ELETROCARDIOGRAMA Por Carolina Isidoro O ECG funciona pela teoria do dipolo avaliando as cargas elétricas geradas pela passagem de elétrons no sistema especializado de condução do coração a cada instante. Regiões de maior massa apresentarão uma maior carga e logo terão uma descrição maior no eletro sendo possível comparar diferentes áreas (por exemplo, VE e VD). O coração apresenta um sistema especializado de condução e outro de contração. O sistema de condução visa conduzir o impulso rapidamente para que todas as áreas do coração despolarizem de modo sincrônico permitindo assim a contração rítmica. Se uma célula despolarizasse de cada vez a contração não teria a força necessária para impulsionar o sangue para o organismo. Sistema especializado de condução: o nodo sinusal, localizado na parede superior póstero-lateral do AD, é quem gera o impulso rítmico normal. O potencial de repouso da fibra do nodo sinusal tem negatividade máxima de -55mV a -60 mV, sendo portanto mais fácil excitar essas fibras. Essa membrana é mais permeável ao sódio e por isso é menos negativa. Assim, ocorre uma auto-excitação devido a esse vazamento constante de íons sódio. Quando a célula atinge a polaridade de -40mV, os canais lentos de sódio/cálcio se abrem e esses íons entram na célula gerando um PA. Esse vazamento de íons sódio não promove a despolarização permanente porque os canais de sódio/cálcio se fecham junto com a abertura dos canais de potássio que faz com que ocorra uma saída grande de cargas positivas gerando a negatividade de -55mV na célula. Logo, os canais de potássio se fecham e o ciclo recomeça. Embora outras regiões sejam capazes de se auto-excitar, quem dita o ritmo cardíaco é o nodo sinusal, pois ele é quem tem capacidade de gerar PA mais rápidos fazendo com que esses PA’s cheguem as demais fibras antes que elas possam se auto-excitar. As fibras do nodo sinusal conectam-se às fibras atriais vizinhas e desse modo o estimulo é rapidamente conduzido por todo átrio. Além disso, o nodo SA também se comunica com os feixes internodais que apresentam fibras de condução especializadas (fibras de Purkinje) e rapidamente conduzem o impulso ao nodo AV. O impulso sofre um pequeno atraso na passagem dos átrios para os ventrículos para que haja tempo dos átrios esvaziarem seu conteúdo nos ventrículos. Portanto, a contração atrial deve ocorrer antes da contração ventricular. O nodo AV e seus feixes penetrantes que promovem esse atraso na transmissão do impulso devido à redução das junções comunicantes entre as células dessas fibras. Daí o impulso chega as fibras de Purkinje que o conduz rapidamente até o ventrículos pelos dois feixes: o esquerdo e o direito. Algumas arritmias são devidas a anormalidades dessas fibras de condução. Por exemplo, o bloqueio AV ocorre quando a passagem do estímulo do átrio para o ventrículo é mais retardada que o normal, de modo que a contração sincronizada seja perdida. Já nos bloqueios de ramo ocorre perda de sincronia entre o VE e o VD. AS ONDAS DO ECG 1) Onda P é causada pela despolarização dos átrios. Logo, é a primeira onda visto que átrios se despolarizam antes dos ventrículos. 1 2) Complexo QRS é causado pela despolarização dos ventrículos. 3) Onda T é a onda de repolarização dos ventrículos. 