a articulação entre o ensino de ciências e a práxis docente

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ALUNOS COM DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NOS ANOS
INICIAIS: A ARTICULAÇÃO ENTRE O ENSINO DE CIÊNCIAS E A
PRÁXIS DOCENTE
LOPES, Francieli Arlt1 - FAFIUV-UNESPAR
SILVA, Dileize Valeriano2 - FAFIUV-UNESPAR
Grupo de Trabalho – Formação Docente e Profissionalização Docente
Agência Financiadora: Programa USF/SETI-PR
Resumo
Enquanto orientadoras do Projeto “Aprendendo com a Dificuldade” e visando uma
articulação entre o ensino de ciências e a prática pedagógica ao trabalhar com alunos que
apresentam dificuldades de aprendizagem (DA) nos anos inicias, objetiva-se compartilhar
uma proposta pedagógica de cunho interdisciplinar, desenvolvida pelo Programa de Extensão
“Universidade Sem Fronteiras” USF/SETI. Eis aqui um dos desafios encontrados na
viabilização do projeto: unir dois cursos (Pedagogia e Química) com características tão
distintas. Porém, ambas as áreas do conhecimento partem do pressuposto de que um projeto
interdisciplinar pode se configurar como uma alternativa para a práxis docente, uma vez que
permite ir além das atividades comumente desenvolvidas no âmbito escolar e abordar
quaisquer conteúdos de forma interessante, motivadora e significativa, possibilitando a
participação ativa do aluno na construção do conhecimento. Nesse sentido o foco central de
atuação do projeto, são alunos do 1º ao 5º ano das escolas parceiras da Rede Municipal de
União da Vitória- PR, propondo atividades lúdicas interdisciplinares e privilegiando a
realização de experimentos a fim de minimizar o fracasso escolar, bem como a superação das
DA. Nesta perspectiva objetiva-se também oferecer aos graduandos e graduados, experiências
e vivências buscando aprimorar a práxis docente. No que se refere às escolas selecionadas
para compor a parceria, foram aquelas preferencialmente localizadas em áreas de periferia e
com baixo desempenho nas avaliações internas e externas, destacando-se o IDEB. Embora as
atividades encontram-se em andamento, pode-se relatar que as mesmas têm contribuído de
forma bastante significativa na superação das DA, pois as ações acadêmicas e docentes para
viabilização do mesmo estão voltadas para o que preconiza um ambiente educativo pautado
1
Especialista em Educação: (UNESPAR/Campus União da Vitória-PR). Professora Colaboradora do Colegiado
de Pedagogia (UNESPAR/Campus União da Vitória-PR). Pesquisadora Orientadora do Programa Universidade
Sem Fronteiras (Sub-Programa “Apoio às Licenciaturas”). E-mail: [email protected]
2
Doutora em Química: Instituto de Química/UNESP-SP. Professora Adjunta do Departamento de Química
(UNESPAR/Campus União da Vitória-PR). Pesquisadora Orientadora do Programa Universidade Sem
Fronteiras (Sub-Programa “Apoio às Licenciaturas”). E-mail: [email protected]
14077
em um trabalho pedagógico lúdico/interdisciplinar e ao mesmo tempo formar profissionais
éticos e competentes, críticos e conscientes do seu papel profissional.
Palavras-chave: Dificuldades de Aprendizagem. Formação Docente. Interdisciplinaridade.
Introdução
Sabe-se que os cursos de Licenciatura passam por um momento de muitos
questionamentos, entre eles o da eficiência em produzir profissionais competentes para o
exercício pleno da profissão. Neste sentido, entre muitas propostas de melhoria da qualidade
na formação docente se encontra a sugestão da inserção plena do acadêmico na escola durante
seus estágios o que, muitas vezes, torna-se inviável, pois muitos estudantes são também
trabalhadores. Então se questiona: como formar bons professores e ao mesmo tempo lhes
proporcionar uma remuneração para aprender e tomar gosto pelo ofício em tempo integral no
ano letivo da escola?
