em mediopé. Fonte: O autor Dos 16 pés do grupo com DDP (Tabela 1), 5 (31,25%) passaram do normal para o cavo, sendo quatro no pé esquerdo e um no pé direito; 2 (12,5%) passaram do cavo para o normal, sendo um em cada lado; 3 (18,25%) passaram do pé plano tipo I para o pé normal, sendo um no pé direito e dois no esquerdo; 1 (6,25%) passou do normal para o pé plano tipo I, no pé direito; 3 (18,25%) passaram do pé 53 Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 plano tipo I para o cavo, sendo um no pé direito e dois no esquerdo; 1 (6,25%) passou do tipo cavo para o pé plano tipo I no pé esquerdo e apenas 1 (6,25%) indivíduo passou do pé plano tipo II para o pé plano tipo I, ocorrido no pé direito. TABELA 1 - Distribuição das alterações ocorridas nos pés dos indivíduos do grupo com DDP. ALTERAÇÃO N⇒ C PÉ C ⇒ N P1 ⇒ N N ⇒ P1 P1 ⇒ C C ⇒ P1 P2 ⇒ P1 1D - 4E 1D - 1E 1D - 2E TOTAL 5 2 3 1D 1D - 2E 1E 1D 1 3 1 1 Legenda: N = Normal; C = Cavo; P1 = Pé plano tipo 1; P2 = Pé plano tipo 2 No grupo com disfunção ilíaca direita anterior (DDA), de um total de 14 indivíduos, 8 (57,14%) apresentaram alguma alteração na classificação do tipo de pé após a manipulação, e, considerando os dois pés desses 8 indivíduos (num total de 16 pés portanto), 10 (62,5%) desses pés tiveram alguma mudança nessa classificação quanto ao tipo de pé, de ambos os lados. Destes 10 pés (tabela 2), 3 (30%) passaram do normal para o cavo, sendo um no pé esquerdo e dois no pé direito; 3 (30%) passaram do cavo para o normal, sendo um no pé esquerdo e dois no pé direito; 2 (20%) passaram de pé plano tipo I para o normal, sendo um de cada lado; 1(10%) passou do pé plano tipo I para o cavo, sendo no pé esquerdo e 1 (10%) passou do tipo cavo para o pé plano tipo I, ocorrido no pé direito. 54 Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 TABELA 2 - Distribuição das alterações ocorridas nos pés dos indivíduos do grupo com DDA ALTERAÇÃO N⇒ C PÉ TOTAL C ⇒ N P1 ⇒ N P1 ⇒ C C ⇒ P1 2D - 1E 2D - 1E 1D - 1E 3 3 2 1E 1D 1 1 Legenda : N = Normal; C = Cavo; P1 = Pé plano tipo 1 No último grupo, com disfunção esquerda anterior (DEA), de um total de 3 indivíduos, todos (100%) apresentaram alguma alteração na classificação do tipo de pé após a manipulação e, considerando os dois pés desses 3 indivíduos (num total de 6 pés portanto), 4 (66,66%) desses pés tiveram alguma mudança na classificação quanto ao tipo de pé, de ambos os lados. Destes 4 pés (tabela 3), 1 (25%) passou do normal para o cavo, no pé esquerdo; 2 (50%) passaram do cavo para o normal, sendo um em cada lado e 1 (25%) passou do normal para o pé plano tipo I, no pé direito. TABELA 3 - Distribuição das alterações ocorridas nos pés dos indivíduos do grupo com DEA ALTERAÇÃO N⇒ C C⇒N N ⇒ P1 PÉ 1E 1D - 1E 1D TOTAL 1 2 1 Legenda: N = Normal; C = Cavo; P1 = Pé plano tipo 1 Tendo em vista o total de indivíduos (41) e o total de pés (82), houve uma incidência de 27 indivíduos (65%) que apresentaram alguma alteração de apoio 55 Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 plantar em um ou em ambos os pés e um total de 30 pés (35%) com alguma alteração após a manipulação ilíaca (gráfico 2). GRÁFICO 2 - Distribuição dos indivíduos com alguma alteração de apoio e distribuição de pés com alteração após a manipulação. Individuos e Pés PERCENTUAL DE INDIVIDUOS E PÉS 2 1 1 Individuos 2 Pés 35% 65% Percentual Fonte: O autor Classificando as alterações ocorridas nos pés dos indivíduos por tipo de pé (conforme VALENTI, 1979) antes e após a manipulação sem considerar o lado da lesão ilíaca, de um total 30 pés alterados (tabela 4), 9 (30%) passaram do normal para o cavo (N⇒C) , sendo três direito e seis esquerdo; 7 (23,33%) passaram do cavo para o normal (C⇒N), sendo quatro direito e três esquerdo; 5 (16,66) passaram do pé plano tipo I para o normal (P1⇒N), sendo dois direito e três esquerdo; 2 (6,66%) passaram do normal para o plano tipo I (N⇒P1), todos do lado direito; 4 (13,33%) passaram do plano tipo I para o cavo (P1⇒C), sendo um direito e três esquerdo; 2 (6,66%) passaram do cavo para o plano tipo I (C⇒P1), sendo um de cada lado e 1 (3,33%) passou do plano tipo II para o plano tipo I (P2⇒P1). Não encontramos nenhum indivíduo com pé plano tipo III e IV em nossa pesquisa. 