8 INTRODUÇÃO O hipertireoidismo é uma doença endócrina causada pela excessiva produção e secreção dos hormônios tiroxina (T4) e tri-iodotironina (T3) pela glândula tireoide anormal. É relatada nos Estados Unidos, Europa e Austrália, como a doença endócrina mais comum diagnosticada em gatos, afetando aproximadamente um, em cada trezentos animais (HOEK et al., 2014). No Brasil, a ocorrência da doença vem aumentando anualmente, o que está relacionado com o aumento da população de gatos como animais de estimação, a maior sobrevida destes indivíduos e ao maior conhecimento desta endocrinopatia (RECHE JUNIOR et al., 2007). Acomete gatos de meia-idade, com média de 12 anos. Não parece haver predisposição racial, mas alguns estudos indicam ser menos frequente em siameses e himalaios. Há maior risco para gatos que se alimentam exclusivamente de dietas úmidas e naqueles que utilizam areia sanitária (KOOIJ et al., 2013). A doença, nos felinos, é quase sempre causada por uma disfunção autonômica da glândula tireoide e raramente, por alterações hipotalâmicas ou hipofisárias. As alterações histológicas mais comumente encontradas são hiperplasia adenomatosa envolvendo um ou ambos os lobos da tireoide, de caráter benigno (Figura 1). O carcinoma tireóideo em gatos é incomum, constituindo aproximadamente 1 a 2% de todos os casos e são caracterizados pela alta invasão vascular e capsular (LURYE, 2006; BIRCHARD, 2006). Figura 1 - Adenoma funcional no lobo tireoidiano equerdo de um gato (SOUZA et al, 2015) 9 O objetivo deste trabalho foi revisar os aspectos fisiopatológicos, clínicos, diagnósticos e terapêuticos desta doença que, muitas vezes, ainda não é levada em consideração pelos médicos veterinários, mas que se corretamente diagnosticada e tratada, pode levar a um importante aumento na qualidade de vida dos pacientes acometidos. ANATOMIA DA TIREOIDE A tireoide tem origem endodérmica e seu desenvolvimento se dá precocemente na porção cefálica do tubo digestivo. No gato, a glândula tireoide tem formato achatado e elipsoidal (SOUZA, DANIEL, 2008). São estruturas pares e vermelho-escuras, localizadas adjacentes à porção proximal da traqueia, caudalmente à laringe. O lobo esquerdo é levemente caudal ao direito. O istmo de conexão entre os dois lobos, encontrado na espécie humana, não existe em gatos. No gato normal, os lobos são situados profundamente em relação ao músculo esterno-hióideo, medem em torno de 10 mm de comprimento, 4 mm de largura e 2 mm de espessura e não são palpáveis. Dorsalmente, os lobos estão em estreita proximidade com a bainha carotídea e com o tronco vagossimpático. Fibras do nervo laríngeo recorrente direito passam dorsalmente em íntima associação ao lobo tireoidiano direito. O principal aporte sanguíneo para cada lobo da tireoide é a artéria tireoidiana cranial, que se origina da artéria carótida comum. A artéria tireoidiana caudal, encontrada no cão, não está presente no gato. O principal retorno venoso da glândula tireoide se faz pelas veias tireoidianas craniais e caudais, que deixam os polos cranial e caudal de cada lobo, respectivamente. A glândula tireoide tem uma cápsula de tecido conjuntivo, cujos septos penetram na glândula formando uma trama de suporte e também conduzindo um rico suprimento vascular (BIRCHARD et al., 1984). Existem quatro glândulas paratireoides, sendo duas externas, que medem de 3 a 7 mm e situam-se na superfície craniolateral da tireoide e podem ser distinguidas pela sua coloração mais clara e pelo seu formato arredondado (BIRCHARD, 2006). As duas glândulas paratireoides internas, estão de modo geral, inseridas no parênquima tireoidiano, variando quanto à sua localização. O suprimento sanguíneo para as paratireoides consiste em pequenos vasos que se originam da artéria tireoidiana cranial (FERGUSON, FREEDMAN, 2006). O tecido tireoidiano acessório é muito comum no gato e pode ser encontrado na região cervical e no tórax. Esse fato tem significado clínico, visto que a hiperplasia adenomatosa, e 10 ocasionalmente o carcinoma, pode originar-se de tecido tireoidiano na região cervical ventral ou mediastínica anterior. Tal tecido acessório pode explicar, pelo menos em parte, por que a maioria dos gatos é eventualmente capaz de manter concentrações circulantes normais dos hormônios da tireoide sem a necessidade de terapia de reposição, após tireoidectomia bilateral (BIRCHARD et al., 1984). Alguns gatos possuem tecido paratireoideano ectópico no mediastino anterior, porém, este tecido não é capaz de manter as concentrações de cálcio normais imediatamente após a paratireoidectomia (NAAN et al., 2006). As células do parênquima da glândula estão arranjadas em numerosos folículos, compostos por células foliculares, revestindo um lúmen central preenchido por colóide. Uma extensa rede interfolicular de capilares fornece um abundante suprimento sanguíneo às células. Entre os folículos tireoidianos, encontram-se também as células parafoliculares que secretam calcitonina, hormônio importante para o controle homeostático de cálcio (GUYTON, HALL, 1997). HORMÔNIO TIREOIDIANO A função da tireoide é controlada pelo hormônio estimulador da tireoide ou tirotropina (TSH) da pituitária anterior. Por sua vez, a secreção desse hormônio trópico é regulada pelo hormônio liberador da tirotropina (TRH) do hipotálamo, e está sujeito a controle por feedback negativo (figura 2) pelas altas concentrações circulantes de hormônios tireoidianos que atuam sobre a pituitária anterior e hipotálamo (COLVILLE, 2010). O hormônio tireoidiano é produzido quando o TSH atinge a glândula tireoide. Pode ser classificado como T3 (tri-iodotironina) e T4 (tetraiodotironina ou tiroxina), de acordo com a quantidade de átomos de iodo em sua molécula. O T3 é o principal hormônio tireoidiano. O T4 é produzido em maior quantidade, mas precisa ser convertido a T3 a fim de produzir efeito metabólico nas células-alvo (COLVILLE, 2010). A glândula tireoide mantém o metabolismo nos tecidos em condições ideais para o seu funcionamento normal. Os hormônios tireoidianos estimulam o consumo de oxigênio pela 11 maioria