DISSERTAÇÃO FLORESCIMENTO E FRUTIFICAÇÃO E TEORES DE CARBOIDRATOS EM LARANJEIRA ‘VALÊNCIA’ COM DIFERENTES CARGAS DE FRUTOS E SUBMETIDAS OU NÃO À IRRIGAÇÃO ANA KARINA DE SOUZA PRADO Campinas, SP 2006 1 Ficha elaborada pela bibliotecária do Núcleo de Informação e Documentação do Instituto Agronômico P896f Prado, Ana Karina de Souza. Florescimento, frutificação e teores de carboidratos em laranjeiras ‘Valência’ com diferentes cargas de frutos e submetidas ou não à irrigação. / Ana Karina de Souza Prado. Campinas, 2006. 45f. Orientador: Eduardo Caruso Machado Co-orientador: Camilo Lázaro Medina Dissertação (Mestrado em Tecnologia da Produção Agrícola) – Instituto Agronômico 1. Laranjeira 2. Citrus 3. Laranjeira - carboidratos 4. Laranjeira - frutificação 5. Laranjeira - florescimento. I. Machado, Eduardo Caruso II. Medina, Camilo Lázaro III. Título CDD 634.31 2 INSTITUTO AGRONÔMICO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRICULTURA TROPICAL E SUBTROPICAL FLORESCIMENTO, FRUTIFICAÇÃO E TEORES DE CARBOIDRATOS EM LARANJEIRAS 'VALÊNCIA' COM DIFERENTES NÍVEIS CARGAS DE FRUTOS E SUBMETIDAS OU NÃO À IRRIGAÇÃO ANA KARINA DE SOUZA PRADO Orientador: Eduardo Caruso Machado Co-orientador: Camilo Lázaro Medina Dissertação submetida como requisito Parcial para obtenção do grau de Mestre em Agricultura Tropical e Subtropical Área de Concentração em Tecnologia de Produção Agrícola Campinas, SP Fevereiro 2006 3 DEDICATÓRIA A Deus, A minha mãe Terezinha (in memoriam) e a minha avó Alice Pereira Prado DEDICO A todos os meus melhores amigos citados nos agradecimentos, que têm sido a minha família, sempre e em todos os sentidos OFEREÇO AGRADECIMENTOS 4 - Aos pesquisadores, amigos e orientadores Dr. Eduardo Caruso Machado e Dr. Camilo Lázaro Medina pelo apoio, ensinamentos, paciência e companheirismo durante esse percurso, aos pesquisadores componentes da Banca examinadora: Dr Eduardo Stuchi, Fernando Alves de Azevedo pela presença, apoio e sugestões para melhoria do trabalho e à FAPESP pela Bolsa de Mestrado e financiamento do projeto; - aos amigos que auxiliaram na execução dos trabalhos em campo e laboratório: Handerson e Michel (meus irmãozinhos), Socorro e Francisco Carvalho, José Rodrigues e Vitor, amigos da faculdade e grandes companheiros, José e Fernanda Zanetti, Daniela e Ricardo Machado, amigos e grandes colaboradores no projeto; - aos pesquisadores e amigos do Instituto Agronômico de Campinas Dr. Deuber, Dra. Maria do Carmo, Dra. Norma Erismann, Dr. Rafael Ribeiro, Dr Ondino Bataglia, Dr Pedro Furlani, Dr Flávio Arruda e aos queridos amigos: a excelente secretária Silvana e ao funcionário Severino, pelo apoio e amizade; - aos pesquisadores do Centro APTA Citros ‘Sylvio Moreira’: Dr. Marcos Machado, Dra. Rose Mary Pio, Dr. José Dagoberto de Negri, Dr. José Orlando Figueiredo, Dr. Artur Ghillardi, Dra. Mariângela Cristofani e Dra. Maria Luisa Targon, pelo apoio nos dois anos do trabalho, caronas, companhia, risadas, conselhos, etc... - aos funcionários e amigos do Centro APTA Citros ‘Sylvio Moreira’, que colaboraram muito na execução dos trabalhos práticos: Gomes, Genésio, Vivian, Nidélci, Fernanda, Izabel, Elizete, Keli, Nadji, Valéria, Joraci, Noé, Adilson, Eduardo, José Pedro, Antônio, Antônio Alencar, José Pinto, Sebastião, Pedro, Orlando, Otávio, Antony, Noé, Adilson, João Franco e aos estagiários do projeto do Greening pelo companheirismo e amizade; - aos professores do curso de Tecnologia de Produção Agrícola: pela amizade, conselhos e atenção durante o curso; 5 - aos funcionários da PG-IAC: Adilza, Célia, Beth e Eliete, pelo auxílio e amizade no decorrer do curso; - aos amigos da pós-graduação, companheiros pras baladas e irmãos pra vida: Átila, Rhuanito, Glécio, Marcos, Júlio, Mário, Alceu, Paulinha, Giuliana, Thais, Aline, Patrícia, Andressa, Rafael Fiorine, Valdinei, Rafael Previtalli, Núbia e Sarita; - as meninas de casa (república) Aline, Luciana e Rafaela, não só pela companhia como por tudo que fizeram por mim, além da amizade e cumplicidade; - aos amigos que não fazem parte do cotidiano de trabalho, mas que são minha família nessa vida: a Isis (minha irmãzinha de sempre), todo o povo da faculdade que torceu por mim de longe, mas sempre presentes no coração e todos os grandes amigos e irmãos de Cordeirópolis que eu amo muito: Patrícia, Débora e Izabela P. Pitoli, Fabiane, Bianca, Joice, Franciele, Marina, Jocieli, Keli, Marlei, Edilson, Éderson, Emerson e Adriana Corte, Rodolfo, Marcos Mometti, Paulinho, Ricardo, Fabrício, Thiago, Caio Peruchi, Felipe Tamiazi, Josué, Erik, Freddy e Flávia, André, Maria Salete e Edevaldo Calderaro, Mayara, Maria José e Carlos Hespanhol, Leontina e José Tomazela; - aos amigos da cidade de Campinas, que juntamente com as meninas de Cordeiro também ajudaram a segurar as barras que não foram poucas, saíram pra dar risadas e foram muito companheiros: Edna, Ângela, Amandinha, Carlos, Andréia, Mauro, Felipe, Tiago, Rodrigo, Amanda, Marcelo, Ignácio, Klause, Juninho, Vani, Lê, Pedro, Márcia, Maurício, Rafael e Thiago Estevan; - a todos os que acreditaram na minha capacidade, incentivaram e colaboraram para a realização e finalização deste trabalho. 6 “Venceu na vida aquele que viveu bem, riu muitas vezes e amou muito; que conquistou o respeito dos homens inteligentes e o amor das crianças; que preencheu um lugar e cumpriu uma missão; que deixou o mundo melhor do que encontrou, seja plantando uma flor, escrevendo um poema ou contribuindo para o salvamento de uma alma; que procurou o melhor nos outros e deu o melhor de si...Mais uma conquista e ainda acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente.Apenas a ilusão, de quem se julga dono das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos que amei e que já se foram desta vida, os amigos presentes e os que já se afastaram e todos os dias felizes que vivi." 7 SUMÁRIO ÍNDICE DE TABELAS.................................................................................................... ÍNDICE DE FIGURAS..................................................................................................... ÍNDICE DE ANEXOS...................................................................................................... RESUMO.......................................................................................................................... ABSTRACT...................................................................................................................... 1 INTRODUÇÃO............................................................................................................. 2 REVISÃO DE LITERATURA...................................................................................... 3 MATERIAL E MÉTODOS........................................................................................... 3.1 Local Clima e Solo...................................................................................................... 3.2 Instalação do experimento, irrigação e retirada de frutos........................................... 3.3 Primeira etapa (fevereiro de 2004 a outubro de 2005)................................................ 3.3.1 Avaliações de florescimento e crescimento Vegetativo........................................... 3.4 Segunda etapa (setembro de 2005 até dezembro de 2005)......................................... 3.4.1 Avaliações de florescimento e frutificação.............................................................. 3.4.2 Avaliação dos teores de carboidratos.................................................................... 3.5 Teores de elementos minerais..................................................................................... 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................................... 4.1 Primeira etapa............................................................................................................. 4.1.1 Florescimento e crescimento vegetativo................................................................. 4.1.2 Produção de frutos.................................................................................................. 4.2 Segunda etapa............................................................................................................ 4.2.1. Florescimento e frutificação................................................................................... 4.2.2 Teores de carboidratos............................................................................................ 4.3 Teores de elementos minerais na folha....................................................................... 5 CONCLUSÕES............................................................................................................. 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................... 7 ANEXOS....................................................................................................................... vii viii ix x xi 1 2 11 11 11 13 13 13 14 14 15 17 17 17 22 24 24 28 33 37 38 45 8 INDICE DE TABELAS Tabela 1- Tabela 2- Análise de macronutrientes em folhas de laranjeira ‘Valência’ sobre limoeiro ‘Cravo’ amostradas em 7 de abril de 2005 nos tratamentos irrigado com fruto (ICF), irrigado e sem fruto (ISF), não irrigado e com fruto (NICF) e não irrigado e sem fruto (NISF). As coletas de folhas foram feitas em ramos com frutos e ramos sem frutos. Nos tratamentos sem frutos os mesmos foram retirados em fevereiro de 2004. Cordeirópolis, SP........................................................................... 35 Análise de macronutrientes em folhas de laranjeira ‘Valência’ sobre limoeiro ‘Cravo’ amostradas em 8 de dezembro de 2005 nos tratamentos irrigado com fruto (ICF), irrigado e sem fruto (ISF), não irrigado e com fruto (NICF) e não irrigado e sem fruto (NISF). As coletas de folhas foram feitas em ramos com frutos e ramos sem frutos. Nos tratamentos sem frutos os mesmos foram retirados em fevereiro de 35 2004. Cordeirópolis, SP 9 INDICE DE FIGURAS Figura 1Figura 2Figura 3- Figura 4- Figura 5- Figura 6- Figura 7- Figura 8- Figura 9- Foto das laranjeiras ‘Valência’ sobre limoeiro ‘Cravo’ após a retirada dos frutos em fevereiro de 2004.