UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Elaine Cristina Malisak FITORREMEDIAÇÃO DE NÍQUEL PROVENIENTE DE LODO INDUSTRIAL CURITIBA 2011 FITORREMEDIAÇÃO DE NÍQUEL PROVENIENTE DE LODO INDUSTRIAL CURITIBA 2011 Elaine Cristina Malisak FITORREMEDIAÇÃO DE NÍQUEL PROVENIENTE DE LODO INDUSTRIAL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Engenharia Ambiental da Faculdade de Ciências Exatas da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito para obtenção do título de Engenheiro Ambiental. Orientador: Profº Dr. Arion Zandoná Filho Co-orientadora: Vasconcellos CURITIBA 2011 Profª Msc. Maria Cristina TERMO DE APROVAÇÃO Elaine Cristina Malisak FITORREMEDIAÇÃO DE NÍQUEL PROVENIENTE DE LODO INDUSTRIAL Este trabalho de conclusão de curso foi julgado e aprovado para a obtenção do título de Engenheiro Ambiental da Faculdade de Ciências Exatas e de Tecnologia da Universidade Tuiuti do Paraná. Curitiba, 01 de julho de 2011. Engenharia Ambiental / FACET Universidade Tuiuti do Paraná. Orientador: ___________________________________________________ Prof. Dr. Arion Zandoná Filho Universidade Tuiuti do Paraná Co-orientadora: ___________________________________________________ Prof. Msc. Maria Cristina Vasconcellos Pontifícia Universidade Católica do Paraná / Biotecnologia Membro da Banca: ___________________________________________________ Prof. Dr. Helder de Godoy Universidade Tuiuti do Paraná Membro da banca: ___________________________________________________ Prof. Msc. Ana Paula Pitarelo Universidade Federal do Paraná / Departamento de Química ___________________________________________________ Coordenador do Curso: Prof. Msc. Luiz Capraro Universidade Tuiuti do Paraná Coordenado do curso de Engenharia Ambiental DEDICATÓRIA A todos aqueles que acreditaram e torceram por mim, que tiveram paciência e serenidade pra me acalmar nas mais complicadas situações. A aqueles amigos e colegas que simplesmente passaram pelo curso e acabaram tomando outro rumo em suas vidas, mas que deixaram marcas inesquecíveis. A todos os meus professores, mestres e doutores que durante minha vida acadêmica me passaram conhecimento e fizeram de mim uma pessoa mais preparada e consciente. Em especial a aqueles que se identificaram comigo, aqueles que de uma forma inexplicável criaram laços de afeto que perdurarão por muito tempo. Ao meu pai, que conquista a cada dia que passa o meu respeito, embora muitas vezes eu não consiga demonstrar da maneira com que ele espera. Em homenagem a Carolina Fagundes Caron (in memorian), que esteve presente em praticamente todos os meus momentos nesta universidade, que com toda sua delicadeza, discrição e organização provou sua imensa competência e superou as expectativas de muitos. AGRADECIMENTOS Aos meus queridos amigos, que não me deixaram desistir, embora minhas tentativas tenham sido muitas. Ouviram meu choro e minhas reclamações, suportaram meus momentos de ira e revolta, mas sempre me deram apoio pra seguir em frente. Ao meu eterno namorado, sempre prestativo, paciente e companheiro, por ter acreditado em mim em todos os momentos, por me fazer forte e inabalável, pela dedicação exclusiva, pelo carinho e por estar incondicionalmente ao meu lado, enfrentando e compartilhando todas as situações possíveis e impossíveis. A minha família que sempre se preocupou comigo, a minha mãe que me colocou em suas orações pedindo pra Deus iluminar meu caminho, pois é graças a Ele que aqui estou terminando mais essa etapa da minha vida que em muitos momentos pareciam um inacabável pesadelo. A minha equipe de trabalho da PUC, meus colegas e amigos que me ajudaram muito na parte experimental, que doaram seu tempo por mim e pela minha causa. Ao meu orientador o Prof.º Arion, que mesmo sem me conhecer direito, confiou e acreditou em meu trabalho de olhos fechados. A Prof.ª Maria Cristina, minha co-orientadora, um exemplo de garra e determinação, que foi o alicerce para as minhas pesquisas, e se doou muito, dentro de suas possibilidades. Ao Prof.º Paulo Ribeiro, pela disponibilidade e pelo auxílio técnico. Ao Prof.º Helder, que me ajudou com os detalhes finais e me surpreendeu, me passando extrema confiança para finalização deste trabalho. EPÍGRAFE Mas todos vivemos dias incríveis que não passam de ilusão, todos vivemos dia difíceis, mas nada disso é em vão... Todo bem que você faz pra quem te ama e quem te ama te faz, isso tudo é o que te faz levar a vida na paz, só Deus sabe quanto tempo que o tempo deve levar... Viver, viver e ser livre, saber dar valor para as coisas mais simples, só o amor constrói pontes indestrutíveis... A arte maior é o jeito de cada um, vivo pra ser feliz não vivo pra ser comum. Charlie Brown Jr. RESUMO O objeto deste trabalho é utilizar a tecnologia da fitorremediação para minimizar a poluição de um solo contaminado, com concentrações conhecidas de lodo industrial contendo o metal pesado níquel, analisando o potencial de plantas de crescimento espontâneo (invasoras) como fitoextratoras deste metal, e propor de forma sustentável a disposição dos resíduos gerados no processo, através da metodologia de eletrodeposição de metais, verificando sua eficiência e viabilidade. Os ensaios foram realizados em vinte vasos plásticos, sendo cinco replicatas de quatro concentrações: 0%, 20%, 25% e 30%, a céu aberto durante cinco meses. Realizou-se digestão química das amostras para quantificação do metal níquel em Espectrofotômetro de Emissão Óptica com fonte de plasma indutivamente acoplado (ICP – OES), e um método de eletrolítico conhecido como eletrodeposição de metais, para possível descontaminação do resíduo vegetal que realizou a fitoextração, através da recuperação utilizando sua própria biomassa. Os resultados da fitoextração comprovaram que espécies invasoras sobreviventes ao experimento possuem um alto potencial de absorção para remoção do níquel, chegando a 93,8% de remoção na concentração de 25% de lodo incorporado e que a recuperação do metal é possível, utilizando um método pouco evasivo baseado nos princípios da eletrólise. Palavras-Chave: fitorremediação, metal pesado, descontaminação, recuperação, biomassa. ABSTRACT The object of this research is to use the technology of phytoremediation to minimize pollution of a contaminated soil, with known concentrations of industrial sludge containing heavy metal nickel, analyzing the potential of plants with spontaneous growth (invasive) as phytoextractors of this metal, and propose sustainable way for the disposal of the residues generated in the process, through the methodology of electrodeposition of metal verifying its efficiency and viability. The tests were conducted in twenty plastic pots, with five replicates of four concentrations: 0%, 20%, 25% and 30%, in open air for five months. It was conducted a chemical digestion of samples for quantification of nickel in Inductively Coupled Argon Plasma Atomic Emission Spectroscopy (ICP – OES), and one electrolytic method known as electrodeposition of metals, for possible decontamination of plant residue that performed the phytoextraction, through recovery by using their own biomass. The results of phytoextraction has proven that invasive species who survive after experiment have a high potential for absorption in relation to removal of nickel reaching 93.8% removal in the concentration of 25% of incorporated sludge and also, that the metal recovery is possible, using a little evasive method based on the principles of electrolysis. Keywords: phytoremediation, heavy metal, descontamination, recovery, biomass LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURA 1 – MECANISMO DE FITORREMEDIAÇÃO DE SOLO .........................23 FIGURA 2 – BRASSICA OLERACEA ACEPHALA .................................................47 FIGURA 3 – VISÃO GERAL DO EXPERIMENTO...................................................52 FIGURA 4 – ACONDICIONAMENTO DE AMOSTRAS..........................................53 FIGURA 5 – SOLO TRITURADO E PENEIRADO ...................................................54 FIGURA 6 – LEITURA DE PH ....................................................................................54 FIGURA 7 – PREPARO E DIGESTÃO AMOSTRAS DE SOLO ..............................55 FIGURA 8 – AMOSTRAS DIGERIDAS DE PLANTAS ..........................................56 FIGURA 9 – ESQUEMA DE ELETRÓLISE ...............................................................57 FIGURA 10 – EXPERIMENTO DE ELETRODEPOSIÇÃO ......................................59 FIGURA 11 – SOLUÇÕES PARA ANÁLISE DE ELETRODEPOSIÇÃO ...............59 FIGURA 12 – EXEMPLOS DA CULTURA NO EXPERIMENTO ...........................61 FIGURA 13 – EXEMPLOS DE INVASORAS NO EXPERIMENTO ........................64 FIGURA 14 – ASPECTOS EXTERNOS DA PLANTA ..............................................66 FIGURA 15 – LEITURA DE PH ..................................................................................67 FIGURA 16 – PORCENTAGEM DE REMOÇÃO DE NÍQUEL................................71 FIGURA 17 – GRÁFICO DE RECUPERAÇÃO DE NÍQUEL ...................................73 LISTA DE TABELAS TABELA 1 – FITORREMEDIAÇÃO X TECNOLOGIAS ALTERNATIVAS..........29 TABELA 2 – COMPARATIVO DE CUSTOS ............................................................29 TABELA 3 – CONCENTRAÇÕES TOTAIS DE METAIS EM SOLOS ..................38 TABELA 4 – CLASSIFICAÇÃO DE ACORDO COM A TOXICIDADE .................42 TABELA 5 – COMPOSIÇÃO DO SOLO IN NATURA ...............................................60 TABELA 6 – NÚMERO DE PLANTAS BRASSICAS ...............................................61 TABELA 7 – NÚMERO DE ESPÉCIES DE PLANTAS INVASORAS ....................64 TABELA 8 – ANÁLISE DE pH DO SOLO .................................................................67 TABELA 9 – QUANTIDADE RESIDUAL DE NÍQUEL NO SOLO ........................68 TABELA 10 – QUANTIDADE DE NÍQUEL FITOEXTRAÍDO ...............................69 TABELA 11 – ABSORÇÃO CULTURA X INVASORAS .........................................70 TABELA 12 – PORCENTAGEM DE REMOÇÃO DE NÍQUEL ...............................71 TABELA 13 – MASSA DEPOSITADA DE NÍQUEL NO LATÃO ...........................72 TABELA 14 – MASSA PERDIDA DE NÍQUEL NO ELETRODO DE NÍQUEL .....73 TABELA 15 – CONCENTRAÇÃO DE NÍQUEL ELETRODEPOSITADO..............74 TABELA 16 – RENDIMENTO DA ELETRODEPOSIÇÃO ......................................74 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 13 1.1 JUSTIFICATIVA ......................................................................................... 15 1.2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA ............................................................ 16 1.3 OBJETIVO GERAL .................................................................................... 17 1.4 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ....................................................................... 17 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .................................................................. 18 2.1 O PROBLEMA INDUSTRIAL ................................................................... 18 2.2 UMA NOVA TECNOLOGIA ..................................................................... 20 2.2.1 Denominações e Classificações da Fitorremediação........................ 24 2.2.2 Requisitos para a aplicação .............................................................. 26 2.2.3 Custos ............................................................................................... 28 2.2.4 Vantagens e Desvantagens do Processo ........................................... 30 2.2.5 Questões Regulatórias ...................................................................... 31 2.3 O SOLO........................................................................................................ 35 2.3.1 Nutrientes ......................................................................................... 37 2.3.2 Potássio ............................................................................................. 