das células do corpo, ajudam a regular o metabolismo de lipídios e carboidratos e são necessários para o crescimento e maturação normais (FELDMAN, NELSON, 2004). Figura 2 - Esquema do mecanismo de feedback negativo dos hormônios tireoidianos no hipotálamo Fonte: http://brasil.bestpractice.bmj.com Apresentam efeito calorífico, auxiliando no aquecimento do organismo. Têm ação regulatória da taxa metabólica de todo o organismo, permitindo que o animal produza quantidades determinadas de calor, e auxilia na manutenção de uma temperatura corporal interna constante, enquanto a temperatura externa ao organismo varia (HEDINGER, WILLIAMS, SOBIN, 1988). Age no metabolismo de proteínas, favorecendo o anabolismo, porém, quando encontra-se na circulação em quantidades excessivas, favorece o contrário, causando catabolismo proteico. Interfere também no metabolismo de carboidratos, com ação hiperglicemiante, auxiliando na manutenção da homeostase glicêmica. Promove catabolismo lipídico. Em animais jovens, em crescimento, influencia o desenvolvimento e a maturação do sistema nervoso central e crescimento e desenvolvimento de músculos e ossos (COLVILLE, 2010). 12 HIPERTIREOIDISMO FELINO - PATOGENIA E FATORES DE RISCO A etiologia do hipertireoidismo não está totalmente elucidada, mas acredita-se em causas multifatoriais. Desde o primeiro diagnóstico, em 1979, diversos estudos têm sido publicados com o objetivo de se determinar fatores de risco para esta doença (MOONEY, 2001). Acredita-se que a doença seja ocasionada pela combinação de fatores imunológicos, genéticos, nutricionais e ambientais, já que em 70% dos casos, há um aumento bilateral da glândula, apesar de não haver conexão entre os dois lobos (LURYE, 2006). Nos seres humanos, a doença de Graves (hiperplasia difusa) e o bócio nodular tóxico (hiperplasia nodular focal ou múltipla) constituem as duas formas mais comuns de hipertireoidismo. Na doença de Graves são produzidos autoanticorpos, que se conjugam com o receptor do hormônio TSH, mimetizando sua atividade. Até o presente momento, não foi possível correlacionar a existência desses autoanticorpos como causa da doença nos felinos (SOUZA et al., 2015). A mais provável causa do hipertireoidismo em gatos é a redução da expressão de uma proteína G no tecido tireoidiano. Esta proteína está envolvida na inibição de uma ampla variedade de processos de sinalização intracelulares. O sinal de transdução é dependente da adenosina monofosfato cíclico (cAMP) mediante uma via mediada pela proteína G, depois que o TSH liga-se ao seu receptor (LAUBERG et al., 2001). A proteína G, quando presente, inibe o crescimento e a diferenciação das células tireoidianas, e seu decréscimo implica redução do efeito inibitório. A proteína G acopla-se ao receptor de TSH e pode agir de modo estimulatório (Gs), resultando no aumento das concentrações de cAMP, ou inibitório (Gi), resultando no decréscimo dessas concentrações. A quantidade relativa de proteínas Gs e Gi determina os níveis finais de cAMP no interior da célula. Desse modo, se o equilíbrio for alterado em favor de Gs, ocorrerá aumento na produção de cAMP, e consequentemente, aumento no estímulo das células tireoidianas. Alterações na expressão da proteína G no receptor de TSH podem estar envolvidas na patogênese da doença, pois foi identificada diminuição dessa expressão em felinos hipertireoideos (SOUZA et al., 2015; SOUZA, DANIEL, 2008; MOONEY, 2005). Em humanos, anormalidades na expressão da proteína G são responsáveis pelo desenvolvimento do bócio nodular tóxico, bem como a ativação autônoma dessas proteínas e 13 mutações do gene codificador da subunidade alfa-Gs, resultando em elevado nível de cAMP, com ativação desorganizada dos processos de mitose e função celular. Ainda, mutações no receptor de TSH produzem resposta similar àquela observada nos casos de mutação de Gs. Devido às semelhanças identificadas entre essa forma da doença no homem e no gato, tem-se buscado mutações tanto de proteína G quando dos receptores de TSH nos felinos. Múltiplas mutações já foram identificadas em estudos mais recentes (NELSON, COUTO, 2008). Questiona-se ainda, que a expressão anormal de oncogenes possa atuar na patogênese do hipertireoidismo felino, levando à funcionalidade autônoma da tireoide, visto que foi demonstrada a superexpressão do produto do proto-oncogene celular c-Ras em tecido tireoidiano de alguns gatos afetados, mas a relevância ainda é incerta (MOONEY, 2005). Fatores de predisposição incluem o contato com fertilizantes, herbicidas, anti-pulgas em pó e spray, substâncias presentes no revestimento de latas de ração e até mesmo uso de granulado sanitário por animais domiciliados. O aumento no risco de desenvolvimento do hipertireoidismo em animais idosos se daria pelo maior tempo de exposição a essas substâncias, consideradas bociogênicas, durante a vida, o que levaria a mutações genéticas nos tireócitos, resultando na formação de nódulos hiperplásicos - adenomas, levando ao hipertireoidismo (SOUZA et al., 2015). Os mecanismos propostos para o desenvolvimento do hipertireoidismo relacionado ao contato com substâncias bociogênicas, na maioria dos estudos, parecem estar ligados a redução das concentrações séricas do hormônio tireoidiano, que afetaria o feedback negativo e estimularia a secreção do TSH, levando, por sua vez, a um aumento da produção de T3 e T4. Esta superestimulação crônica seria a responsável pela hipertrofia e hiperplasia das células foliculares tireoidianas (KOOIJ, 2014). Estudos sugerem que o alto ou o baixo teor de iodo no alimento, também está relacionado ao maior risco de desenvolvimento e progressão desta endocrinopatia (MARTIN et al.; 2000; EDINBORO et al., 2004). A concentração de iodo contido na comida enlatada é extremamente variável, estando frequentemente com nível até 10 vezes maior do que aquele recomendado (MOONEY,2002). O nível de selênio também pode potencialmente modificar a função tireoidiana. Produtos usados no revestimento das latas, como ftalatos e bisfenois, também são considerados possíveis causas do desenvolvimento de lesão adenomatosa. Estes compostos são metabolizados por glicuronidação para sua eliminação e esse metabolismo é particularmente lento na espécie felina (MOONEY, 2002; EDINBORO et al., 2004). 