(A) Laranjeira sem e (B) com frutos.... Temperaturas máximas e mínimas, precipitação e balanço hídrico em 2004 e 2005, em Cordeirópolis – SP........................................................ Crescimento de ramos em laranjeira ‘Valência’ sobre limoeiro ‘Cravo’, nos seguintes tratamentos: laranjeiras desbastadas sem irrigação (NISF) e com irrigação (ISF) e laranjeiras não desbastadas sem irrigação (NICF) e com irrigação (ICF), em novembro de 2004, Cordeirópolis, SP..................................................................................... Tipos de estruturas brotadas a partir gemas (288 gemas por tratamento) em laranjeira “Valência” sobre limoeiro “Cravo” irrigada com (ICF) ou sem fruto (ISF); e não irrigadas e com frutos (NICF) ou sem frutos (NISF). Nos tratamentos sem frutos os mesmos foram retirados manualmente em fevereiro de 2004......................................................... Número de frutos (A); produção de frutos (B) e massa individual de fruto (C) em laranjeira ‘Valência’ não irrigada com e sem fruto (NICF, NISF) e irrigada com e sem fruto (ICF, ISF). Colheita em outubro de 2005.......................................................................................................... Desenvolvimento do número de flores (A) e de frutos (B) (‘chumbinho’) em laranjeira “Valência” sobre limoeiro “Cravo” nos tratamentos plantas não irrigadas e sem fruto (NISF) ou com fruto (NICF) e plantas irrigadas sem frutos (ISF) ou com frutos (ICF). Nos tratamentos sem frutos os mesmos foram retirados em fevereiro de 2004. Barras indicam erro padrão............................................................ Laranjeira ‘Valência’ sobre limoeiro ‘Cravo’ com (A) e sem (B) irrigação, mostrando a antecipação do florescimento e brotações em plantas irrigadas. Foto obtida em setembro de 2005............................... Diâmetro de frutos (‘chumbinho’ até pingue-pongue) medidos em 8 de dezembro de 2005 (safra 2005/2006), em laranjeira “Valência” sobre limoeiro “Cravo” nos tratamentos plantas não irrigadas e sem (NISF) ou com frutos (NICF) e plantas irrigadas e sem frutos (ISF) ou com frutos (ICF). Nos tratamentos em frutos os mesmos foram retirados em fevereiro de 2004. Barras indicam desvio padrão.................................... (A) Teor de carboidratos solúveis totais (glicose + frutose + sacarose), (B) teor de amido e (C) teor de carboidratos metabolizáveis (carboidratos solúveis + amido) em folhas de laranjeira ‘Valência’ sobre limoeiro ‘Cravo’ nos tratamentos plantas não irrigadas e sem fruto (NISF) ou com fruto (NICF) e plantas irrigadas sem frutos (ISF) ou com frutos (ICF).................................................................................. 12 18 19 20 23 25 26 29 31 10 LISTA DE ANEXOS Anexo Comprimento final de ramos em laranjeiras ‘Valência’ sobre limoeiro 1- ‘Cravo’ em plantas com e sem frutos e com e sem irrigação. No tratamento sem fruto os mesmos foram retirados em fevereiro de 45 2004.......................... Anexo Número de frutos por planta de laranjeira ‘Valência’ sobre limoeiro 2- ‘Cravo’ em plantas com e sem frutos e com e sem irrigação. No tratamento sem fruto os mesmos foram retirados em fevereiro de 2004. Contagem em novembro de 45 2005.......................................................................................... Anexo Massa fresca de frutos (por unidade) de laranjeiras ‘Valência’ sobre 3- limoeiro ‘Cravo’ em plantas com e sem frutos e com e sem irrigação. No tratamento sem fruto os mesmos foram retirados em fevereiro de 2004. Contagem em novembro de 46 2005................................................................... Anexo Diâmetro de frutos (mm) em laranjeiras ‘Valência’ sobre limoeiro 4- ‘Cravo’ em plantas com e sem frutos e com e sem irrigação. No tratamento sem frutos os mesmos foram retirados em fevereiro de 46 2004............................... 11 PRADO, Ana Karina de Souza. Florescimento, frutificação e teores de carboidratos em laranjeiras ‘Valência’ com diferentes cargas de frutos e submetidas ou não à irrigação. 2006. 46f. Dissertação (Mestrado em Tecnologia da Produção Agrícola) – Pós-Graduação – IAC. RESUMO A presença de frutos num ramo afeta a intensidade de florescimento e de fixação de frutos na safra seguinte. O efeito inibidor pode ser devido à ação hormonal dos frutos sobre o florescimento ou devido à competição por carboidratos. O objetivo do presente estudo foi avaliar como a quantidade de frutos (carga pendente) em laranjeira ‘Valência’ em um ano afeta o teor de carboidratos em folhas, o crescimento vegetativo, o florescimento, a frutificação e a produção de frutos na safra do ano seguinte, em plantas submetidas ou não à irrigação. O experimento foi conduzido em duas fases. Na primeira fase do experimento, em metade das laranjeiras irrigadas e não irrigadas foram retirados todos os frutos. O experimento foi conduzido num delineamento fatorial 2 x 2 com seis repetições. Analisou-se os resultados por meio de análise de variância e as médias foram comparadas pelo teste Tukey à 5%. A presença de frutos afetou o crescimento vegetativo e a intensidade de florescimento. Na segunda fase de experimento, as mesmas laranjeiras em que se retiraram os frutos apresentaram maior produção na safra do ano seguinte. Laranjeiras com maior produção de frutos apresentaram menor intensidade de florescimento, indicando que o mesmo foi parcialmente inibido por eles. Nossos resultados não mostraram evidências de que o teor de carboidratos tivesse limitado o florescimento. Não houve evidências de que a menor intensidade de florescimento foi devida à competição por carboidratos com os frutos. As baixas temperaturas do inverno foram suficientes para induzir o florescimento nas plantas irrigadas. Porém, o florescimento foi mais intenso quando, no período de indução, também ocorreu deficiência hídrica, nas plantas não irrigadas. O número fixado de frutos e o crescimento inicial dos frutos são limitados pela disponibilidade de carboidratos. 12 Palavras-chaves: Citrus sinensis L. carboidratos, crescimento vegetativo, crescimento reprodutivo, indução de florescimento. 13 PRADO, Ana Karina de Souza. Flowering, fruit set and carbohydrates levels in ‘Valência’ orange trees under different crop load status and with and without irrigation. 2006. 46f. Dissertação (Mestrado em Tecnologia da Produção Agrícola) – Pós-Graduação – IAC. ABSTRACT The presence of fruits at branches has a inhibitory effect on flowering and fruit set intensity. The inhibitory effect can be due hormonal action or the carbohydrate competition. The objective of the present study was to evaluate how the crop load status in orange tree ‘Valência’ throughout a year affects the carbohydrate content in leaves, the vegetative growth, the flowering, the fruit set, and the yield in the following season, in plants with and without irrigation. The experiment was conduced in two steps in field condition. In the first step (February, 2004) a half of both , irrigated and non irrigated plants, had all the fruits removed. The experimental design was a 2 x 2 factorial with six repetitions. The results were subjected to analyses of variance and means were compared by the Tukey test at 5%. The presence of fruits has affected the vegetative growth and the flowering intensity. In second step the same oranges trees that have been defruited presented higher yield in next year. These plants showed a less intense flowering, indicating that flowering was partially inhibited by the fruits. Our results did not show any evidence that the carbohydrates content could have limited flowering intensity due to a competition with the fruits for carbohydrates. The low winter temperatures were suitable to induce flowering in the irrigated orange tress. However flowering was more intense when during the induction phase there has been a water deficit in non irrigated plants. . The number of bearing fruits and the initial growth of them are limited by the availability of carbohydrates. Keys-words: Citrus sinensis L., carbohydrates, vegetative growth, reproductive growth, flowering induction. 