USO DE TEORIAS DE ENFERMAGEM NO CUIDADO COM A HIPERTENSÃO – UM ESTUDO BIBLIOGRÁFICO / THE APPLICATION OF THE NURSERY THEORIES ON THE HYPERTENSION CARE. - A BIBLIGRAPHIC STUDY. Rafaella Mousinho de Sá1; Vanessa Vieira Bacelar1; e Maria Edileuza Soares Moura2. Valdiléia Teixeria Uchôa3 RESUMO O artigo apresenta uma pesquisa bibliográfica utilizando-se a base de dados LILACS, obteve-se uma relação de 13 artigos científicos publicados a partir de 1996, com os seguintes descritores: “hipertensão” e “teoria de enfermagem”. Tem por objetivo demonstrar produção científica a cerca da assistência prestada à pacientes portadores de hipertensão arterial, fundamentada em teorias de enfermagem. Constatou-se que a aplicação de teorias na prática, seguindo etapas definidas, parece representar um interesse crescente por parte dos enfermeiros. Dentre as teorias verificadas destacam-se a teoria do alcance dos objetivos e do auto-cuidado, propostas por Imogene M. King e Dorothea E. Orem, respectivamente. O uso da teoria apóia os enfermeiros na definição de seus papéis, no melhor conhecimento da realidade e conseqüente adequação e qualidade do desempenho profissional, proporcionando aos clientes submeter-se a procedimentos e cuidados com menos danos possíveis. Conclui-se que a assistência de enfermagem sistematizada prestada a usuários portadores de hipertensão é incipiente e poucos artigos se reportam à perspectiva de fundamentar-se em princípios científicos fazendo uso das teorias de enfermagem. PALAVRAS-CHAVE: Hipertensão, Cuidado, Teoria de Enfermagem. RESUMEN El artículo presenta una búsqueda bibliográfica utilizando la base de datos LILACS, obtenidos en una proporción de 13 artículos científicos publicados desde 1996, con los siguientes descriptores: "hipertensión" y "teoría de enfermería." Su propósito es demostrar la literatura científica acerca de la asistencia prestada a los pacientes con hipertensión, sobre la base de teorías de enfermería. Parece ser que la aplicación de teorías en la práctica, siguiendo los pasos definidos, parece representar un interés cada vez mayor de enfermeras. Entre las teorías que se verifica la teoría del alcance de los objetivos y auto-cuidado, propuesto por Imogene M. King y Dorothea E. Orem, respectivamente. La teoría apoya el uso de enfermeras en la definición de su papel en una mejor comprensión de la realidad y la consiguiente adecuación y la calidad de los rendimientos del trabajo, proporcionando a los clientes a someterse a los procedimientos y cuidado con menos daño posible. Se concluyó que la asistencia prestada a los usuarios de enfermería sistemática las personas con hipertensión arterial es baja y algunos artículos se refieren a la perspectiva que se fundamenta en principios científicos usando las teorías de enfermería. PALAVRAS-CHAVE: Hipertensión, Teoría de Enfermería. ABSTRACT This Article shows a bibliographic research that has used the LILACS database from which was gotten a list of 13 scientific articles published from 1996 with the following titles: “Hypertension” and “Nursery Theory”. As well, this article has as its goal to demonstrate the scientific production about the support based on nursery theories that has been given to arterial hypertension holders. It has been noticed that the application of these theories on real cases seems to be an increasing interest for nurses. Among the verified theories, the most important ones were the theory of reaching the goals and the theory of the self-care proposed, in order, by Imogene M. King and Dorothea E. Orem. The use of these theories helps nurses to define their roles by knowing better the reality and in this way improving their professional performance guaranteeing a better care with patients. It was concluded that the nursery assistance given to arterial hypertension holders is not enough and just few article-writers have reported their interest in base their articles in scientific principles using the nursery theories. KEYWORDS : Hypertension, Care, Nursery Theory. 1 Graduandas do Curso de Enfermagem da Faculdade Santo Agostinho. 2 Profª da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). Mestranda em Enfermagem da Universidade Federal do Piauí 3 Prof.