14 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A ação do hormônio tireoidiano é geralmente estimulatória, com isso, os sintomas do hipertireoidismo são usualmente manifestados pelo efeito em um ou mais órgãos consequente do aumento desse hormônio (PETERSON, 2006). As alterações clínicas do hipertireoidismo são progressivas e mais de 50% dos gatos acometidos, manifestam essas alterações por seis meses a um ano até serem encaminhados ao veterinário. Isso ocorre porque as apresentações clínicas iniciais (aumento do apetite e hiperatividade) são facilmente confundidas com um estado saudável por parte dos proprietários. Este fator faz com que grande parte dos pacientes, seja diagnosticada em estágio avançado da doença (HEDINGER et. al, 1989). A maioria dos sinais clínicos ocorre devido a uma taxa metabólica basal aumentada, com elevação no consumo de oxigênio pelos tecidos e elevada sensibilidade às catecolaminas pelo aumento do número e da afinidade dos receptores β-adrenérgicos na superfície celular (FELDMAN, NELSON, 1996; CARDOSO et al., 2005). A apresentação clínica clássica inclui taquicardia, hiperatividade, emaciação progressiva, polifagia, diarreia, êmese, poliúria e polidipsia (GUNN-MOORE, 2005; BIRCHARD, 2006). O estado hipermetabólico resulta em um aumento da contração e do consumo do oxigênio pelo miocárdio, do débito cardíaco e do gasto de energia, levando a uma hipertrofia cardíaca compensatória (SALISBURY, 1991). Na ausculta cardíaca pode-se evidenciar taquicardia, ritmo de galope, sopro sistólico e arritmia (PETERSON et al., 1983), que, após a correção do estado hipertireoideo, normalmente regridem (OLSON, 2001). As alterações cardíacas no gato hipertireoideo podem ser explicadas também pela ação direta do hormônio tireoidiano no coração, as interações com o sistema nervoso simpático e as mudanças cardíacas para compensar as alterações metabólicas teciduais. A hipertensão arterial sistólica ocorre em quase 90% dos casos, provavelmente pela combinação do estado hiperdinâmico do coração, da retenção de sódio, dos baixos níveis de vasodilatadores renais, da perda de autorregulação da pressão sanguínea glomerular e da ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona (OLSON, 2001). A hipertensão não é resolvida de imediato após a normalização do T4 total e quando esta for de moderada a 15 severa, deve ser tratada com atenolol, anlodipina ou algum inibidor da enzima conversora de angiotensina até a sua normalização (TREPANIER, 2006). As anormalidades do padrão respiratório provavelmente resultam de uma combinação de fraqueza muscular, intolerância ao calor e aumento da produção de dióxido de carbono. Após situações de estresse, alguns gatos doentes podem apresentar dispneia, arquejamento ou hiperventilação em repouso. Ocasionalmente essas alterações são notadas pelos proprietários em casa, mesmo sem estarem relacionadas a momentos de tensão. As alterações cardíacas descritas anteriormente, também podem justificar alterações respiratórias (GUNN-MOORE, 2005). A perda de peso ocorre em 90% dos casos (figura 3) e é secundária ao aumento do metabolismo basal, que requer maior demanda calórica e acarreta em uma ingestão maior de alimentos, levando à polifagia (FELDMAN, NELSON, 1996; CARDOSO et al., 2005). Figura 3 - Emaciação e alterações em pelame de felino hipertireoideo (CUNHA et al., 2008) Em casos avançados, pode ocorrer anorexia, devido à marcante perda de peso, fraqueza e perda de massa muscular pelo catabolismo proteico. Esta alteração foi descrita em menos de 10% dos casos (FELDMAN, NELSON, 1996). O aumento da frequência de defecação e a diarreia são secundários à hipermotilidade intestinal, à polifagia e à má absorção, sendo geralmente acompanhados de esteatorreia (PETERSON et al., 1983). 16 O vômito pode resultar da ação direta do hormônio tireoidiano na zona quimiorreceptora bulbar (“zona de gatilho”) ou da distensão gástrica aguda, decorrente da grande quantidade de alimento ingerida rapidamente (FELDMAN, NELSON, 1996). Com relação ao sistema renal, o fluxo sanguíneo renal, a velocidade de filtração glomerular e as capacidades tubulares de reabsorção e secreção estão aumentados. Azotemia renal é comum nos gatos doentes, porém, esse é um achado comum em gatos de meia-idade e idosos, com isso, a causa da azotemia não parece estar relacionada ao estado hipertireoideo. Porém, o aumento da hemodinâmica renal é benéfico nos animais com doença renal crônica (DRC), portanto, após a correção do estado hipertireoideo existe o risco dos animais apresentarem uma maior deterioração renal. O aumento da taxa de filtração glomerular leva a poliúria e polidipsia, que podem mascarar uma doença renal crônica concomitante (LANGSTON, REINE, 2006). Estudos sugerem que o hipertireoidismo também predisponha o desenvolvimento de infecção do trato urinário inferior (MAYER-ROENNE et al., 2007). A astenia muscular, que já foi descrita em aproximadamente 15% dos casos, pode ocorrer devido à hipocalemia e/ou à deficiência de tiamina (vitamina B1) que são induzidas pela tireotoxicose (FELDMAN, NELSON, 1996). A hipocalemia, (figura 4) presente em 32% dos gatos hipertireóideos, ocorre devido à elevação dos hormônios da tireoide e à liberação de catecolaminas, estimulando o movimento do potássio do espaço extracelular para o intracelular (NAAN et al., 2006). Figura 4 - Ventroflexão cervical ocasionada por hipocalemia (CUNHA et al., 2008) 17 Dermatopatias estão presentes em 40% dos gatos acometidos. Os principais relatos são de alopecia pelo excesso de lambedura e/ou à avulsão pilar, devido à intolerância ao calor ou pelos emaranhados em razão da ausência de auto-higienização, em casos de apatia (FELDMAN, NELSON, 1996). Devido ao aumento da velocidade de epidermopoiese, disqueratinização e onicogrifose também são queixas frequentes dos proprietários de gatos com hipertireoidismo (MILLER et. al, 