4) Não há representação de uma onda de repolarizaçao atrial visto que este evento ocorre junto com a despolarização ventricular, porém como os ventrículos apresentam maior massa a sua despolarização tem maio impacto. Para juntar essas ondas deve haver uma linha de base. Se medir o intervalo que vai do inicio da onda P até o complexo QRS, isso indica a dificuldade que o estimulo tem desde que nasceu do átrio ate chegar ao ventrículo. O lugar que mais atrasa é no nódulo AV e isso vai ser chamado de intervalo PR (passagem do estímulo do átrio para o ventrículo) que não avalia o que esta no ventrículo que é o QRS que ainda não começou. No caso de um paciente que tem um BAV, dificuldade da passagem do estimulo do átrio para o ventrículo, o intervalo PR estará aumentado no ECG. No caso de uma paciente com o bloqueio de ramo que esta lá no ventrículo, ou ramo esquerdo ou direito, há uma dificuldade no estimulo dentro do ventrículo e o QRS alarga. Ao observar um ECG de um paciente com o coração normal e alargado o paciente tem um bloqueio de ramo e tem que saber se é direito ou esquerdo. Se há um aumento do ventrículo, há um aumento da massa de células e com isso há um aumento da quantidade de vetores. Com isso o QRS aumenta principalmente a amplitude do que a duração. Dessa forma, um QRS de grande amplitude indica uma hipertrofia. QRS alargado e de duração maior o paciente tem um BAV. A onda P pode sofrer duas alterações: aumento da amplitude e da duração. Como a despolarização do AD ocorre antes da despolarização do AE essa onda poderia ser dividida pela metade sendo a primeira parte representando o AD e a segunda o AE. Uma hipertrofia de AD seria notada pelo aumento da amplitude da onda P, já que a despolarização do AD levaria mais tempo e a sua onda somaria-se a onda de AE. Já o alargamento da onda P demonstra hipertrofia de AE já que haveria um retardo na despolarização de AE. Para ligar o QRS a onda T há um segmento importantíssimo que é o ST que se estiver acima da linha de base é chamado de supra-segmento ST e abaixo é infrasegmento ST. Isso é importante, pois tem relação com os segmentos isquêmicos que deve ser procurado se há alteração nesse segmento (infra ou supra) e na onda T. A repolarização é muito mais alterada do que a despolarização nos processos isquêmicos, visto que a repolarizaçao é dependente de energia (funcionamento das ATPases). VETORES, DERIVAÇÕES E EIXO ELÉTRICO. Vetores de despolarização ventricular: o impulso cardíaco chega primeiro aos ventrículos pelo septo e depois se propaga para as superfícies internas do restante dos ventrículos. Com isso o estimulo elétrico é iniciado na área septal esquerda e vai em direção à direita, originando o primeiro vetor. Há a despolarização da parede do VD e VE ao mesmo tempo ocasionando um vetor resultante voltado para a região de maior massa, que é a esquerda, originando o segundo vetor. Finalmente, despolariza as partes basais do ventrículo, originando terceiro vetor. Isso origina o QRS. Já a repolarizaçao inicia pelo segmento ST. Normalmente, a onda T segue a polaridade do QRS. Logo, se o QRS é positivo a onda T é também positiva e vice-versa. 2 O que é o ECG? É um exame que permite que você avalie a passagem do estímulo elétrico em várias derivações em lugares diferentes. Quando o estimulo passa por uma região que estiver com uma alteração focal, a derivação que estiver mais próxima daquela região vai mostrar essa alteração. O que são as derivações? São pontos escolhidos estrategicamente pra observar o caminho da passagem do estímulo. Por exemplo, aumento da amplitude do QRS ocorre devido à hipertrofia do ventrículo. O que vai determinar se a hipertrofia é de VD ou VE são as derivações. Se o aumento é de VD, que é mais anterior, as derivações que demonstram a parede anterior do coração é que apresentarão QRS aumentado. Derivações do plano frontal Bipolares (D1, D2 e D3): a derivação D1 mede a diferença de potencial entre o braço direito e o braço esquerdo. Já a derivação D2 mede a diferença de potencial entre o braço direito e a perna direita enquanto D3 é entre o braço