38 2.3.3 Banco de Sementes ........................................................................... 39 2.4 OS CONTAMINANTES METÁLICOS ..................................................... 40 2.4.1 Metais pesados.................................................................................. 40 2.4.2 Níquel ............................................................................................... 43 2.5 ESPÉCIES EMPREGADAS NA FITORREMEDIAÇÃO.......................... 44 2.6 PLANTAS ACUMULADORAS ................................................................. 45 2.6.1 Espécie acumuladora utilizada no estudo ......................................... 47 2.7 PLANTAS INVASORAS ............................................................................ 48 2.8 MÉTODOS DE RECUPERAÇÃO .............................................................. 49 3 METODOLOGIA DA PESQUISA ................................................................ 51 3.1 IMPLANTAÇÃO DO EXPERIMENTO ..................................................... 51 3.2 MATERIAIS UTILIZADOS ....................................................................... 52 3.3 AMOSTRAGEM E IDENTIFICAÇÃO ...................................................... 53 3.4 COLETA E ANÁLISES LABORATORIAIS ............................................. 53 3.4.1 Amostras de Solo .............................................................................. 54 3.4.2 Amostras de Plantas ......................................................................... 56 3.5 EXPERIMENTO DE ELETRODEPOSIÇÃO ............................................ 57 3.6 MATERIAIS ................................................................................................ 58 3.7 MÉTODOS................................................................................................... 58 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ..................................................................... 60 4.1 ANÁLISE DO SOLO in natura ................................................................... 60 4.2 CRESCIMENTO DA ESPÉCIE SEMEADA .............................................. 61 4.3 DESENVOLVIMENTO DE ESPÉCIES INVASORAS ............................. 62 4.4 INTERAÇÃO COM O NUTRIENTE APLICADO .................................... 65 4.5 ANÁLISE DE pH......................................................................................... 66 4.6 ANÁLISE DE CONCENTRAÇÃO ............................................................ 68 4.7 QUANTIDADE REMOVIDA DO SOLO .................................................. 71 4.8 RENDIMENTO Da ELETRODEPOSIÇÃO DE NÍQUEL......................... 72 5 CONCLUSÃO .................................................................................................. 75 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................... 77 1 INTRODUÇÃO O aumento de solos contaminados no mundo é provocado por diversos agentes, como sais, elementos metálicos, compostos orgânicos e elementos radioativos que usualmente ocorrem em faixas de concentrações elevadas, podendo representar perigo ambiental, com impactos na vegetação, organismos do solo, águas superficiais e subterrâneas (ACCIOLY e SIQUEIRA, 2000). Preocupados com as alterações ambientais, pesquisadores procuram na Engenharia Ambiental e áreas afins, meios que auxiliem na descontaminação, isolamento ou minimização do poluente existente tanto no solo quanto nas águas, que permitam uma despoluição natural, de baixo custo, preferencialmente in situ, sem a utilização de métodos químicos tradicionais, como a incineração, que gera contaminação secundária, além de ser dispendiosos (PLETSCH, 1999). Solos contaminados com substâncias inorgânicas, como metais pesados, podem ser recuperados através da eliminação dos compostos ou através da transformação do composto em produtos menos tóxicos ao ambiente através da fitorremediação (CUNNINGHAM et al., 1996). Os métodos de remediação mais apropriados dependem das características do local, da concentração e, dos tipos de poluentes a serem removidos, e do uso final do meio contaminado, tendo por objetivo imobilizar os metais e retirá-los do solo, a fitorremediação é um processo que emprega plantas com este objetivo. A fitorremediação de áreas contaminadas é uma tecnologia emergente e bastante promissora que se destaca por suas vantagens em relação métodos 14 tradicionais de remediação, tais como o baixo custo, grande eficiência de descontaminação e menor impacto ao ambiente (GRATÃO et al., 2005). O uso de plantas como agentes despoluidores, desperta interesse entre pesquisadores e técnicos que atuam na área experimental. Acredita-se que a utilização de plantas com capacidade de tolerar e simultaneamente extrair e, ou, degradar determinados compostos possa representar interessante alternativa para a despoluição de áreas agrícolas. A fitorremediação consiste em um processo de biorremediação que envolve a utilização de sistemas vegetais (árvores, arbustos, plantas rasteiras e aquáticas), que tenham a capacidade de absorver os poluentes do solo ou de metabolizar as substâncias tóxicas para uma variação de menor risco de ecointoxicação. Pela fitorremediação os contaminantes presentes no solo são removidos, imobilizados ou tornam-se inofensivos ao ambiente. Seu uso baseia-se na seletividade da planta, natural ou desenvolvida, em que alguns indivíduos expressam resistência a determinados tipos de compostos (PIRES et al., 2003). Uma cultura, para ser utilizada com sucesso na recuperação de áreas contaminadas, deve ser eficiente na acumulação de metais e capaz de se adaptar às condições do ambiente contaminado. Sendo assim, para a efetiva aplicação da técnica, estudam-se algumas plantas que tem a capacidade de translocar alguns compostos orgânicos para outros tecidos e, posteriormente, volatilizá-los; outras que podem degradá-los ou transformá-los em compostos com menor toxidade; e algumas utilizam a compartimentalização da substância em tecidos especializados (ACCIOLY e, SIQUEIRA, 2000; SCRAMIN et al., 2001). 15 1.1 JUSTIFICATIVA O aumento da poluição do solo e de águas superficiais e subterrâneas, provocada por resíduos urbanos, é motivo de estudos em todo o mundo, especialmente nos países mais industrializados, devido ao reconhecido potencial poluidor e o grande volume gerado diariamente. (MAZZUCO, 2008). Estudos relacionados a possíveis modificações de ambientes degradados e poluídos que possam cooperar para uma melhor qualidade de vida de todos os seres do planeta Terra, justificam o interesse despertado nos meios científicos. A poluição do solo provoca um decréscimo na biodiversidade do ecossistema, pois várias são as espécies submetidas ao estresse da contaminação, por não apresentarem características que permitam sua sobrevivência (CURY, 2002). Porém, as espécies que possuem tais características expressam um acréscimo em sua população (MARANHO, 2004). Uma estratégia para a reabilitação de áreas contaminadas é a fitorremediação, que consiste na introdução de espécies vegetais com capacidade de acumular concentrações de metais pesados em seus tecidos. As plantas e sua comunidade microbiana associadas degradam, seqüestram ou imobilizam poluentes presentes no solo. A técnica oferece grande atrativo devido à possibilidade de promover a descontaminação do local in situ, com baixo custo, quando comparada à remoção do solo para seu tratamento. (SURSALA, et al., 2002). 16 1.2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA É possível dentro de um cenário global tão industrializado controlar de forma enérgica e efetiva a emissão de poluentes metálicos ou ao menos minimizar estes impactos com processos naturais de baixo custo com possibilidade de retorno financeiro? 17 1.3 OBJETIVO GERAL Utilizar a biotecnologia da fitorremediação para avaliar o potencial fitoextrator de absorção do metal níquel em plantas de crescimento espontâneo, em solo contaminado com alto teor deste metal, proveniente de lodo industrial, bem como propor de forma sustentável o gerenciamento de resíduos sólidos gerados neste processo. 1.4 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Analisar o potencial das plantas selecionadas como prováveis fitoextratoras de níquel por meio da avaliação da remoção do metal tanto na cultura a se implantada quanto nas plantas invasoras sobreviventes á contaminação; Identificar e classificar as plantas invasoras que sobrevivem em solo contaminado com o metal níquel; Quantificar o níquel residual no solo após o plantio de cinco meses; Propor tratamento do resíduo através de metodologia de eletrodeposição para a recuperação dos metais da biomassa das plantas. 18 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A recuperação de áreas degradadas pelas atividades humanas possui variadas metodologias: escavação, incineração, extração com solvente, oxiredução e outras técnicas com um elevado custo. Alguns processos deslocam a matéria contaminada para local distante, causando riscos de contaminação secundária e aumentando ainda mais os custos com tratamento (CUNNINGHAM, 1996). Sendo assim, atualmente passou-se a dar preferência por métodos in situ que perturbem menos o ambiente e são mais econômicos. 2.1 O PROBLEMA INDUSTRIAL Os problemas ambientais enfrentados hoje são reflexos de um passado de má gestão de resíduos industriais e domésticos, sendo os locais contaminados uma conseqüência freqüente do manuseamento e eliminação inadequados de materiais perigosos, e podendo o custo global de resolução deste e de outros problemas ambientais atingirem milhões (LAGREGA et al., 2001). Os resíduos perigosos gerados anualmente no Brasil totalizam-se em torno de 2,9 milhões de toneladas, e destes somente 850 mil toneladas recebem tratamento adequado, conforme estimativa da Associação Brasileira de Empresas de Tratamento, Recuperação e Disposição de Resíduos Especiais. Os 72% restantes são depositados indevidamente em lixões ou descartados em cursos d’água sem qualquer tipo de tratamento (FURTADO, 2003). 19 A contaminação por metais pesados é uma das mais preocupantes, pois estes não se degradam: uma vez emitidos, permanecem no ambiente durante centenas de anos, afetando a vegetação, as correntes de água, os animais e os seres humanos. Atualmente a população enfrenta sérios problemas com a contínua poluição do meio ambiente, sendo a poluição industrial uma das principais colaboradoras para este fato. Os poluentes químicos podem ser classificados de duas formas: orgânicos e inorgânicos, e estão presentes dentre outras fontes nos despejos industriais. A despoluição ambiental é um processo de custo elevado, sendo que do ponto de vista econômico, a estimativa mundial para os gastos anuais gira em torno de 25 – 30 bilhões de dólares. Esse mercado, que já é estável nos Estados Unidos (7 – 8 bilhões), tende a crescer no Brasil, uma vez que os investimentos para tratamento dos rejeitos humanos, agrícola e industrial crescem à medida que aumentam as exigências da sociedade e leis mais rígidas são aplicadas (DINARDI, 2003). O processo de industrialização aliado ao crescimento populacional gera preocupações com relação às conseqüências ao meio ambiente pelo acúmulo de resíduos com potencial tóxico, muitas vezes sem tratamento adequado ou reciclagem. Uma possível destinação do lodo é sua utilização na agricultura, devido a sua composição, que contém considerável percentual de matéria orgânica e de elementos essenciais para as plantas, podendo substituir, ainda que parcialmente, os fertilizantes minerais, desempenhando importante papel na produção agrícola e na manutenção da fertilidade do solo (NASCIMENTO et al., 2004). Entretanto, o lodo de esgoto pode conter em sua composição, componentes tóxicos, dentre eles os metais pesados ou elementos traços, que é o caso do níquel (Ni). 