urgências psiquiátricas relacionadas ao uso de álcool e

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SOCIEDADE BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA - SOBRATI
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM TERAPIA INTENSIVA
SÍLVIA MARIA DE CARVALHO FARIAS
URGÊNCIAS PSIQUIÁTRICAS RELACIONADAS AO USO DE ÁLCOOL E
OUTRAS DROGAS NO SETOR DE PRONTO ATENDIMENTO
SÃO PAULO
2013
SÍLVIA MARIA DE CARVALHO FARIAS
URGÊNCIAS PSIQUIÁTRICAS RELACIONADAS AO USO DE ÁLCOOL E
OUTRAS DROGAS NO SETOR DE PRONTO ATENDIMENTO
Dissertação apresentada à Banca Examinador do
Programa de Pós-Graduação Profissionalizante
da Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva
como requisito para obtenção do título de Mestre
em Terapia Intensiva.
ORIENTADORES: Dr. Douglas Ferrari
Dr. Rodrigo Tadine
SÃO PAULO
2013
SÍLVIA MARIA DE CARVALHO FARIAS
URGÊNCIAS PSIQUIÁTRICAS RELACIONADAS AO USO DE ÁLCOOL E
OUTRAS DROGAS NO SETOR DE PRONTO ATENDIMENTO
Dissertação submetida à banca examinadora como requisito para obtenção do
título de Mestre em Terapia Intensiva, no Programa de Pós-Graduação
Profissionalizante da Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva.
Orientadores
Nome do Professor DR. Douglas Ferrari
Nome do Professor DR. Rodrigo Tadine
Data: _____________
De acordo: ___________________________.
Data: _____________
De acordo: ___________________________.
Professor Convidado
Nome do Professor _________________________
Data: _____________
De acordo: ___________________________.
SÃO PAULO
2013
RESUMO
Trata-se de um estudo de cunho bibliográfico com o objetivo de nortear o
acolhimento e humanizar o tratamento de urgência ao usuário de álcool e outras
drogas. A amostra constituiu-se de 27 referências dentre elas Leis, Portarias do
Ministério da Saúde, artigos científicos, tese de mestrado, notícias do mundo
científico e livros pessoais. As intoxicações e Síndromes de Abstinências pelo uso
de drogas psicoativas sejam elas lícitas ou ilícitas, são frequentes nas Unidades de
Pronto Atendimento (UPA) e Pronto-socorro (PS). Portanto as equipes de socorristas
devem estar preparadas para o atendimento e encaminhamento das pessoas com
sofrimento ou transtorno mental decorrentes do uso de álcool e outras drogas.
Consequentemente a equipe deve ter ciência da Reforma Psiquiátrica, da rede de
referência e contrarreferência que norteará a continuidade do tratamento e a
reinserção do usuário de álcool e/ou outras drogas na sociedade.
Palavras-chave:
Urgência,
Politicas Públicas de Saúde.
Reabilitação
Psicossocial,
Álcool,
Drogas,
ABSTRACT
This is a bibliographical study with the objective of guiding the host and
humanize the treatment of urgency to the user of alcohol and other drugs. The
sample consisted of 27 references among them Laws, Ordinances of the Ministry of
Health, scientific papers, master thesis, scientific world news and personal books.
Intoxication and abstinence syndromes by use of psychoactive drugs, whether legal
or illegal, are common in Emergency Care Units (ECU) and Emergency room (ER).
So teams rescuers should be prepared to care and referral of people with mental
distress or disorder arising from the use of alcohol and other drugs. Therefore the
team must be aware of the Psychiatric Reform, network reference and counter that
will guide further treatment and rehabilitation from alcohol and/or other drugs in
society.
Keywords: Urgency, Psychosocial Rehabilitation, Alcohol, Drugs, Public
Policy for Health.
INTRODUÇÃO
As substâncias psicoativas, que têm potencial para viciar os usuários, são
alvo de preocupação da sociedade brasileira devido ao aumento considerável de
seu consumo nas últimas duas décadas (Laranjeiras, 2003).