esquerdo e a perna esquerda. Essas derivações formam um triangulo eqüilátero (Triângulo de Einthoven). Unipolares (aVR, aVF, aVL): aVR é conectado ao braço direito, aVF à perna esquerda e aVL ao braço esquerdo. Derivações precordiais (plano horizontal) V1: 4º EID na linha paraesternal (VD) V2: 4º EIE na linha paraesternal (VD) V3: entre o 4º e o 5º EIC entre V2 e V4 (região septal) V4: 5º EIE na linha medioclavicular (VE) V5: 5º EIE na linha axilar anterior (VE) V6: 5º EIE, na linha axilar média (VE) No plano horizontal vou conseguir ver o que está na frente e o que está atrás. A primeira derivação é V1 e ela fica na parte anterior. Qual é a patologia de ventrículo que V1 vai mostrar uma grande positividade? Crescimento de VD. Caminhando para V6 você vai ficando cada vez mais próximo de VE e mais distante de VD, então no momento que V1 estiver apresentando grande positividade devido a patologias de VD, V6 pode estar mostrando negatividade. Se crescer a massa do VE o que vai acontecer? V4, V5 e V6 que são as precordiais esquerdas mostraram melhor o fenômeno. V1 e V2 são as precordiais direitas porque estão avaliando melhor a estrutura que está mais próxima delas (por exemplo, o VD). Em V3 já começa a ver a transição do VD pro VE. Caminhando pra V6 vai aumentar a amplitude do QRS, pois estamos indo em direção ao VE V1 vai ser negativa já que o VE é mais importante que o VD. Em direção a V6 vai ficando cada vez mais positivo. Agora se de repente um paciente apresenta V1 com uma positividade muito grande, o que cresceu? O VD. Agora se olho V6 e vejo uma positividade muito maior que o normal, o que cresceu? VE. Durante a maior parte do ciclo de despolarização ventricular a direção do potencial elétrico é da base ventricular para o ápice. Esse é o eixo elétrico médio ventricular que normalmente está em torno de 60º (próximo a D2+), mas pode variar entre -30º até 105º. Um desvio do eixo elétrico é sinal de patologia. 3 Se um vetor se projeta paralelo a uma derivação, ele vai ter maior amplitude nessa derivação. E quando esse mesmo vetor se projeta a 90º daquela derivação, ele vai se projetar isoelétrico. Quando esse mesmo vetor se projeta a mais de 90º em uma derivação, nessa derivação ele será negativo. Por exemplo, se o vetor encontra-se próximo a D2 ele terá maior amplitude nessa derivação e será isoelétrico em aVL. Já em D3 ele será negativo. Ao examinar um eletrocardiograma busque a derivação em que o QRS está mais positivo, pois será próximo dessa derivação que o eixo elétrico se encontrará (por exemplo: em D2 QRS é mais positivo, logo o eixo elétrico está próximo a 60º). Caso for complicado achar o QRS mais positivo busque a derivação onde o QRS é isoelétrico e, desse modo, o vetor estará próximo à derivação que faz um ângulo de 90º com a derivação onde o QRS se encontra. Por exemplo, se o QRS é isoelétrico em aVF ele será mais positivo em D1. Regra simples para avaliação do eixo elétrico: QRS é positivo em D1 e em aVF, logo se encontra no 1º quadrante o que é NORMAL. QRS é positivo em aVF e negativo em D1, logo o eixo se encontra no 2º quadrante e só será normal se estiver entre D3 e aVF. Logo, se D3 tiver maior amplitude que aVF ocorreu desvio do eixo para direita. QRS é positivo em D1 e negativo em aVF, logo se encontra no 4º quadrante. Se a maior amplitude estiver em aVL (D2 é iso), o eixo está normal. O eixo será também normal se a maior amplitude estiver em D1. No entanto, se QRS for maior em D3 há desvio do eixo para esquerda. QRS negativo em D1 e em aVF indica DESVIO EXTREMO DO EIXO. Quando o eixo elétrico é desviado é preciso saber para que direção ocorreu esse desvio. A hipertrofia ventricular é uma das principais