(a) Mestre e Doutoranda de Química e Bioquímica da Faculdade Santo Agostinho. INTRODUÇÃO Há algumas décadas, as doenças do aparelho circulatório ou cardiovasculares são a primeira causa de morte no Brasil. Dentro deste contexto, a hipertensão arterial representa uma das situações clínicas que atingem o aparelho circulatório e, também, é um dos principais fatores de risco para outras doenças cerebrovasculares, vasculares, isquêmicas do coração e diabetes mellitus, contribuindo para elevar os índices de morbidade e mortalidade (3). A hipertensão arterial essencial ou primária compreende de 90 a 95% dos casos desta afecção e pode ser controlada desde que os pacientes envolvam-se em ações tais como uso da medicação anti-hipertensiva de forma regular, controle do peso, ingestão de dieta hipossódica com baixo teor de gordura saturada e colesterol e realização de atividade física, pois estas colaboram com a redução da pressão arterial em alguns pacientes e minimizam as complicações em órgãos-alvo (1). O modelo biomédico, que tem direcionado as ações de enfermagem hoje, prioriza a "doença observada" e detectada através das alterações na estrutura anatomoquímica do organismo, propondo uma terapêutica impositiva. Nos casos de doença crônica, as possibilidades de sucesso do tratamento estão em sintonia com a "doença percebida", pois as ações de saúde serão realizadas pelos pacientes de acordo com a percepção, vontade, possibilidades e modificações que a doença e as formas de tratamento impõem às suas vidas (1) . Diante das ações de enfermagem o modelo biomédico, deve ser associado a modelos teóricos próprios da profissão a fim de obter melhores resultados, visto que a enfermagem exerce papel importante dentro do contexto da saúde básica, abrangendo aspectos que vão desde a participação em programas de detecção precoce, até o desenvolvimento de estratégias para garantir adesão ao tratamento, enfocando a educação e orientação do cliente como parte integrante do cuidado de enfermagem. Iniciando o terceiro milênio, percebe-se que a aplicação de uma teoria na prática da enfermagem representa um interesse crescente por parte dos enfermeiros. O uso da teoria apóia os enfermeiros na definição de seus papéis, no melhor conhecimento da realidade e conseqüente adequação e qualidade do desempenho profissional, proporcionando aos clientes submeter-se a procedimentos e cuidados com menos danos possíveis. O uso de teorias de enfermagem efetua uma contribuição para o desenvolvimento da enfermagem, procurando dar resposta às necessidades básicas dos clientes, além de ser um modelo teórico conceitual próprio da profissão (6) . Significa, também, um esforço de validação de teorias de enfermagem constituídas pela união de princípios inter-relacionados que descrevem ou explicam o fenômeno da enfermagem, evidenciando as características que lhe dão identidade. Diante do exposto, faz-se necessário o desenvolvimento de pesquisas que busquem conhecer as estratégias utilizadas nas ações dirigidas à pacientes com doença crônica, como hipertensão arterial, bem como a eficácia no seu tratamento. Essa busca apresenta, o presente trabalho como contribuição para a enfermagem, uma vez que poderá sugerir o uso de referenciais teóricos próprios para serem aplicados em uma área de ampla atuação dos enfermeiros. Esse estudo tem como objetivo identificar que teorias de enfermagem foram utilizadas como marco conceitual na fundamentação das ações assistenciais do enfermeiro ao portador de hipertensão arterial. METODOLOGIA Para a elaboração deste estudo, consultaram-se periódicos indexados ao LILACS (Literatura Latino Americana de Ciências de Saúde), através de uma pesquisa bibliográfica de artigos científicos publicados sobre a temática do cuidado ao portador de hipertensão arterial com base em uma teoria de enfermagem. Para isto, foram incluídas as publicações acerca do tema encontradas nos periódicos no período de 1996 – 2006. Para fins de estudo, foram consideradas as publicações relacionadas à assistência prestada à pacientes portadores de hipertensão arterial baseado em teorias de enfermagem, utilizando como descritores: “Hipertensão” e “Teoria de Enfermagem”. A escolha dos artigos realizou-se inicialmente com a leitura dos resumos, a fim de confirmar a temática