Lição 3 Joel – O Derramamento do Espírito Santo Eliel Julio dos Santos Introdução Este pequeno livro dos profetas menores é amplamente conhecido pelos Cristãos do Movimento Pentecostal devido à citação do derramamento do Espírito Santo pelo apóstolo Pedro, no dia de Pentecostes, registrada no capítulo 2 de Atos dos Apóstolos. Porém o livro do profeta Joel não tem por mensagem apenas o derramamento do Espírito Santo, seu conteúdo possui enérgica explanação de eventos escatológicos do Dia do Senhor, assim também como uma palavra de juízo para os ímpios e livramento para os justos. I. O Livro de Joel no Cânon Sagrado 1. Autoria e Data Existem 12 pessoas no Antigo Testamento com o nome de Joel, os estudiosos não têm informações sobre Joel filho de Petuel, (Jl 1.1), que é o autor desta profecia. Joel profetiza ao reino de Judá e sua capital Jerusalém (Jl 3.20), não se sabe exatamente qual era o rei da dinastia davídica que reinava no tempo de sua profecia, mas a sugestão mais aceita é que fosse o pequeno rei Joás que começou reinar quanto tinha 7 anos, sob a tutela do sacerdote Joiada (II Cr 22-24), se assim for, a data desta profecia será de 835 a 796 a.C. Porém outros comentaristas não definem uma data específica e abrem a possibilidade de sua composição do século IX a.C até ao século VI a.C. 2. Mensagem O profeta descreve uma praga de gafanhotos que destruiu as plantações de Judá e associa este evento com o futuro juízo de Deus sobre a terra, é como se este evento da praga de gafanhotos fosse um protótipo do juízo de Deus sobre toda a humanidade nos últimos dias. A definição básica é para que os libertinos (bêbados) de Judá chorassem e lamentassem a perda de suas videiras pelas pragas dos gafanhotos: “Acordem, bêbados, e chorem! Lamentem todos vocês, bebedores de vinho; gritem por causa do vinho novo, pois ele foi tirado dos seus lábios.” (Jl 1.5). Esse juízo de Deus sobre Judá é devido a seu materialismo, e vida nos prazeres e divertimentos da carne, se esquecendo das coisas espirituais de Deus. Os últimos dias não seriam apenas dias de juízo, mas também de derramamento do Espírito Santo e livramento para os justos, (Jl 2.28; 3.17-21). È típico da maioria dos profetas literários uma palavra de juízo seguida por uma palavra de restauração e livramento. Uma característica importante da profecia de Joel é seu constante apelo ao arrependimento, pois Deus está sempre pronto a perdoar e restaurar, (Jl 1.13,14; 2.12,13). 3. Estilo Aqueles que postulam uma data muito antiga (século IX a.C) para esta profecia afirmam que os demais profetas literários do Antigo Testamento “copiaram” o estilo literário de Joel, já aqueles que postulam uma data mais recuada (século VI a.C) afirmam que Joel “copiou” o estilo literário dos demais profetas. II. A Pessoa do Espírito Santo Sempre que estudamos o livro do profeta Joel, fazemos menção da pessoa do Espírito Santo, isso é quase que automático, e isso tem um motivo, pois o apóstolo Pedro cita justamente um texto do profeta Joel para justificar a vinda do Espírito Santo na festa judaica de Pentecostes, registrada no livro de Atos dos Apóstolos. Mas antes de falarmos sobre a promessa do derramamento (vinda) do Espírito Santo sobre a igreja é necessário conhecermos um pouquinho sobre quem é o Espírito Santo. 1. Personalidade “Deus é um em essência, mas três em subsistência” Na definição da Trindade Santa o Espírito Santo é a terceira pessoa, esta “distinção” é usada pela própria Escritura Sagrada. “Portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;” (Mt 28.19) Sua personalidade revelada pelas Escrituras: Inteligência “Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito” (Jo 14.26). Sentimentos “Apesar disso, eles se revoltaram e entristeceram o seu Espírito Santo. (Is 63.10).” Vontade “Todas essas coisas, porém, são realizadas pelo mesmo e único Espírito, e ele as distribui individualmente, a cada um, conforme quer. (1 Co 12.11).” Ele realiza atos próprios de personalidade. Sonda, fala, testifica, ordena, revela, luta, cria, faz intercessão, vivifica os mortos, etc, Gn 1.2; 6.3; Lc 12.12; Jo 14.26; 15.26; 16.8; At 8.29; 13.2; Rm 8.11; 1 Co 2.10, 11. É impossível definir o Espírito Santo como mera “energia” ou “influência” divina, baseado no texto bíblico apresentado. 