14 1 INTRODUÇÃO Os citros são frutíferas de grande importância, sendo o Brasil seu maior produtor com 34% da produção mundial. A expansão da citricultura no Brasil nas quatro últimas décadas foi baseada nas exportações de suco concentrado congelado de laranja, período em que o crescimento da produção brasileira e, principalmente da paulista baseou-se no plantio de variedades mais apropriadas à industrialização, especialmente de laranjas doces (AGRIANUAL, 2003). Atualmente o agronegócio de frutas e derivados dos citros traz divisas externas da ordem de US$ 1,5 bilhão por ano. São Paulo é o principal produtor de citros no Brasil, sendo responsável por aproximadamente 80% da produção nacional (AGRIANUAL, 2005). O Estado possui 581 mil hectares cultivados com 211,6 milhões de plantas que em 2004 produziu 331 milhões de caixas de 40,8 quilos. A citricultura paulista é uma atividade que envolve mais de 17.000 produtores e representa mais de 400 mil empregos diretos (AGRIANUAL, 2005). Apesar da laranjeira florescer em abundância, isto é, uma árvore pode produzir até 80.000 flores, o número de frutos finalmente colhidos em geral representa menos que 2% das flores formadas (MONSELISE, 1986). A massiva abscisão de flores e de frutos é interpretada como um mecanismo de ajuste do número de frutos à capacidade de suprimento de carboidratos pela planta (GOLDSCHMIDT & KOCH, 1996). No hemisfério sul a abscisão dos frutos ocorre entre outubro e dezembro. As causas, porém, são pouco conhecidas, mas é provável que também estejam relacionadas com características climáticas sazonais e acúmulo de reservas pela planta (ALBRIGO, 1992; IGLESIAS et al., 2003; SYVERTSEN & LHOYD, 1994). A quantidade de frutos presentes em laranjeiras em um ano pode afetar quantitativamente o florescimento e a frutificação do ano seguinte. Se a produção de frutos for alta em um ano, no ano seguinte pode ser significativamente menor (AGUSTÍ, 2000; TONET et al., 2002). A presença de muitos frutos pode inibir parcialmente o florescimento, provavelmente devido à maior drenagem de carboidratos pelo fruto em crescimento (GOLDSCHMIDT & KOCH, 1996) ou então devido a produção de giberelinas pelos mesmos, podendo acarretar um atraso no desenvolvimento floral (DAVENPORT, 1990). Após um ano de colheita abundante as laranjeiras ‘Valência’ e ‘Natal’ podem florescer pouco, produzindo, conseqüentemente, 15 poucos frutos e dando origem à ‘alternância de safra’ (AGUSTÍ, 2000; GOLDSCHMIDT, 1999). Sob ´alternância de safra’, num ano de baixa produção o excesso de fotoassimilados é armazenado, principalmente em raízes. Seguido ao ano de baixa produção, há a possibilidade de maior produção quando as reservas serão mobilizadas e utilizadas no processo de frutificação. Os fatores envolvidos nesta alternância, apesar de estudados, ainda não foram elucidados, sabendo-se, no entanto que, a presença de frutos nas variedades tardias, o balanço de carboidratos, as alterações metabólicas, a nutrição nitrogenada, a deficiência hídrica e as alterações no balanço hormonal estão envolvidos neste fenômeno (AGUSTÍ, 2000). Atribui-se o efeito inibidor do florescimento bem mais à produção de hormônios inibidores do que à drenagem de fotoassimilados, uma vez que esta inibição é bem maior no período no qual o fruto não acumula mais carboidratos (GARCIA-LUIZ et al., 1986). Apesar de poder ocorrer uma correlação entre os teores de carboidratos e a floração, é possível que não haja relação causal entre carboidratos e formação de gemas florais, e sim apenas é necessário como um componente fornecedor de energia para que haja a indução (GARCIA-LUIZ et al., 1995). Independentemente do papel regulador dos carboidratos na floração dos citros, sua exigência para o florescimento é alta (BUSTAN & GOLDSCHMIDT, 1998). Os objetivos desta pesquisa foram avaliar como a quantidade de frutos (carga pendente) presente em laranjeira ‘Valência’ em um ano afeta o teor de carboidratos em folhas, o crescimento vegetativo, o florescimento, a frutificação e a produção de frutos na safra do ano seguinte, em plantas submetidas ou não à irrigação. 2 REVISÃO DA LITERATURA A laranjeira é um sistema produtivo composto por órgãos (folhas) que funcionam como fonte de fotoassimilados (fonte) e por vários órgãos (folhas, raízes, ramos, flores, frutos) que, pelo menos em uma parte de sua vida, são consumidores de carboidratos (drenos) produzidos pela fonte. As relações fonte-dreno na planta são afetadas pelo estádio de desenvolvimento e pelas condições ambientais. A produtividade de uma comunidade vegetal é o resultado final de complexa cadeia de eventos que ocorrem durante o desenvolvimento da planta estando relacionados às variações climáticas, fotossíntese, crescimento de copa, intensidade de 16 florescimento e fixação de frutos, massa e número final dos frutos maduros colhidos, além da eficiência do uso da água e nutrientes (GOLDSCHMIDT, 1999). A produção em laranjeira é determinada pelo número e tamanho dos frutos colhidos. Por sua vez, o número e o tamanho dependem de três processos: florescimento, da quantidade de frutos fixados e do crescimento dos frutos. (GOLDSCHMIDT, 1999). O clima como condicionante do cultivo dos citros interfere, de forma decisiva, em todas as etapas da cultura. Tem influência na adaptação das variedades, na fenologia, na curva de maturação, na taxa de crescimento, nas características físicas e químicas da fruta e, principalmente, no potencial de produção (ORTOLANI, 1991). Em condições subtropicais o florescimento mais importante surge no crescimento da primavera, quando a planta emite ramos vegetativos e reprodutivos. As flores surgem de gemas axilares de ramos de um ano de idade, formados nos surtos de primavera anteriores e nos ramos mais novos formados no verão e outono (MEDINA et al., 2005). Os principais fatores ambientais para o florescimento são temperatura e umidade. Nas regiões subtropicais nos meses de inverno as temperaturas do ar e do solo diminuem e também há queda na intensidade de precipitações. Estas condições favorecem a diminuição na taxa de crescimento. Sob baixa taxa de crescimento há mudanças na gema as quais são induzidas ao florescimento na primavera, quando ocorrem novamente o aumento da temperatura e novas chuvas (ALBRIGO, 1992; REUTHER, 1977). Os primeiros estímulos para a indução floral começam segundo LIMA (1990), entre 80 e 120 dias antes do florescimento, através de possíveis mensageiros químicos provenientes das folhas. Para o hemisfério sul, a indução floral atinge seu pico ao final de julho e início de agosto, ou seja, no inverno (REUTHER, 1977; VOLPE, 1992). O florescimento é precedido por um período de transformação de gemas vegetativas em gemas reprodutivas através de estímulos. Nem todas as gemas de um ramo produzem flores, permanecendo algumas vegetativas que permitem o crescimento futuro das plantas (GOLDSCHMIDT & MONSELISE, 1970; LORD & ECKARD, 1985). As modificações morfológicas nos meristemas serão detectadas apenas após o repouso de inverno (GUARDIOLA, 1981; GUARDIOLA et al., 1982; IWAHORI & OOHATA, 1981). A transição da etapa vegetativa para a reprodutiva pode ocorrer de duas 17 maneiras: i) as gemas permanecem indeterminadas (reprodutivas/vegetativas) até imediatamente antes da brotação (HALL et al., 1977) ou ii) entram em repouso no final do outono já determinadas (reprodutivas/vegetativas) (GOLDSHMIDT & MONSELISE, 1970). A primeira possibilidade baseia-se no fato de que não se observam os primórdios florais nas gemas quando elas se encontram em repouso. Os primeiros sinais da morfogênese são detectados somente ao se iniciar a brotação das gemas na primavera (GUARDIOLA, 1981; IWAHORI & OOHATA, 1981; LORD & ECKARD, 1985). Em lima ácida ‘Tahiti’ (Citrus latifolia) as evidências indicam que a indução sobrevém imediatamente antes da diferenciação floral, pois somente as gemas que iniciaram o desenvolvimento durante as condições indutivas de déficit hídrico ou de baixas temperaturas produziram flores (SOUTHWICK & DAVENPORT, 1986). ABBOTT (1935), um dos primeiros a registrar a influência do déficit hídrico na floração dos citros, observou que as gemas não se desenvolvem durante o período do déficit, mas somente após o re-umedecimento. Assim, parece que o déficit hídrico está diretamente relacionado com a quebra da dormência das gemas (DAVENPORT, 1990). CASSIN et al. (1968) analisaram informações sobre a ocorrência de chuvas e florescimento dos citros em diversas regiões tropicais do mundo e confirmaram que a floração sempre ocorria após períodos de seca seguidos de re-umedecimento por chuva ou irrigação. O repouso da planta devido a diminuição do crescimento vegetativo seja por frio ou seca, resulta no acúmulo de reservas pelas plantas que são consumidas durante a florada no desenvolvimento das estruturas reprodutivas (VOLPE, 1992). LOVATT et al. (1988) encontraram indicações de que a intensidade do florescimento é dependente do conteúdo de carboidratos e de compostos nitrogenados na folha, e que estes aumentam quando a árvore é submetida a estresse hídrico. Em plena primavera, após a antese, as etapas iniciais do crescimento do fruto e da área foliar são favorecidas por radiação solar mais intensa, dias mais longos, temperaturas mais altas e, de modo geral, dependendo do tipo de solo e do manejo, a grande maioria dos pomares dispõe de boa condição hídrica (ORTOLANI, 1991). A maioria das regiões de produção de citros no mundo dispõe de chuvas anuais entre 1000 a 2000 mm, com sazonalidade, apresentando normalmente uma estação seca. Esses totais anuais têm pouco significado agroclimático, pois a disponibilidade de água depende essencialmente do balanço entre a evapotranspiração da cultura e a precipitação pluvial ao longo do ciclo fenológico dos citros, correspondentes às etapas 18 de indução floral ou pré-florescimento, estabelecimento, crescimento e maturação do fruto e crescimento vegetativo. Como planta perene, a resposta dos citros à água em um determinado estágio de desenvolvimento depende da disponibilidade hídrica anterior a esse estágio (DOORENBOS & KASSAM, 1994). Em condições de deficiência hídrica, as folhas se curvam, reduzindo a área de transpiração e, dependendo da intensidade da seca, as folhas e frutos jovens caem. Os frutos maduros desidratam, estabelecendo fluxo inverso de água e alteração sensível da sua qualidade. Assim os desenvolvimentos vegetativo e reprodutivo são condicionados à distribuição de água durante o ciclo de desenvolvimento da planta (SAMPAIO, 1990; STEWART & NIELSEN, 1990). Assim, condições extremas de déficit hídrico afetam negativamente o florescimento, o crescimento e a formação de reservas. Na maior parte do território brasileiro, a irrigação é uma prática suplementar, isto é, os totais anuais de precipitação pluvial são suficientes para satisfazer as necessidades hídricas da cultura, todavia, a distribuição irregular das chuvas propicia a ocorrência de períodos de estresse hídrico às plantas, acarretando quebras de produção. A irrigação deve ser sistemática, isto é, feita de acordo com critérios bem estabelecidos, fixados em função das condições de umidade do solo (VIEIRA, 1991). Além disso, com a irrigação, a umidade do solo é mantida em nível adequado durante o ciclo vegetativo da planta, proporcionando