Teremos aí, então, elementos para repensar a formação do professor dentro desse
contexto na crise da sociedade contemporânea. Souza aborda a problemática da formação
docente no Brasil e pondera que
É importante entender, o que já é consenso, que o magistério e a profissão de
professor caracterizam-se como uma profissão com níveis de complexidade,
exigindo revisão e construção constante de saberes, centrando seu saber ser e fazer
numa prática reflexiva e investigativa do trabalho educativo e escolar, no cotidiano
pessoal e profissional. Desta forma, compreendo que o desenvolvimento profissional
entrecruza-se com a dimensão pessoal e político-social do professor, enquanto
profissional numa realidade contextualizada (SOUZA, 2003, p. 441).
A iniciativa da proposta deste Projeto é uma resposta possível, pois conforme a
experiência da coordenadora na atuação na Educação Básica e nos cursos de Licenciaturas da
FAFIUV constatou duas necessidades na Educação Básica. A primeira diz respeito ao número
significativo de crianças matriculadas que apresentam sérias dificuldades de aprendizagem e
que não são acompanhadas eficientemente e especificamente. A outra se refere à formação
inicial de professores, na qual se observa a necessidade de oportunidades de estágio que
contemplem a inserção integral destes no cotidiano das escolas da rede pública visando à
experiência docente na sua plenitude.
Diante deste cenário acredita-se que o projeto aqui exposto pode contribuir de forma
significativa para a superação das dificuldades de aprendizagem apresentadas por crianças que
compõem uma parcela significativa das nossas escolas, e que não conseguem desenvolver as
14078
habilidades necessárias para o domínio da leitura, escrita e cálculos no tempo escolar regular.
Assim, nossas ações acadêmicas e docentes estiveram voltadas para o que preconiza um
ambiente educativo pautado em um trabalho pedagógico lúdico voltado para o cultivo do
respeito, da alegria, do amor, da disciplina e do combate à discriminação, à repetência e
fracasso escolar; ao mesmo tempo em que com as bolsistas busca-se formar profissionais
éticos e competentes, críticos e conscientes do seu papel profissional.
Tendo como ponto de partida a experiência de atuação docente como orientadora no
Projeto Aprendendo com a Dificuldade, nesta oportunidade oferecida pelos cursos de
Pedagogia e Química da FAFIUV, desenvolvida pelo Programa de Extensão “Universidade
Sem Fronteiras” USF/SETI. O artigo em questão pretende compartilhar com a comunidade
científica as ações do referido projeto, no que se refere à articulação entre o ensino de ciências
e a prática pedagógica ao trabalhar com alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem
(DA) nos anos inicias do Ensino Fundamental.
Com o intuito de adentrar ao tema, percebe-se a necessidade de reflexão quanto aos
objetivos desta proposta, os quais se encontram pautados no sentido de oferecer aos alunos
dos anos iniciais do Ensino Fundamental das escolas parceiras, atividades diversificadas e
interdisciplinares que minimizem o fracasso escolar, atuando também na busca de uma
melhora na autoestima dos mesmos, por meio da oportunidade de oferta aos graduandos da
FAFIUV, experiências de atuação docente ainda na formação inicial, para que possam
valorizar o magistério e construir sua práxis educativa no contexto desafiador do aluno com
dificuldades de aprendizagem.
Quanto à metodologia utilizada é a Pedagogia Lúdica Interdisciplinar com enfoque no
ensino das Ciências e Química. Os alunos do projeto são encaminhados pelas professoras
regentes de acordo com a sua epistemologia docente e que apresentam dificuldades de
aprendizagem de acordo com um perfil previamente estipulado. São acompanhados pelas
bolsistas em atividades docentes no mínimo duas vezes por semana, de acordo com planos de
aulas elaborados previamente.
O presente relato se efetiva para descrever as atividades desenvolvidas em pouco
menos de um ano de aplicação do projeto, dentro do Programa de Extensão Universidade Sem
Fronteiras – USF, por iniciativa da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino
Superior – SETI, que em parceria com a Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras –
FAFIUV concede aos acadêmicos de licenciatura inserção e participação no âmbito escolar,
14079
atendendo assim o objetivo de elevar à qualidade das ações acadêmicas voltadas a formação
inicial de professores.
