revista médica ano 4 | edição 4 | agosto - setembro 2016 veja também: cardiologia endocrinologia ginecologia infectologia neurologia oncologia NOVIDADES NO MANEJO DA LLC Conheça todos os métodos disponíveis para o diagnóstico e o prognóstico da doença ARQUIVO FLEURY Respostas em vez de resultados Não faz muito tempo, a leucemia era uma sentença de morte. Hoje, apesar de esse diagnóstico ainda ser um tanto indigesto, a situação mudou, notadamente nas formas crônicas da doença. A revolução da era genômica trouxe diferentes opções terapêuticas e a Medicina Diagnóstica acompanhou esse avanço, tendo passado a oferecer um verdadeiro arsenal de testes que não apenas diagnosticam, mas determinam prognóstico e sugerem a melhor opção terapêutica. Com a recente introdução, em nossa rotina, do sequenciamento do gene TP53 e da pesquisa de mutação no gene NOTCH1, usados na leucemia linfocítica crônica, dedicamos a capa desta edição ao conjunto de métodos disponíveis para o manejo dessa doença. Ainda focando na grande ajuda que a genética tem nos dado, o Relatório Integrado desta revista apresenta um caso de câncer colorretal em que o painel de expressão gênica para essa neoplasia, o Oncotype® DX, foi útil para definir se o paciente se beneficiaria da quimioterapia ou se o tratamento poderia terminar com segurança após a cirurgia. Saindo da Oncologia e indo para a Medicina Preventiva, os bem-sucedidos Jogos Olímpicos e Paralímpicos deixaram no brasileiro uma maior vontade de se exercitar. Como médicos, só temos a comemorar com isso. Mas nossa responsabilidade aumenta à medida que devemos zelar para que a atividade esportiva só gere benefícios nos praticantes. É exatamente desse ponto que o colega Nabil Ghorayeb, recém-integrado à nossa equipe de Cardiologia, trata com muita habilidade na coluna de Opinião. Para finalizar, quero convidá-lo a conhecer um pouco mais os diversos recursos diagnósticos que o Fleury está incorporando, a partir da página 12. Um deles é a sorologia para o Zika vírus, que, antes feita por meio de parceria internacional, agora passou a ser realizada internamente. Além de ter ficado mais rápido e com custo mais baixo, o exame pesquisa até o vírus da dengue em casos duvidosos para, em vez de um simples resultado, fornecer uma resposta completa para você agir mais rápido. Aproveite a leitura! Um forte abraço, Dra. Jeane Tsutsui Diretora Executiva Médica | Grupo Fleury nesta edição 7 8 MURAL Vacina meningocócica tem indicação ampliada DÊ O DIAGNÓSTICO Após exerese de tumor neuroendócrino, como 16 interpretar imagens de PET/CT com PRÁTICA CLÍNICA Ga-DOTA? 68 18 Incorporada à rotina do Fleury, sorologia para Zika vírus traz mais benefícios CAPA O que há de novo na abordagem da leucemia 24 linfocítica crônica RELATÓRIO INTEGRADO Colonoscopia virtual e Oncotype DX® se destacam no manejo do câncer colorretal 28 PESQUISA Tabagismo também 30 ATUALIZAÇÃO Quando utilizar os testes moleculares na pesquisa de infecção por HPV afeta a fertilidade masculina, diz estudo EXPEDIENTE Alguns dos nossos especialistas que participaram desta edição: RELATÓRIO INTEGRADO Dra. Beatriz M. Sugai, assessora médica em Gastroenterologia ano 4 | edição 4 | agosto - setembro 2016 RESPONSÁVEL TÉCNICO Dr. Edgar Gil Rizzatti, CRM 94.199 FALE CONOSCO E-MAIL [email protected] INTERNET www.fleury.com.br/medicos DOENÇAS RARAS Dr. Carlos Eugênio Fernandez de Andrade, assessor médico em Genética PRÁTICA CLÍNICA Dr. Frederico José N. Mancuso, assessor médico em Cardiologia TELEFONE 55 11 3179 0820 EDITORAS CIENTÍFICAS Dra. Ana Carolina Silva Chuery Dra. Barbara Gonçalves da Silva Dra. Fernanda Aimée Nobre EDITORA EXECUTIVA Solange Arruda (MTB 45.848) SUPERVISÃO EDITORIAL Thaís Arruda George Maeda DESIGN GRÁFICO Sérgio Brito ATUALIZAÇÃO Dr. Ismael Dale C. Guerreiro da Silva, assessor médico em Biologia Molecular DÊ O DIAGNÓSTICO SUPERVISÃO GRÁFICA Joaquim Cruz / Grupo Fleury IMPRESSÃO RR Donnelley TIRAGEM 8.700 exemplares STEVE GSCHMEISSNER/SPL/LATINSTOCK Dra. Júlia Capobianco, assessora médica em Medicina Nuclear CAPA Dra. Maria de Lourdes Chauffaille, assessora médica em Hematologia e Citogenética PRÁTICA CLÍNICA Dra. Maria Izabel Chiamolera, assessora médica em Endocrinologia Linfócito disforme visto sob microscopia eletrônica em um caso de LLC. FSC mural Doenças crônicas e mortalidade As doenças crônicas não transmissíveis são consideradas as principais causas de mortalidade e morbidade no mundo, levando ao óbito cerca de 38 milhões de pessoas ao ano. No Brasil, segundo dados da Organização Pan-Americana da Saúde, aquelas que respondem pela maior parte das mortes incluem as cardiovasculares, o câncer – principalmente o cervicouterino e o de mama, nas mulheres, e o de estômago e o de pulmão, nos homens –, o diabetes mellitus e as doenças respiratórias crônicas. Essas enfermidades estão relacionadas com a idade, podendo ser mais frequentes após a sétima década de vida, mas a porcentagem de mortalidade entre 30 e 70 anos por qualquer uma delas é significativa. No Brasil, segundo o Relatório Global da Organização Mundial da Saúde, publicado em 2014, o índice de morte prematura por doenças crônicas não transmissíveis foi de 19,4%, em 2012. Nesse mesmo ano, o total de óbitos por tais afecções foi de 518 mil, no sexo masculino, e de 459 mil, no sexo feminino, das quais 50,7% e 41,4%, respectivamente, em indivíduos abaixo de 70 anos. Esse panorama, no entanto, tem tudo para mudar porque é possível modificar os fatores que aumentam o risco para essas doenças, os quais incluem o tabagismo, o alcoolismo, a inatividade física, a alimentação não saudável e o aumento do índice de massa corporal. Tanto que, na prática, pelo menos 80% dos casos prematuros de doença cardiovascular, acidente vascular cerebral e diabetes tipo 2 e 40% dos casos de câncer podem ser evitados com dieta saudável e prática regular de exercícios físicos, bem como sem o consumo de tabaco. Os dados da pesquisa Vigitel, que analisa as estimativas sobre a frequência e a distribuição dos fatores de risco para doenças crônicas na população adulta brasileira (≥18 anos), mostram que nossos indicadores ainda precisam ser melhorados. De 2006 a 2014, houve aumento da porcentagem de sobrepeso ou obesidade. Apesar de o consumo regular de frutas e hortaliças estar se elevando gradativamente, o índice não atinge nem 40% da população. Em termos de atividade física durante o tempo livre, a taxa ainda se encontra em 35%. Felizmente, a porcentagem de fumantes vem diminuindo e a de pessoas que consomem bebidas alcoólicas em excesso mantém-se estável. Fatores de risco e de proteção para doenças crônicas, segundo a pesquisa Vigitel – 2006-2014 50 PORCENTAGEM 40 30 20 10 0 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Fumantes Consumo de carnes com excesso de gordura Sobrepeso (IMC >25 kg/m2) Atividade física no tempo livre Obesidade (IMC >30 kg/m2) Inatividade física Consumo regular de frutas e hortaliças (>5 dias/semana) Consumo abusivo de bebidas alcoólicas 6 MASTERFILE/LATINSTOCK Riscos podem ser modificados, especialmente entre os mais jovens EYE OF SCIENCE/SPL/LATINSTOCK Doença meningocócica Anvisa dá sinal verde para ampliar a proteção de lactentes Em maio último, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou uma nova indicação para a vacina MenACWY-CRM197, que passou a contemplar os lactentes com mais de 2 meses de idade, anteriormente restritos à opção de receber a MenC. A decisão leva em conta a recomendação da Sociedade Brasileira de Imunizações e da Sociedade Brasileira de Pediatria, segundo as quais, sempre que possível, a MenACWY-CRM197 deve ser o imunizante de escolha para prevenir a meningite nessa faixa etária. A MenACWY também está indicada para maiores de 12 meses que previamente foram imunizados com MenC – tanto como reforço quanto como dose adicional, se o esquema estiver completo. Ademais, a vacina pode ainda ser aplicada em adolescentes e adultos com risco de exposição à doença. Nesse contexto, é possível utilizar a MenACWY-TT, formulação licenciada apenas a partir de 1 ano de idade. A Neisseria meningitidis é a causa mais frequente de meningite no Brasil. Diante de seu potencial epidêmico e de sua rápida evolução e gravidade – com uma taxa de letalidade em torno de 20% no Estado de São Paulo –, a imunoprevenção da população pediátrica assume importância fundamental. Esquema de vacinação contra a doença meningocócica MenC Duas doses aos 3 e 5 meses de idade, com reforço entre 12 e 15 meses • Se iniciada após 1 ano de idade: dose única MenACWY-CRM197 Três doses aos 3, 5 e 7 meses de idade, com reforço entre 12 e 15 meses • Se iniciada entre 7 e 23 meses de idade: duas doses, devendo a segunda ser aplicada após 1 ano de idade, com um intervalo mínimo de dois meses entre as doses • Se iniciada após os 24 meses: dose única MenACWY-TT Dose única a partir dos 12 meses de idade MenC = vacina meningocócica C conjugada MenACWY = vacina meningocócica ACWY conjugada MenACWY-CRM197 = vacina meningocócica ACWY conjugada à proteína CRM do Corynebacterium diphtheriae MenACWY-TT = vacina meningocócica ACWY conjugada ao toxoide tetânico dê o diagnóstico Seguimento pós-operatório de tumor neuroendócrino O que pensar das imagens de PET/CT com marcador específico? Paciente do sexo masculino, 42 anos de idade, foi encaminhado para realização de PET/CT com 68Ga-DOTA, próprio para pesquisar e quantificar receptores da somatostatina, como avaliação pós-operatória de um tumor neuroendócrino. O exame feito na ocasião obteve as imagens abaixo. Diante dessas imagens, qual a possível conclusão diagnóstica? Normalidade Sinais de manipulação cirúrgica Nódulos tratados Metástases ARQUIVO FLEURY Veja a resposta dos assessores médicos do Fleury em Medicina Nuclear na página 33. 