Controle comportamental: Religião

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Controle comportamental:
Religião
“Não há razão de nos quedarmos perplexos ante o fato de que o principio básico através do qual um
governo eficiente “mantém a paz” se exemplifique em circunstâncias muito menos admiráveis pelo uso
que o fanfarrão ou o bandido faz de seu poder de punir. ”
B.F.Skinner (1979)
Skinner interpreta sua idéia de controle comportamental por meio da religião definindo essa como
agência, que na prática se define como as correntes religiosas, igrejas e toda sorte de “Leis” que regem
o comportamento moral e espiritual do indivíduo. Podem ser desde um feiticeiro em uma tribo, que
realiza sortilégios e curandeirismo, como grandes impérios mundiais em forma de uma vasta rede de
templos ou igrejas.
Geralmente, termos como “superstição” e “magia” são aversivos por que associam-se comumente à
exploração com fins egoístas ou com comportamentos ineficientes e pobremente organizados.
Entretanto, não há distinção absoluta entre uma resposta supersticiosa e uma resposta não
supersticiosa. O condicionamento respondente é muito evidente nestes contextos, um estímulo neutro
que, por acaso, acompanhe um evento assustador, geralmente é o suficiente para evocar uma resposta
emocional, de forma que o efeito pode sobreviver por longo tempo, a despeito repetidas apresentações
do estímulo neutro desacompanhado. O comportamento verbal tem uma probabilidade especial de
mostrar essa pespecia de “mágica” por causa da falta de uma conexão mecânica entre resposta e
reforço. Por exemplo, uma criança que tenha obtido sucesso ao dizer a pessoas que parassem, pode
gritar : “Pare” à uma bola.
Um protótipo de controle religioso se origina quando se usam contingências raras ou acidentais para
controlar o comportamento de outros. Por exemplo, podemos censurar alguém por um evento infeliz
que não foi realmente resultado de seu comportamento. “Se você não tivesse se atrasado, não teríamos
sofrido esse acidente”. A finalidade de quem censura é evitar futuros atrasos, utilizando o evento como
punição, mesmo que na pratica o indivíduo não tenha influenciado nas contingências. A partir de então,
é um pequeno passo até a alegação de que se tem habilidade para arranjar essas contingências. Este é o
princípio subjacente à feitiçaria.
Também é possível afetar o comportamento de outros utilizando conseqüências reforçadoras acidentais
de um tipo positivo, como por exemplo, “Se você não tivesse seguido meu conselho, não teria essa
agradável surpresa.” Daí a alegar a capacidade de trazer “boa sorte” também vai a um passo. Inclusive,
essa alegação pode ser usada para se convencer a pessoa de lhe conceder favores, pagar valores e
similares. Talismãs, por exemplo, tem um valor irrisório quando se convence o comprador de seu poder
de mediar reforços positivos.
Esses procedimentos egoístas parecem diferir muito do das agências religiosas organizadas, mas as
mesmas técnicas parecem exemplificadas. Em um sentido mais prático, a agência religiosa se deriva de
uma apregoada conexão com o sobrenatural, afetando o futuro imediato do indivíduo, ou ainda a
benção eterna ou o castigo na vida por vir. Estes alegam capazes de intervir sobrenaturalmente.
Técnicas de controle religioso
A técnica principal é uma extensão do controle do grupo governamental, isto é, classifica-se o
comportamento, não simplesmente como “bom” e “mal”, “legal” ou “ilegal”, mas como “moral” e
“imoral” ou ainda “virtuoso” e “pecaminoso”. O indivíduo é então reforçado ou punido, de acordo com
suas ações.
As descrições tradicionais de céu e inferno condensavam reforços positivos e negativos, de forma que
observa-se uma forte ligação com aspectos culturais. Para um povo que depende da floresta e do campo
para sobrevivência, o Céu é um feliz campo de caça. Para o infeliz é o alívio da dor e da tristeza, o
reencontro com amigos e entes queridos já falecidos. No aspecto oposto, nota-se uma vasta diversidade
de idéias, como pode ser observada no “Inferno de Dante”, onde encontram-se reforçadores
característicos de ambientes sociais e não sociais.
É clara a superioridade da influência de “Céu” e “Inferno” em comparação ao “bom” e “mal” ou “legal”
e “ilegal”, mas isso depende de quão eficientemente certos reforçadores verbais são condicionados,
particularmente a promessa de Céu e a ameaça de Inferno.
Todavia, a relação entre a agência e os fiéis, ou entre Deus e o homem, não muito difere das relações
entre um rei e seus servos, ou um comandante militar e seus homens, reforçando a idéia de que as
contingências primárias não diferem grandemente das usadas no controle ético e governamental.
Comportamento virtuoso traz uma promessa de Céu ou o alívio do Inferno, essa ultima, particularmente
poderosa. A agência provê uma fuga dessa condição aversiva através da expiação ou absolvição e assim
é capaz de fornecer um poderoso reforço ao comportamento piedoso.
Existem ainda outras técnicas de controle religioso, a medida que a agência passa a controlar outras
variáveis. Por exemplo, pode enriquecer financeiramente e finalmente operar através do controle
econômico, ou então treinar e manter educadores, para então conseguir controle educacional.
Exemplifica-se o uso da restrição física pelo encarceramento, como no tratamento dado às mulheres em
países muçulmanos.