um melhor funcionamento do aparelho fotossintético e o fornecimento de substrato para o crescimento e formação de reservas. Dessa forma, o florescimento e o pegamento são maiores beneficiando a produção final. É muito importante na irrigação a possibilidade de interromper os períodos dos chamados veranicos, principalmente aqueles que ocorrem no verão. A participação do clima noutras etapas do processo de floração é inegável, especialmente o déficit hídrico nas regiões tropicais e/ou temperaturas baixas nas subtropicais (SPIEGEL-ROY & GOLDSCHMIDT, 1996). É possível que esses fatores atuem na floração mediante mecanismos diferentes (SOUTHWICK & DAVENPORT 1986) mostraram que plantas submetidas a baixas temperaturas, com vistas ao florescimento, não apresentaram qualquer alteração no potencial hídrico das folhas, uma indicação da possível independência de ação desses fatores. No entanto, é possível que a influência promotora do déficit hídrico e da baixa temperatura sobre o florescimento seja na supressão do crescimento vegetativo (SPIEGEL-ROY & GOLDSCHMIDT, 19 1996). O déficit hídrico parece ser o principal fator promotor da floração das plantas cítricas nas regiões de clima tropical, onde a temperatura não é suficientemente baixa para estimulá-la. A relação entre intensidade e duração do déficit hídrico e a intensidade de floração é aparentemente quantitativa, semelhante às baixas temperaturas (SOUTHWICK & DAVENPORT, 1986), mas não há prova de que o déficit hídrico tenha qualquer efeito direto na etapa de indução (DAVENPORT, 1990). O estímulo ao florescimento é quantitativo, ou seja, é possível que déficit hídrico e temperatura baixa possam agir de forma cumulativa (SPIEGEL-ROY & GOLDSCHMIDT, 1996). Finalmente, SPIEGEL-ROY & GOLDSCHMIDT (1996) comentam que baixas temperaturas e déficit hídrico parecem influenciar a floração dos citros por diferentes mecanismos e questionam se esses sinais do ambiente devem ser considerados verdadeiros fatores indutores da floração ou apenas inibidores do crescimento, comum a ambos e único elemento provavelmente necessário ao engatilhamento da diferenciação floral dos citros. Em síntese, a redução do crescimento, principalmente do sistema radicular, levaria à baixa produção de giberelinas e, conseqüentemente, à floração (MONSELISE, 1985). TAMIN et al. (1997) observaram que tanto o estresse hídrico quanto a exposição à baixas temperaturas causaram redução nos teores endógenos de giberelinas. Por outro lado, MONSELISE & HALEVY (1964), observaram que a presença de giberelina inibe o florescimento. As temperaturas do ar promotoras do florescimento oscilam entre 13 e 15° C dia /10 e 13° C noite, sendo que nestas faixas as temperaturas mais baixas são as mais eficientes (MOSS, 1969). A temperatura máxima limite para promover a floração ainda não está bem definida, embora se acredite que esteja em torno de 19°C; temperaturas superiores a 22°C já são ineficientes (DAVENPORT, 1990). ALBRIGO et al. (2002) observaram na Flórida que o florescimento satisfatório ocorre quando há 800 a 1000 horas de temperaturas abaixo de 20°C sem interrupções no período, por estímulos às novas brotações, ou seja, a ocorrência de temperaturas máximas acima de 26,6 e mínimas superiores a 21,1 °C por mais de sete dias seguidos. Essa indução ao florescimento pode suceder em algumas regiões, como no sul paulista, independentemente da presença de estresse hídrico. 20 Acredita-se que o efeito estimulante das baixas temperaturas no florescimento seja percebido pelos caules e/ou folhas, mas não pelas raízes, o metabolismo das quais parece controlar a iniciação do crescimento de brotos novos (HALL et al., 1977). A relação que existe entre a intensidade e a duração do déficit hídrico e a intensidade de floração é aparentemente quantitativa, de forma semelhante às baixas temperaturas (SOUTHWICK & DAVENPORT, 1986). O tema é contraditório, pois LOVATT et al. (1988) não encontraram diferença no número de flores entre o controle não-estressado, estresse hídrico severo de curta duração [potencial da água na folha (ΨL) de antemanhã de -3 MPa, por 30 dias] e déficit hídrico moderado de longa duração (ΨL de antemanhã de -2 MPa, por 50 dias]. Uma crítica que se pode fazer é que os ΨL foram severos, mesmo quando se considera o período de 30 dias, que não é pequeno, podendo assim, ter prejudicado e não favorecido a floração (MEDINA et al., 2005). Ainda nesta linha KOSHITA & TAKAHARA (2004) observaram que estresses moderados proporcionam floração abundante enquanto que estresses severos causam uma forte inibição na formação de gemas florais, devido à grande queda de folhas. A intensidade de estresse pode ser monitorada por irrigação artificial. LOVATT et al. (1988), a fim de desenvolver um modelo fenológico de florescimento utilizando a temperatura, estudaram a influência do ambiente e de fatores da árvore sobre a fenologia e fisiologia do processo de florescimento. Eles verificaram, nas inflorescências em ramos sem folhas antecipação da quebra de dormência da gema e da antese. Em inflorescências em ramos com folhas, foram encontradas flores com antese atrasada. A inflorescência com folhas apresenta maior possibilidade de se desenvolver para frutos e atingir maturidade. Resultados obtidos com várias espécies e cultivares, e em diversas regiões produtoras, indicam que o fotoperíodo, isoladamente, não é o suficiente para induzir a floração das plantas cítricas, mas que o encurtamento do dia parece tornar as plantas mais sensíveis à ação das baixas temperaturas (SPIEGEL-ROY & GOLDSCHMIDT, 1996). A conclusão mais provável, diante das informações disponíveis, é que os citros são plantas de dia-neutro quanto à indução floral (KRAJEWSKI & RABE, 1995), embora LENZ (1969) diga que a laranja ‘Bahia’ pode ser descrita como uma planta de “dia-curto dependente qualitativamente de temperatura”. Não há evidência da participação direta dos carboidratos no florescimento dos citros (DAVENPORT, 1990; GARCIA-LUIS et al., 1988, 1995; GOLDSCHMIDT, 1999; KRAJEWISKI & RABE, 1995; SPIEGEL-ROY & GOLDSCHMIDT, 1996;). 21 Não está claro seu papel regulador específico na floração, ou a necessidade de um limiar energético mínimo desses compostos, para que ocorra a indução floral (SPIEGEL-ROY & GOLDSCHMIDT, 1996). Remoção de frutos em ‘Satsuma’ Citrus unshiu ou anelamento de ramos causam acúmulo de carboidratos nas folhas e aumento na formação de flores (GUARDIOLA et al., 1992). Sombreamento de folhas, entretanto, causa queda no teor carboidratos nas folhas e queda na intensidade de florescimento (GARCIA-LUIZ et al., 1995). A relação positiva entre carboidratos e florescimento indica que a disponibilidade de carboidratos não estruturais pode ser limitante no florescimento. No entanto, independentemente do papel regulador dos carboidratos na floração dos citros, sua exigência para o florescimento é alta. Os citros podem consumir o equivalente entre 10 e 20% dos carboidratos utilizados para o crescimento dos frutos. Portanto, a demanda diária total de carboidratos durante a antese pode exceder a sua produção pelas folhas, sendo necessário à utilização de reservas (BUSTAN & GOLDSCHMIDT, 1998). Normalmente a porcentagem de flores produzidas e que se desenvolvem em frutos maduros é pequena, variando entre 0,1 até ao redor de 3%. Somente em árvores de baixo florescimento e naqueles cultivares que formando um número baixo de flores tais como a ‘Satsuma’, uma porcentagem maior para fixação é encontrada (GUARDIOLA et al., 1992). Após a fecundação, durante o desenvolvimento do fruto, ocorrem três períodos, considerados de ajustes, em que a abscisão se torna acentuada: imediatamente após a polinização, durante o crescimento inicial do fruto (“june drop” no hemisfério norte e queda de frutos de novembro no hemisfério sul) e durante a maturação. A abscisão de frutos logo após a fecundação parece estar relacionada com fatores hormonais, com a giberelina tendo um papel central (TALON et al., 1992). Durante a queda de junho, no hemisfério norte (June drop) a abscisão esta particularmente relacionada com a competição por fotoassimilados (IGLESIAS et al., 2003; RUIZ et al., 2001). Para o hemisfério sul é possível que a queda de novembro também esteja relacionada com a competição por carboidratos, porém não encontramos esta informação. Geralmente a fixação de frutos após a antese é mais relevante do que o número de flores como fator limitante da produção. Somente durante os anos de baixa produção de frutos, em casos de alternância de safra, a produção é determinada pela falta de um número suficiente de flores (GUARDIOLA et al., 1992). Ou seja, a variação no número de frutos (carga pendente), de flores e de folhas afeta a frutificação do ano posterior. 