causas de desvio do eixo elétrico, visto que o ventrículo com a massa aumentada levará mais tempo para se despolarizar totalmente e nesse lado de massa aumentada a geração elétrica será maior o que resulta em um vetor forte direcionado do lado normal para o lado hipertrofiado. Quando ocorre hipertrofia de VE o eixo é desviado para esquerda e quando a hipertrofia é de VD o desvio se dá para direita. Outra causa de desvio do eixo é o bloqueio de ramo, pois nesse caso um ventrículo irá se despolarizar primeiro que o outro ventrículo. Quando o bloqueio é de ramo esquerdo há desvio do eixo para esquerda e quando o bloqueio é de ramo direito o desvio se dá para direita. FREQUÊNCIA E RITMO SINUSAL Cada quadradinho do eletrocardiograma vale 0,04s (horizontal) e 0,1mV (vertical). Logo cada quadrado maior (contém 5 quadradinhos) terá 0,2s e 0,5mV. Freqüência = 300 / n° de quadradões entre intervalo RR Freqüência = 1500 / no de quadradinhos no intervalo RR Para ser considerado ritmo sinusal... Todo P deve ser seguido de um QRS Intervalo PR deve ser de 0,12s a 0,20s Onda P deve ser positiva em D2 e negativa em aVR 4 ONDAS E INTERVALOS NORMAIS DO ECG E SUAS ALTERAÇÕES É importante ressaltar que a alteração de uma onda no ECG só deve ser considerada se estiver presente em outras derivações que representem a mesma parede do coração. Por exemplo, uma onda Q alterada na derivação D2 só é considerada patológica e, logo, indicativa de uma área necrótica, se estiver presente também nas derivações D3 e aVF, pois estas derivações representam a parede inferior do coração. D2, D3 e aVF = parede inferior do coração D1 e aVL = parede lateral superior V1 a V3 = parede ântero-septal (V1 = átrio direito) V4 a V6 = parede ântero-lateral V7 e V8 = parede posterior V3r e V4r = derivações feitas quando se desconfia de patologia em VD. Onda P normal e suas alterações É a onda que representa a despolarização atrial e precede o QRS em pacientes com ritmo sinusal. Em algumas arritmias podem ocorrer alterações desse padrão, como na FA, na qual as ondas P desaparecem do ECG. A onda P deve ser analisada nas derivações D2 e V1. Como o AD despolariza antes do AE, a parte inicial da onda P representa a despolarização de AD e a parte final a despolarização de AE. A onda pode ser bífida (ter dois picos), mas se a amplitude e duração forem normais é considerado um padrão normal. Duração da onda P: até 0,11s (menos de 3 quadradinhos) Amplitude da onda P: no plano frontal até 2,5mm (2 ½ quadradinhos) e no plano horizontal até 1,5 mm (1 ½ quadradinho = 0,15mV). Quando ocorre aumento da amplitude da onda P é sinal de hipertrofia de AD, pois o aumento da massa retarda a despolarização e isso faz com que a despolarização de AE e AD ocorra concomitantemente. Quando ocorre aumento da duração da onda P (maior que 0,11s) é sinal de hipertrofia de AE, pois como AE é a parte final da onda, o aumento da massa do mesmo retarda a despolarização. Intervalo PR O intervalo PR vai do início da onda P ao início do complexo QRS. Basicamente avalia a saúde do nodo AV. O intervalo normal vai de 0,12s a 0,20s (3 a 5 quadradinhos) e um aumento desse intervalo indica um atraso na passagem do estímulo dos átrios para os ventrículos. Logo, trata-se de um BAV. Onda Q e Complexo QRS Antes de estudar o QRS é preciso entender a convenção do QRS. 1) A onde positiva é chamada de R 2) A onda negativa antes da onda R é a onda Q 3) A onda negativa após a onda R é a onda S 4) A onda maior será indicada com letra maiúscula e as demais com letra minúscula (exemplo: Rs onda R > onda s). 5) Quando só tiver uma onda negativa é o padrão QS Em V1 o padrão do complexo é rS, como V6 é espelho de V1, o padrão de V6 é qR. Logo, a onda positiva vai aumentando e a onda negativa reduzindo em direção a V6. 