8 opinião do especialista Avaliação pré-participação esportiva competente À medida que ajuda a garantir os benefícios do exercício, o médico tem papel preponderante no combate ao sedentarismo Dr. Nabil Ghorayeb* ARQUIVO FLEURY Recomendações gerais A anamnese e a propedêutica são essenciais e devem considerar, além dos sintomas relacionados à atividade física esportiva, a idade de início da prática, a intensidade e as mudanças de modalidade. O eletrocardiograma (ECG) configura teste obrigatório e sua interpretação merece atenção, pois seus critérios estão em constante atualização no atleta. Já o teste ergométrico pode flagrar, durante o esforço, tanto alterações patológicas quanto alterações fisiológicas – entre as quais os distúrbios de ritmo e de condução precisam se normalizar, sem resposta isquêmica ou evolução para arritmias complexas. Por sua vez, o teste cardiopulmonar está indicado para quem pretende melhorar a performance física, já que fornece dados metabólicos e de consumo de oxigênio. Nos atletas profissionais e nos amadores de alto rendimento, o ecocardiograma é fundamental. Sempre indexado ao biotipo do indivíduo, detecta as hipertrofias cardíacas e, para ser considerado fisiológico, tem de registrar funções sistólica e diastólica normais. Por fim, não devemos nos esquecer dos exames laboratoriais, como hemograma, pesquisa de hemoglobinopatias, se indicada, perfil lipídico, glicemia e os que medem as funções renal, hepática e tiroidiana, além de outros, solicitados a critério médico ou das federações e clubes. Vale ponderar que os protocolos se modificam quando o exercício compreende o lazer, amadores não competitivos ou a reabilitação cardiovascular. Nas variações, convém ter em mente que a opinião médica é soberana e depende fundamentalmente dos achados clínicos. ARQUIVO PESSOAL As doenças cardiovasculares (DCV) continuam sendo a principal causa de morte no mundo, levando ao desfecho fatal 17,3 milhões de pessoas por ano. No entanto, em agosto último, o European Heart Journal publicou um estudo que apontou que, em 12 países da Europa Ocidental, o câncer ultrapassou essa causa de óbito na população. E a tal fato não se atribui o aumento das neoplasias, mas, sim, a diminuição das DCV, o que se deve especialmente às políticas públicas dirigidas para a prevenção de tais doenças, que incentivam não só o diagnóstico precoce, como também um estilo de vida mais saudável. Sabe-se que o sedentarismo constitui um dos principais fatores de risco modificáveis para as DCV, com força equivalente ao tabagismo e à dislipidemia, a ponto de a OMS ter estimado, em 2015, que 3,5 milhões de sujeitos tenham morrido no mundo em decorrência desse fator. Daí, portanto, vem a importância da prática físico-esportiva, que, contudo, precisa ser estimulada com critério, tendo o médico papel preponderante para evitar que o exercício gere eventos danosos, ao invés de benefícios. Nesse contexto, recomenda-se que, para uma avaliação pré-participação competente, sejam seguidas as diretrizes oficiais validadas pelas sociedades específicas e pelo Conselho Federal de Medicina. O Fleury também se insere nessa política com seu novo protocolo de Check-up Fitness. * Dr. Nabil Ghorayeb é especialista em Cardiologia e Medicina do Esporte e cardiologista sênior do Fleury. [email protected] entrevista Envelhecimento manipulado Professor israelense revela suas principais descobertas na abordagem da doença de Alzheimer A expectativa de vida da população mundial está aumentando, bem como a prevalência do mal de Alzheimer, o que sugere uma íntima associação entre esses eventos. A boa notícia é que diversos estudos têm sido feitos não para conter, mas para tentar manipular biologicamente o envelhecimento. “Espera-se que, ao retardar tal processo, seja possível preservar a atividade dos mecanismos que resguardam os jovens da doença”, resume o pesquisador Ehud Cohen, professor do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular do Institute for Medical Research Israel-Canada e da Hebrew University Medical School, ambos em Jerusalém, Israel. Na entrevista a seguir, Cohen conta um pouco de sua experiência em pesquisa básica com o Alzheimer. A doença de Alzheimer tem sido mais diagnosticada atualmente? Sim. Segundo a American Alzheimer’s Association, quase 4,7 milhões de americanos receberam esse diagnóstico em 2010 e a estimativa, para 2050, é que haja 13,8 milhões de doentes nos EUA. Vale notar que dois terços dos pacientes são mulheres. Embora não se saiba a razão disso, a maior frequência do Alzheimer na população feminina entre 65 e 75 anos, em comparação com a mesma faixa etária na ala masculina, indica que outros aspectos, além da longevidade, estejam envolvidos na maior suscetibilidade do sexo feminino à doença. ARQUIVO PESSOAL A crescente proporção de idosos significa que haverá mais casos de Alzheimer no futuro? O aumento da expectativa de vida é um dos principais responsáveis pela crescente prevalência do mal de Alzheimer. No entanto, o sedentarismo e o alto consumo de gordura também parecem contribuir para esse crescimento. Estudos experimentais mostraram que roedores fisicamente ativos desenvolveram os sintomas de Alzheimer mais tarde, em comparação com outros, não ativos, e apresentaram menor progressão da doença. Assim, o incentivo à atividade física em todas as idades deve ser parte de qualquer plano destinado a reduzir a prevalência da enfermidade. Existe apenas um mecanismo envolvido nessa doença ou são vários? Durante anos, a "hipótese amiloide" foi aceita como o único mecanismo subjacente ao desenvolvimento do Alzheimer. Essa teoria sugere que o excesso de proteólise da proteína precursora amiloide (APP) pelas ß e ϒ-secretases, ambas proteases, leva à produção demasiada do peptídeo Aß, que se acumula no cérebro e inicia o processo que determina a condição. Contudo, ficou demonstrado que existe uma fraca Ehud Cohen, professor do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular do Institute for Medical Research Israel-Canada e da Hebrew University Medical School, Israel. 10 correlação entre as concentrações cerebrais de Aß e a gravidade da doença, bem como que certas mutações na presenilina 1 – o componente ativo do complexo secretase ϒ – causam perda de sua função, além de níveis reduzidos na produção de Aß e mudanças na relação entre os diferentes subtipos de Aß. Nesse ponto, é justo dizer que a hipótese amiloide não explica todos os casos e que existe mais de um mecanismo por trás dessa devastadora afecção. O Alzheimer é uma doença do envelhecimento? Seria possível manipular esse processo? Como outras condições neurodegenerativas, o Alzheimer tem início tardio. Casos esporádicos se manifestam em torno dos 70 anos, ou depois, e indivíduos com mutações genéticas associadas à doença a desenvolvem entre os 50 e os 60 anos. Isso define o envelhecimento como o principal fator de risco nesse contexto e nos faz questionar se ele desempenha um papel ativo no aparecimento do Alzheimer. Um exemplo de destaque na manipulação desse processo é a proteção contra fenótipos da doença, vista em vermes e camundongos nos quais a atividade da cascata de sinalização IGF-1 foi reduzida. Assim, a inibição da via de sinalização de IGF-1 poderia ser uma intervenção com grande potencial para proteger os seres humanos contra a afecção, sem, contudo, provocar efeito algum sobre a longevidade. O senhor acredita que a manipulação do envelhecimento pode servir como uma intervenção geral, útil para tratar doenças associadas à idade? Como o envelhecimento determina muitas condições que resultam da agregação de proteína tóxica, espera-se que retardar esse processo possa preservar a atividade de mecanismos que resguardam os jovens de tais doenças. Vários grupos de pesquisa testaram essa noção, tendo verificado, em modelos animais, que a redução da atividade de sinalização da cascata do IGF-1 protege contra a toxicidade de proteínas que sustentam diferentes afecções neurodegenerativas. Embora a maioria dos estudos tenha sido realizada em organismos simples, a alta conservação dos mecanismos biológicos fundamentais em todo o filo sugere fortemente que uma alteração seletiva na senescência poderia ajudar a tratar diferentes enfermidades que cursam com neurodegeneração. Quais são os maiores desafios para propor uma terapia para o mal de Alzheimer? Primeiro, precisamos começar a criar coquetéis de compostos capazes de atingir simultaneamente alvos diferentes que culminam com a manifestação do Alzheimer. Segundo, deve haver um melhor entendimento dos mecanismos que causam a enfermidade. Por fim, o diagnóstico precoce precisa ser feito, idealmente na fase pré-sintomática, para que possamos intervir antes do surgimento de lesões maiores no cérebro. Se houver alguém na família com a doença, qual é a prevalência de um caso seguinte no mesmo núcleo? Há vários cenários aqui. Raramente as mutações em APP e presenilina 1 e 2, que provocam manifestação precoce da doença e são herdadas, ocorrem numa única pessoa da família. Assim, o surgimento do Alzheimer antes da maturidade pode sinalizar a presença dessa alteração genética e um alto risco para a enfermidade em outros membros da mesma coorte. As variantes de certos genes também aumentam essa probabilidade, mas isso não significa que seus portadores terão a condição. A ApoEϵ4, por exemplo, associa-se a risco relativamente elevado de desenvolver a doença, enquanto a ApoEϵ2 está relacionada a baixo risco. Por último, já que a maioria dos casos de Alzheimer começa de modo esporádico, é provável que, na maioria dos pacientes, o aparecimento da enfermidade em um membro da família não tenha relevância para seu surgimento em outros indivíduos do mesmo núcleo. Embora muitos fatores estejam implicados no Alzheimer, o que importa, de fato? Temos de ser cuidadosos