proposta, nos casos afirmativos procedeu-se à leitura e releitura dos artigos encontrados para a obtenção da apreensão dos objetivos e temas tratados, alcançando um panorama a respeito dos estudos consultados. De início a procura dos artigos ocorreu por meio do acesso ao site www.bireme.br. Procedeu-se uma busca utilizando-se apenas o descritor “Hipertensão” tendo sido encontradas 8.341 referências. Como o interesse era também em artigos que enfocassem teorias de enfermagem, realizou o refino desta pesquisa, associando-se o descritor “Teoria de Enfermagem”, o que reduziu o número de referências para 13. Foi realizada uma análise quantitativa que agrupou aspectos considerados relevantes tais como, teorias de enfermagem utilizadas, revista publicada e ano de publicação. RESULTADOS E DISCUSSÕES A análise dos artigos selecionados (um artigo foi desconsiderado, pois estava duplicado na base de dados) parte do agrupamento das informações no quadro abaixo. QUADRO 01: Relação das publicações sobre teorias de enfermagem utilizadas nas pesquisas sobre cuidado na hipertensão indexados na base LILACS de acordo com o objetivo do estudo – Brasil – 2008. Periódico Ano/Referências Autores Revista Paulista de Enfermagem 2006 (4) Revista Salud Pública 2006(10) FALCÃO, L. M.; GUEDES, M. V. C.; SILVA, L. F. RIVERA ÁLVAREZ, L. N. Biblioteca Nacional de Salud Revista Acta Paulista Enfermagem 2005(12) NICARAGUA; N. 2005 (11) GUEDES, M. V. C.; ARAÚJO, T. L. Revista Acta Paulista Enfermagem 2002 (14) MOREIRA, T. M. M.; ARAÚJO, T. L. Revista RENE 2001. (5) Revista Latinoamericana de Enfermagem Revista Gaúcha de Enfermagem 2001 (1) FREIRE, M. R. S. M.; NÓBREGA, M. M. L. CADE, N. V. Dissertação de Mestrado da UFSC 2001 (8) Cogitare Enfermagem 1999 (9) 2001(9) MOREIRA, T. M. M.; ARAÚJO, T. L.; PAGLIUCA, L. M. F. MARTINS, M. MOREIRA, T. M. M.; Objetivo Compreender os conceitos do sistema pessoal do Modelo Conceitual de King em clientes com hipertensão arterial (HA). Descrever a capacidade que uma pessoa hospitalizada com diagnóstico de hipertensão arterial tem para realizar atividades de autocuidado. Aplicar o processo de enfermagem baseado no modelo de autocuidado de Dorothea Orem a pacientes hipertensos. Descrever as intervenções de enfermagem coerentes com a situação de crise hipertensiva, com apoio na Classificação das Intervenções de Enfermagem (NIC), buscando a interface com o Modelo de Adaptação de Roy. Descrever as relações interpessoais de portadores de HA não aderentes ao tratamento e profissionais de saúde a partir do Sistema Interpessoal do Modelo Conceitual de Imogene King (1981). Aplicar e avaliar os conceitos da Teoria de Enfermagem do Déficit de Autocuidado de Orem na sistematização da assistência de enfermagem ao idoso hipertenso. Avaliar a Teoria do Deficit de Autocuidado de Orem (TDAC) em mulheres portadoras de hipertensão arterial. Verificar o alcance da Teoria de King (1981) às famílias de pessoas com hipertensão arterial sistêmica. Apreender os significados que a gestante portadora de DHEG atribui à transiçäo de saúde-doença diante da pluriversidade da vivência e cuidar da gestante portadora de DHGE, sob o enfoque educativo enquanto emergia, o significado expresso pelos discursos. Facilitar a adesão de um paciente hipertenso ao tratamento estipulando metas conjuntas Dissertação de Mestrado da UFMG 1998(13) Dissertação de Mestrado da UFPB 1996 (15) ARAÚJO, T. L. RESENDE, M. M. C. SILVA, A. S. baseado na Teoria de Alcance de Metas de King, Identificar os fatores que dificultam o controle da hipertensão arterial por seus portadores com base na Teoria de Alcance de Objetivos, de Imogene M. King. Desenvolver uma proposta assistencial de enfermagem para a gestante acometida da DHEG, mediante a aplicaçäo da Teoria das Necessidades Humanas Básicas de Horta, associada aos diagnósticos de enfermagem da NANDA. Inicialmente procurou-se verificar quais teorias de enfermagem os artigos estavam se referindo com maior freqüência. Dos 12 artigos trabalhados encontraram-se relações com cinco teorias de enfermagem em tais proporções: Imogene King (05), Dorothea Orem (05) e Callista Roy, Wanda Horta e Meleis com apenas um artigo. Foram analisados quais os objetivos dos artigos encontrados e quais revistas