As drogas constituem uma prevalência em nossa sociedade. Algumas, as
chamadas lícitas ─ álcool, cafeína e nicotina ─ são aceitas naturalmente no meio
social. A sociedade desenvolveu inclusive uma relativa tolerância a um abuso
ocasional dessas drogas (TOWNSEND, 2002).
O termo droga origina-se da palavra droog, que significa folha seca. Hoje a
medicina define droga como qualquer substância psicoativa capaz de modificar a
função dos organismos vivos, resultando em mudanças fisiológicas ou de
comportamento (CEBRID, 2010).
Essas substâncias agem sobre o psiquismo como calmantes, como
estimulantes ou como perturbadores psíquicos. Elas, portanto, agem diretamente no
Sistema Nervoso Central (SNC) humano e são classificadas como Depressores
(psicolépticos), Estimulantes (psicoanalépticos, noanalépticos, timolépticos) e
Perturbadores (psicoticomiméticos, psicodélicos, alucinógenos, psicometamórficos).
A tabela abaixo demonstra as principais substâncias psicoativas usadas de
maneira abusiva (CEBRID, 2010).
Tabela 1 - Classificação das substâncias psicoativas:
DEPRESSORES (SNC)
ESTIMULANTES (SNC)
Álcool
Anorexígenos: principal droga
(anfetamina): dietilpropriona,
fenproporex, etc...
Soníferos ou hipnóticos: barbitúricos,
alguns benzodiazepínicos
Cocaína
THC (da Maconha)
Ansiolíticos: diazepam, lorazepam,
etc...
Cracck
Psilocibina (certos cogumelos)
Opiáceos ou narcóticos: morfina,
heroína, codeína, meperidina, etc...
Merla
Lirio (trombeta, zabumba ou saia
branca0
Inalantes ou solventes: colas, tintas,
removedores, etc.
PERTURBADORES (SNC)
De origem natural (reinos vegetal e
funghi):
Mescalina (do cacto mexicano)
De origem sintética: LSD-25, Êxtase,
Anticolinérgicos (Artane, Bentyl).
As substâncias, que têm potencial para levar o indivíduo ao abuso, podem
desencadear a autoadministração e provocar no usuário sinais e sintomas de
tolerância, abstinência e compulsão para o consumo (Adams, Martin, 1996).
A dependência é caracterizada por não conseguir controlar o desejo em usar
uma determinada substância. Ela pode ser física e/ou psíquica. E o não uso desta
determinada substância causa alguns sinais e sintomas, tais como tremor das mãos,
náuseas, vômitos e delirium tremens, sensação de vazio, ansiedade, dificuldade de
concentração.
As situações de urgência e emergência pelo uso de álcool e outras drogas se
dão pelo consumo abusivo dessas substâncias. Em consequência dessa situação,
chegam à Unidade de Pronto Atendimento as seguintes situações: intoxicação,
dependência e abstinência por álcool e/ou outras drogas.
A portaria nº 148, de 31 de janeiro de 2012, tem como uma de suas diretrizes
a oferta de suporte hospitalar para situações de urgência/emergência decorrentes do
consumo ou abstinência de álcool, crack e outras drogas. Determina amparo
também àqueles, oriundos da Rede de Atenção às Urgências, da Rede de Atenção
Psicossocial e da Atenção Básica, acometidos por comorbidades psiquiátricas e/ou
clínicas.
A Política Nacional de Humanização (PNH) instituiu a Rede de Atenção
Psicossocial para acolher as pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com
necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, no âmbito do
Sistema Único de Saúde (SUS). Com isso o Governo busca intensificar, ampliar e
diversificar as ações orientadas para a prevenção, promoção da saúde, preservação
da vida e tratamento e redução dos riscos e danos associados ao consumo de
substâncias psicoativas. Propõe também ampliar para o usuário o acesso ao
tratamento hospitalar, aumentando o número de leitos em hospitais gerais.