ao analisar os fatores que aumentam ou diminuem o risco da doença. Muitos estudos projetados para identificá-los foram feitos em modelos animais que não tinham genética idêntica e que estavam predispostos a desenvolver o mal de Alzheimer. Outros usaram grandes populações humanas para isolar um aspecto, mesmo sabendo que as pessoas têm muitas diferenças no estilo de vida e na dieta. No entanto, penso que há provas substanciais para apoiar a alegação de que o exercício físico regular, a gestão do estresse e a dieta saudável reduzem o risco de o indivíduo vir a ter muitas doenças, incluindo o Alzheimer. Já que também garantem melhor qualidade de vida, por que não adotá-los? Entrevista concedida ao Dr. Gustavo Maciel, assessor médico do Fleury em Biologia Molecular. prática clínica radiologia O contraste chega à ultrassonografia, trazendo mais possibilidades diagnósticas ARQUIVO FLEURY De uso corrente na Europa e nos EUA desde a última década e liberado pela Anvisa em 2013, o agente de contraste ultrassonográfico Sonovue® (Bracco – Itália) apresenta-se como uma nova ferramenta diagnóstica relacionada à ultrassonografia, configurando uma alternativa nos casos em que a tomografia computadorizada e a ressonância magnética são contraindicadas. O contraste ultrassonográfico fica confinado ao espaço vascular e tem poucas contraindicações, que se restringem a doenças cardíacas isquêmicas recentes ou instáveis, desvios direita/esquerda conhecidos e hipertensão pulmonar grave. Por não ser nefrotóxico, não há necessidade de testes sanguíneos preliminares e a taxa de reações anafiláticas possivelmente fatais reportadas é extremamente baixa, menor que 0,002%. Entretanto, seu uso ainda não foi aprovado no Brasil para mulheres grávidas, lactantes e crianças. Quando usar essa modalidade de ultrassom? Após injeção do Sonovue® em veia periférica, é possível avaliar, de maneira dinâmica, a presença e o padrão de realce do meio de contraste durante sua passagem pelo órgão estudado. Entre as principais aplicações, destacam-se: • Investigação e controle de nódulos hepáticos por meio do acompanhamento em tempo real do padrão de realce durante as fases arterial e portal, particularmente em nódulos incaracterísticos à ultrassonografia que mereçam atenção especial ou no controle após embolização de lesões malignas. Por outro lado, há limitação desse estudo em nódulos menores que 1,0 cm, em posição muito profunda e em pacientes com esteatose hepática significativa, quando a avaliação pode ficar comprometida. • Estudo de estruturas vasculares para controle pós-tratamento com endopróteses vasculares, detecção e seguimento de extravasamentos (endoleak) e caracterização de fluxo em artérias possivelmente obstruídas, o que também previne a sobrecarga de contraste iodado e a radiação em estudos angiotomográficos subsequentes. • Diferenciação de lesões focais não vascularizadas, como cistos, abscessos, hematomas e áreas de isquemia, permitindo ainda avançar na caracterização das lesões vascularizadas em qualquer órgão, desde que acessíveis e com dimensões mínimas à ultrassonografia convencional. ASSESSORIA MÉDICA Dr. André Paciello Romualdo [email protected] 12 Hepatocarcinoma caracterizado, ao estudo ultrassonográfico com contraste, por artéria nutriente com aspecto “em garra”, realce arterial progressivo e global e rápido washout na fase tardia. cardiologia Ecocardiografia com avaliação do strain aprimora o estudo da função ventricular Imagem de ecocardiograma transtorácico convencional magnificada mostra, ao ultrassom, o aspecto pontilhado (speckles) inerente ao tecido miocárdico. ARQUIVO FLEURY O strain miocárdico consiste numa nova modalidade ecocardiográfica que estuda a mecânica (deformação) cardíaca, tendo sido desenvolvido com o objetivo de melhorar a avaliação da função ventricular, um dado importante na prática clínica, obtido principalmente pelo cálculo da fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE). Para essa abordagem, utiliza-se sobretudo a técnica de speckle tracking, baseada no rastreamento (tracking) de marcadores acústicos naturais (speckles), presentes na imagem bidimensional em escala de cinza durante todo o ciclo cardíaco. Uma vez que a função sistólica cardíaca constitui fenômeno complexo e dependente do arranjo estrutural e da contração das fibras miocárdicas nos sentidos longitudinal, circunferencial e radial, o strain pode ser avaliado nessas três direções, mas o longitudinal do ventrículo esquerdo (VE) foi o mais estudado e conta com dados consolidados na literatura, o que permite seu uso na prática clínica. Dentre esses dados, é possível demonstrar alteração da função contrátil do VE, mesmo com FEVE preservada, em diversas situações clínicas, como hipertensão arterial, doença arterial coronariana, insuficiência cardíaca com FEVE preservada, valvopatia, quimioterapia com agentes cardiotóxicos, diabetes mellitus, talassemia e distrofia muscular de Duchenne, apenas para citar algumas que podem cursar com compro­metimento do VE. O strain ainda possui valor prognóstico em cardiomiopatias e na doença isquêmica. Vale lembrar que o ventrículo direito (VD) igualmente pode ser estudado pela mesma técnica. Em pacientes com hipertensão pulmonar, o strain do VD apresenta-se reduzido, mesmo quando a avaliação de sua função é normal pelos parâmetros ecocardiográficos clássicos, indicando que o método também tem utilidade na detecção precoce de disfunção ventricular direita. ASSESSORIA MÉDICA Dr. Frederico José N. Mancuso [email protected] Dra. Ingrid Kowatsch [email protected] Dr. Marcio Silva Miguel Lima [email protected] Análise do strain em mulher de 50 anos, assintomática, em pré-operatório para cirurgia de coluna. Observa-se discreta redução da deformação (strain) do segmento basal das paredes anterior e inferolateral (setas). A paciente foi submetida a cateterismo, que demonstrou significativa obstrução nas artérias coronárias descendente anterior e circunflexa. endocrinologia Dosagem de peptídeo C após estímulo com glicose revela a reserva pancreática DR L. ORCI, UNIVERSITY OF GENEVA/SCIENCE PHOTO LIBRARY/LATINSTOCK Secretado pelas células betapancreáticas em concentrações equimolares às da insulina, o peptídeo C consiste no fragmento liberado quando a proinsulina passa por clivagem, dando origem à insulina. Uma vez que ele não sofre influência da presença de anticorpos anti-insulina ou mesmo da insulina exógena, sua dosagem sérica, tanto em jejum quanto depois de estímulo parenteral ou oral, é considerada um recurso para o seguimento da história natural da função das células beta no diabetes mellitus tipo 1 após o início do tratamento. Recentemente incorporado no arsenal de provas funcionais do Fleury, o teste de tolerância à glicose oral para dosagem do peptídeo C configura uma alternativa ao teste de estímulo com glucagon e, portanto, tem sido atualmente o exame de escolha para o estudo da reserva pancreática. Em indivíduos não diabéticos, a resposta do peptídeo C depois da ingestão de 75 gramas de glicose supera seu valor basal em 300% a 400%, aos 30 minutos, e em 250% a 300%, aos 60 minutos. O exame também se aplica ao diagnóstico da hipoglicemia factícia, na qual o peptídeo C é caracteristicamente indetectável. Por outro lado, dosagens elevadas na vigência de hipoglicemia podem ser encontradas em casos de insulinoma. Convém ressaltar que existe uma forte correlação entre os níveis basais do peptídeo C e os obtidos após estímulos de qualquer natureza. Estudos epidemiológicos demonstram que, em diabéticos, valores inferiores a 0,6 ng/mL podem refletir uma reserva secretória baixa das células betapancreáticas. Novo exame informa a reserva secretória das células betapancreáticas, vistas aqui sob microscopia eletrônica. ASSESSORIA MÉDICA Dra. Milena Gurgel Teles Bezerra [email protected] Dra. Maria Izabel Chiamolera [email protected] Dra. Rosa Paula Mello Biscolla [email protected] 14 imunologia Hepatite autoimune ganha mais um marcador diagnóstico e prognóstico Doença hepática crônica rara, que acomete predominantemente mulheres, a hepatite autoimune (HAI) caracteriza-se por elevação dos níveis séricos de transaminases, hipergamaglobulinemia, hepatite de interface à análise histológica e presença de autoanticorpos, os quais são essenciais tanto para estabelecer o diagnóstico e classificar a doença em subtipos quanto para definir o prognóstico. No Fleury, é possível fazer a pesquisa dos principais marcadores imunológicos associados à condição, incluindo o anticorpo contra o antígeno solúvel do fígado ou fígado/pâncreas (anti-SLA/LP), recém-introduzido na rotina do laboratório. Com especificidade em torno de 99% para a HAI, o anti-SLA/LP ocorre em cerca de 30% dos pacientes com a hepatopatia, frequentemente em associação com os anticorpos antimúsculo liso, embora, em alguns casos, possa ser o único biomarcador da doen­ ça. Quando presente, ainda indica evolução mais agressiva e maior chance de recidiva após a suspensão do tratamento. O diagnóstico precoce da HAI é fundamental porque essa afecção causa danos de graus variáveis no fígado, com destaque para a cirrose hepática, sobretudo quando a doença não recebe tratamento adequado. Vale lembrar que, apesar de o quadro clínico e os testes laboratoriais fazerem parte dos critérios para o diagnóstico da HAI, a exclusão de outras causas de hepatite e a análise histológica são imprescindíveis para confirmar tal hipótese. Fragmento do fígado de um paciente com hepatite autoimune evidencia inflamação e fibrose. ISM/SPL/LATINSTOCK ASSESSORIA MÉDICA Dr. Alexandre Wagner Silva de Souza [email protected] Dr. Luis Eduardo Coelho de Andrade [email protected] Autoanticorpos encontrados na hepatite autoimune Fator antinúcleo (FAN) Está presente em 67% dos pacientes com HAI, de forma