publicaram sobre o tema. O período com maior número de publicações foi de 2004 a 2006 com cinco publicações, seguido do período de 2000 a 2003 com quatro publicações e por fim de 1996 a 1999 com três publicações. Buscou-se também explicitar as teorias abordadas pelos artigos analisados nesse trabalho. A hipertensão é uma doença silenciosa que passa despercebida por anos em muitas pessoas, dificultando seu controle e seu tratamento. Sua cronicidade pode levar à drástica alteração no estilo de vida das pessoas, pelas restrições impostas no tratamento, exigindo forte cooperação do paciente (5). Para King a saúde é um ajuste continuo a estressores no meio ambiente por otimização dos recursos pessoais para alcançar um potencial máximo para viver. No modelo de King têm-se três sistemas em interação: pessoal, interpessoal e social, onde o sistema interpessoal compreende relações entre duas ou mais pessoas. Essas interações são comportamentos observáveis quando estão em presença mútua e é muito positiva no sentido de permitir uma relação de maior confiança entre as pessoas, fazendo com que passem de um momento de interação inicial a um de transação, no qual já há uma manifestação de um relacionamento mais estável (10). A interação paciente-enfermeiro deve ser aproveitada objetivando obter do paciente o seguimento do tratamento e o controle da pressão arterial (PA), pois como afirma a teoria, no processo interativo, dois indivíduos identificam metas e os meios para alcançá-las mutuamente. Quando uma pessoa inicia uma interação, acontece uma ação, depois uma reação e seu desenrolar vai mostrar se a interação evolui para transação. Para King, transação é o comportamento humano dirigido a metas, e acontecem nas situações em que os seres humanos participam ativamente em eventos, movimentos/ações para alcançar uma meta o que provoca mudanças no individuo (10). Outro fator importante para King é a comunicação entre paciente e enfermeiro, pois o cuidado de enfermagem envolve conhecimento e habilidades de comunicação com uma variedade de indivíduos, buscando alcançar metas. A dificuldade de comunicação entre pacientes e profissionais de saúde é perceptível, pois muitas vezes, não há um acordo entre eles em relação ao tratamento, ou seja, as preferências do paciente não são consideradas, dificultando a adesão (9). Nesta perspectiva, o sistema pessoal de KING apresenta-se como primeiro passo à compreensão do ser portador de hipertensão arterial. Para isto, faz-se necessário o conhecimento cerca dos conceitos referentes a tal sistema, pois estes poderão influenciar, de forma positiva ou negativa, na adesão do cliente ao tratamento, no caso, hipertensão arterial, como também serão úteis no entendimento dos sistemas interpessoal e social. (4) Essa teoria tem aplicação também junto à pacientes com outras doenças crônicas, que apresentam uma evolução lenta, o que pode desestimulá-los com relação ao tratamento. Trabalhar com metas pode encorajá-los a prosseguir, viabilizando uma forma de interação paciente-enfermeiro necessária à eficácia terapêutica e, com o apoio da família, esse encorajamento pode atingir o controle da doença, prevenindo complicações e dando-lhes condições de uma vida melhor. (10) Outra teoria utilizada no cuidado à pacientes com hipertensão arterial é a de Dorothea Orem, ou Teoria do Autocuidado. Esse modelo pode direcionar as ações assistenciais do enfermeiro e responder as necessidades do portador de doença crônica. A teórica considera a educação para o autocuidado, um processo dinâmico que depende da vontade do cliente e da percepção dele sobre sua condição clínica (1). Nessa teoria, os pacientes julgam se a ação de autocuidado é benéfica para eles, e esse julgamento ocorre de acordo com as orientações internas e/ou externas, que, por sua vez, são moldadas pela cultura em que os indivíduos vivem (1). O autocuidado consiste na execução de praticas que os indivíduos iniciam e executam por si mesmos para manter a vida, a saúde e o bem estar. Para que o cuidado flua, e necessário que os clientes tenham conhecimento acerca de sua patologia. E necessário, que o cliente hipertenso procure realizar mudanças em suas atividades diárias a partir do diagnostico firmado e nesse ponto atua a enfermagem