22 Os citros florescem em ramos com 4 a 18 meses de idade, sendo que as flores provenientes de ramos de verão ou outono anteriores (ramos mais novos) fixam-se melhor do que aqueles produzidos na primavera anterior (ramos mais velhos). Contudo, em todo o crescimento do verão, a árvore depende da disponibilidade de carboidratos (PRADO et al., 2005). Há, aparentemente, uma competição entre os frutos em desenvolvimento e as novas brotações, o que torna relevante avaliar como a intensidade de frutificação interfere no florescimento seguinte, ou seja, no número e tipo de flores, além da sua fixação. As inflorescências com folhas (brotos com folhas e flores) produzem relativamente mais frutos do que inflorescências sem folhas (ERNER, 1989; RUIZ et al., 2001). Na inflorescência com folhas, o fruto jovem cresce mais rapidamente e apresenta maior probabilidade de sobreviver até a colheita, em relação aos frutos de inflorescência sem folhas (ZUCCONI et al., 1978). O maior crescimento inicial e a fixação de frutos estão diretamente relacionados (RUIZ et al., 2001; ZUCCONI et al., 1978). A porcentagem de fixação de frutos está inversamente relacionada ao número de flores, diminuindo à medida que o número de flores aumenta, de forma que o número de frutos formados permanece quase constante por uma ampla faixa de florescimento. Pode-se encontrar correlação entre a abscisão e os teores de carboidratos em folhas e frutos (RUIZ et al., 2001) já que o número de frutos (GARCIA-LUIS et al., 1988) ou de folhas (MEHOUACHI et al., 1995) pode alterar a competição por açúcares na planta. O amido e os carboidratos solúveis constituem reservas para o crescimento vegetativo e reprodutivo (GOLDSCHMIDT & GOLOMB, 1982). A abscisão de frutos em cultivares de laranjeiras doces, em parte, é causada por limitações no suprimento de carboidratos e pelos níveis de açúcar na casca (IGLESIAS et al., 2003; RUIZ et al., 2001). IGLESIAS et al. (2003) observaram maior taxa de fixação de frutos, ou menor abscisão em plantas suplementadas com carboidratos, sugerindo que a fixação de frutos é limitada pela disponibilidade de carboidratos. Esta aparente relação entre fixação de frutos e teores de carboidratos talvez esteja relacionada com o fato de que a fixação do fruto é maior nos ramos onde há inflorescências com folhas do que as sem folhas. As inflorescências sem folhas antecipam o florescimento e muitas de suas flores desenvolvem-se até a maturação. 23 Nos cultivares de produção alternante, a intensidade de floração nos anos após a boa produção é inversamente proporcional à carga de frutos anterior e a sua permanência na planta (GOLDSCHMIDT et al., 1985; GUARDIOLA et al., 1977; MONSELISE et al., 1983; MOSS, 1971). O fruto exerce efeito inibidor de crescimento vegetativo e na indução floral. Ambos os componentes do florescimento, o número de botões disponíveis e a conversão de botões vegetativos em flores são, portanto, afetados pelo fruto. Dessa maneira freqüentemente é estabelecida uma relação inversa entre o florescimento e a carga produtiva anterior (GUARDIOLA, 1992). A abertura das flores coincide com a presença mínima de nutrientes nas folhas e o “june drop” (queda fisiológica de frutos em junho no hemisfério norte) com uma transição no decréscimo de carboidratos metabolizados assim como presença de nutrientes minerais em inflorescências jovens. Ambos os períodos de queda das estruturas reprodutivas coincidem com o mínimo de reservas acumuladas, assim como ácidos orgânicos ou minerais, nos órgãos vegetativos da planta e esse fato pode estar relacionado às causas primárias na queda de frutinhos em desenvolvimento. Se o pegamento de frutos é determinado pelo suprimento de nutriente isso pode ser viável para demonstrar que a abscisão dos frutos coincide com seus teores mínimos havendo, portanto, uma relação direta entre o teor desses nutrientes e a fixação (SANZ et al, 1987). RUIZ et al. (2001) observaram que durante o crescimento inicial dos frutos o acúmulo de nitrogênio (N), fósforo (P) e de potássio (K) foi linearmente relacionado com o acúmulo de matéria seca. Parte dos 3 elementos era mobilizado de folhas mais velhas para os órgãos em desenvolvimento. A absorção de nutrientes minerais pelos citros ocorre durante todo o ano, sendo maior, porém no florescimento e durante a formação de folhas e ramos novos, respectivamente em setembro a dezembro e em março a abril. A laranjeira é capaz de absorver N na forma amoniacal, amídica e nitrato. A absorção de N ocorre em mínima quantidade durante o inverno e em máxima proporção no fim da primavera. Este nutriente, quando absorvido no outono e início do inverno, fica acumulado até a primavera. Nesse momento sofre redistribuição e passa a ser usado, em parte, no florescimento e na frutificação. O P mostra-se menos necessário do que o N e o K para o desenvolvimento vegetativo e a produtividade das plantas cítricas. O K tem menor efeito sobre o crescimento do que o N e sua maior absorção é observada na primavera e no verão. Durante a maturação dos frutos há uma redução de até 60% no teor foliar 24 deste nutriente, provavelmente, devido a sua migração das folhas para os frutos. O K influi positivamente no tamanho dos frutos, na sua cor, espessura da casca, porcentagem dos ácidos e no teor de vitamina C. Entretanto, reduz a porcentagem de suco e a relação sólidos solúveis/acidez (CASTRO et al, 2001). 3 MATERIAL E MÉTODOS 3.1 Local, clima e solo Esta pesquisa iniciou em janeiro de 2004 e foi conduzida em um pomar de laranjeiras ‘Valência’ enxertadas sobre limoeiro ‘Cravo’ (Citrus Limon Osbeck) com aproximadamente 12 anos de idade, no espaçamento 8X5 m, no Centro APTA Citros – ‘Sylvio Moreira’ do Instituto Agronômico (IAC), situado no município de Cordeirópolis. O clima da região é do tipo Cwa (tropical úmido), segundo a classificação de Köppen e o solo, latossolo vermelho distrófico e textura médio-argilosa. Os dados climáticos como temperatura, precipitação, radiação solar e umidade solar, foram medidos em um posto meteorológico automático situado a 500 m do campo experimental. 3.2 Instalação do experimento, irrigação e retirada de frutos O experimento foi conduzido em duas etapas, com duração de 25 meses de execução e análises. O experimento foi conduzido em 31 plantas e o delineamento experimental adotado foi o fatorial 2X2, com quatro tratamentos e 6 repetições, sendo uma planta por parcela que totalizaram 24 plantas na área útil. Entre os tratamentos houve plantas de bordadura, que totalizaram 31 plantas. Todas as plantas apresentavam-se uniformes com a presença de frutos jovens. Os tratamentos foram aplicados foram: plantas Irrigadas e Com Frutos (ICF); plantas Irrigadas Sem Frutos (ISF); plantas Não Irrigadas e Com Frutos (NICF); plantas Não Irrigadas e Sem Frutos (NISF). Nos tratamentos sem frutos, que simulam de plantas sem produção, todos os frutos foram retirados manualmente em fevereiro de 2004. Foram irrigadas 12 plantas, 6 com e 6 sem frutos e as demais 12 não foram irrigadas, ou seja, receberam exclusivamente a água proveniente da ocorrência de chuva natural. Nos tratamentos irrigados, a quantidade de água aplicada foi equivalente a 100% da evapotranspiração potencial (Figura 1). 25 O sistema de irrigação utilizado foi o de gotejamento, composto por duas linhas de gotejadores de 4 L.h-1, espaçados de 1m um do outro. Os cálculos da evapotranspiração foram feitos segundo o método de Penman-Monteith e os balanços hídricos foram feitos utilizando-se a planilha eletrônica desenvolvida por ROLIM et al. (1998). Foi considerada uma capacidade de água disponível (CAD) de 100 mm. A B Figura 1 - Foto das laranjeiras ‘Valência’ sobre limoeiro ‘Cravo’ após a retirada dos frutos em fevereiro de 2004. (A) Laranjeira sem e (B) com frutos. 26 3.3 Primeira etapa (fevereiro de 2004 a outubro de 2005) Na primeira etapa do experimento foram efetuadas as seguintes avaliações no período compreendido entre fevereiro de 2004 à outubro de 2005. 3.3.1 Avaliações de florescimento e crescimento vegetativo Em cada tratamento e repetição foram selecionados quatro ramos (pintados com tinta látex branca) com tamanho inicial variando entre 40 a 50 cm e à partir de fevereiro de 2004 a janeiro de 2005 (12/01/2005), estimou-se o crescimento vegetativo por meio de medidas mensais do comprimento dos ramos e suas brotações novas. Em julho de 2004 selecionou-se 4 ramos brotados no verão de 2003/2004 (chamados ramos jovens) e 4 ramos brotados na primavera 2003 (chamados ramos velhos), por planta e por tratamento. Nestes ramos, a partir de agosto (09/08/04), que é o período de indução do florescimento, até o final do processo de abscisão de frutos (26/11/04, novembro de 2004), contou-se o número de flores (flores solteiras, ou seja, inflorescência sem folhas e flores com folhas) e de brotações vegetativas, em intervalos de aproximadamente 15 dias. Considerou-se para estas contagens de inflorescência, doze gemas por ramo, contadas a partir do ponteiro, totalizando uma amostra de 288 gemas por tratamento por idade de ramo (4ramos/planta) X (12gemas/ramo) X (6plantas/tratamento) = 288 gemas/tratamento. Os resultados foram apresentados em porcentagem, isto é, [(órgão considerado/288) x 100]. Em 10 fevereiro de 2005 foram contados todos os frutos de cada árvore e em 06 de outubro de 2005 procedeu-se a colheita e pesagem dos mesmos, nas plantas dos tratamentos ICF e NICF. A produção de frutos foi expressa em kg/laranjeira. 3.4 Segunda etapa (setembro de 2005 até dezembro de 2005) Na segunda etapa do experimento foram efetuadas as seguintes avaliações no período compreendido entre setembro de 2005 à dezembro de 2005. Na segunda etapa utilizaram-se as mesmas plantas, o mesmo delineamento e estas plantas não sofreram tratamento suplementar e em conseqüência dos tratamentos de retirada de frutos, aplicados em fevereiro de 2004 e da irrigação em metade das plantas, a produção de frutos da safra 2004/2005 (colhidos em 06 de outubro de 2005) foram diferentes, cujos resultados são mostrados à frente (no item resultados e discussão). Nesta segunda etapa do experimento avaliaram-se como a produção da safra 27 2004/2005 afetou o florescimento e fixação de frutos na safra seguinte (2005/2006). A continuidade do experimento foi feita, portanto, com as mesmas plantas, repetições e delineamento experimental da etapa experimental anterior. 3.4.1 Avaliações de florescimento e frutificação Entre meados de setembro de 2005 (12/09/2005) até meados de dezembro (08/12/2005), ou seja, entre o florescimento e fixação de frutos, quantificou-se o número de flores e de frutos, em intervalos de aproximadamente uma semana. Em outubro, 06/10/2005 foi feita a colheita dos frutos, como descrito anteriormente. As contagens dos órgãos reprodutivos (flores e frutos) foram efetuadas por amostragem em dois locais da copa de cada planta, ou seja, num quadrante relativo ao nascente e noutro relativo ao poente e na altura média da copa (ARAÚJO et al., 1999). Cada quadrante era limitado por um quadrado com área de amostragem de 1m2, amostrando-se, portanto 2m2 por árvore por data. A contagem dos órgãos reprodutivos prosseguiu até que o número de frutos permanecesse praticamente constante em duas épocas consecutivas de contagem. Em 08 de dezembro de 2005 mediu-se o diâmetro dos 10 frutos por planta em cada repetição com um paquímetro digital. 