Anuário 2004

Propaganda
UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio
Grande do Sul - Brasil
Departamento de Filosofia e Psicologia
Ijuí (RS) – Ano 2004
EDITORIAL
Retomar (na direção do comentário, da análise e da reflexão) uma produção de
trabalho já desenvolvido é tarefa das mais difíceis. Emergem, inevitavelmente, as lembranças
do já vivido, com as interrogações de sempre: foi um percurso produtivo? Fizemos as
perguntas necessárias? Particularmente, em relação à Clínica de Psicologia, que conta com o
atendimento dos alunos estagiários para receber os pacientes em sofrimento psíquico, tivemos
resultados conseqüentes? E sobre a formação dos futuros psicólogos, os quais trabalham em
um tempo em que a condição de futuro transforma-se em presente, a proposta foi suficiente?
Haveria uma proposta de formação considerada suficiente?
Pensamos que as interrogações, exatamente por não comportarem respostas definidas,
nos servem como base para futuros caminhos. Dito de outra forma, entendemos as perguntas
como orientadoras à medida que é preciso falar para escutar. E como Freud nos ensina, para
que haja fala é necessário que haja escuta.
Escrever sobre a fundamentação do nosso trabalho na Clínica, sobre a forma como
instituímos as regras de organização, sobre as ações que sustentam a instituição, produz outro
efeito digno de nota: perde-se uma certa proteção, encontrada em um trabalho delimitado,
circunscrito, desenvolvido por um conjunto de pares. É verdade que o sigilo constitui um pilar
fundamental na profissão do psicólogo, enquanto ética desejada e necessária para nossas
atividades clínicas. No entanto, a publicação, resguardada as condições especificas da
transmissão do “fazer psicólogo”, nos traz um ganho considerável, uma vez que aí torna-se
possível discutir, analisar e compartilhar num âmbito ampliado.
È com esta justificação que saudamos o primeiro anuário da Clínica, registro escrito
que reúne todas as atividades desenvolvidas no ano de 2004. Cumprimentamos o conselho da
instituição que acolheu a iniciativa do professor Ubirajara e agradecemos à equipe
responsável pela publicação a significativa contribuição com a historia da Clínica de
Psicologia da Unijuí.
Ana Maria de Souza Dias
AGRADECIMENTOS
A Comissão do Anuário gostaria de agradecer:
A Unijuí que sendo uma Instituição de Ensino filantrópica possui como um dos focos
centrais a interação com a comunidade proporcionando um espaço de indubitável
importância, a saber, a Clínica de Psicologia da Unijuí.
À Clínica de Psicologia da Unijuí que não só autorizou mas auxiliou que um projeto
dessa importância registra-se a sua história, oferecendo um suporte teórico-clínico
fundamental para a elaboração deste trabalho.
Aos professores supervisores da Clínica da Unijuí, em especial ao professor Luis
Fernando Lofrano de Oliveira que aceitou o convite de discutir questões referentes ao registro
dos dados da Clínica permitindo que fossemos além da discussão do registro numérico.
A neurologista Helga Porsch que nos proporcionou uma discussão muito importante
sobre a questão interdisciplinar.
À Coordenadora da Clínica, Ana Maria de Souza Dias, que acompanhou os passos da
elaboração do Anuário de forma pertinente e motivadora.
Aos secretários da Clínica, Luciane Cossetin e Jonas de Moura, que auxiliaram na
organização e no acesso a todo material registrado no Anuário.
Aos colegas que participaram das discussões que fizeram parte da construção do
Anuário, aqueles que colaboraram com as solicitações da Comissão e como também os que
encaminharam textos para serem publicados, compreendendo a importância do registro e do
exercício da escrita teórico-clínica.
E em especial ao professor coordenador deste projeto, Ubirajara Cardoso de Cardoso,
pioneiro na construção deste trabalho na Clínica da Unijuí, e que de forma engajada sempre
nos auxiliou e nos ouviu, confiando no nosso potencial, prezando não só pela publicação mas
pela nossa formação profissional.
Comissão do Anuário
Sumário
1 - Projeto do Anuário.............................................................................................................
2 - Apresentação da CPU......................................................................................................
2.1 - A ética do sujeito na prática clínica................................................................................
2.2 - A especificidade do trabalho desenvolvido na Clínica de Psicologia ............................
3- Regimento interno .............................................................................................................
4 - Normas para Extensão de Estágio ..................................................................................
5 -Organograma......................................................................................................................
6- Ações da Clínica.................................................................................................................
7 - Descrições das Ações da Clínica .....................................................................................
8 - Comissões ........................................................................................................................
9 - Equipe da CPU..................................................................................................................
10 – Levantamento de dados.................................................................................................
11 - Discussão do levantamento de dados de 2004..............................................................
12 – Cronograma das reuniões e apresentações de caso ...................................................
13 - Registro das apresentações de caso .............................................................................
14 – Projetos Gerais...............................................................................................................
15 – Interdisciplinaridade na CPU......................................................................................
15.1 - Anotações acerca da interdisciplinaridade: Psicologia Genética e a Clínica
Psicanalítica...........................................................................................................................
15.2 - Interdisciplinaridade na Clínica Infantil: Psicanálise e Método Clínico.........................
15.3 - Interlocução da CPU com a neurologia ......................................................................
16 - Produção textual dos alunos -estagiários........................................................................
16.1- Exercício de reflexão sobre o atendimento clínico voltado para o público infantil........
16.2 - Considerações acerca do texto “Sofrimento E Prazer Na Escrita”, de Marie-Alice Du
Pasquier ................................................................................................................................
16.3 - Considerações acerca do desejo na histeria: um caso de “luto sexual”......................
17- Informativo da Clínica - FALANDO N’ISSO .........................................................................
18 - Eventos.........................................................................................................................
19- Comissão do Anuário .................................................................................................
permanecem mais tempo vinculados à Clínica permitindo a transmissão da memória da
instituição, no acompanhamento do ingresso dos novos grupos de estagiários a cada semestre.
Todos os estagiários recebem supervisão semanal e individual.
2.1- A ÉTICA DO SUJEITO NA PRÁTICA CLÍNICA
Trazemos algumas considerações a
respeito da experiência de atendimento psicológico, desenvolvida na Clínica de Psicologia da
UNIJUÍ, particularmente com relação á ética que orienta nosso trabalho.
A Clínica de Psicologia da Unijuí, em
consonância com a orientação teórica principal do Curso de Psicologia desta Universidade,
fundamenta seu projeto de trabalho na Psicologia, e principalmente na Psicanálise.
Consideramos, como nos aponta o
psicólogo Luis Cláudio Figueiredo, (no livro “Revisitando as Psicologias: Da Epistemologia à
Ética nas Práticas e Discursos Psicológicos”), que as diversas abordagens teóricas que podem
dar fundamento ao trabalho do psicólogo, para além das diferenças epistêmicas, remetem a
éticas diferenciadas. O termo “ethos” do qual deriva a palavra ética, tem na língua grega o
sentido de “morada”. Assim, ao afirmarmos que a cada teoria corresponde uma ética,
queremos dizer que as teorias são dispositivos que dão ao homem um lugar e um destino.
Certamente a opção pela psicanálise como teoria orientadora de uma clínica-escola
não se dará sem que se produzam conseqüências na organização e na condução do trabalho,
marcando diferenças com outras concepções de clínica.
A origem do método clínico, em
acordo com os princípios científicos emergentes, na medicina do século XVIII, estava ligada
ao privilégio do olhar da observação e da prescrição no campo dos signos e dos sintomas. Isto
é, a doença passou a ser definida em função de um conjunto específico e ordenado de sinais e
de sintomas. Estes constituíam a totalidade da doença, eliminando-se toda a distância entre
significante e significado, quer dizer, entre a doença e sua expressão sintomática. Esta
concepção de clínica privilegia a doença em detrimento do doente.
Freud ao criar a psicanálise alicerçada
na noção de inconsciente, introduziu uma outra concepção de clínica, porque apontou para a
existência de uma outra lógica, regida pelo desejo. Freud descobriu um sujeito dividido, e
alienado de si mesmo. Isto só se tornou possível porque na clínica freudiana o médico foi
colocado na posição de escuta e a palavra foi devolvida ao doente.
Esta divisão que constitui os humanos
também pode ser enunciada como uma divisão entre verdade e saber. O discurso científico
sustenta que é possível construir um saber sobre a verdade. A psicanálise, ao contrário, revela
que, embora a verdade inconsciente atue, em relação a ela ficamos sempre em falta, e é
justamente esta falta que nos constitui como sujeitos desejantes. Esta falta estrutural coloca os
humanos na condição permanente de busca do objeto que supostamente a preencheria, em
outras palavras, que os completasse.
Lacan, no “Seminário VII: a Ética da
Psicanálise” afirma que uma ética implica num juízo sobre as ações do sujeito, e que neste
sentido podemos falar de uma ética da psicanálise uma vez que ela incide na relação entre a
ação e o desejo que a sustenta.
A ética da psicanálise é formulada
por ele, como sendo a ética do “desejo” ou a ética do “bem-dizer”. Enquanto ética do
“desejo” a psicanálise não se propõe á realização das vontades do sujeito, porque o desejo no
campo da psicanálise não tem objeto, não se apresenta como desejo de algo. O desejo aparece
neste campo como um exercício, como algo que impulsiona na direção de um agir. Sendo
assim, o desejo tem uma função metonímica de provocar o deslizamento do sujeito de objeto
a objeto.
“Bem-dizer” não significa que a partir
da psicanálise se possa dizer onde está o bem do sujeito, isto é, aquilo que será bom ou ruim
para ele, aquilo que ele deve ou não deve fazer. A ética da psicanálise não se propõe como
uma ética do serviço dos bens, diferenciando-se assim das éticas tradicionais, que versam
sobre seu ordenamento visando a universalização. “Bem-dizer” refere-se à possibilidade de
que o paciente se reconheça no inconsciente.
Assim, nesta ética, o que norteia os
encontros iniciais com o paciente, é possibilitar uma escuta que lhe permita implicar-se na
queixa que traz para a partir daí responsabilizar-se por seu sofrimento. Em outros termos, o
que se quer possibilitar é que o paciente saia da posição daquele que sofre passivamente e
possa se colocar numa posição comprometida com sua “cura”. Para o estagiário é
fundamental não responder da posição de quem tem um saber sobre o sofrimento deste, sem
contudo ignorar que é justamente esta suposição de saber que vai sustentar a transferência e
possibilitar o tratamento. Estas considerações já indicam que não trabalhamos com
aconselhamento.
O
pagamento
é
trabalhado
na
transferência, considerando-se os aspectos simbólicos que aí se expressam. Por isso é que não
se propõe atendimento gratuito, não usamos nenhum tipo de tabela ou valores pré-fixados
(segundo a renda familiar, por exemplo).
Considera-se
imprescindível
para
sustentar uma clínica onde se opera na transferência, a supervisão individual, e até onde é
possível numa universidade, que a escolha do supervisor também se dê pela via da
transferência.
Quando um período de estágio se
encerra, o paciente é encaminhado a outro estagiário. Esta é uma questão problemática que se
coloca para as clínicas-escolas nas quais o trabalho é realizado por estagiários. É um momento
em que se observa um número maior de interrupções de tratamento. A orientação que
seguimos é de que o desligamento e a passagem sejam trabalhados em supervisão caso a caso.
Procura-se considerar as nuances do laço transferencial em cada tratamento. Algumas vezes
adota-se o procedimento da apresentação do novo estagiário ao paciente, feita pelo estagiário
que está encerrando o estágio. Outras vezes ele é apenas informado do nome de quem vai
atendê-lo.
É uma característica dos pacientes
que procuram tratamento em uma instituição que o pedido de tratamento não venha dirigido a
um nome. A procura se dá pelo nome da instituição. Ocorre, por vezes, que como efeito do
próprio tratamento, o paciente não suporte mais as trocas de estagiários, estando em condições
de endereçar um pedido de tratamento a alguém em particular.
Quando se dá uma troca de estagiário
é preciso que uma nova relação transferencial se estabeleça. Neste sentido há um fim de
tratamento e início de outro. Por outro lado há uma continuidade porque o paciente permanece
com um laço com a instituição. Isto nos coloca a questão: quais as informações sobre um
paciente que um estagiário deve passar para outro? Temos restringido bastante estas
informações, limitando-as mais a dados objetivos como, por exemplo, resultados de exames
de outros profissionais, registros de freqüência às sessões, etc... Esta é ainda uma questão
sobre a qual sentimos a necessidade de ter uma discussão maior.
Sabe-se que toda a instituição pauta
seu funcionamento em um conjunto de normas, tendendo, freqüentemente, a uma certa
burocratização. Este é um risco que como instituição também se corre. Acontece, às vezes,
que procedimentos tomados em uma situação particular se transformem em regras, isto é, se
institucionalizam e passam a funcionar como normas, perdendo-se sua razão original.
Esta tendência à burocratização coloca-se na direção contrária ao que sejam
os fundamentos de uma clínica psicanalítica. Por isso pensamos que a condução de
tal prática em uma instituição (neste caso a Clínica de Psicologia da Unijuí) requer o
exercício constante da retomada dos seus fundamentos. No dia a dia da vida
Institucional, isto se apresenta, muitas vezes, nas repetidas discussões das mesmas
questões. Por exemplo: discutimos repetidas vezes as dificuldades que temos em
relação ao pagamento, dificuldades estas que se situam tanto do lado dos pacientes
quanto dos estagiários e supervisores; também retornam às nossas discussões
questões do tipo: - Podemos permitir que um paciente, uma criança, leve consigo um
brinquedo? Ou, desenhe nas paredes? E assim por diante...Mas a psicanálise
também nos ensina que o que se repete não é exatamente a mesma coisa. Isto nos
anima a seguirmos, relançando e ressignificando as nossas interrogações.
2 – APRESENTAÇÃO DA CPU
Ângela S. Drügg1
A clínica de Psicologia da Unijuí, fundada em 1993, é um dos programas do
departamento de Filosofia e Psicologia da Universidade de Ijuí, no Estado do Rio Grande do
1
Professora do DFP, Mestre em Educação nas Ciências pela UNIJUÍ
Sul. Em consonância com a orientação teórica do Curso de Psicologia desta universidade, a
clínica de psicologia fundamenta sua praxis nas teorias psicanalítica e psicológica.
Os objetivos da clínica são os seguintes: oferecer atendimento psicológico a crianças,
adolescentes e adultos; consolidar uma Clínica - Escola, como um espaço de prática e
formação clínica para estudantes do curso de Psicologia; constituir um lugar de estudo e de
pesquisa.
A universidade mantém financeiramente a Clínica e a direção é exercida por um
Conselho, composto pelos professores supervisores, professores pesquisadores, um
representante dos estudantes estagiários e um professor convidado de reconhecida experiência
clínica. O conselho indica o Coordenador da Clínica para um período de 2 anos. Esta
indicação é referendada pela Reunião do Colegiado do Departamento.
A Clínica propõe-se a atender aqueles que a ela dirigem um pedido de atendimento. A
clientela provêm tanto do município de Ijuí, como de municípios próximos, sendo procurada
predominantemente por pessoas de baixo poder aquisitivo.
O atendimento psicológico é prestado por estagiários de psicologia clínica e por
estagiários extensionistas (acadêmicos que já concluíram o estagio curricular da Psicologia
Clínica e realizam estágio opcional). A função dos estagiários extensionistas é importante,
uma vez que permanecem mais tempo vinculados à Clínica permitindo a transmissão da
memória da instituição, no acompanhamento do ingresso dos novos grupos de estagiários a
cada semestre. Todos os estagiários recebem supervisão semanal e individual.
2.1- A ÉTICA DO SUJEITO NA PRÁTICA CLÍNICA
Trazemos algumas considerações a respeito da experiência de atendimento
psicológico, desenvolvida na Clínica de Psicologia da UNIJUÍ, particularmente com relação á
ética que orienta nosso trabalho.
A Clínica de Psicologia da Unijuí, em consonância com a orientação teórica principal
do Curso de Psicologia desta Universidade, fundamenta seu projeto de trabalho na Psicologia,
e principalmente na Psicanálise.
Consideramos, como nos aponta o psicólogo Luis Cláudio Figueiredo, (no livro
“Revisitando as Psicologias: Da Epistemologia à Ética nas Práticas e Discursos
Psicológicos”), que as diversas abordagens teóricas que podem dar fundamento ao trabalho do
psicólogo, para além das diferenças epistêmicas, remetem a éticas diferenciadas. O termo
“ethos” do qual deriva a palavra ética, tem na língua grega o sentido de “morada”. Assim, ao
afirmarmos que a cada teoria corresponde uma ética, queremos dizer que as teorias são
dispositivos que dão ao homem um lugar e um destino.
Certamente a opção pela psicanálise como teoria orientadora de uma clínica-escola
não se dará sem que se produzam conseqüências na organização e na condução do trabalho,
marcando diferenças com outras concepções de clínica.
A origem do método clínico, em acordo com os princípios científicos emergentes, na
medicina do século XVIII, estava ligada ao privilégio do olhar da observação e da prescrição
no campo dos signos e dos sintomas. Isto é, a doença passou a ser definida em função de um
conjunto específico e ordenado de sinais e de sintomas. Estes constituíam a totalidade da
doença, eliminando-se toda a distância entre significante e significado, quer dizer, entre a
doença e sua expressão sintomática. Esta concepção de clínica privilegia a doença em
detrimento do doente.
Freud ao criar a psicanálise alicerçada na noção de inconsciente, introduziu uma outra
concepção de clínica, porque apontou para a existência de uma outra lógica, regida pelo
desejo. Freud descobriu um sujeito dividido, e alienado de si mesmo. Isto só se tornou
possível porque na clínica freudiana o médico foi colocado na posição de escuta e a palavra
foi devolvida ao doente.
Esta divisão que constitui os humanos também pode ser enunciada como uma divisão
entre verdade e saber. O discurso científico sustenta que é possível construir um saber sobre a
verdade. A psicanálise, ao contrário, revela que, embora a verdade inconsciente atue, em
relação a ela ficamos sempre em falta, e é justamente esta falta que nos constitui como
sujeitos desejantes. Esta falta estrutural coloca os humanos na condição permanente de busca
do objeto que supostamente a preencheria, em outras palavras, que os completasse.
Lacan, no “Seminário VII: a Ética da Psicanálise” afirma que uma ética implica num
juízo sobre as ações do sujeito, e que neste sentido podemos falar de uma ética da psicanálise
uma vez que ela incide na relação entre a ação e o desejo que a sustenta.
A ética da psicanálise é formulada por ele, como sendo a ética do “desejo” ou a ética
do “bem-dizer”. Enquanto ética do “desejo” a psicanálise não se propõe á realização das
vontades do sujeito, porque o desejo no campo da psicanálise não tem objeto, não se apresenta
como desejo de algo. O desejo aparece neste campo como um exercício, como algo que
impulsiona na direção de um agir. Sendo assim, o desejo tem uma função metonímica de
provocar o deslizamento do sujeito de objeto a objeto.
“Bem-dizer” não significa que a partir da psicanálise se possa dizer onde está o bem
do sujeito, isto é, aquilo que será bom ou ruim para ele, aquilo que ele deve ou não deve fazer.
A ética da psicanálise não se propõe como uma ética do serviço dos bens, diferenciando-se
assim das éticas tradicionais, que versam sobre seu ordenamento visando a universalização.
“Bem-dizer” refere-se à possibilidade de que o paciente se reconheça no inconsciente.
Assim, nesta ética, o que norteia os encontros iniciais com o paciente, é possibilitar
uma escuta que lhe permita implicar-se na queixa que traz para a partir daí responsabilizar-se
por seu sofrimento. Em outros termos, o que se quer possibilitar é que o paciente saia da
posição daquele que sofre passivamente e possa se colocar numa posição comprometida com
sua “cura”. Para o estagiário é fundamental não responder da posição de quem tem um saber
sobre o sofrimento deste, sem contudo ignorar que é justamente esta suposição de saber que
vai sustentar a transferência e possibilitar o tratamento. Estas considerações já indicam que
não trabalhamos com aconselhamento.
O pagamento é trabalhado na transferência, considerando-se os aspectos simbólicos
que aí se expressam. Por isso é que não se propõe atendimento gratuito, não usamos nenhum
tipo de tabela ou valores pré-fixados (segundo a renda familiar, por exemplo).
Considera-se imprescindível para sustentar uma clínica onde se opera na transferência,
a supervisão individual, e até onde é possível numa universidade, que a escolha do supervisor
também se dê pela via da transferência.
Quando um período de estágio se encerra, o paciente é encaminhado a outro estagiário.
Esta é uma questão problemática que se coloca para as clínicas-escolas nas quais o trabalho é
realizado por estagiários. É um momento em que se observa um número maior de
interrupções de tratamento. A orientação que seguimos é de que o desligamento e a passagem
sejam trabalhados em supervisão caso a caso. Procura-se considerar as nuances do laço
transferencial em cada tratamento. Algumas vezes adota-se o procedimento da apresentação
do novo estagiário ao paciente, feita pelo estagiário que está encerrando o estágio. Outras
vezes ele é apenas informado do nome de quem vai atendê-lo.
É uma característica dos pacientes que procuram tratamento em uma instituição que o
pedido de tratamento não venha dirigido a um nome. A procura se dá pelo nome da
instituição. Ocorre, por vezes, que como efeito do próprio tratamento, o paciente não suporte
mais as trocas de estagiários, estando em condições de endereçar um pedido de tratamento a
alguém em particular.
Quando se dá uma troca de estagiário é preciso que uma nova relação transferencial se
estabeleça. Neste sentido há um fim de tratamento e início de outro. Por outro lado há uma
continuidade porque o paciente permanece com um laço com a instituição. Isto nos coloca a
questão: quais as informações sobre um paciente que um estagiário deve passar para outro?