realizando discussões com os clientes hipertensos acerca da necessidade de alterações no estilo de vida. (1) O enfermeiro também atua segundo a Teoria da Adaptação de Callista Roy, pois quando o cliente não aprende a viver com as limitações impostas pela doença crônica, ele tem dificuldades de adesão ao tratamento, o que pode levá-lo à descompensação do quadro clínico e a criar condições para a instalação de complicações, dentre as quais pode-se citar as crises hipertensivas caracterizadas pela manutenção da pressão arterial em níveis elevados (11). No Modelo Adaptativo de Roy, a pessoa é a receptora do cuidado de enfermagem, mas esta pessoa pode também ser um grupo, comunidade ou sociedade. O ambiente é entendido como todas as condições, circunstâncias e influências que circundam e afetam o desenvolvimento e comportamento de pessoas e grupos. Saúde é compreendida como um estado e um processo de ser e tornar-se uma pessoa total e integrada, enquanto as metas de enfermagem são vistas como a promoção de respostas adaptativas de pessoas nos quatro modos adaptativos. (11) A pessoa é considerada um sistema adaptativo formado pelos seguintes elementos: “input”, representado pelos estímulos internos e externos; “output”, constituído pelas respostas, controles e mecanismos de enfrentamento; e “feedback”, expresso pela retroalimentação. O modelo adaptativo descreve três tipos de estímulos internos e externos, isto é: focais, contextuais e residuais. Esses estímulos são responsáveis pelo estabelecimento dos níveis de adaptação do indivíduo em determinado momento, possuindo mecanismos inatos e adquiridos que respondem às mudanças ambientais. Os mecanismos inatos produzem respostas automáticas e inconscientes e os adquiridos, respostas conscientes e deliberadas. O processo adaptativo é influenciado pelo desenvolvimento de mecanismos de enfrentamento e a maneira como o indivíduo responde aos estímulos caracteriza seu comportamento (11). Acredita-se que a hipertensão, por ser definida como uma entidade multifatorial poderá causar inúmeros estímulos e, conseqüentemente, respostas das mais variadas ao portador. Com isso, percebe ser de extrema importância a aplicação desse modelo teórico, já que, no decorrer do tratamento da doença, é imprescindível a participação efetiva do cliente e a utilização de mecanismos de compensação aos estímulos que recebe. A Teoria das Necessidades Básicas de Wanda Horta defende que o foco do trabalho da Enfermagem “é levar o ser humano ao estado de equilíbrio, ou seja, à saúde, pelo atendimento de suas necessidades básicas, constituídas conceitualmente como problemas de enfermagem” (7). Considerando que as necessidades humanas não são constantes, as doenças crônicas, entre as quais a hipertensão arterial sistêmica (HAS), constitui desequilíbrios que impõem modificações no estilo de vida, exigindo readaptações ante a nova situação e estratégias para seu enfrentamento. Esse processo depende tanto da complexidade, gravidade e fase da doença, como das estruturas disponíveis para satisfazer suas necessidades e readquirir o estado de equilíbrio. Nesse sentido, no caso da HAS, grande ênfase tem-se dado às medidas não farmacológicas, de mudança no estilo de vida, para prevenção e controle dos níveis tensoriais elevados, que devem ser implementadas para todos os hipertensos, mesmo aqueles em uso de droga anti-hipertensiva(2). Nesse ponto cabe ao enfermeiro atuar proporcionando a manutenção das necessidades básicas do cliente portador de hipertensão arterial. Tais como qualidade de vida, sono adequado, atividades físicas, satisfação com o trabalho. Isso por meio de educação e planejamento. Meleis propôs uma teoria para servir de análise para outras teorias. Conhecida como teoria de transição. Para ela as transições são desenvolvimentais, situacionais ou de saúde-doença. A transição de saúde – doença inclui transições como mudanças súbitas de papel, as quais resultam ao mover-se de um estado de saúde para o de doença aguda, de bem – estar para doença crônica ou cronicidade. As transições são, portanto, componentes do domínio de enfermagem. É um conceito de interesse em enfermagem, é um “conceito centrais” a pesquisadores, profissionais assistenciais e teóricos uma vez que