20 Segundo Rangel (2003), a aplicação continuada de lodo de esgoto aumenta a carga de metais no solo, o que proporciona maior acúmulo destes elementos nas plantas cultivadas nesses solos, havendo sérios riscos de contaminação da cadeia alimentar. Portanto, conhecer o destino desses dos metais pesados incorporados ao solo pela aplicação de lodo de esgoto é essencial para a avaliação do impacto ambiental e dos riscos para a saúde do homem. Desse modo, a realização de pesquisas a campo, em experimentos de longa duração, é vital para o entendimento da dinâmica, fitodisponibilidade e fitotoxicidade dos metais pesados em solos tratados com lodo de esgoto (NOGUEIRA et al., 2006). 2.2 UMA NOVA TECNOLOGIA Com o objetivo de remediar solos contaminados, de forma diferenciada das técnicas convencionais já existentes, buscando uma diminuição de custos, sem agredir o meio ambiente, propõe-se o estudo de novas tecnologias a curto e longo prazo. Recentemente, a técnica da fitorremediação, isto é, uso de vegetação para a descontaminação in situ de solos e sedimentos, eliminando metais pesados e poluentes orgânicos, tem se tornado uma tecnologia emergente, mesmo com o processo de acumulação de metais sendo um pouco moroso. (BAIRD, 2002). A biotecnologia apresenta a fitorremediação como alternativa, empregando sistemas vegetais fotossintetizantes e sua microbiota com a finalidade de desintoxicar ambientes (GLASS, 1998). 21 É uma técnica de custo relativamente baixo, benefícios estéticos e natureza não-invasiva. O sucesso do tratamento empregando plantas aquáticas, por exemplo, vai além do baixo custo, há muitas possibilidades de reciclagem da biomassa produzida que pode ser utilizada como fertilizante, ração animal, geração de energia (biogás ou queima direta), fabricação de papel, extração de proteínas pra uso em rações, extração de substâncias quimicamente ativas de suas raízes para uso como estimulante de crescimento de plantas, etc. (GLASS, 1998). Há alguns anos atrás, prospectores observaram que certas plantas cresciam em locais onde existiam resíduos de antigas minas. Um estudo concluiu que, além de serem excelentes indicadoras de certos metais tinham a capacidade de extraí-los do solo, através do seu sistema radicular (fixação da planta, absorção de água, sais minerais e nutrientes e armazenamento de alimentos) e de acumulá-los nos seus tecidos, sem sofrerem lesões. A razão para a assimilação de metais pelas plantas está na necessidade de absorção de alguns micronutrientes, que são co-fatores essenciais para a síntese das suas proteínas e enzimas, que permitem um normal desenvolvimento. Algumas plantas não fazem distinção entre os metais pesados e os elementos que realmente necessita, absorvendo-os de forma semelhante. As plantas têm a capacidade de remediar poluentes por meio de três mecanismos: ingestão direta dos contaminantes e acumulação no tecido da planta (fitoextração); liberação no solo de oxigênio e substâncias bioquímicas, como enzimas que estimula a biodegradação de poluentes e intensificação da degradação por fungos e micróbios localizados na interface raiz-solo. 22 As substâncias que as plantas liberam no solo incluem ligantes quelatos e enzimas; os primeiros podem diminuir a toxicidade de um metal mediante sua complexação, e as últimas podem biodegradar poluentes em alguns casos. Para impedir que a poluição chegue a um ponto crítico, a fitorremediação procura entender os mecanismos de defesa e tolerância das plantas, seja por exclusão do metal, para evitar ou diminuir sua entrada no vegetal, seja pela produção de proteínas denominadas fitoquelatinas, que eliminam os metais, seja pela transformação do resíduo tóxico em vertentes menos intoxicantes. (CIB, 2004). A absorção da água é feita por osmose através da epiderme das raízes, especialmente através da superfície dos pelos radiculares (Figura 1). Os compostos contaminantes entram na planta junto com a água, mas, devido à concentração interna, são transportados por bombas iônicas existentes na membrana plasmática dos pelos radiculares. A partir daí, podem-se movimentar por duas vias, até aos vasos xilêmicos: através do apoplasto (porção “não-viva” da planta – paredes celulares e espaços intercalares) e através do simplasto (porção viva – membrana plasmática e protoplasma das células). Os compostos hidrofóbicos ligam-se às membranas lipídicas das raízes antes de entrarem no xilema. A translocação dos químicos passa através do simplasto da endoderme até ao xilema e deste, até às folhas (principais órgãos fotossintéticos), por modelos de tensão-coesão e/ou pressão radicular (BAIRD, 2002). Como a maior parte dos metais pesados capturados se localizarem na parte aérea das plantas, a colheita pode ser feita utilizando os métodos de agricultura tradicionais. A fitoextração é a técnica mais estudada dentro da fitorremediação. A possibilidade de boa eficiência e possível valorização econômica do metal extraído é 23 um grande atrativo, porém só é comprovada se após a acumulação de metais pelas plantas o solo estiver recuperado (BAIRD, 2002). O processo exige monitoramento, necessitando cortar as plantas antes que cheguem ao término de suas vidas ou comecem a morrer, para que os contaminantes não se tornem dispersos ou retornem novamente ao solo. FIGURA 1 – MECANISMO DE FITORREMEDIAÇÃO DE SOLO FONTE: Baird, 2002 Vários aspectos da estrutura das raízes das plantas podem ser melhorados. Raízes mais profundas aumentam a profundidade a partir da qual o contaminante pode 24 ser retirado do solo por fitoextração. Também o aumento da densidade das raízes no solo torna a extração mais eficiente. O conhecimento mais profundo dos mecanismos fisiológicos, bioquímicos, moleculares e dos genes envolvidos na hiperacumulação em espécies tolerantes aos metais pesados, pode fornecer a base para o melhoramento do seu desempenho em termos de tolerância e acumulação de metais. Ainda assim, um amplo número de fatores influencia na absorção. São fatores que se relacionam com o solo, com as condições climáticas e com as características da própria planta. Em muitos casos a fitorremediação é considerada como um tratamento final após terem sido aplicadas outras tecnologias de remediação, pois efetivamente, nenhuma tecnologia é por si só, universalmente aplicável com o mesmo sucesso a todos os tipos de contaminantes e em todos os locais. Globalmente, a biorremediação, em geral, e a fitorremediação, em particular, são tecnologias crescentes, pois o potencial a longo prazo do uso dessas técnicas em muitos locais que necessitam descontaminação é evidente. 2.2.1 Denominações e Classificações da Fitorremediação O termo phytoremediation (phyto = vegetal + remediation = remediação) é utilizado com freqüência de o ano de 1991, para definir o uso de vegetais, e dos microrganismos a ele associados, como instrumento para contenção, isolamento, remoção ou redução das concentrações de contaminantes em meio sólido, líquido ou gasoso (EPA, 2000). 25 Sua classificação depende de seu emprego, da natureza química ou da propriedade do poluente. Segundo Andrade et al. (2007), pode ser compreendida em: Fitoextração: absorção dos contaminantes através das raízes das hiperacumuladoras e posterior armazenamento no sistema radicular (raiz principal e lateral) ou caulinar (caule, folha e flores) – nota-se que a absorção é favorecida quando há associação entre as raízes e fungos (micorrizas); Fitoestimulação: as raízes em crescimento (extremidades e ramificações laterais) promovem a proliferação de microrganismos degradativos na rizosfera, que usam os metabólitos exudados da planta como fonte de carbono e energia. Além disso, as plantas podem secretar sozinhas enzimas biodegradativas. A aplicação da fitoestimulação limita-se aos contaminantes orgânicos; Fitoestabilização: orgânicos ou inorgânicos são incorporados à lignina da parede vegetal ou a húmus do solo precipitando os metais são sob formas insolúveis, sendo posteriormente aprisionados na matriz. Objetiva evitar a mobilização do contaminante e limitar sua difusão no solo, através de uma cobertura vegetal; Fitovolatilização: utiliza plantas geneticamente modificadas para a absorção de íons de mercúrio, selênio, arsênio, etc., pelas raízes, a fim de serem convertidos em formas não tóxicas e posteriormente libertados para a atmosfera; mecanismo este também empregado para compostos orgânicos; Fitodegradação: os contaminantes orgânicos são degradados ou transformados em moléculas simples (posteriormente utilizadas pelas células) por enzimas específicas, às quais se destacam as nitroredutases; 26 Rizofiltração: é a técnica que emprega plantas terrestres para absorver, concentrar e/ou precipitar os contaminantes de um meio aquoso, particularmente metais pesados ou elementos radiativos, através do seu sistema radicular. As plantas são mantidas em um reator com sistema hidropônico, através do qual os efluentes passam e são absorvidos pelas raízes, que concentram os contaminantes; Barreiras hidráulicas: árvores de grande porte e raízes profundas removem enormes quantidades de água do subsolo e lençóis freáticos, aprisionam os contaminantes nos seus tecidos ou vaporiza-os com a água; Capas vegetativas: coberturas vegetais, constituídas de capins ou árvores sobre aterros sanitários, que minimizam a infiltração da água, diminuem o impacto ambiental e promovem a aeração do solo com a conseqüente biodegradação, evaporação e transpiração; Açudes artificiais: são ecossistemas formados por solos orgânicos, microrganismos, algas e plantas aquáticas vasculares que trabalham conjuntamente no tratamento dos efluentes, através das ações combinadas de filtração, troca iônica, adsorção e precipitação. 2.2.2 Requisitos para a aplicação Segundo Providenti (1993), antes da implantação das diversas técnicas de fitorremediação, com o objetivo de remediar água e solos contaminados, é fundamental que se conheçam as características físico-químicas do solo e dos contaminantes, bem como sua distribuição na área impactada. 27 Para que se tenha alta eficiência no processo, é preciso identificar possíveis fatores que possam intervir negativamente no processo de remediação, a fim de que esses sejam controlados e minimizados. Os vegetais que serão empregados na recuperação de áreas contaminadas devem apresentar características específicas. Conforme citado por Pires (2003) são pré-requisitos para a aplicação da fitorremediação: - Alta taxa de crescimento e produção de biomassa, pela fácil aquisição ou propagação de propágulos, que são orgânulos destinados a multiplicar vegetativamente as plantas; - Capacidade de absorção, concentração e/ou metabolização, tolerância ao contaminante e bom desenvolvimento em ambientes diferenciados; retenção do contaminante nas raízes, no caso de fitoestabilização, como oposto à transferência para a parte aérea, evitando-se sua manipulação e disposição, o que ocorre naturalmente em áreas poluídas (importante na identificação, porém não é pré-requisito); - Sistema radicular profundo e denso de fácil controle ou erradicação; elevada taxa de exsudação radicular e resistência a pragas e doenças; - Fácil colheita, quando necessária a remoção da planta da área contaminada e capacidade transpiratória elevada, especialmente em árvores e plantas perenes. São diversas as características a serem observadas no sistema vegetal antes de aplicá-lo como um fitorremediador. Como é difícil reunir todas as características desejáveis em uma só planta, a selecionada deve apresentar o maior número delas. Várias espécies também podem ser utilizadas em um mesmo local ou ao mesmo tempo para remover mais de um contaminante. 