5 Onda Q: a onda Q normal tem duração de 0,04s (1 quadradinho) e amplitude de até 4mm (4 quadradinhos). Só são levadas em consideração as alterações de onda q presentes em outras derivações da mesma parede. Cabe ressaltar que em aVR e D3 é comum encontrarmos onda Q mais pronunciada, mas ainda sim normal. Na cardiomiopatia hipertrófica, o aumento da massa do coração se dá principalmente na região septal o que faz com que ocorra aumento da amplitude do QRS, pois existe uma massa maior para ser despolarizada, assim gerando uma voltagem maior. Em V1 o padrão passa a ser Rs e consequentemente em V6 temos Qr. O mesmo ocorre na tetralogia de Fallot. Como nessa patologia há aumento do coração direito, principalmente, a derivação V1 assume o papel Rs e, portanto, em V6 temos Qr. No ECG de um paciente com IAM pode ser encontrada a onda Q patológica. No IAM ocorre necrose do tecido, desse modo, se o tecido morreu ele não conduz mais a corrente elétrica. Por isso, há uma negatividade no ECG e a positividade da onda R também é reduzida. Resumindo, onda Q para ser considerada patológica: Duração > 0,04s Amplitude > 4mm Onda Q > 25% do QRS Presente em mais de uma derivação que demonstre a mesma parede 6 Complexo QRS: traduz a despolarização ventricular. Duração até 0,10 s no máximo (2 quadradinhos) Amplitude de 20mm no plano frontal (2mV) e 30 mm no plano horizontal (3mV) Eixo elétrico entre -30º e 110º. Amplitude mínima de 5mm no plano frontal e de 9mm no plano horizontal. O aumento da amplitude do QRS é sinal de hipertrofia. Há mais massa para despolarizar e, logo, uma voltagem maior é gerada. A baixa voltagem pode ocorrer em derrame pericárdico e enfisema pulmonar. Já o aumento da duração do QRS indica uma deficiência na condução do estimulo de despolarização nos ventrículos, logo um bloqueio de ramo. Segmento ST e Ponto J O segmento ST representa tempo decorrido entre o fim da despolarização ventricular até a repolarização. Logo, avalia a capacidade do ventrículo de sofrer repolarização. Nos distúrbios isquêmicos, a repolarização é mais afetada que a despolarização, pois a primeira é dependente de ATP para bombear o Na + para fora da célula, sendo assim, é dependente de O2. O ponto J é o ponto de junção entre o QRS e o segmento ST. Não necessariamente um supra ou infradesnivelamento de ST indica doença isquêmica. Em alguns casos, essas alterações podem ser variações do normal, porém para se afirmar isso é necessário relacionar o ECG e a história do paciente. No plano frontal pode ocorrer infra ou supra de + 1mm ou – 1mm, mas em 75% dos casos o ponto J é isoelétrico. No plano horizontal NUNCA pode ocorrer infra! Ou seja, INFRA NO PLANO HORIZONTAL = ISQUEMIA. Porém, pode haver supra-ST e inclusive ocorre em 90% dos casos, principalmente nas derivações V2 e V3. Esse supra pode ter 2 a 3mm. Onda T Representa a repolarização ventricular e é arredondada, assimétrica, com ramo ascendente lento e o descendente rápido. A onda T deve seguir a polaridade do QRS. Nas derivações precordiais é positiva de V2 a V6. Amplitude de 5mm no plano frontal e 10mm no plano horizontal. Em atletas, pessoas da raça negra e indivíduos vagotônicos a repolarização se dá de modo precoce, de forma que onda T apresenta uma amplitude superior a esse limite. CRESCIMENTO ATRIAL Os átrios estão sujeitos a uma série de doenças que podem gerar aumento dessas câmaras cardíacas. Por exemplo, o AD sofre hipertrofia na insuficiência tricúspide, e decorrente de hipertensão pulmonar como no DPOC. Já o AE é aumentado nas valvulopatias mitral e na hipertensão arterial. A observação da onda P nas derivações D2 e V1, que possuem olhar privilegiado para os átrios, fornecem os dados importantes para detectarmos um aumento de AD e/ou AE. Critérios de aumento do AD: No plano frontal, presença de onda P alta e apiculada com mais de 2,5mm. O aumento da amplitude representa a despolarização simultânea do AD e do AE. Desse modo, há uma massa maior sendo despolarizada gerando um aumento maior na voltagem. 