O desafio do aluno com dificuldades de aprendizagem
Um dos maiores desafios para pais, professores e profissionais que trabalham com
crianças que apresentam dificuldades de aprendizagem, é ajudá-las a adquirir confiança em si
mesmas e a acreditar nas suas capacidades. Diante disso, percebe-se a grande
responsabilidade em trabalhar com essas crianças, pois as mesmas necessitam de um
ambiente seguro, estimulante e acolhedor, onde os erros sejam permitidos e assumir riscos
seja incentivado. Deparamo-nos com um dos objetivos do nosso projeto, pois buscamos
resgatar a autoestima dos nossos alunos, que na maioria das vezes encontra-se adormecida.
Para tal, realizamos dinâmicas de interação e socialização já no inicio das nossas
atividades; palavras de incentivo e elogios fazem parte do nosso dia-a-dia, pois acreditamos
que todo esforço da criança deve ser valorizado, considerando este um dos fatores que podem
interferir na aprendizagem.
Diante deste cenário, o Projeto Aprendendo com a Dificuldade, busca conhecer não
apenas o ponto fraco de seus alunos, mas também o ponto forte dos mesmos, fazendo-os
compreender que suas dificuldades não existem por falta de capacidade, buscando elevar a
autoestima dos mesmos, bem como os auxiliando na descoberta de estratégias que sejam úteis
para seu aprendizado.
É imprescindível que o educador seja alguém capaz de não apenas transmitir o
conhecimento mas também de construir este conhecimento, transmitindo valores e
emoções, para que a criança não permaneça enrijecida com os sentimentos
provocados pelas dificuldades por que passa e seja capaz de descobrir que existem
outras formas de lidar com seus sentimentos [...]. (SAMPAIO, 2010, p. 61).
É fácil perceber que o número de crianças que apresentam DA vem aumentando e
observa-se em alguns casos que as mesmas, de modo inconsciente, mascaram suas
dificuldades, na maioria das vezes mantendo-se caladas, adoecem, demonstram desinteresse,
ou apresentam um mau comportamento em sala de aula. Ressalta-se a relevância do projeto
aqui exposto, considerando que o mesmo propõe um trabalho diferenciado, utilizando a
interdisciplinaridade como um dos focos centrais de atuação, através do qual conseguimos
despertar a curiosidade, o envolvimento e o interesse dos alunos atendidos.
14080
É na escola que frequentemente a aprendizagem passa a ser sistematizada, e é neste
período que as crianças podem apresentar baixo desempenho escolar podendo levá-las ao
fracasso. Apesar do contexto das causas e tratamento das DA serem muito complexas e alvo
de preocupações de pesquisas, questionamos: o que seria DA no contexto de estudo do
projeto?
Deste modo concordamos com Gómez e Terán (2009, p. 95) quando revelam que “[...]
uma criança com dificuldade de aprendizagem é aquela que não consegue aprender com os
métodos com os quais aprendem a maioria das crianças, apesar de ter as bases intelectuais
apropriadas para a aprendizagem. Seu rendimento escolar está abaixo de suas capacidades”.
Entendemos que estas são crianças que apresentam dificuldades por não se adequarem
a maneira como estão sendo ensinadas; elas têm um tempo diferenciado, ou uma percepção
diferenciada, porém elas têm capacidade para aprender, apesar de apresentarem baixo
desempenho.
Com base nessas ideias, ressaltamos que as escolas selecionadas para compor a
parceria com o Projeto foram àquelas localizadas em áreas de periferia, por serem escolas
pequenas e não serem atendidas por convênios com outras instituições, as quais denominamos
de “escolas parceiras”. Outro critério para seleção foi o baixo desempenho nas avaliações
internas e externas, bem como a disposição das escolas na aceitação das bolsistas e o interesse
das mesmas na melhoria do ensino.
