Crescimento do alecrim com diferentes intensidades de poda em

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Santos KGF; Souza JM; Dal Picio M; Cardoso FL; Lerner MA. 2012.Crescimento do alecrim
em diferentes intensidades de poda. Horticultura Brasileira 30: S6355-S6360.
Crescimento do alecrim com diferentes intensidades de poda em
cultivo fora do solo
Kamila Gabriele F. dos Santos¹; Jéssica M. de Souza¹; Miriane Dal Picio¹;
Francieli L. Cardoso¹; Maíne A Lerner¹
¹ UFSM – Departamento de Fitotecnia. Av. Roraima, Bairro Camobi, n. 1000, 97105-900 Santa Maria –
RS,
[email protected],
[email protected],
[email protected],
[email protected], [email protected]
RESUMO
O objetivo deste trabalho foi determinar o efeito da poda da parte aérea durante o
crescimento e desenvolvimento da planta e sobre a produção de massa seca de folhas de
alecrim. O experimento foi conduzido em um abrigo coberto com polietileno no
Departamento de Fitotecnia da UFSM, no período de outubro de 2011 a março de 2012.
Os tratamentos consistiram em diferentes intensidades de poda: T1 sem poda, T2 com
podas efetuadas a cada 15 dias e T3 a cada 30 dias, no delineamento inteiramente
casualizado com sete repetições de uma planta. Foi avaliada a massa seca de hastes,
folhas, massa seca total e o diâmetro do caule. A produção de massa seca e o diâmetro
do caule foram maiores nas plantas de T1, enquanto aquelas de T2 e T3 não diferiram
significativamente entre si. Os resultados indicam que nas plantas não podadas a
produção total de folhas é mais elevada, porém a proporção da massa seca alocada para
as folhas é menor.
PALAVRAS-CHAVE: Rosmarinus officinalis L., plantas condimentares e medicinais.
ABSTRACT
Pruning intensities on growth of soilless rosemary plants
The aim of this research was to determine the effect of pruning on rosemary plant
growth and development and dry mass accumulation in leaves. The experiment was
conducted inside a polyethylene greenhouse in the Departamento de Fitotecnia da
UFSM, from October 2011 to March 2012. Treatments were different pruning
intensities: T1 without pruning, T2 with pruning at fortnightly and T3 at monthly
intervals, in a completely randomized experimental design and seven replications of one
plant. It was determined the dry mass of stems, leaves, total plant dry mass and stem
diameter. Dry mass accumulation and stem diameter were higher on T1 plants, whereas
those of T2 and T3 did not differ significantly. Results show that on unpruned plants
leaf dry mass accumulation is higher, but the fraction of dry mass allocated to leaves is
lower.
Keywords: Rosmarinus officinalis L., condiments and medicinal plants.
O alecrim (Rosmarinus officinales L.) tem sido pesquisado em vários países pelo seu
potencial terapêutico que ao longo dos anos foi se desenvolvendo a partir do seu uso
popular (Marchiori, 2004). Atualmente, pesquisadores têm dado mais importância às
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plantas medicinais que são usadas desde a antiguidade. Apesar disso, existe carência de
resultados de literatura sobre as características dessa planta (Ferrari et al., 2011).
Pertencente à família Lamiaceae, o alecrim, além de utilizado como tempero na
culinária, também é conhecido como planta medicinal devido as suas propriedades
antibacterianas (Oluwatuyi et al., 2004). O extrato de alecrim tem sido utilizado
comercialmente para aumentar a vida de prateleira dos alimentos. Além disso, entre os
antioxidantes naturais, o alecrim tem sido indicado como uma das especiarias com a
mais alta atividade antioxidante (Peng et al., 2005).
Originário do litoral do Mediterrâneo é um arbusto que possui um aroma característico e
devido a esse aroma os romanos o chamaram de rosmarinus, que do latim significa
orvalho que vem do mar. Já o termo officinalis refere-se à designação de que era uma
planta conhecida sob o ponto de vista médico-herborista, sendo amplamente utilizada na
culinária, medicina, beleza e magia (Matos, 2002). O aroma é consequência de óleos
voláteis que são empregados como essências para a perfumaria. A quantidade e
qualidade dos óleos voláteis podem ser afetadas pelas características físicas e químicas
do solo em que a planta é cultivada. Os solos da região do Mediterrâneo caracterizam-se
por baixa fertilidade, baixa umidade e altos teores de cálcio, que são favoráveis a uma
maior concentração de óleos e aroma mais intenso (Ferrari et al., 2011).