28 2.2.3 Custos A fitorremediação é em geral, economicamente mais vantajosa que as alternativas concorrentes como fixação, disposição em aterro, bombeamento para tratamento, extração por lixiviação do solo. Além dos custos inesperados durante a implantação da vegetação na área, um projeto de fitorremediação em escala de campo envolve despesas de planejamento, preparação da área, relatórios, monitoramento, operação e manutenção (KAMATH et al., 2005). Em outras palavras é uma tecnologia barata com capacidade de atender uma maior demanda com desenvolvimento que tende a obter maior sucesso no futuro. Existindo a possibilidade de aplicação, a fitorremediação pode destacar-se pelo baixo custo em relação a outras tecnologias alternativas (Tabelas 1 e 2), sendo este um dos motivos que justificam sua crescente adesão (ANDRADE et al., 2007). Os Estados Unidos e a Europa estão investindo em inúmeras companhias que exploram a fitorremediação para fins lucrativos, como a norte americana Phytotech e a alemã BioPlanta, e as multinacionais, como Union Carbide, Monsanto e RhonePoulanc, que utilizam a fitorremediação em seus próprios sítios contaminados (GLASS, 1998). Com interesse na área, universidades em todo o mundo desenvolvem projetos. No Brasil, algumas empresas estatais e privadas, como instituições acadêmicas, pesquisam e exploram métodos de biorremediação através da fitorremediação (MAZZUCO, 2008). 29 TABELA 1 – FITORREMEDIAÇÃO X TECNOLOGIAS ALTERNATIVAS Tempo Tipo de Custo por Fatores adicionais que requerido Subprodutos Tratamento m³ (dólares) aumentam o custo (meses) Escavação/Transporte Fixação 90 – 200 6–9 Lixiviado Monitoramento Disposição em 100 – 400 6–9 Monitoramento Lixiviado aterro Extração por No mínimo 5.000 m³/ha Resíduos a lixiviação do 250 – 500 8 – 12 a serem quimicamente serem solo reciclados dispostos Resíduos a Fitorremediação Tempo em que o solo 15 – 40 18 – 60 serem (Fitoextração) terá de ficar sem uso dispostos FONTE: Schnoor (1997). TABELA 2 – COMPARATIVO DE CUSTOS Custo variável por Tipo de Tratamento tonelada (dólares) Fitorremediação 10 – 35 Biorremediação no local 50 – 150 Ventilação do solo 20 – 220 Tratamento térmico indireto 120 – 300 Lavagem do solo 80 – 200 Solidificação / Estabilização 240 – 340 Extração por solvente 360 – 440 Incineração 200 – 1.500 FONTE: Schnoor (1997). Sua viabilidade econômica e eficácia dependem da composição de preços no processo, variando de acordo com o custo local de insumos agrícolas (subsidiados em alguns países) e com a mão de obra, além das condições climáticas pontuais. 30 2.2.4 Vantagens e Desvantagens do Processo A técnica da fitorremediação apresenta alguns aspectos considerados negativos, como a dificuldade na seleção de plantas, o longo tempo de obtenção de uma despoluição satisfatória, o contaminante deve estar dentro da zona de alcance do sistema radicular, o clima pode restringir o crescimento das plantas, elevados níveis do contaminante no solo podem impedir a introdução de plantas no sítio contaminado, o processo pode causar a contaminação da cadeia alimentar, necessita de disposição da biomassa vegetal, existe a possibilidade da planta fitorremediadora tornar-se planta daninha e pode-se necessitar de melhoria nas condições do solo, incluindo a quelação do contaminante para facilitar sua absorção pelas plantas, causado pela quebra de pontes de ligação com partículas do solo. As plantas são seletivas ao metal a ser remediado, pode ocasionalmente remediar mais que um metal. Pouca informação se tem sobre o cultivo, a genética, a reprodução e as doenças das plantas fitorremediadoras. A área a ser remediada deve ser suficiente para permitir a aplicação de técnicas de cultivo (suficiente para colocar um trator, por exemplo). Porém, mesmo com as limitações, os benefícios apresentados pela fitorremediação a tornam uma técnica promissora: baixo custo, redução de impacto ambiental, fornecimento de cobertura para a vida animal, boa aceitação do público, útil onde a quantidade de solo a ser descontaminado é muito elevada, redução da dispersão aérea de contaminantes e poeiras, pois são presos a vegetação, redução do escoamento superficial, redução dos lixiviados e do transporte dos contaminantes no solo, o 31 produto final (a planta) pode ser valorizado economicamente, possibilidade de reciclagem dos metais extraídos, útil na remediação de solos contaminados com misturas heterogêneas (orgânicos e metais), a colheita das plantas que acumularam os metais pesados é fácil de realizar com a tecnologia existente, processo mais facilmente controlado do que com microrganismos e ainda fornece a sua própria energia (através da fotossíntese). 2.2.5 Questões Regulatórias O atendimento às exigências regulatórias é um fator crítico ao se considerar a remediação de uma área. A aceitação governamental e federal da tecnologia tem sido lenta. Mas é o resultado de contribuições do Grupo de Trabalho Interestadual de Cooperação Tecnológica e Regulatória (Interstate Technology and Regulatory Cooperation Work Group – ITRC), do programa de Avaliação de Tecnologia Inovadora do Superfund (Superfund Innovate Technology Evaluation – SITE) e do programa “Fórum de Demonstração de Tecnologias de Pesquisa” (Research Technologies Demonstration Fórum – RTDF), da EPA. O Grupo de Trabalho de Fitotecnologias parte do ITRC publicou uma Árvore de Decisão em 1999 e um Documento de Orientação (2001) como estimativa inicial da conveniência da fitorremediação numa determinada área. Este documento de orientação, juntamente com o documento publicado pela EPA e intitulado “Introduction to Phytoremediation” (EPA 600-R-99-107) poderá ser útil na orientação de gerentes e áreas industriais. 32 Além do ITRC, os programas SITE e TRDF também contemplam a avaliação do potencial de fitorremediação para objetivos em escala de campo. A fitorremediação foi objeto de seis investigações pelo programa SITE e mais 25 experimentos de campo pelo RTDF. O SITE é um programa formal criado pela Secretaria de Resíduos Sólidos e Resposta a Emergência (Office of Solid Waste and Emergency Response – OWER) da EPA e pela Secretaria de Pesquisa e Desenvolvimento (Office of Research and Development – ORD) em resposta à Portaria Decreto de Emendas ao Superfund e Reautorização (Superfund Amendments and Reauthorization Act – SARA), de 1986. A EPA é responsável pelo planejamento do projeto, coleta e análise de amostras, garantia e controle de qualidade, preparação de relatórios, disseminação das informações, transporte e disposição dos materiais residuais tratados. Conforme as leis do Superfund, a EPA (2000) cita-se nove critérios para consideração: Proteção íntegra da saúde humana e do ambiente; Atendimento às exigências aplicáveis, relevantes e apropriadas; Eficácia e permanência em longo prazo; Redução da toxicidade, mobilidade ou volume de contaminante; Eficácia em curto prazo (incluindo o tempo necessário para implantação e os riscos associados a trabalhadores e o ambiente durante o período); Implementabilidade (incluindo disponibilidade de bens e serviços); Custo, incluindo capital, operação, manutenção e monitoramento; Aceitação estadual e federal da tecnologia e de sua avaliação de desempenho; 33 Aceitação pela comunidade, devidamente documentada no anexo Registro da Decisão (Record of Decision – ROD), incluindo o resumo da receptividade, apresentando os comentários feitos pelo público e as respostas àqueles comentários. Dentre estes critérios, a fitorremediação trata de questões relativas à estética, custo, facilidade de implementação e aceitação pela comunidade. A fitorremediação também tem uma vantagem sobre outras tecnologias em longo prazo. Sua eficiência aumenta com o passar do tempo, até que o sistema atinja seu rendimento máximo. Além disso, como é possível monitorar os efeitos da fitorremediação na mitigação da percolação vertical de contaminantes, bem como da erosão, ela preenche os critérios exigidos pela “Ação Corretiva Baseada no Risco” e pela “Atenuação Natural Monitorada”, constante nas normas. Para a maioria das outras ações, geralmente é suficiente demonstrar que a cobertura vegetal é exuberante e viçosa, e que a fitorremediação atende às exigências de monitoramento do lençol (trimestral ou anual). (SCHNOOR, 1997). Existem algumas limitações regulatórias à aplicação da fitorremediação em determinadas áreas. Por ser uma tecnologia passiva, o atendimento de metas de descontaminação poderá ser difícil e exigir tempo, sem a garantia de que padrões específicos de desempenho sejam atingidos. Além disso, se a fitorremediação tem que ser utilizada em conjunto com a Atenuação Natural Monitorada é necessário demonstrar que a pluma (zona contaminada) está estável ou diminuindo, e que não está causando riscos ao ser humano e ao ambiente. Exige-se ainda a comprovação de que os contaminantes não correm o risco de se moverem para fora da área, e o 34 conhecimento do mecanismo de degradação (metabólitos, trajetos, produtos) e / ou imobilização / seqüestro. A lista a seguir apresenta exigências de monitoramento ambiental geralmente adequado a um projeto de fitorremediação: Taxas de sobrevivência das árvores e necessidades de replantio; Densidades de planta (índice de área foliar) ou de raízes e necessidades de substituição; Níveis de contaminantes medidos nas folhas ou gramíneas; Monitoramento trimestral do lençol freático para atender às exigências aplicáveis, relevantes ou apropriadas; Cálculos de fluxo de seiva ou evapotranspiração para cálculo do volume de água tratada; Medição de gases do solo e perfis de oxigênio com profundidade do solo, para demonstrar a degradação aeróbica dos componentes aromáticos ou melhora gradual; Amostras de solo para demonstrar que o tratamento está ocorrendo na área (a heterogeneidade torna esta exigência de monitoramento imprecisa, às vezes induzindo a erro). No entanto, o destino dos contaminantes absorvidos pela planta ou transformados na rizosfera não é bem conhecido, e pode ser difícil demonstrar que a tecnologia reduz a toxicidade dos contaminantes, previne a transferência dos poluentes entre os meios, e/ou reduz os riscos aos receptores humanos e ecológicos. (SCHNOOR, 1997). 35 2.3 O SOLO Sua definição depende do “uso que dele se faz”. (LEPSCH, 1977) Assim: [...] para alguns, solo vem a ser sinônimo de qualquer parte da superfície da Terra e mesmo outros planetas [...] Para o engenheiro de minas, ele é o material solto que cobre os minérios e que necessita ser removido. O engenheiro de obras considera-o matéria-prima para construções de aterros, estradas, barragens e de açudes. [...] O pedólogo e o edafólogo encaram as características do solo com maior atenção e o definem de maneira precisa, empregando método científico (LEPSCH, 1977). Segundo Costa, Ribeiro e Olszevski (2001) o solo é o suporte físico-químico para os seres vivos da biosfera e, ao mesmo tempo, o meio mais eficiente de reciclagem de resíduos, como os advindos da própria natureza e da atividade antrópica. A origem de áreas contaminadas está relacionada à falta de conhecimento, em épocas passadas, de procedimentos seguros para o manejo de substâncias perigosas, ao desrespeito a esses procedimentos e à ocorrência de acidentes ou vazamentos durante o desenvolvimento dos processos produtivos, de transporte ou de armazenamento de matérias primas e produtos. Como afirma Pavanelli, Pires e Silva (2004) a contaminação do solo é um fator de preocupação ambiental e de saúde pública, uma vez que ele tem a capacidade de depuração e imobilização de grande parte das impurezas nele depositadas. Contudo, essa capacidade é limitada, podendo ocorrer alteração da qualidade do solo, devido ao efeito cumulativo da deposição de poluentes atmosféricos, aplicação de defensivos agrícolas, fertilizantes, disposição de resíduos sólidos industriais, urbanos, materiais tóxicos e radioativos. 