As agências religiosas mais provavelmente favorecem a censura, por que essas medidas reduzem a
ocasiões para o comportamento pecaminoso. A saciação e a privação também são manipuladas. São
Paulo defende o casamento como uma medida que reduz o comportamento licencioso, da mesma
forma que podem utilizar-se de jejum e regimes de exercícios para que alcancem seus propósitos.
A arte, a música e os espetáculos religiosos geram fortes respostas emocionais, que são transferidas
para estímulos verbais ou não-verbais, que mais tarde são usados pela agência com propósitos de
controle.
Existem também outros tipos de agências religiosas. Ela pode aceitar a existência de eventos
reforçadores sobrenaturais – como o céu e o inferno – mas pode pretender apenas ser capaz de
prescrever um curso de ação ao qual eles são contingentes, em outras palavras, a obtenção do céu ou
do inferno depende apenas do indivíduo. A agência auxilia o fiel, não pela manipulação de contingências
de reforço, mas tornando certas contingências reais ou alegadas mais eficientes. A agência passa então
a desempenhar um papel de conselheiro ou professor, demonstrando certas contingências entre “bom”
e “mau” comportamento e conseqüências naturais. Essas agências geralmente não dispõe de templo ou
congregação bem definida.
O comportamento controlado pela agência religiosa
O comportamento que vem a ficar sob controle, depende do tipo de agência. Para o curandeiro que usa
sua mágica para seu próprio engrandecimento, o comportamento “devoto” é simplesmente qualquer
comportamento que o reforce. Já uma agência religiosa bem desenvolvida, que deriva seu poder do
grupo, pode controlar muito de acordo com os procedimentos desse grupo.
Onde o comer e o beber talvez sejam restringidos pelo reforço ético, apenas quando funcionam como
desvantagem momentânea para outros, o controle religioso pode estabelecer limites muito mais
estreitos classificando a gula como um pecado mortal e a temperança como uma virtude cardinal.
Encorajar a castidade e o celibato como um programa geral e tolerar o comportamento sexual no
casamento apenas com propósito de procriação. Comportamento aquisitivo ou possessivo pode ser
totalmente suprimido, não importando as circunstancias, pela agência religiosa que exige voto de
pobreza ou intima o fiel a não acumular tesouros na terra.
Por outro lado, o comportamento que beneficia outros é promovido. Encoraja-se o amor ou a caridade
como uma disposição para favorecer outros, e o crente se convence de que é o guardião de seu irmão e
que deve dar tudo o que tem para os pobres. A consciência religiosa ou o superego freqüentemente fala
em voz mais alta que a ética. Algumas vezes impõe-se medidas extremas de autoproibição. Dietas
restritas e períodos de jejum, bem como empenhar-se em certos exercícios ou adotar certas posturas,
ou ainda tomar certas drogas – tudo por causa da mudança que resulta em suas disposições para agir de
modo virtuoso ou pecaminoso. A “tentação”, por exemplo, engloba todos os estímulos que levam ao
comportamento pecaminoso.
Explicação da agência
As relações controladores que mantêm a agência religiosa unificada como uma unidade eficiente não
explicam a forma final de controle, nem explicariam a agência que tem um só membro. Para explicar a
existência e a manutenção da agência como um todo voltaremos às variáveis externas. Se a agência
serve ao grupo ampliando o controle ético, pode ser explicada pelo apoio que o grupo lhe dá. O agente
religioso pode ser pago pelo grupo, pode ser destinado a comandar por que o grupo aprova isso como
um “direito”, ou ainda pode ser coagido a trabalhar para agência por que qualquer outro curso de ação
seria punido como “errado”.
Quando se condiciona para evitar a tentação, seus esforços podem ser tão extensos que afetem
também outras pessoas. Freud chamou esse resultado de “formação de reação”. Se o comportamento
do indivíduo nesse respeito se assemelha ao controle religioso, ele pode simplesmente se juntar à
agência.
Contracontrole
Uma agência deve sempre operar dentro de certos limites práticos. Pode existir um conflito entre
agências que tentam controlar as mesmas pessoas, e também com agências governamentais que tem
programa diferente de controle. Muitas vezes o com trole religioso se opõe as agências econômicas e
educacionais.
Existe também o limite interno. Este é imposto pela medida em que o controlado se submete ao
controle. Tanto as agências religiosas, quanto as demais, algumas vezes usaram seu poder para
vantagens pessoais ou institucionais. Construir organizações e acumular riquezas são algumas delas.
De tempos em tempos, isso tem dado origem a medidas de contracontrole que teriam por objetivo,
restringir o âmbito da agência. O controlado religioso simplesmente pode deixar a esfera de controle da
agência, pode questionar a realidade das contingências alegadas, pode atacar a agência estabelecendo
uma agência rival, e assim por diante.
Justificação do controle religioso
A justificação do controle é uma parte importante do estudo da Teologia. Um procedimento particular
pode ser recomendado por que eleva ao máximo entidades como a salvação, ou a glória de Deus. Essas
justificação notavelmente estão além do domínio da ciência. Uma análise das técnicas permite-nos
explicar o comportamento de ambos os lados, isto é, controlador e controlado, sem levantar a questão
de qualquer efeito final.
Quando um procedimento religioso não apela para eventos sobrenaturais, sua justificação tradicional se
assemelha a do controle ético.
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