Temos restringido bastante estas informações, limitando-as mais a dados objetivos como, por
exemplo, resultados de exames de outros profissionais, registros de freqüência às sessões,
etc... Esta é ainda uma questão sobre a qual sentimos a necessidade de ter uma discussão
maior.
Sabe-se que toda a instituição pauta seu funcionamento em um conjunto de normas,
tendendo, freqüentemente, a uma certa burocratização. Este é um risco que como instituição
também se corre. Acontece, às vezes, que procedimentos tomados em uma situação particular
se transformem em regras, isto é, se institucionalizam e passam a funcionar como normas,
perdendo-se sua razão original.
Esta tendência à burocratização coloca-se na direção contrária ao que sejam os
fundamentos de uma clínica psicanalítica. Por isso pensamos que a condução de tal prática em
uma instituição (neste caso a Clínica de Psicologia da Unijuí) requer o exercício constante da
retomada dos seus fundamentos. No dia a dia da vida Institucional, isto se apresenta, muitas
vezes, nas repetidas discussões das mesmas questões. Por exemplo: discutimos repetidas
vezes as dificuldades que temos em relação ao pagamento, dificuldades estas que se situam
tanto do lado dos pacientes quanto dos estagiários e supervisores; também retornam às nossas
discussões questões do tipo: - Podemos permitir que um paciente, uma criança, leve consigo
um brinquedo? Ou, desenhe nas paredes? E assim por diante...Mas a psicanálise também nos
ensina que o que se repete não é exatamente a mesma coisa. Isto nos anima a seguirmos,
relançando e ressignificando as nossas interrogações.
2.2 - A especificidade do trabalho na Clínica de Psicologia da Unijuí1
Ana Maria de Souza Dias2
O título desta fala indica meu objetivo: não é trazer aqui a história da instituição, mas
tentar resgatar os elementos que guiaram e ainda guiam a experiência que se realiza na
Clínica-Escola da Unijuí. Esta história de pouco mais de dez anos nos sustenta em novos
caminhos? Quais possibilidades ou perspectivas dariam novos movimentos a este trabalho?
1
2
Palestra apresentada na Jornada da Clínica –19 de novembro / 2004
Professora do Curso de Psicologia da Unijuí e Coordenadora da CPU no ano de 2003/2004
Gostaria de pensar com vocês sobre estas questões, um pouco por dever de ofício e um pouco
para me despedir da função de coordenação.
A Clínica de Psicologia da Unijuí – CPU – é criada em 1993 para receber a demanda
dos estágios curriculares em Psicologia Clínica do curso de graduação, constituindo-se em um
programa do Departamento de Filosofia e Psicologia.
Atualmente a CPU está organizada do seguinte modo: um Conselho (constituído pelo grupo
de professores supervisores, um professor convidado e um representante dos alunos), um
Coordenador (escolhido pelo Conselho para um período de dois anos), um conjunto de
estagiários que realizam seu estágio curricular em Psicologia Clínica e extensionistas (alunos
que optam por continuar seu estágio na clínica por mais um ou dois semestres). Também faz
parte do quadro de professores, um médico neurologista, o qual supervisiona os alunos
responsáveis por casos que necessitem de avaliações neurológicas, medicações ou outras
avaliações médicas.
O caráter de clínica-escola se expressa na forma de organização que a CPU adota: o
processo de formação do psicólogo inclui a constante articulação entre o fazer psicológico e a
sua sustentação através das leituras e discussões solicitadas desde o curso de graduação, das
supervisões individuais e semanais, da escrita das muitas atividades que se desenvolvem na
Clínica, da participação de cada estagiário em comissões específicas de trabalho... Assim, é
possível demarcar duas dimensões de trabalho na Clínica: uma é o atendimento singularizado
aos pacientes e a outra é o trabalho institucional. Dimensões que se entrecruzam; originando
questionamentos e avanços quanto ao lugar do psicólogo na clínica contemporânea.
Com referência ao atendimento individual, a Clínica segue o modelo reconhecido em
nossa cultura; quando o paciente vem buscar respostas, que de algum modo, venham aplacar
seu sofrimento. Mas sabe-se que para além disso, vem o pedido de ajuda que convoca o
terapeuta a dar uma receita para o bem viver.
Neste sentido, de acordo com os referenciais éticos que são levados em conta, o trabalho
inicia com as entrevistas preliminares, que se ocupam da passagem da queixa à demanda. Ou
seja, o que se quer possibilitar na escuta inicial é que o paciente se implique na queixa que
traz, passando de uma posição passiva para uma posição de responsabilização pelo seu
tratamento.
Muitas vezes o pedido de tratamento não é feito pelo próprio paciente e sim por um
familiar, ou mesmo é imposto por uma instituição escolar ou da justiça. Em todos os casos, o
estagiário acolhe o pedido, para a partir daí trabalhar com questões cruciais: de quem é a
demanda? De quem é o sintoma?
O importante a sublinhar é que, nesta clínica, não se trabalha com práticas normativas que
apontam para padrões ideais de conduta, aos quais levariam à plena realização humana. O que
se busca é que o paciente reconheça seu desejo e que ao construir suas próprias respostas,
deixe sua vida menos sintomática.
O paciente aposta que quem o escuta tem um saber sobre ele e o estagiário reconhece que sem
esta aposta, não se constrói uma transferência1. O estagiário trabalha com esta suposição de
saber, mas sabe que o suporte teórico, sem referência à experiência de escuta, não garante o
lugar de saber sobre um sujeito2. E como se trata de uma clínica-escola, cujos atendimentos
são realizados por alunos, são comuns as perguntas sobre o que fazer em cada atendimento
(muitas vezes procurando antecipar o que dizer para o paciente, diante de possíveis situações).
Por isso, o aluno é relançado continuamente à mescla teoria e técnica, que apesar de não
comportar generalizações, coloca o estagiário na busca de um percurso próprio.
Quanto à dimensão institucional, cabe destacar que o trabalho psicanalítico vem se
inserindo no social, de forma cada vez mais contundente. Esta inserção gera uma produção de
conhecimentos que procura compreender os novos modos de subjetivação e as novas
expressões que o sofrimento psíquico assume na contemporaneidade.
A partir desta articulação teórico-prática, que ultrapassa os limites do modelo clínico
clássico, os pesquisadores da área psicanalítica constroem suas observações, reflexões e
modalidades de intervenção no social.
Nesta direção, a CPU aposta no trabalho institucional expresso em diversas atividades,
sempre sustentado pelo referencial clínico. Aqui o termo clínico deriva da abordagem
psicanalítica, distanciando-se da concepção tradicional reservada somente ao trabalho de
consultório. O fazer psicológico é clínico, à medida que inclui o lugar da escuta em todos os
seus projetos de trabalho3.
Termo usado na psicanálise para designar o “vínculo afetivo intenso, que se instaura de forma automática e
atual, entre paciente e o analista (...)” (CHEMAMA, 1995, p. 217), possibilitando o tratamento psicanalítico.
“Fora da situação de análise, o fenômeno da transferência é constante, onipresente nas relações, sejam elas
profissionais, hierárquicas, amorosas (...)”. (Ibid.). Freud instaura progressivamente este conceito, à medida que
renuncia à hipnose, à sugestão e a catarse. Os analistas pós-freudianos dedicam-se a repensar a noção de
transferência, em acordo com sucessivas modificações introduzidas na teoria original. Dentre estes está Lacan,
que através de seu seminário sobre a identificação (1961-1962), aponta para uma nova perspectiva: “a
transferência aparece ali como a materialização de uma operação que se relaciona com o engano e que consiste
em o analisando instalar o analista no lugar do “sujeito suposto saber”, isto é, em lhe atribuir o saber absoluto”
(ROUDINESCO, 1998, p. 769).
2
A psicanálise designa o termo, não em seu sentido genérico (como um homem ou um indivíduo em geral), mas como
um ser dependente da linguagem. Deste modo, o que produz um sujeito não é uma subjetividade e sim um
assujeitamento “desde a história de um dizer, aquilo que já estava lá, antes mesmo de seu nascimento, no discurso de
seus pais, aquilo que, depois de seu nascimento, não cessa de acompanhá-lo e de orientar sua vida, em um “tu és isto”
sem escapatória” (CHEMAMA, 1995, p. 48).
3
Ampliar para o âmbito institucional, a concepção de prática clínica originada do campo psicanalítico, significa
poder trabalhar na direção da “constituição de um espaço clínico institucional, orientado pela escuta do singular,
1
Nestas atividades estão incluídas reuniões gerais, reuniões mensais do Conselho,
apresentações clínicas semanais, encontros das comissões de trabalho e projetos de trabalho
que partem de demandas institucionais.
As reuniões (gerais e do Conselho) não se ocupam apenas de questões administrativas.
Os professores estão atentos para a freqüente tendência à burocratização, presente em muitas
instituições, como expressa uma supervisora da Clínica:
“Sabe-se que toda instituição pauta seu funcionamento em um conjunto de normas, tendendo,
freqüentemente, a uma certa burocratização. Este é um risco que como instituição também se corre.
Acontece, às vezes, que procedimentos tomados em uma situação particular se transformem em
regras, isto é, se institucionalizam e passam a funcionar como normas, perdendo-se sua razão
original (DRÜGG, 2001, p. 3)”.
Por isso, podemos afirmar que a Clínica não é uma instituição centrada no burocrático,
mas mesmo não estando imune a seus efeitos, estrutura-se de forma a transformá-los em algo
produtivo criando dispositivos institucionais que sustentam a organização do trabalho. Assim
pensamos as reuniões como constantes exercícios teórico-clínicos que traduzem as questões e
os encaminhamentos dados às muitas interrogações produzidas no cotidiano da Clínica.
As apresentações clínicas compõem-se da apresentação e discussão de um caso
clínico, sob a responsabilidade de um aluno, na presença do grupo de colegas e de um
professor supervisor. Esta é uma importante atividade que envolve todos os estagiários,
construída com a seguinte perspectiva por outra supervisora:
“Trata-se de uma atividade fundamental para a formação do psicólogo, na medida em que se
constitui num momento clínico no qual se exercita o testemunho sobre o trabalho realizado (...) É um
momento privilegiado em que se oportuniza uma interseção entre a dimensão particular e a dimensão
institucional. Penso que aí a palavra testemunho é especialmente significativa, pois ela faz referência
tanto à particularidade da escuta do caso em questão, como a uma dimensão social, por assim dizer,
pois um testemunho é dado a alguém. A alterização que aqui se opera (...) remete o praticante para a
responsabilização por seu trabalho entre seus pares, função essencial da instituição (FONTOURA,
2001, p. 4)”.
Os encontros das comissões de trabalho são organizados pelo próprio grupo de alunos
estagiários. Atualmente são cinco comissões em funcionamento – de estudos, de patrimônio e
eventos,do anuário, do site e de publicações –, e ainda outras podem ser formadas, onde os
alunos se inserem de acordo com suas escolhas. O objetivo deste trabalho vai além da
operacionalização das atividades, já que propõe um espaço de interrogações e discussões
teórico-clínicas que fundamentam todas as decisões a serem tomadas nas comissões.
num âmbito socializado, no qual se passam compartilhar e debater questões clínicas numa perspectiva ética e de
construção de uma reflexão teórica” (FONTOURA, 2001, p. 5).
Desta forma, a comissão de estudos propõe e coordena leituras sobre temas relevantes
para a construção da prática psicológica, sempre partindo das interrogações que a clínica
coloca ao grupo de estagiários. A comissão de patrimônio e eventos se ocupa do
funcionamento da Clínica, no seu aspecto organizacional (aquisição e conservação de
materiais para as salas de atendimento, programação de eventos) e no aspecto clínico (qual a
sustentação teórica para estas ações). A comissão do anuário ocupa-se em selecionar e
escrever sobre as atividades cotidianas da instituição e a do site divulga nosso trabalho para
quem navega na internet. A comissão de publicação se responsabiliza pela organização e
divulgação da produção de trabalho teórico realizado na CPU. Esta comissão, com a
coordenação de uma professora supervisora, assina o informativo “FALANDO Nisso”,
colocando-o como um espaço de reflexão sobre as questões clínico-institucionais.
A possibilidade de uma prática de extensão foi criada com o objetivo de construir
memória na Clínica. Isto é, os alunos que concluem seu estágio curricular e querem estender
sua experiência formulam seu pedido e ficam mais um ou dois semestres na instituição. Assim
podem continuar a atividade de atendimento aos pacientes e também podem transmitir aos
novos colegas as marcas deste trabalho. O projeto especial, de responsabilidade dos
extensionistas, refere-se à pesquisa. Neste momento, eles constroem uma proposta que inclui
a investigação de questões clínicas proveniente das estatísticas relativas aos atendimentos que
produzimos.
A partir desta proposta de trabalho, desenvolvida na CPU, já surgiram diversos
pedidos para intervenções específicas em instituições da cidade e região. Estes pedidos eram
transformados em projetos de trabalho, através de convênios analisados e normatizados
previamente com as instituições interessadas.
Cada projeto ficava sob a responsabilidade de um professor supervisor, que
desenvolvia o trabalho juntamente com alunos monitores. Eram intervenções com tempos
diferentes: enquanto algumas podiam se estender por anos, outras foram transformadas ou até
extintas. Já tivemos os projetos denominados: Atendimento hospitalar e domiciliar, Estágio
de Psicopatologia e Relações Interinstitucionais.
A modalidade de atendimento hospitalar e domiciliar, por exemplo, foi implantada a
partir de demandas feitas por familiares e também por instituições hospitalares. Tratava-se de
possibilitar que pacientes, impedidos de se locomoverem até à Clínica (por diversas situações
– idosos, hospitalizados ou com doenças graves), pudessem assim mesmo ser atendidos pelos
estagiários. Os primeiros pedidos para atendimento vinham do próprio paciente, de familiares
ou por indicação médica. Na ocasião houve necessidade de um trabalho específico quanto à
natureza da demanda e à forma de atendimento, mas uma vez discutido e construído deixou
de ser um projeto específico para incorporar-se ao trabalho cotidiano da Clínica.
Da mesma forma, outras idéias foram e ainda são construídas sob estas condições de
discussão e análise. Como exemplo, temos a situação de uma demanda específica para
atendimentos de meninos institucionalizados. Como a localização deste abrigo é um pouco
afastada daqui, eles precisam ser transportados pelo motorista, gerando algumas dificuldades.
Então há o reiterado pedido do coordenador para que todos sejam atendidos no mesmo
horário para evitar idas e vindas custosas. Até porque de outra maneira, o grupo de meninos
ficaria na Clínica do primeiro ao último horário do turno, uns esperando pelos outros pois a
possibilidade colocada pela instituição é de uma vinda e uma volta. Ao discutirmos o
encaminhamento para a questão, reconhecemos que esta situação repetiria o abandono que faz
parte da vida de cada um dos meninos e assim abrimos os horários conforme o pedido, uma
vez que pensamos se tratar de uma questão clínica e não apenas burocrática.
Ou seja, a equipe ao acolher as demandas, considera os diferentes discursos, organiza
intervenções e propõe encaminhamentos específicos. Dito de outra forma, escutamos,
avaliamos e intervimos. Todo este trabalho proposto pela CPU se sustenta, e também se
renova, a partir dos questionamentos colocados pelos próprios professores e outros
profissionais que contribuem com a sustentação teórico-clínica da instituição. Assim,
professores, supervisores e alunos estagiários têm na articulação teoria e prática o eixo
principal da proposta de trabalho, valorizando uma direção ética, voltada para o sujeito em
sua dimensão inconsciente.
Estas considerações sobre o trabalho na Clínica me levaram a pensar, através das
supervisões, nos atendimentos feitos pelos estagiários à pacientes com quadros clínicos
severos e também em experiências de outros colegas e de outras instituições.
Tomo, por exemplo, os casos de crianças com problemas de desenvolvimento, as quais
tem enorme dificuldade para construir um espaço de convivência social. Sabemos que
frequentemente a segregação é gerada a partir da própria família que antecipadamente receia
que seu filho não saberá se defender de abusos dos outros. Além disso, a inserção do filho
diferente na comunidade se relaciona com a própria queda do imaginário do filho saudável,
inteligente e com um futuro promissor. Frente à essa ferida narcísica o efeito é de um
enclausuramento destas crianças em um lugar de impossibilidade.
Reconhecemos que nos últimos anos fizemos progressos em relação à inclusão destas
crianças e adolescentes no sistema escolar, notadamente em relação à substituição de métodos
repetitivos que incentivavam as perseverações e estereotipias. De forma geral, produzimos
uma atitude social mais integradora. Hoje vemos uma ampla abertura das escolas às crianças
deficientes, a ponto de prestarmos atenção para novas dificuldades. Nesta “avalanche de
inclusão” muitas crianças são colocadas precipitadamente na situação escolar produzindo
novas frustrações, o que nos convoca para a complexidade da abordagem da questão.
Penso também nos casos de adolescentes extremamente fragilizados, com severas
dificuldades escolares, em conturbadas relações familiares, com prognósticos sombrios em
função do isolamento social. Diante destas situações graves, geralmente vividas desde a
infância, o sujeito acaba por mutilar sua subjetividade. Nesta perspectiva, é possível ajudar o
paciente a construir uma malha de relações, de vínculos sociais, de laços em espaços
coletivos?
Ainda outra situação me chama a atenção, relacionada às possibilidades de intervenção
clínica com pacientes oncológicos, quando “ o imprevisível do acontecimento – no caso o
câncer – gera um sentimento de fragilidade, de agitação e de vulnerabilidade que em um
primeiro momento, paralisa o sujeito”(Conte,2004). Sabemos que toda a família sofre, embora
não o percebam ou mesmo o neguem. Muitos pacientes preferem o silêncio para não
sobrecarregar seus familiares, assim também como estes não sabem como reagir, o que dizer
ou o que fazer. Os profissionais que os atendem afirmam que esta não é a melhor estratégia,
mas que é a mais freqüente.
O trabalho analítico nestes casos aponta para “a importância que há para o sujeito
poder falar de seu trauma e do acontecimento em sua vida e suas relações com experiências
passadas que vêm se somar ao sofrimento atual” (Conte,2004).Nesta direção, é que
encontramos serviços de Psicologia que incluem os atendimentos individuais e o trabalho de
grupo para pensar e compartilhar as histórias de cada um, com a coordenação de um
psicanalista.
Estas situações me levam a perguntar se é possível apostar, por outro viés que não
apenas o do tratamento clínico convencional, nas possibilidades de uma construção
fantasmática capaz de sustentar a emergência de um sujeito? Neste caso, incluindo a
circulação social para além do enquadre recortado por uma sala? Estas interrogações apontam,
por exemplo, para o trabalho de acompanhamento terapêutico, recurso da Psicologia muitas
vezes criticado, mas que vem ganhando visibilidade e reconhecimento para o atendimento de
determinados pacientes. Este tipo de intervenção, assim como o trabalho com grupos,
ancorados no referencial psicanalítico, poderiam representar outras formas de lidar com a
diferença ou com a miséria subjetiva?
Reconheço que é um atrevimento de minha parte em lançar estas perguntas,
simplesmente porque destes pontos não tenho uma experiência construída. Na verdade, foi
apenas uma forma que encontrei para começar a pensar na direção de um movimento de
abertura da Clínica a outras idéias, com o cuidado de pensar um “dentro” e um “fora” como
uma fita de Moebius.
E tudo isto nos leva necessariamente ao trabalho interdisciplinar. Penso que uma
direção interessante para sua efetiva construção, para além das pequenas articulações que
estamos fazendo através do trabalho desenhado para os laboratórios do curso de graduação,
será a implantação do curso de especialização em psicologia clínica previsto para o próximo
ano. E novamente estamos diante de novos impasses, ou melhor, de desafios, os quais nos
impulsionam para as discussões desta jornada. Portanto, bom trabalho para nós todos.
3 - Regimento Interno da CPU
CAPITULO I – Da concepção e dos fundamentos da Clínica de Psicologia
ARTIGO 1° A Clínica de Psicologia é um programa do Departamento de Filosofia e
Psicologia, visando a prestar atendimento psicológico à comunidade e a região do
Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.
ARTIGO 2° - Propõe-se como uma Clínica – Escola, ou seja, um espaço de prática e
formação de estudantes do Curso de Psicologia, objetivando propiciar os alunos um
adequado conhecimento teórico e clínico, assim como das responsabilidades do
exercício profissional, sustentado a partir de uma ética.
ARTIGO 3° - A Clínica de Psicologia, deverá constituir-se em lugar de estudo,
reflexão e de pesquisa, visando a produção de conhecimentos que permitam
contribuições teóricos- práticas de abrangência social.
ARTIGO 4° - Deverá ter como fundamentos as teorias psicanalítica e psicológica,
que permitam dar conta da subjetividade do individuo, das diferentes psicopatologias
como dos efeitos culturais que nelas estão implicados.
ARTIGO 5° - Deverá articular, manter e propor trabalho com instituições similares,
como dar encaminhamentos aos trabalhos requeridos por outras instituições.
ARTIGO 6°- Deverá manter, prever e incluir outras áreas de conhecimento que
contribuam ao trabalho da Clínica.
.
CAPITULO II – da estrutura e organização da Clínica
ARTIGO 7°- A manutenção financeira e material da Clínica é responsabilidade da
Universidade, através do Departamento de Filosofia e Psicologia.
ARTIGO 8° - A organização, administração e sustentação teórica da Clínica é
exercida por um Conselho, composto por professores supervisores e pesquisadores,
um representante dos estagiários e um professor convidado de reconhecida
experiência clínica.