36 Durante processos degradativos, o solo sofre profundas modificações quanto às suas composições química, biológica e estrutural, sendo a perda de matéria orgânica a principal conseqüência da degradação. (REIS et al., 2003). Em função das características do solo, a água se infiltra e atravessa os diversos substratos horizontais, classificados de acordo com seu nível de saturação de água, em zonas saturadas e zonas não saturadas. A água subterrânea propriamente dita encontrase nas zonas saturadas, onde os poros, fraturas ou espaços vazios da matriz sólida estão completamente preenchidos por água. Desta forma, como fazem parte do mesmo contexto, o que ocorrer com o solo repercutirá nas águas subterrâneas podendo resultar em alterações de sua qualidade. Assim, a migração dos poluentes através do solo, para as águas superficiais e subterrâneas, constitui uma ameaça para a qualidade dos recursos hídricos utilizados em abastecimento público, industrial, agrícola, comercial, lazer e serviços. No solo, os metais tendem a ligar-se fortemente às argilas e outras partículas, concentrando-se e acumulando nas camadas superiores. No entanto, se estes elementos se tornarem mais móveis, podem ser “lavados”, acumulando-se nas águas subterrâneas. E nesse caso, sua qualidade pode piorar. O risco para a Saúde Pública ocorre se os metais forem assimilados pelas raízes das plantas ou pelos organismos presentes no solo, propagando-se ao longo da cadeia alimentar. O solo possui uma grande capacidade de retenção de metais pesados, porém se essa capacidade for ultrapassada, os metais em disponibilidade no meio penetram na cadeia alimentar dos organismos vivos ou são lixiviados, colocando em risco a qualidade do sistema de água subterrânea. A retenção desses metais no solo pode se dar de diferente formas, já que os argilominerais possuem sítios negativos onde os metais são adsorvidos por forças eletrostáticas. (DUARTE & PASQUAL, 2000). 37 Uma proposta para atender a crescente tendência mundial é o estabelecimento de uma lista de valores referência de qualidade, que contemple análises de amostras de solo e de águas subterrâneas, valores de limite com caráter preventivo e valores de intervenção, que resultariam de modelos matemáticos de avaliação de risco. Assim utilizando-se diferentes cenários de uso e ocupação do solo previamente definidos, e considerando-se diferentes vias de exposição e quantificariam-se as variáveis toxicológicas. 2.3.1 Nutrientes Um fator determinante para o sucesso da germinação, crescimento e saúde das plantas a serem utilizadas no processo de fitorremediação é a qualidade do solo. Cada solo possui características diferenciadas. Solos contaminados tendem a um condicionamento físico pobre, impróprio ao crescimento da vegetação e de bactérias na rizosfera, sendo necessário o emprego de correções para melhorar a qualidade do solo antes do plantio. Em alguns solos as limitações mais comuns são a baixa capacidade de retenção de umidade, aeração insuficiente, baixa permeabilidade e deficiência em nutrientes. Como o solo é um compartimento natural constituído por componentes minerais e orgânicos, com suas propriedades físicas, químicas e biológicas, sua composição é extremamente diversa, heterogênea e governada por muitos fatores. Os elementos metálicos encontrados no solo com maior freqüência são: Cd, Pb, Co, Cu, 38 Cr, Fe, Mn, Ni e Zn. Dessa forma um solo pode ser considerado isento de contaminação de um elemento ou substância de interesse ambiental se for menor ou igual ao valor de ocorrência natural. (PAVANELLI, PIRES e SILVA, 2004). A Tabela 3 ilustra o intervalo de concentração de metais pesados ocorrentes naturalmente em solos. TABELA 3 – CONCENTRAÇÕES TOTAIS DE METAIS EM SOLOS Cádmio CONCENTRAÇÕES TOTAIS (µg g-1) 0,06 – 1,10 Chumbo 10 – 84 Cobalto 1,6 – 21,5 ELEMENTO Cobre 6,0 – 80 Cromo 7,0 - 220 Ferro Manganês 80 – 1.300 Níquel 4,0 – 55 Zinco 17 - 125 FONTE: Santos, Lenzi e Coelho (2008). 2.3.2 Potássio Malavolta et al. (2000) afirma que o Potássio (K) é tão importante para a planta quanto o Nitrogênio (N) em muitas funções pois cinqüenta por cento de enzimas somente funcionam se o K estiver presente. É um elemento muito abundante na crosta terrestre, mas nem sempre disponível para as plantas, pois geralmente se apresenta em sua forma mineral. 39 O potássio além de ativar enzimas e desempenhar um no equilíbrio hídrico da planta é necessário para a formação dos açúcares nas folhas e para seu transporte a outros órgãos da planta como as raízes. Plantas bem provida de K apresentam uma maior resistência a seca, ao frio, a pragas e moléstias. Seus produtos conservam-se melhor durante o armazenamento e transporte. Havendo falta de K as folhas amarelam e ficam secas nas pontas e margens. 2.3.3 Banco de Sementes O termo banco de sementes é utilizado para designar as reservas de sementes viáveis no solo, em profundidade e na superfície (ROBERTS, 1981). Para Baker (1989) este reservatório é uma agregação de sementes não germinadas, mas potencialmente capazes de substituir plantas adultas anuais que desaparecem por causa natural ou não, ou perenes, suscetíveis a doenças, distúrbios ou consumo por animais. O sucesso de um banco de semente depende da densidade de sementes prontas para germinar quando a reposição da planta é necessária e as condições ambientais para o estabelecimento são favoráveis (CARVALHO e FAVORETTO, 1995). Segundo SCHIMITZ (1992) a propagação da vegetação em um ambiente perturbado ocorre principalmente através do banco de sementes no solo, mantendo este um papel fundamental no equilíbrio dinâmico da área. Áreas que sofrem perturbações freqüentes apresentam bancos de sementes adaptados aos tipos de perturbações sofridos. 40 Como se vive em um mundo crescentemente perturbado por atividades humanas, é inevitável que os bancos de sementes sejam básicos na administração e na restauração da vegetação, e a administração efetiva das comunidades vegetais depende do entendimento de sua dinâmica (BAKER, 1989). 2.4 OS CONTAMINANTES METÁLICOS Os danos ocasionados pelos contaminantes metálicos dependem da natureza do elemento. A intoxicação por metais pesados provoca um conjunto específico de sintomas e um quadro clínico próprio devido à ocorrência de dois principais mecanismos de ação: formação de complexos com os grupos funcionais das enzimas, que prejudica o perfeito funcionamento do organismo, e combinação com as membranas celulares, que perturba ou, em alguns casos mais drásticos, impede completamente o transporte de substâncias essenciais (AGUIAR et al., 2002). 2.4.1 Metais pesados A expressão metais pesados, mesmo sendo a mais usual possui outros sinônimos como, metais traço, elementos traço, micronutrientes, microelementos, entre outros. (DUARTE, PASQUAL, 2000). Estes metais diferem de outros agentes tóxicos, pois não são sintetizados nem destruídos pelo organismo humano. A atividade industrial diminui significativamente a 41 permanência desses metais nos minérios, bem como a produção de novos compostos, além de alterar a distribuição desses elementos no planeta (MAZZUCO, 2008). São elementos químicos com número atômicos altos que são tóxicos mesmo em pequenas concentrações. Permanecem no ambiente e podem se acumular em níveis que interrompem o crescimento das plantas e interferem na vida animal. Os detritos de atividades mineradoras e industriais e o lodo de esgoto são fontes de concentrações de metais pesados potencialmente prejudiciais. Segundo Costa, Ribeiro e Olszevski (2001) a incorporação destes metais na cadeia alimentar e suas conseqüências para os animais e vegetais merece a atenção de pesquisadores de áreas multidisciplinares. Alguns metais pesados são substâncias altamente tóxicas e não são compatíveis com a maioria dos tratamentos biológicos de efluente existentes. Sendo assim, efluentes contendo esses metais não devem ser descartados na rede pública, para tratamento em conjunto com o esgoto doméstico. As principais fontes de poluição por metais pesados são provenientes dos efluentes industriais, de mineração e das lavouras. (AGUIAR, NOVAES e GUARINO, 2002). Como afirma Pavanelli, Pires e Silva (2004) os metais estão freqüentemente presentes nas ferramentas que permitem avanços tecnológicos, mas apesar de tanta conveniência, apresenta ameaças potenciais e reais à saúde humana. Há processos industriais, como os processos de fundição, que embora sejam essenciais ao avanço da tecnologia, são motivos de discussão e de diversas pesquisas científicas, devido à degradação que causam ao meio ambiente e às pessoas que estão diretamente envolvidas nestes processos. 42 Fertilizantes, pesticidas, combustão de carvão e óleo, emissões provenientes de veículos movidos a combustíveis fósseis, mineração, fundição, refinamento e incineração de resíduos urbanos são as fontes mais comuns de metais pesados no ambiente. A presença de metais pesados no solo se apresenta como um componente natural ou como um resultado da atividade humana. Alguns dos elementos inclusos dentro da definição metais pesados são essenciais às plantas (Cu, Zn, Mn, Co, Mo, S) enquanto outros são dispensáveis como o Pb, Cd, Hg, Ag, Ti, U e deveriam ser definidos como tóxicos. De origens diversas, os contaminantes na forma de compostos acumulam-se, pela deposição de particulados poluídos e, em seguida são carreados pelas águas das chuvas, afetando vegetais, contaminando águas superficiais e profundas, atingindo homens e animais. O uso de resíduos industriais e domésticos utilizados como adubo orgânico é uma provável fonte de contaminação. A necessidade de adubações de origem mineral como os agrotóxicos e herbicidas, acrescentam ao solo grandes quantidades de metais. Em termos de poluição ambiental, os metais podem ser classificados de acordo com três critérios conforme a Tabela 4, que apresenta alguns elementos de acordo com a toxicidade na fauna e flora. TABELA 4 – CLASSIFICAÇÃO DE ACORDO COM A TOXICIDADE TOXIDADE ELEMENTOS Não Críticos Na, K, Mg, Ca, H, O, N, C, P, Fe, S, Cl, Br, F, Li, Rb, Sr, Si Tóxicos Ti, Hf, Zr, W, NB, Ta, Re, Ga, La, Os, Rh, Ir, Ru, Ba, Al Be, Co, Ni, Zn, Cu, Sn, As, Se, Te, Pd, Ag, Cd, Pt, Au, Hg, Tl, Pb, Bi Muito tóxicos FONTE: Baird (2002). 43 2.4.2 Níquel De acordo com Duarte e Pasqual (2000) o Níquel (Ni) é o vigésimo quarto (24º) metal em abundância na crosta terrestre, sendo que as mais importantes fontes de níquel são os minérios na forma de sulfeto de níquel. O processamento de minerais, bem como a produção e o uso do níquel são os grandes responsáveis pela contaminação ambiental por este metal. O principal uso do níquel é na produção de ligas metálicas, na indústria de galvanoplastia, fabricação de baterias, produtos de petróleo, pigmentos e como catalisadores na hidrogenação de óleos vegetais. É um sério poluente liberado durante o processamento de metais e combustão de óleo e carvão. (COSTA, RIBEIRO e OLSZEVSKI, 2001). Estudos epidemiológicos demonstram um risco aumentado de cancro nasal e do pulmão entre os trabalhadores expostos ao metal. Não existe informação sobre os efeitos carcinogênicos da exposição oral ou cutânea ao níquel no homem. A dermatite de contato é o efeito mais freqüente de exposição do homem ao níquel, por inalação, por via oral ou por exposição cutânea. A exposição crônica por inalação resulta em efeitos respiratórios diretos, nomeadamente asma por irritação primária ou uma resposta alérgica ou um risco aumentado de infecções crônicas do trato respiratório. Estudos feitos em animais demonstram efeitos pulmonares, renais e no sistema imunológico, por inalação e efeitos nos sistemas respiratório e gastrintestinal, cardíacos, hematológicos, hepáticos, renais e diminuição de peso como conseqüência de exposição oral (GRANDJEAN, 1998). 44 O níquel é um elemento que ocorre associado a carbonatos, fosfatos e silicatos, sendo estável em solução, e capaz de migrar por longas distâncias. Sua distribuição está ligada à matéria orgânica, óxidos amorfos e frações de argila, sendo que a matéria orgânica possui a capacidade de absorver níquel e torná-lo imóvel. Entre as fontes que contribuem para a elevação do níquel nos solos, estão os materiais agrícolas como os fertilizantes fosfatados que possuem uma pequena porção de níquel, a deposição atmosférica resultante da queima de combustíveis fósseis e óleos, combustão de carvão, fundição, mineração e aplicação de lodos de esgoto no solo. (DUARTE e PASQUAL, 2000). É espontaneamente absorvido do solo pelas plantas, porém, fatores pedológicos e afetam sua absorção. Este elemento também é influenciado pelo pH do solo, pois com sua elevação há menor disponibilidade do metal (BERTON, 1992). 