15 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE TATIANY OLIVEIRA DE ALENCAR MENEZES “AVALIAÇÃO IN VITRO DA ATIVIDADE ANTIFÚNGICA DE ÓLEOS ESSENCIAIS E EXTRATOS DE PLANTAS PRESENTES NA REGIÃO AMAZÔNICA SOBRE CEPA DE Candida albicans” Belém 2008 16 TATIANY OLIVEIRA DE ALENCAR MENEZES Avaliação in vitro da atividade antifúngica de óleos essenciais e extratos de plantas presentes na região Amazônica sobre cepa de Candida albicans Dissertação apresentada ao Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Pará, para obtenção do título de Mestre em Odontologia. Orientadora: Profa Dra Ana Cláudia Braga Amoras Alves 17 Belém 2008 Catalogação-na-Publicação Biblioteca Prof. Dr. Francisco Gemaque Álvaro Curso de Odontologia da UFPA M541 Menezes, Tatiany Oliveira de Alencar Avaliação in vitro da atividade antifúngica de óleos essenciais e extratos de plantas presentes na região Amazônica sobre cepa de Candida albicans. / Tatiany Oliveira de Alencar Menezes; orientadora: Ana Cláudia Braga Amoras Alves.- Belém, 2008. 91 p.: il. 30cm. Dissertação (Mestrado em Odontologia) – Instituto de Ciências da Saúde. Universidade Federal do Pará. 1. Boca- Microbiologia bucal 2. Antimicóticos- Amazônia 3. Candida albicans CDD 617.632052 18 FOLHA DE APROVAÇÃO Avaliação in vitro da atividade antifúngica de óleos essenciais e extratos de plantas presentes na região amazônica sobre cepa de Candida albicans. [Dissertação de Mestrado]. Belém: Curso de Odontologia da Universidade Federal do Pará; 2008. Menezes TOA. Banca Examinadora 1) Dr. Edvaldo Carlos Brito Loureiro Titulação__________________________________________________ Julgamento_______________________Assinatura_________________ 2) Profa. Dra. Antonia Benedita Rodrigues Vieira Titulação__________________________________________________ Julgamento________________________Assinatura________________ 3) Prof. Dr. José Maria dos Santos Vieira Titulação__________________________________________________ Julgamento________________________Assinatura________________ 19 DEDICO, A Deus, razão do meu existir; A meus pais que me proporcionaram os primeiros ensinamentos; Ao meu marido Sílvio e meu filho Victor, pelo amor, dedicação e companheirismo durante todos os momentos da minha caminhada. 20 AGRADECIMENTOS A DEUS, por me conceder força, coragem e, acima de tudo, saúde que possibilitaram a concretização de mais este sonho. Ao meu marido Sílvio Menezes e ao meu filho Victor Menezes, pelo amor e compreensão quando precisei estar ausente. Agradeço a Deus por ter me dado a graça de tê-los ao meu lado nesta jornada, comemorando as vitórias e auxiliando nas dificuldades. MUITO OBRIGADA! Aos meus pais Geraldo e Graça Alencar que sempre estiveram ao meu lado, torcendo pelo meu sucesso e por mais esta vitória. Aos meus irmãos Érika e Geraldo Júnior, pelas palavras de incentivo e apoio. À minha orientadora Profa Dra Ana Cláudia Braga Amoras Alves, pela constante atenção, apoio e orientação durante a elaboração desta dissertação. Obrigada por acreditar que eu era capaz, mesmo gestante e depois com um bebezinho, de cumprir com as minhas obrigações. À EMBRAPA, nas pessoas do Dr. Sérgio de Mello Alves e Regina Célia Viana Martins da Silva pelo apoio fundamental na seleção e identificação dos óleos e extratos utilizados na pesquisa. 21 Ao prof. Dr. José Maria dos Santos Vieira, pela sua cordial atenção e contribuição durante a realização desta pesquisa, juntamente com sua equipe, em especial a Farmacêutica - bioquímica Lúcia Carla de Vasconcelos Mendonça, possibilitaram o acesso ao laboratório de Microbiologia do Departamento de Farmácia da Universidade Federal do Pará. Ao Dr. José Antônio Maués, diretor do laboratório Maués, pela valiosa amizade e oportunidade de desenvolver parte da dissertação em seu laboratório. À equipe de professores do programa de mestrado, pela dedicação e discussões interessantes que contribuíram para o meu crescimento profissional. A todos os colegas do curso de mestrado pela amizade, atenção e aprendizagem. À funcionária Mara Gorett, pela colaboração e apoio durante os dois anos de curso. A todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para realização desta pesquisa. 22 23 “Só quem tenta o impossível, alcança o absurdo” (Sílvio Menezes) Menezes T.O.A. Avaliação in vitro da atividade antifúngica de óleos essenciais e extratos de plantas presentes na região Amazônica sobre cepa de Candida albicans. [Dissertação de Mestrado]. Belém: Curso de Odontologia da Universidade Federal do Pará; 2008. RESUMO A candidíase é uma doença fúngica oportunista causada pela proliferação de espécies de Candida, principalmente a Candida albicans, sendo a espécie mais patogênica em humanos. Muitos antifúngicos existentes no mercado apresentam efeitos colaterais indesejáveis ou podem induzir a resistência fúngica, principalmente em indivíduos imunodeprimidos. Em odontologia, as pesquisas com produtos naturais têm aumentado nos últimos anos, devido à busca por novos produtos com maior atividade farmacológica, com menor toxicidade e mais acessíveis à população. Dentro dessa perspectiva, o objetivo desta pesquisa foi avaliar in vitro a atividade antifúngica de óleos e extratos vegetais presentes na região Amazônica e determinar a concentração inibitória mínima das espécies que apresentaram atividade antifúngica frente à cepa padrão de Candida albicans (ATCC 90028). A atividade antifúngica dos óleos essenciais Copaifera multijuga, Carapa guianenses, Piper aduncum e Piper hispidinervum foi realizada pelo método de difusão em meio sólido utilizando cavidades em placa “in natura” e em diluições de 32 a 2% para determinação da concentração inibitória mínima. Os extratos Annona glabra, Azadiractha indica, Bryophyllum 24 calycinum, Eleutherine plicata, Mammea americana, Psidium guajava e Syzygium aromaticum foram testados nas concentrações de 500mg/mL, 250mg/mL, 125mg/mL e 62,5 mg/mL e a atividade antifúngica foi realizada pelo método de difusão em meio sólido utilizando discos de papel filtro. Os óleos testados, não apresentaram efeito antifúngico sobre a cepa de Candida albicans, e dos extratos testados somente os extratos de Eleutherine plicata, Psidium guajava e Syzygium aromaticum apresentaram atividade antifúngica com concentração inibitória mínima, respectivamente, de 250mg/mL, 125mg/mL e 62,5mg/mL Diante dos resultados apresentados, os extratos de Eleutherine plicata, Psidium guajava e Syzygium aromaticum apresentam potencial efeito inibitório para crescimento de Candida albicans, servindo de guia para a seleção de plantas com atividades antifúngicas para futuros trabalhos farmacológico. Palavras- Chave: Candida albicans- Antifúngicos- Plantas medicinais toxicológico e 25 Menezes TOA. In vitro evaluation of the anti-fungii activity of essential oils and plant extracts present in the amazon region about the strain of candida albicans. [Dissetação de mestrado]. Belém: Curso de Odontologia da Universidade Federal do Pará,; 2008. ABSTRACT Candidiasis is an opportunistic fungus disease caused by the proliferation of Candida species, mainly Candida albicans, what seems to be the most pathogenic one to humans. Several anti-fungii drugs available in the market present undesirable side effects or develop resistance, mainly in immune-depressed individuals. In dentistry, researches with natural products have increased in the last years due to the search for new products with a greater pharmacologic activity, lower toxicity and more accessibility to the population. Hence, the aim of this paper was to evaluate in vitro the anti-fungii activity of vegetal oils and extracts present in the Amazon region and to determine the minimal inhibitory concentration of such species that have presented antifungii activity against the pattern strain of Candida albicans (ATCC 90028). The antifungii activity of the essential oils Copaifera multijuga, Carapa guianenses, Piper aduncum and Piper hispidinervum was determined through the method of difusion in a solid means using the cavities in plaque “in natura” and in dilutions of 32 to 2% in order 26 to determine its minimal inhibitory concentration. The extracts Annona glabra, Azadiractha indica, Bryophyllum calycinum, Eleutherine plicata, Mammea americana, Psidium guajava and Syzygium aromaticum have been tested under the concentrations of 500mg/mL, 250mg/mL, 125mg/mL and 62,5 mg/mL and the anti-fungii activity was determined through the method of difusion in a solid means using discs of filter paper. The tested oils did not present any anti-fungii effect on the strain of Candida albicans and, from the extracts tested, only Eleutherine plicata, Psidium guajava and Syzygium aromaticum have presented anti-fungii activity with minimal inhibitory concentrations, respectively, 250mg/mL, 125mg/mL and 62,5mg/mL With the results presented, the extracts of Eleutherine plicata, Psidium guajava and Syzygium aromaticum present a potential inhibitory effect to the growth of Candida albicans, acting as a guide for the selection of plants with anti-fungii activities for further papers on a toxicologic and pharmacologic. Key-words: Candida albicans- anti-fungii- medicinal plants. 27 LISTA DE ILUSTRAÇÕES 28 Figura 1- Folhas de Copaífera multijuga (copaíba) 50 Figura 2- Folhas de Carapa guianensis (andiroba) 51 Figura 3- Folhas de Piper aduncum (pimenta de macaco) 52 Figura 4- Folhas de Piper hispidinervum (pimenta longa) 53 Figura 5- Folhas de Annona glabra (araticum do brejo) 54 Figura 6- Folhas de Azadiractha indica (nim indiano) 55 Figura 7- Folhas de Bryophyllum calycinum (pirarucu) 56 Figura 8- Folhas de Eleutherine plicata (Marupazinho) 57 Figura 9- Folhas de Mammea americana (abricó) 58 Figura 10- Folhas de Psidium guajava (goiabeira) 59 Figura 11- Cravo-da- índia obtido do mercado público (Belém-Pará) 60 Figura 12- Ausência de halo de inibição frente à cepa de Candida albicans do óleo de Copaifera multijuga. 66 Figura 13- Ausência de halo de inibição frente à cepa de Candida albicans do óleo de Carapa guianensis. 66 Figura 14- Ausência de halo de inibição frente à cepa de Candida albicans do óleo de Piper aduncum. 67 Figura 15- Ausência de halo de inibição frente à cepa de Candida albicans do óleo de Piper hispidinervum. 67 Figura 16- Halo de inibição de 12mm do extrato das folhas de Eleutherine plicata frente à cepa de Candida albicans. 69 Figura 17- Halo de inibição de 17mm do extrato das folhas de Psidium guajava frente à cepa de Candida albicans. 69 Figura 18- Halo de inibição de 18mm do extrato de Syzygium aromaticum frente à cepa de Candida albicans. 70 Figura 19- Ausência de halo de inibição do extrato de Annona glabra sobre a cepa de Candida albicans. 71 Figura 20- Ausência de halo de inibição do extrato de Azadiractha indica sobre a cepa de Candida albicans. 71 29 Figura 21- Ausência de halo de inibição do extrato de Bryophyllum calycinum sobre a cepa de Candida albicans. 72 Figura 22- Ausência de halo de inibição do extrato de Mammea americana sobre a cepa de Candida albicans. 72 Figura 23- Discos contendo nistatina (controle positivo) com halo de inibição frente à cepa de Candida albicans 73 30 LISTA DE TABELAS Tabela 1- Critérios para aceitação da atividade antifúngica de extratos brutos de plantas segundo Holets et al. (2002). 64 Tabela 2- Atividade antifúngica dos óleos essenciais das espécies de Copaífera multijuga, Carapa guianensis, Piper aduncum e Piper hispidinervum contra Candida albicans. 