2012). Felinos hipertireoideos muitas vezes são descritos pelos proprietários como sendo irriquietos, ansiosos e agressivos. Podem ser pouco tolerantes a situações de estresse. Arritmias e até mesmo paradas cardíacas já foram relatadas após situações de tensão que incluem contenção em caixas de transporte, viagens de carro e exame físico durante consultas veterinárias. A elevação das concentrações circulantes de hormônios tireoidianos, por efeito direto sobre o sistema nervoso e por aumento da atividade adrenérgica, causa hiperatividade, intranquilidade, deambulação ou irritabilidade em gatos hipertireoideos. A vocalização é frequente nesses pacientes (PETERSON, WARD, 2007). DIAGNÓSTICO Deve-se investigar a ocorrência de hipertireoidismo em todos os felinos de meia idade ou idosos que apresentem histórico de perda de peso, principalmente quando evidenciar polifagia. O exame físico geralmente revela uma má condição clínica, uma pelagem opaca e um aumento da glândula tireóide (GUNN-MOORE, 2005). A palpação da glândula tireoide deve ser incluída no exame físico de gatos adultos visando identificar possíveis aumentos ou nódulos, bem como estabelecer um padrão de normalidade para aquele paciente, facilitando a detecção futura de qualquer alteração de forma precoce. Caso nenhum nódulo seja evidenciado inicialmente, pode-se mudar a posição da cabeça e palpar duas a três vezes em cada lado, deslizando-se os dedos lateralmente à traqueia (Figura 5) (FERGUSON, FREEDMAN, 2006). NORSWORTHY et al. (2002a) caracterizaram as glândulas tireoides por tamanho, sendo zero quando não palpável, e um, dois, três, quatro, cinco e seis, as glândulas palpáveis com 0,5cm; 0,75cm;1,0cm; 1,5cm; 2,0cm e 2,5cm, respectivamente. Esses mesmos autores 18 relataram a ocorrência de aumento do hormônio tiroxina a partir do escore quatro. FERGUSON & FREEDMAN (2006) recomendaram fazer acompanhamento semestralmente em gatos com lobos classificados em um, dois ou três. Figura 5 - Palpação da glândula tireoide como parte do exame físico de gatos adultos (SOUZA et al., 2015) O achado de um ou mais lobos tireoidianos aumentados no exame físico não pode definir se o animal é hipertireoideo, pois o aumento da tireoide ocasionalmente pode ser encontrado em gatos sem alterações clínicas e sem evidências laboratoriais da doença (NORSWORTHY et al., 2002b). Apesar de alguns gatos com aumento da tireoide permanecerem eutireoideos por longos períodos de tempo, muitos eventualmente desenvolvem o hipertireoidismo, daí a necessidade do acompanhamento (PETERSON, 2006). Triagem Os principais diagnósticos diferenciais do hipertireoidismo são: Diabetes Mellitus e hiperadrenocorticismo, devido às manifestações clínicas principais: poliúria, polidipsia, polifagia e perda de peso; doença renal crônica, devido à azotemia, poliúria e polidipsia; 19 doenças gastrintestinais, como insuficiência pancreática exócrina, doença intestinal inflamatória e linfoma alimentar, devido à polifagia, aumento do volume e frequência das fezes, esteatorreia e emaciação progressiva (NELSON, COUTO, 2008). Na avaliação laboratorial dos gatos com hipertireoidismo, as anormalidades detectadas na hematologia são eritrocitose, macrocitose e volume globular aumentado. O aumento de consumo de oxigênio pela maioria das células do organismo leva a uma maior produção de eritropoietina, que estimula a medula óssea, resultando nesses sinais. O hematócrito é elevado em mais de 50% dos gatos afetados. A anemia é um achado raro, e é encontrada em casos severos de hipertireoidismo, onde houve exaustão da medula óssea. Na série branca, evidenciam-se leucocitose, neutrofilia madura, linfopenia e eosinopenia, refletindo um leucograma de estresse (PETERSON, WARD, 2007; SOUZA et al., 2015). No perfil bioquímico, cerca de 90% dos felinos acometidos apresentam aumento de enzimas hepáticas como a alanina aminotransferase (ALT), aspartato aminotransferase (AST), fosfatase alcalina (FA) e lactato desidrogenase. As causas dessas elevadas atividades séricas não estão bem esclarecidas, porém, há evidencias da ação direta dos hormônios tireoideanos nos hepatócitos, causando hipermetabolismo hepático. Além disso, pode ocorrer de forma secundária aos distúrbios cardíacos e aos efeitos tóxicos de T3. Essas elevações não são representativas de hepatopatia, pois tendem a normalizar após o tratamento para o hipertireoidismo (LISKA et al., 2005). As concentrações de frutosamina sérica são diminuídas nos gatos hipertireoideos, essa redução deve-se ao acelerado turnover proteico e independe da concentração sanguínea de glicose (SOUZA et al., 2015). Frequentemente, evidencia-se azotemia (PETERSON et al.,1983). Nenhuma nefropatia específica é atribuída ao hipertireoidismo. No entanto, acredita-se que o aumento da pressão do capilar glomerular e da proteinúria em gatos com hipertireoidismo possa contribuir para a progressão da doença renal (LANGSTON, REINE, 2006). A hiperfosfatemia também pode ser encontrada, sendo justificada pelo aumento da reabsorção óssea nesses pacientes (LANGSTON, REINE, 2006). Os achados radiográficos incluem cardiomegalia, efusão pleural e edema pulmonar. 20 As principais alterações cardíacas encontradas no eletrocardiograma são taquicardia sinusal (frequência cardíaca muitas vezes acima de 240 batimentos/minuto), aumento da amplitude da onda R na derivação DII (maior que 1,0 mV), defeitos de condução intraventricular, contrações prematuras atriais e fibrilações. Contrações prematuras ventriculares já foram descritas, mas são menos frequentes. Mais de 50% dos gatos hipertireoideos apresentam ao menos uma destas alterações e mais de 33% apresentam duas ou mais. Estas alterações, em geral normalizam-se após a terapia, porém uma parcela dos gatos acometidos pode desenvolver cardiomiopatia congestiva. Os mecanismos que são dependentes de catecolaminas podem influenciar em muitos dos distúrbios observados no traçado eletrocardiográfico. A habilidade dos fármacos bloqueadores dos receptores βadrenérgicos em corrigir parcialmente as taquiarritmias, sem afetar as concentrações anormais do hormônio