3.4.2 Avaliação dos teores de carboidratos Coincidente com as datas das contagens de flores e frutos foram colhidas sete folhas maduras (de aproximadamente seis meses de idade) por repetição e por tratamento para análise do teor de carboidratos. Imediatamente após a coleta as folhas eram mergulhadas em nitrogênio líquido e armazenadas a -20ºC até a análise. Antes da elaboração do extrato para análise as folhas foram submetidas à secagem em estufa com circulação forçada de ar à temperatura de 60ºC por cinco dias, até obtenção de massa constante. O extrato para análise de açúcares redutores (glicose e frutose) e sacarose foi obtido a partir da extração alcoólica (100mg de amostra seca moída com 5mL de etanol 80%) durante 4 horas em banho-maria à 50ºC. As determinações dos teores de açúcares foram feitas por HPLC, em coluna Dionex P1, tendo como solvente NaOH 40 mM com fluxo de 0,8 mL/min, e detecção em detetor de pulso amperométrico (MAZZAFERA, 2005)∗. A análise de amido foi feita no resíduo do precipitado após banho-maria à 50ºC. A extração do amido no resíduo precipitado foi feita com 5mL de ácido perclórico a ∗ Comunicação pessoal:Professor Dr Paulo Mazzafera, Depto de Biologia Vegetal – UNICAMP ([email protected]) 28 30% por três vezes consecutivas à 50ºC por 20min cada. O amido foi determinado pelo método de determinação do teor de carboidratos não-estruturais totais, com uso de regente de antrona 0,1% em ácido sulfúrico 95% (YEMM & WILLIS, 1954). As análises dos teores de amido são relevantes pois subsidiam discussão em relação as respostas do florescimento e da frutificação. 3.5 Teores de elementos minerais Mediram-se os teores de nitrogênio, fósforo e potássio nas duas etapas do experimento, colhendo-se para análise, o terceiro e quarto pares de folhas de ramos com e sem frutos de aproximadamente seis meses de idade, pertencentes a ramos com e sem frutos em todos os tratamentos. As folhas foram coletadas, na primeira etapa em 07 de abril de 2005 e na segunda etapa em dezembro de 2005, sendo que as análises foram efetuadas no Laboratório de Análises de Solo e Planta do Instituto Agronômico de Campinas, segundo método sugerido por BATAGLIA et al. (1983). O delineamento experimental utilizado foi fatorial 2x2, com 6 repetições, realizou-se as análises de variância e a comparação das médias foi feita pelo teste de Tukey a 5%. Para análise dos teores de N, P e K, utilizou-se o delineamento experimental fatorial 4X2. As análises estatísticas foram efetuadas com o programa ESTAT – Sistema para análises estatísticas (v.2.0), da Universidade do Estado de São Paulo – FCAV: Pólo Computacional/Depto de Ciências Exatas e as médias foram comparadas pelo teste de Tukey aos níveis de 1 e 5%. A seguir incluímos um organograma da parte experimental. 29 ORGANOGRAMA EXPERIMENTAL ORGANOGRAMA DE ATIVIDADES ANO/MES ATIVIDADES DA PRIMEIRA ETAPA 2004 JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ 2005 JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV Em fevereiro criou-se artificialmente plantas com e sem frutos. Foram retirados todos os frutos de 12 plantas, e mantido os frutos de outras 12 plantas. Metade das plantas foram irrigadas. Assim constituiu-se os tratamentos plantas: Irrigadas e Com Frutos (ICF); Irrigadas e Sem Frutos (ISF); Não Irrigadas e Com Frutos (NICF) e Não Irrigadas e Sem Frutos (NISF). Medidas efetuadas Medida mensal de crescimento de ramos (entre março e dezembro). Em ramos marcados, nas plantas ICF, ISF, NICF e NISF foram contados as flores, e frutos fixados referentes ao florescimento ocorrido após a aplicação dos tratamentos em fevereiro de 2004. Também avaliouse o tipo de brotação em função da idade do ramos (isto é ramos novos - brotados no verão de 2004 e ramos velhos brotados na primavera de 2003/2004). Analisouse o teor de macronutrientes em abril de 2005 em folhas provenientes de ramos com e sem frutos. Contagem de frutos fixados provenientes do florescimento ocorrido em outubro de 2004 ATIVIDADES DA SEGUNDA ETAPA Nas mesmas plantas utilizadas na etapa anterior procedeu-se várias medidas, com o objetivo de analisar o efeito das diferentes produções sobre o florescimento, fixação de frutos, teor de carboidratos nas folhas e crescimento inicial dos frutos. Medidas: 1) contagem semanal de flores e de frutos em 2 metros quadrados de copas por árvore; 2) análise semanal do teor de carboidratos; 3) em dezembro de 2005 procedeu-se análise do teor de macronutrientes em folhas provenientes de ramos com e sem frutos. Colheita de frutos referente à safra 2004/2005 em outubro DEZ 30 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO A figura 2 mostra as condições do ambiente nos dois anos de experimentação. Em 2004 a média decendial de temperatura mínima foi menor que em 2005 e que o déficit hídrico no solo foi pequeno. Em 2005 já ocorreu um período maior e mais acentuado de déficit hídrico. 4.1 Primeira etapa 4.1.1 Florescimento e crescimento vegetativo O crescimento de ramos foi significativamente maior, sendo que não houve interações entre os tratamentos (p<0,05, análises estatísticas apresentadas nos Anexos) nas plantas (ISF e NISF) cujos frutos foram retirados (Figura 3). Esse crescimento maior foi observado após a retirada dos frutos (fevereiro de 2004) possivelmente devido à menor competição por fotoassimilados nas plantas sem frutos. Os frutos constituem-se nos órgão que exercem maior poder dreno da planta, consumindo ao redor de 80% dos carboidratos produzidos (BUSTAN & GOLDSCHMIDT, 1998). No período entre abril e agosto de 2004 o crescimento dos ramos praticamente cessou e a planta permaneceu aparentemente dormente nestes meses, devido possivelmente à queda da temperatura (Figura 2). Em geral, em citros o crescimento diminui com a queda na temperatura e, praticamente cessa por volta de 13oC (REUTHER, 1977). Depois deste período, com a elevação da temperatura do ar, o crescimento dos ramos voltou a aumentar mostrando um surto de crescimento na primavera e manteve-se numa taxa aproximadamente constante também durante o verão, visto que o ângulo de inclinação da curva entre setembro de 2004 e fevereiro de 2005 permaneceu praticamente constante (Figura 3). A irrigação não apresentou efeito em relação ao desenvolvimento vegetativo, porque neste período do experimento (2004), não houve escassez importante de água e o crescimento contínuo ocorreu sob condições favoráveis de temperatura e umidade do solo. Além disso, o fator em questão está relacionado também ao processo de floração e frutificação, principalmente no que se refere à estrutura da planta e sua capacidade fotossintética (AGUSTÍ & ALMELA, 1992). Em laranjeiras períodos de baixas temperaturas e/ou de deficiência hídrica são favoráveis à indução de modificações internas nas gemas as quais, em condições favoráveis, florescem na primavera, em resposta ao aumento da temperatura e ocorrência de chuvas (Figuras 2 e 4). Neste período também ocorre a retomada do crescimento vegetativo (REUTHER, 1977) 31 (Figuras 3 ). Em 2004 o déficit hídrico não foi intenso em Cordeirópolis, portanto não houve diferenças significativas entre os tratamentos, sendo que esses dados de crescimento referem-se à somatória dos dados coletados em todas as medições realizadas no período. 2004 160 15 12 Set Out Nov Dez Set Out Nov Dez Jul Ago Jul Jun Jun Ago Abr Mai Mai 9 Mar 0 Dez Nov Set Out Ago Jul Jun Abr Mai Mar Jan Fev 9 140 DEF (mm) 120 100 80 120 100 80 60 40 40 EXD; 60 20 20 Mes Dez Nov Out Set Ago Jul Jun Mai -20 Abr -20 Mar 0 Jan 0 Fev DEF (mm) 18 60 20 140 EXD; 21 80 40 12 20 24 100 Abr 15 40 27 Mar 18 60 30 120 Jan 21 80 140 Mes Figura 2 - Temperaturas máximas e mínimas, precipitação e balanço hídrico em 2004 e 2005, em Cordeirópolis – SP. 32 Temperatura (oC) 24 100 33 Tmax Tmin Prec Fev 27 120 0 30 2005 Jan 140 180 Temperatura (oC) Precipitação (mm) 160 33 Fev Tmax Tmin Prec Precipitação (mm) 180 120 NISF NICF ISF ICF 100 80 60 10 /2 /2 00 4 10 /4 /2 00 4 10 /6 /2 00 4 10 /8 /2 00 4 10 /1 0/ 20 04 10 /1 2/ 20 04 10 /2 /2 00 5 Comprimento de ramo (cm) 140 Data Figura 3 - Crescimento de ramos em laranjeira ‘Valência’ sobre limoeiro ‘Cravo’, nos seguintes tratamentos: laranjeiras desbastadas sem irrigação (NISF) e com irrigação (ISF) e laranjeiras não desbastadas sem irrigação (NICF) e com irrigação (ICF), em novembro de 2004, Cordeirópolis – SP. 33 Flor sem folhas; 50 Ramos jovens 50 40 40 30 30 20 20 10 10 0 0 50 Tipo de estrutura (%) NISF Flor+folha; 50 NICF 40 40 30 30 20 20 10 10 0 0 50 50 ICF 40 40 30 30 20 20 10 10 0 0 50 50 ISF 40 40 30 30 20 20 10 10 0 0 Vegetativa; Chumbinho NISF Ramos velhos NICF ICF ISF 04 04 04 04 04 04 04 04 04 04 04 04 07/ 07/ 08/ 08/ 09/ 11/ 09/ 10/ 12/ 10/ 11/ 12/ 23/ 23/ 20/ 20/ 17/ 17/ 15/ 12/ 15/ 10/ 12/ 10/ Data Data Figura 4 - Tipos de estruturas brotadas a partir gemas (288 gemas por tratamento) em laranjeira “Valência” sobre limoeiro “Cravo” irrigada com (ICF) ou sem fruto (ISF); e não irrigadas e com frutos (NICF) ou sem frutos (NISF). Nos tratamentos sem frutos os mesmos foram retirados manualmente em fevereiro de 2004. 