2. Divindade Atributos e obras divinas apresentado pelo Espírito Santo: Onipresença Para onde poderia eu escapar do teu Espírito? Para onde poderia fugir da tua presença? (Sl 139.7). Onisciência “Quem guiou o Espírito do SENHOR? Ou, como seu conselheiro, o ensinou? Com quem tomou ele conselho, para que lhe desse compreensão? Quem o instruiu na vereda do juízo, e lhe ensinou sabedoria, e lhe mostrou o caminho de entendimento?” (Is 40.13,14). Onipotência “pelo poder de sinais e maravilhas e por meio do poder do Espírito de Deus. Assim, desde Jerusalém e arredores, até o Ilírico, proclamei plenamente o evangelho de Cristo.” (Rm 15.19) Eternidade “quanto mais, então, o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu de forma imaculada a Deus, purificará a nossa consciência de atos que levam à morte, de modo que sirvamos ao Deus vivo!” (Hb 9.14). Criador “Espírito de Deus me fez; o sopro do Todo-poderoso me dá vida.” (Jô 33.4). Estas citações das Escrituras é apenas uma pequena parcela de inúmeras outras citações sobre a divindade do Espírito Santo apresentado na Bíblia. III. Horizontes da Promessa O Senhor Jesus antes de subir ao céu prometeu que o Espírito Santo viria sobre seus discípulos, (Jo 14.16; At 1.5,8) e os capacitaria para a pregação do evangelho. Esta profecia se cumpriu na festa judaica de Pentecostes, que era uma festa da colheita que se passava 50 dias após a Páscoa judaica. No dia em que o Espírito Santo desceu sobre os discípulos, Ele desceu com poder e glória inaugurando a era da igreja de Cristo, os discípulos que estavam ali reunidos começaram a falar as grandezas de Deus em outras línguas as quais eles não conheciam previamente, alguns se maravilharam desse sinal milagroso operado pelo Espírito Santo, outros, porém, zombavam. O apóstolo Pedro se levanta e anuncia que estava se cumprindo à profecia de Joel. “Pedro, porém, pondo-se em pé com os onze, levantou a voz e disse-lhes: Varões judeus e todos os que habitais em Jerusalém, seja-vos isto notório, e escutai as minhas palavras. Estes homens não estão embriagados, como vós pensais, sendo esta a terceira hora do dia. Mas isto é o que foi dito pelo profeta Joel: E nos últimos dias acontecerá, diz Deus, que do meu Espírito derramarei sobre toda a carne; e os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, os vossos jovens terão visões, e os vossos velhos sonharão sonhos;” (At 2.14-17). Na escatologia pedrina os “últimos dias” estava sendo inaugurado no dia de Pentecostes, isso faz que alguns estudiosos afirmem que do dia de Pentecostes aos dias atuais nós estamos vivendo os últimos dias, e que esses últimos dias se encerrarão na vinda do Senhor Jesus para reinar sobre a terra. Nos últimos dias existem dois eventos que foram revelados ao profeta Joel, primeiro o derramamento (vinda) do Espírito Santo sobre todos os seus servos, e segundo o juízo divino (fogo e trevas) sobre os homens ímpios, mas aqueles que invocarem o nome do Senhor serão salvos. “ e também do meu Espírito derramarei sobre os meus servos e minhas servas, naqueles dias, e profetizarão; e farei aparecer prodígios em cima no céu e sinais em baixo na terra: sangue, fogo e vapor de fumaça. O sol se converterá em trevas, e a lua, em sangue, antes de chegar o grande e glorioso Dia do Senhor; e acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.” (At 2.18-21). Obviamente que a primeira parte da profecia de Joel já se cumpriu, e deste então o Espírito Santo habita na igreja, (At 8.17; 10.47; 19.6;). Já a segunda parte da profecia de