INDICADORES PARA A QUALIDADE NA GESTÃO ESCOLAR E

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INDICADORES PARA A QUALIDADE NA GESTÃO ESCOLAR E ENSINO
Heloísa Lück
Coordenadora Nacional da RENAGESTE-CONSED
Diretora Educacional do CEDHAP – Centro de Desenvolvimento Humano Aplicado
- Curitiba
Professora do Curso de Mestrado em Educação da PUC-PR
Temos identificado que a gestão escolar é eficaz quando os dirigentes, ao
liderarem as ações da escola o fazem orientados por uma visão global e
abrangente do seu trabalho. Para tanto, é necessário que o dirigente conheça
quais são os aspectos que, em conjunto, favorecem o desenvolvimento da escola
e da qualidade de suas ações.
Com o objetivo de identificar esses fatores, têm sido realizadas pesquisas
por organismos internacionais e universidades responsáveis pela formação de
dirigentes escolares. Este artigo objetiva apresentar fatores que têm sido
identificados, mediante tais pesquisas sobre qualidade do ensino e da gestão
escolar, em todos os continentes do mundo, como sendo os indicadores mais
importantes da sua qualidade e eficácia ( Beare, Caldwell e Millikan, 1994; Ward e
Craig, 1995). Cremos que, ao apontar tais indicadores, estamos contribuindo para
a disseminação de uma concepção que é o próprio cerne da gestão: a adoção de
uma visão global e abrangente sobre os elementos que garantem a qualidade do
ensino, para atacá-los a todos em conjunto, de modo a promover um avanço
consistente na transformação de nossas escolas e melhoria da aprendizagem de
nossos alunos.
O dirigente escolar, responsável pela promoção da efetividade da escola,
certamente se interessa por conhecer e refletir sobre esses indicadores.
INDICADORES DE ESCOLAS EFETIVAS
Os fatores que determinam a efetividade da escola são múltiplos,
complexos e dinâmicos e estão intimamente interligados a fatores contextuais,
sendo dificil generalizar a respeito e determinar objetiva e precisamente o seu
efetivo papel na qualidade do ensino. No entanto, tem sido possível identificar, na
variação de escolas e de sistemas de ensino, em dezenas de países com as mais
variadas características culturais, que certas características estão mais
intimamente associadas ao seu sucesso e que promovê-las constitui-se em
condição orientadora do trabalho de gestão escolar.
A gestão escolar se assenta sobre o desenvolvimento de fundamentação
teórico-metodológica específica, sobre visão global da problemática da educação
e da escola, sobre compreensão da experiência em desenvolvimento na área. Sua
orientação é o desenvolvimento de escolas efetivas, capazes de promover
resultados significativos na formação de seus alunos.
Observando-se escolas efetivas, verifica-se que o seu maior objetivo é a
melhoria do desempenho de aprendizagem de seus alunos. Escolas de sucesso
são, pois, aquelas cujos alunos têm melhor desempenho acadêmico, e que se
transformam continuamente para acompanhar as mudanças do mundo
tecnológico e científico, atualizando o seu currículo. Os fatores mais comumente
associados a esse sucesso são: liderança educacional, flexibilidade e autonomia,
clima escolar, apoio da comunidade, processo ensino aprendizagem, avaliação
do desempenho acadêmico, supervisão de professores, materiais e textos de
apoio pedagógico, espaço adequado. Os mesmos serão descritos brevemente a
seguir.
Liderança educacional
A liderança efetiva da direção da escola e não a sua atitude de controle e
cobrança é um fator primordial na qualidade da gestão e do ensino. Dirigentes de
escolas eficaz são líderes, estimulam os professores e funcionários da escola,
pais, alunos e comunidade a utilizarem o seu potencial na promoção de um
ambiente escolar educacional positivo e no desenvolvimento de seu próprio
potencial, orientado para a aprendizagem e construção do conhecimento, a serem
criativos e proativos na resolução de problemas e enfrentamento de dificuldades.
O exercício dessa liderança, pelo dirigente demanda o desenvolvimento de
habilidades específicas e a transformação do sentido do seu trabalho.