ARTIGO 9°- Compete ao Conselho da Clínica:
I - Sugerir, implementar e decidir das atividades, dos projetos e da
vida administrativa e organizacional da Clínica.
II - Se responsabilizar para que os fundamentos teóricos e éticos
orientem e sustentem a prática clínica.
III - Indicar e aprovar o coordenador da Clínica.
ARTIGO 10° - Fazem parte da clínica, a coordenação, supervisores (psicólogos e
um médico), estudantes cursando estágio de Psicologia Clínica, extensionista do
curso de Psicologia, estagiários de psicopatologia e secretarias administrativas.
ARTIGO 11°- A coordenação da Clínica é indicada pelo Conselho e referendada
pelo Departamento de Filosofia e Psicologia para um período de 2 anos.
Compete ao coordenador da Clínica de Psicologia da Unijuí:
I - Organizar e acompanhar as atividades realizadas na Clínica;
II - Propiciar a implantação de atividades e novos projetos,
devidamente aprovados pelo Conselho;
III - Zelar pela organização e funcionamento da Clínica;
IV - Manter contato com instituições similares e dar encaminhamentos
aos trabalhos requeridos por outras instituições.
V - Promover estudos e jornadas relacionados á prática clínica em
conjunto com supervisores e estagiários;
VI - Realizar reuniões sistemáticas com a equipe da Clínica,
supervisores e estagiários.
ARTIGO 12° - Compete ao supervisor (psicólogo):
I - Supervisionar e orientar individual e semanalmente o trabalho do
estagiário na Clínica;
II - Orientar os estagiários a respeito da Ética do psicólogo na prática
clínica.
III - Coordenar apresentações de casos clínicos;
IV – Participar do Conselho e contribuir nas diferentes atividades da
Clínica, através de palestra, estudos, textos escritos, etc..
ARTIGO 13° - Compete ao supervisor (médico)
I – Dar supervisão individual para os estagiários, quando necessário,
com consentimento e orientação do supervisor do estudante;
II – Esclarecer e intervir nos casos de avaliação médica (neurológica) e
de medicação que interfira e dificulte o tratamento psicológico do
paciente;
III – Contribuir nas atividades
interdisciplinar do psicólogo.
ARTIGO 14°- Compete ao estagiário:
que
permitam
uma
formação
I - Durante o período de estágio na Clínica deverá prestar atendimento
psicológico às pessoas que procuram a instituição;
II - Realizar supervisão semanal e individual.
III - Participar de reuniões gerais da Clínica;
IV - Participar de comissões, estudos ou jornadas da Clínica;
V - Sugerir e contribuir na própria gestão da Clínica;
VI - Apresentar e discutir no mínimo um caso clínico;
VII - O estagiário deverá exercer e levar em conta aspectos éticos com
relação aos atendimentos, tais como; pontualidade, sigilo e
assiduidade.
VIII - Zelar pela estrutura, organização e funcionamento da Clínica.
ARTIGO 15° - Compete ao estagiário extensionista:
I - Cumprir com as atribuições do estagiário na Clínica;
II - Facilitar e contribuir
estagiários na Clínica.
para
a
integração
dos
novos
ARTIGO 16° - Compete ao estagiário de psicopatologia
I – Contribuir na articulação da Clínica com outras
instituições para
facilitar, quando necessário, o trabalho dos atendimentos clínicos;
II – Participar das apresentações de caso clínicos e das reuniões gerais
da Clínica.
ARTIGO 17° - Compete à secretaria da Clínica:
I - Marcar consultas de pacientes e atendimento ao público;
II - Organizar agenda de atendimentos;
III - Zelar pela estrutura da Clínica;
IV - Assessorar na parte administrativa à equipe da Clínica
ARTIGO 18° - Qualquer alteração no presente regimento deverá ser submetida à
apreciação do Conselho da Clínica, passando a vigorar a partir de determinação do
próprio Conselho.
4 - NORMAS PARA EXTENSÃO DE ESTÁGIO EM PSICOLOGIA CLÍNICA
1° -PÚBLICO ALVO:
Alunos do Curso de Psicologia da UNIJUÍ, que concluíram com aprovação um (1) ano de
estágio regulamentar do Curso na Clínica de Psicologia da UNIJUÍ.
Obs.: a decisão de acolhimento de extensionistas que realizaram estágio de psicologia
clínica em outras instituições cabe ao Conselho da Clínica.
2° - Pode ser mantida e protelada essa extensão enquanto o aluno estiver matriculado no
referido curso.
3°








- ATIVIDADES:
Atendimento de pacientes.
Participação nas apresentações de caso.
Apresentação de um caso clínico por semestre.
Participação nas reuniões e seminários promovidos pela Clínica.
Supervisão semanal.
Compromisso com a vida institucional.
Responsabilização pela monitoria de um Projeto.
Fica à critério do extensionista a participação nas comissões internas.
4° - CLÁUSULAS PARA A CONTINUIDADE DA EXTENSÃO:
 75% de freqüência nas reuniões, atividades teóricas e supervisões..
 Cumprimento mínimo de 06 horas semanais (03 h em atendimento e 03 h nas outras
atividades).
 Apresentação até o dia 07 de cada mês do comprovante de pagamento dos créditos.
5° - CANCELAMENTO DA EXTENSÃO:

Poderá ser solicitado a qualquer momento pela Coordenação da Clínica, quando do não
cumprimento das cláusulas, ou pelo próprio estagiário quando for do interesse do
mesmo, respeitando-se um período mínimo para a comunicação aos pacientes e
transferência do caso para outro estagiário; este tempo será determinado com o
supervisor.
6° - A clínica fornecerá um atestado discriminado da extensão de estágio, incluindo a
duração e as atividades realizadas.
5 - Organograma da Clínica de Psicologia
Departamento de Filosofia e Psicologia
Clínica De Psicologia da Unijuí
Repr. estagiários
Conselho da Clínica
Prof Supervisor
Prof. Pesquisadores
Prof. Convidado
Coordenação
Estagiários de Psicologia
da Clínica
Secretaria
Estagiários em Extensão
de Psicologia da
Clínica
6 - Ações da Clínica de Psicologia
Ações da Clínica de Psicologia
Atendimentos Psicológicos
Ações de Formação
 Atendimentos individuais
e semanais.
 Atendimentos de crianças,
adolescentes e adultos.
 Atendimento psicológico
hospitalar e domiciliar.
 Supervisão Semanal e Individual.
 Supervisão – área médica.
 Seminários clínicos.
 Reuniões Gerais Clínicas.
 Reuniões de Supervisores.
 Apresentações de Casos.
 Comissão de Estudos.
 Comissão de Patrimônio e Eventos.
 Comissão de Publicações.
 Comissão de divulgação no site da
Clínica.
 Comissão de organização do
Anuário.
Pesquisa e Extensão
 Projetos de pesquisas.
 Projetos de Extensão.
7 - DESCRIÇÕES DAS AÇÕES DA CLÍNICA
A articulação dos três objetivos da Clínica, oferecer atendimento psicológico, a formação de
uma Clínica- Escola, ou seja, um espaço de prática e formação do psicólogo e a pesquisa em
psicologia clínica, se dá através de diversas ações. Neste sentido, para poder melhor
visualizar, descrevemos em três espaços estas ações, ressaltando que as mesmas são
articuladas e que uma sustenta as outras. Teremos assim, ações clínicas que são os
atendimentos psicológicos, ações de formação e a pesquisa.
1 - Ações clínicas
Atendimento Psicológico
O numero de atendimento psicológico vem aumentando a cada ano. No ano passado a media
mensal foi de 305 atendimentos. Na maioria dos casos são crianças e adolescentes, com
diversas psicopatologias. Na Clínica realizam-se:
- O atendimento psicológico individual e semanal, tanto para crianças, adolescentes,
como
para adultos;
- Entrevistas com pais ou responsáveis, estas se inserem no tratamento
da criança.
Ressaltamos que os atendimentos realizados por estagiários e extensionistas, são
supervisionados individual e semanalmente por um professor supervisor.
Além das demandas individuais, temos recebido em grande número demandas de escolas, de
instituições que lidam com questões da infância e adolescência, como, por exemplo, os
Conselhos Tutelares, a Vara da infância e da Juventude (instituição judiciária), Instituições
escolares e de saúde.
Atendimento psicológico a partir de demandas institucionais
A Clínica da Unijuí, devido a seu reconhecimento social na região, recebe diversas demandas
de diferentes instituições públicas para atendimento psicológico de crianças, adolescentes e
famílias. Este trabalho dá-se através de convênios institucionais discutidos e analisados
previamente com as instituições interessadas. Assim, temos:
Atendimento hospitalar e domiciliar
Caracteriza-se pelo atendimento psicológico a pacientes que estejam impossibilitados de
dirigir-se a Clínica. Esta modalidade de atendimento foi implantado a partir de pedidos tanto
de familiares como de instituições, particularmente hospitalares. Este tipo de paciente
apresenta especificidade tanto em relação à natureza da demanda como a nível operativo do
atendimento. Assim temos:
Atendimento psicológico domiciliar a pacientes idosos ou que estejam impedido de se
deslocarem até a clínica;
Atendimento psicológico a pacientes hospitalizados a pedido destes, de familiares ou por
indicação médica.
2 - Ações de formação:
Apresentação de caso
A apresentação de caso é uma atividade incluída dentro da formação do psicólogo na Clínica
de Psicologia da Unijuí. Nesta atividade cada estagiário tem por responsabilidade a
apresentação clinica de um caso. Esta apresentação é feita num espaço coletivo,
caracterizando-se como experiência importante de aprendizagem onde o estagiário expõe uma
apresentação de material clínico (construção ficcional) do caso para seus pares, ou seja, o
grupo de estagiários. Na medida que esta apresentação dá-se neste espaço coletivo permite
aos estagiários o testemunho de sua produção, como o compartilhamento de suas
interrogações e construções teóricas-clínicas que o trabalho clínico suscita. Esta atividade é
coordenada por um dos professores supervisores (com exceção do próprio) que não deve ser o
supervisor do estagiário), cuja função de alteridade permite acompanhar e articular as diversas
e às vezes desorganizadas construções teóricas que se realizam durante esta atividade. E
também permitir que as diversas interrogações fiquem sempre abertas de forma a continuar
sustentando o próprio trabalho.
Desta forma a apresentação de caso constitui-se num momento fundamental de construção
clínica, elaborando e formulando modos próprios e comuns de proceder deste trabalho,
através de um espaço de discussão interna e coletiva. É um dos lugares onde os
procedimentos da clínica são discutidos e progressivamente teorizados.
Supervisão
A supervisão faz parte do programa de formação do psicólogo na clínica da Unijuí. Cada
estudante estagiário tem supervisão semanal e individual. Na medida dos limites institucionais
tenta-se que a demanda de supervisão seja baseada na transferência, ou seja, que cada
estagiário possa escolher e endereçar sua demanda a um supervisor de sua escolha.
A supervisão é uma experiência especifica onde se trabalham os remanejamentos
identificatórios através da confrontação clínica e teórica.Trata-se de um espaço subjetivo que
permite ao estagiário comunicar o fruto de suas elaborações. É a partir da supervisão que o
estagiário se autoriza progressivamente a colocar-se na posição de psicólogo.
O supervisor na sua função de escuta permite ao estagiário supervisionando se desfazer das
idealizações e das ciladas narcísicas e ao mesmo tempo orientar a direção do tratamento.
Supervisão – área médica
Esta supervisão é realizada pelo médico, integrante da equipe da clínica. O estagiário pode
demandar uma supervisão ao professor- médico, no caso de crianças com suspeita de um
diagnóstico neurológico ou crianças que já chegam com tratamento medicamentoso. Para isto
é necessário que a demanda de supervisão tenha sido decidida com seu supervisor de estágio.
A função do professor-médico é esclarecer ao estagiário sobre as possíveis suspeitas
neurológicas, como os efeitos na criança da medicação (isto no caso da criança estar sendo
medicada) e orientar quanto a um diagnóstico diferencial.
Jornadas, conferências e palestras:
A jornadas da Clínica são realizadas uma vez por ano. Elas se caracterizam por serem
organizadas pela iniciativa dos próprios estagiários. Nela participam tanto professores,
supervisores e estagiários. A temática de cada Jornada surge a partir de interrogações
essenciais que cada grupo de estagiários se coloca no processo de sua prática clínica. Neste
sentido, as jornadas tem-se tornado uma marca dentro da Clínica, como um espaço de
discussão e construções teóricas-clínicas pontuais.
Estas jornadas são abertas ao público e tem se privilegiado pela participação de outras
clínicas universitárias. Desta forma existe uma troca de experiência, de interrogações e de
produções que especificam estas instituições.
Também se tem como prática a realização de conferências e palestras enfocando
temáticas clínicas que sejam ligadas às psicopatologias, ao manejo clínico, às possíveis
intervenções, os sintomas clínicos que se manifestam na contemporaneidade, etc.
Comissões de trabalho
Faz parte ainda da organização interna da clinica o trabalho em comissões, que são
compostas e coordenadas por estagiários. As comissões em funcionamento são as seguintes:
8 - COMISSÕES:
COMISSÃO DE PATRIMÔNIO E EVENTOS
A Comissão de Patrimônio e Eventos é responsável pelo controle, organização e
manutenção do patrimônio da Clínica, e também pela organização da Jornada da Clínica
realizada anualmente no mês de novembro. Diariamente integrantes da Comissão revisam as
salas
de
atendimento,
repondo
os
materiais
quando
necessário.
As reuniões são realizadas todas as quartas feiras, no horário das 17:00 as 19:00 h.
Componentes: Giovana da Rocha (coordenadora), Ana Alice Marques, Scheila Susani
Faistel, Aline Waslavick, Elisiane Tiecker, Camila Casali (coordenadora), Micheli Stefanello,
Claudia dos Santos, Débora Dreher.
COMISSÃO DE DIVULGACÃO DO SITE
A Comissão de Divulgação do Site da Clínica de Psicologia da Unijuí foi formada a
partir do primeiro semestre de 2004. Visa, junto com a Assessoria de Comunicação da Unijuí,
atualizar a página da Clínica, divulgando as diversas atividades realizadas por esta e seus
integrantes.
As reuniões são realizadas semanalmente, às quartas feiras, das 17:30 às 19:30h, em uma das
salas de reuniões da Clínica.
Componentes: Janice Zagonel (coordenadora), Sara Ferreira, Elisiane Andriguetto,
Raquel Raffaelli, Ruth Müller, Claudia Bourscheid, Sara Pelli.
COMISSÃO DE ESTUDOS
Cabe à Comissão de Estudos organizar os grupos de estudos, proporcionar espaços de
discussão, momentos de trocas de experiências clínicas e promover a escrita.
A forma de trabalho da Comissão de Estudos é a de sistematizar as discussões com cada
grupo de estudos que venha a se constituir na Clínica de Psicologia da Unijuí. Posteriormente,
as questões discutidas por cada grupo de estudos serão apresentadas para discussão com todos
os estagiários da Clinica de Psicologia, com o objetivo de compartilhar e promover a
articulação das práticas clínicas com a teoria psicanalítica.
A Comissão de estudos reúne-se semanalmente às sextas feiras a partir das 13:30 horas, tendo
por local de suas reuniões uma das salas de reunião da Clínica de Psicologia da Unijuí.
Componentes: Adriane Bitencourt (coordenadora), Tatiane Cabral, Daiana Della Flora,
Michele Vier, Laís Sartor, Vera Lucia Maehler, Angela Dill, Carmem Bottega,
CatiúciaMayer,
COMISSÃO
Prof
Colaborador:
Luis
DE
Fernando
Lofrano
de
Oliveira.
PUBLICAÇÕES
A comissão de publicações é responsável pela organização, elaboração e circulação
bimestral do informativo “Falando Nisso...”, que visa apresentar os frutos das interrogações
clínicas que circunscrevem nossa experiência.
As atividades realizadas pela comissão são: levantamento junto aos colegas acerca das
questões que mobilizam o trabalho clínico, discussão da temática proposta e de
colaboradores/escritores sugeridos e pensados pelo grupo em reunião geral, contato com os
referidos colaboradores convidando-os à participação, acompanhamento da diagramação do
jornal junto a Usina de Idéias, e de todos os detalhes que o cercam até sua finalização.
A comissão de Publicações conta com parceria junto a Usina de Idéias, responsável
pela diagramação e projeto gráfico do informativo, e Gráfica Unijuí, responsável pela
impressão do mesmo. O Falando Nisso... tem atualmente uma tiragem de 800 (oitocentos)
exemplares e possui grande circulação, sendo enviado para mais de 300 (trezentas) entidades
em Ijuí e região.
Componentes: Patrícia Fagundes (coordenadora), Rochelli Colossi, Elisiane Mazzarro,
Francieli de Souza, Ana Paula de Oliveira, Rossana da Cunha Alvo, Luiza Zorzo, Luciana
Côas, Tatiana Bertasso, Professora coordenadora: Tânia Borba.
COMISSÃO DO ANUÁRIO
O ato clínico realizado pelo estagiário é o objetivo maior da clínica- escola. Pode-se
afirmar isso sem desalojar o objetivo conjunto da formação do estagiário. Dessa forma, o ato
clínico que se realiza é concebido como real e não como experimentação. O paciente é
recebido como sujeito de seu tratamento, que tem alcances reais que precisam ser
dimensionados
na
supervisão,
no
estudo
e
na
pesquisa.
Esse dimensionamento implica uma demonstração clínica que precisa poder ser feita a cada
vez que seu aparecimento exigir, e essa demonstração precisa comportar uma forma escrita
que a capture e publique. A exigência do texto escrito está de acordo com o objetivo da
pesquisa na universidade, mas, mais ainda, com a constituição da memória que o ato clínico
produz
e
que
precisa
se
manter.
É dessa forma que foi definida a realizarão de um anuário da Clínica de Psicologia. Seu
objetivo é de se constituir num espaço de publicação da elaboração da atividade clínica
realizada a partir de seus estabelecimentos, e que seja meio de constituição da memória
histórica do trabalho realizado. Em suma, o anuário é para ser o resultado da publicação de
eventos clínicos que mantiveram em atividade cotidiana todo o trabalho da Clínica de
Psicologia.
Componentes: Claudia Farias (Coordenadora), Cristiane Gonçalves, Carla Gasparetto,
Lurdes Zimerman, Laiza Francielli Bortolini dos Santos, Prof Coordenador: Ubirajara
Cardoso de Cardoso
9 – EQUIPE DA CPU:
Nome das estagiárias
que ingressaram na
Clínica no 1ºsemestre de
2004
01- Angela Dill
02- Adriane F. Bitencourt
03040506070809-
Aline Wazlawick
Catiúcia Hardt Mayer
Claudia F. Borscheid
Claudia Farias
Elisiane Andrighetto
Giovana da Rocha
Janice Zagonel
10- Laís Sartor
11- Laiza Bortolini
12- Lourdes Mello Krüger
13- Patrícia V. F. da Silveira
14- Sara Ferreira
Extencionistas 1º semestre de
2004
01-Elisa Zottis
02 -Samira Ahmad Magalhães
03 -Teresinha L. Guberovich
Extencionistas 2º semestre de
2004
01- Amabile Rubim
02- Bruna Facco de Mello
03- Caroline Fogaça
04- Chaveli D. Brudna
05- Francieli Luppi
06- Keli Holz
07- Lidiene Superti
08- Márcia Langendorf
09- Euclésio Rambo
Nome
dasdas
estagiárias
Nome
estagiárias que
01- ingressaram
Anna Alice Marques
na Clínica no
02- Ana2ºsemestre
Paula de Oliveira
de 2004
03- Camila Zandoná Casalli
04- Carla Gasparetto
05-Carmem Bottega
06- Célia Regina Rodrigues
07- Claudia L. dos Santos
08- Cristiane dos Reis Gonçalves
09- Daiana M. Della Flora
10- Débora Dreher
11- Elisiane Mazzarro
12-Elisiane Tiecker
13-Francieli de Souza
14-Luciane Sauer Côas
15-Luiza S. Zorzo
16- Michele Cristina Vier
17-Michele Stefanello
18- Raquel Raffaelli
19 - Rochelli Colossi
20- Rossana da C. Arbo
21- Ruth Débora Müller
22- Sara Cristina Lopes Pellin
23- Sheila Susani Faistel
24-Tatiane Bertasso
25- Tatiane Cabral
26- Vera Lucia Maehler
Corpo docente (supervisores e pesquisadores)
No ano de 2004 a equipe da Clínica se constitui de 60 estagiários de psicologia
clínica, 3 estagiários extensionistas no primeiro semestre e 9 estagiários extensionistas no
segundo, 8 professores supervisores um dos quais ocupa também a função de Coordenador, e
2 secretários. O corpo docente é o seguinte:
- Ana M. S. Dias - Psicóloga, mestre em Educação nas Ciências (UNIJUI).
- Gustavo Héctor Brun – Psicólogo, Mestre em Psicologia Clínica (PUCCAMP).
- Cristian Giles – Psicóloga, Mestre em Psicanálise e Psicopatologia (Paris 13)
- Nilson Heidmann – Psicólogo, Especialista em Psicanálise na cultura: saber e ética.
(UNIJUI).
- Tania de Souza Borba – Psicóloga, mestre em Educação nas Ciências (UNIJUÍ).
- Helga Porsch – Neurologista Infantil.
- Ubirajara Cardoso – Psicólogo, especialista em atendimento clínico- ênfase psicanalítica
(UFRGS).
-Luis Fernando Lofrano de Oliveira – Psicólogo, Doutor em Psicanálise e Psicopatologia
(Universidade Paris 13- França).