O Ministério da Saúde, em consonância com a Organização Mundial de
Saúde, que vem se preocupando cada vez mais com os usuários de Crack, assume
o protagonismo do combate à droga, entendendo que o problema ultrapassa a
esfera da saúde. Como a droga é barata, torna-se mais acessível ainda aos jovens
de todas as classes sociais.
Os consumidores de crack estão expostos a riscos sociais e a diversas
formas de violência. Geralmente, quando os efeitos da droga diminuem no
organismo da pessoa, ela sente sintomas de depressão e tem sensação de
perseguição. Outros sintomas comuns são desnutrição, rachadura nos lábios,
sangramento na gengiva e corrosão dos dentes; tosse, lesões respiratórias e maior
risco para contrair o vírus HIV e hepatites (BRASIL, 2009).
Os consumidores de álcool são associados pelo World Health Organization
(2011) com graves problemas sociais, violência doméstica, negligência infantil,
abuso e absenteísmo no trabalho.
Segundo AMARAL & MALBERGIER (2008), 50% das mortes violentas que
ocorrem nos Estados Unidos da América (EUA) são relacionadas ao uso de álcool.
A World Health Organization, em 2011, notificou que 4% das mortes do mundo todo
foram atribuídas ao uso do álcool. Isso traduz que o álcool mata mais que o
HIV/AIDS, violência e tuberculose.
Diante do acima descrito, este estudo propõe que o serviço de Urgência e
Emergência em Unidade de Pronto Atendimento assuma um papel fundamentador
no acolhimento e encaminhamento do usuário de álcool e outras drogas para as
redes de referência do Sistema Único de Saúde, pois o serviço não deve perder
essa oportunidade por se tratar de uma porta de entrada aos usuários do SUS.
OBJETIVO
Buscar na literatura as diretrizes de atendimento nas Redes de Urgência e
Emergência que objetivam nortear o acolhimento e humanizar o tratamento de
urgência ao usuário de álcool e outras drogas.
MÉTODO
Trata-se de um estudo de cunho bibliográfico que visa buscar na literatura as
diretrizes de atendimento nas Redes de Urgência e Emergência que objetivam
nortear o acolhimento e humanizar o tratamento de urgência ao usuário de álcool e
outras drogas sob o prisma de seu encaminhamento para a reabilitação
psicossocial.
Realizou-se uma busca sistemática sobre o tema na base de dados da
BIREME, utilizando os seguintes descritores: “urgência”, “reabilitação psicossocial”,
“álcool”, “drogas”, “Politicas Públicas de Saúde”, estendendo a busca ao acervo
pessoal dos autores do atual estudo.
Assim a amostra deste estudo constituiu-se de 27 referências, dentre elas
Leis, portarias do ministério, artigos científicos, notícias do mundo científico, tese de
mestrado e livros pessoais.
REVISÃO DA LITERATURA
O Centro Brasileiro de Informações sobre drogas (CEBRID) da Universidade
Federal de São Paulo (UNIFESP), em parceria com a Secretaria Nacional
Antidrogas (SENAD); aponta no II Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas
Psicotrópicas, realizada em 2005, que 12,5% das pessoas pesquisadas com idade
entre 12 e 65 anos preenchem os critérios para a dependência de álcool e destes
75% já beberam pelo menos uma vez na vida. A estimativa de dependentes de
álcool na região Nordeste chega a 14%.
Com relação à maconha, nas 108 cidades brasileiras pesquisadas, o uso foi
de 8,8%. A região Sudeste atingiu 10,3% de pessoas que usaram pelo menos uma
vez na vida, apresentando inclusive maior prevalência de uso de maconha 1,4%
(Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas, 2006).
O uso de Merla foi de 1% na região Norte e de cocaína 2,9% em todo o Brasil.
O crack, até 2006, foi de 1,5% nas 108 cidades brasileiras. Em contrapartida, o uso
de solventes chega a 6,1%, prevalente superior à aferida na Colômbia (1,4%) e
Espanha em torno de 4% (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas, 2006).