65 Tabela 3- Atividade antifúngica dos extratos das espécies Annona glabra, Azadiractha indica, Bryophyllum calycinum, Eleutherine plicata, Mammea americana, Psidium guajava, Syzygium aromaticum frente à cepa de Candida albicans 68 31 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 15 2 REVISÃO DA LITERATURA 18 2.1 A Candida NA CAVIDADE ORAL 18 2.2 PRESENÇA DE CANDIDA SP NAS DIVERSAS ESPECIALIDADES ODONTOLÓGICAS 20 23 2.3 TRATAMENTO DA CANDIDÍASES COM ANTIFÚNGICOS CONVENCIONAIS 26 2.5 TRATAMENTO DA CANDIDÍASE COM PLANTAS MEDICINAIS 46 3 OBJETIVO 47 4 MATERIAL E MÉTODOS 47 4.1 LOCAL DE ESTUDO 47 4.2 MATERIAL BOTÂNICO E OBTENÇÃO DA MATÉRIA PRIMA 47 4.2.1 Óleos essenciais 52 4.2.2 Extratos vegetais 59 4.3 ESPÉCIE FÚNGICA 59 4.4 DETERMINAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIFÚNGICA E DA CONCENTRAÇÃO INIBITÓRIA MÍNIMA DOS EXTRATOS E ÓLEOS ESSENCIAIS 59 60 4.4.1 Inóculo 61 4.4.2 Avaliação da atividade antifúngica dos óleos essenciais 63 4.4.3 Avaliação da atividade antifúngica dos extratos 72 5 RESULTADOS 78 6 DISCUSSÃO 79 7 CONCLUSÃO 32 REFERÊNCIAS 1 INTRODUÇÃO 33 A microbiota normal da boca é bastante diversificada, com mais de 700 espécies de microrganismos identificadas, das quais muitas ainda não foram formalmente descritas. Fazendo parte dessa vasta e complexa ecologia microbiana da cavidade bucal humana, encontram-se, pelo menos, vinte gêneros e, aproximadamente, noventa espécies de leveduras isoladas e classificadas, dentre as quais oito espécies do gênero Candida foram consideradas patogênicas, a saber: Candida albicans, Candida guilliermondii, Candida kefyr, Candida krusei, Candida tropicalis, Candida parapsilosis, Candida viswanathii e Candida glabrata (MCLNTYRE, 2001). Dentre as espécies do gênero Candida, a Candida albicans é a mais frequentemente isolada da cavidade bucal. Entretanto, a presença desse fungo não é necessariamente indicativa de doença, pois pode ser isolada em cerca de 40% de indivíduos saudáveis em diversas faixas etárias e, em algumas situações, podem comportar-se como patógenos oportunistas originando infecções como a candidíase (CAMPISI; PIZZO; MILICI, 2002). A Candida albicans é um fungo dimórfico com duas fases de crescimento: 1) a forma de levedura presente na boca e inofensiva à mucosa; 2) forma de hifa que ocorre quando o epitélio sofre alteração por meio de trauma mecânico, fatores hormonais ou imunossupressão e invadem o tecido conjuntivo adjacente produzindo enzimas hidrolíticas, consideradas pelo organismo como fatores patogênicos capazes de desencadear a candidíase (AL KARAAWI; MANFREDI; WAUGH, 2002). Portanto, os fatores predisponentes da candidíase bucal podem ser de origem sistêmica ou local. Dentre os fatores sistêmicos destacam-se as condições do estado imunológico (gestantes, crianças, idosos, HIV positivos, corticoterapia e drogas citotóxicas); desordens endócrinas (diabetes, hipotireoidismo) e neoplasias malignas. Já os fatores locais incluem o uso de próteses dentárias e aparelhos ortodônticos fixos, 34 devido ao trauma mecânico, deficiência na higienização desses aparatos e quantidade e qualidade de saliva (CAMPAGNOLI, 2004; DUARTE, 2005; WINGETTER; GUILHERMETTI; SHINOBU, 2007). No que diz respeito ao tratamento da candidíase, grande quantidade de fármacos obtidos por meio da síntese orgânica têm sido utilizados no tratamento de infecções micóticas, como os antissépticos à base tintura de iodo, violeta de genciana, ácido salicílico e benzóico, derivados sulfamídicos, corantes, quinonas e antifúngicos poliênicos (nistatina, anfotericina). Além desses, utilizam-se também antifúngicos como os azóis (cetoconazol, econazol, sulconazol, miconazol, clotrimazol, fluconazol) e anfotericina B. Porém, as infecções fúngicas são de difícil tratamento, fato relacionado à elevada resistência da Candida frente à ação de alguns antifúngicos convencionais (ARAÚJO et al., 2004). Devido à ocorrência de fatores indesejáveis como o surgimento de resistência de algumas cepas aos antifúngicos convencionais, principalmente em indivíduos imunodeprimidos e, à presença de efeitos tóxicos destes, o estudo de plantas com propriedades terapêuticas, abrangendo aquelas com atividade antimicótica, tem crescido consideravelmente, não apenas por se constituir em recurso terapêutico alternativo, mas ainda devido às perspectivas de isolar substâncias que apresentem eficácia significativa, com menor índice de desvantagens. Desta forma, um número satisfatório de produtos vegetais da região Amazônica tem revelado substâncias com atividade antifúngica sobre leveduras de Candida, podendo atuar seletivamente sobre esses microrganismos (MICHELIN et al., 2005; ALVES et al., 2006). 35 Neste contexto, é válida a investigação de meios terapêuticos alternativos com comprovada evidências in vitro e in vivo da atividade antifúngica, as quais poderão ser aplicadas na prevenção e tratamento das infecções fúngicas com eficácia, custos baixos e menores efeitos colaterais. 36 2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1 A Candida albicans na cavidade oral A candidíase bucal tem sido reconhecida clinicamente desde os tempos de Hipócrates. Porém, somente em 1839 foi identificado um organismo condizente com a Candida albicans e, em 1846, Berg associou a candidíase com o “sapinho”. Essa infecção, desencadeada pelas espécies de Candida, por muito tempo foi nomeada de monilíase, mas esse termo deixou de ser utilizado a partir de 1981, quando se adotou o termo candidose ou candidíase (LYNCH, 1994). Trata-se de uma doença fúngica oportunista causada pela proliferação de espécies de Candida, principalmente a Candida albicans, a qual parece ser a espécie mais patogênica em humanos, formando parte da microbiota anfibiôntica bucal, identificada em aproximadamente de 30 a 50% em indivíduos sem evidência clínica de infecção (CAMPISI et al., 2002). O desenvolvimento da candidíase constitui um mecanismo complexo baseado na relação hospedeiro-parasita. A patogenicidade do fungo é medida por múltiplos fatores que, apesar de serem determinados geneticamente, são expressos pelos microrganismos apenas quando existem condições locais e/ou sistêmicas adversas à ecologia microbiana, podendo variar de hospedeiro para hospedeiro e entre sítios de colonização de um mesmo indivíduo (HOFLING et al., 2004). A patogênese, segundo Mcculloug (2005) pode ser resultado de várias alterações no microambiente bucal, tais como modificações na microbiota promovidas pela quimioterapia ou pela imunossupressão, além de alterações epiteliais que 37 favorecem a aderência da C. albicans, sua proliferação e interação com outras bactérias do meio bucal. Al Karaawi; Manfredi; Waugh (2002), estudando a Candida albicans, descreveu que a forma presente na cavidade bucal é a leveduriforme, sendo esta uma forma inofensiva à mucosa. Porém, quando o epitélio sofre alteração por meio de trauma mecânico, fatores hormonais ou imunossupressão, dentre outros, ocorre uma invasão no tecido conjuntivo subjacente pelas leveduras, que adquirem a forma de hifas. Estas produzem enzimas hidrolíticas (proteinases e fosfolipases) que são consideradas, pelo organismo, como fatores patogênicos, desencadeando, assim, a candidíase. Clinicamente, a candidíase apresenta-se sob diferentes formas: 1) a pseudomembranosa, caracterizada pela formação de placa esbranquiçada que, ao ser removida, deixa uma superfície eritematosa; 2) a forma crônica hiperplásica, que exibe o aspecto de placa esbranquiçada; 3) a candidíase eritematosa, caracterizada pela presença de eritema local ou difuso e, 4) a queilite angular, constituída por lesões eritematosas e/ou ulceradas nas comissuras labiais (MCCULLOUG, 2005). A candidíase pode ocorrer em indivíduos saudáveis, principalmente em usuários de próteses dentárias e aparelhos ortodônticos fixos, devido a traumas e deficiência na higienização, porém os pacientes mais acometidos são os imunossuprimidos ou imunocomprometidos como pacientes diabéticos, HIV positivos e os pacientes que realizam corticoterapia (FLAITS, 2000; CAMPAGNOLI et al., 2004; WINGETTER; GUILHERMETTI; SHINOBU, 2007). 2.2 Presença de Candida spp nas diversas especialidades odontológicas 38 Segundo Soysa et al. (2008) a candidíase associada à estomatite protética não é de fácil tratamento e, geralmente, recidivas ocorrem após a interrupção da terapia, ainda que o trauma causado pela prótese tenha sido eliminado por meio de substituição por nova prótese. Esses problemas representam um desafio na prática estomatológica, face à sua ocorrência e ao elevado número de resistência fúngica. Em 2006, Davies; Brailford; Beighton realizaram estudo comparativo entre indivíduos dentados e usuários de próteses totais e ressaltaram que o uso de próteses dentais removíveis pode favorecer a colonização da cavidade bucal por leveduras. Os autores relataram maior frequência de C. albicans nos portadores de próteses (78,3%) em relação ao grupo controle (36,8%). Os sítios mais densamente colonizados foram: a língua, palato e mucosa jugal, para os dentados, e as superfícies superior e inferior, nos portadores de próteses. Moreira et al. (2001) realizaram um estudo com o objetivo de verificar a ocorrência de candidíases em usuários de próteses atendidos no ambulatório de Estomatologia da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal da Bahia. Para o diagnóstico microbiológico, foram realizados o exame direto e a cultura do material coletado nas lesões e nas próteses dos pacientes. Os resultados obtidos evidenciaram cultura positiva para Candida sp em 84,8 % dos pacientes e, em 55% dos pacientes com estomatite protética, o isolamento de Candida foi positivo apenas na cultura da prótese. Os autores ressaltaram que as possíveis rugosidades superficiais presentes nas próteses podem favorecer a implantação de leveduras. A candidíase também tem sido relatada em pacientes com aparelho ortodôntico, pois a presença de Candida leva a mudanças quantitativa e qualitativa da 39 microbiota anfibiôntica e à suscetibilidade de doenças como cáries e doença periodontal, aumentando o compromisso do profissional de não só planejar oclusão adequada, mas, fundamentalmente, de evitar o surgimento de patologia bucal, orientando o paciente quanto à higiene bucal (ALVIANO, 2004). Em 2002, Columbano realizou um estudo para avaliar a colonização de Streptococcus mutans, Lactobacillus spp e Candida albicans na superfície de “brackets” metálicos e cerâmicos. Para isso, realizaram duas coletas de placa bacteriana antes e após a colagem. As amostras foram semeadas em meios de cultura específicos para o isolamento de cada tipo de microrganismos. Baseados nos resultados, o autor concluiu que o Streptococcus mutans foi a espécie predominante na microbiota sobre a superfície de “brackets”, sendo sucedida, em ordem decrescente, pelos Lactobacillus spp e Candida albicans. Para avaliar a colonização dos mesmos microrganismos no aparelho ortodôntico fixo, Campbell (2003) realizou a contagem do número de colônias em doze pacientes, antes e após a colocação do aparelho. Foram coletadas cinco amostras de saliva total estimulada. Os resultados mostraram que a presença dos acessórios ortodônticos é um fator de alteração da microbiota bucal, promovendo um aumento significativo no número de colônias de Streptococcus mutans e Lactobacillus spp e que, embora não tenha havido um aumento quantitativo na contagem de Candida albicans, houve uma alteração qualitativa de leveduras do gênero Candida. Além da associação dos aparatos protéticos e ortodônticos com a colonização de espécies de Candida, devido ao traumatismo mecânico causado por esses aparelhos, o que facilita a etiopatogenia da candidíase, essas espécies também tem sido investigadas como participantes da microbiota envolvida na instalação e progressão de infecções endodônticas, periodontais e na cárie dental. 