2.5 ESPÉCIES EMPREGADAS NA FITORREMEDIAÇÃO A literatura científica tem demonstrado que espécies vegetais apresentam comportamento distinto quanto à forma de absorção, distribuição e acúmulo de metais pesados, podendo ocorrer variações mesmo entre variedades de uma mesma espécie, quando submetidas a condições similares de contaminação (MARQUES et. al., 2000). Para que as plantas possam efetivamente ser utilizadas como indicativos para a seleção, é indispensável que possuam algumas características, tais como: Alta taxa de crescimento e produção de biomassa; Sistema radicular profundo e denso; Capacidade transpiratória elevada (árvores e plantas perenes); 45 Capacidade de absorção (concentração, metabolização e tolerância ao contaminante); Retenção do contaminante nas raízes (no caso da fitoestabilização, como oposto à transferência para a parte aérea, evitando sua manipulação e disposição); Fácil colheita (se necessária a remoção da planta da área contaminada); Elevada taxa de exsudação radicular; Resistência a pragas e doenças; Fácil aquisição ou multiplicação de propágulos; Fácil controle ou erradicação; Capacidade de desenvolver-se bem em ambientes diversos; Ocorrência natural em áreas poluídas. No entanto, reunir todas essas características em uma só planta não é fácil, então aquela que for selecionada deve agrupar o maior número possível destes itens. Outro aspecto a ser observado é que, embora muitos testes avaliem a planta de forma isolada, muitas espécies podem ser utilizadas em um mesmo local, ou ao mesmo tempo ou subseqüentemente, para remoção de mais contaminantes (KAMATH et al., 2005). 2.6 PLANTAS ACUMULADORAS Além da descrita resistência de algumas plantas, há as que extrapolam essa capacidade e podem ser chamadas de hiperacumuladoras. Estas plantas acontecem em número relativamente pequeno e funcionam como descontaminadoras do solo. É 46 recomendado que as mesmas sejam utilizadas como fitorremediadoras em solos contaminados de uma maneira mais ampla, por exemplo, como recuperadoras de metais de alto valor comercial. Na Europa são conhecidas algumas Brássicas com essa propriedade. As espécies Thlaspi caerulescences e Cochlearia pyrenaica são conhecidas como hiperacumuladoras de níquel (BAKER, et al, 1994). Na maioria das vezes essas plantas apresentam flores muito bonitas, atraindo facilmente um elevado número de predadores potenciais, podendo haver propagação da contaminação ao longo da cadeia alimentar. O risco pode ser diminuído com a colocação de uma proteção em rede em volta da cultura, ou se implantação de refletores metálicos ou instrumentos com ruído que afastem os animais. A espécie Brassica juncea (L.), também conhecida como mostarda marrom, é uma Brassicaceae conhecida pelo fato de ser hiperacumuladora de Pb, Cu, Co e Zn. Já a espécie Canavalia ensiformis (L.) D.C., conhecida vulgarmente como feijão de porco, além de ser adubo verde foi testada e aprovada como espécie remediadora de solos contaminados por herbicidas (PIRES et al., 2003). Plantas hiperacumuladoras não são espécies abundantes, sendo consideradas raras, existindo em áreas geograficamente remotas ou distribuindo-se em zonas ameaçadas pela devastação da atividade mineira. Efetivamente, a maioria das plantas com características hiperacumuladoras de metais, encontram-se nos trópicos e subtrópicos e nas zonas montanhosas como os Alpes e as Montanhas Rochosas. Além disso, o seu potencial de exploração, como meio de descontaminação dos solos, é claramente limitado pela baixa produção que apresentam. As com elevadas 47 produtividades acumulam geralmente pequenas quantidades de metais pesados, e se estes estiverem disponíveis em concentrações moderadas. 2.6.1 Espécie acumuladora utilizada no estudo O presente estudo utilizou inicialmente como espécie fitoextratora a espécie Brassica olerace variedade acephala (Figura 2). Segundo Joly (2005) esta espécie pertence ao gênero Brassicacea, à família Cruciferae ou em algumas classificações encontra-se esta família com o nome Brassicaceae, à ordem Papaverales, classe Dicotiledoneae, à divisão Angiospermae e ao reino Plantae. FIGURA 2 – BRASSICA OLERACEA ACEPHALA NOTA: Figura extraída do site www.jardineiro.net/br/banco/brassica_oleraceae_acephala.php (2011) A espécie Brassica oleracea acephala é conhecida popularmente por repolho ornamental, sendo utilizada como ornamentação de jardins. Teve origem na região costeira do Mediterrâneo e da Europa, se difundido para a região norte. O repolho ornamental é uma planta herbácea da espécie Brassica oleracea, a mesma que couve, 48 repolho, brócolis, couve-de-bruxelas e couve-flor. Ela pertence à variedade acephala, ou seja, não forma cabeça, da mesma forma que a couve-de-folhas. Esta é uma espécie perene que apresenta caule curto, com folhas dispostas em roseta densa e de porte baixo, cerca de 20 a 30 cm de altura. As folhas são grandes, arredondadas, cerosas, franjadas, com margens crespas, sendo que as mais externas são de cor verde-azulada e as do centro podem ser brancas, róseas ou roxas. As flores são pequenas e amarelas, dispostas em inflorescências do tipo racimo, terminais e eretas, e de importância ornamental secundária. O fruto é do tipo síliqua. O repolho-ornamental é uma folhagem decorativa, que pode ser cultivada em vasos e jardineiras, adornando interiores bem iluminados. No jardim, forma bordaduras ou pode ser usada em conjunto com outras plantas. Deve ser cultivada sob sol pleno ou meia-sombra, em solo drenável, enriquecido com matéria orgânica e irrigado regularmente. Aprecia o frio de climas subtropicais e é resistente a geadas. É mais rústica que as couves comestíveis, não sendo exigente em fertilidade, mas se beneficia com adubações orgânicas, principalmente antes do plantio. Apesar de perene, necessita ser trocada dos canteiros em intervalos bienais ou anuais, por perder a beleza com o tempo. Multiplica-se por sementes, postas a germinar no outono e inverno (TOCA DO VERDE, 2010). 2.7 PLANTAS INVASORAS São espécies exóticas com alta capacidade de crescimento, proliferação e dispersão, capazes de modificar a composição, estrutura ou função do ecossistema. 49 Nessa definição, não se consideram as espécies nativas que, por algum desequilíbrio ecológico, passam a crescer e se multiplicar descontroladamente, comportando-se como invasoras. A essas espécies pode-se atribuir o termo "superdominantes". É importante ressaltar que uma espécie pode se tornar invasora ou não, conforme as condições ecológicas encontradas (MATOS, PIVELLO, 2009). Para os agricultores, essas espécies são as "pragas" ou "ervas-daninhas" (visão antropocêntrica); numa abordagem ecológica, são tidas como "colonizadoras" ou "pioneiras"; adicionando-se a questão biogeográfica, temos que essas espécies podem ser nativas (originárias da comunidade) ou exóticas (introduzidas a partir de outro ambiente) (MATOS, PIVELLO, 2009). Um dos principais mecanismos de sobrevivência das plantas daninhas em ambientes constantemente perturbados, em especial as anuais, é a alta produção de sementes (DEUBER, 1992). 2.8 MÉTODOS DE RECUPERAÇÃO O destino do material vegetal produzido por plantas hiperacumuladoras depende da possibilidade ou não de aproveitamento dessas plantas, o que é determinado pela espécie vegetal cultivada, sua capacidade de bioacúmulo e o risco ambiental representado. Assim, o tecido vegetal pode ser incinerado, depositado em aterro ou, em caso de aproveitamento, utilizado para a produção de fibras, de móveis etc. A variabilidade dos possíveis usos está correlacionada ao número de espécies 50 hiperacumuladoras, e até o ano de 2000 eram conhecidas 400 espécies de plantas hiperacumuladoras pertencentes a 45 diferentes famílias (LASAT, 2000). Diante de uma política ambiental cada vez mais severa, onde se busca o estabelecimento de padrões de concentração cada vez menores para os poluentes, as indústrias têm sido levadas a ajustar os processos existentes visando a menor geração e remoção de elementos tóxicos de efluentes industriais. Tais ajustes implicam na utilização de técnicas alternativas, que operam dentro da seqüência do processo de tratamento como complemento das técnicas tradicionais, que são, em geral, ineficientes quando trabalham com efluentes contendo metais pesados. (TOREM e CASQUEIRA, 2003). Uma alternativa para atender ao objetivo específico proposto, relacionado à recuperação do metal após a técnica de fitorremediação é a eletrodeposição de metais, na qual se utiliza uma célula eletrolítica contendo uma solução eletrolítica. Esta solução contém sais iônicos do metal a ser depositado. Também conhecida como uma técnica de remediação eletrocinética, processamento eletrocinético, eletromigração, descontaminação eletrocinética ou eletrocorreção, pode ser usada para extrair metais pesados e alguns tipos de resíduos orgânicos de solos e sedimentos. Esta técnica baseia-se na aplicação de uma corrente direta de baixa intensidade, na ordem de mA/cm², ou de um potencial através de uma solução com o tecido vegetal entre dois ou mais eletrodos. Os contaminantes são mobilizados na forma de espécies carregadas ou partículas, a corrente aplicada mobiliza espécies carregadas eletricamente, partículas e íons. 51 3 METODOLOGIA DA PESQUISA O experimento foi conduzido no interior da PUCPR em São José dos Pinhais, uma universidade provida de amplo espaço verde cultivável, possibilitando implantações de vários experimentos didáticos devido ao campus estar direcionado para Ciências Ambientais e Agrárias. As análises foram desenvolvidas e realizadas nos Laboratórios de Análise de Solos, Química e Nutrição Mineral de Plantas na PUCPR e sua leitura realizada no Laboratório de Espectrometria da Petrobrás. 3.1 IMPLANTAÇÃO DO EXPERIMENTO O experimento foi implantado nas dependências externas do Viveiro Florestal, sob grades metálicas que impossibilitavam o contato direto com o solo. Os ensaios foram realizados em recipientes de polietileno (vasos) de 10 litros contendo em média 8 kg de terra, totalizando 20 (vinte) ensaios. O solo utilizado foi adquirido em uma casa de jardinagem em Curitiba/PR (Arte Botânica Plantas e Jardins), sendo composto de terra vegetal preta, substrato orgânico, húmus de minhocas e esterco de aves. Para cada concentração do experimento e para o branco foram preparadas 5 replicatas, sendo que para contaminação do solo foi empregado porções do contaminante nas concentrações 20%, 25% e 30% de lodo, agregando como nutriente cloreto de potássio (KCl) na quantidade 1,5g por vaso. 52 Os vasos foram identificados com placas plásticas, e em cada um deles foram colocadas 10 sementes da espécie Brassica olerace. O plantio foi realizado em dezembro de 2010. Os vasos receberam rega diária e foram mantidos em área descoberta com presença de luz solar. Durante o período de crescimento destacou-se o grande desenvolvimento de espécies invasoras, que se tornaram o objeto direto do estudo. FIGURA 3 – VISÃO GERAL DO EXPERIMENTO FONTE: Malisak (2011) 3.2 MATERIAIS UTILIZADOS 20 vasos de polietileno com capacidade de 10 litros; 20 placas plásticas para identificação; 12 bandejas plásticas grandes, 160 kg solo preparado; 30 gramas de cloreto de potássio (KCl); Resíduo industrial com alto teor de níquel incorporado; Sementes de Repolho Ornamental (Brassica oleraceae L. var. acephala). 53 3.3 AMOSTRAGEM E IDENTIFICAÇÃO Após cinco meses do plantio foram realizadas coletas de todas as plantas sobreviventes (cultura e invasoras), separando-as por concentração, vaso e espécie. As amostras de solo foram coletadas manualmente, retirando-se de cada vaso uma quantidade de aproximadamente 200 gramas, reservando-as em sacos de papel. Todas as amostras foram identificadas de forma numérica sendo de 01 a 20 amostras de solo e 21 a 52 amostras de plantas. FIGURA 4 – ACONDICIONAMENTO DE AMOSTRAS FONTE: Malisak (2011) 3.4 COLETA E ANÁLISES LABORATORIAIS O solo coletado foi seco em estufa de circulação de ar forçada a 65ºC por 72 horas, triturado e peneirado em peneira de 3 mm de malha, homogeneizado e acondicionado em pacotes de papel para posterior análise. As plantas foram retiradas dos vasos com as raízes, lavadas e enxaguadas em água corrente e água deionizada. Em seguida foram colocadas em sacos de papel e secas em estufa com circulação de ar forçada à temperatura a 65°C por 72 horas. 