10 - LEVANTAMENTO DE DADOS 2004:
1º Semestre de 2004
26 de Fevereiro à 31 de Março
Nº de Atendimentos
Março: 405
Nº de Pacientes
Nº de pacientes durante o
período (26/02/04 à 31/03/04)
Adultos
Crianças
Quantos encerraram o
tratamento
174
124  pacientes antigos
50  pacientes novos neste período
81
Masculino: 19
Feminino: 62
93
Masculino: 57
Feminino: 36
29
Adultos: 15
Masc.: 4
Fem.: 11
Quantos continuam vindo aos
atendimentos
Adultos: 66
Masc.:15
Agendaram a 1ª consulta
Crianças: 14
Masc.: 8
Fem.: 6
145
Crianças: 79
Fem.: 51
Masc.: 49
Total: 146
Novos: 83
Agendaram a 1ª consulta e
compareceram
Antigos: 63
Total: 50
Novos: 50
Agendaram a 1ª consulta e
Fem.: 30
Antigos: 0
Total: 96
Novos: 33
não compareceram
Antigos: 63
1º Semestre de 2004
01 de Abril à 31 de Abril
Nº de Atendimentos
Abril: 347
Nº de Pacientes
Nº de pacientes durante o
período (01/04/04 à 30/04/04)
Adultos
Crianças
Quantos encerraram o
tratamento
180
145  pacientes antigos
35  pacientes novos neste período
91
Masculino: 20
Feminino: 71
89
Masculino: 57
Feminino: 32
19
Adultos: 12
Masc.: 2 Fem.: 10
Quantos continuam vindo aos
atendimentos
Adultos: 79
Masc.: 18
Agendaram a 1ª consulta
Crianças: 7
Masc.: 3
Fem.: 4
161
Crianças: 82
Fem.: 61 Masc.: 54
Total: 48
Novos: 40
Agendaram a 1ª consulta e
compareceram
Fem.: 28
Antigos: 8
Total: 35
Novos: 31
Agendaram a 1ª consulta e
não compareceram
Antigos: 4
Total: 13
Novos: 9
Antigos: 4
1º Semestre de 2004
01 de Maio à 31 de Maio
Nº de Atendimentos
Maio: 345
Nº de Pacientes
Nº de pacientes durante o
período (01/05/04 à 31/05/04)
Adultos
Crianças
Quantos encerraram o
tratamento
201
161  pacientes antigos
40  pacientes novos neste período
97
Masculino: 23
Feminino: 74
104
Masculino: 65
Feminino: 39
38
Adultos: 21
Masc.: 5
Fem.: 16
Quantos continuam vindo aos
atendimentos
Adultos: 76
Masc.: 18
Agendaram a 1ª consulta
Crianças: 17
Masc.: 11
Fem.: 6
163
Crianças: 87
Fem.: 58 Masc.: 54
Total: 52
Novos: 46
Agendaram a 1ª consulta e
compareceram
Fem.: 33
Antigos: 6
Total: 40
Novos: 35
Agendaram a 1ª consulta e
não compareceram
Antigos: 5
Total: 12
Novos: 11
Antigos: 1
1º Semestre de 2004
01 de Junho à 31 de Junho
Nº de Atendimentos
Junho: 370
Nº de Pacientes
Nº de pacientes durante o
período (01/06/04 à 30/06/04)
Adultos
Crianças
Quantos encerraram o
tratamento
199
163  pacientes antigos
33  pacientes novos neste período
96
Masculino: 23
Feminino: 73
100
Masculino: 64
Feminino: 36
24
Adultos: 14
Masc.: 5 Fem.: 9
Quantos continuam vindo aos
atendimentos
Adultos: 82
Masc.: 18
Agendaram a 1ª consulta
Crianças: 10
Masc.: 6
Fem.: 4
172
Crianças: 90
Fem.: 64 Masc.: 58
Total: 45
Novos: 38
Agendaram a 1ª consulta e
compareceram
Antigos: 7
Total: 33
Novos: 28
Agendaram a 1ª consulta e
não compareceram
Antigos: 5
Total: 12
Novos: 10
.
Fem.: 32
Antigos: 2
1º Semestre de 2004
01 de Julho à 31 de Julho
Nº de Atendimentos
Julho: 240
Nº de Pacientes
Nº de pacientes durante o
período (01/07/04 à 31/07/04)
Adultos
Crianças
Quantos encerraram o
tratamento
176
172  pacientes antigos
4  pacientes novos neste período
86
Masculino: 18
Feminino: 68
90
Masculino: 58
Feminino: 32
11
Adultos: 8
Masc.: 3 Fem.: 5
Quantos continuam vindo aos
atendimentos
Adultos: 78
Masc.: 15
Agendaram a 1ª consulta
Crianças: 3
Masc.: 2
Fem.: 1
165
Crianças: 87
Fem.: 63 Masc.: 56
Total: 10
Novos: 9
Agendaram a 1ª consulta e
compareceram
Fem.: 31
Antigos: 1
Total: 4
Novos: 4
Agendaram a 1ª consulta e
não compareceram
Antigos: 0
Total: 6
Novos: 5
Antigos: 1
2º Semestre de 2004
02 de Agosto à 31 de Agosto
Nº de Atendimentos
Agosto: 563
Nº de Pacientes
Nº de pacientes durante o
período (02/08/04 à 31/08/04)
Adultos
Crianças
Quantos encerraram o
tratamento
304
165  pacientes antigos
139  pacientes novos neste período
138
Masculino: 27
Feminino: 111
166
Masculino: 103
Feminino: 63
75
Adultos: 29
Crianças: 46
Masc.: 19
Fem.: 10 Masc.: 28
Fem.: 18
Quantos continuam vindo aos
atendimentos
Adultos: 103
Masc.: 20
Agendaram a 1ª consulta
229
Crianças: 126
Fem.: 83 Masc.: 83
Total: 218
Novos: 172
Agendaram a 1ª consulta e
compareceram
Fem.: 43
Antigos: 45
Total: 139
Novos: 109
Agendaram a 1ª consulta e
não compareceram
Antigos: 29
Total: 79
Novos: 63
Antigos: 16
2º Semestre de 2004
01 de Setembro à 30 de Setembro
Nº de Atendimentos
Setembro: 539
Nº de Pacientes
Nº de pacientes durante o
período (01/09/04 à 30/09/04)
Adultos
Crianças
Quantos encerraram o
tratamento
276
229  pacientes antigos
47  pacientes novos neste período
126
Masculino: 30
Feminino: 96
150
Masculino: 98
Feminino: 52
42
Adultos: 27
Masc.: 3 Fem.: 24
Quantos continuam vindo aos
atendimentos
Adultos: 99
Masc.: 28
Agendaram a 1ª consulta
Crianças: 15
Masc.: 10
Fem.: 5
234
Crianças: 135
Fem.: 71 Masc.: 89
Total: 67
Novos: 62
Agendaram a 1ª consulta e
compareceram
Fem.: 46
Antigos: 5
Total: 47
Novos: 43
Agendaram a 1ª consulta e
não compareceram
Antigos: 4
Total: 20
Novos: 19
Antigos: 1
Dados obtidos no período de 01 de Setembro de 2004 até 30 de Setembro de
2004.
2º Semestre de 2004
01 de Outubro à 31 de Outubro
Nº de Atendimentos
Outubro: 482
Nº de Pacientes
Nº de pacientes durante o
período (01/10/04 à 31/10/04)
Adultos
Crianças
266
234  pacientes antigos
32  pacientes novos neste período
104
Masculino: 30
Feminino: 74
126
Masculino: 84
Feminino: 42
Adolescente
36
Masculino: 19
Quantos encerraram o
tratamento
Adultos: 12
Masc.: 5
Fem.: 7
Quantos continuam vindo aos
atendimentos
Adultos: 92
Masc.: 25
Fem.: 67
Agendaram a 1ª consulta
Feminino:17
35
Crianças: 17
Masc.: 10
Fem.: 7
231
Crianças: 109
Masc.: 74
Fem.: 35
Total: 48
Novos: 41
Agendaram a 1ª consulta e
compareceram
Adolescente: 6
Masc.: 2
Fem.: 4
Adolescente: 30
Masc.: 17
Fem.: 13
Antigos: 7
Total: 32
Novos: 28
Antigos: 4
Agendaram a 1ª consulta e
não compareceram
Total: 16
Novos: 13
Antigos: 3
2º Semestre de 2004
01 de Novembro 30 de Novembro
Nº de Atendimentos
Novembro: 431
Nº de Pacientes
Nº de pacientes durante o
período (01/11/04 à 30/11/04)
Adultos
Crianças
266
231  pacientes antigos
35  pacientes novos neste período
112
Masculino: 34
Feminino: 78
116
Masculino: 78
Feminino: 38
Adolescente
38
Masculino: 20
Quantos encerraram o
tratamento
Adultos: 30
Masc.: 8
Fem.: 22
Quantos continuam vindo aos
atendimentos
Adultos: 82
Masc.: 26
Fem.: 56
Agendaram a 1ª consulta
Feminino: 18
56
Crianças: 21
Masc.: 13
Fem.: 8
210
Crianças: 95
Masc.: 65
Fem.: 30
Total: 74
Novos: 68
Agendaram a 1ª consulta e
compareceram
Adolescente: 5
Masc.: 1
Fem.: 4
Adolescente: 33
Masc.: 19
Fem.: 14
Antigos: 6
Total: 35
Novos: 31
Antigos: 4
Agendaram a 1ª consulta e
não compareceram
Total: 39
Novos: 37
Antigos: 02
2º Semestre de 2004
01 de Dezembro à 31 de Dezembro
Nº de Atendimentos
Dezembro: 356
Nº de Pacientes
Nº de pacientes durante o
período (01/12/04 à 31/12/04)
Adultos
Crianças
234
210  pacientes antigos
24  pacientes novos neste período
98
Masculino: 30
Feminino: 68
100
Masculino: 69
Feminino: 31
Adolescente
36
Masculino: 20
Quantos encerraram o
tratamento
Adultos: 9
Masc.: 3
Fem.: 6
Quantos continuam vindo aos
atendimentos
Adultos: 84
Masc.: 26
Fem.: 58
Agendaram a 1ª consulta
Feminino: 16
18
Crianças: 8
Masc.: 5
Fem.: 3
216
Crianças: 99
Masc.: 65
Fem.: 34
Total: 36
Novos: 35
Agendaram a 1ª consulta e
compareceram
Adolescente: 1
Masc.: 0
Fem.: 1
Adolescente: 33
Masc.: 17
Fem.: 16
Antigos: 01
Total: 24
Novos: 23
Antigos: 01
Agendaram a 1ª consulta e
não compareceram
Total: 12
Novos: 12
26/02/04 a 31/12/04
Número de atendimentos durante o ano
Número de pacientes durante o período
Antigos
Novos
Adultos
Crianças
Adolescente
Encerraram tratamento
Continuam vindo aos atendimentos
Agendaram primeira consulta
Compareceram
Não Compareceram
4078
2273
1834
439
1029
1134
110
347
1926
744
439
305
Antigos: 0
Número de atendimentos durante o ano de 2004
4078
Número de atendimentos
durante o ano
Número de pacientes
durante o período
Antigos
Novos
Adultos
Crianças
2273
Adolescente
1926
1834
Encerraram tratamento
Continuam vindo aos
atendimentos
Agendaram primeira
consulta
Compareceram
1134
1029
Não Compareceram
744
439
347
439
305
110
1
26/02/04 a 31/12/04
11 - Discussão do levantamento de dados de 2004
Carla Gasparetto1
Cláudia Farias
1
Estagiárias da CPU integrantes da Comissão do Anuário.
A Clínica de Psicologia da UNIJUI tem doze anos de trabalho na
comunidade e dentro da universidade de Ijuí. Seu trabalho é considerado
referência para a população local como para a região.
Ela funciona praticamente o ano inteiro, com exceção do mês de
fevereiro. Ultimamente devido à demanda de atendimento psicológico temos
aumentado os dias e horários de atendimentos, passando inclusive a funcionar
para além do horário estabelecido.
A clientela que procura atendimento psicológico é bastante diversa,
abrangendo uma população de variado poder aquisitivo, encaminhada através de
diferentes instituições (Conselho Tutelar, Instituto de Menores e principalmente
escolas), médicos (principalmente neurologistas) e há também os que procuram
tratamento por livre iniciativa.
Nos quadros anteriores foi feito um levantamento de dados da Clínica de
Psicologia da Unijuí referente ao número de atendimentos do ano de 2004. Estes
funcionam como um registro quantitativo dos pacientes, considerando o número
de atendimentos dentro do período de um mês. São computados o número de
pacientes novos que se dirigem a clínica, pacientes antigos que permanecem em
atendimento, o número de crianças e adultos e ainda aqueles que marcam a
primeira consulta mas não comparecem.
O que isso interessa para o Anuário? Sabe-se que a Comissão do Anuário
tem como objetivo poder analisar e discutir tudo aquilo que caracteriza a CPU,
ou seja, todo material clínico que foi produzido durante o ano. Assim,
entendemos que os dados da clínica, mesmo sendo uma necessidade burocrática
obedecendo a uma norma institucional, oferecem elementos que podem ser
discutidos e considerados como material de estudo. Isso porque consideramos,
segundo Lacan que:
“A história não é o passado. A história é o passado na medida em que é
historiado no presente _ historiado no presente porque foi vivido no passado”.
(LACAN, Livro 1, 1953 – 1954. p. 21).
Para tanto, realizamos alguns encontros com Luis Fernando Lofrano de
Oliveira, professor do DFP e supervisor da Clínica de Psicologia da Unijuí, a
fim de discutir os referidos dados. O objetivo inicial era discutir os dados
quantitativos do numero de atendimentos, o percentual de meninos e meninas,
crianças e adultos, ou seja, os dados enquanto registros estatísticos.
Para nossa surpresa a discussão iniciou com a questão da falta do registro
de adolescentes, pois esse era um dado inexistente. Porque faltava o registro de
adolescentes? Há dificuldade em fazer esse registro? Então, os dados dos
adolescentes passaram a ser computados separadamente das crianças e dos
adultos.Um dos motivos que nos permitem pensar a falta desse registro é que
anterior ao trabalho da Comissão do Anuário, o registro dos dados era elaborado
pelos secretários da Clínica a partir de um modelo padrão, agora então, estes
dados passam a fazer parte da discussão clínica e aberto a modificações.
Levamos isso para a discussão com todos os Estagiários da Clínica em
reunião geral. Decidimos que cada um indicaria os adolescentes que atende. E
junto com esse pedido levantamos algumas questões: como se determina o
período da adolescência? Sabemos o quanto que a adolescência é um discurso
subjetivo mas até que ponto é independente da questão cronológica? Como
registrar nas fichas algo subjetivo? Como normatizar por idade a adolescência?
Os estagiários, por sua vez, não apresentaram maiores dificuldades em
indicar os adolescentes que estão em atendimento. Como critério utilizaram os
limites cronológicos associados ao material clínico trazido pelos pacientes. Isso
foi novamente discutido em outra reunião geral, quando alguns estagiários
puderam contribuir com relatos de fragmentos de caso que auxiliaram nesse
registro dos adolescentes. Para tanto, foi necessário não ficar colado somente na
posição discursiva e considerar a questão cronológica.
Ainda
abordando
questões
referentes
às
fichas,
destacamos
a
denominação de pacientes novos e pacientes antigos. Surge então novamente
uma questão referente ao tempo lógico e cronológico: depois de quanto tempo
consideramos um paciente como antigo? Essas considerações não têm como não
estarem atreladas ao tempo lógico, contudo não se prende somente a isso, pois
considerando que antigo pode ser um significante que remete a algo da ordem
unicamente temporal, portanto compreendemos que pacientes antigos são os
pacientes em atendimento.
Por que pacientes em atendimento? Essa questão foi levantada pela
diferenciação de tratamento e atendimento. Por que nem todas as pessoas que
procuram a Clínica de Psicologia estão buscando um tratamento a longo prazo,
algumas trazem questões pontuais para serem atendidas naquele momento.
Sabemos que não é uma questão fácil saber quem está em tratamento ou quem
busca atendimento, em vista da formação de cada estagiário e da própria
compreensão do que é um tratamento. Questionamos a afirmação de que todos
os pacientes estão em tratamento, tanto na Clínica de Psicologia da Unijuí
quanto em qualquer outro atendimento clínico, assim, optou-se por pacientes em
atendimento.
Também compreendemos que a ficha é responsabilidade do estagiário e
um elemento fundamental para o registro e organização dos dados referidos
anteriormente. Considerando sua importância desvinculamos estes registros do
serviço burocrático compreendido como uma função de secretaria e distante do
nosso trabalho, na medida em que qualquer instituição se alicerça nessas
instâncias normativas. Essa discussão visou compreender a organização da
instituição articulando o trabalho clínico com tudo aquilo que está instituído,
como normas, registro de dados, o próprio regimento...
Assim, como trabalhar com o interesse da instituição? Compreendendo
que o burocrático também faz parte da nossa prática e serve de registro daquilo
que é produzido na Clínica, e sua escrita nos é autorizada justamente pela barra
da castração é que nos é permitido reescrever a instituição, entendendo que:
“ _ o fato de que o sujeito revive, rememora, no sentido intuitivo da palavra, os
eventos formadores da sua existência, não é, em si mesmo, tão importante. O
que conta é o que ele disso reconstrói.” (LACAN, Livro 1, 1953 – 1954. p.22)
BIBLIOGRAFIA:
LACAN, JACQUES. O Seminário: Livro 1 : Os Escritos técnicos de Freud.
[1953-1954]. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Edição. 1986.
12 – CRONOGRAMA DAS REUNIÕES E APRESENTAÇÕES DE CASO:
REUNIÕES MARÇO
1º Semestre de 2004
11H e 10 min
25/02/04 (Quarta-feira)
Reunião com a coordenadora da
CPU e estagiários (T I e II)
03/03/04 (Quarta-feira)
Apresentação de Caso
ESTAG: Keli...........…….....
PROF.COORD: Ubirajara
05/03/04 (Sexta-feira)
Apresentação de Caso
ESTAG: Deise ....................
PROF.COORD: Gustavo
10/03/04 (Quarta-feira)
REUNIÃO GERAL
12/03/04 (Sexta-feira)
Apresentação de Caso
ESTAG: Fernanda B...............
PROF.COORD: Tânia
17/03/04 (Quarta-feira)
Apresentação de Caso
ESTAG: Samira....................
PROF.COORD: Nilson
REUNIÕES ABRIL
1º Semestre de 2004
11H e 10 min
07/04/04 (Quarta-feira)
Apresentação de Caso
ESTAG: Catiúcia.................
PROF.COORD: Luis Fernando
14/04/04 (Quarta-feira)
Reunião Geral
16/04/04 (Sexta-feira)
Apresentação de Caso
ESTAG: Janice...................
PROF.COORD: Tania
28/04/04 (Quarta-feira)
Apresentação de Caso
ESTAG: Adriane...............
PROF.COORD: Cristian
19/03/04 (Sexta-feira)
Apresentação de Caso
ESTAG: Terezinha..................
PROF.COORD: Luis Fernando
24/03/04 (Quarta-feira)
Reunião do Conselho da Clínica
26/03/04 (Sexta-feira)
Reunião Geral
31/03/04 (Quarta-feira)
Reunião do Conselho da Clínica
30/04/04 (Sexta-feira)
Reunião do Conselho da Clínica
REUNIÕES MAIO
1º Semestre de 2004
11H e 10 min
05/05/04 (Quarta-feira)
Apresentação de Caso
ESTAG: Patrícia
PROF.COORD: Nilson
07/05/04 (Sexta-feira)
REUNIÃO GERAL
REUNIÕES JUNHO
1º Semestre de 2004
11H e 10 min
02/06/04 (Quarta-feira)
REUNIÃO GERAL
04/06/04 (Sexta-feira)
Apresentação de Caso
ESTAG: Laiza
PROF.COORD: Luis Fernando
12/05/04 (Quarta-feira)
REUNIÃO DOS SUPERVISORES
14/05/04 (Sexta-feira)
Apresentação de Caso
ESTAG: Laís
PROF.COORD: Cristian
09/06/04 (Quarta-feira)
Apresentação de Caso
ESTAG: Lurdes
PROF.COORD: Ubirajara
19/05/04 (Quarta-feira)
Reunião do Conselho da Clínica
16/06/04 (Quarta-feira)
REUNIÃO DOS SUPERVISORES
21/05/04 (Sexta-feira)
Apresentação de Caso
ESTAG: Sara
PROF.COORD: Luis Fernando
18/06/04 (Sexta-feira)
Apresentação de Caso
ESTAG: Aline
PROF.COORD: Tania
26/05/04 (Quarta-feira)
Apresentação de Caso
ESTAG: Claudia Farias
PROF.COORD: Ubirajara
23/06/04 (Quarta-feira)
Reunião do Conselho da Clínica
28/05/04 (Sexta-feira)
Apresentação de Caso
ESTAG: Giovana
PROF.COORD: Gustavo
30/06/04 (Quarta-feira)
Apresentação de Caso
ESTAG: Claudia B
PROF.COORD: Gustavo
REUNIÕES AGOSTO
REUNIÕES JULHO
1º Semestre de 2004
11H e 10 min
2º Semestre de 2004
11H e 10 min
02/07/04 (Sexta-feira)
Apresentação de Caso
ESTAG: Elisiane
PROF.COORD: Tania
04/08/04 (Quarta-feira)
REUNIÃO GERAL
07/07/04 (Quarta-feira)
REUNIÃO GERAL
06/08/04 (Sexta-feira)
REUNIÃO GERAL (Confraternização)
09/07/04 (Sexta-feira)
REUNIÃO DE ESTUDOS
Temática: Encaminhamento / Desligamento
11/08/04 (Quarta-feira)
Apresentação de Caso
ESTAG: Lidiene
PROF.COORD: Ubirajara
Professora: Cristian e Ana Dias
14/07/04 (Quarta-feira)
REUNIÃO DO CONSELHO
REUNIÃO DE ESTUDOS
Temática: Pagamento
16/07/04 (Sexta-feira)
Reunião dos Supervisores com professores do
Laboratório de
Psicologia Genética
REUNIÃO DE ESTUDOS
Temática: Pagamento
13/08/04 (Sexta-feira)
Apresentação de Caso
ESTAG: Keli
PROF.COORD: Gustavo
18/08/04 (Quarta-feira)
REUNIÃO DO CONSELHO DA
CLÍNICA
Reunião das Comissões
21/07/04 (Quarta-feira)
REUNIÃO DE ESTUDOS
Temática: Pagamento
20/08/04 (Sexta-feira)
Apresentação de Caso
ESTAG: Amábile
PROF.COORD: Luis Fernando
23/07/04 (Sexta-feira)
REUNIÃO DE ESTUDOS
Temática: Pagamento
25/08/04 (Quarta-feira)
Reunião dos Supervisores
Reunião de Estudos
27/08/04 (Sexta-feira)
Apresentação de Caso
ESTAG: Márcia L.