Dados relacionados ao uso de substâncias psicoativas são datados desde
antes de Cristo. Isso não quer dizer que o problema deva ser banalizado.
Estudo financiado pela Universidade de Harvard concluiu que das dez
doenças mais incapacitantes cinco são de natureza psiquiátrica: depressão,
alcoolismo,
transtorno
obsessivo
compulsivo,
transtorno
afetivo
bipolar
e
esquizofrenia.
Sobre a carga global dessas doenças, a estimativa é a de que o álcool seria
responsável por 1,5% de todas as mortes do mundo, bem como 2,5% do total de
anos vividos com alguma incapacidade (Ministério da Saúde, 2003).
Em 2003 o Ministério da Saúde, preocupado com a crescente onda e
demanda de usuários de álcool e outras drogas, formulou uma Politica Nacional
Especifica para Álcool e Drogas, que assumiu o desafio de prevenir, tratar e
reabilitar os usuários, segundo a Lei 10.216/01, iniciando assim a Reforma
Psiquiátrica Brasileira.
A Lei 10.216/01 é considerada o marco legal da Reforma Psiquiátrica no
Brasil, reorganizando os serviços de referência em saúde mental.
Do hospício Pedro II, criado em 1852 no Rio de Janeiro, ao Primeiro Centro
de Atenção Psicossocial (CAPS), em 1986 na cidade de São Paulo, foi uma longa
luta. No entanto a porta de entrada para as urgências relacionadas à psiquiatria e ao
uso de álcool e outras drogas não abrigam profissionais capacitados para lidar com
esse tipo de população, perderam a referência para encaminhá-los. Antes
encaminhavam-se os pacientes para algum hospital psiquiátrico. E com a reforma
psiquiátrica, que estabeleceu a desospitalização/desinstitucionalização, para onde
encaminhá-los?
No processo saúde-doença muitos da equipe de saúde ainda têm um
preconceito relacionado ao usuário de substâncias psicoativas. Alguns não
conseguem relacionar a dependência e o vicio à doença.
Na Classificação Internacional de Doenças (CID) de F.10 à F. 19; existe uma
Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à
Saúde, pontuados com transtornos mentais pelo uso de álcool e outras drogas.
Em 2006 foi sancionada a Lei 11.343 que suprimiu a pena de prisão aos
usuários de álcool e outras drogas. Reconhecer no consumidor de drogas um não
criminoso foi um avanço para o tratamento dos indivíduos que sofrem com a
dependência.
Segundo PRATES, 2011; as intoxicações e Síndromes de Abstinências pelo
uso de drogas psicoativas, sejam elas lícitas ou ilícitas, são frequentes nas Unidades
de Pronto Atendimento (UPA) e Pronto-socorro (PS). Cinquenta por cento são de
baixo risco, porém a outra metade pode evoluir para uma complicação aguda grave
nos diversos sistemas corpóreos (nervoso, endócrino, cardiovascular, hematológico,
digestivo) e até mesmo para o risco de morte.
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
A grande maioria dos usuários de álcool e outras drogas é diagnosticada
como dependente químico. Os sinais e sintomas que definem a dependência
química traduzem um conjunto de fenômenos comportamentais, cognitivos e
fisiológicos, consequentes do uso repetido de uma substância psicoativa, associada
ao desejo intenso de se consumir esta substância. Apesar de ter ciência das
consequências danosas que a droga possa lhe trazer, o usuário não domina sua
vontade de consumi-la mais e mais.
Saber lidar com a urgência física palpável não é problema para a equipe de
saúde, difícil para ela é lidar com o estigma e o preconceito. O estigma é uma marca
física, tribal ou social. No que se refere ao usuário de substancias psicoativas, esta
marca é social, “lá vem aquele cachaceiro de novo” ou “ele é maconheiro mesmo, a
família não aguenta mais”. Preconceito é uma atitude discriminatória contra pessoas
por serem quem são ou pelo gosto e estilo de vida que escolheram.