40 Rodrigues (2001) e Ogude; Akerede (2005) ressaltaram que microrganismos estão intimamente ligados à etiologia das lesões perirradiculares e à sua persistência após tratamento endodôntico. Os microrganismos mais isolados dos canais radiculares de dentes com lesões persistentes são categorizados oportunistas, como é o caso da Candida albicans. Assim, microrganismos provenientes do canal radicular podem invadir os tecidos periapicais e, em determinadas situações, estabelecerem–se extrarradicularmente, mantendo uma infecção de difícil tratamento. Em 2007, Delgado avaliou in vitro a viabilidade de Enterococcus faecalis e Candida albicans nos túbulos dentinários após a aplicação de hidróxido de cálcio e clorexidina gel 2%, pois seus fatores de virulência são responsáveis pelo desenvolvimento e persistência da periodontite apical de origem endodôntica. Para tanto, 120 raízes de dentes humanos foram padronizadas e autoclavadas, sendo posteriormente divididas em 2 grupos (n=60) para contaminação com E. faecalis e C. albicans por 21 dias e em seguida foram divididas em 8 grupos (n=15) para aplicação das substâncias antimicrobianas no canal radicular. Os resultados mostraram maior capacidade de penetração intratubular para E. faecalis quando comparado a C. albicans e, a medicação que apresentou melhor desempenho foi a clorexidina gel 2%, justificando seu uso como medicação intracanal. Para avaliar a presença de leveduras do gênero Candida em bolsa periodontal de pacientes com periodontite crônica, Martins et al. (2002) realizaram um estudo com 88 indivíduos. O material coletado foi semeado em ágar sabouraud dextrose com cloranfenicol e os isolados de Candida identificados através de provas bioquímicas. Os autores concluíram que leveduras do gênero Candida foram isoladas da cavidade bucal em 31,82% dos pacientes e a Candida albicans foi a espécie mais frequentemente encontrada, podendo originar um quadro de superinfecção. 41 Em 2005, Gonçalves ressaltou que, em função da imunossupressão, microrganismos atípicos, tais como: Staphylococcus epidermidis, Candida albicans, Enterococcus faecalis e Clastridium difficile podem ser encontrados na microbiota subgengival. Entretanto, a presença, em altos níveis, de citocinas inflamatórias liberadas por esses microrganismos, no fluido gengival, pode resultar em maior destruição periodontal. No que diz respeito à presença de C. albicans em lesões de cárie, Carvalho et al. (2007) ressaltaram que a cavidade oral de crianças é colonizada, principalmente, por C albicans e que a presença desse microrganismo pode, de uma forma pacífica, favorecer o aparecimento de cáries em crianças. Porém, há necessidade de mais trabalhos para elucidar cientificamente, visto a etiologia da cárie ser mutifatorial. Como relatado, a Candida albicans parece participar das diversas infecções da cavidade bucal. Entretanto, a colonização por Candida na população saudável não desencadeia uma candidíase grave, como pode ocorrer em indivíduos enfermos, principalmente quando submetidos a tratamentos prolongados com antibióticos, corticosteróides, drogas imunossupressoras ou radioterapia, levando a um risco maior de candidíases sistêmicas a partir de lesões bucais (FLAITZ; BAKER, 2000). 2.3 Tratamento da candidíase com antifúngicos convencionais A violeta de genciana foi um dos primeiros medicamentos a serem utilizados para o tratamento da candidíase. Seu emprego na forma tópica mostrou-se bastante eficaz até o final da década de 40, embora o seu mecanismo de ação ainda não 42 estivesse completamente esclarecido. Na década de 50, foi substituído por agentes antifúngicos (ANDRADE, 2006). O grande impulso da terapia antifúngica teve início com a introdução dos antifúngicos poliênicos como a nistatina utilizada para o tratamento da candidíase superficial e, principalmente, da anfotericina B utilizada para o tratamento de micoses profundas. Esses antifúngicos recebem esse nome em razão da habilidade de atuarem nos meios ácido e básico. Entretanto, novas substâncias sintéticas ativas contra leveduras vêm merecendo destaque especial, como a 5-flucitosina e os derivados azólicos, entre os quais o miconazol, clotrimazol, cetoconazol, fluconazol e itrazonazol (SALLES, 2000; TAVARES, 2001; SOYSA; SAMARANAYKE; ELLEPOLA, 2008). Segundo Andrade (2006), com a descoberta dos azóis, um grande avanço foi dado à terapia antimicótica. Esses são considerados menos tóxicos que a anfotericina B, apresentam largo espectro de atividade e alguns deles podem ser administrados por via oral para exercer ação sistêmica. São bastante utilizados os imidazólicos de primeira e de segunda geração, como, respectivamente, o miconazol e cetoconazol, porém o miconazol, sob a forma injetável, tem uso restrito, devido à toxicidade que acarreta reações colaterais em diversos graus, sendo recomendado empregar o miconazol na forma de gel oral. Como o objetivo de avaliar a eficácia “in vitro” das drogas anfotericina B, cetoconazol, miconazol e itraconazol frente às cepas de Candida albicans, Costa et al. (1999) estudaram pacientes com câncer, submetidos ou não à radioterapia, e realizaram a determinação da Concentração Inibitória Mínima (CIM) e da Concentração Fungicida Mínima (CFM). Os autores concluíram que a anfotericina B apresentou melhor atividade antifúngica para cepas de C. albicans de qualquer dos grupos. Contudo, 43 ressaltaram que tratamentos com antifúngicos poliênicos podem causar efeitos tóxicos, mesmo em doses necessárias para se atingir bons resultados com os antifúngicos. Em 2005, Branenkamp et al. estudaram leveduras do gênero Candida na cavidade bucal frente aos antifúngicos fluconazol, 5- fluorocitosina e cetoconazol. Para isso, selecionaram pacientes com candidíase e compararam com 50 indivíduos- controle pareados quanto a sexo, idade e condições bucais. As amostras de saliva estimulada foram semeadas em ágar Sabouraud dextrose com cloranfenicol e incubadas a 37º C por 48 horas. Os resultados mostraram que a prevalência de Candida foi similar entre os grupos testados e todos os isolados foram sensíveis ao fluconazol. Portanto, os antifúngicos existentes no mercado, atualmente, possuem limitações terapêuticas, principalmente quando considerado os efeitos colaterais como a nefrotoxicidade e a hepatotoxicidade. E o fato de alguns antifúngicos apresentarem ação fungistática e não fungicida (azóis), pode contribuir para o surgimento de cepas resistentes (RANG; DALE; RITTER, 1997; ZACCHINO et al., 2003). Em 2007, Nascimento et al. ressaltou que o crescente aumento dos casos de candidíase de uma forma geral, acompanhado de altas taxas de morbidade, é, principalmente, devido a numerosos casos de resistência observados frente às drogas sintéticas e presença de efeitos tóxicos. Desta forma, muitos estudos têm sido realizados com ênfase na busca de novos produtos naturais possuidores de atividade antifúngica atrelada a uma menor toxicidade ao hospedeiro. 44 2.4 Tratamento da candidíase com plantas medicinais A fitoterapia pode ser historicamente definida como a ciência que trata dos problemas de saúde, utilizando os vegetais (fitocomplexos), sendo contemporânea ao início da civilização. As plantas são tradicionalmente usadas por populações de todos os continentes no controle de doenças e pragas. Algumas das espécies que eles utilizavam continuam empregadas até os dias de hoje, tais como: Papaver somniferum (papoula), Scilla maritima (scila), Aloe Vera (babosa) e Ricinus communis (óleo de rícino) (LAVABRE, 1993). O comércio de ervas medicinais, no Brasil, começou com os índios e, atualmente, em qualquer cidade, é possível comprar plantas, pós e ungüentos em mercados populares. Essa alternativa é utilizada tanto dentro de um contexto cultural, na medicina popular, quanto na forma de fitoterápicos, pelo fato de essas plantas serem fontes importantes de produtos naturais biologicamente ativos, muitos dos quais constituem modelos para a síntese de um grande número de fármacos, revelando nesses produtos alta diversidade em termos de estrutura e de propriedades físico-química e biológica (WALL e WANI, 1996) Na década de 1970, a Organização Mundial de Saúde reconheceu os benefícios da medicina chinesa (paradigma oriental à base de extratos de plantas), onde surgem pesquisas e desenvolvimento de medicamentos obtidos de fontes naturais. Levantamentos realizados no período de 1981 a 2002 pela Annual Reports of Medicinal Chemistry demonstraram que, dentre 90 novas substâncias com potencial farmacológico analisadas, 61 delas eram derivadas semi-sintéticas de plantas e eram oriundas de produtos naturais (SIXEL e PECINALLI, 2002; NEWMAN et al., 2003). 45 Apesar do aumento dos estudos sobre plantas medicinais, somente de 15 a 17% destas foram estudadas quanto ao seu potencial medicinal. Considerando a grande biodiversidade das regiões Norte e Nordeste brasileiros e o uso popular indiscriminado de plantas medicinais, esse número poderia ser bem maior (RABELO, 2003). Dentre os principais produtos de origem vegetal com atividade antimicrobiana, pode-se referir as proteínas de origem vegetal, óleos essenciais e extratos. Destes, muitos óleos essenciais e extratos isolados de plantas exercem atividades biológicas in vitro, o que justifica a caracterização das atividades dessas plantas (PHONGPAICHIT; SUBHADHIRASAKUL; WATTANAPIROMSAKUL, 2005; LIMA et al., 2006). 2.4.1 Óleos essenciais e Extratos vegetais Os óleos essenciais (OE) presentes na fragância dos vegetais são metabólitos secundários de plantas e, de uma forma geral, são misturas complexas de substâncias voláteis, lipofílicas, geralmente odoríferas e líquidas. Apresentam propriedades físico-químicas, como, por exemplo, a de serem geralmente líquidos de aparência oleosa à temperatura ambiente, advindo daí a designação de óleo. Sua principal característica, entretanto, é a volatilidade, diferindo dos óleos fixos, misturas de substâncias lipídicas, obtidos geralmente de sementes. Outra característica importante é o aroma agradável e intenso, sendo por isso chamados de essências (BRUNETON, 1995; SIMÕES; SPITZER, 1999). Esses produtos são extraídos de plantas por vários processos, sendo o mais utilizado a destilação por arraste em vapor d’água. As plantas têm um conteúdo de óleo 46 essencial em torno de 0,1 a 0,5% e, raramente, de 1 a 5% do peso verde (CRAVEIRO et al. 1976; BRUNETON, 1995). Segundo Souza et al. (2005) e Oliveira et al. (2006), os óleos essenciais constituem os elementos contidos em muitos órgãos vegetais e estão relacionados com diversas funções necessárias à sobrevivência vegetal, exercendo papel fundamental na defesa contra microrganismos. Cientificamente, cerca de 60% dos óleos essenciais possuem propriedades antifúngicas e 35% exibem propriedades antibacterianas. LIMA; PASTORE; LIMA (2000) analisaram a atividade antimicrobiana do óleo essencial presente na casca da castanha de caju sobre microrganismos da cavidade oral: Streptococcus mutans, Staphylococcus aureus, Candida albicans e Candida utilis. A amostra demonstrou potente atividade do óleo sobre bactérias Gram-positivas, porém baixa atividade contra os fungos. Almeida et al. (2006) avaliaram o óleo essencial de Bowdichia virgilioides Kunt, popularmente conhecida no nordeste brasileiro como “sucupira”, quanto à sua eficácia sobre