7 Onda P positiva em V1 e V2 e maior que 2,5mm. Padrão qR em V1. Quando há aumento de AD há aumento da positividade do QRS, por isso a onda R é a maior. Como V6 é espelho de V1, em V6 há aumento da negatividade o que representa o aumento de AD. Por isso, o padrão de V6, que é normalmente qR, passa a ser Rs. Critérios do aumento de AE Duração da onda P > 0,11s Índice de Morris: quando em V1 a onda P tem uma porção positiva e uma porção negativa essa porção negativa representa AE. Para dizer que isso é um sinal de hipertrofia de AE é preciso calcular o índice de Morris. A área dessa porção negativa deve ser maior ou igual à área de 1 quadradinho (1 mm2). Morris = 2 mm x 1 mm = 2 mm2, logo índice de Morris positivo. A onda P pode ser entalhada em D1, D2, V3 e V4. CRESCIMENTO VENTRICULAR Crescimento do VE: o aumento do VE vai ser analisado no ECG com base numa tabela de pontos. Quando a massa do VE aumenta, a amplitude do QRS aumenta. Porém, não se pode basear o diagnóstico apenas na amplitude de VE, pois algumas outras condições também podem proporcionar aumento do QRS. Então, o diagnóstico de hipertrofia será baseado na amplitude dos vetores, alterações da repolarização devido ao aumento da demanda pelo VE e aumento do AE. Para o diagnóstico de hipertrofia VE é preciso somar 5 pontos. Amplitude > 30 mm no plano horizontal e > 20mm no frontal 3 pontos Padrão Strain 3 pontos Aumento do AE 3 pontos Desvio do eixo para esquerda 2 pontos Duração do QRS > 0,08s 1 ponto Deflexão intrinsecóide em V5 e V6 > ou = 0,05s 1 ponto Para medir a amplitude é preciso encontrar a maior onda do complexo QRS, seja ela positiva ou negativa. Como em V1 o padrão é rS, mede-se a amplitude da onda S. Já em V5 e V6 a maior onda costuma ser positiva, então se mede o tamanho da onda R. Quando a massa do ventrículo aumenta, aumenta-se também a demanda por O2, podendo gerar uma isquemia de demanda. Esse é o chamado padrão-strain. Os sinais de isquemia encontrados no ECG de uma paciente com aumento de VE são alterações de segmento ST e da onda T. Deflexão intrinsecóide é o tempo de ativação ventricular. É medido do início do QRS até o vértice da onda R e deve ter no máximo 0,045s. 8 Crescimento de VD: também existem vários critérios para determinarmos crescimento de VD. A melhor derivação para analisar as alterações é a V1, mas também podem ser feitas as derivações V3r e V4r para ajudarem no diagnóstico de hipertrofia de VD. Desvio do QRS para direita Onda S < 2 mm em V1 Padrão Rs ou qR em V1 Sinais isquêmicos nas derivações precordiais direitas Relação R/S > 1 em V1 ou V3r Onda R de V1 ≥ 7 mm Deflexão intrinsecóide > 0,035s em V1 O padrão normal de V1 é rS e em V6 temos qR, já que V6 é espelho de V1. Com o aumento do VD há um aumento da amplitude da onda R em V1, já que V1 é a derivação que observa o lado direito do coração. Assim, o padrão do complexo QRS pode passar a ser Rs em V1 e Qr em V6, o que faz com que em V1 a relação R/S seja > 1. Se o aumento de VD for ainda mais pronunciado, pode ocorrer um deslocamento do vetor que antes apontava para esquerda, que era o local de maior massa. Com isso V1 pode assumir um padrão qR e como V6 é espelho de V1 o padrão de V6 será rS. Na hipertrofia de VE, o padrão do QRS não muda, apenas ocorre