54 Posteriormente, as amostras foram moídas em moinho tipo Willye, marca Tecnal, modelo TE-650, homogeneizadas e acondicionadas em sacos plásticos. Todas as amostras (massas dos vegetais) foram pesadas. FIGURA 5 – SOLO TRITURADO E PENEIRADO FONTE: Malisak (2011) 3.4.1 Amostras de Solo Para determinação de pH, separou-se uma alíquota de 10g (cachimbo de 10cm3) de cada amostra, colocadas em frascos de polietileno de capacidade de 80mL, acrescentado volumetricamente 25mL de solução de CaCl2 0,01M deixadas em repouso por 15 minutos, levadas a mesa giratória por 30 minutos e novamente em repouso por 30 minutos, estando assim prontas para leitura no pHmetro devidamente calibrado, conforme metodologia da EMBRAPA (1997). FIGURA 6 – LEITURA DE PH FONTE: Malisak (2011) 55 A determinação de metais em sedimentos e solo seguiu a metodologia da CETESB (2004), sendo realizada a digestão via úmida, onde o solo foi seco em estufa a temperatura de 65ºC, peneirada em peneira de malha 80 Tyler/Mesh (250 tyler/Mesh = 63 mm/μm = 230 USS/ ASTM). Pesou-se 1g da amostra e adicionando 5 mL de água deionizada e 5 mL HNO3 concentrado, aquecidos em refluxo por 15 minutos. Após este tempo, foi resfriado, acrescentado 5 mL de HNO3 concentrado e aquecido por mais 30 minutos, em refluxo até total oxidação da amostra. Após adicionou-se H2O2, até efervescência e em seguida foi acrescentado 5 mL de HCl concentrado e 10 mL de água deionizada, novamente aquecendo em refluxo, sem ebulição, até o volume chegar a 10 mL. A solução foi transferida para balão volumétrico de 100 mL e avolumada. Uma alíquota de aproximadamente 25 mL foi filtrada em filtro PVDF de 0,45 μm, transferida para tubo tipo falcon e levadas para leitura. As amostras foram lidas em Espectrofotômetro de Emissão Óptica com fonte de plasma indutivamente acoplado (ICP – OES), marca Perkin Elmer, modelo Optima 2100DV. Foi preparada uma curva de calibração de níquel para a quantificação da amostra. FIGURA 7 – PREPARO E DIGESTÃO AMOSTRAS DE SOLO FONTE: Malisak (2011) 56 3.4.2 Amostras de Plantas A marcha analítica seguiu a metodologia de Carneiro et al. (2006), utilizando a digestão via úmida Nitro – Perclórica, adaptada de ZASOSKI e BURAU (1977). Pesou-se aproximadamente 0,4g (± 0,001) de material seco moído diretamente em tubos digestores. A cada tubo, adicionou-se 7 mL de HNO3 PA, sob temperatura ambiente. Após repouso por uma noite, os tubos foram aquecidos em bloco digestor (80 - 100°C) por 3 horas e 30 minutos, para evaporar o ácido nítrico. Em seguida, foi adicionado 1 mL de HClO4 PA concentrado (72%) e a temperatura foi gradativamente aumentada até atingir 200°C, procedendo-se a digestão até a dissipação de vapores emanados do tubo. Posteriormente, foram adicionados 20 mL de água deionizada. Uma alíquota de aproximadamente 25 mL foi filtrada em filtro PVDF de 0,45 μm, transferida para tubo falcon e levadas para leitura em ICP. Foi preparada uma curva de calibração de níquel para a quantificação da amostra. A concentração do metal presente nas plantas foi determinada através da técnica de espectrofotometria Emissão Óptica com fonte de plasma indutivamente acoplado (ICP – OES), marca Perkin Elmer, modelo Optima 2100DV. FIGURA 8 – AMOSTRAS DIGERIDAS DE PLANTAS FONTE: Malisak (2011) 57 3.5 EXPERIMENTO DE ELETRODEPOSIÇÃO Uma célula eletrolítica é um dispositivo, onde ocorre uma transformação química, que não aconteceria sem a interveniência da energia elétrica. A figura 9 apresenta o esquema de uma eletrólise. Os componentes essenciais da célula eletrolítica são o gerador de corrente contínua, o banho eletrolítico e os elétrodos. O gerador circula os elétrons, e polariza os elétrodos. Conforme o banho eletrolítico, a eletrólise pode ser ígnea (eletrólito fundido) ou aquosa (eletrólito dissolvido). Os elétrodos podem ser inertes (não reagem) ou ativos (reagem durante o processo). FIGURA 9 – ESQUEMA DE ELETRÓLISE FONTE: Figura extraída do site www.brasilescola.com (2011) O rendimento e a qualidade da eletrodeposição catódica dependem da limpeza mecânica e química da superfície, da densidade de corrente utilizada, da agitação do eletrólito, da concentração e da natureza do eletrólito, da natureza do metal-base, da temperatura etc. 58 3.6 MATERIAIS 05 béqueres de 1000ml 01 pinça metálica 01 balança analítica 01 agitador magnético 01 fonte de corrente contínua 02 fios conectores com pinças 80 mL de HCl a 0,5 mol/L; 200 mL de NiSO2 7 H2O a 0,4 mol/L. Lâminas de latão e níquel 3.7 MÉTODOS Realizou-se a limpeza das duas lâminas deixando-as separadamente em banho de ácido clorídrico por 2 minutos para decapagem, enxaguando e secando-as. Pesou-se a lâmina de latão e a de níquel, anotando a massa inicial. Utilizando a pinça metálica pegou-se as lâminas para a eletrodeposição. Ligou-se a fonte de corrente contínua ajustando ambos os reguladores de corrente grosso e fino a cerca de 1/3 da escala. Regulou-se a tensão para 1,5 V e a corrente para 0,3A (eletrodeposição de níquel), prendeu-se a lâmina de latão com a pinça do fio conector do pólo negativo mergulhando-a no banho eletrolítico (deposição: banho de Ni2+); 59 Prendeu-se a lâmina de níquel com a pinça do fio conector do pólo positivo. Simultaneamente, mergulhou-se a lâmina no banho. Transcorridos 5 minutos, desligou-se a fonte. A lâmina que recebeu eletrodeposição foi limpa, seca e pesada, anotando-se sua massa final. FIGURA 10 – EXPERIMENTO DE ELETRODEPOSIÇÃO FONTE: Malisak (2011) Em béqueres separados pesou aproximadamente 50 gramas de plantas secas e moídas de cada uma das concentrações em análise (0%, 20%, 25% e 30%). Com o auxílio de um agitador magnético, preparou-se uma solução adicionando 900 mL de água, repetindo o procedimento de eletrodeposição nas quatro soluções. FIGURA 11 – SOLUÇÕES PARA ANÁLISE DE ELETRODEPOSIÇÃO FONTE: Malisak (2011) 60 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados das análises realizadas serão demonstrados por meio de tabelas e gráficos, discutindo os valores obtidos e relacionando a teoria com a prática, para o alcance dos objetivos propostos, de forma a caracterizar a eficiência da técnica da fitorremediação. 4.1 ANÁLISE DO SOLO IN NATURA Uma amostra do solo in natura foi analisada conforme parâmetros físicoquímicos constantes no Tabela 5, com a finalidade de se conhecer sua composição. O solo utilizado no experimento apresentou as características abaixo (Tabela 5), destacando-se pelo alto teor dos elementos químicos disponíveis. TABELA 5 – COMPOSIÇÃO DO SOLO IN NATURA PARÂMETROS RESULTADOS pH (em CaCl2) 3,43 Carbono 92,98 g/dm-3 Fósforo 25,26mg/ dm-3 Potássio 0,37 cmolc/ dm-3 Cálcio 4,66 cmolc/ dm-3 Magnésio 1,73 cmolc/ dm-3 Alumínio 3,82 cmolc/ dm-3 Acidez potencial (Al + H) Densidade T (Capacidade de cátions trocáveis (CTC) a pH 7.0) V (Porcentagem de saturação de bases da CTC a pH 7,0) m (Porcentagem de saturação de alumínio.) 17,60 cmolc/ dm-3 1,12 g/L 24,36 27,80% 36,10% FONTE: Laboratório de Análise de Solos PUCPR (2010). 61 4.2 CRESCIMENTO DA ESPÉCIE SEMEADA Na tabela abaixo, observa-se como foi o desenvolvimento quantitativo da cultura Brassica oleraceae L. var. acephala (repolho ornamental): TABELA 6 – NÚMERO DE PLANTAS BRASSICAS CONCENTRAÇÃO DE LODO CONTAMINADO VASO 0% 20% 25% 30% 1 4 5 1 2 3 4 1 3 2 5 3 4 2 4 1 5 3 5 1 Total 0 14 23 7 NOTA: Contagem realizada no mês de fevereiro de 2011. A concentração que apresentou melhor desenvolvimento em número de plântulas germinando foi a de 25% de lodo misturado ao solo, com um total de 23 plantas, seguida da concentração de 20% com 14 plantas e 30% com 7 plantas. A concentração de 30% de lodo obteve em seus vasos as plantas mais altas e com folhas maiores, evidenciando o caráter hiperacumulador das invasoras e da cultura semeada. FIGURA 12 – EXEMPLOS DA CULTURA NO EXPERIMENTO FONTE: Malisak (2011) 62 4.3 DESENVOLVIMENTO DE ESPÉCIES INVASORAS No decorrer do estudo o banco de sementes presente no solo, demonstrou grande expressão de espécies consideradas invasoras, que sobreviveram às concentrações do lodo e se desenvolveram de forma rápida e substancial. Passaram então a ser o foco principal da pesquisa, para avaliação do potencial destas espécies de desenvolvimento espontâneo na fitoextração. As que mais se destacaram em quantidade, foram classificadas segundo Lorenzi (2006) como: Braquiária; Nomes populares: Capim-braquiária, braquiária. Nome científico: Brachiaria decumbens Stapf. Família: Gramineae. Capim-pé-de-galinha; Nomes populares: Capim-pé-de-galinha, pé-de-galina, capim-de-coroa-d’ouro, capim-de-pomar, capim-d’ouro, pata-de-galinha, capim-da-cidade, capim-de-burro, grama-de-couadouro, grama-sapo, pé-de-papagaio, capim-fubá, flor-de-grama. Nome científico: Eleusine Indica (L.) Gaertn. Família: Gramineae. 63 Junquinho; Nomes populares: junquinho, capim-de-cheiro, chufa, pelo-de-sapo. Nome científico: Cyperus ferax L.C. Rich. Família: Cyperaceae. Maria-pretinha; Nomes populares: maria-pretinha, erva-moura, caraxixá, pimenta-de-galinha, aguarágua, pimenta-de-cachorro, pimenta-de-rato, aguaraquiá, caraxixu, erva-debicho, erva-mocó, pimenta. Nome científico: Solanum americanum Mill. Família: Solanaceae. Poaia; Nomes populares: poaia branca, poaia, poaia-do-campo. Nome científico: Richardia brasiliensis Gomez. Família: Rubiaceae. Tiririca-do-brejo; Nomes populares: tiririca-do-brejo Nome científico: Cyperus iria L. Família: Cyperaceae. 64 FIGURA 13 – EXEMPLOS DE INVASORAS NO EXPERIMENTO FONTE: Malisak (2011) Em todos os vasos predominaram basicamente as mesmas espécies de plantas invasoras sendo as principais: braquiária e a tiririca-do-brejo; TABELA 7 – NÚMERO DE ESPÉCIES DE PLANTAS INVASORAS CONCENTRAÇÃO DE LODO CONTAMINADO VASO 0% 20% 25% 30% 1 2 2 2 1 2 2 1 2 1 3 2 1 1 2 4 2 2 3 2 5 2 2 3 2 NOTA: Contagem realizada no mês de fevereiro de 2011 Nos vasos de concentração 0% de lodo, as espécies invasoras que se desenvolveram foram duas, tiririca e braquiária. As mesmas apareceram em todos os outros vasos, comprovando que estas espécies já estavam presentes no banco de sementes do solo, porém o que as diferenciou dos vasos com concentração de lodo 20%, 25% e 30% foi o desenvolvimento das plantas, tanto em altura quanto em quantidade. 65 As outras espécies invasoras sobreviventes (poaia, maria-pretinha, junquinho, capim-pé-de-galinha) podem ter crescido espontaneamente devido à maior tolerância e capacidade de absorção do metal níquel. A concentração na qual se desenvolveu maior quantidade de plantas infestantes foi a de 25%. Todas as plantas invasoras do estudo são bastante freqüentes, principalmente na região sul do país. Infestam em geral cultivos anuais e perenes. São características de regiões frias e úmidas. Possuem uma média de altura entre 30-60 cm, sendo a maior a de espécie Brachiaria decumbens Stapf chegando a até 90 cm de altura e a menor a Richardia brasiliensis Gomez com no máximo 50 cm de altura. 4.4 INTERAÇÃO COM O NUTRIENTE APLICADO Todas as características avaliadas foram influenciadas pelo adubo inorgânico utilizado. As plantas cultivadas apresentaram boa altura e bom número de folhas, o qual foram em média respectivamente 15 cm e 10 folhas. As Brassicaceas apresentam em suas folhas grande concentração de potássio quando cultivadas com adubo contendo este elemento. O que leva a concluir que as folhas utilizam e absorvem bem o potássio e que o mesmo é importante em seu crescimento bem como no seu desenvolvimento foliar. As plantas invasoras apresentaram em média 70 centímetros e nenhum tipo de amarelamento nas margens e nas pontas, nem ressecamento o que segundo Malavolta (2000) é devido à falta de potássio. 66 FIGURA 14 – ASPECTOS EXTERNOS DA PLANTA FONTE: Malisak (2011). 