tireoidiano, demonstra o efeito indireto do papel das catecolaminas nos distúrbios do eletrocardiograma (FELDMAN, NELSON, 2004). As anormalidades ecocardiográficas comumente encontradas em gatos hipertireoideos são hipertrofia ventricular esquerda, espessamento do septo intraventricular, dilatação ventricular e atrial esquerda e hipercontratilidade do miocárdio, que se manifesta pelo aumento na fração de encurtamento e na velocidade de encurtamento circunferencial das fibras. Alguns estudos demonstram que o hipertireoidismo possa induzir a forma secundária de miocardiopatia no gato, seja uma forma hipertrófica de miocardiopatia ou, menos comumente, um tipo dilatado de miocardiopatia. Qualquer das formas pode levar a quadros congestivos, mas ocorre com maior frequência nos pacientes com miocardiopatia dilatada FELDMAN, NELSON, 2004). A ultrassonografia da glândula tireoide revela o tamanho, presença de nódulos e as características estruturais deles. Pode diferenciar tumores cavitários, císticos ou sólidos, bem como identificar a presença e a localização de focos metastáticos na região cervical (SOUZA et al., 2015). Diagnóstico definitivo O diagnóstico de hipertireoidismo é normalmente realizado usando-se a combinação de sinais clínicos, palpação da tireoide, testes laboratoriais e de imagem (PETERSON, 2006). 21 A mensuração de T4 total é comumente a mais utilizada para confirmar o diagnóstico de hipertireoidismo (MOONEY, 1996, PETERSON et al., 2001). Quando o seu valor está aumentado, o resultado é extremamente específico para o diagnóstico de hipertireoidismo (PETERSON, 2006). No entanto, um resultado dentro da normalidade não permitirá que se descarte o hipertireoidismo, uma vez que podem ocorrer flutuações circadianas dos valores séricos de T3 e T4 ou diminuição nas concentrações de T4 total no soro, decorrentes de enfermidades concomitantes não tireoidianas, tais como nefropatia, diabete melito, neoplasia, hepatopatia e outras afecções crônicas (SALISBURY, 1991; PETERSON et al., 2001). A determinação de T4 livre por diálise é um teste diagnóstico bastante útil em gatos com grande suspeita de hipertireoidismo e concentração de T4 total dentro dos valores de referência. É importante salientar que somente a alta concentração de T4 livre não pode determinar o diagnóstico definitivo, já que entre 6 e 12% dos casos pode haver falso positivo devido à alta sensibilidade deste (MOONEY, 1996; PETERSON et al., 2001). A mensuração de T4 livre deverá ser avaliada sempre em conjunto com T4 total para evitar tais falsos positivos (PETERSON, 2006). Um valor de T4 total médio a ligeiramente elevado associado ao valor elevado de T4 livre é consistente com hipertireoidismo, mas um T4 total baixo associado ao valor elevado de T4 livre é associado à doença não tireoidiana (MOONEY, 2001). O hipertireoidismo deve ser considerado em gatos com doença renal crônica (DRC) e bócio que estejam apresentando T4 total e T4 livre no limite superior dos valores de referência, pois a DRC pode suprimir a concentração de hormônio tiroxina, podendo resultar em uma inabilidade de diagnosticar quadros de hipertireoidismo leve a moderado (LANGSTON, REINE, 2006). O mapeamento da tireoide com radionucleotídeo (Tecnécio-99) fornece uma fotografia de todo o tecido tireóideo funcional, permitindo o delineamento e a localização de áreas da tireoide funcional e não funcional (MOONEY, 2001; PETERSON, 2006). Tal exame é utilizado em gatos com apresentação clínica compatível com hipertireoidismo e concentrações séricas de T4 normais e para identificar presença de tecido tireoideo ectópico em gatos com sinais clínicos de hipertireoidismo e hipertiroxinemia, mas com ausência de nódulos palpáveis (MOONEY, 2001). Este método diagnóstico é considerado o melhor meio de contraste de imagem de emprego na rotina diagnóstica dessa enfermidade em gatos (PETERSON, 2006), 22 porém tem uso limitado devido ao alto custo e à necessidade de um equipamento computadorizado sofisticado (MOONEY, 2001; PETERSON, 2006). Teste de supressão ao hormônio tireoidiano Indicado nos 2 a 10% dos casos de hipertireoidismo, onde os níveis de T4 estão normais e o animal apresenta manifestações clínicas e lobos tireoidianos palpáveis. O teste dura 3 dias, no primeiro dia pela manhã são mensurados os níveis séricos de T4 e T3 totais basais e, depois, administram-se 25µg/gato de liotironina sódica (Cytomel®) a cada 8 horas, num total de 7 doses. Após 2 a 4 horas da administração da última dose da liotironina, uma segunda amostra de sangue é colhida para determinação de T3 e T4. Os gatos normais apresentarão T4 total reduzido em mais de 50% após a supressão. Nos gatos doentes, os níveis permanecerão normais ou ligeiramente diminuídos. O valor sérico de T3 estará aumentado, demonstrando que o fármaco realmente foi administrado (SOUZA et al., 2015). Teste de estimulação do hormônio liberador da tireotropina Para a realização deste teste é realizada a dosagem prévia de T4 sérico, seguido de outra após 4 horas da administração de TRH na dosagem de 0,1 mg/kg por via intravenosa. Em gatos normais, espera-se que o aumento da secreção hipofisária do TSH, secundário a administração do TRH, eleve os níveis de T4 sérico. Sendo que nos gatos doentes, isto não ocorre, devido à crônica supressão do TSH. Comparando-se os resultados, os gatos com hipertireoidismo discreto apresentam aumento inconsistente ou nenhum dos valores de T4, ao passo que aumento de até duas vezes é notado nos gatos sem a endocrinopatia (BROUSSARD et al., 1995). O teste tem como desvantagens os efeitos colaterais, como salivação, vômito, taquicardia e defecação, decorrentes da ativação dos mecanismos colinérgicos e catecolinérgicos centrais ou de um efeito neurotransmissor direto do TRH sobre o sistema nervoso central. Estes efeitos são transitórios (SOUZA, DANIEL, 2009). 