alteração da amplitude do complexo. BLOQUEIO DE RAMO Os bloqueios de ramo caracterizam-se pela ocorrência de retardamento ou impossibilidade de condução do estímulo ao nível dos ramos direito ou esquerdo do feixe de Hiss. Devido a essa condução retarda do estímulo, a despolarização ventricular é atrasada o que determina o alargamento do QRS. No bloqueio total o QRS tem duração superior a 0,12s e no bloqueio parcial a duração está entre 0,10s e 0,12s. É preciso relembrar que os vetores apontam na direção do potencial elétrico gerado pelo fluxo da corrente. A despolarização ventricular começa na região septal esquerda e em seguida a região septal direita. Sendo assim, o 1º vetor é o vetor septal que nasce no septo e aponta para direita, ou seja, para onde se dirige a corrente elétrica, para onde está positivo. Ao mesmo tempo o VD e o VE estão sendo despolarizados, imediatamente após a despolarização septal. Logo, o 2º vetor nasce em VD e aponta para VE, pois VE tem mais massa que VD, sendo mais “positivo”. O 3º vetor indica a despolarização das porções basais. Bloqueio de Ramo Esquerdo (BRE) O BRE é constantemente relacionado com as quatro condições que trazem mais morbidade e mortalidades cardiovasculares: coronariopatia, cardiopatia hipertensiva, valvopatia aórtica e miocardiopatias. No caso de BRE o 1º vetor desaparece, pois essa despolarização da região septal esquerda não acontece primeiro, logo o vetor não nasce no septo esquerdo e aponta para o direito, pois com BRE a despolarização septal ocorre da direita para esquerda. Esse 1º vetor estaria apontado para V1 gerando a onda r em V1 e em V6 daria origem à onda q. Assim, no BRE as ondas r de V1 e q de V6 somem. Ao comparar com HVE vemos que na hipertrofia o 2º vetor está aumentado, pois a massa de VE é grande o que gera uma maior voltagem e o tamanho do vetor é dado pela voltagem. Com isso temos uma grande onda R em V6 e consequentemente uma onda S aumentada em V1. 9 O BRE altera a fase inicial da despolarização ventricular gerando complexos QRS alargados e negativos na derivação V1 e inteiramente positivos na derivação V6. Ao olhar V1 não haverá onda r e QRS > 0,12s. Ao olhar V6 não haverá onda q e QRS > 0,12s. Em D1, V5 e V6 só haverá onda R alargada monofásica e pode estar espessada ou em meseta e ausência de onda q em D1, V5 e V6. de V1 para V2 a onda r deveria estar crescendo e isso não ocorre no BRE. Os bloqueios de ramo comprometem a despolarização ventricular e podem ser acompanhados de alterações da repolarização, logo alterações do segmento ST e onda T. Além disso, a ausência de ondas q já prejudica o diagnóstico de necrose por meio do ECG. A onda T tipicamente apresenta polaridade oposta a da ultima deflexão do QRS. Essa discordância dos vetores do QRS-onda T é provocada pela seqüência alterada de repolarização que ocorre secundariamente à alteração da despolarização. Portanto, em um paciente com BRE que chega à emergência com dor precordial é difícil fazer uso do ECG para diferenciar se é uma AI ou IAM com ou sem supra-ST. Outros exames, como biomarcadores cardíacos serão mais úteis. Critérios para diagnóstico de BRE Duração do QRS > 0,12s Presença de onda R alargada monofásica em D1-V5 e V6 geralmente espessada ou em meseta Ausência de onda q em D1-V5 e V6. Alterações do segmento ST e da onda T. Bloqueio de ramo direito (BRD) Nesse caso, o 2º vetor é quem some e é a fase tardia da despolarização ventricular que é atrasada. O complexo QRS > 0,12s e na derivação V1 a pequena onda r permanece, mas onda s diminui e aparece uma nova onda, a R’. Em V6 a onda q permanece, a onda r diminui e aparece uma onda S. Temos o padrão rsR’ em V1 e qrS em V6. Nos indivíduos