Mas, quando se escolhe a profissão de saúde para seguir, realiza-se um
juramento de atender a todos que precisarem de cuidados. E assim preconceito,
discriminação e estigma não devem fazer parte do vocabulário do profissional de
saúde. Atualmente é difícil saber quem terá um dependente químico na família, tal a
magnitude demográfica que a droga atingiu.
A equipe de saúde de PS, PA e UPAs devem estar preparadas para o
atendimento e encaminhamento das pessoas com sofrimento ou transtorno mental
decorrentes do uso de álcool e outras drogas para dar continuidade a tratamento
iniciado. Para isso é necessário ter no seu âmbito de atuação um sistema efetivo de
acolhimento, classificação de risco e cuidado aos usuários de substâncias
psicoativas.
Tabela 2 - Principais sintomas e motivos de internação por uso de álcool
e/ou outras drogas no pronto atendimento. (LARANJEIRAS E CREMESP, 2003)
ÁLCOOL
CRACK/COCAÍNA
ÓPIO
ANFETAMINAS
Ataxia
overdose (pode causar
rabdomiólise e morte
súbita)
Overdose (inconsciência, miose,
bradicardia, depressão
respiratória, convulsão, coma)
Overdose (hipertermia,
convulsão, hipertensão, colapso
cardiovascular
Sudorese
Arritmias cardiacas
rinorréia
Fissura intensa
Taquicardia
Hipertensão
miose
Agitação
Hipertensão
Acidente vascular cerebral
Fissura
Ansiedade
Agitação psicomotora
Convulsões
Ansiedade severa
Tentativa de suicídio
Cefaléia
Embolia pulmonar
Midriase
Humor depressivo
Delirium
Hipoglicemia
Espasmos
Midriase
Alucinações visuais, táteis
ou auditivas
Hipocalemia
Dor muscular por abstinência
Edema pulmonar
Convulsões
Hipertermia
Perturbações da Pressão arterial
Hipertermia maligna
Vômitos prolongados
Taquicardia
Diarréia
Hematemese
Taquipnéia
Piloereção
Auto e heteroagressividade
Distúrbios metabólicos
Blackouts
Tabela 3 - Tratamento farmacológico (LARANJEIRAS E CREMESP, 2003)
ALCOOL
CRACK/COCAÍNA
ÓPIO
ANFETAMINAS
Analise qualitativa
(semiologia do aparelho
respiratório e cardíaco,
sinais de injeção EV,
miose...), exames
laboratoriais emergentes
Benzodiazepínicos de ação
curta
Tiamina
(Intramuscular)
Diazepan
Diazepam
Haloperidol
naloxona
Oxigênio
Flumazenil
(lanexat)
Midazolan
Naltrexona (para paciente
sem uso de ópio há 10
dias)
Fenitoina
haloperidol
Nitroglicerina ácido acetil
salicilico
Dantrolene sódico
Fenitoina 100mg
Fenitoina 100mg
resfriamento
Nifedipina (contra indicada
se cocaína por via oral)
Furosemida e manitol
Carvão ativado em
acidentes com invólucro de
cocaína
Consequentemente a equipe deve ter ciência da Reforma Psiquiátrica
implementada na Lei 10216/2001.
Potencializar a interlocução entre os serviços da Atenção Básica, CAPS e a
rede de atenção às urgências. A intersetoriedade deverá ser articulada assim como
a interdisciplinaridade já o é.
Corroborando este pensamento, dar norte aos usuários de álcool e outras
drogas, pesquisas vêm demonstrando que a coocorrência do uso de substancias e
desordem mental fazem com que existam baixas taxas no que se refere ao término
e continuidade do tratamento, (Compton et al., 2003; Weisner et al., 2003).
Com isso conhecer a rede de referência e contrarreferência para os usuários
de álcool e outras drogas humanizará o cuidado, afinal cuidar é antes de tudo
encontrar-se com. Encontrar-se com o outro “paciente” é perceber por traz do outro
uma história, um sonho, uma família. É saber reconhecer o outro como sujeito,
sujeito de sua história, com suas crenças, descrenças, valores, saberes, sabores,
dessabores, desejos, sonhos, renúncias e expectativas.