Nesse sentido, os alunos são aqueles encaminhados pelas professoras regentes de
acordo com a sua epistemologia docente e que apresentam DA de acordo com um perfil
previamente determinado. Os mesmos são acompanhados pelas bolsistas em atividades
docentes no mínimo duas vezes por semana, de acordo com planos de aulas elaborados
previamente.
O foco central de atuação do referido projeto, são alunos do 1º ao 5º ano das escolas
parceiras da Rede Municipal de União da Vitória- PR, propondo atividades lúdicas
interdisciplinares e privilegiando a realização de experimentos químicos a fim de minimizar o
fracasso escolar, bem como a superação das DA. Para tal, a equipe do projeto é composta da
seguinte maneira: uma professora coordenadora (da área de pedagogia), duas professoras
orientadoras (uma da área de pedagogia e outra da área de química), três acadêmicas
graduandas (da área de pedagogia) e duas acadêmicas recém-formadas (uma formada em
pedagogia e outra em química).
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Cabe mencionar as escolas parceiras: Escola M. Clementina Lona Costa, onde
atendemos 24 alunos no ano de 2012 e 10 no ano de 2013; Escola M. Guia Lopéz, 08 alunos
em 2012 e 10 alunos em 2013 e Escola M. Duque de Caxias, 25 alunos em 2012 e 15 alunos
em 2013.
A metodologia para execução do projeto na escola parceira parte da observação da
realidade de cada dificuldade do aluno em sala de aula, uma vez que cada educando é um caso
específico que requer a escolha de estratégias, atividades e materiais pedagógicos que
busquem dar sentido aos problemas revelados.
Deste modo concordamos com Sampaio (2010, p. 60) quando analisa que:
Além da compreensão, do respeito ao ritmo da criança e da paciência, a metodologia
aplicada em sala de aula deve ser criativa, porque crianças com problemas de
aprendizagem são realmente propensas a se desconcentrarem mais, [ ... ] porém uma
aula dinâmica já é um grande passo para conseguir segurar a atenção destas crianças.
Como já citado anteriormente, o projeto Aprendendo com a Dificuldade, tem por
objetivo trabalhar de uma maneira lúdica e interdisciplinar, pois acredita-se que a
interdisciplinaridade oferece uma nova postura diante do conhecimento, uma mudança de
atitude no contexto do conhecimento, em busca do ser como pessoa integral, rompendo com
os limites das disciplinas.
Acredita-se também que o trabalho interdisciplinar é uma inovação para o acadêmico
em formação docente, pois propicia ao mesmo uma oportunidade de aprendizado com o
projeto. Ressaltando que a parceria com os dois cursos, Pedagogia e Química propiciaram
muitas ideias de inovação para o ensino tradicional dos anos iniciais do Ensino Fundamental.
Assim, as atividades das acadêmicas bolsistas no projeto efetivaram-se por meio do
acompanhamento das aulas do professor regente e, em contraturno, administravam as
atividades previamente elaboradas, tuteladas pelos professores orientadores e recém-formados
do projeto. Ressalta-se que as aulas são planejadas de acordo com os centros de interesse e
das características da população alvo do projeto, a partir da Pedagogia Lúdica e
Interdisciplinar, onde também são oferecidos materiais pedagógicos adquiridos e/ou
confeccionados pela equipe do projeto.
Faz parte do processo de desenvolvimento do projeto, a construção de portfólios de
trabalho dos alunos e das bolsistas para que organizem o agir-refletir-agir da práxis docente
eficiente, competente, consciente e ética. Pois partimos do seguinte pressuposto: de que vale
uma ideia sem ação, e sem poder voltar à ação atuando na superação das dificuldades?
14082
Acreditamos que a docência se edifica no movimento constante de agir e refletir, ampliando
as possibilidades de atuação docente, bem como, no processo de aprendizagem dos
educandos. Diante disso concordamos com Lima (2007) no sentido de que a reflexão deve
existir de forma coerente e concreta a partir de uma dimensão formativa, devendo o educador,
alunos e pares aprofundarem “o aprender a aprender” para benefício do próprio homem e ir
além, visto que a prática do educador traduz o modo de agir do mesmo.