23 Estudos comparativos de avaliação da eficácia entre o teste de supressão da T3 e o teste de estimulação do TRH demonstraram resultados semelhantes e podem ser utilizados para o diagnóstico do hipertireoidismo em fase inicial nos gatos, mas são desnecessários em gatos com a doença em estágio moderado ou avançado (FELDMAN, NELSON, 2004). TRATAMENTO Após ter sido feito o diagnóstico, o tratamento consiste em controlar a excessiva secreção de hormônio tireoideano. A terapia deve ser individualizada, levando em conta vários fatores, tais como idade, severidade da tireotoxicose, presença de doença concomitante, potenciais complicações, custo e aceitação do tratamento pelo proprietário (MOONEY, 2001). As opções de tratamento incluem administração oral crônica de um fármaco que iniba a produção hormonal, tireoidectomia dos lobos afetados ou terapia radioativa com iodo (131I) (TREPANIER, 2006). A tireoidectomia e o tratamento radioativo são os únicos métodos curativos. Antes de um tratamento definitivo em gatos hipertireoideos acometidos por doença renal, deve-se tentar o tratamento medicamentoso, pois poderá ocorrer a desestabilização do animal devido à diminuição da taxa de filtração glomerular, podendo desencadear uma descompensação da DRC (LANGSTON, REINE, 2006; NAAN et al., 2006). A manutenção de eutireoidismo por um mês, sem azotemia, pode ser suficiente para decidir por uma terapia definitiva (LANGSTON, REINE, 2006). Tratamento medicamentoso A terapia com fármacos antitireoideos possui as vantagens de não ser necessária anestesia geral, ser a opção mais barata e não requerer hospitalização. O inconveniente dessa terapia é que ela necessita de administração da medicação continuamente e de monitoração constante dos hormônios tireoidianos, além de não ocasionar a diminuição do bócio e, frequentemente, ocorrer efeitos colaterais (NORSWORTHY, 1995). 24 Os fármacos mais utilizados segundo a literatura são o metimazol, carbimazol e a propiltiouracila. Esses medicamentos atuam na inibição da síntese de hormônios tireoideanos. Usados corretamente, o tempo necessário até o estado eutireoideo varia de 1 a 3 semanas e não levam ao estado de hipoparatireoidismo, mas podem ocorrer casos de hipotireoidismo iatrogênico. A principal desvantagem no uso dessas medicações são os efeitos colaterais tais como vômito, anorexia e letargia; no caso da propiltiouracila, além dos efeitos descritos anteriormente, podem ocorrer ainda anemia hemolítica imunomediada, trombocitopenia e formação de anticorpos antinucleares (MOONEY, 2001; PETTERSON, TURREL, 1986). O propiltiouracil é o mais potente, mas possui efeitos colaterais mais sérios, como anemia hemolítica e trombocitopenia, com diátese hemorrágica. Foi o primeiro fármaco utilizado para terapia de hipertireoidismo no início da década de 1980. Hoje, deixou de ser recomendado para uso em gatos (TREPANIER, 2006). O carbimazol age primariamente como um profármaco do metimazol em seres humanos e gatos. A glândula tireoide é capaz de acumular apenas metimazol. Pode ser utilizado no preparo dos pacientes para a tireoidectomia e parece ser tão eficaz quanto o metimazol no tratamento clínico a longo prazo do hipertireoidismo (SALISBURY, 1991). A medicação mais comumente usada é o metimazol, na dose de 2,5 mg, por via oral a cada 12 horas. Recomenda-se tratar por 7 a 10 dias e, em seguida, realizar hemograma completo, bioquímica sérica e dosagem do T4 total. Se os níveis de T4 total permanecerem elevados e não houver efeitos colaterais significativos, a dose será aumentada para 5 mg de manhã e 2,5 mg ao anoitecer, durante 7 a 10 dias, quando os mesmos exames devem ser repetidos. Caso os níveis permaneçam elevados, a dose deverá ser aumentada para 5 mg, a cada 12 horas. Não é comum o gato necessitar de mais que 10 mg/dia de metimazol, porém, em alguns casos, uma dose de 5 mg, a cada 8 horas, foi bem tolerada. Entretanto, quando uma dose de 10 mg ou mais de metimazol estiver sendo administrada ao gato e não se observar a redução da concentração sérica de T4, o veterinário deve verificar se o proprietário está administrando o medicamento corretamente (NORSWORTHY et al., 2004). Esse esquema gradual com a realização dos exames deve ser realizado até que T4 total chegue ao nível normal. Nesse caso, o T4 total, hemograma e bioquímica sérica serão avaliados a cada 4 a 6 meses. Se houver qualquer efeito colateral o tratamento deve ser interrompido (RECHE JUNIOR et al., 2007). 25 Os efeitos colaterais desencadeados pelo metimazole ocorrem em 18% dos casos e incluem discrasias sangüíneas, escoriação facial e hepatoxicidade. Nesses casos realiza-se a descontinuação do tratamento medicamentoso e preconiza-se outra forma de tratamento (TREPANIER, 2006). Outros efeitos colaterais menos severos são letargia, vômito e anorexia, que ocorrem em 15% dos gatos, e geralmente desaparecem com o uso contínuo do fármaco. Uma opção à administração oral é o metimazole transdermal, que é associado com menor efeito gastrintestinal e pode ser usado em gatos com vômito ou inapetência devido à irritação gástrica desencadeada pelo metimazole, porém parece apresentar menor eficácia. A medicação deve ser manipulada em cremes à base de organogel de lecitina e deve ser aplicada no interior do pavilhão auricular (HOFFMANN et al., 2003). Alterações hematológicas discretas, tais como eosinofilia, linfocitose e leucopenia ocorrem em 10% dos gatos e alterações menos comuns, porém mais sérias, incluem trombocitopenia, neutropenia e anemia hemolítica. Hepatotoxicidade ocorre um em pequeno número de gatos (2%), sendo que nesses casos indica-se a descontinuação do metimazole e o início de terapia de apoio. Após uma semana da descontinuação desse fármaco, as enzimas hepáticas retornam ao seu valor de referência. No entanto, é comum a recidiva com o reinício do tratamento (TREPANIER, 2006). A insuficiência renal ocorre em aproximadamente 30% dos gatos tratados para hipertireoidismo. Isso geralmente ocorre dentro de um mês do início do tratamento e tende a permanecer em grau leve e estável ao longo do tempo. Gatos com hipertireoidismo apresentam taxa de filtração glomerular elevada devido a grande variedade de efeitos fisiológicos. A terapia leva à redução da taxa de filtração glomerular, independentemente se o tratamento for medicamentoso, cirúrgico ou