Flexibilidade e autonomia
A superação de moldes rígidos de administração, ditados centralmente e o
desenvolvimento de esquemas de ação abertos, flexíveis e determinados
localmente na escola constituem-se em condição para a melhoria da qualidade do
ensino. Isto porque é reconhecido que escolas competentes são aquelas cuja
comunidade interna e externa assumem responsabilidade pelo seu destino e suas
ações.
Portanto, a devolução da autoridade na tomada de decisão, para os
participantes locais, é considerada como base para o seu envolvimento na
efetivação das decisões transformadoras das práticas escolares. Esta autonomia
é, no entanto, conquistada pela competência dos participantes da escola em
assumir tais responsabilidades.
Apoio da comunidade
Observou-se que as escolas eficazes apresentam um elevado espírito de
integração com a comunidade, de modo não só a envolvê-la no processo de
decisão da escola, a fim de constituir uma gestão democrática e participativa, mas
também de modo a tornar o processo ensino-aprendizagem mais ativo,
atualizado e integrado.
O apoio da comunidade é efetivo, quando ocorre num ambiente de
interação entre a comunidade e o pessoal da escola, de tal maneira que atuem em
conjunto e em associação como elementos de apoio da aprendizagem e da
própria gestão da escola e não apenas como apoiadores para a melhoria das
condições materiais e financeiras da escola. O apoio da comunidade para as
questões nutricionais e de saúde dos alunos tem demonstrado ser extremamente
importante, na promoção de aprendizagem dos alunos, assim como o reforço no
desenvolvimento de valores positivos nos alunos.
Clima escolar
O clima escolar envolve aspectos como expectativas dos professores em
relação aos alunos; da diração e equipe técnico-pedagógica em relação a
professores, atitudes positivas dos professores; ordem e disciplina e sistema de
incentivos e premiações para os alunos.
Esses aspectos determinam o modo de ser e de fazer da escola que é, por
si, pedagógico. Vivenciando um clima escolar positivo na escola como um todo,
orientado para a superação positiva de desafios, os alunos aprendem
comportamentos importantísssimos para o seu desenvolvimento como cidadãos.
Processo ensino-aprendizagem.
Pesquisas têm revelado que escolas eficazes são aquelas em que os
alunos e professores maximizam o tempo dedicado à aprendizagem, de modo a
evitar o desperdício de tempo em atividades de pouco valor formativo e
informativo. Também nelas ocorre a variação de estratégias de ensinoaprendizagem, a realização e acompanhamento regular de tarefas de casa e
freqüente avaliação e feedback para os alunos. Os alunos sabem o que é
esperado deles, recebem orientações específicas e são acompanhados
continuamente no que fazem.
Estas são, portanto, condições a receberem contínua atenção dos
dirigentes da escola.
Avaliação do desempenho acadêmico
A avaliação dos resultados de aprendizagem tem sido identificada como
forte elemento associado à melhoria da qualidade do ensino que ocorre nas
escolas eficazes, uma vez que apenas mediante essa avaliação é possível
garantir eficácia do trabalho da escola. Essa avaliação é realizada com objetivo
de determinar a eficácia do ensino, da escola e da ação dos professores, visando
a correção de modos ineficazes de ação e a sua substituição por procedimentos
que produzam melhores resultados de aprendizagem dos alunos.
Portanto, não tem nada a ver com a avaliação de caráter burocrático,
comumente praticada, pela qual os alunos como pessoa é que são avaliados.
Supervisão de professores
Nas escolas eficazes, seus dirigentes exercem supervisão do trabalho dos
professores, entendida como um processo de observação, feedback, apoio e
orientação da melhoria do desempenho professional. Ela é eficaz quando se
dedica à promoção desse desenvolvimento cotidianamente, bem como à contínua
atualização e melhoria dos processos educacionais adotados em cada sala de
aula, em cada espaço educacional e em cada momento pedagógico. Ela envolve a
capacitação em serviço pelos professores que, ao trabalhar reflexivamente,
desenvolvem habilidades competências e conhecimentos profissionais.
Materiais e textos de apoio pedagógico
Em escolas eficazes os alunos dispõem de materiais pedagógicos para
ilustrar as aprendizagens que desenvolvem. Esses materiais não precisam ser
sofisticados, mas sim ilustrativos e criativos. Muitos desses materiais são
produzidos pelos próprios alunos e algumas vezes a partir da transformação de
sucata.