isolada (13%) ou combinada ao AML (54%). Reage contra diferentes antígenos nucleares, sem padrão específico. Aparece em altos títulos, mas sem correlação com a fase ou com o grau da atividade inflamatória do fígado, tampouco com o prognóstico da doença Anticorpo antimúsculo liso (AML) Até 87% dos pacientes com HAI possuem esse marcador, geralmente em associação com o FAN. Caracteriza a HAI tipo 1 e pode desaparecer com o tratamento Anticorpo contra a fração microssomal de fígado e rim (anti-LKM1) Voltado contra o citocromo P450IID6, é tipicamente detectado na ausência do FAN e do AML, definindo a HAI tipo 2, de evolução mais agressiva. Dez por cento dos portadores de hepatite C crônica têm esse autoanticorpo, embora em níveis menos expressivos Anticorpo contra o antígeno solúvel do fígado ou fígado/ pâncreas (anti-SLA/LP) Dirigido contra um antígeno solúvel de fígado e pâncreas, apresenta grande especificidade para a HAI (tipo 1 e tipo 2), sendo observado em cerca de 30% dos portadores da doença. Está relacionado a pior prognóstico e a maior chance de recidiva pós-tratamento Anticorpo anti-LC1 Volta-se contra o citosol hepático e ocorre mais frequentemente em jovens, notadamente em pacientes LKM-positivos. Cerca de 30% dos casos de HAI tipo 2 caracterizam-se pela presença desse marcador infectologia Fleury incorpora a sorologia para Zika vírus à sua rotina, com benefícios adicionais para médicos e pacientes A sorologia para o Zika vírus é o mais novo teste que deixou de seguir para processamento em laboratório internacional e passou a ser totalmente realizado dentro do Fleury, o que traz vantagens expressivas, não só em relação ao custo e ao prazo do resultado, como também ao acompanhamento rigoroso de todo o processo analítico. Considerando que a apresentação clínica da infecção pelo Zika vírus varia e que pode se assemelhar, em grande parte, às manifestações da dengue e da febre chikungunya, entre outras doenças virais, é importante, especialmente em alguns casos, estabelecer o diagnóstico definitivo pelos recursos laboratoriais. Nesse contexto, a sorologia representa o método de escolha para a investigação nos pacientes em que o período de viremia já passou. A partir do quinto dia de sintomas, os anticorpos da classe IgM contra o vírus já aparecem no soro do paciente e reforçam a suspeita da infecção. Por sua vez, a presença de IgG específica, cerca de dois a quatro dias depois da detecção inicial da IgM, corrobora o diagnóstico, uma vez que aumenta o valor preditivo positivo do teste em relação ao Zika, enquanto a ausência de soroconversão em amostras pareadas, com intervalo de uma semana, sugere mais fortemente que se trate de doença ocasionada por outro agente. Isso ocorre porque a interpretação isolada do resultado dos anticorpos, principalmente da IgM, requer cuidado, tendo em vista a natureza intrínseca dessa molécula e a semelhança estrutural entre o Zika e o vírus da dengue, o que possibilita reatividade cruzada entre os anticorpos contra esses dois agentes, além de outros vírus. Atento a essa possibilidade, e procurando entregar mais que um resultado, o Fleury também incorporou à sorologia para Zika a pesquisa de anticorpos contra a dengue, sem custo adicional, sempre que a primeira mostrar IgM ou IgG reagentes. A partir desse conjunto de informações integradas, a equipe médica responsável pelo exame emite um laudo interpretativo, o que conduz a uma conclusão bem mais consistente dos achados. Vale ressaltar que, embora a produção de IgM se mantenha por poucas semanas, a positividade da IgG permanece por mais tempo. Nesse sentido, na suspeita de infecção aguda, convém colher a amostra para sorologia a partir de sete dias depois do início do quadro, a fim de flagrar a presença de ambas as classes de anticorpos específicos. Em casos selecionados, recomenda-se também proceder a um seguimento sorológico para melhor observar a evolução de tais marcadores. Por outro lado, a pesquisa de IgG para confirmar uma infecção pregressa pode ser realizada a qualquer tempo. CDC/CYNTHIA GOLDSMITH Zika vírus sob a óptica da microscopia eletrônica de transmissão. 16 ASSESSORIA MÉDICA Dra. Carolina Santos Lázari [email protected] Dr. Celso Granato [email protected] Tradicionalmente, o Fleury é reconhecido pelo pioneirismo no diagnóstico das infecções e dispensa uma atenção constante a novos microrganismos que possam representar uma amea­ça – seja individual, seja com potencial repercussão à saúde pública –, requerendo diagnóstico oportuno. É nesse contexto que se insere o teste molecular para identificação do coronavírus associado à síndrome respiratória do Oriente Médio, ou MERS-CoV, realizado por PCR em tempo real e recentemente incorporado à rotina do laboratório. Apesar de ainda não haver casos confirmados no Brasil, a infecção pelo MERS-CoV deve ser aventada em todos os indivíduos que desenvolvem doença respiratória aguda grave e fizeram viagem recente à Península Arábica ou tiveram contato com pessoas procedentes dessa região. A introdução do teste, portanto, vem bem a calhar nesta fase pós-Jogos Olímpicos e Paralímpicos, em que houve grande fluxo de turistas do mundo todo circulando em nosso país. Relatada pela primeira vez em 2012, na Arábia Saudita, a doença já foi flagrada, nos últimos quatro anos, em mais de 20 países. A transmissão ocorre por meio de contato com pacientes infectados e qualquer pessoa, sem distinção de idade, pode ser acometida em até 14 dias após a exposição ao vírus. O exame pode ser realizado em secreção de nasofaringe e orofaringe, material de fossa nasal ou lavado brônquico, colhidos nas unidades do Fleury ou enviados por outros serviços de saúde, desde que mantidos sob refrigeração e entregues em até 24 horas após a coleta. Convém assinalar que, apesar da elevada sensibilidade da técnica de PCR, um resultado negativo não exclui o diagnóstico, que, dessa forma, precisa ser sempre confrontado com os dados clínicos e epidemiológicos. Número total de casos: 1.800 1-5 151 - 500 6 - 20 501 - 1000 21 - 150 1.000+ Casos confirmados de MERS-CoV no mundo - 2012/2016 240 220 200 Número de casos 180 160 140 ASSESSORIA MÉDICA 120 Dra. Carolina dos Santos Lázari [email protected] 100 80 Dr. Celso Granato [email protected] 60 40 20 0 01 03 05 07 09 11 01 03 05 07 09 11 01 03 05 07 09 11 01 03 05 07 09 11 01 03 05 07 2012 2013 2014 2015 2016 Arábia Saudita Resto do mundo AMI IMAGES/SPL/LATINSTOCK Teste molecular identifica o coronavírus associado à síndrome respiratória do Oriente Médio capa As mudanças no diagnóstico e no prognóstico da leucemia linfocítica crônica diante das novas opções terapêuticas Manejo da LLC na era pós-molecular STEVE GSCHMEISSNER/SPL/LATINSTOCK Uma das leucemias primeiramente descritas por Virchow, em 1847, a LLC teve sua história natural relatada apenas em 1924, por Minow e Isaacs. À época, o único tratamento disponível era a radioterapia. Nas décadas de 70-80, foram feitas as tentativas iniciais para discriminar, por meio de dados clínico-laboratoriais, qual seria a evolução dos pacientes (estadiamento clínico de Rai e Binet). Em 1972, pesquisadores identificaram a clonalidade dos linfócitos B pela presença de restrição de cadeia leve na superfície das células. Desde então, muitos avanços ocorreram nesse campo, como a introdução do anticorpo quimérico anti-CD20, em 2003, que passou a ser usado em associação ao clorambucil, tornando-se a primeira terapia monoclonal dirigida contra o câncer e revolucionando o aparato terapêutico. Nos últimos anos, porém, a evolução foi ainda mais contundente graças às novas descobertas genômicas, obtendo-se maior compreensão da fisiopatologia, melhor classificação da doença, estratificação de risco mais precisa e aplicação de novas opções terapêuticas (ofatumumabe, obinutuzumabe, ibrutinibe e idelalisibe) para casos refratários, resistentes ou com morbidades. Hoje, a LLC é a leucemia mais frequente no Ocidente, acometendo geralmente pessoas com mais de 50 anos de idade. Apresenta curso clínico variável, desde indolente, que constitui a situação mais comum, com pacientes 18 FISH permanecendo por anos sem necessitar de tratamento, a agressiva, quando há necessidade da terapia já ao diagnóstico. A doença caracteriza-se pela proliferação clonal e pelo acúmulo de células B maduras (CD5+, CD23+, CD19+, CD200+, CD43±, CD10-, CD20 fraco, Ig de superfície fraca e ciclina D1-) em sangue periférico, medula óssea e linfonodos. A definição diagnóstica variou com o passar do tempo e atualmente os parâmetros estão bem definidos (veja quadro na pág. 20). A imunofenotipagem por citometria de fluxo permite o diagnóstico definitivo da LLC, na medida em que quantifica e caracteriza os linfócitos B monoclonais. Em relação aos fatores preditivos do curso clínico, figuram os estadiamentos de Rai e Binet (aspectos clínicos), a idade, a dosagem da beta-2-microglobulina, o tempo de duplicação de linfócitos, o padrão de infiltração da medula óssea, a presença da mutação na região variável do gene IGH (IGHV), a expressão de CD38 e de ZAP-70 e as alterações cromossômicas. Além disso, despontam como importantes para predizer a evolução as mutações em alguns genes, como TP53 e NOTCH1. A identificação das alterações cromossômicas, além de permitir a distinção da LLC de outras neoplasias linfoproliferativas, a exemplo do linfoma de células do manto, é essencial para a estratificação da evolução clínica. A importância do estudo genético na doença é tamanha que se recomenda essa avaliação antes do início do tratamento e em todos os casos de recaída, na instituição de outras linhas terapêuticas, pois novas mutações podem aparecer e influenciar a tomada de decisão. O método mais fácil e rápido para tal detecção é a hibridação in situ por fluorescência (FISH). O método aumenta a taxa de