cepas de Candida albicans, Candida guilliermondii e Candida stellatoidea. O estudo foi realizado pelo método de cavidades em meio sólido. Os autores concluíram que o óleo de Bowdichia virgilioides teve fraca atividade antimicrobiana contra os microrganismos testados. No mesmo ano, Nunes et al. avaliaram a atividade antimicrobiana do óleo essencial de Sida cordifolia L. (malva- branca), encontrada de norte a sul do Brasil, contra quatro diferentes cepas de bactérias e nove fungos, incluindo Candida albicans, Candida guilliermondii, Candida stellatoidea, Candida krusei e Candida tropicalis. A partir do método de difusão em meio sólido com cavidades em placas os autores 47 concluíram que a atividade antimicrobiana do óleo de Sida cordifolia L foi satisfatória contra as bactérias e os fungos testados. Quanto aos extratos, esses são produtos obtidos pelo tratamento de substâncias vegetais, por um solvente apropriado, o qual é evaporado até a consistência desejada. E o conhecimento sobre o potencial terapêutico dos vegetais tem despertado o interesse científico, buscando, nesse conhecimento, novos caminhos para o controle e tratamento de diversas doenças (COUTINHO et al., 2004). Em 2007, Botelho et al. ressaltaram que espécies vegetais brasileiras são usualmente utilizadas como antifúngicos e que o Brasil, devido à sua diversidade vegetal, é um país conhecido mundialmente pela variedade de produtos com ação medicinal, largamente utilizados nas diversas regiões do país. Na região Norte do Brasil, tem-se uma das maiores biodiversidades, com um número satisfatório de óleos essenciais e extratos utilizados, popularmente, no tratamento de infecções fúngicas. Dentre as diversas espécies, muitas já vêm sendo estudadas na Universidade Federal do Pará (UFPA), EMBRAPA Amazônia Oriental e Museu Paraense Emílio Goeldi, e algumas merecem destaque: a) Copaifera multijuga (copaíba) A origem do nome copaíba parece vir do tupi cupa-yba, a árvore de depósito, ou que tem jazida, em alusão clara ao óleo que guarda em seu interior. Chamado de copaíva ou copahu pelos indígenas (do tupi: Kupa'iwa e Kupa'ü, respectivamente), e cupay, na Argentina e no Paraguai (guarani), o óleo de copaíba e suas propriedades medicinais eram bastante difundidos entre os índios latino- 48 americanos à época em que aqui chegaram os primeiros exploradores europeus, no século XVI. Esse conhecimento, tudo indica, veio da observação do comportamento de certos animais que, quando feridos, esfregavam-se nos troncos das copaibeiras para cicatrizarem suas feridas, como observou o holandês Gaspar Barléu (SALVADOR, 1975; LÉRV, 1993). Popularmente conhecidas como copaibeiras, as copaíbas são encontradas facilmente nas Regiões Amazônica e Centro-oeste do Brasil. Entre as espécies mais abundantes, destacam-se: C. officinalis L. (norte do Amazonas, Roraima, Colombia, Venezuela e San Salvador), C. guianensis Desf. (Guianas), C. reticulata Ducke, C. multijuga Hayne (Amazônia), C. confertiflora Bth (Piauí), C. langsdorffii Desf. (Brasil, Argentina e Paraguay), C. coriacea Mart. (Bahia), C. cearensis Huber ex Ducke (Ceará) (LEITE, 1993; PERROT, 1994). Segundo Van den Berg (1992), as copaibeiras são árvores de crescimento lento, alcançam de 25 a 40 metros de altura, podendo viver até 400 anos. O tronco é áspero, de coloração escura, medindo de 0,4 a 4 metros de diâmetro. As folhas são alternadas, pecioladas e penuladas. Os frutos contêm uma semente ovóide envolvida por um arilo abundante e colorido. As flores são pequenas, apétalas, hermafroditas e arranjadas em panículos axilares. Todas as variedades produzem uma resina, chamada óleo de copaíba, obtida por incisão no seu tronco. Por isso, a árvore é conhecida também como "pau-de-óleo", "árvore milagrosa" e "árvore do óleo diesel”. Esse óleo já foi muito exportado durante a época da borracha e ainda hoje é vendido para a França, Alemanha e Estados Unidos. Em 1984, a exportação do óleo de copaíba alcançou 120 toneladas e a produção é estimada em 200 toneladas ao ano (PAIVA et al., 2003; MORAES et al., 2004). 49 O óleo de copaíba é um líquido transparente, terapêutico, viscoso, de sabor amargo, com uma cor entre amarelo até marrom claro. Pelas propriedades químicas e medicinais, o óleo é bastante procurado nos mercados regionais, nacionais e internacionais e é amplamente utilizado na medicina popular, principalmente na região Norte e Nordeste, devido a suas propriedades medicinais como antiinflamatório, antibacteriano, anestésico, tratamento de infecções fúngicas, infecções pulmonares e bronquite crônica (BRANDÃO et al., 2006). De acordo com Veiga e Pinto (2002), a disseminação da indústria de produtos naturais em todo mundo e no Brasil, nos últimos anos, levou à comercialização extensiva do óleo de copaíba pelos laboratórios farmacêuticos. Das pequenas cidades do interior da Amazônia, os óleos de copaíba são transportados para as cidades de Manaus e Belém, de onde são exportados para a Europa e América do Norte ou enviados para a região sudeste, para serem vendidos pelas farmácias que comercializam produtos naturais. Uma das áreas em que se vem pesquisando intensamente a utilização do óleo de copaíba, atualmente, é a odontológica. Bandeira et al (1999) estudaram a composição do óleo essencial, separado da resina do óleo de Copaifera multijuga e sua compatibilidade biológica em molares de rato, associados ao hidróxido de cálcio, como veículo, e às atividades bactericida e bacteriostática das duas frações frente ao óleo bruto. Os estudos de atividade antibacteriana mostraram maiores atividades bactericida e bacteriostática do óleo de Copaifera multijuga, frente à Streptococcus mutans, enquanto o óleo essencial apresentou melhor ação bactericida e a resina apresentou-se apenas bacteriostática. Em 2007, Santos et al. avaliaram a atividade do óleo de copaíba obtido de diferentes espécies frente a diversas bactérias Gram-positivas, Gram-negativas e contra 50 os fungos Candida albicans, Candida tropicalis e Candida parapsilosis. Os resultados mostraram atividade pronunciada contra as bactérias Gram–positivas, porém o óleo de copaíba não exibiu atividade contra as bactérias Gram-negativas e nem contra os fungos testados. b) Carapa guianensis Aubl. (andiroba) A carapa guianensis é uma árvore de grande porte, que chega a atingir 55 metros de altura. A casca é grossa, tem sabor amargo e se desprende facilmente em grandes placas. As flores têm cor creme e o fruto é uma cápsula que se abre quando cai no chão, liberando quatro a seis sementes. De agosto a outubro, floresce na Amazônia e frutifica, de janeiro a maio (FERRAZ, 2002 e COSTA et al., 2007). Dentre as espécies nativas da Amazônia, a madeira da andiroba é uma das mais estudadas, sendo considerada nobre e sucedânea do mogno. O óleo contido na amêndoa da andiroba é amarelo-claro e extremamente amargo, quando submetido a temperatura inferior a 250C, solidifica-se, adquirindo consistência parecida com a da vaselina. É utilizado na preparação de sabão e de cosméticos, entretanto, alguns grupos indígenas e populações tradicionais utilizam o óleo como repelente de insetos e no tratamento de artrite, distensões musculares, alterações dos tecidos cutâneos e como antibacteriano (CLAY, 2000). Segundo Martins (1989), na Amazônia, o óleo de andiroba tem emprego muito amplo; os aborígenes costumam usá-lo sobre a pele, buscando afugentar mosquitos durante a execução de trabalhos na mata, além de aplicá-lo sobre ferimentos externos e em colutórios, em casos de amigdalite, faringite e afecções da boca. 51 Para avaliar a eficácia de plantas da ilha do Marajó, região Norte do Brasil, Hammer e Johns (1993) incluíram, no estudo, quatro plantas medicinais (Carapa guianensis, Elephanropus scaber, Piper umbellatum, Stachytarpheta cayenensis) utilizadas pelos moradores da região e anotaram o modo de preparo e o uso medicinal. No laboratório, os extratos das plantas foram submetidos a análises e estabelecidos seus componentes químicos. Os autores concluíram que as quatro plantas estudadas apresentaram eficácia medicinal. Em 2007, Packer e Luz avaliaram a eficácia antifúngica e antibacteriana dos óleos de andiroba, copaíba, alecrim, alho e melaleuca frente às cepas de Staphylococcus aureus (ATCC 6538), Escherichia coli (ATCC 8739), Pseudomonas aeruginosa (ATCC 9027) e Candida albicans (ATCC 10231). O método de escolha foi o de ágar com orifício modificado. Os melhores resultados foram obtidos com os óleos de melaleuca e alecrim que apresentaram atividade bacteriostática e fungistática para as quatro cepas em questão, enquanto que os óleos de andiroba, copaíba e alho não apresentaram atividade frente aos microrganismos testados. c) Piper aduncum (pimenta de macaco) e Piper hispidinervum (pimenta longa) O gênero Piper é um dos maiores da família Piperaceae, com pelo menos 1000 espécies distribuídas nas regiões tropicais e subtropicais. As espécies do gênero Piper (Piperaceae) são amplamente aplicadas na medicina popular em função das propriedades microbianas exibidas por seus constituintes (WADT; EHRINGHAUS; KAGEYAMA, 2004). 52 A coleção de germoplasma de Piper da Embrapa Acre conta com duas espécies: P. hispidinervum (Pimenta longa) e P. aduncum (Pimenta de macaco). Dentre essas espécies, a pimenta longa é nativa da Amazônia Brasileira, pioneira de ocorrência em áreas do Estado do Acre, sendo encontrada, espontaneamente, em áreas do tipo climático. No seu habitat natural, vegeta em solos de baixa fertilidade, por isso é indicada para cultivo em áreas modificadas da Amazônia (BARROS e OLIVEIRA, 1997). Na década de 70, um grupo de pesquisadores, trabalhando com óleos essenciais no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), identificou a pimenta longa (Piper hispidinervum) como grande produtora de óleo essencial rico em safrol (87 a 97%), um fenil éter que ocorre como componente volátil em algumas espécies de plantas. Essa substância é utilizada como precursora na fabricação de inseticidas biodegradáveis, de cosméticos e de produtos farmacêuticos e apresenta excelente atividade antifúngica (LUNZ et al., 1996; ESTRELA et al., 2006). A outra espécie chamada de Piper aduncum (pimenta- de- macaco) é uma planta nativa da região Amazônica, com alto teor de óleo essencial 2,5 a 4%, rico em Dilapiol e vem sendo testado, em estudos fitopatológicos, com excelente atividade fungicida, acaricida, bactericida e larvicida, com a vantagem de ser um produto biodegradável, preservar o meio ambiente e proteção à saúde do consumidor (BASTOS e ALBUQUERQUE, 2004; CASTRO et al., 2006). É uma planta de ocorrência espontânea em pastagens e margens de estradas e matas. O chá ou infusão alcoólica de suas folhas, raízes e frutos são amplamente utilizados na medicina popular como tônico e antiespasmódico e o dilapiol, um dos principais constituintes do óleo essencial extraído de suas folhas, apresenta uma excelente atividade antibacteriana e antifúngica (BASTOS e BENCHIMOL, 2006). 