PROF.COORD: Cristian
REUNIÕES SETEMBRO
2º Semestre de 2004
11H e 10 min
REUNIÕES OUTUBRO
2º Semestre de 2004
11H e 10 min
01/09/04 (Quarta-feira)
REUNIÃO GERAL
01/09/04 (Quarta-feira)
REUNIÃO GERAL
08/09/04 (Quarta-feira)
REUNIÃO DOS SUPERVISORES
08/09/04 (Quarta-feira)
REUNIÃO DOS SUPERVISORES
10/09/04 (Sexta-feira)
Apresentação de Caso
ESTAG: Chaveli
PROF.COORD: Tania
10/09/04 (Sexta-feira)
Apresentação de Caso
ESTAG: Chaveli
PROF.COORD: Tania
15/09/04 (Quarta-feira)
Apresentação de Caso
ESTAG: Caroline
PROF.COORD: Nilson
15/09/04 (Quarta-feira)
Apresentação de Caso
ESTAG: Caroline
PROF.COORD: Nilson
17/09/04 (Sexta-feira)
Apresentação de Caso
ESTAG: Fransiele
PROF.COORD: Luis F.
17/09/04 (Sexta-feira)
Apresentação de Caso
ESTAG: Fransiele
PROF.COORD: Luis F.
22/09/04 (Quarta-feira)
REUNIÃO DO CONSELHO
24/09/04 (Sexta-feira)
Apresentação de Caso
ESTAG: Euclésio
PROF.COORD: Gustavo
29/09/04 (Quarta-feira)
Apresentação de Caso
ESTAG:Amábile
PROF.COORD: Ubirajara
22/09/04 (Quarta-feira)
REUNIÃO DO CONSELHO
24/09/04 (Sexta-feira)
Apresentação de Caso
ESTAG: Euclésio
PROF.COORD: Gustavo
29/09/04 (Quarta-feira)
Apresentação de Caso
ESTAG: Amábile
PROF.COORD: Ubirajara
REUNIÕES NOVEMBRO
2º Semestre de 2004
11H e 10 min
03/11/04 (Quarta-feira)
Apresentação de Caso
ESTAG: Elisiane T
PROF.COORD: Luis Fernando
10/11/04 (Quarta-feira)
REUNIÃO GERAL
12/11/04 (Sexta-feira)
Apresentação de Caso
ESTAG: Raquel
PROF.COORD: Cristian
17/11/04 (Quarta-feira)
REUNIÃO DO CONSELHO DA CLÍNICA
19/11/04 (Sexta-feira)
JORNADA DA CLÍNICA
24/11/04 (Quarta-feira)
REUNIÃO DOS SUPERVISORES
26/11/04 (Sexta-feira)
Apresentação de Caso
ESTAG: Elisiane M
PROF.COORD: Gustavo
REUNIÕES DEZEMBRO
2º Semestre de 2004
11H e 10 min
01/12/04 (Quarta-feira)
REUNIÃO DO CONSELHO DA CLÍNICA
03/12/04 (Sexta-feira)
REUNIÃO GERAL
08/12/04 (Quarta-feira)
Apresentação de Caso
ESTAG: Carla
PROF.COORD: Ubirajara
10/12/04 (Sexta-feira)
Apresentação de Caso
ESTAG: Débora
PROF.COORD: Cristian
15/12/04 (Quarta-feira)
Apresentação de Caso
ESTAG: Fransiele S
PROF.COORD: Luis Fernando
17/12/04 (Sexta-feira)
Apresentação de Caso
ESTAG: Daiana
PROF.COORD: Tania
22/12/04 (Quarta-feira)
Apresentação de Caso
ESTAG: Luciana
PROF.COORD: Nilson
Férias de 24/12/04 a 02/01/05
13 –REGISTRO DAS APRESENTAÇÕES DE CASO:
Estagiário: Euclésio Rambo
Supervisor: Tânia Borba
A apresentação deste caso foi motivada por questões referentes à resistência e ao
encaminhamento a partir da escola.
A primeira questão discutida versou sobre o sofrimento da criança: havia ali um
sofrimento, um sintoma? Não se estaria acolhendo o encaminhamento da escola, a partir de
um modelo pedagógico que deseja “controlar” ou até “normalizar” a criança, comprometendo,
assim, a escuta do sujeito? Por outro lado, o próprio questionamento sobre o encaminhamento
da escola pode se colocar como resistência para a escuta.
Isso levou à discussão sobre não dirigir a atenção para algo especifico, mas manter a
“atenção uniformemente suspensa”, que também não se deixa tomar por uma questão a
priori, como a do encaminhamento, mas que escuta o sujeito.
Estagiária: Laiza Bortolini
Supervisora: Cristian Dias
Foi apresentado um caso que aparentemente havia chegado a um impasse em relação à
transferência e quanto à combinação do pagamento das sessões. Não havia inicialmente
constatação de uma demanda de tratamento, a não ser um vago pedido de ser escutado por
um saber psicanalítico.
Evidentemente a condição de aluna-estagiária foi interrogada por isso, o que
determinou a resistência e a dificuldade de combinar um valor para o pagamento das sessões.
Apesar disso, na sessão anterior à data de apresentação do caso, houve uma combinação e a
paciente pagou todas as sessões a que tinha vindo. Nessa sessão, em resposta a uma pergunta
da paciente quanto à forma do pagamento, a estagiária usou a palavra “início”, que na
discussão ocasionou a hipótese de que nesse momento tenha havido um início de tratamento.
A discussão do material clínico girou em torno de um diagnóstico de estruturação e
transferência histérica, isso devido à posição em que a estagiária foi colocada desde o
primeiro momento na relação com a paciente. Era característica disso a sedução acompanhada
de destituição de saber do lugar da estagiária, que era reconhecida como aprendiz. Não deixou
de ser observado que a profissão da paciente, ligada a posição de saberes, tanto como o que
falava sobre o saber sexual sugeriam também essa hipótese diagnóstica.
Por alguma razão, para o que foi recomendado um retorno à supervisão, a estagiária
trouxe o caso com a impressão de que haveria uma interrupção, pois sentiria “um ar de
conclusão pairando na sessão” e que a paciente não voltaria mais. Contrariamente a essa
expectativa, a paciente continua vindo e paga agora por cada sessão.
Estagiária: Claudia Farias
Supervisor: Gustavo H. Brun
Foi apresentado um caso cuja discussão girou em torno da evidencia de um sintoma
conversivo num homem, sugerindo um diagnóstico de histeria masculina. O sintoma
conversivo (exames médicos refutaram qualquer causa orgânica), embora fosse limitador,,
caracterizava para o paciente um situação de indiferença ( a “bela indiferença histérica” como
disse Charcot) e de gozo devido aos cuidados de que era objeto. Essa situação determinava a
sua relação com seu pai e com uma série de profissionais mulheres, e se podia interrogar se
não era assim que uma questão sobre o que é ser mulher? se colocava. Teve lugar na
discussão a passagem que fez a estagiária ligar para o paciente em razão dele ter faltado à sua
sessão. Possivelmente, nesse momento, tenha se invertido a demanda de quem solicitava
tratamento e que a estagiária tenha respondido à sedução com a qual o paciente lida com às
mulheres que o cuidam.
A questão do pagamento das sessões também foi debatida. Tendo se podido
determinar essa combinação com o paciente e não com seu pai, que normalmente resolvia
sobre isso, visto que os sintomas da neurose eram usados como justificativa de incapacidade,
pareceu haver uma possibilidade de modificação de posição da enunciação do paciente,
apontando um engajamento próprio do tratamento. Entretanto isso não se deu, pois,
aparentemente por uma resolução paterna, o tratamento se interrompeu. Levantou-se a
possibilidade de que o valor do pai era sustentado pelo sintoma d filho.
Estagiária: Laís Sartor
Supervisor: Gustavo H. Brun
Selecionei este caso para apresentação, devido à dificuldade de perceber a implicação
do paciente em seu próprio discurso. Sua fala era rígida por uma constante queixa bem como
um pedido de reconhecimento.
Não foi complicado fazer a hipótese de que se tratava de um discurso histérico,
confirmado pelo pedido de reconhecimento de sua posição feminina. Um pedido que a
reconhecesse enquanto mulher, pois, ela consegue apenas se posicionar como mãe, fazendo
uma diferenciação entre mãe e mulher.
Durante discussão do caso, concordou-se ser um discurso histérico que se sustenta na
família, ou seja, a paciente falava sempre fazendo referência aos filhos (como mãe) e ao
marido (como esposa e não mulher) e parecia excluir-se de sua própria história.
Na apresentação do caso, pode-se perceber que na referência ao outro (família) que ela
autorizava-se falar de si.
Após a discussão e retomado o atendimento, pude ouvir sua fala, bem como respeitei a
interrupção do tratamento quando o paciente anunciou “parar por um tempo” por uma
dificuldade relacionada a seus filhos. Essa dificuldade ou parada pode ser relacionada não à
seus filhos, mas a sua posição e seu discurso que passava de mãe e esposa para uma posição
discursiva de mulher. Neste momento, pede uma “parada”, um “tempo”.
Neste caso, o sujeito que falava, o fazia pelo discurso de outros, mas amarrado e
sustentado por ela, mais precisamente, por seu sobrenome, o qual é um significante em seu
discurso. E, justamente quando a paciente se implicou em sua fala, posso ousar, faz
transferência, a resistência se instala e leva a paciente a não vir mais ao tratamento.
14 – Projetos Gerais:
Os projetos da clínica são coordenados por um professor supervisor, com
a monitoria de um estagiário.
Os projetos em desenvolvimento são:
A pesquisa na Clínica
Tem por objetivo implementar a pesquisa, a partir do banco de dados de
dados produzido pela experiência da clínica. E este projeto é desenvolvido
pela equipe de estagiários extensionistas.
Relações interinstitucionais:
Pretende-se, com este projeto, demarcar as especificidades e singularizar
a demanda de cada uma das instituições conveniadas com a clínica (
Fórum – Ijuí, IMI, Fórum interinstitucional de saúde mental –Ijuí)
Publicações
Tem por objetivo promover a divulgação dos trabalhos do Curso de
Psicologia, em especial da Clínica de Psicologia da UNIJUÍ, na comunidade
na qual se insere.
15 – Interdisciplinariedade na CPU
15.1 - Anotações acerca da Interdisciplinaridade: Psicologia Genética e a Clínica
Psicanalítica1
Làla Catarina Lenzi Nodari2
A interdisciplinaridade permite que se faça o questionamento acerca da
fragmentação/segmentação dos diferentes campos de conhecimento, partindo de uma procura
de convergências entre várias epistemologias, integrando campos de conhecimento.
A interdisciplinaridade não deve anular o campo específico de investigação, a ação e a
produção de conhecimento no interior de cada um, mas permitir a abertura do campo
particular, para pontos de união e diferenciação.Isso se faz necessário para descobrir os
pontos ocultos das áreas onde se possa estabelecer as conexões possíveis, ultrapassando os
limites de cada especialidade para se beneficiar com as contribuições de outros campos. A
interconexão possível, é causa e efeito da interdisciplinaridade a qual permite a superação das
fronteiras disciplinares em projetos, como é o caso das discussões que ocorrem na presente
jornada.
O tema em questão está referido às convergências entre o enfoque cognitivo, presente
na Psicologia Genética e a Psicanálise. Isso me suscita a pergunta: É possível separar o
sujeito cognoscente do sujeito desejante? As mobilizações do sujeito frente ao conhecimento
são a própria mobilização do sujeito na vida. Portanto, neste momento não se trata de buscar
onde começam ou terminam Piaget ou Freud/Lacan. O ser humano é um organismo vivo,
sujeito da inteligência e do desejo de ser e de aprender, o que permite a movimentação do
Inconsciente ao encontro da consciência na produção do conhecimento, ou seja, na recepção
do desejo e da investigação acerca da construção do conhecimento sistemático/científico.
Toda a ação do sujeito é lógica e desejante.
No que concerne à dimensão cognitiva, as
funções presentes estão relativas ao objetivar, generalizar, ordenar, classificar... O desejo tem
1
Texto produzido para Jornada da Clínica de Psicologia da UNIJUI, em 21.11.2003.
Professora do Departamento de Filosofia e Psicologia, Mestre em Psicologia da Educação, Doutoranda em
Educação.
2
uma lógica subjetivante que tende à diferenciação e à singularização. Porém nenhum
pensamento no plano intelectual pode deixar de estar referido a uma categoria objetiva, assim
como aquilo que cada um pensa sobre si refere-se a uma categoria objetiva. As operações
cognitivas tratam das relações entre o sujeito cognoscente e os objetos do e para o
conhecimento, enquanto as operações da ordem do desejo vem da estrutura de linguagem do
sujeito.
Sabemos não ser possível fragmentar o sujeito. A esse respeito, Alicia Fernandez 1 diz
que em qualquer atitude de observação de uma pessoa, pode-se discriminar (mas só
teoricamente) o processo objetivante do subjetivante, sendo que a soma de ambos os
processos é o ato que resulta, portanto acredito ser possível a interdisciplinaridade entre a
clínica psicanalítica e a psicologia genética.
A psicologia genética tem como método de investigação o denominado Método
Clínico que nos permite teoricamente produzir pesquisas para a construção de novos
conhecimentos acerca do aspecto intelectual. Para o desenvolvimento de um campo de
conhecimento é importante preservar os limites de ação investigativa de uma disciplina. Estes
conhecimentos, numa perspectiva interdisciplinar tornam-se recursos necessários
à
compreensão do sujeito humano em situações pedagógicas e/ou clínicas, articulando no caso
em questão, as dimensões cognitivas e as afetivas.
A respeito do Método Clínico, Piaget dizia que procurava estabelecer com os sujeitos
conversas semelhantes à entrevistas clínicas com o objetivo de descobrir o processo de
raciocínio subjacente às respostas. Desses procedimentos retiramos basicamente duas
condições, sendo que uma refere-se à avaliação mesma do desenvolvimento cognitivo,
produzidas na investigação acerca dos modos de resolver problemas relativos à determinadas
noções intelectuais, que nos permitem ver o sujeito epistemológico, filogenético. Esta noções
já estão consagradas do ponto de vista científico (relativa á epistemologia dos conhecimentos
propriamente ditos, como número, espaço, tempo...); isso decorre de uma interpretação geral
da realidade dos meios disponíveis e dos conhecimentos específicos que intervêm em uma
resolução de problemas (...) e decorrem de uma epistemologia do sujeito (...) centrada na
compreensão da realidade2 (INHELDER & CELLÉRIER, P. 7 e 8). A outra está referida à
história de cada sujeito, o sujeito psicológico, “visto” em uma ótica ontogenética, onde os
1
2
Em A Inteligência Aprisionada.
Grifo meu
conhecimento ativados são essencialmente particulares e os modos de utilizá-los são
fortemente individualizados (idem, ibidem, p. 8)
Atualmente continua-se a trabalhar em ambas as óticas. Aquela de produção de novos
conhecimentos acerca do sujeito epistêmico, como sujeito de um conhecimento normativo e
do sujeito psicológico individual, buscando revelar a dinâmica da conduta do sujeito
(INHELDER & CELLÉRIER, P. 9). Ambas as análises são legitimamente complementares
(idem, ibidem, p. 9), porém o sujeito psicológico, para o caso presente nos interessa mais, pois
pode se ver seus processos de atividade na construção do conhecimento universal e de si
próprio, dos significados que atribui às experiências, visualizando o sujeito com os fins e
valores que atribui. Temos aqui um processo de individualização do conhecimento. Isso
implica em que as condutas de um sujeito particular nem sempre são do mesmo tipo que
aquelas que chamavam a atenção no estudo do sujeito epistêmico, (idem, ibidem p. 9 e 10)
pois aqui o que entra em questão é o que faz sentido para uma criança em particular.
ALGUMAS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS SOBRE O TEMA
 BRANDÃO DA LUZ, José Luís, Jean Piaget e o sujeito do conhecimento, Lisboa, Instituto
Piaget.
 BARBOSA, Derly, Dialética e Educação: A formação do sujeito interdisciplinar, Osasco, São
Paulo, Revista UNIFIEO, nº 2.
 CORIAT, Elsa, Psicanálise e Clínica de Bebês, Porto Alegre, Artes e Ofícios.
 DOLLE, Jean Marie, De Freud a Piaget, Lisboa, Ed. Moraes.
 -------------------------, Para Além de Freud e Piaget: Referências para novas perspectivas em
Psicologia, Petrópolis, Vozes.
 DOLLE & BELLANO, Essas crianças que não aprendem, Petrópolis, Vozes.
 ESCRITOS DA CRIANÇA, Centro Lydia Coriat, Porto Alegre, nº 4.
 FERNANDEZ, Alicia, La Inteligência Atrapada, Buenos Aires, Ed. Nueva Visión.
 FERREIRO, Emilia, Atualidade de Jean Piaget, Porto Alegre, ArtMed.
 INHELDER & CELLÉRIER, O desenrolar das descobertas da criança: um estudo sobre as
microgêneses cognitivas, Porto Alegre, ArtMed.
 LAJONQUIERE, Leandro, De Piaget a Freud, Petrópolis, Vozes.
 LEITE, Luci et alii, Piaget e a Escola de Genebra, São Paulo, Cortez Editora.
 MACEDO, Lino, Inconsciente e recalcamento cognitivo, in; Macedo, Lino, Ensaios
Construtivistas, São Paulo, Casa do Psicólogo.
 ----------------------, Epistemologia Construtivista e psicopedagogia, in: Sargo, Claudete et alii,
A práxis psicopedagógica brasileira, São Paulo, ABPp.
 MOKREJS, Elisabete, Epistemologia Genética e Psicanálise – Reflexões e Resenhas,
Osasco, São Paulo, Revista UNIFIEO, nº 1.
 PERRAUDEAU, Michel, Piaget hoje: respostas a uma controvérsia, Lisboa, Instituto Piaget.
 PIAGET, Jean, Inconsciente afetivo e inconsciente cognitivo,
in:
Problemas de
Epistemologia Genética, Lisboa, Dom Quixote.
 --------------------, La psychanalise et ses rapports avec la psychologie de l’enfant. Bulletin de
la Societé Alfred Binet (1920)
 SIMÃO, Lívia Mathias et alii, Noção de objeto, concepção de sujeito: Freud, Piaget e
Boesch, São Paulo, Casa do Psicólogo.
 WADSWORTH, Barry J., Inteligência e afetividade da criança na teoria de Piaget, São
Paulo, Pioneira.
15.2 - Interdisciplinaridade na Clínica Infantil: Psicanálise e Método Clínico
Cláudia Farias1
“O
olhar
clínico
sobre
as
dificuldades
com
a
aprendizagem precisa continuar a ser clínico, como
observador de um sujeito inteiro e contextualizado, e não
clínico porque acontece num espaço de uma clínica”.
Laura Monte Serrat Barbosa
O texto que segue visa abordar a relação interdisciplinar que se estabelece entre a CPU
(Clínica de Psicologia da Unijuí) e o CEPE-PG (Centro de Pesquisa e Extensão em Psicologia
Genética), articulando a teoria Psicanalítica e o Método Clínico de Jean Piaget a partir da
experiência da CPU, portanto, a proposta é tentar compreender e/ou no mínimo considerar o
enlace do sujeito do desejo e o cognitivo. Inicialmente duas questões se interpõem: O porquê
dessa articulação? E como isso é possível?
A partir da consideração da interdisciplinaridade na clínica não podemos ignorar os
diferentes pedidos que chegam das diversas instituições, isto é, as demandas que acompanham
o sujeito. Na atualidade algo muito freqüente ocorre particularmente na clínica infantil, a
1
Estagiária da CPU e Extensionista do CEPE-PG.
saber, o encaminhamento das escolas com a queixa de dificuldades de aprendizagem. Essa
problemática chega das mais variadas formas: hiperatividade, déficit de atenção,
agressividade, falta de concentração, distúrbio de aprendizagem e baixo rendimento escolar. 1
A partir da consideração e mais, da escuta atenta das freqüentes demandas, uma
questão se interpõe: o que fazer quando durante um tratamento psicológico surge a demanda
de trabalhar e avaliar as condições cognitivas da criança que está em atendimento? E quando
o paciente já chega com um pedido, seja da escola, seja do neurologista, pedagogo, que para
além do tratamento solicita uma avaliação cognitiva e/ou um parecer? E mais, quando a
escola ou quem encaminha as crianças solicitam só uma avaliação das condições cognitivas
da criança?