radioativo. Uma vez que o tratamento com metimazol é reversível, é a abordagem preferida para o tratamento inicial do hipertireoidismo em animais com azotemia preexistente, para determinar se a redução do T4 levará a uma descompensação renal aceitável (SOUZA et al., 2015). Tratamento cirúrgico A tireoidectomia é uma opção efetiva de tratamento para gatos com hipertireoidismo, pois oferece cura permanente sem tratamento medicamentoso contínuo, além de não 26 necessitar de equipamento especializado (BIRCHARD, 2006). Esta pode ser realizada com uma baixa incidência de complicações quando realizada por um cirurgião experiente. Para tanto, utiliza-se um protocolo anestésico com mínimo efeito cardiovascular adverso ao paciente e realiza-se a estabilização pré-operatória, a fim corrigir principalmente a hipocalemia e as alterações cardíacas (NAAN et al., 2006). Gatos severamente afetados devem ser tratados no pré-operatório com metimazole ou carbimazole com o intuito de estabilizar o animal, diminuindo os riscos cirúrgicos (SALISBURY, 1991). Após duas a quatro semanas de tratamento, deve-se dosar novamente a concentração de T4 total e, se este estiver normalizado, o procedimento cirúrgico é então realizado (BIRCHARD, 2006). Se o tratamento com fármaco antitireoide não for tolerado, agentes bloqueadores beta-adrenérgicos (propanolol e atenolol) podem ser utilizados para estabilizar o paciente (NAAN et al., 2006). Agentes anticolinérgicos são contraindicados para evitar taquicardia e arritmia (FLANDERS, 1999), assim como a cloridrato de cetamina para que não haja estimulação simpática e liberação de catecolaminas (SALISBURY, 1991). Recomenda-se o uso de acepromazina 0,1 mg.kg-1, por via intramuscular, com a finalidade de diminuir o tono autonômico nesses pacientes, reduzindo assim as chances de ocorrer arritmias (PADGETT et al., 2002). Diferentes técnicas de tireoidectomia têm sido desenvolvidas com o intuito de minimizar potenciais complicações pós-operatórias associadas à tiroidectomia bilateral, como a hipocalcemia e a recorrência do hipertireoidismo. Esta recorrênica pode ocorrer até meses após a tireoidectomia se tecido tireoidiano adenomatoso permanecer no local (FLANDERS, 1999) ou se existir tecido tireoidiano ectópico (NAAN et al., 2006). A técnica de tireoidectomia intracapsular é efetuada mediante incisão da cápsula tireóidea e remoção de todo o tecido da tireóide. A cápsula permanece no animal com a glândula paratireoide externa aderida (BIRCHARD et al., 1984). Essa técnica tem a vantagem de proteger a paratireóide, mas aumenta a possibilidade de deixar tecido tireóideo anormal no gato, havendo assim recidiva do hipertireoidismo (PADGETT et al., 2002). A técnica de tireoidectomia extracapsular é realizada mediante cuidadosa dissecação da glândula paratireóide externa da cápsula tireóidea com o cuidado de manter intacta a vascularização da paratireoide (PADGETT et al., 2002). Essa técnica tem menor probabilidade de deixar tecido tireóideo anormal no gato porque a cápsula tireóidea não é invadida, porém há um maior risco de desencadeamento de hipoparatireodismo. Isso ocorre 27 porque os vasos paratireóideos podem ser facilmente seccionados ou lesados devido à manipulação dos tecidos (FLANDERS, 1999). NORSWORTHY (1995) citou a técnica de tireoidectomia extracapsular bilateral com transplante de paratireóide em duas etapas, como uma alternativa para evitar as complicações cirúrgicas dessas técnicas. Nesta técnica, a glândula paratireóide é implantada no ventre muscular do esterno-hióideo, após a remoção extracapsular da glândula tireóide. A revascularização ocorre em média aos 14 dias do transplante da paratireóide. No entanto, recomenda-se uma nova intervenção somente após três semanas depois da primeira cirurgia (PADGETT et al., 1998). Essa é a técnica mais vantajosa, pois não necessita de demorada dissecação da vasculatura tiróidea e evita a hipocalcemia, pois permite que haja a revascularização ipsilateral do tecido paratireóideo antes da glândula tireóide contralateral ser removida e seu suprimento sangüíneo ser potencialmente interrompido (FLANDERS, 1999). Sua maior desvantagem é a necessidade de dois procedimentos cirúrgicos (BIRCHARD, 2006). Após a extirpação cirúrgica da glândula, esta deve ser sempre encaminhada para análise histopatológica, devido à possibilidade deste tumor ser um carcinoma, em que o prognóstico e a terapia serão diferentes (MOONEY, 1996). Potenciais complicações da tireoidectomia incluem mudança na vocalização, síndrome de Horner, paralisia da laringe e hipoparatireoidismo em casos de tireoidectomia bilateral em que houve desvascularização, ou remoção inadvertida de toda a paratireóide (BIRCHARD et al., 1984; LURYE, 2006). A taxa de recorrência é baixa e ocorre principalmente devido à existência de tecido tireóideo ectópico hiperplásico (NAAN et al., 2006). A avaliação do cálcio sérico deve ser realizada após 18 a 24 horas da tireoidectomia bilateral, não sendo essencial em casos de procedimento unilateral ou bilateral associado ao reimplante da glândula paratireóide em duas etapas, pois apenas uma glândula paratireóide é suficiente para manter a normocalcemia (FLANDERS, 1999). Normalmente a hipocalcemia ocorre dentro das primeiras 24 horas (PADGETT et al., 1998). Entretanto a dosagem da concentração do cálcio sérico deve ser feita por no mínimo dois dias de pós-operatório (BIRCHARD, 2006). Alterações clínicas precoces de hipocalcemia incluem letargia, anorexia, relutância em se mover, fasciculações fasciais (principalmente das orelhas), tremores musculares, tetania e convulsões (BIRCHARD, 2006). O hipoparatireoidismo pela completa desvascularização da glândula paratireóide é resolvido em 14 dias. Se passar desse tempo, é provável que tenha ocorrido a completa paratireoidectomia (FLANDERS, 1999). 