53 No mesmo ano, Souza et al. realizaram um estudo para avaliar in vitro o efeito fungistático ou fungitóxico dos óleos essenciais de Piper hispidinervum (pimenta longa), Piper aduncum (pimenta de macaco), Carapa guianensis (andiroba) e Copaifera sp (copaíba) sobre o fungo Colletotrichum gloeosporioides (agente causal da antracnose do côco). Os óleos foram utilizados na concentração de 100, 200, 500, 700 e 1000 ppm em meio BDA (batata, dextrose e ágar). Os autores concluíram que o óleo de P. hispidinervum foi o mais eficiente, inibindo o crescimento micelial em torno de 80%, seguido dos óleos de P. aduncum e de copaíba que, na concentração de 1000 ppm, inibiram o crescimento em 67% e 49,65%, respectivamente. O óleo de andiroba não teve efeito na inibição do fungo. d) Annona glabra L. (Araticum do brejo) O araticunzeiro do brejo (Annona glabra) é uma espécie nativa da região tropical com ampla distribuição geográfica. No Brasil, ocorre, espontaneamente, desde a Amazônia até o Estado de Santa Catarina, ocupando, com maior freqüência, áreas periodicamente inundadas. Os frutos, embora comestíveis, não têm tanto valor comercial, no entanto, o araticunzeiro tem recebido a atenção de pesquisadores por ser utilizado na medicina popular como inseticida e antimicrobiano (CARVALHO, 2001). e) Azadirachta indica A. Juss (Nim indiano) O Nim indiano, também conhecido por Melia indica Brandis, é uma planta pertencente à família Meliacea. Apresenta folhas verde-escuras, compostas e 54 imparipenadas, com freqüência aglomeradas nos extremos dos ramos, simples e sem estípulas. As flores são de coloração branca, aromáticas, reunidas em inflorescências densas, com estames crescentes formando um tubo, pentâmeras e hermafroditas. O fruto é uma baga ovalada, com 1,5 a 2 cm de comprimento e, quando maduro, apresenta polpa amarelada e casca branca dura, contendo um óleo marrom no interior de uma semente ou, raramente, em duas (ARAÚJO et al., 2000). A planta é originária de clima tropical, com diâmetro entre 25 e 30 cm. A madeira, com densidade variando de 0,56 a 0,85g/cmm3, apresenta uma coloração avermelhada, dura e resistente ao ataque de cupins, desenvolve-se bem em temperaturas acima de 20oC, em solos bem drenados, não ácidos, com altitudes abaixo de 700m. Do Nim preparam-se extratos aquosos ou alcoólicos das folhas, das sementes e da casca e na prensagem das sementes obtém-se o óleo. Todos esses produtos apresentam maior ou menor ação repelente e antifúngica, sendo biodegradáveis (SAIRAM, 2000). Vários produtos antifúngicos e repelentes a insetos são extraídos do óleo de nim. O princípio ativo nesses produtos é o “azadiractin”, substância usada como ingrediente na preparação de vários produtos farmacêuticos, tais como: ungüentos, cosméticos, cremes, loções, tônico capilar e creme dental devido apresentar propriedades antivirais e antibacterianas. É também, importante no controle de pragas, pois tem largo espectro de ação, não tem ação fitotóxica, é praticamente atóxica ao homem e não agride a natureza (BISWAS et al., 1995). Segundo Subapriya e Nagini (2005), a Azadirachta indica, tem atraído o interesse do mundo inteiro. Mais de 140 componentes têm sido isolados de diferentes partes do Nim e todas as partes, como caule, folhas, frutos e raízes vêm sendo tradicionalmente utilizadas para o tratamento de inflamações, febre, infecções, doenças da pele e infecções odontológicas. 55 Biswas et al. (2002) ressaltaram que o extrato da folha de Nim, o óleo de Nim e as sementes são efetivas contra certos fungos incluindo: Trichophyton, Epidermophyton, Microsporum, Trichosporon, Geotricum e Candida. A alta atividade antimicótica com extratos de diferentes partes do Nim tem sido muito reportada na literatura. Gualtieri et al. (2004) realizaram um estudo com o objetivo de avaliar a atividade antimicrobiana do extrato de Azadirachta indica sobre vários microorganismos como: S. aureus ATCC 25923, P. aeruginosa ATCC 27853, C. krusei ATCC 6258 e C. albicans ATCC 90028. Os autores concluíram que o extrato, na concentração de 0,02g/ml, apresentou ação antifúngica e antibacteriana contra S. aureus ATCC 25923, P. aeruginosa ATCC 27853, C. krusei ATCC 6258, porém não apresentou atividade contra cepa de C. albicans ATCC 90028. Darães et al. (2005) verificaram a suscetibilidade de C. albicans aos extratos alcoólico e aquoso de Azadirarachta indica (nim), usada há séculos na Índia, na manutenção da saúde bucal. O método utilizado foi o de difusão em ágar e suspensões de C. albicans (ATCC 18804 e selvagem) foram cultivadas a 24h, semeadas em àgar sabouraud e discos estéreis embebidos em 15µl de cada extrato foram colocados sobre o ágar. Para o controle, foram utilizados nistatina, álcool e água destilada estéril. Os autores concluíram que as amostras de nim testadas não apresentaram eficácia na inibição do crescimento in vitro de C. albicans, em comparação com os controles nistatina e etanol. 56 f) Bryophyllum calycinum Salisb. (pirarucu) Dentro da família Crassulaceae, apenas um gênero, exótico, tem uma espécie muito usada na medicina popular que é o Bryophyllum e, deste gênero pertence uma espécie ornamental e bastante aproveitada na medicina caseira: Bryophyllum calycinum Salisb. (VAN DEN BERG, 1982). A planta Bryophyllum calycinum é conhecida popularmente como pirarucu, folha da fortuna, saião, São Raimundo, erva- da -costa, folha–da-costa, folha- grossa e orelha -de–monge, e pertencente à família Crassulaceae e ao gênero Bryophyllum (VAN DEN BERG, 1982). É uma planta nativa da África tropical e largamente disseminada no Brasil, com até 50 cm de altura, de ramos herbáceos cobertos de penugem, ereto, com haste suculenta e bastante enrijecida. Possui folhas vivíparas opostas, pinadas, com um a cinco folíolos muito suculentos, com ápice arredondado, base arredondada, nervação imersa, brilhosas e com aspecto sedoso. As suas flores de coloração rósea apresentam-se em cachos no ápice dos ramos, as folhas são ovais, arredondadas na base e serrilhadas nas bordas. Os frutos são constituídos de pequenas cápsulas contendo sementes (LORENZI e MATOS, 2002). Segundo Almeida et al (2000), as folhas frescas de pirarucu são amplamente utilizadas na medicina popular para o tratamento de feridas, contusões, queimaduras, doenças do trato respiratório e picadas de insetos. São descritas também as seguintes propriedades medicinais: analgésica, antialérgica, antiartrítica, antibacteriana, antidiabética, antifúngica, antisséptica, bactericida e diurética (NASSIS; HAEBISCH; GIESBRECHT, 1992). 57 g) Eleutherine plicata Herb. (Marupazinho) A Eleutherine plicata, é uma planta herbácea, rizomática e bulbosa, de bulbos avermelhados. As folhas são simples, inteiras, plissadas longitudinalmente, de cerca de 25 cm de comprimento, com nervuras longitudinais, inflorescência em panículas de flores rosas, no ápice de um escapo, que se abrem apenas ao por do sol e pertence à família das Iridaceae (VIEIRA, 1992). O princípio ativo da E. plicata é a sapogenina esteroidal e é comumente encontrada na Região Amazônica, pelo nome de Marupazinho, sendo também encontrada, em outras localidades, com os nomes de Coquinho, Marupa-ú e Marupari (ALBUQUERQUE, 1989). A Eleutherine plicata e várias outras plantas, que podem ser encontradas com freqüência, na região Amazônica, vem, ultimamente, sendo estudada de forma mais abrangente, para que se tenha um maior embasamento científico a respeito de sua utilização pelas populações ribeirinhas e que, muitas vezes, podem trazer avanços no campo das terapias que utilizam fitomedicamentos para o combate de doenças. Pois não há dados na literatura científica que validem este ou qualquer outro uso tradicional da planta (SCHULTES, 1990). Segundo Mors (2000), a E. plicata é amplamente utilizada na medicina popular em quase todo o país, principalmente na região Amazônica. É empregada contra diarréia, histeria e vermes intestinais, porém, não há comprovação científica de sua eficácia e nem da sua preparação. 58 Os indígenas das Guaianas empregam seus bulbos para o preparo de emplastro em aplicações externas contra contusões e ferimentos, visando acelerar a cicatrização, já o suco é usado como medicação interna contra epilepsia. O extrato é potencialmente útil no tratamento de doenças coronárias por suas propriedades antimicrobianas (GONÇALVES, 2005). h) Mammea americana L (Abricó) O gênero Mammea pertencente à família Cluseaceae e a espécie Mammea americana é encontrada na América tropical e Caribe onde é conhecida também como Abricó, Abricó-de-são-domingos, Abricó-do-pará e Abricoteiro (FENNER, 2006). O abricó é produto de uma árvore muito frondosa e grande, de forma piramidal, podendo atingir até 15 metros de altura. As folhas são pecioladas, verdeescuras, nernicosas, medindo até 14 cm de comprimento. As flores são brancas e perfumadas. É cultivada em toda parte do Brasil, especialmente no Estado do Pará. O fruto, muito gostoso, apresenta uma massa cor de abóbora, podendo ir à mesa no estado natural. As sementes possuem propriedades vermífugas (MOURÃO, 2000). i) Psidium guajava var. (goiabeira) A espécie Psidium guajava pertence à família Myrtaceae. É conhecida, na região Amazônica, como Goiabeira, Araçá- goiaba, Araçá–guaiaba, Araçá–guaçú, Guaiaba, Guaiava, Araçá-vaçu no Rio Grande do Sul e Goiabeira Branca em Minas 59 Gerais. Apresenta excelentes condições para exploração em escala comercial, em função de seus frutos atingirem bons preços no mercado e serem muito apreciados pelas suas características, tanto para o consumo em mesa como para a fabricação de produtos industrializados (LOZOYA et al., 2002). Segundo Martinez (1997), a Psidium guajava é uma árvore de pequeno porte, galhada, com caule tortuoso. Trata-se de um arbusto de quase 7,0 metros de altura, apresentando folhas aromáticas opostas, de textura coriácea de 4-8 cm de comprimento por 3-6 cm de largura. Apresenta flores alvas, vistosas, solitárias e frutos de tamanho e forma variada, com baga amarela de polpa abundante. Há duas variedades mais comuns, a de frutos com polpa vermelha (P. guajava var. pomífera) e a de polpa branca (P. guajava var. pyrifera). Na região Amazônica, as folhas de P. guajava são empregadas popularmente no tratamento caseiro de desordens gastrintestinais, em bochechos no tratamento de inflamações da boca e da garganta (MATOS, 2002). Adicionalmente comprovaram atividade antimicrobiana (JAIARJ et al., 1999), sedativa (LUTTERODT, 1988) e antioxidante (MARTIN et al.,1998; WANG, 2000; NADERI et al., 2003). Martinez et al. (1997) estudaram a atividade antimicrobiana do extrato fluido a 40% de Psidium guajava frente a cepas de microrganismos Staphylococcus aureus, Bacillus subtilis, Escherichia coli, Pseudomonas aeruginosa e a levedura Candida albicans. Os resultados mostraram uma excelente atividade do extrato contra as bactérias testadas, porém não apresentaram atividade antifúngica. Em 2003, Pessini et al. avaliaram a atividade antimicrobiana e antifúngica de extratos de plantas utilizadas na medicina popular. Dos 13 extratos avaliados contra cepas de S. aureus, B. subtilis, E. coli, P aeruginosa, C.albicans, C. krusei, C. 60 parapsilosis e C. tropicalis, o extrato de Psidium guajava (goiabeira) foi o que apresentou melhor atividade antifúngica e atividade moderada em bactérias Grampositivas. Ruiz (2006) avaliou a atividade antifúngica de doze extratos de plantas medicinais contra cepas de Candida albicans (ATCC 10231), isolados clínicos e contra o fungo filamentoso Aspergillus niger (ATCC 16404). Dos extratos avaliados, a Psidium guajava apresentou atividade significativa contra Candida albicans com halo de inibição > 18mm, porém não mostrou atividade contra isolados clínicos de Candida albicans e nem contra Aspergillus niger. A eficácia do extrato de Psidium guajava (goiabeira) também foi avaliada, in vitro, sobre leveduras do gênero Candida da cavidade oral. Para avaliação antimicrobiana, foi utilizado o método de difusão em meio sólido. Diante dos resultados, os autores concluíram que o extrato da folha da Psidium guajava apresentou atividade antifúngica bastante satisfatória sobre as leveduras de C. albicans, C. tropicalis, C. stelatoidea e C. krusei, podendo ser utilizado topicamente como meio alternativo no tratamento da candidíase oral (ALVES et al., 2006). Em 2007, Nair e Chanda avaliaram a atividade antimicrobiana in vitro de três extratos de Psidium guajava (metanol, acetona e dimetilformaldeído) contra 91 cepas patogênicas de importância clínica. Os três extratos foram igualmente ativos contra bactérias Gram-negativas, porém, o extrato preparado com acetona foi altamente eficaz contra bactérias Gram-positivas e cepas de fungos, sendo ativo em 74,72% do total das 91 cepas estudadas. 