34 tenha sido devido principalmente às baixas temperaturas do inverno (RIBEIRO et al., 2006). Observou-se que entre maio e julho, a temperaturas máximas não ultrapassaram a 27 °C e as mínimas chegaram a ficar abaixo de 15 °C, e portanto, favoráveis à indução floral (ALBRIGO et al., 2002). Este ano, no entanto, o florescimento foi considerado pouco intenso. A figura 4 mostra a dinâmica do desenvolvimento e os tipos de estruturas vegetativas ou reprodutivas provenientes das gemas em ramos jovens e velhos selecionados. Em ambos os tipos de ramos, jovens ou velhos, houve brotação de ramos vegetativos, principalmente após outubro. O desenvolvimento vegetativo ou reprodutivo das gemas depende das condições fisiológicas e ambientais (REUTHER, 1977). Observou-se que prioritariamente as gemas pertencentes a ramos jovens, ou seja, daqueles brotados no verão de 2004, deram origens a flores com folhas, principalmente. MOSS, 1970, observaram que a terça parte das inflorescências de uma planta apresenta folhas. As inflorescências que apresentam folhas são as que têm maior capacidade de ‘pegamento’ do fruto (AGUSTÍ et al. 1992; LENZ, 1966; SAUER, 1951), e de acordo com GOLDSCHMIDT et al. (1985), o desbaste ou retirada dos frutos da planta, nos seus primeiros estágios de desenvolvimento, aumenta o acúmulo de reservas e leva a um aumento na floração seguinte. Nas plantas com frutos (NICF e ICF) houve predominantemente a presença de brotações vegetativas no período do verão. É conhecido que a quantidade de frutos da colheita precedente afeta a brotação e a floração, o que evidencia a concorrência por substratos para o surgimento de novas flores e sua manutenção até a formação de novos frutos. Além dos frutos competirem por fotoassimilados para seu crescimento (GOLDSCHMIDT & KOCH, 1996), também suas sementes produzem giberelinas, que podem inibir o florescimento (CASTRO et al., 1997; DAVENPORT, 1990). As plantas cujos frutos não foram retirados em 02/2004, produziram na média 3,5 caixas planta-1, o que significa uma produção relativamente alta. Outro fato que pode explicar a maior intensidade de florescimento nos tratamentos NISF e ISF (Figura 4) foi o maior crescimento vegetativo de verão (Figura3) que induziu a formação de ramos aptos a florescerem na primavera seguinte (MEDINA et al. 2005). Destaca-se que os ramos brotados no verão normalmente são mais externos à copa e expostos a radiação solar onde há maior disponibilidade de energia fotossíntese, transpiração e acúmulo de nutrientes, que podem favorecer o maior florescimento ou maior fixação de frutos. Na figura 4 pode ser observado que há maior 35 número de estruturas reprodutivas nos ramos de verão que naqueles mais velhos, gerados na primavera anterior. 4.1.2 Produção de frutos A produção de frutos foi significativamente (p>0,05) maior nos tratamentos desbastados e o desenvolvimento mais importante ocorreu na primavera (Figuras 4 e 5B), principalmente nas laranjeiras pertencentes aos tratamentos que tiveram os frutos retirados em fevereiro de 2004 (NISF e ISF) (alta produção na safra 2004/2005) em relação aos tratamentos NICF e ICF (baixa produção na safra 2004/2005). A dinâmica de surgimento de flores e de frutos no ano de 2004 foi semelhante nos tratamentos NISF e ISF independente, portanto do fornecimento suplementar de água por meio de irrigações. Certamente os breves períodos em que ocorreram déficits hídricos, de acordo com a figura 2 não foram suficientes para afetar positivamente mais ao florescimento. A irrigação não apresentou efeito detectável estatisticamente. Neste caso, ficou evidente que a maior produção de frutos foi relacionado com a produção de flores (Figura 4) e com o número de frutos fixados (Figura 5A) nos tratamentos NISF e ISF. Como esperado a massa individual de fruto foi significativamente maior (p<0,05) nas plantas com menor número de frutos, ou seja, as referentes aos tratamentos NICF e ICF, em função da competição entre frutos pelo substrato disponível (BUSTAN & GOLDSCHMIDT, 1998). Os frutos são drenos eficientes de fotoassimilados, consumindo ao redor de 80% de todo assimilado produzido pela planta (BUSTAN & GOLDSCHMIDT, 1998). GARCIA-LUIS et al. (1995) também observaram um maior intensidade de florescimento e de formação de ramos em plantas cujos frutos foram retirados. Após novembro e durante dezembro, isto é aproximando-se do verão, ocorreu um aumento nas brotações do tipo vegetativa em todos os tratamentos (Figura 4). A produção de frutos foi significativamente (p>0,05) maior nos tratamentos em que se fez a retirada artificial dos frutos em fevereiro de 2004, ou seja, nos tratamentos NISF e ISF (alta produção) em relação aos tratamentos NICF e ICF (baixa produção). A irrigação não apresentou efeito detectável estatisticamente na produção de frutos (Figura 5B). Neste caso, ficou evidente que a maior produção de frutos foi relacionado com a produção maior de flores (Figura 4) e com o número de frutos fixados (Figura 5A) nos tratamentos ISF e NISF. Como esperado a massa individual de fruto foi maior nas plantas com menor número de frutos, ou seja, as referentes aos tratamentos NICF e ICF, em função da competição entre frutos pelo substrato disponível (BUSTAN & 36 GOLDSCHMIDT, 1998). TONET et al. (2002) também observaram que a eliminação de frutos num ano acarretou em maior produção em função da ausência de competição. A Frutos planta -1 800 600 400 200 -1 Produção de frutos (kg planta ) 0 120 NISF NICF ICF ISF NISF NICF ICF ISF NISF NICF ICF ISF B 100 80 60 40 20 0 C -1 Massa por fruto (g fruto ) 200 160 120 80 40 0 Tratamento Figura 5 - Número de frutos (A); produção de frutos (B) e massa individual de fruto (C) em laranjeira ‘Valência’ não irrigada com e sem fruto (NICF, NISF) e irrigada com e sem fruto (ICF, ISF). Colheita em outubro de 2005. 37 Também estes autores sugeriram a possibilidade destas plantas entrarem em uma seqüência de alternância de safra. 4.2 Segunda etapa 4.2.1. Florescimento e frutificação Segundo AGUSTÍ (2000) a quantidade de frutos colhidos numa safra afeta a brotação e crescimento vegetativo e, conseqüentemente, a floração da safra seguinte. Nas laranjeiras com diferentes produções avaliou-se o efeito da carga pendente na safra de 2005 e da irrigação na dinâmica do florescimento e da fixação de frutos da safra seguinte, isto em 2005/06. Pela figura 6 observa-se a dinâmica do aparecimento de flores e de frutos no período entre início de setembro até meados de dezembro de 2005. Independente do tratamento em que as plantas foram submetidas o padrão de florescimento foi semelhante, ou seja, aumentou até um máximo e depois diminuiu até que todas as flores ou caíram ou foram fecundadas dando origem a frutos. O número máximo de flores das plantas irrigadas (ISF e ICF) ocorreu ao redor de 17 de setembro de 2005, ou seja, aproximadamente 15 dias antes do que as plantas não irrigadas (NICF e NISF), que ocorreu ao redor de 1 de outubro de 2005 (Figura 6 e 7). Assim, mesmo sem déficit hídrico o florescimento ocorreu nas plantas irrigadas, possivelmente porque o período de baixa temperatura foi o suficiente para induzir o florescimento e também devido às chuvas ocorridas em setembro desse ano. O período de indução pelo frio deve ter ocorrido entre junho e agosto de 2005 (Figura 2), quando a temperatura do ar abaixou significativamente. Nota-se que no tratamento irrigado (ISF e ICF) a maior quantidade de flores abertas (antese) no período de máximo florescimento ocorreu nas plantas ICF. Vale aqui ressaltar novamente que as plantas ISF foram as que apresentaram maior produção de frutos em 2005 (Figura 5). A menor quantidade de flores apresentada no tratamento ISF pode estar relacionada a três fatos: 1º) devido à competição por reservas entre os frutos em maturação e as flores, e/ou 2º) ainda ao efeito inibitório devido produção de giberelina pelas sementes, que poderiam causar uma inibição parcial no florescimento, em relação às plantas ICF que produziram menos em 2005 (Figura 5 e 6), 3º) relacionado ao maior crescimento vegetativo de verão e outono anteriores, formando maior número de ramos aptos a florescerem na primavera seguinte (Figura 3 e 4) à semelhança que houve no ano de 2004. O número máximo de flores nos tratamentos não irrigados (NICF e NISF) foi maior que o das plantas irrigadas (ISF e ICF). O florescimento mais intenso possivelmente está relacionado com o efeito suplementar da deficiência hídrica em 38 NISF; ICF; ISF A 1200 900 600 300 0 05 05 05 05 05 05 05 05 /20 /9/20 10/20 10/20 10/20 11/20 11/20 12/20 9 / 3 17 1/ 15/ 29/ 12/ 26/ 10/ B N úm ero de frutos Número de frutos (2m ) 2 -1 Número de flores (2m ) 2 -1 1500 NICF; 900 600 8/12/2005 70 60 50 40 30 20 10 0 NISF NICF ICF ISF Tratam ento 300 0 05 05 05 05 05 05 05 05 /20 /9/20 10/20 10/20 10/20 11/20 11/20 12/20 9 / 3 17 1/ 15/ 29/ 12/ 26/ 10/ Data Figura 6 - Desenvolvimento do número de flores (A) e de frutos (B) (‘chumbinho’) em laranjeira “Valência” sobre limoeiro “Cravo” nos tratamentos plantas não irrigadas e sem fruto (NISF) ou com fruto (NICF) e plantas irrigadas sem frutos (ISF) ou com frutos (ICF). Nos tratamentos sem frutos os mesmos foram retirados em fevereiro de 2004. Barras indicam erro padrão. 39 A B Figura 7 – Laranjeira ‘Valência’ sobre limoeiro ‘Cravo’ com (A) e sem (B) irrigação, mostrando a antecipação do florescimento e brotações em plantas irrigadas. Foto obtida em setembro de 2005. 