detecção de aberrações porque prescinde da metáfase, ou seja, avalia a célula fora da divisão. Ao diagnóstico, permite identificar anomalias em cerca de 80% dos casos. As anormalidades genômicas em LLC detectadas por FISH são fatores independentes para predizer progressão e sobrevida. Utiliza-se, habitualmente, um conjunto de sondas que marcam centrômero do cromossomo 12, 13q14.3 e 13q34, 11q22.3 (gene ATM), 17p13.1 (gene TP53) e 6q (gene MYB). A pesquisa da t(11;14) (ciclina-CCND1/ IGH) é útil para diferenciar a LLC do linfoma do manto. Aberrações cromossômicas mais recorrentes detectadas por FISH • Deleção do braço longo do cromossomo 13 [del(13q)]: ocorre em 40% a 60% dos casos e oferece prognóstico favorável. Associa-se com resistência à apoptose, alta expressão do gene BCL2 e mutação IGHV. • Deleção do braço longo do cromossomo 11 [del(11q)]: presente em 10% a 20% dos casos, geralmente com doença avançada e linfonodomegalia extensa. Está associada a IGHV não mutado, defeito no reparo do DNA e desregulação da proteína TP53 e do ciclo celular, apontando prognóstico desfavorável. • Trissomia 12 [+12]: aparece em 10% a 20% dos casos e se relaciona com morfologia atípica dos linfócitos e fenótipo clínico agressivo, ou seja, desfavorável. Geralmente acompanha a mutação em NOTCH1. Estadiamento clínico original de Rai (1975) Estágio Linfocitose Linfonodomegalia Hepatoesplenomegalia Hb (g/dL) Plaquetas (/µL) 0 + – – >11 >100.000 I + + – >11 >100.000 II + + + >11 >100.000 III + + + <11 >100.000 IV + + + qlq <100.000 Estadiamento clínico de Binet (1981) Estágio Critérios Porcentagem do total A Menos de três sítios de acometimento 55% Igual à população geral B Três ou mais sítios 30% Sete anos C Anemia (<10 g/dL) ou trombocitopenia (100.000/µL) 15% Dois anos Sobrevida > > • Deleção do braço curto do cromossomo 17 [del(17p)]: rara, é observada em 3% a 8% dos casos e está implicada com defeito no reparo do DNA e do ciclo celular, bem como com fenótipo clínico agressivo e ausência de resposta a agentes alquilantes, configurando prognóstico desfavorável. • Deleção do braço longo do cromossomo 6 [del(6q)]: detectada em 6% dos casos e associada a linfocitose mais proeminente, morfologia atípica, esplenomegalia e altos níveis de CD38+. No que diz respeito à evolução da doença, detectou-se, por meio da FISH, evolução clonal em 27% dos pacientes com LLC não tratados acompanhados por cinco anos (Zent & Burack, 2014). Cariótipo Atualmente, o cariótipo feito com linfócitos de sangue periférico por meio da cultura com modernos mitógenos (CpG) para célula B detecta alterações na maioria dos casos. Esse método possibilita que todos os cromossomos sejam observados simultaneamente. Entretanto, não permite a identificação de deleções de tamanho menor que o limite de resolução do método, situação na qual a FISH apresenta vantagem. A realização do cariótipo se justifica porque pacientes com anormalidades cromossômicas têm sobrevida menor que aqueles com cariótipo normal, os quais respondem significativamente melhor ao tratamento quimioterápico. Pacientes com cariótipos complexos, contendo mais de três anormalidades, têm pior sobrevida e doença mais agressiva, pois estes se associam a IGHV não mutado, a aberrações do 17p e a menor tempo para tratamento. Na progressão da doença, podem surgir novas aberrações, geralmente identificadas como evolução clonal. A síndrome de Richter ou a transformação em linfoma agressivo acompanham-se, em geral, de deleção 17p (gene TP53). Graças a esses testes, foi estabelecido um modelo hierárquico para o impacto prognóstico na LLC com cinco subgrupos: Alteração Sobrevida mediana del(13q) 133 meses +12 114 meses Cariótipo normal 111 meses del(11q) 79 meses del(17p) 32 meses As deleções do TP53 geralmente afetam apenas um cromossomo, mas suas consequências dependem da integridade funcional do alelo remanescente. Entretanto, pode haver alterações que ocasionam a disfunção bialélica, ou seja, mutação em um alelo com heterozigose por perda neutra do número de cópias ou geração de proteína mutante negativa dominante. Nesse contexto, está indicada a pesquisa de mutação por sequenciamento do gene. Sequenciamento do TP53 Apesar de a FISH demonstrar a deleção do 17p, ou TP53, essa análise não detecta a disfunção do gene. Assim, o sequenciamento, à procura de mutações, tem revelado que 80% das alterações ocorrem nos éxons de 4 a 9 no alelo remanescente. A presença da mutação no gene TP53 indica prognóstico adverso em LLC, pois confere refratariedade à fludarabina e a outros agentes alquilantes usados nos esquemas quimioterápicos tradicionais, além de chance de progressão da doença e curta sobrevida. IGVH A detecção de hipermutação somática em IGHV (casos mutados) assinala prognóstico favorável e doença indolente, enquanto os casos de LLC com ausência da hipermutação (casos não mutados) apresentam pior evolução, caracterizada tanto por menor sobrevida global quanto livre de eventos. CD38 Trata-se de uma glicoproteína transmembrana, expressa em células B normais, com importante função na apoptose e na promoção de sobrevida e transformação neoplásica da células B. Quando sua expressão é maior que 30%, confere prognóstico desfavorável e menor tempo entre diagnóstico e tratamento, além de pior sobrevida total. Parâmetros essenciais para o diagnóstico da LLC Revisão hematológica e citomorfológica do esfregaço de sangue periférico ou revisão histológica de bloco de parafina de linfonodo ou medula óssea Citometria de fluxo do sangue periférico com >5.000/µL linfócitos B monoclonais (painel com marcadores de superfície para K, λ, CD19, CD20, CD5, CD23, CD79b e CD10, além de CD200 para diferenciação de linfoma de células do manto) 20 Obs.: Se houver <5.000 linfócitos monoclonais, pode-se classificar o quadro como linfocitose B monoclonal ZAP-70 Quando a expressão dessa tirosinoquinase citoplasmática com função na fisiopatologia da LLC supera os 20%, há maior risco de progressão da doença e menor tempo entre diagnóstico e tratamento. Pesquisa de mutação em NOTCH1 A sobrevida e a proliferação de células B dependem da sinalização de receptores de superfície ativados por várias vias intracelulares. O NOTCH1 é um receptor transmembrana que regula a ação de vários genes, entre os quais NFkB e cMYC. Mutações em NOTCH1 (frameshift, deleção c.7544_7545del/CT) são observadas em 10% das LLC ao diagnóstico, em 20% das refratárias e em 30% das transformadas em linfoma. Estão presentes em 25-30% dos pacientes com trissomia 12, em casos com IGHV não mutado e em indivíduos refratários à quimioterapia. Portadores de mutação em NOTCH1 não respondem bem a agentes anti-CD20. ASSESSORIA MÉDICA Hematologia e Citogenética Dra. Maria de Lourdes Chauffaille [email protected] Citometria de fluxo Dr. Alex Freire Sandes [email protected] Dr. Matheus Vescovi Gonçalves [email protected] Métodos que oferecem valor preditivo do curso clínico e suas características Método/teste Características Detecção FISH Realizado em interfases do sangue periférico +12, del(11q) [gene ATM], del(13q) [RB1] e del(17p) [gene TP53] Cariótipo Realizado em metáfases após cultura com CpG Cariótipo complexo CD38 Citometria de fluxo Expressão ≥30% ZAP-70 Citometria de fluxo Expressão ≥20% TP53 Sequenciamento Todos os éxons IGHV Sequenciamento NOTCH1 Sequenciamento Éxons 26, 27 e 34 Algoritmo simplificado para o diagnóstico e o prognóstico de LLC Linfócitos >5.000/µL Imunofenotipagem por CMF FISH +12 Cariótipo Sequenciamento do TP53 Não mutado Mutado NOTCH1 Não mutado Mutado IGHV Mutado CD38 ZAP-70 <30% <20% >30% >20% Não mutado 17p11q13q Bom prognóstico Prognóstico desfavorável assessoria médica responde Interpretação do teste não invasivo para trissomias em gestantes de baixo risco Sou obstetra e uma das minhas pacientes, grávida de 15 semanas, gostaria de realizar o teste de rastreamento não invasivo para trissomias fetais (NIPT). Com 38 anos, ela não apresenta outros fatores que aumentem a chance de aneuploidias e o rastreamento combinado de primeiro trimestre mostrou um risco de 1:500. Nesse contexto, haveria alguma particularidade na interpretação do resultado do NIPT? Independentemente dos fatores maternos, um laudo de NIPT que indica “aneuploidia detectada” sugere que o feto tem alta probabilidade de apresentar alguma das cromossomopatias investigadas, visto que resultados falso-positivos são raros e geralmente se associam a vanishing twin, mosaicismo placentário ou alterações maternas não conhecidas. Nessas gestações, recomenda-se prosseguir a investigação com a biópsia de vilo corial ou a amniocentese, conforme a idade gestacional. Já na ausência de alterações, há baixa possibilidade de cromossomopatias – segundo um estudo de Gil et al (2014), o risco relativo diante desse resultado é de cerca de 100, 31 e 13 para as trissomias 21, 18 e 13, respectivamente. Por exemplo, se o rastreamento combinado (translucência nucal associada a beta-hCG livre, PAPP-A e PLGF) aponta, como na sua paciente, um risco de 1:500 para a trissomia 21 e o NIPT, "aneuploidia não detectada", a chance de o feto ser afetado seria de uma em 50 mil. Em tal cenário, o rastreamento pré-natal deve seguir com ultrassonografia morfológica de segundo trimestre e ecocardiografia fetal. Existem ainda os casos com valores limítrofes, indicados no laudo como “aneuploidia suspeita”, por contemplarem uma pequena possibilidade de os resultados não refletirem os cromossomos do feto, mas alterações placentárias ou da gestante. Por conta disso, devem ser interpretados em conjunto com o rastreamento prévio e/ou conduzidos da mesma forma que os de alto risco. O NIPT analisa, por sequenciamento massivo paralelo, fragmentos de DNA fetal livre presentes no sangue periférico materno e pode ser feito em gestações a partir de dez