61 j) Syzygium aromaticum L. (cravo-da-índia) O cravo-da-índia é originário do Sudeste da África, região das Ilhas Moluscas, e chegou ao Brasil com os colonizadores portugueses. Séculos atrás, era tão disputado, que países europeus, como Holanda e França, costumavam entrar em disputas comerciais por sua posse. No começo do século XIX, plantas de cravo da índia foram levadas a países tropicais, dentre eles, o Brasil que, atualmente, desenvolve muitos trabalhos devido a suas propriedades populares de disfarçar o mau hálito, ter ação antisséptica, aliviar os gases, combater as náuseas, estimular o aparelho digestivo e reduzir a dor de dente (SCHIPER, 1999; FECURY, 2006). Segundo Delespaul et al. (2000) e Raina et al. (2001), o cravo-da-índia é a gema seca, sendo usado principalmente como condimento na culinária, devido ao seu marcante aroma e sabor, conferido por um composto fenólico volátil, o eugenol. Nas folhas, ele chega a representar aproximadamente 95% do óleo extraído e no cravo 70 a 85%. Na odontologia, o eugenol é muito utilizado como componente de seladores e outros produtos antissépticos de higiene bucal, tendo comprovado efeito bactericida, nematicida, anti-viral e fungicida. O eugenol é um fenol e se encontra largamente distribuído no reino vegetal, apresentando efeitos antiinflamatório, cicatrizante e analgésico. É um composto comumente utilizado como antimicrobiano e antifúngico, com amplo espectro de ação contra Aspergillus niger, Sacchacomyces cerevisae, Candida albicans, Streptococus mutans, Mycoderma sp. Lactobacillus acidophilus e Bacilus cereus, entre outras espécies de fungos, bactérias e leveduras (BOAVENTURA et al., 2006). 62 Nascimento et al. (2000) avaliaram atividade antifúngica e antimicrobiana do cravo da índia e fitofármacos frente a microorganismos sensíveis e resistentes a antibióticos. O método utilizado foi o de difusão em ágar e utilizadas 14 amostras de microrganismos, entre eles, a Candida albicans. Os resultados da utilização de extratos em casos de resistência a antibióticos mostraram sinergismo. Porém, os autores ressaltaram que ainda há necessidade de trabalhos mais detalhados sobre o uso terapêutico das plantas, principalmente sobre microrganismos resistentes. Salvaterra et al. (2005) avaliaram a ação antimicrobiana, in vitro, de produtos naturais como: sálvia, romã, agrião, gengibre, própolis, copaíba e óleo do cravo-da-índia, para uso rotineiro na microbiota oral em comparação com o Periogard. O óleo do cravo da índia, o própolis e o gengibre, quando testados puros, resultaram em halo de inibição de 100%, já o óleo de copaíba e o agrião não apresentaram ação inibitória. Os autores concluíram que o extrato de própolis e o óleo essencial do cravo da índia apresentaram boa ação inibitória in vitro da microbiota oral, comparável à do produto Periogard. Amaral e Bara (2005) relataram que produtos naturais com ação antiséptica, antiinflamatória e/ou antimicrobiana têm sido alternativamente utilizados. Baseados nesses achados, os autores realizaram um estudo com o objetivo de avaliar a eficácia antifúngica do óleo essencial do cravo da índia sobre sementes de arroz, soja, milho e feijão acometidos por doenças fúngicas. Os resultados mostraram que o cravo-da-índia demonstrou 100% de inibição sobre o crescimento dos fungos, indicando que os princípios ativos do cravo possuem o mesmo mecanismo de ação do antifúngico convencional atuando sobre a parede celular do fungo. No mesmo ano, Taguchi et al. realizaram um estudo para avaliar o efeito do cravo-da-índia administrado por duas diferentes vias em camundongos infectados com 63 Candida albicans. Quando a preparação do cravo foi administrada no interior da cavidade oral dos camundongos, os sintomas orais foram melhorando e o número de células viáveis de Candida foram diminuindo. Entretanto, quando a administração foi intragástrica, os sintomas orais não diminuíram. Esses achados demonstram que a ingestão oral do cravo pode suprimir o crescimento de C albicans no trato alimentar, incluindo a cavidade oral. Hem et al. (2007) avaliaram a eficácia e toxicidade, in vitro, do eugenol contra C. albicans, devido aos níveis significativos de resistências do microrganismo frente os agentes antifúngicos convencionais. Investigaram os efeitos do eugenol na formação do biofilme, aderência das células de C. albicans e na formação subseqüente do biofilme e células de C. albicans. Os resultados indicaram que o eugenol inibiu o crescimento de células de C. albicans e, em eritrócitos humanos, mostrou baixa atividade hemolítica. Os autores concluíram que o eugenol apresenta potente atividade, in vitro, contra C. albicans com baixa citotoxicidade, permitindo concluir que tem excelente aplicação terapêutica em infecções associadas com Candida. 64 3 OBJETIVO • Avaliar in vitro a atividade antifúngica de óleos essenciais e extratos, presentes na região Amazônica, sobre a cepa padrão de Candida albicans. • Determinar a concentração inibitória mínima dos óleos e extratos que apresentarem atividade antifúngica. • Realizar um screening para servir como guia na seleção de plantas com atividade antifúngica farmacológicos. para futuros trabalhos toxicológicos e 65 4. MATERIAL E MÉTODOS 4.1 Local de estudo A pesquisa experimental foi realizada no Laboratório de Microbiologia do Faculdade de Farmácia do Instituto de Ciências da Universidade Federal do Pará (UFPA). 4.2 Material botânico e obtenção da matéria prima A seleção das espécies vegetais incluídas no estudo foi baseada em pesquisas que vêm sendo desenvolvidas no Museu Paraense Emílio Goeldi, no Laboratório de Fitopatologia da EMBRAPA Amazônia Oriental e no Laboratório de Microbiologia da Universidade Federal do Pará (UFPA), as quais foram previamente selecionadas de acordo com a utilização e crença da população da região Norte brasileira. Os óleos essenciais das espécies estudadas foram identificados e extraídos no Laboratório de Agroindústria da EMBRABA Amazônia Oriental, pela técnica de Arraste a vapor (SOARES; SOUSA; PIRES, 1988). Os extratos foram preparados segundo a metodologia utilizada pelo Laboratório de Fitoquímica do Departamento de Farmácia (BARBOSA; PINTO, 2004). 4.2.1. Óleos essenciais Os óleos que tiveram sua atividade antifúngica avaliada foram provenientes de quatro espécies vegetais presentes na região Amazônica, dentre eles: 66 • Copaifera multijuga (copaíba) As folhas de copaíba foram coletadas no plantio experimental da EMBRAPA Amazônia Oriental de Santarém (oeste do Pará) e identificadas no Laboratório de Botânica desta Instituição, sendo uma exsicata depositada no Herbário IAN da EMBRAPA Amazônia Oriental (Figura 1). Figura 1- Folhas de Copafiera multijuga (copaíba). Exsicata doada pelo Laboratório de Botânica da EMBRAPA- Amazônia Oriental. 67 • Carapa guianensis (andiroba) As folhas de andiroba foram coletadas no plantio experimental da EMBRAPA Amazônia Oriental de Belém- Pará e identificadas no Laboratório de Botânica desta Instituição, sendo uma exsicata depositada no Herbário IAN da EMBRAPA Amazônia Oriental (Figura 2). Figura 2- Folhas de Carapa guianensis (andiroba). Exsicata doada pelo Laboratório de Botânica da EMBRAPA- Amazônia Oriental. 68 • Piper aduncum (Pimenta de macaco) As folhas da pimenta de macaco foram coletadas no plantio experimental da EMBRAPA Amazônia Oriental de Tomé-Açú e identificadas no Laboratório de Botânica desta Instituição, sendo uma exsicata depositada no Herbário IAN da EMBRAPA Amazônia Oriental (Figura 3). Figura 3- Folhas de Piper aduncum (Pimenta de macaco). Exsicata doada pelo Laboratório de Botânica da EMBRAPA- Amazônia Oriental. 69 • Piper hispidinervum (Pimenta longa) As folhas da pimenta longa foram coletadas no plantio experimental da EMBRAPA Amazônia Oriental de Belém- Pará e identificadas no Laboratório de Botânica desta Instituição, sendo uma exsicata depositada no Herbário IAN da EMBRAPA Amazônia Oriental (Figura 4). Figura 4- Folhas de Piper hispidinervum (Pimenta longa). Exsicata doada pelo Laboratório de Botânica da EMBRAPA- Amazônia Oriental. 70 4.2.2. Extratos vegetais Os extratos que tiveram sua atividade antifúngica avaliada foram provenientes de sete espécies vegetais presentes na região Amazônica, dentre elas: • Annona glabra (Araticum do brejo) As folhas de Annona glabra foram coletadas no plantio experimental da EMBRAPA Amazônia Oriental de Belém- Pará e identificadas no Laboratório de Botânica desta Instituição, sendo uma exsicata depositada no Herbário IAN da EMBRAPA Amazônia Oriental (Figura 5). Figura 5- Folhas de Annona glabra (Araticum do brejo). Exsicata doada pelo Laboratório de Botânica da EMBRAPA- Amazônia Oriental. 71 • Azadirachta indica (Nim) As folhas de Azadirachta indica foram coletadas no plantio experimental da EMBRAPA Amazônia Oriental de Belém- Pará e identificadas no Laboratório de Botânica desta Instituição, sendo uma exsicata depositada no Herbário IAN de EMBRAPA Amazônia Oriental (Figura 6). Figura 6- Folhas de Azadirachta indica (Nim indiano). Exsicata doada pelo Laboratório de Botânica da EMBRAPA- Amazônia Oriental. 72 • Bryophyllum calycinum (Pirarucu) As folhas de Bryophyllum calycinum (Pirarucu) foram coletadas no plantio experimental da EMBRAPA Amazônia Oriental de Belém- Pará e identificadas no Laboratório de Botânica desta Instituição, sendo uma exsicata depositada no Herbário IAN da EMBRAPA Amazônia Oriental (Figura 7). Figura 7- Folhas de Bryophyllum calycinum (Pirarucu). Exsicata doada pelo Laboratório de Botânica da EMBRAPA- Amazônia Oriental. 73 • Eleutherine plicata (Marupazinho) O bulbo de marupazinho foi coletado no Horto do EMAÚS localizado no bairro do Benguí em Belém do Pará. A identificação foi realizada no Departamento de Botânica do Museu Paraense Emílio Goeldi (Figura 8). Figura 8- Folhas de Eleutherine plicata (Marupazinho). Exsicata preparada e identificada no Departamento de Botânica do Museu Paraense Emílio Goeldi. 74 • Mammea americana (abricó) As folhas de Mammea americana (abricó) foram coletadas no plantio experimental da EMBRAPA Amazônia Oriental de Belém- Pará e identificadas no Laboratório de Botânica desta Instituição, sendo uma exsicata depositada no Herbário IAN da EMBRAPA Amazônia Oriental (Figura 9). Figura 9- Folhas de Mammea americana (abricó). Exsicata doada pelo Laboratório de Botânica da EMBRAPA- Amazônia Oriental. 75 • Psidium guajava (goiabeira) As folhas de Psidium guajava (goiabeira) foram coletadas no plantio experimental da EMBRAPA Amazônia Oriental de Belém- Pará e identificadas no Laboratório de Botânica desta Instituição, sendo uma exsicata depositada no Herbário IAN da EMBRAPA Amazônia Oriental (Figura 10). Figura 10- Folhas de Psidium guajava (goiabeira). Exsicata doada pelo Laboratório de Botânica da EMBRAPA- Amazônia Oriental. 