A alocação de materiais e textos de apoio deve ser associada à
capacitação e criatividade para seu uso. Do contrário, corre-se o risco de que
eles sejam sub ou mal utilizados.
Espaço físico adequado
Grande parte da melhoria do espaço físico ocorre com a participação da
comunidade, e ela tem a ver com a sua limpeza, adequação ao tipo de atividades
pedagógicas, como também ao uso pleno das mesmas. Escolas eficazes não são
necessariamente grandes, mas aquelas que utilizam de forma criativa o seu
espaço, formando ambientes especiais para leitura, ambiente para
representações, etc. Estes ambientes são os mesmos espaços regulares da
escola, mas transformados mediante artifícios psicológicos e de disposição de
móveis, figuras, etc.
AÇÕES PARA A PROMOÇÃO DA MELHORIA DA GESTÃO
Pesquisas educacionais internacionais têm identificado que as escolas que
mais melhoram, além de cuidarem dos aspectos anteriormente mencionados,
orientam seu trabalho no sentido de:
1. Estabelecer metas para a melhoria objetiva da aprendizagem, do desempenho
de seus alunos e das condições para promovê-la.
Qualidade é um conceito subjetivo e amplo, que se manifesta objetiva e
especificamente - em vista disso, a escola e os professores, mediante a liderança
de seus dirigentes, devem estabelecer metas de melhoria a ser realizada em um
período de tempodeterminado. Definições operacionais do que se espera
construir com e no processo ensino-aprendizagem é imprescindível para se obter
resultados positivos, bem como é necessário definir o conhecimento e as
habilidades que as crianças devem dominar em cada estágio de sua
escolaridade.
Como a elevação do tempo em processos de aprendizagem se constituem
em fator de melhoria de ensino, pode-se colocar como indicador da elevação da
qualidade, a elevação do seu emprego em tarefas úteis, eliminado-se o tempo
gasto em processos burocráticos, como por exemplo: a chamada escolar,
adotando-se outros meios mais eficazes para registrar a presença dos alunos; as
atividades discentes orientadas para a resolução de problemas e não para a
repetição de informações.
2. Melhorar e aumentar a capacidade de mobilização de pessoas em torno da
educação, sejam professores, pais, alunos e comunidade.
Também este objetivo deve ser traduzido por metas, com indicadores claros
de sua efetivação, como por exemplo: aumento em 40% da participação dos pais
na reuniões da escola. É imprescindível para isso adotar uma atitude receptiva
aos pais, ouvi-los primeiro, fazê-los sentir-se à vontade na escola. Chamá-los para
ouvir reclamações dos filhos só os afasta.
3. Comprometimento com o desenvolvimento de programas de alcance a médio e
longo prazo.
A gestão da escola é responsável por imprimir no estabelecimento de
ensino uma visão de horizontes largos, que extrapole a tendência a ações reativas
e imediatistas comumente empregadas no cotidiano escolar. É fundamental que
quem trabalhe na escola tenha uma visão de futuro a respeito de seu trabalho,
que perceba que o que faz tem desdobramentos futuros muito importantes e os
visualiza positivamente.
4. Melhorar a mobilização e utilização eficaz de recursos para a educação.
Muitas vezes sai-se atrás de novos recursos e condições para o trabalho,
sem se ter aproveitado os recursos e condições presentes, o que, por si só, é antipedagógico. Os alunos e professores estão aproveitando os poucos livros que a
escola tem? O espaço escolar é bem aproveitado o ano inteiro?
5. Desenvolvimento de sinergia coletiva e espírito de equipe.
A escola não pode ser melhor do que o conjunto integrado de seu potencial.
Dessa forma, a liderança do diretor escolar, quando efetiva, está continuamente
voltada para a minimização de arestas eventuais que surgem em decorrência de
relações interpessoais mal orientadas, e para a construção de uma produtiva
sinergia de trabalho compartilhado.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BEARE, Hedley; CALDELL, Brian J. e MILLIKAN, Ross H. Creating an excellent
school. London: Routledge, 1994.
WARD, Heneveld e CRAIG, Helen. School count: World Bank project designs
and the quality of primary education in Sub-Saharan Africa. Washington:
World Bank, 1995.
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