Até aqui foram expostas as funções das acadêmicas em graduação, às recém-formadas
cabe o trabalho da gestão pedagógica, científica, financeira e administrativa do projeto, bem
como a supervisão compartilhada com a coordenação e professoras orientadoras das
atividades do projeto.
Para efetivação e acompanhamento das atividades realizadas, uma vez por semana a
equipe se reúne na IES onde são colocados em pauta orientações e discussões sobre as
atividades pedagógicas, de pesquisa, de iniciação científica, de planejamento das aulas e a
metodologia didática, execução, avaliação, trocas de experiência e confecção dos relatórios e
portfólios do projeto.
Esses encontros são momentos que enriquecem nossos estudos, pois as práticas
vivenciadas são socializadas, as dificuldades analisadas e as ideias compartilhadas.
Evidenciando que conhecer o aluno, é fundamental para que o professor possa, de um lado,
identificar as suas potencialidades e fragilidades e, de outro, estabelecer um vínculo positivo
com o sujeito aprendente.
Ante o exposto, apresentaremos algumas considerações de como se efetivaram a
articulação entre o ensino de Ciências e a práxis docente aos alunos com DA nos anos
iniciais.
A interdisciplinaridade no Projeto Aprendendo com a Dificuldade
Constata-se que a interdisciplinaridade, vem a ser a investigação constante para a
efetivação de uma prática pedagógica tão necessária, que tem como objetivo primordial a
superação da fragmentação dos conhecimentos, o que de fato atualmente é um dos principais
problemas encontrados no sistema educacional brasileiro e nos remete ao foco deste
obstáculo, a própria formação de professores.
O desafio do professor vem a ser a utilização de novos métodos, e com criatividade
quebrar as barreiras entre as disciplinas, demonstrando ao aluno que não há necessidade de
14083
impor fronteiras, mas sim que a partir da integração delas, existirão infinitas possibilidades de
aprender e, em virtude disso, a interdisciplinaridade contribui grandemente para a superação
de dificuldades, pois propicia ao docente, inúmeras formas de ensinar e ao aluno inúmeras
formas de aprender.
Quando falamos de interdisciplinaridade no ensino, não podemos deixar de considerar
a contribuição dos PCN’s
A interdisciplinaridade supõe um eixo integrador, que pode ser o objeto de
conhecimento, um projeto de investigação, um plano de intervenção. Nesse sentido,
ela deve partir da necessidade sentida pelas escolas, professores e alunos de explicar,
compreender, intervir, mudar, prever, algo que desafia uma disciplina isolada e atrai
a atenção de mais de um olhar, talvez vários (BRASIL, 2002, p. 88-89).
Com base no mencionado acima, é que o projeto Aprendendo com a Dificuldade,
deparou-se com o desafio de articular o ensino das ciências no auxilio aos alunos que
apresentam DA, buscando intervir de maneira significativa no desempenho dos educandos.
O ensino de ciências deve buscar a formação de cidadãos aptos a responder aos
questionamentos que o mundo atual coloca. As questões sócio-científicas discutidas em sala
de aula se revelam extremamente úteis, quer na aprendizagem dos conteúdos, dos processos
da natureza da ciência e da tecnologia, quer no desenvolvimento cognitivo, social, político,
moral e ético dos alunos.
Crianças com DA geralmente apresentam desmotivação e incômodo com as tarefas
escolares gerados por um sentimento de incapacidade, que leva à frustração e muitas vezes ao
fracasso escolar. Com isso surge uma das propostas do Projeto Aprendendo com a
Dificuldade, que é levar às crianças dos anos iniciais do Ensino Fundamental das Escolas
parceiras atividades lúdicas interdisciplinares. Nas palavras de Ronca (1989, p. 27) “[...] o
movimento lúdico torna-se fonte prazerosa de conhecimento, pois nele a criança constrói
classificações, elabora sequencias lógicas, desenvolve o psicomotor e a afetividade e amplia
conceitos das várias áreas da ciência”.