76 • Syzygium aromaticum (cravo-da-índia) O cravo foi obtido no mercado público da cidade de Belém Estado do Pará. A identificação e extração foram realizadas no laboratório de Agroindústria da EMBRAPA Amazônia Oriental de Belém- Pará (Figura 11). Figura 11 – Cravo-da-índia obtido no mercado público (Belém- Pará). 77 4.3 Espécie fúngica Foi utilizada como microrganismo teste, a cepa de Candida albicans ATCC 90028, responsável por várias formas de infecções fúngicas em humanos e recomendada como cepa padrão para testes de susceptibilidade antifúngica. Foi cedida pela disciplina de Microbiologia da Faculdade de Odontologia de PiracicabaUNICAMP e mantida em meio de cultura específico para crescimento de levedura (Batata, Dextrose e Ágar – BDA- MERCK). 4.4 Determinação da atividade antifúngica e da concentração inibitória mínima dos óleos essenciais e extratos vegetais. 4.4.1. Inóculo Foram realizados repiques de Candida albicans em caldo Brain Heart Infusion- MERCK (BHI), incubado a 36o C, durante 18 horas; em seguida, foi observada, microscopicamente, a morfologia celular em esfregaços das culturas coradas pelo método de Gram, para confirmação de cultura pura. O inoculo foi preparado utilizando 100µl de suspensão fúngica na concentração de 106 UFC/mL, padronizado de acordo com a turbidez 0,5 da escala de McFarland e confirmado em espectofotômetro com densidade óptica de 530nm (LIMA, 2006), em placas de Petri (15x 90mm), contendo 20mL de meio de cultura específico (Batata, dextrose e ágar). O inóculo foi disperso, com uma alça de Drigalski, por toda a dimensão da placa. 78 4.4.2 Avaliação da atividade antifúngica dos óleos essenciais Os óleos foram testados “in natura” (100%) e em diluições de 32%, 16%, 8%, 4% e 2% para determinação da concentração inibitória mínima (CIM), de acordo com Lima et al. (2006). A solução a 32% foi preparada com 1,6 mL de óleo + 0,04 mL de Tween 80 (agente emulsificador) e água destilada esterilizada suficiente para completar 5mL. Em seguida, essa emulsão foi homogeneizada em agitador Vortex (FANEM), por 15 minutos e as demais concentrações foram obtidas mediante diluições seriadas. A atividade antifúngica foi realizada pelo método de difusão em meio sólido utilizando cavidades em placa (LIMA et al., 2006). Foram confeccionadas cavidades no meio de cultura previamente semeado com suspensão de Candida albicans, com auxílio de cânulas de vidro estéreis (6mm de diâmetro), onde foram inoculados 50µl de cada diluição dos óleos testados. O sistema foi incubado a 360 C, por 48 horas, em estufa bacteriológica. Foram realizadas duas leituras do halo de inibição; a primeira, após 24 horas de incubação e a segunda, após 48 horas. Todo o experimento foi realizado em duplicata. Após, foi considerado o CIM a concentração do óleo capaz de desenvolver um halo de inibição do crescimento fúngico maior ou igual a 8 mm de diâmetro, medido por uma régua milimetrada (PAREKH e CHANDA, 2007; SANTOS et al., 2007). Para o controle da viabilidade da cepa padrão de Candida albicans 90028, foi utilizada uma solução contendo apenas Tween 80 (negativo) e, como controle positivo, foi utilizada solução de Nistatina, um antifúngico convencional, na concentração de 50µg/mL. 79 4.4.3 Avaliação da atividade antifúngica dos extratos Os extratos liofilizados foram testados nas concentrações de 500mg/mL, 250mg/mL, 125mg/mL e 62,5 mg/mL dissolvidos em Dimetil-Sulfóxido (DMSO). A avaliação da atividade antifúngica foi realizada pelo método de difusão em meio sólido, utilizando discos de papel filtro (Whartman - tipo 3) de 6 mm de diâmetro, impregnados com 10 µl de cada concentração dos extratos das plantas testadas (SANTOS et al., 2007). Em seguida, os discos foram colocados em placas de Petri, previamente inoculadas com 100µl de suspensão fúngica, em meio de cultura específico (BDA). O sistema foi incubado a 360 C, por 48 horas, em estufa bacteriológica. Foram realizadas duas leituras do halo de inibição; a primeira, após 24 horas de incubação e a segunda, após 48 horas. Todo o experimento foi realizado em duplicata. Foi considerado o halo de inibição igual ou acima de 8mm de diâmetro, de acordo com os critérios de Parekh e Chanda (2007). Para o controle da viabiliadade da cepa padrão de Candida albicans 90028, foi utilizada uma solução contendo apenas DMSO (controle negativo) e, como controle positivo, foi utilizada solução de Nistatina, um antifúngico convencional, na concentração de 50µg/mL. Os extratos testados que apresentaram atividade antifúngica (halo igual ou acima de 8mm) foram submetidos à determinação da concentração inibitória mínima (CIM) pela técnica de microdiluição em caldo (CLSI, 2003; BERTINI et al., 2005; LIMA et al., 2006; SANTOS et al., 2007). 80 Os testes foram realizados em caldo Muller Hinton contidos em placa “Sensitive microtier” 96 poços e analisados pelo leitor de ELISA (Enzime Linked Immunosorbent Assay). Para esse teste, uma alíquota de 10µl de cada extrato nas concentrações de 500, 250, 125, 62,5, 31,25 e 15,63mg/mL foi depositada em cada poço da placa contendo caldo Muller Hinton e suspensão de microrganismo padronizada para um volume final de 200µL de cada poço. Foi realizado controle dos extratos, do caldo Muller Hinton, do microrganismo, do DMSO e da nistatina. As placas foram incubadas a 36oC por 24 horas e a leitura foi realizada em no comprimento de onda de 650nm em leitor de ELISA (LIMA et al., 2006). Foi considerada como CIM a menor concentração do extrato capaz de inibir o crescimento antifúngico, segundo os critérios sugeridos por Holetz et al. (2002) (Tabela 1). Tabela 1- Critérios para aceitação da atividade antifúngica de extratos brutos de plantas, segundo Holets et al. (2002). CIM* DO EXTRATO RESULTADO _____________________________________________________ Abaixo de 100 mg/mL Boa atividade antifúngica Entre 101 e 500 mg/mL Moderada atividade antifúngica Entre 501 e 1000 mg/mL Fraca atividade antifúngica Acima de 1001 mg/mL Inativo ____________________________________________________________ * Concentração inibitória mínima 81 5 RESULTADOS 5.1 Atividade antifúngica dos óleos essenciais Os óleos testados de Copaífera multijuga (figura 12), Carapa guianensis (figura 13), Piper aduncum (figura 14) e Piper hispidinervum (figura 15) não apresentaram efeito antifúngico em nenhuma das concentrações testadas frente à cepa de Candida albicans ATCC 90028 (Tabela 2). Tabela 2- Atividade antifúngica dos óleos essenciais das espécies de Copaífera multijuga, Carapa guianensis, Piper aduncum e Piper hispidinervum sobre cepa de Candida albicans. _______________________________________________________________ ESPÉCIE VEGETAL NOME POPULAR CONCENTRAÇÕES ZONA DE INIBIÇÃO DE CRESCIMENTO (mm) ________________________________________________________________ Copaífera multijuga Copaíba 100% 32% 16% 8% 4% 2% NI NI NI NI NI NI Carapa guianensis Andiroba 100% 32% 16% 8% 4% 2% NI NI NI NI NI NI Pimenta de macaco 100% 32% 16% 8% 4% 2% NI NI NI NI NI NI Pimenta longa 100% 32% 16% 8% 4% 2% NI NI NI NI NI NI Piper aduncum Piper hispidinrvum NI = não ocorreu inibição do crescimento do fungo. 82 100% 32% Figura 12 - Ausência de halo de inibição frente à cepa de Candida albicans do óleo de Copaífera multijuga (copaíba) nas duas maiores concentrações (100% e 32%). 100% 32% Figura 13- Ausência de halo de inibição frente à cepa de Candida albicans do óleo de Carapa guianensis (andiroba) nas duas maiores concentrações (100% e 32%). 83 100% 100% 32 % Figura 14- Ausência de halo de inibição frente à cepa de Candida albicans do óleo de Piper aduncum (Pimenta de macaco) nas duas maiores concentrações (100% e 32%). 100% 32% Figura 15- Ausência de halo de inibição frente à cepa de Candida albicans do óleo de Piper hispidinervum (pimenta longa) nas duas maiores concentrações (100% e 32%). 84 5.2 Atividade antifúngica dos extratos Dos sete extratos testados três apresentaram atividade antifúngica frente à levedura Candida albicans (Tabela 3) Tabela 3- Atividade antifúngica dos extratos das espécies Annona glabra, Azadiractha indica, Bryophyllum calycinum, Eleutherine plicata, Mammea americana, Psidium guajava, Syzygium aromaticum frente à cepa de Candida albicans. ________________________________________________________________ ESPÉCIE VEGETAL NOME POPULAR ZONA DE INIBIÇÃO DE CRESCIMENTO (mm) ________________________________________________________________ Annona glabra Araticum do brejo NI * Azadiractha indica Nim indiano NI Bryophyllum calycinum Pirarucu NI Eleutherine plicata Marupazinho Mammea americana Abricó Psidium guajava Goiabeira 17mm Syzygium aromaticum Cravo-da-índia 18mm 12mm NI NI= não ocorreu inibição do crescimento do fungo. O extrato das folhas de Eleutherine plicata foi capaz de inibir o crescimento da Candida albicans com a formação de um halo de inibição de 12mm. Na determinação da concentração inibitória mínima (CIM), o extrato foi ativo até a concentração de 250mg/mL (Figura 16). 85 FIGURA 16- Halo de inibição de 12 mm do extrato das folhas de Eleutherine plicata (Marupazinho) frente à cepa de Candida albicans. Na avaliação da atividade antifúngica com o extrato das folhas de Psidium guajava foi observada a formação de um halo de inibição de 17 mm frente à cepa padrão de Candida albicans. Na determinação da concentração inibitória mínima (CIM), o extrato foi ativo até a concentração de 125mg/mL frente ao fungo testado (Figura 17). FIGURA 17- Halo de inibição de 17 mm das folhas de Psidium guajava (goiabeira) .frente à cepa padrão de Candida albicans. 86 Com o extrato do Syzygium aromaticum, houve a formação de halo de inibição de 18 mm frente à cepa de Candida albicans (Figura 18) e a concentração inibitória mínima (CIM) foi de 62,5 mg/mL sobre o fungo testado. Figura 18- Halo de inibição de 18 mm frente à cepa de Candida albicans do extrato de Syzygium aromaticum (cravo-da-índia). Os demais extratos (Annona glabra, Azadiractha indica, Bryophyllum calycinum e Mammea americana) não apresentaram atividade contra a Candida albicans, mesmo na maior concentração 500mg/mL, uma vez que, em concentrações mais altas, as soluções dos extratos não permitiram uma absorção total nos discos (Figuras 19, 20, 21 e 22). 87 Figura 19- Ausência de halo de inibição do extrato de Annona glabra (abricó) sobre a cepa padrão de Candida albicans. Figura 20- Ausência de halo de inibição do extrato de Azadiractha indica (Nim) sobre a cepa padrão de Candida albicans. 88 Figura 21- Ausência de halo de inibição do extrato de Bryophyllum calycinum (pirarucu) sobre a cepa padrão de Candida albicans. Figura 22- Ausência de halo de inibição do extrato de Mammea americana (araticum do brejo) sobre a cepa padrão de Candida albicans. 89 Discos com nistatina (antifúngico convencional) foram utilizados como controle positivo. Houve formação de um halo de inibição de 12mm. Para avaliar a viabilidade do DMSO (dimetil-sulfóxido), foram utilizados discos contendo apenas DMSO, sendo considerado o controle negativo (Figura 23). N= nistatina DMSO= dimetil-sulfóxido Figura 23- Discos contendo nistatina (controle positivo) com halo de inibição de 12mm frente à cepa de Candida albicans e discos contendo DMSO (controle negativo) com ausência de halo de inibição. 