Por isso, torna-se impossível ignorar esses pedidos que se repetem na “porta de
entrada” da clínica e não compreender como um aspecto relevante as dificuldades de
aprendizagem de uma criança encaminhada para qualquer atendimento psicológico. Sem a
necessidade de ofuscar o trabalho da clínica, faz-se importante direcionar um olhar às
questões de aprendizagem. Portanto, o que implica uma criança repetir várias vezes as séries
iniciais? Qual é a origem de uma dificuldade de aprendizagem? O que envolve o processo de
alfabetização?
No que tange uma escuta psicanalítica é notório que a alfabetização implica que a
letra, o real caia num processo de simbolização fundamental para a subjetivação. Segundo
Lacan, citado por Dör (1989): "A linguagem é condição do inconsciente (...) O inconsciente é
a ampliação lógica da linguagem: com efeito, não há inconsciente sem linguagem" (p.103).
Isso quer dizer que não há alfabetização sem letra, não há letra sem linguagem.
No que concerne ao trabalho interdisciplinar da CPU, realizaram-se reuniões com a
Coordenadora da Clínica de Psicologia, profª Ana Maria Souza Dias e as responsáveis pelo
CEPE-PG,
profª
Lala Catarina Lenzi Nodari, profª Sonia da Costa Fengler e aluna-
extensionista Cláudia Farias a propósito de iniciar uma discussão a respeito dessa
possibilidade de interlocução das duas áreas referidas, pois é indubitável que, essencialmente
na clínica infantil exista pelo menos a tentativa da interdisciplinaridade.
“Ao longo dos anos, o trabalho com criança vem demonstrando a importância de
fundamentar nossas estratégias de intervenção clínica na abordagem interdisciplinar. Ao
possibilitar a integração dos pontos de vista das diferentes disciplinas implicadas nas
questões relativas à infância, a interdisciplina tem permitido elaborar alguns instrumentos
teóricos comuns a todos os campos que compõe nosso trabalho. Esses conceitos constituem
1
Esses pontos tem base nos arquivos do ano de 2004 da CPU (Clínica de Psicologia da Unijuí).
os eixos de nossa prática clinica e permitem sustentar nossas intervenções a partir da
posição ética que caracteriza nosso trabalho, ou seja, sempre colocando em primeiro plano a
constituição de um sujeito desejante”.(PINHO, 2001. p.179.)
Contudo, existem diferenças importantes a serem consideradas na proposta
interdisciplinar, fundamentalmente naquilo que caracteriza cada especialidade do trabalho. O
Método Clínico baseia-se na observação direta e o trabalho psicanalítico na proposta da
Associação Livre que busca baixar as resistências e fazer emergir o conteúdo inconsciente do
paciente. Mas até que ponto a técnica sem interlocução com outras áreas não se torna
totalizadora e, portanto, não recorta o sujeito, fazendo com que se construa uma noção de
indivíduo calcada somente em um caráter humano? Preservar a técnica de cada teoria
impediria uma interlocução entre as áreas?
Várias questões foram levantadas partindo da preocupação do Curso de Psicologia da
Unijuí na formação de seus alunos, responsáveis em trabalhar com as “amarragens” que
formam o sujeito, duas delas: o cognitivo e o inconsciente. Contudo, algumas questões se
destacaram, uma delas que não foi respondida sob uma ótica de conclusão: quais seriam as
implicações para a transferência realizar uma avaliação cognitiva, visto que, o tratamento não
tem prazo determinado e a avaliação é um momento clínico pontual?
Pensa-se também na diferença da interdisciplinaridade e da transdisciplinaridade, da
mesma forma que um trabalho de encaminhamento para outros profissionais se diferencia de
um trabalho de discussão integrado de varias áreas, pois até que ponto é interdisciplinaridade
realizar um encaminhamento para que outro profissional avalie as condições cognitivas da
criança? Dessa forma, quem é responsável pelo atendimento clínico não correria o risco de
estar fazendo um recorte, considerando apenas o sujeito do desejo no tratamento psicológico?
Não teria relação o sujeito do desejo, do inconsciente, com aquilo que ele produz no campo
cognitivo, consciente? Se sim, isso não deveria ser escutado conjuntamente?
Optou-se pela continuidade da interlocução, discutindo essas possibilidades dentro
daquilo que caracteriza a clínica, a saber, a subjetividade de cada paciente, com o auxílio da
supervisão. Assim, neste ano quatro pacientes foram encaminhados para o CEPE-PG para
uma avaliação cognitiva a partir do Método Clínico. Três deles, a pedido da escola que
solicita uma avaliação com um parecer e o outro pedido por um neurologista, com
encaminhamento das estagiárias da CPU (Clínica de Psicologia da Unijuí) que atendem e/ou
atenderam essas crianças. Outro ponto fundamental é que essas são crianças atendidas pelos
professores e alunas do Curso de Psicologia, visando não só a avaliação como a integração
dos conhecimentos teórico-práticos que a formação acadêmica proporciona, mas trata da
tentativa de abordar, pela escuta clínica, o sujeito sem a fragmentação de uma especialidade,
na medida em que a avaliação cognitiva se opera como um trabalho da área da psicologia.
Sabemos que é necessário ter clareza entre as diferenças e particularidades de cada
teoria para conceber posteriormente, ou durante as questões de estudo, a possibilidade de
articulação das mesmas. Assim, organizou-se um grupo de estudos do CEPE-PG para melhor
compreender as questões da Epistemologia Genética e toda a articulação da teoria de Jean
Piaget. Dessa forma, recorremos a compreensão da proposta Piagetiana: como avaliar a lógica
de uma criança? Uma possibilidade é pelo Método Clínico que permite uma compreensão da
forma como a criança opera, o funcionamento da lógica infantil. Este apóia-se, portanto, para
compreender o conteúdo cognitivo da criança a partir de um ponto nodal e fundamental para a
realização do Método, a saber, a escuta sustentada pela observação seqüencial do pensamento
da criança. Por isso compreende-se porque o Método é clínico1.
A grande questão de Piaget foi se descolar do certo e do errado, na medida em que a
preocupação de quem trabalha com o Método deve estar calcada na compreensão de como o
pensamento se organiza e não o enquadramento da resposta numa classificação formal.
Segundo Piaget nós temos um modo de operar, uma forma de ver o mundo e nos
situarmos nele. O que entra em questão no Método Clínico é justamente como essa criança
vai organizar esse modo de compreensão das coisas, ou seja, qual é a estrutura da
compreensão infantil. Assim, o trabalho prima pela consideração do processo e não da
resposta.
Assim, verifica-se a diferença entre um teste e a avaliação pelo Método Clínico. Este
último respeita o tempo, a linguagem e as produções da criança, por isso, “renuncia a
qualquer questionamento fixo”.
"O bom experimentador deve, efetivamente, reunir duas qualidades muitas vezes
incompatíveis: saber observar, ou seja, deixar a criança falar, não desviar nada, não esgotar
nada e, ao mesmo tempo, saber buscar algo de preciso, ter a cada instante uma hipótese de
trabalho, uma teoria, verdadeira ou falsa, para controlar" (PIAGET, 1926, p.11).
Faz-se importante abordar aqui a questão histórica que nos envolve num paradigma
pedagógico, um molde tradicional que visa uma compreensão quantitativa. Certamente avaliar
1
No sentido originário esta expressão significa a observação médica frente ao enfermo na cama, na
qual se faziam hipóteses diagnósticas clínicas referentes a um doente passivo. (Canetti, E, 1960/1983
). Houve uma evolução e transformação deste termo e a Epistemologia/Psicologia Genética entendem
o Método Clínico, como um método que se estabelece pela interação com o sujeito, que é nesta visão
ativo.
certo e errado traria uma objetividade maior, mais rápida e segura. Mas de que serviria um
molde quantitativo? Uma avaliação pelo viés da testagem traz um caráter positivista sob uma
condição de evolução, de potencial, remetendo-nos diretamente à questão do modelo
estereotipado do bom e mau aluno/ burro e inteligente que ainda impera.
É nesse ponto que o Método Clínico vem propor não só uma compreensão exaustiva
do sujeito, como tenta romper esse paradigma ainda vigente. A proposta não é centrar a
avaliação nas dificuldades, nem somente avaliar o que é respondido, é muito mais que isso, o
que se escuta é a condição do sujeito naquele momento dentro da compreensão dos processos
psíquicos da criança. Por que naquele momento? Porque não é possível que a criança chegue
num ponto final da sua capacidade cognitiva, o que se avalia é o caminho percorrido, na
medida em que se compreende que todos (geneticamente) possuem condições para uma
construção cognitiva. Dentro dos processos psíquicos, porque a condição cognitiva faz parte
do aparelho psíquico compreendido como a condição de existir e pensar do sujeito.
Certamente essas questões retratam o início de uma discussão importante, por isso não
se esgotam, nem têm a pretensão de serem respondidas aqui. Contudo, evidencia-se a
impossibilidade de separarmos o sujeito consciente e o inconsciente como se o trabalho com
um anulasse o outro, ou como se fosse possível impedir a influência entre eles, ou melhor,
como se o retorno do recalcado não aparecesse na escola e nos problemas de aprendizagem.
BIBLIOGRÁFICAS:
PINHO, G. O Brincar na Clínica Interdisciplinar com Crianças. In: Escritos Da Criança,
Nº6, Centro Lydia Coriat de Porto Alegre, 2001.
CANETTI, E. (1983). Massa e poder. São Paulo: Melhoramentos. (Original publicado em
1960)
Dor, J. (1989). Introdução à leitura de Lacan: o inconsciente estruturado como
linguagem. Porto Alegre, RS: Artes Médicas.
PIAGET, J. A Representação do Mundo na Criança. Rio de Janeiro: Record, 1926.
VISCA, J. Clínica psicopedagógica: a Epistemologia Convergente. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1987.
15.2 - A Interlocução da CPU com a neurologia1
Cristiane dos Reis Gonçalves 2
Laiza Francielli Bortolini dos Santos
A partir da discussão sobre interdisciplinariedade abriu-se espaço para pensar a
interlocução entre a área médica e psicológica. Para dar alicerces a estes questionamentos
achamos interessante dialogar o tema com a representante desta área médica na Clínica de
Psicologia da Unijuí, Dra. Helga.
Sabe-se da importância da interdisciplinariedade entre as diversas áreas, visto que o
sujeito não se constitui apenas de corpo nem apenas de psíquico, e que um influencia o outro
mutuamente, mas isso trata-se de uma questão contemporânea. Afinal, há relatos de que a
partir de Descartes (um dos fundadores da idade moderna e das concepções que aí se formam)
há uma divisão entre corpo e mente. Esta questão, por nos constituir historicamente, ainda não
foi totalmente superada e portanto dificulta o trabalho interdisciplinar, o qual se percebe como
uma necessidade atual do sujeito em tratamento.
Na discussão feita percebemos que o trabalho interdisciplinar da área médica e
psicológica encontra barreiras na medida em que os profissionais ainda estão tomados pela
questão da divisão dos saberes, sendo que muitas vezes se pensa que o trabalho dentro de uma
determinada área dispensa a interlocução com outra. Todavia, percebe-se a importância de
muitos distúrbios diagnosticados pela psiquiatria serem tratados também pela psicologia, ao
mesmo tempo em que um tratamento psiquiátrico pode através do medicamento dar suporte
para que aconteça um trabalho psicológico.
É interessante salientar a necessidade que se tem de conhecer teoricamente a outra
área, para abrir espaço para que esta participe do trabalho. A Dra. Helga nos coloca um
exemplo que ilustra esta questão, trazendo que muitas vezes se confunde a não concentração,
que é natural em uma determinada etapa da infância, com hiperatividade, o que poderia ser
considerado de outra forma pelo profissional da psicologia a partir do momento em que este
interage com os conceitos da medicina.
Da mesma forma ela coloca que, na clínica médica, quando aparece um caso de
agressividade, tem de se considerar se este sujeito é agressivo com todas as pessoas ou só
com as da família, ou ainda somente com indivíduos com certas características etc..., no
1
Texto produzido a partir da discussão realizada entre a Comissão do Anuário com a presença da Dra. Helga
Porsch
2
Estagiárias da CPU e integrantes da Comissão do Anuário
segundo e no terceiro caso tem de se levantar a possibilidade de que esteja presente aí uma
questão da estruturação do sujeito psíquico. Todavia, para que isso ocorra, também a
medicina tem de ter um conhecimento mínimo dos pressupostos da psicologia ou da
psicanálise.
A médica da clínica de psicologia da Unijuí coloca que nem todos os profissionais de
sua área trabalham a partir desse viés interdisciplinar, principalmente os mais conservadores,
mas mesmo assim, esta nos aponta que a tendência atual vai na direção do sujeito tomado
como um todo. Ou seja, os métodos modernos da medicina trabalham com essa totalidade e
também escutam, segundo Helga, sendo que não há como chegar com o diagnóstico pronto e
com a medicação encaminhada, precisando a interlocução com outras áreas: “se entende como
boa medicina aquela que considera as histórias de cada paciente e, muitas vezes, as leva em
consideração para realizar o diagnóstico ou para fazer um encaminhamento” (Helga Porsch).
Esta médica salienta o quanto aprendeu com seu trabalho dentro da clínica de
psicologia, dizendo que agora realiza sua prática médica com outro olhar, e é justamente
assim que entendemos o trabalho interdisciplinar e o fato de que também nós, estagiárias de
psicologia, podemos da mesma forma utilizar esse novo olhar que essa outra área nos oferece,
acrescentando em nosso trabalho.
Nesta Clínica Escola o referente trabalho médico realizado pela Dra. Helga está
envolvido em reuniões e supervisões. No entanto, percebe-se que está surgindo uma demanda
relativa a participação desta área médica nos estudos de caso. Gostaríamos de ressaltar dois
casos em que percebemos esta necessidade, um deles refere-se a uma perda de memória de
um paciente no qual questionou-se até que ponto a medicação utilizada pelo mesmo poderia
ser a causa desse distúrbio, caso este que seria interessante ser discutido com a presença de
um profissional da área médica. O outro caso diz de um paciente que chega à Clínica com um
diagnóstico de hiperatividade, porém não demonstra nenhuma manifestação que testemunhe
esse distúrbio, neste caso será que o paciente estava tomando algum medicamento? E se
estava, este medicamento tinha como efeito o comportamento tranqüilo que apresentava? São
questões que evidenciam a necessidade da interlocução entre as áreas já citadas.
Então, voltando a questão da divisão entre corpo e mente, Denise Bernuzzi de
Sant’Anna, ao falar sobre a historicidade do corpo, nos traz a idéia de que na idade moderna
o homem era entendido como uma máquina produtora de energia não se considerando a
relação com a subjetividade, havendo uma separação entre o que é da ordem do fisiológico e o
psíquico.A autora nos coloca que essa visão ainda está presente, mesmo que esteja sendo
questionada constantemente, e nos alerta que:
Talvez, um dos caminhos seja derrubar o verdadeiro muro de Berlim que continua presente em nossos dias,
mesmo após a liberação do corpo de barreiras morais, de gênero, genéticas e sociais, até então existentes.
Trata-se de um muro, ou melhor, de uma fronteira resistente e que não está longe de todos nós: ela cresce nas
universidades e se reproduz na mídia e no cotidiano. Refiro-me a separação entre tecnologia e sociedade,
entre humanidades e ciência: nós humanistas somos formados para compreender a subjetividade, os véus do
espírito, os delírios do pensamento ou as suas razões. E eles, os cientistas - médicos, engenheiros, biólogos...
– são formados para lidar com a objetividade do mundo, sua materialidade, os objetos, a técnica, o
organismo vivo. (Sant’ Anna, 2000, p.40)
BIBLIOGRAFIA:
SANT’ANNA, Denise Bernuzzi. Corpo e História. In. O corpo ainda é pouco, II
Seminário sobre a Contemporaneidade: NUC, UEFS, 2000.
16 - PRODUÇÃO TEXTUAL DOS ALUNOS-ESTAGIÁRIOS:
Este espaço destina-se a publicação de alguns textos produzidos pelos alunos-estagiários nos
componentes curriculares do curso de Psicologia da Unijuí, Seminário de Psicologia Clínica I
e II e Seminário de Psicologia Clínica Infantil I e II, que acompanham o Estágio
Supervisionado em Psicologia Clínica. Os textos publicados neste Anuário foram
selecionados pelas professoras responsáveis pelos referidos componentes curriculares,
Cristian Giles e Ana Maria de Souza Dias. Os casos clínicos trabalhados nos textos a seguir
referem-se a casos concluídos ou interrompidos.
16.1 - EXERCÍCIO DE REFLEXÃO SOBRE O ATENDIMENTO CLÍNICO
VOLTADO PARA O PÚBLICO INFANTIL1
Carla Gasparetto2
Uma das principais vantagens de um atendimento clínico voltado para o público infantil
é a possibilidade que esse atendimento nos traz de visualizarmos os momentos de constituição
desse pequeno sujeito e o que ele já conseguiu elaborar até o momento. Muito atrelado ao
discurso dos pais, às vezes fica fácil tomá-lo apenas pelo seu sintoma. É preciso, porém, saber
1
Texto elaborado para o Componente curricular - Seminário de Psicologia Clínica Infantil II, trabalhado pela
professora - Ana Maria De Souza Dias/2o. semestre de 2004.
2
Aluna do curso de Psicologia da Unijuí e estagiária da CPU
precisar e reconhecer o momento de constituição subjetiva que essa criança está atravessando
e compreender os efeitos desse atravessamento, registrados via sintomática.
Cabe, nesse momento, uma citação de Volnovich referida à prática da psicologia
clínica infantil
“A psicanálise de crianças é uma escuta, mas também é uma palavra. Esta questão leva
fundamentalmente a operar em função de intervenções que permitam desvendar o sentido dos
sintomas dos filhos, interpretando o que não pôde ser dito ou foi ocultado através de meias
palavras dos pais”. (Volvovich, Jorge, 1991, p.57).
Minha experiência enquanto estagiária da Clínica de Psicologia da Unijuí não é
muito vasta no que se refere ao atendimento infantil, mas permitiu que eu me deparasse,
então, com Bruno (nome fictício), um menino com idade equivalente a três anos e nove meses
de idade. Bruno chega à clínica acompanhado de seus pais - um funcionário público e uma
dona de casa - e de seu irmão caçula, com apenas um ano e seis meses de idade.
A queixa trazida pelos pais era a de uma possível hiperatividade, diagnóstico
baseado apenas na suposição que eles faziam desta criança observando-a em casa, na escola,
na rua. E enquanto eles relatam isso a mim, Bruno não pára: corre, pula, empurra as poltronas,
senta no colo de seu pai, puxa o cabelo da mãe, espia pela janela, canta para mim, mostra-me
seus brinquedos, foge pelo corredor, enfim, parece não querer ouvir o que estão dizendo a seu
respeito.
Seus pais são casados oficialmente, mas alternam momentos de “união” e de
“separação”. Moraram juntos inicialmente; depois foram morar na casa dos avós paternos da
criança; em seguida o pai foi trabalhar na região de Porto Alegre e só depois de um tempo
mãe e filho foram também. Nasce o outro filho e então decidem por retornar a esta cidade,
agora optando pela separação. Hoje o pai das crianças mora sozinho, enquanto que a mãe
mora com seus próprios pais. A separação não é mais tão definitiva, e o casal ora está junto,
ora está separado, mas convivendo em ambientes distintos.
O que essa criança produz é um apego muito grande a tudo o que se refere à oficial:
mostra-se encantado pelas profissões que exigem uniforme e que estão ligadas à lei –
bombeiros, policiais militares, oficiais do exército. Diz, inclusive, que futuramente sua
profissão será a de capitão do exército. Também está muito colado à figura dos super-heróis,
tanto dos quadrinhos como dos desenhos animados. Conhece quase todos os personagens que
têm poderes especiais e se autodenomina “Super-Nem”, colocando-se numa posição
intermediária entre o que seria da ordem do Super-Homem e o que vem pela ordem do Super-
Neném. Sua intenção, nesse caso é a de dizer Super-Man, mas seu inconsciente o trai nessa
tentativa!
O que assegura essa sua sintomatologia é o uso incondicional de uma capa que dá
mostras de seu status de super-herói. Usa-a para vir à clínica, para ir à escola, para andar na
rua, o que leva seus pais ao desespero. O pai quer incentivar o uso, enquanto a mãe quer tirála a qualquer custo. Nas brincadeiras, ele me convoca à utilização de armas (espadas, pistolas,
granadas) para que eu e ele – geralmente “soldado” e “delegado” façamos nossa tarefa de
combater o mal. Que mal? Qualquer um, mas sempre provocado pelo mesmo agente: o “bebê
ladrão”, às vezes também chamado de “bebê gorducho” ou de “bebê guloso”.
Os castigos aplicados são sempre marcados pela utilização de muita violência:
primeiro agredimos esse bebê com nossas armas para depois o amarrarmos e colocarmos ele
na cadeia. Posteriormente o enterramos na areia e circundamos o espaço com granadas,
colocando ainda animais ferozes por perto; caso o bebê ladrão escape ileso a uma dessas
agressões, sempre haverá uma outra forma de ele ser punido. Suas brincadeiras são sempre
muito agitadas e ele quer manipular todos os brinquedos, mas preservam essa característica da
utilização da série “crime-castigo”. A única vez em que ele utilizou-se do desenho foi num
momento em que eu estava em outra sala conversando com seus pais e, então, quando retorno,
encontro-o todo lambuzado, sujo, em meio a muita bagunça, e ele me diz o seguinte: “Pisicóloga, eu fiz um desenho pra você! Eu te desenhei dentro do helicóptero do Bat-Man!”.
Deixei de ser a cúmplice para, nesse momento, ser sua heroína.