apresenta-se um novo paradigma. São mudanças muitas vezes dramáticas que estão atraindo a atenção para que os profissionais, especialmente o enfermeiro, desenvolvam novas perspectivas, reflexão e criatividade para a realidade presente, conduzindo a uma revisão na mentalidade e nos valores sociais. Nestes pontos vulneráveis é que os esforços devem ser intensificados no sentido de reorganizar os momentos transicionais (16). Meleis aponta para o desenvolvimento de intervenções de enfermagem diante dos processos transicionais pela utilização de teorias de enfermagem, as quais podem ser reafirmadas em termos de transição. Pela variedade de enfoques a transição relaciona-se ao cuidado de enfermagem, visa à prevenção e intervenção para cada caso específico de ocorrência, possibilita aos enfermeiros um enfoque inovador de cuidado. Aponta que o cuidado está ligado de alguma forma a cada estágio desenvolvimental, favorece a maturidade e crescimento em busca de maior equilíbrio e estabilidade. O cuidado diante da transição traz respostas à valorização do ser (16). Baseando-se na teoria de Meleis, cabe ao enfermeiro identificar tais transições para assim poder desempenhar melhor seu papel assistencial ao portador de hipertensão arterial, pois quando o paciente descobre a doença, este logo imagina as limitações que deverá enfrentar, visto que terá que modificar todo seu estilo de vida para prosseguir com o tratamento. Nesse momento entra a transição de um estado “são” para um estado patológico. Ao identificar essa transição, o enfermeiro atua junto aos pontos negativos num processo educativo e esclarecedor. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Viu-se que a hipertensão é uma doença crônica, que exige dos clientes conhecimento acerca da doença, estando estes dispostos a aderirem ao tratamento medicamentoso (terapia farmacológica correta) e não medicamentoso (participação de grupos de hipertensão, monitoramento da pressão arterial, mudanças no estilo de vida). Diante disto, as teorias de enfermagem oferecem embasamento teórico para utilização dos profissionais nas ações que irão ser realizadas, bem como define os papéis do profissional diante do paciente, melhorando a qualidade da assistência prestada. A atuação da enfermagem é específica e de suma importância, como é demonstradas na teoria do autocuidado proposta por OREM, dá-se de forma direta na assistência à portadores de HAS tanto na própria consulta de enfermagem e no monitoramento da pressão arterial, quanto na detecção precoce da patologia e dos fatores de risco, promovendo assim o cuidar especializado melhorando a qualidade de vida do portador de hipertensão arterial. Na prática, segundo literatura utilizada, vimos que há um descaso por parte dos profissionais de enfermagem na aplicação das teorias de enfermagem como instrumento do cuidar, visto que cada teoria propõe uma vertente de cuidado diferenciada a fim de melhorar a sua atuação na prestação de cuidados. Pode-se perceber, no entanto, que as pesquisas na área de teorias de enfermagem estão cada vez mais crescentes no meio cientifico principalmente nas áreas de atuação em patologias crônicas como é o caso da hipertensão arterial. Esse aumento nas pesquisas demonstra uma preocupação com a mudança na visão do cuidado de enfermagem para com as teorias, onde muitos estão demonstrando maior interesse em fundamentar suas técnicas. Com isso, ganha o paciente e o profissional, na qualidade do serviço recebido e na execução da assistência, respectivamente. REFERÊNCIAS 1. CADE, Nágela Valadão. A teoria do déficit de autocuidado de Orem aplicada em hipertensas.In: Rev. Latino-Americana de Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 9, n. 3, 2001. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010411692001000300007&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 05 Junho de 2008. 2. CASTRO, Maria Euridéia de; SOUSA, Vera Maria da Conceição Lopes de; ROLIM, Maysa Oliveira; XAVIER, Gleudson Alves. Necessidades humanas básicas afetadas pela hipertensão arterial e estilo de vida.In: Revista Brasileira de Promoção em Saúde. 16 (1/2): 21-27, 2003. Disponível em: http://www.unifor.br/hp/revista_saude/v16/artigo4.pdf 3. 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