MAEDI-VISNA EM UMA OVELHA: RELATO CASO Lucas Scorsim, Margarete kimie Falbo (orientadora), Carlos Eduardo dos Santos, Cesar Augusto Pospissil Garbossa, Bruno Pasqual Palavras-chave: maedi-visna; lentivirus; ovinos. Resumo O lentivírus de pequenos ruminantes (SRLV), cujos protótipos são os vírus da Artrite-Encefalite Caprina (CAEV) e Maedi-Visna, são patógenos amplamente distribuídos, os quais causam doenças degenerativas progressivas lentas em caprinos e ovinos, determinando importantes perdas econômicas. Objetivou-se neste trabalho relatar os aspectos clínicos e laboratoriais de um caso de Maedi-Visna em uma ovelha, mestiça Ile de France com Corridale. Introdução Os pequenos ruminantes podem ser infectados por um grupo de lentivírus, genericamente denominados de Lentivírus de Pequenos Ruminantes (SRLV), que compreende vários isolados distribuídos, basicamente, em dois grupos filogenéticos, cujos protótipos são os vírus Maedi-Visna (MVV) e Artrite-encefalite-Caprina(CAEV) (CASTRO et al. 1999, VALLAS et al. 2000). Inicialmente Maedi-Visna foi reconhecida como duas entidades distintas. Os dois nomes são de origem islandesa: Maedi, que significa dispnéia, caracterizada por pneumonia intersticial progressiva crônica e Visna, que significa desorientação. Caracterizada por leucoencefalomielite (DAWSON, 1980). Estudos comparativos revelaram que tanto Maedi quanto Visna eram doenças causadas pelo mesmo vírus, originando assim a denominação Maedi-Visna (THORMAR 1965, THORMAR & HELGADOTTIR, 1965). Entre os ovinos a transmissão ocorre por via digestiva, através de colostro e leite contaminados, e por via respiratória, mais freqüentemente nos períodos de confinamento (CUTLIP et al. 1988, CONCHA-BERMEJILLO 1997). Os vírus Maedi-Visna e da pneumonia progressiva ovina induzem a uma infecção persistente em ovinos que pode causar modificações linfoproliferativas no pulmão, tecidos mamários, cérebro e articulações. A maioria dos ovinos com sinais clinicos encontra-se com mais de três anos de idade. A infecção subclínica das ovelhas reprodutoras é associada a uma redução na taxa de concepção, bem como reduz os pesos ao nascimento em alguns rebanhos, diminuindo as taxas de crescimento em seus cordeiros. A redução na taxa de crescimento do cordeiro possui significativa associação com as modificações no úbere da ovelha e provavelmente resulte da ingestão reduzida de leite (RADOSTITS et al, 2002). O diagnóstico é baseado na detecção de anticorpos para SRLV, geralmente por imunodifusão em gel de agar (AGID) e enzyme linked immunosorbent assay (ELISA). O diagnóstico e separação ou descarte dos animais soropositivos associado ao uso de certas práticas de manejo, especialmente das crias, são os principais meios para prevenir a disseminação de SRLV, uma vez que ainda não existe vacina contra o vírus. As estratégias adotadas pelos SRLV para enfrentar o sistema imune dificultam o diagnóstico da infecção, controle ou prevenção da disseminação de SRLV (CALLADO et al., 2001). A importância econômica da doença repousa nas perdas associadas à longevidade diminuída, mortalidade com doença clínica, valor reduzido dos animais descartados e possíveis efeitos da infecção subclínica na produtividade. O objetivo deste trabalho foi relatar um caso clínico de Medi-Visna em uma ovelha lactente. Relato do caso Uma ovelha lactente, mestiça Ile de France com Corridale, apresentou sinais clínicos como apatia, hiporexia, emagrecimento progressivo, perda de lã, mastite unilateral, dispnéia e taquipnéia durante manejo. Foi realizado hemograma (Tabela 1), onde foram colhidos 5 mL de sangue, através da punção da veia cefálica e acondicionada em um tubo estéril contendo o anticoagulante sal dissódico do ácido diamninotetracético (EDTA) a 10% , conforme técnica descrita por Schalm (1986). Devido aos sintomas clínicos apresentados, suspeitou-se tratar da patologia Maedi-visna sendo então colhidos 5 mL de sangue em um tubo estéril sem anticoagulante, para realização exame sorológico de ELISA para detecção de anticorpos contra Maedi Visna. Resultados e Discussão Os sinais clínicos apresentados neste relato concordam com os de encontrados por Pereira (1995), que relatam que a forma pulmonar é muito freqüente e grave em ovinos. Com relação à mastite, o animal descrito se encontrava no quarto mês de lactação, fato que confirma os achados de Peretz et al. (1993) que a mastite se instala durante a lactação com assimetria e endurecimento da mama, e leite de aspecto normal descrevendo a forma crônica como a mais freqüente em ovelhas. O hemograma apresentou os seguintes resultados (Tabela 1): Tabela 1 – Valores do hemograma de uma ovelha, mestiça Ile de France com Corridale, com suspeita de Maedi-Visna: Hemoglobina Hematócrito Hemácias Leucócitos Segmentados Eosinófilo Linfócitos (g/dL) (%) ------------------------------ (cels/mm3) ----------------------------14,3 43 9,1 x 106 5,3 x 103 3280 53 1960 Segundo Schalm et al. (1986) os animais infectados pelo vírus Maedi-Visna apresentam leucopenia, ficando a média entre 3,0 a 4,5 x 10 3 / µL com uma inversão na proporção neutrófilo-linfócito (60% ou mais neutrofilos na contagem diferencial). Neste trabalho, a contagem de leucócitos está dentro da normalidade (Coles, 1986), mas observamos esta inversão relatada por Schalm et al., (1986), ficando a razão 62% neutrófilos: 37% linfócitos. O diagnóstico sorológico feito pelo método ELISA, foi confirmado para a doença Maedi-Visna. Segundo Callado et al., 2001, como é uma patologia de característica crônica e persistente, a sorologia é ainda a forma mais prática de diagnóstico, pois a presença de anticorpos detecta indiretamente a presença de infecção. O diagnóstico, a separação ou descarte dos animais soropositivos associado ao uso de certas práticas de manejo, são os principais meios adotados para prevenir a disseminação de SRLV, uma vez que ainda não existe vacina contra o vírus. Conclusão A partir dos resultados sugere-se que a patologia Maedi – Visna pode ser um indicativo da presença do vírus nas criações de ovinos. Associando-se a observação e descrição do caso clínico ao resultado do hemograma, permitiu suspeitar da doença, pois não revelam dados suficientes para confirmação do diagnóstico, sendo necessário o exame sorológico para detecção de anticorpos. Referências CASTRO, R.S.et. al. Conserved sequence motifs involving the tat reading frame of Brazilian caprine lentiviruses indicate affiliations to both caprine arthritis-encephalitis virus and visna-maedi virus. J. Gen. Virol., 80:1583-1589, 1999. CONCHA-BERMEJILLO A. De la Maedi-visna and ovine progressive pneumonia. Vet. Clin. North Am.: Food Anim. Pract. 13:12-33,1997. CUTLIP R.C.,et al. Ovine progressive pneumonia (maedi-visna) in sheep. Vet. Microbiol. 17:237-250. 1988 DAWSON M. Maedi/Visna: a review. Vet. Rec. 106:212-216, 1980. GREENWOOD, P.L.. Effects of caprine artrhitis-encephalitis virus on productivity and health of dairy goats in New South Wales, Australia. Prev. Vet. Med. 22:71-87, 1995. OIE/FAO. 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