semanas, tanto de feto único como de gemelares, bem como em casos de fertilização in vitro, com ovócitos próprios ou não. Uma vez que agora é realizado dentro do Fleury – antes dependia de parceiros –, tem custo mais bai- CAROL & MIKE WERNER/VISUALS UNLI/SPL DC/LATINSTOCK Rastreamento de aneuploidias fetais pelo NIPT Trissomia 21 Síndrome de Down Sensibilidade Falso-positivo 99% 0,08% Trissomia 18 Síndrome de Edwards 96,8% 0,15% Trissomia 13 Síndrome de Patau 92,1% 0,20% Monossomia X Síndrome de Turner 88,6% 0,12% xo e resultado liberado em prazo menor (até sete dias úteis), além da disponibilidade da equipe médica para discussão. Convém ponderar que o NIPT faz uma triagem, não um diagnóstico, o que põe a paciente num grupo de baixo ou alto risco para trissomias, mas não confirma nem exclui tais quadros. Também é preciso ficar atento às limitações do teste em relação aos métodos clássicos de pesquisa de alterações fetais, que têm papel fundamental na identificação de outras malformações estruturais e até mesmo no rastreamento de complicações maternas, como a pré-eclâmpsia. Dr. Mario H. Burlacchini de Carvalho assessor médico do Fleury em Medicina Fetal [email protected] MANDE TAMBÉM A SUA DÚVIDA DIAGNÓSTICA PARA: [email protected] 22 CNRI/SPL/LATINSTOCK doenças raras Fibrose cística De origem genética e caráter autossômico recessivo, a fibrose cística (FC) é uma condição crônica, progressiva e tipicamente multissistêmica, caracterizada pelo envolvimento das glândulas exócrinas e por graus variáveis de doença pulmonar obstrutiva, níveis elevados de eletrólitos no suor e insuficiência pancreática, com má absorção e desnutrição secundária. Estima-se que sua prevalência seja de um caso em cada 2.500 nascidos vivos, o que pode variar de acordo com a etnia. O gene da FC codifica a proteína cystic fibrosis transmembrane conductance regulator (CFTR), conhecida como canal de cloro, essencial para o transporte de íons na membrana celular. Mais de mil mutações já foram identificadas no gene CFTR, com destaque para a delta-F508, que ocorre em 50% a 70% dos caucasoides portadores da condição. As demais são raras e encontradas em populações específicas. A determinação do cloro no suor pela medida da condutividade constitui um dos testes de triagem para a FC. Simples, não invasiva e amplamente disponível, flagra a disfunção da proteína CFTR quando seus resultados ficam acima do limite de normalidade. Caso a primeira dosagem mostre valores anormais, a prova deve ser repetida em outro dia. Um teste negativo, por sua vez, praticamente exclui a hipótese da doença. Sempre que possível, convém confirmar o diagnóstico da FC pela busca de alterações genéticas no gene CFTR. O teste molecular, baseado em PCR-multiplex, permite a detecção de 106 mutações, incluindo as 25 recomendadas pelo Cystic Fibrosis Genetic Analysis Consortium. Como outra opção, há ainda possibilidade de realizar o sequenciamento completo e a análise de deleção e duplicação desse gene. O tratamento da doença é multidisciplinar e visa a monitorar as complicações, acompanhar a nutrição e, sobretudo, controlar as infecções broncopulmonares e a insuficiência pancreática exócrina, cujo diagnóstico precoce, vale lembrar, pode ser feito com a dosagem de elastase nas fezes, que se encontra diminuída quando a função do pâncreas começa a ficar comprometida, antes mesmo da elevação da gordura fecal. Já no teste do pezinho Outra associação No recém-nascido, a triagem neonatal ampliada permite rastrear a FC, devendo ser feita entre o terceiro e o quinto dia de vida. O teste baseia-se na dosagem do tripsinogênio imunorreativo, que, nos portadores, mostra-se aumentada no período neonatal, dada a obstrução dos ductos pancreáticos na vida intrauterina e o consequente refluxo para a corrente sanguínea. Em caso de alteração, uma nova amostra precisa ser colhida até o bebê completar 30 dias. Se o resultado persistir, é preciso confirmá-lo com o teste do suor ou com a pesquisa das mutações. A interpretação de qualquer um desses exames deve ser feita em conjunto com a clínica. Mutações no CFTR também se relacionam à agenesia congênita do canal deferente, que configura uma das principais causas de azoospermia obstrutiva. Diante dessa indicação clínica, o estudo molecular realizado pelo Fleury inclui, de forma complementar, a execução do teste poli-T. Nesse caso, outros exames confirmatórios ainda podem ser efe­ tuados, a depender do resultado encontrado. Microscopia de um corte de brônquio obstruído com muco num caso de fibrose cística. ASSESSORIA MÉDICA Gastroenterologia Dra. Márcia Wehba Esteves Cavichio [email protected] Genética Dr. Caio Robledo Costa Quaio [email protected] Dr. Carlos Eugênio Fernandez de Andrade [email protected] Dr. Wagner Antonio da Rosa Baratela [email protected] relatório integrado Câncer colorretal A contribuição da colonoscopia virtual no diagnóstico da doença e o papel do Oncotype® DX na definição do prognóstico e na decisão terapêutica O CASO sincrônicas no cólon proximal à lesão estenosante. O estadiamento do abdome e do tórax, realizado simultaneamente com a colonoscopia virtual associada a um protocolo tomográfico com contraste intravenoso, também não evidenciou lesões secundárias abdominais ou torácicas. A cirurgia confirmou o diagnóstico de adenocarcinoma, com extensão até a serosa da alça (T3), sem comprometimento de linfonodos (N0) ou metástases (M0), caracterizando um estágio IIA. ARQUIVO FLEURY Paciente do sexo masculino, 50 anos, assintomático, foi submetido a uma colonoscopia para a prevenção de câncer colorretal (CCR). O exame identificou uma lesão vegetante e estenosante na transição retossigmoide, impedindo a progressão do colonoscópio. A biópsia revelou se tratar de adenocarcinoma. Para a avaliação dos segmentos cólicos inacessíveis ao estudo endoscópico, o paciente fez uma colonoscopia virtual (colonografia por tomografia computadorizada), que não demonstrou lesões a b Adenocarcinoma na transição retossigmoide. Colonoscopia óptica (a), colonoscopia virtual – imagem endoluminal (b), colonoscopia virtual – imagem da moldura cólica (c) e colonoscopia virtual – imagem axial (d) evidenciam lesão infiltrativa e estenosante na transição retossigmoide (setas). d c 24 A DISCUSSÃO Sobre o câncer colorretal Estadiamento clínico da doença Excetuando-se o tumor de pele não melanoma, o câncer colorretal, no Brasil, figura como a terceira neoplasia mais incidente entre os homens e a segunda entre as mulheres, com estimativa de cerca de 35.000 novos casos para 2016, segundo o Instituto Nacional de Câncer. O risco estimado de um indivíduo ter CCR é de aproximadamente 5% durante a vida. Os fatores de risco para o desenvolvimento dessa neoplasia estão relacionados aos hábitos alimentares, como dieta pobre em fibras e vegetais, à obesidade, ao sedentarismo e ao tabagismo. Cerca de 70% dos casos de CCR são esporádicos e ocorrem em pacientes com idade superior a 50 anos, sem história familiar, considerados de risco médio para esse câncer. Contudo, existem condições que aumentam o risco de desenvolver CCR, responsáveis por cerca de 30% dos casos, que incluem história familiar, afecções inflamatórias intestinais, como retocolite ulcerativa e doença de Crohn, e síndromes hereditárias, como a polipose adenomatosa familiar e o câncer hereditário não polipose. O CCR é tratável e, em grande parte dos casos, curável, quando detectado precocemente. Cerca de 85% dos casos se desenvolvem a partir de pólipos adenomatosos e 15% estão relacionados a pólipos hiperplásicos/serrilhados. A elevada prevalência de adenomas em indivíduos com idade superior a 50 anos e o fato de a maioria não determinar sintomas contribuem para a recomendação de rastreamento em pacientes assintomáticos. Estágio Tumor Linfonodos Metástases 0Tis N0 M0 I T1 N0 M0 T2 N0 M0 IIAT3 N0 M0 IIBT4a N0 M0 IICT4b N0 M0 IIIAT1-T2 N1/N1c M0 T1 N2a M0 IIIBT3-T4b N1/N1c M0 T2-T3 N2a M0 T1-T2 N2b M0 N2a M0 T4a IIIC T3-T4a N2b M0 T4b N1-N2 M0 IVA Qualquer T Qualquer N M1a IVB Qualquer T Qualquer N M1b Definições Tumor primário (T) Linfonodos regionais (N) Metástases a distância (M) TX: o tumor primário não pode ser avaliado NX: linfonodos regionais não podem ser avaliados M0: ausência de metástases a distância T0: não há evidência de tumor primário N1: metástases em um a três linfonodos regionais Tis: carcinoma in situ – intraepitelial ou invasão da lâmina própria T1: tumor que invade a submucosa N0: ausência de metástases em linfonodos regionais N1a: metástases em um linfonodo regional N1b: metástases em dois a três linfonodos regionais T3: tumor que invade além da muscular própria até os tecidos pericolorretais N1c: depósito tumoral na subserosa, no mesentério ou em tecidos perirretais ou pericólicos não peritonizados, sem metástases em linfonodos regionais T4a: tumor que invade a superfície do peritônio visceral N2: metástases em quatro ou mais linfonodos regionais T4b: tumor que invade diretamente outros órgãos ou estruturas ou está aderente a estes N2a: metástases em quatro a seis linfonodos regionais T2: tumor que invade a muscular própria N2b: metástases em sete ou mais linfonodos regionais M1: presença de metástases a distância M1a: presença de metástases confinadas a um órgão ou local (por exemplo, fígado, pulmão, ovário ou linfonodo não regional) M1b: presença de metástases em mais de um órgão/local ou no peritônio A colonografia por tomografia computadorizada (TC), também conhecida como colonoscopia virtual, consiste num método minimamente invasivo para avaliação colorretal, com eficácia semelhante à da colonoscopia óptica tradicional para a detecção de pólipos clinicamente significativos e CCR. Para o rastreamento dessas condições, o método é uma das opções preconizadas por importantes sociedades médicas, como a American