90 6 DISCUSSÃO Um recurso promissor para a descoberta de novos agentes antifúngicos com menores efeitos colaterais são as plantas, usadas na medicina popular, para tratamento de infecções fúngicas, onde os óleos e extratos obtidos há muito tempo têm servido de base para diversas aplicações terapêuticas. Vários estudos têm apontado excelentes propriedades terapêuticas dos óleos essenciais. Entretanto, nos ensaios sobre a atividade antifúngica, in vitro, dos óleos, é possível verificar uma variedade de metodologias propostas, o que torna a comparação com esses estudos problemática. Neste estudo, observou-se que os métodos comumente utilizados para avaliar a ação de óleos e extratos vegetais são o de difusão em disco, difusão utilizando cavidades feitas no ágar e diluição em caldo para determinação da concentração inibitória mínima- CIM. Porém, segundo Nascimento et al. (2007), esses métodos são padronizados pela CLSI (National Committee for Clinical Laboratory Standards) e desenvolvido para analisar agentes antimicrobianos, como os antibióticos. Foi constatado, durante a pesquisa que, nos testes para avaliar a atividade antifúngica de óleos essenciais, a metodologia proposta pelo CLSI não poderia, de fato, ser seguida à risca, corroborando com as citações de Nascimento et al. (2007), devido às propriedades químicas que estes apresentam, como: serem voláteis, insolúveis em água, viscosos e complexos, resultando em difusão irregular dos componentes lipófilos dos óleos e, consequentemente, concentrações desiguais do óleo no ágar. Visando melhorar a qualidade dos procedimentos com óleos essenciais, tornou-se comum a utilização de solventes, detergentes ou emulsificadores, a exemplo 91 do Tween 20, Tween 80, DMSO (dimetil-sulfóxido) e etanol, para facilitar a dispersão dos mesmos no meio de cultura (BRUNI et al., 2004; BAYDAR et al., 2004). Baseado nesses achados, optou-se por uma metodologia utilizando cavidades feitas no ágar e difusão em meio sólido, com o auxílio de um agente emulsificador (Tween 80), o qual apresentou melhores resultados, concordando com LIMA et al., 2006 e NUNES et al., 2006. É lícito ressaltar que, devido à falta de padronização e dificuldade de difusão dos óleos essenciais, estes sejam menos estudados do que os extratos vegetais, apesar de ser constatado, cientificamente, que cerca de 60% dos óleos possuem propriedades antifúngicas e 35% exibem propriedades antibacterianas (OLIVEIRA et al. 2006). No presente estudo, nenhum dos óleos testados apresentaram atividade antifúngica frente à cepa de Candida albicans, porém fatores importantes como a técnica utilizada, o meio de crescimento, o microrganismo, o material botânico, colheita, técnica de extração e variações genéticas de uma mesma espécie vegetal, podem alterar o teor de princípio ativo presente no óleo. Não invalidando, dessa forma, novos estudos de cunho farmacológico e microbiológico dessas espécies vegetais. O óleo de copaíba, possui um princípio ativo chamado de beta carofileno, que tem ação germicida (VEIGA e PINTO, 2002) e, portanto, deveria provocar um resultado positivo (produção de halo de inibição), pois a maior ou menor atividade biológica dos óleos essenciais tem se mostrado dependente da composição de seus constituintes químicos como; citral, pineno, cineol, cariofileno, elemento furanodieno, inoneno, eugenol, eucaliptol, carvacrol e outros, que são responsáveis pelas propriedades antissépticas, antibacterianas, antifúngicas e antiparasitárias (CRAVEIRO; ALENCAR; CABANES, 1981; SOUZA et al., 2005). 92 Entretanto, a ausência de atividade antifúngica do óleo de copaíba está de acordo com os resultados encontrados por Santos et al. (2007), que avaliaram a eficácia do óleo de copaíba frente a diversas bactérias e à Candida albicans. Os resultados mostraram uma excelente atividade do óleo sobre as bactérias, porém não exibiram atividade contra o fungo. Resultados similares foram registrados por Packer e Luz (2007) que, analisando a eficácia antibacteriana e antifúngica de vários óleos essenciais, inclusive o de andiroba e copaíba, não observaram atividade frente aos microrganismos testados. Com relação à atividade antifúngica dos óleos de Piper aduncum e Piper hispidinervum, não houve formação de halo de inibição frente à cepa de Candida albicans. Entretanto, não foi encontrada, na literatura consultada, qualquer referência quanto à atividade antifúngica dessas espécies frente aos microrganismos presentes na cavidade oral, apesar de vários estudos demonstrarem excelente potencial dessas espécies como fungicidas (LUNZ et al., 1996; BASTOS et al., 2004; ESTRELA et al., 2006; BASTOS e BENCHIMOL, 2006; SOUZA et al., 2006). No que diz respeito à avaliação dos extratos, não existe um consenso sobre o nível aceitável, quando comparado com os antimicrobianos padrões (OLIVEIRA et al., 2006). O critério adotado neste estudo foi sugerido por Holetz et al. (2002), baseado nos resultados de CIM. O extrato das folhas de Annona glabra (araticum do brejo) não apresentou atividade antifúngica frente à cepa testada e, embora essa espécie tenha recebido a atenção de pesquisadores por ser utilizada na medicina popular como inseticida e antimicrobiano (CARVALHO; NASCIMENTO; MULLER, 2001), não foram 93 encontradas na literatura consultada, pesquisas avaliando o efeito da Annona glabra contra microrganismos de um modo geral e em especial contra Candida albicans. O extrato de Azadiractha indica, apesar de apresentar um princípio ativo chamado de azadiractin, substância muito utilizada em cosméticos, cremes, loções e creme dental, devido apresentar propriedades anti - virais e anti- bacterianas (BISWAS, 2005) e ser relatado por vários autores como um bom fungicida (SAIRAM, 2000; ARAÚJO et al., 2000; SUBAPRIYA e NAGINI, 2005; FECURY et al., 2006), no presente estudo, não apresentou efeito antifúngico contra Candida albicans. Esses achados estão de acordo com os encontrados no estudo de Gualtieri et al. (2004), que avaliaram o efeito antimicrobiano do extrato de Azadiractha indica sobre vários microrganismos, inclusive sobre a cepa padrão de Candida albicans (90028) e não apresentou atividade e no estudo de Darães et al. (2005), que também utilizaram cepa padrão não apresentaram eficácia na inibição do crescimento, in vitro, de Candida albicans. Na verificação da atividade antifúngica do extrato de Bryophyllum calycinum (pirarucu), não foi observada a formação de halo de inibição sobre a cepa de Candida albicans. Entretanto, Nassis et al. (1992); Da Silva et al. (1999) e Sousa et al. (2005) relataram várias propriedades medicinais do Bryophyllum calycinum, como: analgésica, antibacteriana, antifúngica e antisséptica, o que justifica a continuação de estudos microbiológicos, com outras cepas, na tentativa de obter resultados que possam contribuir para busca de novos fitoterápicos antimicrobianos. Na avaliação antifúngica do extrato das folhas de Eleutherine plicata (marupazinho), foi observada a formação de um halo de inibição de 12mm, com uma 94 concentração inibitória mínima de 250 mg/mL, sendo considerado de acordo com o critério adotado (HOLETZ et al. 2002), um extrato com moderada atividade antifúngica. Esses achados corroboram com as citações feitas por (ALBUQUERQUE, 1989; VIEIRA, 1992; MORS, 2000 e GONÇALVES, 2005) que ressaltaram a ampla utilização dessa planta na medicina popular, em quase todo o país, principalmente na região Amazônica, sem comprovação científica de sua eficácia. O extrato das folhas da Mammea americana (abricó) não apresentou eficácia antifúngica sobre a cepa de Candida albicans. Entretanto, em 2000, Mourão relatou excelente propriedade vermífuga do abricó, além de outras propriedades citadas por Araújo (2007), como para o tratamento de afecções cutâneas, o que justifica a continuação do estudo dessa planta com outros microrganismos. Na avaliação antifúngica do extrato de Psidium guajava (goiabeira), foi constatada uma boa atividade antifúngica frente à cepa de Candida albicans, pois exibiu um halo de inibição de 17 mm e uma concentração inibitória mínima de 125 mg/mL. Esse resultado está de acordo com os achados por Pessini (2003), Ruiz (2006), Alves et al. (2006) e Nair e Chanda (2007), que avaliaram a atividade do extrato de Psidium guajava sobre cepas padrões de Candida albicans e descorda dos achados por Martinez et al. (1997) em que o extrato não apresentou atividade antifúngica. Mesmo sendo diferentes cepas, concentrações, metodologia e origem das plantas utilizadas nos trabalhos acima citados, os resultados são aceitáveis, devido à falta de padronização dos testes de suscetibilidade antifúngica. O extrato de Syzygium aromaticum (cravo-da-índia) que apresentou um halo de inibição de 18mm frente à cepa de Candida albicans e uma concentração inibitória 95 mínima (CIM) de 62,5 mg/mL, sendo considerado um extrato com boa atividade antifúngica, segundo os critérios adotados na pesquisa. A inibição do crescimento apresentou-se homogênea, de acordo com o grau de concentração do extrato da planta, havendo uma diminuição proporcional dos halos à medida que a concentração do extrato foi diminuindo. Vários trabalhos (NASCIMENTO et al. 2000; SALVATERRA et al. 2005; TAGUCHI et al. 2005) e, mais recentemente, o de Hem et al. (2007), que avaliaram a eficácia antifúngica do Syzygium aromaticum (cravo-da-índia) frente à cepa de Candida albicans, encontraram resultados similares reforçando a boa atividade antifúngica desse extrato. Sabe-se que o principal princípio ativo do Syzygium aromaticum é o eugenol, que é um composto fenólico muito utilizado na odontologia como componente de seladores e outros produtos antissépticos de higiene bucal (DELESPAUL et al. 2000; RAINA et al., 2001). Entretanto, em 2007, Hem et al., preocupados com a toxicidade do eugenol na cavidade oral, realizaram um estudo, in vitro, para investigar os efeitos na formação do biofilme. Concluíram que o eugenol apresenta potente atividade, in vitro, contra Candida albicans e com baixa citotoxicidade. Há necessidade de busca de novos produtos com efeito antifúngico devido ao crescente aparecimento de cepas resistentes aos antifúngicos convencionais e, principalmente, devido aos indesejáveis efeitos colaterais. Os resultados aqui apresentados indicam um potencial efeito antifúngico dos extratos de Eleutherine plicata (Marupazinho), Psidium guajava (goiabeira) e Syzygium aromaticum (cravo-daíndia). 96 7 CONCLUSÃO Com base nos resultados encontrados, conclui-se que: 1. Os óleos essenciais de Copaifera multijuga, Carapa guianensis, Piper aduncum e Piper hispidinervum não apresentaram atividade antifúngica sobre a levedura de Candida albicans. 2. O extrato de Syzygium aromaticum (cravo-da-índia) apresentou uma boa atividade antifúngica frente à cepa padrão de Candida albicans. 3. O extrato de Psidium guajava (goiabeira) e de Eleutherine plicata (marupazinho) apresentaram moderada atividade antifúngica. 4. Os demais extratos testados (Annona glabra, Azadiractha indica, Bryophyllum calycinum e Mammea americana) não apresentaram atividade antifúngica frente à cepa padrão de Candida albicans. Dessa forma, os dados obtidos nesta pesquisa se mostram promissores e podem servir como guia na seleção de plantas com atividades antifúngicas para futuros trabalhos para determinados efeitos toxicológicos e farmacológicos, na perspectiva de uma possível aplicação terapêutica desses produtos. 97 REFERÊNCIAS 1 ALBUQUERQUE JM. Plantas medicinais de uso popular. Brasília: ABES/MEC; 1989 AL KARAAWI ZM, MANFREDI M, WAUGH AC. Molecular characterization of Candida spp isolated from the oral cavities of patients from diverse clinical settings. Oral Microbiol Immunol 2002; 17: 44-49. ALMEIDA JRGS, FILHO RN, NUNES XP, DIAS CS, LIMA EO. Antimicrobial activity of the essential oil of Bowdichia virgiloides Kunt. Braz J Pharmacogn 2006; 16: 638-641. ALVES PM, LEITE PHAS, PEREIRA JV, HIGINO JS, LIMA EO. 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