28 A suplementação com cálcio deve ser instituída em casos de sinais clínicos de hipocalcemia ou quando a concentração de cálcio sérico estiver abaixo de 7mg/dL (FLANDERS, 1999; BIRCHARD, 2006). Inicialmente, deve-se administrar 1 a 1,5 ml/kg de gluconato de cálcio a 10% lentamente por via intravenosa, tendo o cuidado de interromper a administração se ocorrer bradicardia. Em seguida, deve-se administrar 2 ml/kg da mesma solução por infusão contínua nas próximas oito horas ou por via subcutânea diluída em solução fisiológica (1:1) (MOONEY, 1996). Não deve-se administrá-lo com solução de bicarbonato de sódio, pois haverá precipitação (BIRCHARD, 2006). Assim que houver estabilização do paciente, deve-se iniciar a medicação oral na dose de 50 a 75 mg/kg por dia divididos em três a quatro doses e 0,03 mg/kg por dia de dihidrotaquisterol. Quando o paciente obtiver a normocalcemia, pode-se diminuir a dose deste para 0,01 mg/kg a cada dois dias, até que ocorra a normocalcemia (MOONEY, 1996). Os níveis de T4 total devem ser avaliados após um mês da tireoidectomia para constatar que todo o tecido tireoidiano anormal foi retirado e que a glândula contralateral não está afetada (BIRCHARD, 2006). Quinze por cento dos casos de hipertireoidismo bilaterais apresentam um dos lobos aparentemente normal no momento da cirurgia. Nesses casos a terapia com metimazole deverá ser reintroduzida e, assim que houver a estabilização do paciente, a tireoidectomia contralateral poderá ser realizada (MOONEY, 1996). Tratamento radioativo O uso de iodo radioativo é descrito como a terapia mais simples, efetiva e segura para o hipertireoidismo felino. O princípio básico desse tratamento é o fato de as células da tireoide não diferenciarem o iodo estável do iodo radioativo (SOUZA, DANIEL, 2009). E o iodo ativo, assim como o estável, concentra-se primariamente no tecido hiperplásico ou neoplásico, em virtude de sua maior atividade. Nesse tecido, ele emite partículas e radiação gama, causando destruição local do tecido tireoideano hiperplasiado, no entanto, não provocando dano às glândulas paratireóides adjacentes ou ao tecido tireoideano normal. As respostas aparecem cerca de 1 a 12 semanas após o início do tratamento, sendo esse um procedimento simples, mas que deve ser realizado em ambiente hospitalar apropriado e 29 controlado. Não ocorrem problemas como hipoparatireoidismo. Hipotireoidismo iatrogênico pós-terapia e efeitos colaterais são raros (TREPANIER, 2006). O iodo 131 é o radionucleotídeo de escolha para o tratamento de hipertireoidismo causado por tumores funcionais da tireóide, sendo também uma boa opção para lobos tireóideos bastantes aumentados bilateralmente, para gatos com massas tireóideas ectópicas hiperfuncionais e em casos de carcinoma de tireóide (MOONEY, 1996). Ele é administrado por via intravenosa, concentrando-se na tireóide, e destruindo células foliculares funcionais sem lesar estruturas adjacentes. A dose de 131I é determinada pela gravidade dos sintomas, pelo tamanho subjetivo dos lobos tireoidianos anormais e pela concentração sérica de T4. Com base nesses critérios, as doses empregadas individualmente para gatos hipertireoideos de 131 I são consideradas baixas (2,5 a 3,5 mCi), moderadas (3,5 a 4,5 mCi) e altas (4,5 a 6,5 mCi). De modo ideal, a administração de uma dose única do iodo radioativo restaura o eutireoidismo, sem provocar hipotireoidismo. Caso o estado hipertireoideo perdure por 3 meses após o tratamento inicial, o paciente pode receber nova aplicação de 131I, já que a mioria dos gatos pode ser curada com a repetição do tratamento nessa situação (SOUZA et al., 2015). Nos casos de carcinoma tireoidiano, o 131 I oferece a melhor oportunidade para a cura da neoplasia, concentrando-se em todas as células do tecido carcinomatoso, localizadas tanto na área cervical típica como nos locais metastáticos. As doses empregadas de radiação são extremamente mais elevadas do 131 I, em torno de 10 a 30 mCi. No entanto, a capacidade de retenção de iodo por essas células é menor, se comparada à capacidade de células adenomatosas. Por esse motivo, gatos acometidos por carcinoma devem ser tratados com doses extremamente elevadas do seguida da administração de 131 131 I. Adicionalmente, a combinação da remoção cirúrgica, I, também é relatada como efetiva nesses pacientes (SOUZA et al., 2015). Após o tratamento com 131I, a redução transitória nas concentrações de T4 para níveis subnormais durante algumas semanas é comum. O hipotireoidismo permanente se desenvolve em apenas 5% dos casos, já que as concentrações de T4 livre quase sempre permanecem dentro da variação normal. Os sintomas de hipotireoidismo podem incluir letargia, seborreia seca não pruriginosa, pelos opacos e emaranhados, além de ganho de peso acentuado (SOUZA et al., 2015). 30 Os gatos tratados com 131 I recebem alta após a diminuição da taxa de radiação para nível seguro, o que ocorre geralmente após um período entre 7 a 10 dias. A sobrevida dos gatos que obtêm êxito com uso do 131I é considerada boa (MOONEY, 2001). A maior desvantagem da técnica é que seu uso requer infraestrutura para adequado manejo dos radioisótopos, dependente de licenciamento governamental, pessoas especializadas e internação do paciente por 7 a 10 dias após a radioiodoterapia (MOONEY, 2001). CONCLUSÃO Com o número de casos diagnosticados aumentando, os clínicos veterinários devem dedicar maior atenção aos sinais clínicos iniciais dessa doença, uma vez que o diagnóstico precoce e o tratamento adequado tornam o prognóstico do animal mais favorável, podendo até se obter a cura do paciente, sem nenhuma sequela remanescente. Sabendo-se que o tratamento com iodo radioativo é simples e eficaz, esperamos que nos próximos anos, multiplique também no país o número de estabelecimentos veterinários com estrutura para a realização desta técnica que pode aumentar a sobrevida de nossos pacientes bem como sua qualidade de vida. 31 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BIRCHARD, S.J. Thyroidectomy in the cat. Clinical Techniques in Small Animal Practice, v.21, n.1, p.29-33, 2006. BIRCHARD, S.J.; PETERSON, M.E.; JACOBSON, A. Surgical treatment of feline hyperthyroidism: results of 85 cases. Journal of the American Animal Hospital Association, v.20, n.5, p.705-709, 1984. 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