O crescimento das plantas é o resultado da partição dos assimilados produzidos pela
fotossíntese entre os órgãos da planta. No caso do alecrim, as folhas são o órgão de
interesse econômico das quais são extraídos os óleos essenciais. Por isso, a proporção
da massa seca alocada para o crescimento de folhas em relação aos outros órgãos é a
principal variável que determina a produtividade do alecrim. Essa proporção pode ser
manejada por meio da poda da parte aérea da planta durante o período de crescimento e
desenvolvimento da lavoura. De acordo com Thomazielo & Pereira (2008), a poda é a
operação que tem a finalidade principal de eliminar partes da planta que, ao longo dos
ciclos, perderam ou diminuíram a capacidade produtiva, cuja possibilidade de
recuperação natural seja praticamente nula. Por meio da poda, a dominância apical é
suprimida como consequência da alteração do equilíbrio hormonal, havendo assim um
estímulo na emissão e no desenvolvimento dos brotos a partir de gemas latentes. Cresce
no mundo inteiro o interesse pelo alecrim com fins fitoterápicos (Marchiori, 2004). Para
a produção industrial dessa cultura o cultivo fora do solo é uma das alternativas. Não
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foram encontrados na literatura critérios de manejo da produção de alecrim nesse
sistema de cultivo. Este trabalho teve como objetivo determinar o efeito da poda da
parte aérea durante o crescimento e desenvolvimento da planta sobre a produção de
massa seca de folhas de alecrim.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi realizado na área experimental do Departamento de Fitotecnia da
Universidade Federal de Santa Maria – RS. O plantio foi realizado no dia 28 de outubro
de 2011. Foram usadas mudas comerciais com estatura entre 10 e 15 cm originadas de
estacas. O experimento foi conduzido em estufa de polietileno, em um sistema de
cultivo fora do solo. As mudas foram plantadas em vasos de 2,8 dm³ preenchidos com
substrato comercial orgânico (MecPlant®), na densidade de 12 plantas por m². A
irrigação e fertirrigação foram feitas por gotejamento através de microtubos. A
fertirrigação foi feita uma vez por semana, empregando uma solução nutritiva completa
(Andriolo, 2007). A irrigação foi feita diariamente em intervalos de 10 minutos,
controlados por um programador horário. O número de irrigações foi de uma por dia nas
primeiras quatro semanas após o plantio, até cinco irrigações diárias no mês de janeiro
de 2011.
Os tratamentos foram três intensidades de poda: plantas cultivadas sem poda (T1),
testemunha, plantas com uma poda a cada 15 dias (T2) e plantas com uma poda a cada
30 dias (T3). Foi utilizado o delineamento inteiramente casualizado com sete repetições
de uma planta. As plantas testemunhas foram deixadas com crescimento livre até o final
do experimento. Ao efetuar a poda, todas as ramificações foram cortadas deixando-se
duas gemas caulinares na base de cada ramificação. A primeira poda nas plantas de T2 e
T3 foi realizada no dia 23 de dezembro de 2011. A partir desta data foram feitas outras
cinco podas nas plantas de T2 e duas nas plantas de T3 (Tabela 1).
Ao final de cada poda foram separadas hastes e folhas e colocadas em estufa com
circulação de ar, na temperatura de 60ºC até obter massa constante entre duas pesagens
consecutivas. As variáveis avaliadas foram a massa seca de hastes e folhas e o diâmetro
do caule. O diâmetro do caule foi medido no colo de todas as plantas, com um
paquímetro. Ao final do experimento foram totalizados os dados de cada coleta. O
experimento foi encerrado em 22 de março de 2012 quando foi coletada toda a parte
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aérea das plantas dos três tratamentos. Os dados obtidos foram submetidos à análise de
variância e as variáveis com diferença significativa pelo teste F a p<0,05 foram
comparadas pelo teste de Tukey a p<0,05.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As plantas que não foram podadas (T1) apresentaram maior crescimento, diferindo
significativamente das plantas podadas (T2 e T3), as quais não diferiram entre si
(Tabela 2). Nas plantas de T1 a massa seca das hastes foi 66,1 % superior àquelas de
T2 e 70,2% superior àquelas de T3. Isso se deve ao fato de as hastes estarem mais
lenhosas do que nos tratamentos onde foram feitas as podas. Para a variável massa seca
de folhas o T1 também foi superior ao T2 e T3, porém o valor não foi tão expressivo
quanto foi para as hastes, de apenas 21,1% maior que em T2 e 29,2% maior que em T3.
Considerando a densidade de plantas, a produtividade de massa seca de folhas por área
foi de foi de 8,60 t ha-¹ em T1; 6,78 t ha-¹ em T2 e 6,08 t ha-¹ em T3. Esses resultados
foram superiores àqueles encontrados por May et al.(2010), onde houve aumentos
lineares na produção da massa seca da parte aérea com o aumento no intervalo entre
cortes, passando de 3,95 para 8,39 t ha-1 de massa seca, para os intervalos de 60 e 120
dias durante um ano e seis meses de cultivo. De acordo com a literatura os rendimentos
variam conforme as condições climáticas e o sistema de cultivo utilizado, ficando ao
redor de 3,9 t ha-1 de massa seca. Na Espanha, o rendimento relatado é de 2 a 3 t ha-1,
em São Paulo o rendimento de massa seca alcançado no primeiro corte foi de 1,82 t ha-1
(Ferrari et al., 2011). Os resultados encontrados neste trabalho são superiores àqueles
relatados na literatura, indicando que o sistema de cultivo fora do solo e o manejo da
parte aérea através da poda permitem aumentar a produtividade de folhas de alecrim.