sem cardiopatia, o BRD é observado com mais freqüência que o BRE. O BRD também ocorre nas cardiopatias congênitas (CIA) e adquiridas (valvopatia e cardiopatia isquêmica). Critérios para diagnóstico de BRD: QRS > 0,12s Em V1 padrão rsR’, com onda R’ maior que r e s. Onda S alargada em D1-V5 e V6. Alterações de onda T em precordiais direita. É preciso destacar que o prolongamento do QRS não significa necessariamente bloqueio de ramo. A síndrome de Wolff-Parkinson-White (WPW) também alarga o QRS 10 devido à pré-excitação dosa ventrículos por vias acessórias. A tríade dessa síndrome consiste em intervalo PR reduzido, QRS alargado e ondas delta (borramento da parte inicial do QRS). DOENÇA CORONARIANA Embora o miocárdio mais interno esteja em contato constante com o sangue bombeado pelo coração, todo músculo é nutrido somente pelo sangue que vem das coronárias, sendo a parte externa do miocárdio suprida primeiro (subepicárdio) e essa região mais interna (subendocárdio) suprida depois. Quando se tem uma obstrução nas artérias coronárias a parte do miocárdio que sofre primeiro é o subendocárdio. Quando a oclusão é total o subepicárdio também sofre isquemia, nesse caso, trata-se de uma isquemia transmural. Quando a isquemia aguda é transmural o vetor ST desvia-se para cima, gerando um supradesnivelamento ST. Quando a isquemia é confinada ao subendocárdio haverá infradesnivelamento ST (com supra em aVR). Portanto, o supra é mais perigoso que o infra, pois indica uma oclusão total da coronária. Se há infra-ST no ECG de um paciente com dor precordial estamos lidando com uma oclusão parcial da coronária. Provavelmente a placa aterosclerótica se tornou instável e ali está se formando um trombo de plaquetas, pois a primeira etapa é a agregação plaquetária com formação do trombo branco. Nesse paciente a terapia consiste basicamente em um antiagregante plaquetário. Já no caso de um paciente com dor anginosa e supra-ST, houve uma oclusão total provavelmente devido a uma ruptura da placa, seguida por agregação plaquetária, estase e ativação da cascata de coagulação com formação do trombo vermelho. O trombo vermelho contém fibrina e, desse modo, a terapia mais recomendada seria trombolítico. INFRA ST ISQUEMIA SUBENDOCÁRDIO TROMBO BRANCO AAS SUPRA ST ISQUEMIA TRANSMURAL TROMBO VERMELHO TROMBOLÍTICOS É importante lembrar que nem todas as células sofrem da mesma maneira. Pode haver pequenas colaterais chegando a região e suprindo algumas células, ou ainda as células mais próximas da região não isquêmica podem obter nutrientes por difusão. Desse modo, nem tudo sofrerá necrose. Pode ter sinais de isquemia (alteração da polaridade da onda T – vira negativa onde o QRS é positivo), sinais de injúria tecidual (supra-ST) e também sinais de necrose (onda Q e alteração do complexo QRS). O IAM é decorrente da diminuição intensa do aporte de sangue para uma determinada região do coração. Nesta área aparece uma zona central de necrose, rodeada por zona de músculo injuriado e em torno uma região isquêmica. A zona de necrose não gera fenômenos elétricos alterando o padrão vetorial e gerando uma onda Q profunda. A zona injuriada é constituída de fibras parcialmente despolarizadas o que compromete a repolarização com alterações do ST. Por fim, a zona isquêmica também tem alterações de repolarização sendo representadas pela onda T invertida. Infarto da parede ântero-septal: V1, V2 e V3 Infarto da parede lateral alta: D1 e aVL Infarto da parede anterior extenso: V1 a V6 11 Infarto de VD: V3r e V4r Infarto de parede inferior: D2, D3 e aVF Infarto de parede dorsal: V7 e V8 Como já foi dito podem ocorrer alterações do complexo QRS. Por exemplo, em um infarto de 12