Joel se cumprirá no fim dos tempos. O significado da expressão “batismo com fogo” usado pelo profeta João Batista, provavelmente se refere ao juízo divino também pré-anunciado pelo profeta Joel. “E eu, em verdade, vos batizo com água, para o arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu; não sou digno de levar as suas sandálias; ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo.” (Mt 3.11). É claro que alguns interpretam a expressão “fogo”, como poder dinâmico e purificador do Espírito Santo, independente da interpretação correta o sentido de fogo é a sua ação purificadora, (Lc 3.17; I Co 3.12,13). A vinda do Espírito Santo inaugurou dons como sonhos, visões e profecia, citados pelo profeta Joel. À luz do Novo Testamento, aprendemos que existe um número bem maior de dons espirituais que foram distribuídos pelo Espírito Santo à igreja de Cristo, (Rm 12.6-8; I Co 12.8-10; Ef 4.8,11; I Pe 4.10,11). Sem dúvida esse texto do profeta Joel é o expoente do Movimento Pentecostal. IV. O Fim dos Tempos Os eventos finais da história da humanidade culminam com o “Dia do Senhor”, Dia do Senhor não é um período de 24 horas, a palavra “dia” tem significado de um tempo indeterminado, um período de tempo onde o Senhor Deus executará seus juízos sobre os ímpios e dará livramento aos justos. Há quem diga que o Dia do Senhor começou no Pentecostes e culminará na vinda de Cristo para julgar a nações ímpias, outros, afirmam que o Dia do Senhor se dará durante um período de 7 anos conhecido como A Grande Tribulação e culminará na vinda do Senhor Jesus. “Porque haverá então grande tribulação, como nunca houve desde o princípio do mundo até agora, nem jamais haverá” (Mt 24.21). “Imediatamente após a tribulação daqueles dias ‘o sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz; as estrelas cairão do céu, e os poderes celestes serão abalados. Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem, e todas as nações da terra se lamentarão e verão o Filho do homem vindo nas nuvens do céu com poder e grande glória.” (Mt 24.29,30). Observe que tanto nos textos de Mateus 24 como nas profecias de Joel, os eventos finais do Dia do Senhor abalarão as estruturas cósmicas, como estrelas, sol e lua, (Jl 2.30,31; 3.15). Para os justos o Dia do Senhor será dia de livramento, quando o Senhor reinará sobre a terra com justiça. “E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do SENHOR será salvo; porque, no monte Sião e em Jerusalém, estarão os que forem salvos, como o SENHOR prometeu; e, entre os sobreviventes, aqueles que o SENHOR chamar.” (Jl 2.32). Lembrando que Jerusalém é onde o Senhor reinará sobre toda a sua criação, (Ap 21.2; 22.3). Por isso não tenhamos medo, o Senhor nos guardará, (Ap 3.10). No último capítulo do livro, o profeta Joel anuncia uma palavra de juízo sobre as nações ímpias que se congregarão no vale de Josafá para juízo, e uma palavra de restauração para seu povo. "Despertem, nações; avancem para o vale de Josafá, pois ali me sentarei para julgar todas as nações vizinhas.”(Jl 3.12). “O Senhor rugirá de Sião e de Jerusalém levantará a sua voz; a terra e o céu tremerão. Mas o Senhor será um refúgio para o seu povo, uma fortaleza para Israel.” (Jl 3.16). Estes eventos se darão no futuro quando nações ímpias se levantarão contra o povo de Deus: Israel. Os reis dessas nações, juntamente com o anticristo, serão derrotados para todo o sempre, (Ap 19.12-21). Conclusão As profecias de Joel depois de quase 3 mil anos são atuais, além do conteúdo moral as revelações escatológicas deste profeta estão presentes em cada cristão quando este crê no Senhor Jesus e recebe o Espírito Santo, como foi profetizado por Joel, e assim será até quando o Senhor voltar. Bibliografia Bíblia de Estudo NVI – Editora Vida Berkhof, Louis. As três pessoas consideradas separadamente. IN:________. Teologia Sistemática. Trad. Odayr Olivetti. Campinas: LPC, 1990, p.87.