Cancer Society, a United States Preventive Service Task Force e a European Society of Gastrointestinal and Abdominal Radiology. As principais vantagens do método incluem a rapidez – leva, em média, 15 minutos –, a ausência de necessidade de sedação e a incidência extremamente baixa de complicações, como perfurações e alterações cardiovasculares relacionadas à sedação. É ainda um exame de fácil realização para o paciente, inclusive para indivíduos idosos e com comorbidades, dispensando acompanhante e possibilitando a retomada das atividades habituais logo após o procedimento. Ademais, pode ser feito na vigência de terapia anticoagulante. Após preparo e insuflação do cólon com CO2, os dados adquiridos pela TC são utilizados para gerar imagens bidimensionais e tridimensionais do cólon e do reto. Estas últimas permitem a avaliação intraluminal para a detecção de pólipos e CCR, bem como o estudo da morfologia da moldura cólica e o diagnóstico de outras alterações clinicamente relevantes, como dolicocólon, megacólon e estenoses. Uma indicação crescente do método é a avaliação da doença diverticular, uma vez que a colonoscopia virtual mapeia o número e a distri­buição dos divertículos e fornece importantes informações no seguimento de pacientes com diverticulite aguda recidivante, especialmente daqueles que necessitam de intervenção cirúrgica. Indicações da colonoscopia virtual Rastreamento de pólipos e CCR Avaliação diagnóstica de pacientes com colonoscopia convencional incompleta, incluindo aqueles que apresentam CCR intransponível Avaliação de indivíduos com risco aumentado para complicações durante a colonoscopia convencional, como idade avançada, terapia anticoagulante e risco decorrente da sedação Estudo de alterações morfológicas do cólon e do reto, como megacólon, dolicocólon e estenoses Avaliação de paciente com doença diverticular, com mapeamento do número e da distribuição dos divertículos 26 ARQUIVO FLEURY Colonoscopia virtual: uma aliada no diagnóstico Outra indicação consolidada do exame envolve a abordagem de pacientes com colonoscopias ópticas incompletas por quaisquer motivos. Em indivíduos com lesões neoplásicas estenosantes, como no caso aqui avaliado, o exame torna-se importante para estudar os segmentos cólicos inacessíveis pela colonoscopia tradicional com o objetivo de excluir tumores sincrônicos, cuja incidência varia de 1,5% a 9% e cujo diagnóstico pré-operatório pode determinar mudança significativa no planejamento cirúrgico. Nessa situação, também pode ser realizado, ao mesmo tempo, o estadiamento da cavidade abdominal e do tórax com a associação de protocolo tomográfico com contraste intravenoso. Por ser um método eminentemente diagnóstico, a principal limitação da colonoscopia virtual está na impossibilidade de retirar pólipos e proceder a biópsias. Contudo, nos pacientes em que pólipos clinicamente significativos são encontrados – ao redor de 10-15% dos indivíduos assintomáticos de risco médio –, a complementação com a colonoscopia óptica para polipectomia pode ser efetuada no mesmo dia, aproveitando o preparo intestinal. Vale adicionar que a colonografia por TC também não basta para analisar alterações inflamatórias, como as encontradas em doenças inflamatórias intestinais, nas quais a avaliação com colonoscopia tradicional é mandatória. ARQUIVO FLEURY Perfil de expressão gênica para neoplasia colorretal: decisão individualizada O Oncotype® DX é um método molecular que analisa um painel de genes de quatro tipos de tumor, entre eles o câncer de cólon. O método utiliza material da peça cirúrgica para análise de 12 genes, sete dos quais relacionados à doença – Ki-67, C-MYC, MYBL2, FAP, BGN, INHBA e GADD45B – e cinco de referência – ATP5E, PGK1, GPX1, UBB, VDAC2 –, usados para normalizar a expressão dos genes relacionados com câncer. O exame está indicado em tumores de estágio II ou IIIA/B e oferece um escore que prediz o grau de recidiva da lesão após a cirurgia curativa e tratamento com quimioterapia adjuvante, indicando se o câncer é de alto ou baixo risco para a recorrência e se tem probabilidade de responder bem ou não à quimioterapia. A pontuação do teste varia de 0 a 100 e são considerados três grupos de risco de recidiva – baixo (<30), intermediário (30-40) e alto (≥41). Assim, o Oncotype® DX pode corroborar as decisões terapêuticas, já que os indivíduos com resultado que mostra alto risco de recidiva após a cirurgia são aqueles que podem ter maior benefício do tratamento quimioterápico, em comparação aos de baixo risco. No paciente em estudo, o resultado da pontuação de recorrência do Oncotype® foi 12, tendo indicado baixo risco de recidiva. CONCLUSÃO Novas abordagens diagnósticas têm mudado o manejo do paciente com CCR. A colonoscopia virtual vem sendo cada vez mais utilizada no estudo do cólon e do reto, quer seja para rastreamento de pólipos e CCR, quer seja para avaliação de pacientes com colonoscopias convencionais incompletas por quaisquer motivos, incluindo lesões obstrutivas, a exemplo do que ocorreu no caso abordado na presente oportunidade. Nesse cenário, o exame é importante para afastar lesões sincrônicas nos segmentos inacessíveis ao método tradicional e ainda permite, ao mesmo tempo, a realização do estadiamento da cavidade abdominal e do tórax com a associação de protocolo tomográfico dirigido. A utilização de marcadores moleculares, como o Oncotype® DX, também está ganhando espaço para a decisão terapêutica individualizada. Essa estratégia possibilita a seleção mais criteriosa dos pacientes com maior chance de se beneficiar de determinados tipos de tratamento. Em indivíduos com tumor em estágio II, como o deste caso, aproximadamente 80% são curados apenas com a cirurgia isolada e cerca de 20% podem necessitar de terapêutica mais agressiva, devido ao maior risco de recidiva da neoplasia, igualmente identificado pelo teste. Aspecto histopatológico do adenocarcinoma de cólon. ASSESSORIA MÉDICA GASTROENTEROLOGIA Dra. Beatriz Mônica Sugai [email protected] RADIOLOGIA E DIAGNÓSTICO POR IMAGEM Dra. Angela Hissae Motoyama Caiado [email protected] Dr. Dario A. Tiferes [email protected] ANATOMIA PATOLÓGICA Dr. Aloísio Souza F. da Silva [email protected] Dra. Diva C. Collarile Yamaguti [email protected] Dra. Monica Stiepcich [email protected] pesquisa fleury Cigarro também pode comprometer a fertilidade do homem, sugere estudo plasma seminal desse grupo mostrou-se alterado no perfil pro­ teômico – das 422 proteínas identificadas e quantificadas, uma estava ausente, 27, sub-representadas, e seis, superexpressas. Essas diferenças na expressão proteica indicam elevação da atividade inflamatória seminal, devida principalmente a aumento no processamento e na apresentação dos antígenos, regulação positiva da secreção de prostaglandinas envolvidas na resposta imunológica, ativação do complemento e alteração na via de sinalização da proteína quinase A e na secreção do ácido araquidônico. “Os resultados apontam uma diminuição da qualidade funcional dos espermatozoides em homens fumantes, além de uma associação entre o uso do tabaco e um estado inflamatório que pode ter origem nas glândulas sexuais acessórias e/ou nos testículos”, explica uma das autoras do estudo, a assessora científica do Fleury, Karina Cardozo. “Uma vez que descortina o impacto do cigarro na fertilidade masculina, o trabalho traz um alerta para mais um agravo na saúde associado ao tabagismo, o que reforça a manutenção de políticas públicas para o combate ao hábito”, completa. Autores: Antoniassi, MP; Intasqui Lopes, P; Camargo, M; Zylbersztejn, DS; Carvalho, VM; Cardozo, KHM; Bertolla, RP. Espermatozoides observados por microscopia eletrônica. 28 SPL/LATINSTOCK A recomendação de interromper o tabagismo para uma mulher que pretende engravidar já está bem estabelecida, porém poucos dados existem em relação à influência desse hábito na fertilidade dos homens. Diante de tal cenário, uma equipe do Setor de Reprodução Humana da Unifesp, em parceria com o Grupo de Pesquisa e Desenvolvimento do Fleury, desenvolveu um trabalho para verificar o efeito do cigarro na qualidade funcional dos espermatozoides, assim como no perfil proteômico do plasma seminal. Durante o estudo, os pesquisadores avaliaram amostras de sêmen de 20 homens que fumavam. Como controle, foram obtidas outras 20 amostras de não tabagistas que preenchiam os critérios de qualidade da Organização Mundial da Saúde. Notavelmente, os fumantes apresentaram uma maior porcentagem de fragmentação do DNA espermático (p<0,01), uma diminuição na atividade mitocondrial dos espermatozoides (p<0,01) e um pre­ juízo na integridade dos acrossomas (p<0,01), quando comparados aos não fumantes. Ademais, o Quando comparados, teste de urease e pesquisa do antígeno de H. pylori apresentam a mesma eficácia Diferentes métodos têm sido descritos e aperfeiçoados ao longo dos anos para o diagnóstico da infecção por Helicobacter pylori, uma bactéria que coloniza o estômago de mais da metade da população mundial e está associada não só à úlcera péptica e à gastrite crônica, mas também ao câncer gástrico e ao linfoma Malt, do inglês, mucosa-associated lymphoid tissue. Tais recursos se dividem em invasivos e não invasivos e incluem, no primeiro grupo, a avaliação anatomopatológica, o teste da urease e a cultura com antibiograma do fragmento de biópsia obtido por endoscopia digestiva alta (EDA) e, no segundo, a sorologia, o teste respiratório com ureia marcada e a pesquisa do antígeno da bactéria nas fezes. Para possibilitar a instituição da terapêutica mais adequada, os guidelines recomendam que a biópsia gástrica, seguida da análise anatomopatológica com coloração de Giemsa e da cultura com antibiograma do fragmento, entre apenas no diagnóstico inicial. O controle de cura pós-tratamento deve