56 Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 TABELA 4 - Distribuição das mudanças de classificação dos tipos de pés, sem considerar o lado da disfunção ilíaca ALTERAÇÃO N ⇒ C PÉ TOTAL C ⇒ N P1 ⇒ N N ⇒ P1 P1 ⇒ C C ⇒ P1 P2 ⇒ P1 3D – 6E 4D – 3E 2D – 3E 9 7 5 2D 1D – 3E 1D – 1E 2 4 2 1D 1 Legenda: N = Normal; C = Cavo; P1 = Pé plano tipo 1; P2 = Pé plano tipo 2 Ainda, classificando a alteração no pé à direita ou à esquerda, obtivemos o seguinte: Dos 30 pés com alteração no apoio após a manipulação (gráfico 3), 14 (43%) sofreram alteração no pé do lado direito e 16 (57%) no pé do lado esquerdo, sem considerar o lado da disfunção ilíaca. GRÁFICO 3 - Distribuição percentual dos pés que sofreram alteração DISTRIBUIÇÃO ENTRE OS PÉS COM ALTERAÇÃO 57% Pé Esquerdo 43% Pé Direito Fonte: O autor Considerando as disfunções ilíacas do lado direito (DDA e DDP), estas com um total de 26 pés com alterações relacionadas (gráfico 4), 12 (46%) destes foram no lado homolateral (D) à disfunção e 14 (54%) no lado contralateral (E). 57 Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 GRÁFICO 4 - Distribuição percentual das alterações nos pés considerando somente a disfunção ilíaca do lado direito. DISFUNÇÃO ILÍACA DIREITA 46% Homolateral 54% Contralateral Fonte: O autor Finalmente, considerando apenas as disfunções ilíacas do lado esquerdo (DEA), num total de 4 pés com alterações relacionadas, houve uma distribuição equivalente para os dois lados, ou seja, 2 do lado homolateral e 2 do lado contralateral à disfunção. (gráfico 5 ) GRÁFICO 5 - Distribuição percentual das alterações nos pés considerando somente a disfunção ilíaca do lado esquerdo. DISFUNÇÃO ILÍACA ESQUERDA 50% contralateral Fonte: O autor 50% Homolateral Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 58 10 DISCUSSÃO RICARD (2000), relatando sobre as estatísticas percentuais das disfunções ilíacas, descreve a freqüência relativa das disfunções ílio-sacras, as quais aparecem em 87,74% da probabilidade estudada. Sendo de maior incidência em ordem decrescente: disfunção ilíaca esquerda anterior (DEA) 41% da amostra, disfunção ilíaca direita posterior (DDP) 19%, disfunção ilíaca esquerda posterior (DEP) 19%, ilíaca direita anterior (DDA) 13%. Em nossa pesquisa os valores encontrados são: DDP com 51,21% da amostra, DDA com 34,14% e a DEA e DEP com 7,32%, divergindo quanto à incidência, pois a DEA em nossa pesquisa foi a de menor incidência, o oposto dos achados pelo referido autor. Acreditamos ter essa divergência na incidência percentual de disfunções ilíacas devido ao nosso número de indivíduos ser menor em quantidade que o utilizado pelo autor, apesar de desconhecermos qual foi esse número em sua pesquisa. Acreditamos também ser outro fator de divergência o fato da pesquisa ter sido feita em outro país, em outro continente, com características populacionais diferentes da nossa. Observando-se a tabela 1, podemos perceber com esses dados que além de ser o grupo (DDP) com a maior quantidade de indivíduos, foi o que mais apresentou alterações do pé normal passando ao cavo (N⇒C) e do pé plano tipo 1 passando ao mesmo cavo (P1⇒C), o que evidencia uma grande tendência de indivíduos