4.5 ANÁLISE DE pH Para Malavolta (2000), o pH é um fator de grande importância no controle da disponibilidade do metal níquel para as plantas, havendo relação inversa entre pH e disponibilidade. Observa-se na Tabela 8 o caráter ácido do solo sem a adição de lodo industrial. A gradual adição do mesmo tende a neutralidade da mistura, evidenciando a alcalinidade do lodo. Com isto, quanto maior o pH menor será a disponibilidade do níquel no solo, convergindo para a maior absorção do metal nas plantas com o aumento da concentração. Porém, observa-se que existe um limite nesta absorção, pois a superdosagem de níquel na absorção de nutrientes, retarda o desenvolvimento da raiz e o metabolismo da planta. Em geral, a toxidez do metal níquel se expressa quando sua concentração na matéria seca das plantas é maior que 50 mg/kg (MALAVOLTA, 2000). 67 TABELA 8 – ANÁLISE DE pH DO SOLO LODO AMOSTRA PESO (g) IDENTIFICAÇÃO pH (%) 1 10 Vaso 1 7,06 2 10 Vaso 2 7,55 3 10 Vaso 3 20 % 8,02 4 10 Vaso 4 7,09 5 10 Vaso 5 6,94 6 10 Vaso 1 7,09 7 10 Vaso 2 8,23 8 10 Vaso 3 25 % 6,88 9 10 Vaso 4 7,12 10 10 Vaso 5 8,16 11 10 Vaso 1 7,12 12 10 Vaso 2 7,42 13 10 Vaso 3 30 % 8,34 14 10 Vaso 4 7,21 15 10 Vaso 5 7,65 16 10 Vaso 1 3,02 17 10 Vaso 2 3,14 18 10 Vaso 3 0% 3,29 19 10 Vaso 4 3,52 20 10 Vaso 5 2,81 FIGURA 15 – LEITURA DE pH FONTE: Malisak (2011). Média pH 7,332 7,496 7,548 3,156 68 4.6 ANÁLISE DE CONCENTRAÇÃO Na Tabela 9, foram compilados os dados obtidos no experimento, para a obtenção da concentração do metal níquel proveniente do lodo, no solo e na Tabela 10, foram reunidas as informações de todas as espécies encontradas nos vasos e suas respectivas concentrações fitoextraídas: TABELA 9 – QUANTIDADE RESIDUAL DE NÍQUEL NO SOLO LODO PESO Conc. Ni Conc. Ni AMOSTRA IDENTIF. (%) (g) (mg/L) (mg/Kg) 1 Vaso 1 1,0098 2,028 1,811 2 Vaso 2 1,0089 2,048 1,829 20 3 Vaso 3 1,0120 2,021 1,804 4 Vaso 4 1,0112 2,092 1,868 5 Vaso 5 1,0098 1,956 1,746 6 Vaso 1 1,0198 2,911 2,599 7 Vaso 2 1,0099 2,634 2,352 25 8 Vaso 3 1,0024 2,681 2,394 9 Vaso 4 1,0012 2,812 2,511 10 Vaso 5 1,0021 2,978 2,659 11 Vaso 1 1,0188 3,053 2,726 12 Vaso 2 1,0008 3,059 2,731 30 13 Vaso 3 1,0053 3,093 2,762 14 Vaso 4 1,0788 3,313 2,958 15 Vaso 5 1,0007 3,305 2,951 16 Vaso 1 1,0019 0,144 0,129 17 Vaso 2 1,0023 0,218 0,195 0 18 Vaso 3 1,0096 0,127 0,113 19 Vaso 4 1,0091 0,114 0,102 20 Vaso 5 1,0073 0,121 0,108 Na Tabela 10, constata-se que a concentração de níquel nas plantas aumentou com a concentração de lodo, porém não houve um aumento linear. Se observa que a maior concentração nas plantas foi nos vasos com 25% de lodo, fato este que pode 69 estar relacionado hipoteticamente com a tolerância das plantas do estudo ao metal níquel e sua toxicidade. TABELA 10 – QUANTIDADE DE NÍQUEL FITOEXTRAÍDO Conc. Conc. LODO PESO AMOSTRA IDENTIF. ESPÈCIES Níquel Níquel (%) (g) (mg/L) (mg/Kg) 21 0,4035 Repolho ornamental 0,797 0,712 Vaso 1 22 0,4007 Tiririca-do-brejo 0,647 0,578 23 0,4031 Repolho ornamental 0,932 0,832 Vaso 2 24 0,4028 Braquiaria 0,937 0,837 25 Vaso 3 0,4051 Capim pé de galinha 0,602 0,538 20 26 0,4050 Braquiaria 1,442 1,288 Vaso 4 27 0,4008 Repolho ornamental 0,410 0,366 28 0,4029 Junquinho 0,298 0,266 29 Vaso 5 0,4016 Tiririca-do-brejo 0,410 0,366 30 0,4024 Repolho ornamental 0,663 0,592 31 0,4021 Repolho ornamental 0,944 0,843 Vaso 1 32 0,4000 Poaia Branca 1,921 1,715 33 Vaso 2 0,4018 Junquinho 0,896 0,800 34 Vaso 3 0,4009 Tiririca-do-brejo 1,788 1,596 35 25 0,4002 Braquiaria 1,440 1,286 36 Vaso 4 0,4005 Tiririca-do-brejo 2,451 2,188 37 0,4004 Repolho ornamental 1,344 1,200 38 0,4037 Repolho ornamental 0,631 0,563 Vaso 5 39 0,4019 Tiririca-do-brejo rica 1,735 1,549 40 Vaso 1 0,4118 Junquinho 1,921 1,715 41 Vaso 2 0,4081 Tiririca-do-brejo 2,113 1,887 42 0,4062 Repolho ornamental 1,376 1,229 Vaso 3 43 0,4022 Tiririca-do-brejo 2,019 1,803 30 44 0,4282 Repolho ornamental 0,989 0,883 Vaso 4 45 0,4012 Maria pretinha 1,262 1,127 46 0,4039 Repolho ornamental 0,908 0,811 Vaso 5 47 0,4003 Tiririca-do-brejo 0,490 0,438 48 Vaso 1 0,4013 Tiririca, braquiaria 0,078 0,070 49 Vaso 2 0,4004 Tiririca, braquiaria 0,138 0,123 50 Vaso 3 0 0,4016 Tiririca, braquiaria 0,119 0,106 51 Vaso 4 0,4046 Tiririca, braquiaria 0,074 0,066 52 Vaso 5 0,4080 Tiririca, braquiaria 0,081 0,072 70 Para analisar o níquel fitoextraído, utilizaram-se apenas as plantas que expressaram maior representatividade em volume de cada vaso. Sendo assim, as amostras foram analisadas de forma independente. Após análises observou-se que realmente o níquel foi incorporado ao solo, e as amostras 16 a 20, que não receberam concentração de lodo, apresentaram apenas um resíduo natural de níquel. Nota-se que com o aumento da dosagem de lodo aumentou também a concentração de níquel na mesma proporção sendo seus valores médios para a concentração de 20%, 25% e 30% respectivamente 1,8, 2,5 e 2,8 mg/kg. As plantas invasoras que obtiveram melhores resultados de fitoextração nas concentrações propostas foram as invasoras: braquiária e tiririca-do-brejo, e estão ilustradas na Tabela 11, onde se faz um comparativo de absorção em mg/kg das espécies invasoras com a cultura do repolho ornamental: TABELA 11 – ABSORÇÃO CULTURA X INVASORAS CONC. CONC. DE ESPÉCIE (mg/kg) LODO (%) Repolho ornamental (cultura) 0,832 20 25 30 Braquiária (invasora) 1,288 Repolho ornamental (cultura) 1,200 Tiririca-do-brejo (invasora) 2,188 Repolho ornamental (cultura) 1,229 Tiririca-do-brejo (invasora) 1,887 71 4.7 QUANTIDADE REMOVIDA DO SOLO De acordo com a hipótese sugerida no item 4.5, a Tabela 12 e a Figura 16 constatam que as amostras submetidas na concentração de 25%, obtiveram melhor desempenho fitoextrator que as demais concentrações. Acima desta concentração, que é o caso dos vasos 30% a toxicidade do metal para as plantas pode começar a ser evidenciada pelo decréscimo da fitoextração de níquel nas plantas. TABELA 12 – PORCENTAGEM DE REMOÇÃO DE NÍQUEL Remoção % Amostras por Total de Ni Total de Ni Remoção Conc Lodo (mg/kg) (mg/kg) de Ni 0% 0,646 0,438 67,68% 20% 9,058 6,373 70,36% 25% 12,514 11,741 93,82% 30% 14,128 9,891 70,01% FIGURA 16 – PORCENTAGEM DE REMOÇÃO DE NÍQUEL % Remoção de Ni 0,9162 0,0586 0,9528 0 0,2 0,25 0,3 1,7462 72 4.8 RENDIMENTO DA ELETRODEPOSIÇÃO DE NÍQUEL Para concluir o objetivo principal deste trabalho, que foi propor um tratamento dos resíduos gerados (massa vegetal), de forma sustentável e economicamente viável utilizando a própria biomassa das plantas do estudo, optou-se pela metodologia de eletrodeposição para a tentativa de recuperação do metal níquel. Analisaram-se misturas de água com 50g de plantas na seguinte ordem: Branco, 20% de lodo, 25% de lodo e 30% de lodo. Após a montagem do aparato experimental, iniciou-se o processo de eletrodeposição, utilizando os materiais já descritos. Previamente foram pesados os eletrodos de Latão e de Níquel conforme mostrado na Tabela 13 e 14. Para iniciar o experimento, com a finalidade de controle do processo fez-se uma eletrodeposição com uma solução de Sulfato de Níquel 0,4 mol/L, que foi utilizada como Padrão. Após cada eletrodeposição nova decapagem com HCl era realizada, bem como nova pesagem dos dois eletrodos. TABELA 13 – MASSA DEPOSITADA DE NÍQUEL NO LATÃO MASSA MASSA MASSA DEPOSITADA CONC. LATÃO LATÃO DE NÍQUEL AMOSTRA DE LODO INICIAL FINAL (FINAL - INICIAL) (%) (g) (g) (g) NiSO4 Padrão 7,3969 7,4087 0,0118 0% 7,3948 7,3949 0,0001 48-52 20% 7,3941 7,3963 0,0022 21-30 25% 7,3942 7,3991 0,0049 31-39 30% 7,3946 7,4024 0,0078 40-47 73 Após a realização dos ensaios por diferença de massa se obteve a massa (em gramas) do metal níquel depositada na lâmina de Latão. FIGURA 17 – GRÁFICO DE RECUPERAÇÃO DE NÍQUEL RECUPERAÇÃO DE NÍQUEL 0,0120 0,0100 0,0080 Massa de níquel depositada (g) 0,0060 0,0040 0,0020 0,0000 Padrão 0 20% 25% 30% Concentração de lodo nos vasos (% ) Analisando a Tabela 14, observa-se uma perda de massa da lâmina de níquel, que pode estar relacionada ao tempo da eletrodeposição, pois após a deposição do níquel em solução, pode haver uma perda do eletrodo. Para fins de cálculo estes valores não foram considerados. TABELA 14 – MASSA PERDIDA DE NÍQUEL NO ELETRODO DE NÍQUEL MASSA MASSA MASSA PERDIDA CONC. DE NÍQUEL NÍQUEL DE NÍQUEL AMOSTRA LODO (%) INICIAL FINAL (INICIAL - FINAL) (g) (g) (g) NiSO4 Padrão 2,6370 2,6361 0,0009 0% 2,5541 2,5529 0,0012 48-52 20% 2,5793 2,5784 0,0009 21-30 25% 2,6050 2,6047 0,0003 31-39 30% 2,6347 2,6345 0,0002 40-47 74 Na Tabela 15, demonstra-se em µg/g a concentração de níquel eletrodepositado, calculado pela concentração de níquel depositado pelas amostra analisada. TABELA 15 – CONCENTRAÇÃO DE NÍQUEL ELETRODEPOSITADO MASSA CONCENTRAÇÃO DE CONC. DE DEPOSITADA NÍQUEL AMOSTRA LODO DE NI (FINAL ELETRODEPOSITADO (%) INICIAL) (µg/g) (g) NiSO4 Padrão 236 0,0118 0% 0,0001 48-52 2 20% 0,0022 21-30 44 25% 0,0049 31-39 98 30% 0,0078 40-47 156 A partir dos dados obtidos no experimento, foi calculado o rendimento da eletrodeposição com relação ao Padrão de Controle (NiSO4) conforme Tabela 16: TABELA 16 – RENDIMENTO DA ELETRODEPOSIÇÃO RENDIMENTO CONC. DE LODO AMOSTRA RELACIONADO AO (%) PADRÃO NiSO4 Padrão 100% 48-52 21-30 31-39 40-47 0% 20% 25% 30% 1% 19% 42% 66% Um rendimento de 66% ficou evidenciado para a concentração de lodo igual a 30%, o que se torna plausível tal valor, pelo fato que este ponto tem uma maior concentração de níquel. 75 5 CONCLUSÃO Tendo em vista a poluição ambiental causada pela industrialização acelerada e despreocupada com o meio ambiente, percebe-se que a situação tende a piorar. A presença de contaminantes de origem metálica no solo, tem se apresentado elevada, tornando a quantidade de micronutrientes disponível tão elevada a ponto de se tornar tóxica. Frente a esta realidade, tem se buscado a utilização de técnicas para remediar este problema e /ou diminuí-los a níveis menos críticos e possíveis soluções para a redução do passivo ambiental gerado, utilizando da própria biomassa do processo. No presente estudo, em solo acrescido de níquel proveniente de lodo industrial, com concentrações conhecidas de 20, 25 e 30%, analisou-se por meio de plantas de crescimento espontâneo (invasoras) seu potencial fitoextrator, visto que as mesmas se desenvolveram em quantidade e qualidade frente à cultura implantada no início do experimento (Brassicacea oleracea). As plantas invasoras foram identificadas e analisadas, demonstrando eficácia na fitoextração do metal níquel através de sua grande tolerância ao solo contaminado. Apresentaram o melhor desempenho de absorção em todas as concentrações que foram submetidas, demonstrando seu provável limite de tolerância. O residual médio de níquel no solo do experimento foi da ordem de 40%, sendo que na concentração de 25% de lodo incorporado, chegou próximo a 10%. O tratamento do resíduo vegetal do processo de fitorremediação, proposto através da eletrólise demonstrou eficiência podendo ser aplicado mediante estudo de viabilidade econômica e sustentabilidade do processo. Estudos relacionados aos 76 mecanismos de absorção de níquel bem como, aspectos anatômicos das plantas submetidas à fitoextração, pode ser uma nova linha de pesquisa promissora para trabalhos futuros. Sendo assim, com os objetivos propostos pelo trabalho atingidos, conclui-se que para uma completa remediação, há necessidade de multidisciplinaridade de processos, bem como a busca constante pelo desenvolvimento de alternativas cada vez mais equiparadas com o avanço tecnológico. 77 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACCIOLY, A. M. A.; SIQUEIRA, J. O. Contaminação química e biorremediação do solo. In: NOVAIS, R. F.; ALVAREZ V.; V. H.; SCHAEFER, C. E. G. R. Tópicos em ciência do solo. Viçosa: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo. v. 1. p. 299-352. 2000. AGUIAR, Mônica Regina Marques Palermo de; NOVAES, Amanda Cardoso; GUARINO, Alcides Wagner Serpa. Remoção de Metais Pesados de Efluentes Industriais por Aluminossilicatos. Rio de Janeiro, Scielo, 2002. ANDRADE, J.C.M; TAVARES, S.R.L.; MAHLER, C.F. Fitorremediação: o uso de plantas na melhoria da qualidade ambiental. 1ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2007. BAIRD, COLIN. Química Ambiental. 2 ed. Editora: Bookman. São Paulo, 2002. 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