Os resultados indicam que ao não efetuar a poda das plantas a produção total de folhas é
mais elevada, porém a proporção da massa seca alocada para as folhas é menor. A
prática da poda depende dos objetivos do sistema de produção. Quando o objetivo for
uma produção concentrada em uma única época do ano, a poda não deve ser efetuada.
Porém, quando o objetivo for obter uma produção de folhas escalonada durante o ano as
plantas poderão ser podadas a cada 15 ou 30 dias. Entretanto, quando for praticada a
poda, outros sistemas de manejo poderão ser testados. O emprego de maior densidade
de plantas poderá compensar a menor produção total de folhas nas plantas podadas.
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Outra questão a ser avaliada é a qualidade dos óleos em relação à idade fisiológica das
folhas, pois a poda estimula a emissão de novas folhas.
REFERÊNCIAS
ANDRIOLO JL. 2007. Preparo e manejo da solução nutritiva na produção de mudas e
de frutos do morangueiro. In: SEMINÁRIO SOBRE O CULTIVO HIDRÔPONICO DE
MORANGUEIRO. Anais…. Santa Maria: UFSM. p. 41-50.
FERRARI GN; SUGUINO E; MARTINS AN; MELLO SC; MINAMI K. 2011.
Alecrim (Rosmarinus officinalis L.). Série Produtor Rural 49.
MARCHIORI VF. 2004. Monografia de Rosmarinus officinalis. Fundação Herbarium –
Associação Argentina de Fitomedicina. p. 6-10.
MATOS, J.F.A. Plantas Medicinais. Fortaleza: Imprensa Universitária, 2002.
MAY A; SUGUINO E; MARTINS A N; BARATA L E S; PINHEIRO M Q. 2010.
Produção de biomassa e óleo essencial de alecrim (Rosmarinus officinalis L.) em função
da altura e intervalo entre cortes. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, Botucatu,
v.12, n.2, p.195-200, 2010
OLUWATUYI M; KAATZ GW; GIBBONS S. 2004. Antibacterial and resistance
modifying activity of Rosmarinus officinalis. Phytochemistry. Science Direct. Avaliable
in http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0031942204005291. Accessed in
march 15, 2012.
PENG Y; YUAN J; LIU F; YE J. 2005. Determination of active components in
rosemary by capillary electrophoresis with electrochemical detection. Journal of
Pharmaceutical and Biomedical Analysis. Science Direct. Avaliable in
http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0731708505002669. Accessed in
march 15, 2012.
THOMAZIELLO RA; PEREIRA SP. Poda e condução do cafeeiro arábica. Campinas:
IAC, 2008. 39p.
Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012
S 6359
Santos KGF; Souza JM; Dal Picio M; Cardoso FL; Lerner MA. 2012.Crescimento do alecrim
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Tabela 1. Datas de realização das podas da parte aérea das plantas de alecrim nos
tratamentos T2 e T3 e da coleta final nos três tratamentos (Dates of T2 and T3
Rosemary shoot pruning and harvesting of three plant treatments). Santa Maria, UFSM,
2012
Podas
Tratamentos
23/12/2011
T2 e T3
06/01/2012
T2
20/01/2012
T2 e T3
03/02/2012
T2
17/02/2012
T2 e T3
02/03/2012
T2
Coleta final – 22/03/2012
T1, T2 e T3
Tabela 2. Massa seca de folhas, hastes, total da parte aérea, diâmetro do caule de
alecrim e fração de folhas em diferentes intensidades de poda. (T1 = sem poda; T2 =
poda a cada 15 dias; T3 = poda a cada 30 dias) (Dry matter of leafs, stem and shoot dry
mass, stem diameter of rosemary and fraction of leaves at different pruning intensities
(T1 = non-pruned plants; T2= pruned every 15 days; T3= pruned every 30 days). Santa
Maria, UFSM, 2012
Tratamentos
T1
T2
T3
CV (%)
MS haste
(g pl-¹)
45,68 a
15,49 b
13,61 b
17,96
MS folha
(g pl-¹)
71,71 a
56,57 b
50,72 b
16,44
MS total
(g pl-¹)
117,39 a
72,06 b
64,33 b
16,59
Diâmetro
caule (cm)
1,25 a
0,91 b
0,81 b
17,63
Fração
folhas (%)
61
78
79
Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey, p<0,05(means
followed by the same letter in the column do not differ Tukey test p<0.05).
Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012
S 6360
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