ser feito com os testes não invasivos, evitando-se, assim, a repetição da endoscopia. Nesse contexto, as equipes de Parasitologia e de Gastroenterologia do Fleury desenvolveram um trabalho com a finalidade de comparar a pesquisa do antígeno de H. pylori nas fezes por imunocromatografia com o teste de urease em fragmento de tecido obtido por EDA. Para tanto, foram analisados os resultados dos exames de dez pacientes submetidos aos dois métodos e, de forma relevante, houve concordância de 100% tanto dos resultados positivos quanto dos negativos entre as duas diferentes técnicas. “Como o teste respiratório depende de equipamento de alto custo e tem restrições em menores de 6 anos ou em pacientes não colaborativos e a sorologia não é indicada depois do tratamento, uma vez que pode permanecer positiva por até um ano após a erradicação da bactéria na mucosa gástrica, a imunocromatografia para a pesquisa do antígeno de H. pylori nas fezes ganha destaque, entre as técnicas não invasivas, no controle de cura”, assinala a assessora médica do Fleury em Gastroenterologia, Márcia Wehba E. Cavichio. Para completar, prossegue ela, o teste monoclonal é rápido e simples, apresentando sensibilidade e especificidade elevadas. Autores: Cavichio, MWE; Facchin, ME; Sampaio, JLM. H. pylori sob microscopia eletrônica de transmissão. SPL/LATINSTOCK atualização Captura de híbridos ou PCR? Saiba quando utilizar esses testes moleculares para o diagnóstico da infecção pelo HPV minado, para diferenciar a infecção de processos reativos não induzidos pelo HPV. É possível pesquisar o DNA do HPV em amostras de esfregaços ou de biópsia. No momento da coleta de secreção, convém obter o material essencialmente do colo do útero (endocérvice). Se for desejada a análise do trato genital inferior, não há necessidade de coletas separadas, sendo recomendado colher apenas um frasco – primeiramente da vulva, depois, da vagina, e, por último, da endocérvice. Microscopia eletrônica de transmissão revela exemplares do HPV. BSIP/ALAMY/LATINSTOCK Os exames de biologia molecular identificam sobretudo os casos de infecção latente por HPV, presente em cerca de 30% das mulheres sexualmente ativas. A captura de híbridos e a reação em cadeia da polimerase (PCR) detectam o DNA do vírus e configuram as técnicas mais usadas para o diagnóstico inicial da doença, apresentando sensibilidade de 90% a 100% e especificidade de 20% a 30%. O teste do RNA mensageiro para as oncoproteínas E6/E7 – que, como o próprio nome indica, baseia-se em RNA – tem indicação apenas nas pacientes que já apresentam exame de DNA de HPV positivo para tipos de alto risco oncogênico, não devendo ser usado para iniciar a investigação. Atualmente, considera-se de valor clínico apenas a identificação dos tipos de HPV de alto risco oncogênico. A captura de híbridos é de fácil execução e flagra 13 desses subtipos, mas não informa individualmente qual deles está presente. Na verdade, a técnica determina a carga viral, que reflete a quantidade de células presentes na amostra, um fator dependente das condições de coleta e não relacionado de modo preciso com a intensidade da infecção. Já a PCR em tempo real tem alta sensibilidade, possui controles internos individuais para cada amostra, a fim de eliminar falso-negativos, e possibilita pesquisar outros agentes infecciosos, além do HPV, como Chlamydia trachomatis e Neisseria gonorrhoeae, com apenas uma coleta. O teste comercial utilizado no Fleury (Cobas® 4800 Human Papillomavirus, Roche) reconhece 14 subtipos, sendo capaz de distinguir os tipos 16 e 18, responsáveis por cerca de 70% dos casos de câncer de colo do útero, e outros 12 de alto risco em grupo. Os testes de biologia molecular estão recomendados para mulheres com idade igual ou superior a 30 anos. Além do rastreamento para estratificar o risco de lesões pré-neoplásicas ou neoplásicas, em conjunto ou não com a citopatologia, podem ser empregados para seguimento pós-tratamento de lesões de alto grau e nos casos de citologia com células escamosas atípicas de significado indeter- 30 Ensaios moleculares baseados em DNA usados no Fleury Exame Captura de híbridos II Genotipagem RT-PCR Controle interno Não Sim Sim Automação Possível Não Sim Hands on 1 hora e meia 1 hora 20 minutos Genotipagem específica Não Sim – para alto e baixo risco 16 e 18 + pool de alto risco Cobertura para tipos oncogênicos 13 tipos (16, 18, 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52, 56, 58, 59, 68) 18 tipos (16, 18, 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52, 53, 56, 58, 59, 66, 68, 70, 73, 82) 14 tipos (16, 18, 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52, 56, 58, 59, 66 e 68) Valor preditivo positivo 10-15% 10-15% 10-15% Valor preditivo negativo >95% >95%* >95% Rastreabilidade Parcial Parcial Total Coleta unificada Não Sim – alíquota Sim – direto * Falso-negativo em carcinoma invasor = 12% (Oliveira et al 2011) Teste de DNA do HPV positivo na presença de citologia normal Em mulheres com idade igual ou superior a 30 anos que apresentam citologia normal e HPV de alto risco oncogênico, a Sociedade Americana de Colposcopia e Patologia Cervical preconiza a repetição de ambos os exames em um ano ou a genotipagem do vírus. Na primeira opção, a colposcopia estará indicada na presença de alteração citológica (aumento de células escamosas atípicas) associada a teste de DNA do HPV positivo. Se a genotipagem for feita e identificar a presença de HPV 16 ou 18, a paciente deverá realizar colposcopia. A conduta após o estudo colposcópico vai depender dos achados. ASSESSORIA MÉDICA Dr. Gustavo Arantes Rosa Maciel [email protected] Dr. Ismael Dale C. Guerreiro da Silva [email protected] roteiro diagnóstico Como esclarecer a dor recorrente em membros na criança? Exame físico e anamnese pormenorizada orientam os passos da investigação Paciente com queixa de dor em membros Exame físico completo: Anamnese detalhada para a caracterização da dor • Articular • Grupos musculares • Neurológico • Marcha, movimentação e postura Sintomas ou sinais de alerta Não Sim • Acalmar os pais Solicitação de exames complementares iniciais: • Explicar o quadro de dor • Hemograma completo • VHS e PCR • DHL e ácido úrico • TSH e T4-L • Dosagem de CK • Métodos de imagem: radiografia simples • Fornecer orientações gerais para os períodos de crise Sintomas ou sinais de alerta • Alteração do estado geral • Febre • Perda de peso e falta de ânimo • Despertar noturno pela dor • Rigidez matinal • Claudicação ao caminhar ou correr • Alterações locais, como edema, rubor e calor • Dor localizada e fixa • Dor à movimentação passiva • Piora da dor com massagem local • Diminuição ou alteração de força muscular • Mudança no padrão de dor ASSESSORIA MÉDICA Dr. Luis Eduardo Coelho de Andrade [email protected] Com a colaboração de: Dra. Daniela Gerent Petry Piotto [email protected] Dra. Melissa Mariti Fraga [email protected] 32 dê o diagnóstico As imagens de PET/CT com 68Ga-DOTA do caso descrito evidenciam a área de manipulação cirúrgica para a retirada do tumor primário no íleo terminal e acentuada captação no mesentério do flanco direito, onde há uma massa de 5,5 x 2,8 cm (SUV = 32,8) em íntimo contato com a cabeça do pâncreas, com a terceira porção do duodeno e com os vasos mesentéricos superiores – uma provável metástase linfonodal locorregional. Além disso, o exame identificou múltiplos nódulos hepáticos de até 4,7 x 3,1 cm, um nódulo de 2,1 cm (SUV = 11,5) na adrenal esquerda e formações nodulares de até 1,0 cm na região pélvica direita (SUV = 7,1), próximas ao trajeto do ureter distal, podendo corresponder a linfonodos ou a implantes peritoneais. As lesões que apresentam captação de 68Ga-DOTA são compatíveis com metástases que expressam receptores de somatostatina. Contudo, algumas massas hepáticas não captaram o radiotraçador, razão pela qual tanto podem ser nódulos tratados quanto nódulos que não expressam receptores de somatostatina, o que caracterizaria um segundo fenótipo metastático mais indiferenciado e mais agressivo. A identificação dos implantes pélvicos peritoneais, no caso exposto, ilustra a maior capacidade de detecção da imagem funcional do estudo por PET/CT com 68 Ga-DOTA, em comparação com os exames anatômicos, que se baseiam principalmente em tamanho para fazer o diagnóstico. Além de identificar a lesão, o novo método caracteriza seu fenótipo em relação aos receptores da somatostatina, o que é importante porque os tumores neuroendócrinos que os expressam são mais bem diferenciados, apresentam melhor prognóstico e respondem melhor à terapia-alvo. Tais aspectos tornam o exame de PET/CT com 68 Ga-DOTA o teste de escolha para a detecção do tumor primário, bem como para o estadiamento e a pesquisa de metástases, além de reforçarem sua grande utilidade na avaliação da resposta ao tratamento, na estratificação prognóstica e na definição do tratamento a ser instituído. Por tudo isso, acredita-se que, com o tempo, deva substituir a cintilografia com octreotídeo (Octreoscan®) por apresentar melhor acurácia diagnóstica a um custo praticamente semelhante. ARQUIVO FLEURY Resposta do caso de seguimento pós-operatório de tumor neuroendócrino ASSESSORIA MÉDICA Dr. Gustavo Meirelles [email protected] Dra. Júlia Capobianco [email protected] Dr. Marco A. C. Oliveira [email protected] Dra. Paola Emanuela P. Smanio [email protected] Um doce disfarce A falta dessas células, que, aqui, mais parecem doces confeitados, mina o funcionamento do sistema imunológico e a produção de anticorpos. Mas, assim como doce demais não faz bem, o excesso delas também pode sinalizar defeito de fábrica ou operacional. Sim, estamos falando dos linfócitos, mostrados nesta página por microscopia eletrônica. STEVE GSCHMEISSNER/SPL/LATINSTOCK outros olhos www.fleury.com.br/medicos