Para o desenvolvimento das atividades do projeto adotamos a Pedagogia Lúdica
Interdisciplinar com enfoque no ensino das Ciências, utilizamos em nossas intervenções
experimentos químicos, adequados para esta faixa etária.
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O ensino de Ciências no Projeto Aprendendo com a Dificuldade
O ensino de Ciências é tema recorrente nas discussões referentes à sua importância
nos currículos dos diferentes níveis da educação básica e perguntas, tais como “o que
ensinar”, “como ensinar” e “por que ensinar” estão sempre no centro destas discussões. As
respostas não são simples e muito menos são as ações práticas necessárias à sua
implementação.
Ao longo de sua história o ensino de Ciências tem sido orientado por diferentes
tendências, passando pelo ensino tradicional, que priorizava a transmissão de conhecimento e
o aluno sendo um agente passivo no processo de ensino e aprendizagem. As atividades
experimentais também ganharam importância e o método científico esteve presente em
muitos currículos de Ciências. As tendências progressistas e construtivistas contribuíram para
uma mudança nos critérios de escolha dos conteúdos e têm influenciado o ensino de Ciências
até os dias atuais. A Ciência e suas relações com a Tecnologia e as implicações desta na
Sociedade e Meio Ambiente configurou uma nova tendência conhecida como ensino de
“Ciência, Tecnologia e Sociedade” (CTS), sendo importante atualmente.
Hoje vivemos em uma sociedade na qual os avanços tecnológicos ocorrem
rapidamente e a Ciência é a mola propulsora de todo este desenvolvimento que presenciamos.
No entanto, não se pretende mais uma postura cientificista dos estudantes, como em décadas
passadas; e o ensino tradicional, que ainda persiste em grande parte das instituições no Brasil
tem se mostrado inadequado e ineficiente para essas novas gerações. Assim, busca-se um
ensino mais ativo e humanista, no qual o indivíduo, apropriando-se do conhecimento possa
participar ativamente da sociedade, questionando, opinando, propondo e fazendo escolhas
conscientes. As orientações dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) para o ensino de
Ciências Naturais nos anos iniciais do ensino fundamental, em parte, vão de encontro ao que
preconiza a tendência de um ensino de CTS, uma vez que estão centradas na formação da
cidadania:
Numa sociedade em que se convive com a supervalorização do conhecimento
científico e com a crescente intervenção da tecnologia no dia-a-dia, não é possível
pensar na formação de um cidadão crítico à margem do saber científico.
Mostrar a Ciência como um conhecimento que colabora com a compreensão do
mundo e suas transformações, para reconhecer o homem como parte do universo e
como individuo, é a meta que se propõe para o ensino da área na escola fundamental
(BRASIL, 1997 p. 21).
14085
Neste contexto, a importância do ensino de Ciências é inquestionável desde os anos
iniciais da educação formal, pois, a criança convive diariamente com fenômenos naturais e
está descobrindo o mundo que a cerca e apresenta uma curiosidade natural que pode ser
direcionada adequadamente para despertar seu interesse na busca por explicações e soluções,
e não esperar um nível de escolaridade maior, pois corre-se o risco do jovem não ter mais
interesse pelos fenômenos da natureza e suas explicações. Ainda citando os PCN’s:
[...] não se pode pensar o ensino de Ciências como um ensino propedêutico, voltado
para uma aprendizagem efetiva em momento futuro. A criança não é cidadã do
futuro, mas já é cidadã hoje, e, nesse sentido, conhecer ciência é ampliar a sua
possibilidade presente de participação social e viabilizar sua capacidade plena de
participação social no futuro (BRASIL, 1997, p. 23).
Para exemplificar a inserção da Ciência como atividade lúdica para os alunos
participantes do projeto, citamos o seguinte experimento. A atividade consistia em fazer os
alunos colocarem as mãos em uma caixa preta contendo luz negra acesa (lâmpada
ultravioleta-UV) e pedia-se para eles relatarem o que observavam. Em seguida eles passavam
nas mãos álcool em gel previamente tratado com tinta de caneta marca-texto (substância que
emite luz quando exposta à lâmpada UV) e retornavam com as mãos na caixa com a luz negra
e solicitava-se novamente um relato. Posteriormente os alunos eram orientados a lavarem as
mãos como faziam habitualmente em suas casas e, novamente inseriam-nas na caixa preta.