Essa foi, então, uma breve exposição desse caso clínico que trouxe-me algumas
questões e que possibilitou a observância de alguns elementos elucidativos do atendimento
clínico infantil. Acredito que eu tenha conseguido me afastar um pouco dessa condição de
diagnosticar essa criança, ou seja, de confirmar ou não sua hiperatividade, até porque isso não
estaria ao meu alcance no momento. Mas não posso fugir da condição de observar e analisar o
processo de constituição subjetiva que está se fazendo nesta criança e todos os efeitos sentidos
por ela e seus familiares nesse contexto.
Mesmo sabendo que a clínica psicanalítica não está presa ao tempo cronológico,
acredito que a constituição desta criança está num momento anterior de sua entrada no
complexo de Édipo. Como dizia Freud, o complexo de Édipo instala-se num período
aproximado entre os três e os cinco anos de idade, mas, especificamente nesse caso, não
parece haver indícios de que isso esteja instaurado para essa criança que, pelo pouco que foi
comentado apresenta uma distância muito grande, tanto de seu pai quanto de sua mãe. Aliás,
sua sintomatologia está muito mais marcada pelas patologias narcísicas e pela condição de
presença-ausência do que qualquer outra coisa. Citando Françoise Dolto, pode-se chegar à
seguinte definição:
“O complexo de Édipo, cuja organização se instala desde os três anos com a convicção de
seu sexo e se resolve (o mais cedo possível por volta dos seis anos) com a resolução e o
desligamento do prazer incestuoso, é a encruzilhada das energias da infância, a partir da
qual se organizam as avenidas da comunicação criadora e da sua fecundidade assumível em
sociedade.” (Dolto,Françoise,1981, p.19).
Os recursos utilizados por Bruno na tentativa de reforçar seu ego – referência ao
super-herói, ele é o delegado, o capitão do exército, o que pilota o avião do Bat-Man, o que
utiliza uma capa que lhe dá superpoderes – denotam sua dificuldade em ver-se sozinho, frágil,
sem o olhar e o amparo da mãe que ele encontrava nos primórdios de sua constituição. Tudo
isso aponta para a sua incapacidade de lidar com as perdas, perdas antes vividas na
completude com sua mãe e agora sentidas na separação com esta. Esta separação também é
sentida no real, já que Bruno passa aproximadamente dez horas diárias longe de casa, numa
escola infantil. A alegação da mãe é que seria impossível tomar conta de Bruno –que é
terrível, segundo ela – e também de seu filho caçula, ainda bebê.
Bruno está experimentando, assim, a sensação de estar afastado daquela que um dia
estava completa tendo-o consigo, mas que agora está promovendo um distanciamento
causador de muita angústia e de frustração. A simbolização dessa ausência parece aparecer
via agressividade, ou então na tentativa de promover a união antes vista entre seu pai e sua
mãe (e talvez por isso eu seja sua heroína, por ser aquela que consegue reunir toda a família
quando o trazem para atendimento na clínica). A agressividade vista em suas brincadeiras
tentam livrá-lo da culpa que ele supõe ter ao ver seus pais afastados, mas também diz do
quanto está sendo difícil para ele ver-se nesse lugar de ausência, de abandono. Suas
atividades, assim, sempre estão coladas nas figuras daqueles que o cercam, seja o pai, a mãe
ou até a da estagiária de psicologia. Bruno não consegue produzir nada sozinho, e por isso
apóia-se naqueles que são muito mais do que pessoas: são heróis que não têm medo, não
passam por frustrações, não são punidos e além de tudo, combatem o mal que os outros
possam cometer. O “bebê ladrão” tanto pode ser seu irmãozinho como representar a si
próprio; é difícil dizer a qual desses dois são dirigidos os cruéis castigos.
Nessa situação, o que parece estar representado é algo que Dolto nomeia da seguinte
forma:
“...a criança que não resolveu o Édipo permanece muito dominada pela ambivalência
emocional do seu relacionamento com a mãe ou com o pai. Com os seus raros companheiros,
o sujeito repete situações a dois ou se envolve em brigas e situações onde vários são os
participantes, por crises de ciúmes de estilo homossexual, idêntico ao ciúme edipiano ainda
presente que lhe corrói o coração.”(Dolto, Françoise, 1981, p.21).
Só para concluir, acho importante dizer que é a criança quem decide pelo final das
sessões. Toda vez que ele se dá conta de que está sozinho comigo, decide por ir embora por
achar que seus pais o abandonaram, deixando ali sozinho. Fica a olhar pela janela, e mesmo
vendo o carro de seus pais lá fora, foge pelo corredor dizendo que seus pais já foram embora.
É mesmo muito difícil para ele suportar esse abandono e a frustração de não ser mais aquele
que preenche os espaços de sua mãe.
Enfim, esse caso foi para mim bastante ilustrativo no que se refere ao
desenvolvimento e à constituição psíquica e/ou subjetiva de uma criança. Aos três anos e nove
meses de idade, Bruno está vivendo um momento de narcisismo e de presença-ausência
(descritos nos processos de Fort-da) bastante marcantes nesse seu processo de subjetivação.
Não se sabe que elaborações posteriores essa criança irá fazer no complexo de Édipo, no
complexo de castração e nos demais eventos posteriores que ela atravessará, uma vez que ela
não mais comparece à clínica, mas foi possível conhecermos minimamente os esforços que
ela faz para melhor dar conta disso que agora está à sua volta.
BIBLIOGRAFIA:
MANNONI, M. (1981) Prefácio ao livro “A Primeira Entrevista em Psicanálise”. Rio de
Janeiro: Campus.
VOLNOVICH, J. (1991) Lições Introdutórias à Psicanálise de Crianças. Rio de Janeiro:
Relume-Dumará,
16. 2 - CONSIDERAÇÕES ACERCA DO TEXTO “SOFRIMENTO E PRAZER NA
ESCRITA”, de Marie-Alice Du Pasquier1
Angela Dill, Catiucia Hard Mayer, Janice Zagonel2
A escritura é, pois, um traço onde se lê
um efeito de linguagem. É o que se passa
quando vocês garatujam alguma coisa.
J.Lacan1
RESUMO: SOFRIMENTO E PRAZER NA ESCRITA DE Marie Alice Du Pasquier
O texto aborda de forma clínica e terapêutica crianças com dificuldades para escrever.
A escrita é considerada essencialmente enquanto traço e não em função de linguagem e
comunicação. Da escrita como um traço do sujeito, e traço dado a ver, sendo o olhar, portanto
solicitado. O traço é sempre submetido ao olhar. Olhar do sujeito, porque o traço é espelho.
As crianças “que escrevem mal” trazem sempre sobre sua escrita um olhar particular.
Raras são aquelas que gostam de sua escrita. Devido à condenação que elas trazem de sua
escrita, retomam a condenação dos adultos, dos pais. Ela se encontra aí confrontada com a
projeção do Ideal de Eu, no qual se pode descobrir o fantasma da “criança ideal”.
A criança recebe esta condenação do adulto, pai ou pedagogo, como uma rejeição.
Além de sua escrita percebe-se, na criança, um sofrimento inscrito em seu corpo,
acompanhando o ato de escrever, variando do mal-estar a uma verdadeira dor localizada num
ponto preciso do corpo (mão, braço, ombro, etc). Escrever mal e sentir dor escrevendo não
passam de uma mesma coisa. Escrever mal, discurso outro (você escreve mal), dor ao
escrever, discurso do sujeito (me dói quando escrevo). Escrever mal, sentir dor, ser inábil, três
versões da dificuldade de escrever.
A perturbação da escrita, portanto, apresenta duas faces: a do traço, e a do gesto (do
corpo), não dissociando a escrita do gesto que a produz, sendo a atenção do terapeuta dirigida
tanto para o corpo da criança quanto para sua escrita.
Estas manifestações da criança, corporais ou gráficas, que revelam o seu mal-estar, são
apresentadas para a sociedade como algo repreensível, condenável, como por exemplo, na
escola, um ponto a menos na média pela escrita. A criança que escreve mal, de certa maneira,
está sempre fora da lei.
A escrita traz em si exigências de perfeição. O escrito deve ser acabado, consumado,
perfeito, em oposição ao oral, à fala. O escrito, uma vez traçado, é fixado, consumado,
cristalizado, e representa entre o autor e seu destinatário um intermediário temível sobre o
qual o autor será julgado, diferente do discurso oral, onde se experimenta a relação, se ajusta o
discurso.
1
Texto elaborado para o Componente curricular - Seminário de Psicologia Clínica Infantil II, trabalhado pela
professora - Ana Maria De Souza Dias/ 1o. semestre de 2004.
Ana Maria De Souza Dias
2
Alunas do Curso de Psicologia da Unijuí e estagiárias da CPU
1
“Mais, Ainda”, p.164; citado em “O Desenho como originária passagem à escritura”, de Gabriel Balbo, in:
TEIXEIRA, Ângela (org.): O Mundo a gente Traça- considerações psicanalíticas acerca do desenho infantil.
A escrita, em suas referências à perfeição e à regra, solicita sempre o sujeito com
relação ao ideal e à lei. E a criança que transgride pela má escrita é dissidente com relação à
lei, e decepcionante com relação ao ideal.
A escrita comporta, além de sua face pública (possui uma referência a um consenso
social que situam as exigências em relação à escrita), uma face escondida que revela o íntimo
do sujeito, fazendo a escrita dessa forma uma função de espelho.
Jogo de equilíbrio no trabalho da escrita, entre as necessidades ligadas ao valor social,
e o surgimento do íntimo, do pessoal, do artístico do sujeito.
O traço tem sua origem nos primeiros jogos gráficos da criança, nas primeiras garatujas,
quando prevalece aí o prazer do gesto, o prazer do ato, sendo isso considerado as raízes autoeróticas do prazer da escrita.
A criança que lança o seu desenho sobre o papel joga também um jogo muito particular,
um jogo que mantém laço com o do carretel, o Fort-Da. Pois, tal como o fio, o traço se
desdobra sobre o papel, representando ao mesmo tempo o laço e a separação, revivendo deste
modo a separação e o reencontro com a mãe: o traço se separa do corpo da criança, mas se
reencontra em seu olhar. E o traço que permanece, colocado sobre o papel, torna-se espelho,
destinado ao olhar da mãe, oferecido narcisicamente ao olhar da mãe.
Assim, na atividade gráfica se encontra atuando, na medida em que ela produz um traço
entregue ao olhar, toda uma dialética ao redor da separação e individualização, e do
narcisismo; a dimensão auto-erótica tomando aí um lugar não-negligenciável.
Na escrita constituída, se reencontra essa relação com a separação, pois escrever é
sempre jogar com a ausência, compor com a ausência. A escrita assinala a ausência ao mesmo
tempo em que dá presença ao ausente.
Com seus primeiros escritos à criança aprende a dominar essa falta. Assim, suas
primeiras palavras escritas, endereçadas à sua mãe ou algum familiar, são colocações em cena
de uma tentativa de domínio da separação, uma outra forma do Fort-Da.
A terapia com essas crianças, segundo a autora, prioriza, portanto, o gesto, é com o
corpo da criança que se inicia a terapia. Este gesto privado de prazer, onde este está ausente, e
colocado neste o desgosto, o desagrado, a dor. A questão do traço é tomado secundariamente.
Na terapia, a criança é convidada a traçar grafismos, desdobrar seus gestos, tentando ser
buscado nesta atividade um relaxamento do gesto. Busca-se que a criança se familiariza com
seu gesto. O efeito do relaxamento libera o gesto cada vez mais, se faz cada vez mais flexível,
cada vez mais fino.
Primeiro a criança é convidada a “fazer como” com a ajuda do terapeuta. O gesto da
criança é “assistido”. E se for necessário, o terapeuta a acompanha com sua própria mão,
guia-lhe o braço e a mão, fazendo com que a criança se familiarize com seu gesto pouco a
pouco.
Depois o terapeuta se apaga, e a criança irá conduzir o jogo. Inventa ela mesma seus
traços. Freqüentemente a criança se entrega a jogos de associações gráficas: a assunção de
formas, transformação de elementos, etc. É lhe exigido deixar-se ir com o gesto, deixar sua
mão percorrer livremente a folha.
O prazer acompanha todos esses jogos gráficos, jogos que se assemelham às garatujas,
onde o espaço é desestruturado, onde a aparência esta em desordem.
O olhar que o sujeito sustenta sobre sua produção também se modifica, primeiramente
se encontra nestas crianças um olhar fóbico, a criança não olha a sua escrita, não sabe olhá-la.
Com o tempo, a criança vai poder se colocar sobre o que ela realiza, o interesse vai surgir, e a
apreciação crítica torna-se possível, como se a criança se reconhecesse, se reencontrasse.
Pode-se dizer então que a criança se sente autora de seu grafismo, que ela o reabita
totalmente.
Vai-se introduzir a escrita somente quando a destreza do gesto for adquirida e em
conseqüência de que uma certa qualidade formal do traço é obtida. A escrita vai ser
introduzida nesse momento em que a letra pode surgir, uma forma entre as formas,
participante da mesma qualidade de realização que as outras formas. Pede-se que a criança dar
aos traçados circulares a forma de uma letra, de introduzir uma letra no curso de um traçado.
Não é solicitado à criança fazer uma letra, mas de dar a seu traçado a forma de uma letra.
O traçado da escrita, da letra, portanto, não é em nada diferente dos traçados informais
que a criança produz, e o mesmo prazer preside sua inscrição. E pode-se então propor, após a
letra, agrupamentos de letras, e em seguida, de palavras.
Não se impõem de maneira alguma um modelo caligráfico. A criança possui suas
próprias formas que são inteiramente respeitadas. É abordado , entretanto , com a criança a
questão da estrutura e da dinâmica da escrita através das noções de legibilidade e de
velocidade. Trata-se ai de fazer com que a criança tome consciência dos imperativos que
regem a composição da escrita.
O objetivo e de levar a criança a aceder à sua escrita, que ela não seja mais coisa
estrangeira, presa dos outros, sob a supervisão dos outros, e lhe escapando por isso, mas que
ela seja sua escrita, na qual se reconheça e da qual se sinta a autora, o sujeito.
Algumas considerações sobre o desenvolvimento do grafismo na criança
O desenvolvimento da criança se relaciona com os aspectos estruturais e instrumentais,
e estes estão diretamente articulados com os processos de aprendizagem. O aparelho
biológico, através do Sistema Nervoso Central, condiciona e limita, mas, ao mesmo tempo,
amplia as possibilidades de intercâmbio. É ele que oferece a abertura para a inscrição dos
processos simbólicos.1
Muitas das dificuldades que a criança enfrenta no processo de aprendizagem são
decorrentes de problemas orgânicos, que limitam as aquisições cognitivas. Entretanto não é a
genética que garante a sobrevivência do bebê humano, existe uma carência, um limite imposto
a este real que é suprido por um outro primordial. Já antes do seu nascimento a criança ganha
vida, existência, um lugar psíquico desde o qual, mais tarde, ela vai poder passar a se
expressar.
É através dos cuidados que a criança, totalmente dependente, recebe da mãe, que o seu
desenvolvimento se processa como uma construção com momentos de transformações
significantes, onde cada reposicionamento da mãe implica um reposicionamento da criança,
ou seja, a mãe encoraja a criança, com um olhar, um gesto, cada vez que ele faz alguma coisa.
1
Coriat, Lydia; Jerusalinsky, Alfredo, 1996, p.7
É deste modo que a criança começa a organizar uma imagem de seu corpo: “Para a mãe
modelar um corpo imaginário a partir do corpo biológico do recém-nascido e fundar este
lugar psíquico inaugural, ela tem que participar com a sua presença psíquica e corporal.
Depois irá ausentificando-se de forma progressiva para ceder espaço ao pai.1”
A todos movimentos da criança a mãe dá um significado ou ressignificado. Entretanto,
para que não se efetue uma colagem da criança ao saber materno, é necessária a intervenção
de um terceiro, um pai, que quebre esta completude imaginária.
È este pai que terá agora a função de propor á criança desafios aos quais ela tentará
resolver. Assim, ela se organiza e reorganiza, se torna gradativamente independente da mãe e
começa a organizar seus recursos a partir de produções imaginárias. Estas produções
imaginárias são o jogo do Fort-dá, os objetos transicionais, os jogos corporais (escondeesconde, cair,etc.), que auxiliam a criança a expressar suas palavras a partir da mímica, das
ações e gestos, e organizam as suas seqüências discursivas.
Assim, pensar no corpo e suas produções, é entender a estrutura psicomotora como
produto de uma particular integração das estruturas neurobiológicas e psíquicas, da expressão
da história pessoal, das sucessivas relações identificatórias e das experiências vividas.
O que o corpo porta como organismo e o que falam os pais acerca da criança, vão
orientando e dando sentido à construção de um corpo simbólico-instrumental, capaz de ser
suporte de aprendizagens.
Como já mencionamos acima, o movimento humano, diferentemente dos animais, está
dirigido ao outro, destinado a transcender, a significar além do que dá a ver, a ser significado,
nomeado, ser posto em um discurso pelo Outro. Assim, a motricidade humana, longe se ser
apenas signo ou sinal, é um significante, está mediada pela linguagem.
O movimento,
capturado pelo Outro que lhe atribui uma significação, se transforma em gesto.
O gesto gráfico tem seus primórdios nos movimentos do bebê, lidos pela mãe como um
texto. Assim, de um ponto de vista lógico, o corpo da criança foi suporte material e simbólico,
como uma folha de papel, onde se inscreve a letra que a mão do Outro soube escrever no
exercício da função materna.
1
Molina, Sylvia, Escritos da Criança 5, p.16
Na medida em que a criança vai produzindo um dentro e um fora, um perto e um longe,
ele se projeta no espaço, entendendo-se aqui ao espaço físico e geográfico, e apropria-se de
seu próprio corpo, novo espaço de experiências e conquistas, e distancia-se gradualmente do
corpo do outro materno.
O espaço gráfico vem a ser representação dos espaços materno e físico. O grafismo tem
um caráter de variável relacional, como produção do corpo e como projeção. A mão da
criança, libidinalizada, erogenizada, se projeta no espaço físico e no espaço gráfico: piso,
paredes, folhas, cadernos, vinculando-se a ele de uma maneira particular, conforme as marcas
deixadas pelo encontro com o Outro.
Estes primeiros rabiscos utilizam a motricidade global, ampla, para que posteriormente
seja a mão que condense a capacidade de fazer marca, escritura.
Estudiosos do grafismo infantil reconhecem haver determinadas “fases” que são comuns
aos sujeitos em processo de apropriação do desenho enquanto forma de representação. Estes
processos se relacionam aos objetos disponíveis e a cultura na qual a criança se encontra
inserida.
Num primeiro momento as marcas deixadas pela criança no suporte material são o
resultado do exercício da coordenação da ação motora ou das praxias necessárias ao uso dos
instrumentos, caracterizando-se por descargas motoras que produzem rabiscos e formas em
“zigue-zague”. Nestes momentos, as marcas inscritas pela criança muitas vezes ainda
extrapolam os limites do suporte (bordas) e sugerem um excesso ou falta de “força” ou
pressão.
1
Num segundo momento, o traçado aponta para a obtenção de um maior controle do
tônus muscular, aparecendo formas circulares que vão sendo gradativamente aperfeiçoadas.
Além disto, já consegue manter suas marcas dentro do suporte que lhe é oferecido. Neste
1
Japiassu, Ricardo
período aparecem também linhas retas, traços alongados, e a tentativa de representar
deliberadamente objetos. Nestes primeiros “atos gráficos”1 tudo acontece como se a intenção
representacional do sujeito fosse “traída” ao longo da execução das marcas. Isto ocorre pela
dificuldade que a criança ainda experimenta em coordenar as ações motoras complexas
solicitadas no processo. Ao mesmo tempo, ao associar as marcas produzidas sobre o suporte a
determinados objetos da realidade concreta, a criança começa a nomear seu desenho, a dizer
quais objetos intenta representar.
2
Num terceiro momento, as formas gráficas para referir um determinado objeto são
variáveis, ou seja, não são representados por um único esquema gráfico. Aparece aqui o
fenômeno da justaposição, onde os elementos que compõe o objeto representado pela criança
aparecem lado a lado, sem uma aparente relação lógica entre eles. O grafismo, até então ato
impulsivo, converte-se em ato gráfico3, resultado de uma ação intencional do sujeito.
4
A seguir, aparecem repetições de esquemas gráficos, estereotipias, na representação de
determinados objetos. A criança encontra uma solução gráfica para o desenho de alguns
objetos, como, por exemplo o “boneco palito” para representar o homem.
1
Levin, 1997
Mèredieu, Florence.p.31
3
Levin, 1997
4
Japiassu, Ricardo
2
1
Ainda neste momento aparecem muitas vezes as transparências, isto é, desenhos onde
objetos que não seriam visíveis, como por exemplo, atrás de uma parede, são feitos visíveis. É
neste período que se define também a dominância lateral da criança.
2
Do desenho á escrita, a criança deve reprimir a liberdade de ação, frear seus impulsos,
passar de escrever com todo o seu corpo para o uso apenas da mão e do controle da postura e
da motricidade.
Apesar disto, a estrutura tônico postural está sempre presente, o que quer dizer que o
corpo está ali, representado na sua própria ausência.
BIBLIOGRAFIA
CORIAT, J.A. 1996 Aspectos Estruturais e Instrumentais do Desenvolvimento. in: Escritos da Criança
vol. 4. POA. Centro Lydia Coriat.
JAPIASSU, R. O.V. Do Desenho de Palavras a Palavra do Desenho. Disponível na Internet em:
www.educação online.pro.br. Acesso em 11/2004.