Compreender o processo saúde-doença, na lógica do paciente com
transtorno mental pelo uso de álcool e outras drogas, guiará as ações no campo da
prevenção, do tratamento e da inclusão social.
O manejo psiquiátrico é a base que se deve seguir para os pacientes com
transtornos psiquiátricos relacionados ao uso abusivo de substâncias psicoativas.
Tratar a intoxicação, a crise de abstinência, manter o vinculo terapêutico, prevenir
recaídas, reduzir morbidade e sequelas dos transtornos é muito importante.
Envolver a família na abordagem psicoterápica fará com que o paciente se
sinta mais confortável e confiante na sua recuperação.
Os gastos com o tratamento para a recuperação dos usuários de álcool e/ou
outras drogas na rede privada chega a vinte (20) mil reais por seis meses nas
clínicas mais modestas.
Em fevereiro de 2012, o Ministro Interino do Estado de Saúde Mozart Júlio
Tabosa Sales assina a Portaria nº 148 que dita o valor das diárias em Hospital que
atende pelo SUS. O cálculo de custeio anual dos leitos de atenção a pessoas com
sofrimento ou transtorno mental e com necessidades de saúde decorrentes do uso
de álcool, crack e outras drogas foi o seguinte R$ 300,00 (trezentos reais) por dia
até o 7º dia de internação; R$ 100,00 (cem reais) por dia do 8º ao 15º dia de
internação; e R$ 57,00 (cinquenta e sete reais) por dia a partir do 16º dia de
internação.
O Ministério da Saúde Alexandre Padilha com o objetivo de aumentar a Rede
de Atenção Psicossocial repassou cinquenta milhões de reais para a construção de
novas redes de atendimento vinte e quatro horas e de Unidades de Acolhimento.
Esse investimento deve garantir os direitos a moradia, educação e convivência
familiar e social.
Fluxograma de referência para atendimento aos usuários de álcool e
outras drogas (SENAD, S/A)
Suporte psicossocial
Vulnerabilidade psicológico / social
Desintoxicação
Cuidados
contínuos
da ESF
Leve / grave
Internamento
Psiquiátrico
em Hospital
Albergamento
terapêutico
Cuidados clínicos
de comorbidades
CAPS AD
ESF
Consultórios
de Rua
Urgências
CAPS
Emergências
e
Gerais
CAPS AD
COMUNIDADE EM GERAL
Emergência
Psiquiátrica
A rede de referência e contrarreferência em saúde mental fica assim
constituída: na Atenção Básica, Unidade Básica de Saúde, Equipes de Atenção
Básica para populações em situações específicas, Equipe de Consultório na Rua,
Equipe de apoio aos serviços do componente Atenção Residencial de Caráter
Transitório, Centro de Convivência e Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF);
na Atenção Psicossocial Especializada, CAPS I, CAPS II, CAPS III, CAPS AD, CAPS
AD III, CAPS i.
Cada um desses Centros de Atenção Psicossocial dá assistência a uma
parcela da população usuária de álcool e outras drogas. Seguem abaixo os grupos
atendidos:
a) CAPS I: atende a pessoas com transtornos mentais graves e persistentes e
também com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas de
todas as faixas etárias; indicado para municípios com população acima de 20.000
habitantes;
b) CAPS II: atende a pessoas com transtornos mentais graves e persistentes,
podendo também atender as com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool
e outras drogas, conforme a organização da rede de saúde local; indicado para
municípios com população acima de 70.000 habitantes.
c) CAPS III: atende a pessoas com transtornos mentais graves e persistentes.