Em seguida a acadêmica bolsista orientava uma discussão sobre se a higienização das mãos
foi feita de maneira correta, sempre os elogiando, mas ressaltando a necessidade de mais
atenção neste procedimento. O objetivo do experimento foi trabalhar com os alunos a
importância dos cuidados de higiene pessoal com o corpo humano, mostrando que uma má
higienização pode deixar “bichinhos muito pequenos” no nosso corpo e causar várias
doenças. Tomou-se o cuidado em explicar que o álcool com tinta não eram os “bichinhos”,
mas serviu para mostrar que, como a tinta permanecia nas mãos após uma lavagem mal feita,
também poderiam restar “bichinhos” nas mãos, que são invisíveis aos nossos olhos, e são
chamados de microorganismos.
Outra atividade aplicada foi a fabricação da “geleca” ou “amoeba”, misturando-se cola
branca, solução de bórax e corante alimentício, cujo objetivo foi desenvolver atividades
psicomotoras, pois observou-se que algumas crianças apresentavam dificuldades no manuseio
de lápis. A criatividade também foi estimulada ao fazer com que os alunos manuseassem a
massinha criando figuras divertidas.
14086
Após a aplicação das atividades pode-se perceber uma mudança de postura dos alunos.
Durante o período de observação nas aulas da professora regente esses se mostravam
desmotivados, apáticos e com falta de concentração nas tarefas propostas pela professora. Nas
atividades do projeto os alunos tinham participação ativa no desenvolvimento dos
experimentos e este fato já é por si só motivador, atingindo diretamente a autoestima deste
aluno, facilitando a superação das dificuldades de aprendizagem.
Considerações Finais
Com o desenvolvimento deste projeto de extensão tem sido possível observar que o
desempenho dos alunos atendidos teve uma melhora significativa, segundo relato das
professoras regentes às acadêmicas. Durante a efetivação das atividades propostas, foi
possível verificar o envolvimento dos alunos, os quais participaram ativamente na execução
dos experimentos lúdicos.
Enquanto orientadoras do projeto, verificamos que esta participação ativa dos alunos,
mostrou-se uma ferramenta importante para motivá-los, considerando que a partir dos
experimentos, é que foram desenvolvidas as atividades, de acordo com as dificuldades que os
alunos apresentavam, seja na lecto-escrita, lógico matemática ou motora.
Outro ponto a destacar refere-se ao trabalho efetuado pelas acadêmicas bolsistas,
mostrando-se envolvidas e engajadas no preparo e aplicação das atividades propostas, sendo
que estas vivências têm contribuído para o desenvolvimento de sua práxis docente e a
formação de uma postura profissional ética e comprometida com a melhoria da qualidade do
ensino.
REFERÊNCIAS
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ciências naturais/Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros
Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Brasília: Ministério da Educação, 2002.
GÓMEZ, Ana Maria Salgado; TERÀN, Nora Espinosa. Dificuldades de Aprendizagem:
detecção e estratégias de ajuda. São Paulo: Cultural, 2009.
LIMA, Paulo Gomes. Saberes Pedagógicos da educação contemporânea. Engenheiro
Coelho/SP: Centro Universitário Adventista de São Paulo, 2007.
14087
RONCA, P. A. C. A aula operatória e a construção do conhecimento. São Paulo:
Edisplan,1989.
SAMPAIO, Simaia. Dificuldades de Aprendizagem: A Psicopedagogia na relação sujeito,
família e escola. 2ed. Rio de Janeiro: Wak Ed., 2010.
SOUZA, E. C. Cartografia histórica: trilhas e trajetórias da formação de professores.
Revista da Faeeba: Educação e Contemporaneidade, v. 12, n. 20. Salvador. Julho/dezembro
de 2003.
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