JERUSALINSKY, A. (1999) e colaboradores. Psicanálise e desenvolvimento Infantiil um enfoque
transdisciplinar, tradução de Myrian Lichtenstein et all , Porto Alegre, Artes & Ofícios, 2 ed..
1
2
Méredieu, Florence. p.19
In: Mèredieu, Florence.p.20
LEVIN, E (2001) A função do Filho: espelho e labirintos da infância; tradução de Ricardo
Rosencusch - Petrópolis RJ, Ed Vozes.
______(1997) A Infância em Cena: constituição do sujeito e desenvolvimento psicomotor; tradução de
Lúcia Endlich Orth e Epraim Ferreira Alves - Petrópolis, RJ, Ed. Vozes,.
______ (1995) A Clinica Psicomotora: o corpo na linguagem; tradução de Julieta Jerusalinsky. Petrópolis, 4 ed. RJ: Vozes.
MÈREDIEU, F. O Desenho Infantil. São Paulo, Editora Cultrix.
MOLINA, S. E. (1998) A Pequena Criança da Psicopedagogia Inicial. In: Escritos da Criança 5.
Porto Alegre. Centro Lydia Coriat,
16.1 - Considerações acerca do desejo e da sexualidade na
histeria: um caso de “luto sexual” 1
Cláudia Farias2
Há muitas vias para se abordar a histeria, tão discutida ao longo da história da
psicanálise, contudo, o texto que segue busca articular teoria e prática clínica a partir de duas
questões fundamentais, a saber, o sintoma e o desejo. Compreender o sintoma na histeria é
buscar no percurso de Freud a questão do desejo e indubitavelmente elucidar o mecanismo
crucial da histeria, o recalque.
A articulação teórica parte do seguinte caso clínico: A paciente que chamarei Julia tem
69 anos, vem a tratamento com a queixa de que não consegue mais investir em nada. Não
consegue suportar a perda do marido que foi embora com sua sobrinha de 20 anos. Sua vida é
marcada por três, a perda do pai (alcoólatra), depois a perda do primeiro marido, fruto de um
casamento arranjado pela família e finalmente a perda do marido atual, que não morre mas
induz a perda substituindo-a pela sobrinha de Julia. O que fica muito evidente é que com o
segundo marido ela repete uma espécie de anulação pessoal, deixa o trabalho para se dedicar
ao marido e as atividades diárias são determinadas por ele, ou seja, ela vive conforme o
desejo do seu companheiro.
1
Texto elaborado para o Componente curricular - Seminário de Psicologia Clínica II, trabalhado pela professora
- Cristian Giles.
2
Aluna do Curso de Psicologia da Unijuí e estagiária da CPU
Nas entrevistas iniciais a dificuldade de elaborar o luto é evidente, e o apagamento da
sua própria subjetividade também acompanha todas as falas. A paciente parece estar sem
perspectiva e lamentando não ter o marido que a “trocou” pela sobrinha, e assim a queixa
centra-se na impossibilidade de continuar vivendo, pois, segundo ela, a vida não tem mais
sentido. Nesse momento, faço uma intervenção destacando aquilo que Julia descreve quando
fala de como era diferente e difícil no seu tempo, que ela foi criada para ter alguém, para casar
e que só agora as coisas estão melhores, para alguém jovem como eu e como sua filha, aponto
que a pesar de sua história ser contada no passado, ela vive também um agora e faz parte do
mundo de hoje. Isto fez um efeito de atualização da sua vida, tanto as intervenções, quanto à
possibilidade de ter um espaço para elaborar o luto, e noto que nas sessões posteriores o
trabalho parece promover quais seriam as suas possibilidades de investimento, deixando
lentamente a nostalgia do passado para interrogar seu desejo.
Freud (1916) no texto “Luto e melancolia” afirma que o luto profundo, ou seja, a
reação à perda de alguém que se ama, encerra o mesmo estado de espírito penoso, a mesma
perda de interesse pelo mundo externo, a mesma perda da capacidade de adotar um no objeto
de amor ( o que significa substituí-lo ) e o mesmo afastamento de toda e qualquer atividade
que não esteja ligada a pensamentos sobre o objeto perdido. É fácil constatar que essa inibição
e circunscrição do ego é expressão de uma exclusiva devoção ao luto, devoção que nada deixa
a outros propósitos ou a outros interesses, e realmente, não nos parece patológica. Esse foi um
movimento necessário para Julia, falar do marido lhe atribuindo todo valor fálico e só
posteriormente ir se desligando do próprio investimento imaginário que fizera no objeto,
deslocando a libido para outras atividades e outros objetos.
A partir da elaboração do luto, como compreender melhor a questão do desejo e da
queixa de Julia? Inicialmente ela diz querer muito a volta do marido, em certos momentos até
se propõe a pensar que nada aconteceu e ele vai voltar. Superficialmente, ou uma escuta leiga
poderia considerar que o objeto de seu desejo é o marido. A partir do referencial teórico
psicanalítico passamos a compreender que ela estava em busca de um lugar subjetivo, na
medida em que o marido que lhe dava um lugar, ela supôs querer o marido de volta. A partir
do processo de elaboração do luto do objeto perdido ela aponta que quer esquecê-lo, mesmo
com muita dificuldade, já não o espera como antes: - “Agora faço de tudo para esquecer ele,
mas não é fácil”.
Qual seria sua dificuldade de esquecer? O que poderia estar atrelado ao lugar do
marido que ela não conseguia se desvincular? Essa idéia de tentar esquecer, ou eliminar uma
idéia incompatível à consciência nos remete ao recalque, à pedra angular da psicanálise,
entendido como aquilo que impede a satisfação dos representantes psíquicos do desejo,
considerando que a tentativa original é a de fugir do investimento pulsional. Assim, o
recalque afastaria a sensação de desprazer contida na consciência e na realização do desejo.
Nota-se aqui, esse duplo paradoxo, prazer e desprazer, de um lado o prazer de buscar a
satisfação e o desprazer por ser inaceitável, incompatível, condenável à consciência.
Obviamente que para o recalque atuar é necessário que o desprazer tenha força maior do que
o prazer da satisfação. Por isso Freud afirma que: “A formação do sintoma assinala um triunfo
se consegue combinar a proibição com a satisfação, de modo que o que era originalmente uma
ordem defensiva ou proibição adquire também a significância de uma satisfação” (Freud,
Sigmund, (1926 [1925] : 114).
Mas como explicar que a idéia incompatível não seja eliminada pela ação do recalque?
Qual o destino do material recalcado? Que efeitos o recalque produz? Freud aponta que o
recalque age sobre o consciente, ou seja, o recalque não elimina apenas desloca a pulsão para
que ela se reorganize e continue a estabelecer ligações, buscando a tentativa de satisfação. Ela
continua existindo no inconsciente, isto é, o recalque não retira a representação da consciência
de uma forma totalizante e efetiva, ele produz derivados, sendo que quanto mais atuante for o
recalque mais próximo eles estarão da consciência.
“ Ele prolifera no escuro, pó assim dizer, e assume formas extremas de expressão, que uma
vez traduzidas e apresentadas ao neurótico irão não só lhe parecer estranhas, mas também
assustá-lo, mostrando-lhe o quadro de uma extraordinária e perigosa força do instinto. Essa
força falas do instinto resulta de um desenvolvimento desinibido da fantasia e represamento
ocasionado pela satisfação frustrada (..) deixemos claro que tampouco é correto supor que o
recalque retira do consciente todos os derivados daquilo que foi primevamente recalcado”
(Freud, S 1915: 172).
Considerando a força da pulsão, o desejo que não pode ser extinto da vida psíquica, o
que é recalcado continua a pressionar, faz uma tentativa de retorno à consciência, ou seja,
exige que um recalcamento sempre suceda outro. Então chegamos a um ponto crucial da
teoria psicanalítica, que aponta para o fracasso do recalque.
Ele retorna e no caso da histeria, o corpo é encarrego de falar sobre isso que não
conseguiu ser eliminado. Seguimos a sintomatologia da paciente Julia que no movimento de
elaboração do luto do marido e perante a tentativa de esquecer o que aconteceu fica muito
gripada, tosse sem parar e tem fraquezas, tonturas que a impedem de caminhar muito tempo e
até falta algumas sessões devido a está constipação. O que o corpo de Julia vem nos falar?
Seria da impossibilidade de eliminar aquilo que foi vivido no seu desejo pelo marido´? A
posição na que seu fantasma esperava o marido? Ou a articulação de um elemento novo que
aparecera no percurso do trabalho, a saber, a fantasia de rivalidade com a nova mulher do
marido? Estas são hipóteses possíveis.
“Os sintomas, isoladamente, são tão inequivocamente dependentes das experiências
que é típica em si mesma – comum a todos os seres humanos”. (Freud, Sigmund. 1915.
p.278). Essa afirmação nos leva a conceber que há algo que está enlaçado à estruturação
subjetiva e à elaboração sintomática, ou seja, os sintomas que a paciente apresenta estão
intimamente relacionados, não só com aquilo que ela está vivendo, mas com aquilo que ela
viveu, assim, o recalque atuaria no afastamento da consciência daquilo que é insuportável ao
ego, e o sintoma da mesma forma que o recalque não atuaria ou se representaria somente no
caso de reprimir o desejo e as vivências atuais.
Retoma-se a afirmação de Freud no texto “Neuropsicoses de defesa (1894)” que toda
neurose é uma forma de defesa. Do que o ser humano deveria se defender? Referente ao
recalque, o que significa dizer que uma representação é incompatível? O que tem em comum
nas produções sintomáticas que se repetem como produções da vida psíquica de muitos
pacientes? Aqui, chegamos a um ponto fundamental para a compreensão da teoria
psicanalítica, baseando-se na concepção do sintoma como sustentador da subjetividade. No
que se refere ao caso trabalhado, faz-se necessário aprofundar as questões estruturais da
paciente, compreendendo o movimento realizado durante o trabalho clínico: o deslizamento
da queixa a partir da elaboração do luto para a organização ou re-organização do seu
investimento libidinal.
O luto consegue ser elaborado, mas ainda fica uma questão (inconsciente) para Julia, a
saber, a rivalidade com a mulher do ex-marido. Segundo ela, o marido não incomoda mais,
contudo, o que ela não consegue esquecer e aceitar é “a outra”, que detém o desejo do marido
e provoca o olhar de Julia, na medida em que é com ela que a paciente passa a rivalizar, isso a
partir daquilo que a estrutura, da histeria. O que isso quer dizer? Que originalmente a histeria
pressupõe a rivalidade com a mulher do pai.
Entrar nas questões estruturais, em especial no caso da histeria pressupõe inicialmente
considerar que a histeria foi um enigma que Freud tentou desvendar, compreender e acima de
tudo escutar as produções que não só aparecem na queixa, mas no corpo. Fundamentalmente
nos textos iniciais, Freud (1895 [1950]) se limita a tentar desvendar como a partir dos
complexos surge um centro da posição feminina, da mulher, e encontra não só o desejo pelo
pai, pelo falo, mas entra em cena, naquilo que tange a formulação do seu desejo, o das Ding.
Freud compreende a “falsidade” das cenas de sedução das histéricas imputadas ao pai, por
conta das fantasias do complexo de Édipo, deu-se conta de que a sedução originariamente
sofrida pela menina era exercida, inicialmente, pela mãe. Tal sedução seria transferida e
atribuída só posteriormente ao pai.
É dessa forma que Freud compreende que as intermináveis queixas das histéricas
derivavam da função de castração de que elas se sentiam vítimas, considerando que a angustia
característica da histeria seria proveniente do ódio à mãe que a privou do falo.
Nesse sentido fica mais fácil compreender a angustia de Julia frente à outra mulher, a
mulher que despertou desejo no homem que ocupava o lugar do seu representante paterno.
Nas sessões seguintes, a paciente fica muito tempo tomada pela “outra”, descrevendo e
pensando nessa mulher mais nova, bonita, atraente e chega a dizer: “Eu até entendo ele,
comigo já não era bem assim para ter relação sexual e homem gosta disso, precisa disso, e ela
sempre foi sem-vergonha”. É essa a mulher causa de desejo para Julia, assim como
(lembremos sucintamente) Dora volta seus olhares para senhora K, é essa outra mulher que
lhe chama atenção.
Uma questão se interpõe: como está a mãe no discurso de Julia? Aprofundando as
hipóteses podemos ir um pouco mais longe, destacando a possibilidade de que Julia aponta
para uma possível identificação com o pai, que sempre ficou numa posição passiva, de
coitado perante a tirania da mãe. Diz Julia: “E o pior é que parecia que ele gostava de
obedecer e sofrer nas mãos dela”. Assim, a mãe era rigorosa, bruta, não raramente batia nos
filhos, não gostava de conversar e colocava todos os filhos, independente do sexo, para
trabalhar na roça, sendo que as meninas ainda tinham que fazer o serviço de casa, da mesma
forma, que era muito ríspida com o pai que parecia estar a serviço do desejo da mãe.
Não seria essa identificação que Julia repete com os maridos sendo submissa e
abdicando sua vida em prol do desejo deles, sendo como o pai, dócil e a serviço do desejo do
cônjuge? Acredito que sim. Mas o que faria Julia repetir sintomaticamente essa posição?
É possível pensar a questão do sintoma por várias vias, contudo o cerne da questão que
interessa neste momento, pode ser encontrado na Conferência XX – “A vida sexual dos seres
humanos. (1917)”: “Eu disse que os sintomas neuróticos são substitutos da satisfação sexual e
lhes indiquei que a confirmação desta assertiva pela análise dos sintomas viria a defrontar-se
com numerosas dificuldades (...)” (Freud, Sigmund, 1917. p.360).
Assim, indubitavelmente a origem do sintoma é sexual (diante do percorrido
dispensa-se nesse momento a distinção do sexual e do coito), visto que o sexual é o núcleo do
conflito do sujeito que deve reorganizar seus instintos mais originais para se humanizar e dar
conta constantemente das manifestações pulsionais que o invadem. Como diz Conte (1995) no
texto “O Real e o Sexual ”, é importante pensar que a sexualidade se manifesta como sintoma,
como resultado da não realização, da falha, da falta, da castração, na medida em que,
conceber a sexualidade como fonte e conflito psíquico é compreender a instância cultural
concomitantemente com a ação do recalque. O útero migrador, os banhos frios, até mesmo a
internação manicomial levaram Freud a propor aquilo que era mais difícil (e que ainda
considero), a escuta da sexualidade recalcada.
Se de um lado o que caracteriza o sujeito é a sexualidade, o desejo, de outro o que o
sustenta é a falta, a impossibilidade de realizá-lo. O que caracteriza a histeria é a criação de
um desejo para não poder realizá-lo, com isso é fundamental destacar que a castração, a lei da
interdição é que instaura este mesmo desejo, ou seja, é que permite a sua existência, inserindo
o sujeito na linguagem instaurando a impossibilidade da realização sexual plena. Ele só é
sujeito porque deseja e não porque realiza o seu desejo, pois esse desejo não é mais autônomo
no momento em que o Outro lhe caracteriza como sujeito faltante e falante.
Julia começa a vir nas sessões com roupas coloridas, maquiada e encontra nesse
espaço um momento de elaborar os seus novos investimentos, diz que vai viajar, cuidar dos
netos, das plantas, se dedicar à religião, mas destaca que não quer outro homem, talvez não
queira outro homem enquanto a mulher, a outra continuar a incomodá-la. Após alguns meses
ela se dá “alta”, diz que está bem e que não tem mais nada para trabalhar, mais nenhum
sofrimento que não consiga lidar sozinha. Deixo uma questão: será que todos os pacientes
devem entrar em processo de análise, ainda mais se considerarmos que o trabalho se dá numa
clínica escola? Ou melhor, o que fazer quando o paciente resolve uma questão pontual e não
pretende continuar com aquilo que a gente supõe ser um tratamento? Entendo que estas são
questões pertinentes para uma outra ocasião, assim, momentaneamente faço um desfecho a
partir do ponto nodal do tratamento abordado, a questão da sexualidade e do desejo:
“Mas se quisermos aprender em que sentido a sexualidade questiona o sujeito, convém
sublinhar algo que não foi percebido de imediato, ou seja, que com o único sentido
admissível do complexo de Édipo é que a lei, longe de se opor ao desejo, é-lhe essencialmente
idêntica: é ela que permite sua instauração; e a experiência psicanalítica mostra com clareza
que é quando ela é deficiente, por razões diversas, que o sujeito fica em dificuldade quanto
ao desejo”. (CONTÉ, Claude. 1995. p. 80).
BIBLIOGRAFIA
FREUD, Sigmund. Neuropsicoses de defesa (1894) ed. Edição Standart Brasileira das Obras
Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, v. III.
_______________. O sentido dos sintomas. ed. Edição Standart Brasileira das Obras Psicológicas
Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, Conferência XVII.
_______________. Os caminhos da formação dos sintomas. ed. Edição Standart Brasileira das Obras
Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, Conferência XXIII.
_______________.Repressão (1915). ed. Edição Standart Brasileira das Obras Psicológicas
Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, v. XIV.
_______________. Teoria geral das neuroses: Conferência XX – A vida sexual dos seres humanos.
(1917) ed. Edição Standart Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de
Janeiro: Imago, vol. XVI.
CONTÉ, Claude. O Real e o Sexual de Freud e Lacan. Rio de Janeiro. Edição J. Zahar Editor. 1995.
MELMAN, Charles. Novos Estudos sobra a histeria. Trad. Davi(s) Levy. Porto Alegre: Artes Médias,
1985.
17 – INFORMATIVOS- FALANDO N’ISSO- ANO 2004
Informativo (Clínica da Escuta: Primeiras entrevistas)
Ano 05 nº 15
Mês Março / Abril 2004
Informativo (Por que pagar?)
Ano 05 nº 16
Mês Maio / Junho 2004
Informativo (“Amo em ti algo que é mais do que tu”)
Ano 05 nº 17
Mês Julho / Agosto 2004
Informativo (“As máscaras do sintoma”)
Ano 05 nº 18
Mês Setembro / Outubro 2004
nformativo
Não publicado em 2004
Mês Novembro / Dezembro 2004
Não publicado em 2004
18 - PRINCIPAIS EVENTOS DE 2004
Data: 19 de Novembro de 2004
Evento: VIII Jornada da Clínica de Psicologia da UNIJUÍ
Local:Auditório da Sede Acadêmica
Informações: www.unijui.tche.br/dfp/eventos/
jornadapsicologia
Conferência “Clínica na Atualidade”
Conferencista - Ana Costa (Psicanalista, Membro da APOA, com formação em
Doutorado e Pós Doutorado na França).
Dia 03/12, sexta feira, 2004 - Promoção do DFP - Curso de Psicologia da Unijuí.
19– COMISSÃO DO ANUÁRIO
“Nada do que foi será de novo
do
jeito
que
já
foi
um
dia/Tudo passa, tudo sempre
passará (...).Tudo que se vê
não é Igual ao que a gente viu
a um segundo tudo muda, o
tempo todo no mundo”
Tim Maia - Como Uma Onda
Depois da construção da primeira edição do Anuário, sentimos a necessidade de
registrar nossas próprias impressões a respeito desta elaboração, bem como, dificuldades,
angustias, gratidão, emoções, enfim, tudo aquilo que está implicado na produção de qualquer
trabalho. Portanto esse não é momento de concluir, mas de pensar na marcas que deixamos e
que carregaremos, na confiança de que serão sempre renovadas.
Abraçamos um projeto inovador e desafiador. O movimento inicial foi situar e
delimitar o que seria escrever a Clínica. O que é um Anuário? Qual o seu objetivo? Como
fazer um Anuário? A ousadia do projeto nos convocou a um longo período de discussão e
reflexão acerca de varias temáticas envolvendo questões teórico-clínicas.
Estamos imersos no sintoma institucional, na medida em que a Clínica é uma
instituição, portanto também sintomática, assim, antes de pensar a organização do material
escrito foi necessário discutir questões referentes a instituição: Como registrar a burocracia?
Como compreender o espaço público e o privado na Clínica de Psicologia da Unijuí (CPU)?
Qual é o lugar do estagiário? E na medida do possível, tentando compartilhar as discussões
que puderam perpassar outras comissões e outros momentos importantes como as reuniões
gerais.
Continuando nossos questionamentos e com novos integrantes (no segundo semestre
de 2004) o Anuário pôde começar a ganhar forma, através da discussão do material registrado
na secretaria da Clínica e com a colaboração de alguns professores, em especial Luis
Fernando L. de Oliveira e Ubirajara Cardoso de Cardoso. A vocês o nosso muito obrigado,
não só pelas discussões ético-profissionais, mas pelo incentivo e por investir na nossa
capacidade crítica.
Muitas das nossas propostas não puderam ser realizadas, foram assim, adiadas, como
alguns textos que gostaríamos que professores pudessem discutir e escrever, da mesma forma
que importantes discussões dos estagiários passaram pela instituição sem serem registradas.
Assim, diante da falta de textos encaminhados contamos com o material já existente (dados
quantitativos, textos e gráficos) e com as discussões da comissão, o que não foi pouco!
Compreendemos que este é um espaço inicial para que a Clínica se aproprie do Anuário, não
como atividade de apenas uma comissão, mas como um espaço que registra a memória da
Clínica e, portanto, o percurso dos estagiários, supervisores, e, é claro, dos pacientes.
Assim, sendo a falta compreendida como aquilo que produz desejo e que movimenta,
a entendemos neste projeto como aquilo que irá permitir sua continuidade. Essa mesma falta
foi o que proporcionou a elaboração da primeira edição com tudo aquilo que está registrado
neste material.
Além de ser um espaço que se abre para um registro teórico o Anuário vem como uma
possibilidade de marcar a história da Clinica, mantendo-a viva e em constante
questionamento.
Download