Proporciona serviços de atenção contínua, com funcionamento 24 horas, incluindo
feriados e finais de semana, ofertando retaguarda clínica e acolhimento noturno a
outros serviços de saúde mental, inclusive CAPS Ad; indicado para municípios ou
regiões com população acima de 200.000 habitantes.
d) CAPS AD: atende a adultos ou crianças e adolescentes, considerando as
normativas do Estatuto da Criança e do Adolescente, com necessidades decorrentes
do uso de crack, álcool e outras drogas. Serviço de saúde mental aberto e de caráter
comunitário, indicado para municípios ou regiões com população acima de 70.000
habitantes.
e) CAPS AD III: atende a adultos ou crianças e adolescentes, considerando as
normativas do Estatuto da Criança e do Adolescente, com necessidades de
cuidados clínicos contínuos. Serviço com no máximo 12 leitos para observação e
monitoramento, de funcionamento 24 horas, incluindo feriados e finais de semana;
indicado para municípios ou regiões com população acima de 200.000 habitantes.
f) CAPS i: atende crianças e adolescentes com transtornos mentais graves e
persistentes e os que fazem uso de crack, álcool e outras drogas. Serviço aberto e
de caráter comunitário indicado para municípios ou regiões com população acima de
150.000 habitantes.
Essas redes de referência estão pactuadas nas atividades de reinserção
social do usuário ou do dependente de drogas e respectivos familiares, aquelas
direcionadas para sua integração ou reintegração em redes sociais (Lei
11343/2006).
Corroborando o pensamento da Política Pública de Álcool e Outras Drogas do
Ministério da Saúde do Brasil, os estudos de (Barrera et al., 1993; Frauenglass et al.,
1997; Johnson e Pandina, 1991; McDonald e Towberman, 1993; Neaigus et al.,
1994; Newcomb, 1997; Wills et al., 1992) documentaram que o suporte social pode
atuar como um fator protetor para o uso de drogas.
Com relação ao aspecto clínico, pesquisadores da Yale University, desde
1998, vêm trabalhando numa vacina anticocaína.
A vacina age diretamente no sistema imune do corpo, é constituída por um
segmento do vírus, comum do resfriado, e uma partícula que imita a cocaína. A
revista Molecular Therapy, em janeiro de 2011, publicou artigo dos professores de
medicina genética da Universidade de Cornel, Ronald Crystal e Jim Janda,
informando que a vacina anticocaína está pronta para testes em seres humanos.
Thomas Kosten, Doutor de Psiquiatria e Neurociência da Baylor College of
Medicine, foi o principal pesquisador da primeira fase da vacina anticocaína em Yale
há quinze anos, trabalha no aperfeiçoamento dos efeitos da cocaína. O ensaio
clínico dirigido por Kosten foi realizado com 15 dependentes de cocaína, 58 dos
quais receberam a vacina e 57 foram tratados com placebo. No grupo controle, o
consumo da droga caiu e algumas pessoas deixaram de usá-la.
CONCLUSÃO
As Políticas Públicas de Saúde Brasileira objetivam a reabilitação psicossocial
do usuário de álcool e outras drogas.
O que leva o indivíduo à iniciação e à manutenção do uso de substâncias
psicoativas é muito complexo e merece estudos de investigação deste fenômeno.
O entendimento de como se dá a evolução do uso de drogas norteará as
ações de prevenção, de tratamento e da inclusão social.
De acordo com esse pensamento, o mundo cientifico está trabalhando na
busca do tratamento que reverta o quadro de dependência. Um bom exemplo é a
vacina anticocaína.
A rede de referência e contrarreferência são recursos qualitativos que a
equipe de saúde, que se encontra na porta de entrada do cuidado, precisa conhecer.
Entendendo que porta de entrada do cuidado aos usuários de álcool e outras
drogas são os PS, PA e UPAs, o atual estudo é de relevância para a equipe
socorrista, pois a reversão do quadro clínico do usuário de álcool e outras drogas
pode propiciar-lhe a chance de ser reinserido na sociedade, elevando sua condição
de doente e dependente químico para a de cidadão.
O reconhecimento do outro como cidadão é essencial àqueles que
escolheram o cuidar como profissão.
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