com essa disfunção ilíaca apresentarem uma diminuição no apoio plantar em mediopé após manipulados. Além disso, nesse grupo estava o único caso de pé plano tipo 2, o qual teve uma diminuição de apoio plantar em médiopé passando à plano tipo 1, o Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 59 que reforça a tendência ao cavo nesses indivíduos. Na nossa observação clínica, percebemos uma tendência ao cavo em pessoas com disfunção sacroilíaca posterior, concordando com os achados da presente pesquisa. Neste grupo também houve a maior quantidade de normalização do pé, tanto de cavo para normal (C⇒N) como de plano tipo 1 para normal (P1⇒N). Apenas dois pés neste grupo tiveram aumento na medida da região do médiopé e passaram a ser classificados em planos tipo 1 após manipulados. Com relação à tabela 2 que apresenta o grupo com DDA, notamos uma tendência a normalização das medidas em mediopé, onde, dentre 10 pés com alteração após a manipulação, 5 passaram à normalidade, tanto de cavo como de plano tipo 1 para normal. Também se percebe uma tendência ao cavo nesses indivíduos, com 4 deles passando a ter essa classificação após a manipulação. Observamos com isso, que nestas 2 amostras acima citadas, as quais apresentam as disfunções ilíacas à direita , há uma tendência ao pé cavo tanto em uma disfunção ilíaca anterior quanto posterior. Observando a tabela 3, nota-se neste grupo com DEA uma maior incidência de normalização do pé cavo (tendendo ao plano) com 50% dos pés e uma mudança do normal ao plano (25%). Com isso, apesar da pouca quantidade de integrantes neste grupo comparados aos com disfunção ilíaca do lado direito e de não ter sido encontrada alterações no outro grupo com disfunção ilíaca à esquerda (DEP), notamos uma tendência ao plano nesses indivíduos. Porém não podemos avaliar se essas alterações foram positivas para o indivíduo ou não, devido ao fato de a coleta de dados ter sido realizada imediatamente após a manipulação ilíaca, sem Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 60 acompanhamento posterior do indivíduo, sugere-se em nova pesquisa a observação desse aspecto. Os resultados apresentados no gráfico 2, indicam a alta incidência de alterações entre os indivíduos pesquisados, o que significa que em nossa amostra mais de 65% dos indivíduos tiveram alguma alteração na classificação do tipo de pé depois de manipulados, segundo os critérios de VALENTI (1979). Na tabela 4, que mostra as alterações no tipo de pé sem considerar o lado da disfunção ilíaca, percebe-se genericamente uma maior tendência ao cavo, com 13 pés; seguida de normalização com 12. Esse resultado demonstra que de forma geral em nosso trabalho a manipulação ilíaca levou a uma tendência de diminuição do apoio plantar no arco externo (região de mediopé). O gráfico 3 mostra que, no total de pés com alterações, houve uma maior incidência de alterações no pé esquerdo. Porém sem muito significado em nossa opinião, visto ser essa distribuição quase igualitária. No gráfico 4 percebe-se que a repercussão da manipulação ocorreu de maneira quase que equivalente entre os lados de apoio no pé, ou seja, manipulando o ilíaco direito, além de haver alteração de apoio homolateral, o pé contralateral também sofrerá mudança em seu apoio. Resultado semelhante é observado no gráfico 5, com a manipulação no ilíaco esquerdo, onde a distribuição entre os pés foi equivalente. Percebe-se com todos esses resultados que as alterações no apoio plantar são visíveis e acentuadas, concordando com RICARD e THERBAULT (1991) os quais trataram diversas lesões em quatro indivíduos. Essas lesões ou disfunções localizavam-se em diversos pontos distribuídos em locais diferentes, incluindo a Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 61 região sacroilíaca, joelho, tornozelo e pés. Os resultados foram comparados antes e após a manipulação com a visualização da repercussão no apoio plantar utilizando um podoscópio. Encontraram sensíveis alterações nos apoios em mediopé, conforme podem ser vistas nas figuras 9,10,11 e 12. Figura 9 e Figura 10- Representação do apoio plantar no podoscópio antes e após as correções das diversas disfunções apresentadas pelo indivíduo. Notar ausência de apoio no arco externo esquerdo antes e a sua presença após as manipulações. Obs: o indivíduo apresentava disfunção sacroilíaca à esquerda. Fonte: RICARD, F.; THERBAULT, P. Les techiques ostéopathiques chiropractiques américaines. Primeira edição. Editora Frison-roche. Paris-França, 1991, pg 41. Figura 11 e Figura 12– Representação do apoio plantar no podoscópio antes e após as correções das diversas disfunções apresentadas pelo indivíduo, segundo RICARD e THERBAULT (1991). Notar melhora no apoio dos arcos, principalmente o esquerdo. Obs: o indivíduo apresentava disfunção sacroilíaca à direita, com ílio posterior. Fonte: RICARD, F.; THERBAULT, P. Les techiques ostéopathiques chiropractiques américaines. Primeira edição. Editora Frison-roche. Paris-França, 1991, pg 43. Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 62 Segundo LÓPEZ (2001) e (GAGEY; WEBER, 2000), para entender qual a relação do conjunto pelvipodálico devemos lembrar destes dois conceitos: A posição das peças óssea do corpo é determinada pelo tônus dos músculos que nelas são inseridos e que as superfícies articulares têm seus próprios eixos mecânicos que definem a amplitude e dirigem os movimentos das peças ósseas. Então, qualquer mudança do tônus causará modificações posicionais sutis nas peças esqueléticas cujas amplitudes virão marcadas pelos eixos mecânicos das articulações à que fazem parte. Em razão desse duplo comando, uma alteração tônica mínima desencadeará uma cascata de modificações topológicas sobre todo conjunto pelvipodálico, desde a planta do pé até a pelve. Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 63 11 CONCLUSÃO Conclui-se com essa pesquisa que existe uma relação biomecânica entre a articulação ílio-sacra e o apoio dos pés no chão. Devido principalmente à presença de alterações visíveis na descarga de peso logo após a correção da disfunção ilíaca, e também devido ao fato de as alterações ocorrerem em um percentual elevado da nossa amostra. Há uma tendência ao cavo em indivíduos com disfunção ilíaca à direita, tanto anterior como posterior. Já nos indivíduos com disfunção à esquerda houve uma tendência ao plano. Constata-se que uma normalização da função ílio-sacra traz um alívio biomecânico às estruturas osteomusculares intimamente relacionadas e que uma cascata de alterações descendentes homo e contralateral ocorre, com reflexo imediato no apoio plantar. Apesar de não dispormos para a presente pesquisa de um instrumento de mensuração mais sofisticado, o qual proporcionaria uma visualização mais precisa e dinâmica do apoio podal juntamente com a observação de outras variáveis para serem estudas, acreditamos ter atingido o objetivo inicial proposto neste trabalho. Monografias do Curso de Fisioterapia – Unioeste n. 01-2004 ISSN 1678-8265 64 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARROCO, R. ; VIANA, S. ; SALOMÃO, O. Pé plano adquirido do adulto por disfunção do tendão tibial posterior. Sociedade Brasileira de Medicina e Cirurgia do pé. São Paulo – SP, 2003. BIENFAIT, Marcel. Os Desequilíbrios Estáticos: filosofia, patologia e tratamento fisioterápico. São Paulo - SP: Summus, 1995. BIENFAIT, Marcel. 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