40 acúmulo ao efeito da baixa temperatura na indução do florescimento. A intensidade e distribuição do florescimento estão relacionadas geralmente à intensidade e duração do estresse quando a planta entra em dormência e o crescimento é retomado ao retornar as condições ambientais adequadas (RIBEIRO et al., 2006; VOLPE, 1992). Comparativamente, nas plantas sem irrigação, o número máximo de flores ocorreu no tratamento que teve a menor produção de frutos em 2005, o NICF. As razões possíveis são as mesmas discutidas em relação a plantas irrigadas, ou seja, competição por substrato e efeito inibitório parcial dos frutos sobre o florescimento (AGUSTÍ, 2000; CASTRO et al., 2001; DAVENPORT, 1990; REUTHER, 1977). Na figura 6B observa-se o curso no tempo do número de frutos fixados. O número de frutos, em cada período é dado pelo balanço entre os frutos fixados e os frutos que sofrem abscisão. Em todos os tratamentos, após a antese e fecundação, há um crescente aparecimento de frutos até atingir um valor máximo. O número máximo de frutos ocorreu primeiramente, como esperado nas plantas irrigadas, para depois ocorrer nas plantas não irrigadas. Em relação ao pico no número de frutos, houve um padrão semelhante ao das flores, ou seja, foi mais precoce nas plantas irrigadas e com maior número nas plantas não irrigadas. Em todos os tratamentos, após o período de grande abscisão, o número de frutos realmente fixados foi somente uma pequena fração em relação ao número de flores, confirmando outros trabalhos (AGUSTÍ, 2000; CASTRO et al., 2001). No entanto, o número final de frutos fixados até a última contagem em 8 de dezembro, foi estatisticamente maior (p<0,05) nas plantas cujo tratamento inicial em fevereiro de 2004 se mantiveram os frutos (NICF e ICF), ou seja, naquelas em que a produção de frutos em 2005 foi menor (Figura 5). Este resultado sugere que a competição por fotoassimilados pode afetar o pegamento de frutos da safra seguinte. O fato de o número de frutos dos tratamentos irrigados apresentarem-se inferiores pode ter sido devido às plantas irrigadas não terem sofrido suficiente estresse por falta d’água durante o período das análises, estimulando e compensando sua produção, devido ao fato do florescimento geralmente ocorrer após a quebra de dormência induzida por um período apreciável de baixas temperaturas ou seca (DAVENPORT, 1990). Dessa forma, o período de frio também contribuiu para o desenvolvimento das plantas, resultando em uma alta produção de flores e frutos (Figura 6A). LOVATT et al. (1988) sugerem que a intensidade de distribuição da floração está relacionada geralmente à intensidade e duração do estresse quando a planta entra em repouso, o que resulta num acúmulo de reservas, que são rapidamente 41 consumidas durante a florada, no desenvolvimento vegetativo e de estruturas reprodutivas, quando há o restabelecimento das condições climáticas ideais (ABBOT, 1935). Estes resultados sugerem que a disponibilidade de carboidratos pode afetar o pegamento de frutos. 4.2.2 Teores de carboidratos Em 8 de dezembro de 2005, quando o número de frutos estabilizou-se foram medidos os diâmetros dos frutos que permaneceram nas plantas, como uma estimativa do tamanho inicial destes frutos. Neste caso a irrigação apresentou um efeito significativo, pois os frutos das plantas irrigadas apresentaram crescimento inicial maior (Figura 8). Em 2005, no período de crescimento inicial dos frutos, até dezembro houve déficit hídrico pequeno (Figuras 2), que parece que contribuiu significativamente para diminuir o crescimento dos frutos das plantas não irrigadas, provavelmente devido a possível queda na taxa de fotossíntese. Também devido ao maior crescimento dos frutos veremos à frente (Figura 9) que o teor de carboidratos metabolizáveis (carboidratos solúveis + amido) nas folhas foi menor nas plantas irrigadas. Na figura 9 observa-se o teor de carboidratos nas folhas desde a indução floral (agosto) até após o período em que a queda de frutos é irrisória, ou seja, até o período em que o número de frutos praticamente se estabilizou (8 de dezembro). Na primeira coleta de folhas, em 8/8/2005, os teores de carboidratos solúveis totais (glicose + frutose + sacarose, Figura 9A) referentes aos tratamentos irrigados (ICF e ISF) foram significativamente menor (p<0,05) que dos tratamentos não irrigados (NISF e NICF). Em agosto houve condições para indução floral (baixa temperatura, Figura 2) e nas plantas irrigadas o florescimento ocorreu mais cedo em relação às não irrigadas, devido possivelmente às condições favoráveis de umidade neste tratamento. Após agosto os teores de carboidratos solúveis totais das plantas irrigadas tenderam a aumentar enquanto que os das plantas não irrigadas diminuíram. Tal fato pode estar relacionado com a indução do florescimento e com o florescimento que também ocorreram em períodos subseqüentes (Figura 6). Nas plantas não irrigadas (NISF e NICF) o déficit hídrico manteve as plantas em dormência, portanto ainda num processo de indução de florescimento. Nas plantas não irrigadas ocorreu queda no teor de carboidratos solúveis totais entre meados de agosto e 15 de outubro, sugerindo a ocorrência de um de fluxo de carboidratos para as flores. Já se discutiu que o maior florescimento nas plantas não irrigadas deve estar relacionado com o maior período de 42 Diâmetro de fruto (mm) 40 35 30 25 20 15 10 5 0 NISF NICF ICF ISF -- Tratamento Figura 8 - Diâmetro de frutos (‘chumbinho’ até ‘ping-pong’) medidos em 8 de dezembro de 2005 (safra 2005/2006), em laranjeira “Valência” sobre limoeiro “Cravo” nos tratamentos plantas não irrigadas e sem (NISF) ou com frutos (NICF) e plantas irrigadas e sem frutos (ISF) ou com frutos (ICF). Nos tratamentos em frutos os mesmos foram retirados em fevereiro de 2004. Barras indicam desvio padrão. 43 indução em função do déficit hídrico e ser indicação que a indução floral depende da ocorrência de fatores climáticos indutivos e podem permanecer indeterminadas imediatamente antes da brotação, ou seja, vegetativa ou reprodutiva antes da quebra de dormência (HALL et al. 1977) (Figura 6). A quebra da dormência nas plantas não irrigadas ocorreu com o estímulo do re-início das chuvas (Figura 2) e conseqüente ocorrência do florescimento (Figura 6). GARCÍA-LUIS et al. (1995) também observaram uma queda no teor de açucares solúveis por ocasião da indução floral. No florescimento máximo tanto das plantas irrigadas como das não irrigadas os teores de carboidratos solúveis e metabolizáveis (Figura 9A e 9C) (metabolizáveis = carboidratos solúveis + amido) foram semelhantes e não variaram, sugerindo que o florescimento em si não afetou o consumo de carboidratos. Ou seja, a despeito das diferenças na intensidade de florescimento os teores de carboidratos apresentaram diferenças relativamente pequenas, à semelhança do que também verificaram GARCIALUIZ et al. (1995). Ou seja, não observamos uma diferença evidente no teor de carboidratos com o florescimento máximo. As plantas que apresentaram maior produção de frutos na safra 2004/2005 (ISF e NISF, Figura 5) também apresentaram menor quantidade de flores em 2005 (Figura 6). No entanto, isto não implicou em maior consumo de reservas ou de carboidratos em geral, em relação a laranjeiras que floresceram menos (Figura 6 e 9). Tal resultado indica que a maior produção de frutos nestas plantas inibiu o florescimento por outras causas que não a competição por fotoassimilados. Outros autores também não obtiveram evidências diretas da inibição do florescimento devido a competição por carboidratos (GARCIA-LUIZ et al., 1986, 1995; RUIZ et al., 2001). As laranjeiras que apresentaram maior florescimento também produziram menos frutos (Figura 4 e 5), de forma que o consumo final de carboidratos não diferiu entre os tratamentos nesta etapa de desenvolvimento. Até o início de agosto os teores de amido eram relativamente baixos (Figura 9B), porém ocorreu aumento significativo até meados de setembro. Apesar da taxa de fotossíntese diminuir significativamente no inverno (MACHADO et al., 2002), também há queda acentuada na taxa de crescimento dos frutos e de demais órgãos durante o inverno (BEVINGTON & CASTLE, 1985), podendo acarretar aumento nas reservas de amido. 44 -1 Carboidratos solúveis (mg g ) 120 -1 A 100 80 60 40 b 20 0 140 Amido (mg g ) a 140 a B 120 NISF NICF ISF ICF 100 80 60 b 40 20 -1 Carb. metabolizável (mg g ) 0 240 a C 200 160 a 120 b Fri Frni 80 40 Fir Fni b 5 5 5 5 5 5 200 200 200 200 200 200 /7/ 0/8/ 7/9/ /10/ /11/ /12/ 3 2 2 1 12 10 15 Data Figura 9 - (A) Teor de carboidratos solúveis totais (glicose+frutose+sacarose), (B) teor de amido e (C) teor de carboidratos metabolizáveis (carboidratos solúveis + amido) em folhas de laranjeira ‘Valência’ sobre limoeiro ‘Cravo’ nos tratamentos plantas não irrigadas e sem fruto (NISF) ou com fruto (NICF) e plantas irrigadas sem frutos (ISF) ou com frutos (ICF). 45 O número de frutos atingiu um valor máximo para depois que decair acentuadamente (Figura 6). O número final de frutos fixados até a última contagem em 8 de dezembro, foi maior (p<0,05) nas plantas cujos tratamentos iniciais os frutos foram mantidos (NICF e ICF), ou seja, naquelas plantas em que a produção de frutos em 2005 foi pequena. Nos tratamentos sem frutos os mesmos foram retirados em fevereiro de 2004. Setas com siglas Fir e Fni, indicam datas de florescimento máximo em plantas irrigadas e não irrigadas, respectivamente; setas Fri e Frni, datas de frutificação máxima em plantas irrigadas e não irrigadas, respectivamente (Figura 9). Este resultado sugere que a competição por fotoassimilados pode afetar o pegamento de frutos. De fato, analisando as figuras 6 e 9 conjuntamente se verifica que o aumento da abscisão está relacionado com a queda acentuada no teor de amido e de carboidratos metabolizáveis (Figuras 9B e 9C), demonstrando uma limitação no suprimento de carboidratos devido a competição entre os frutos novos em desenvolvimento. RUIZ et al. (2001) também relataram queda no teor de carboidratos, durante o período final de abscisão de frutos sugerindo também uma limitação no suprimento de carboidratos devido a competição entre os frutos em desenvolvimento. IGLESIAS et al. (2003) observaram que o aumento do fornecimento de carboidratos no período de fixação de frutos aumentou a porcentagem de fixação. O aumento na disponibilidade de carboidratos para os frutinhos em crescimento foi associado com o decréscimo da taxa de abscisão durante o período de fixação dos frutos. Vários estudos das relações fonte-dreno em citros, utilizando-se técnicas de anelamento de ramos, fornecimento artificial de sacarose, desfolhamento parcial, sugerem também que a competição por fotoassimilados entre os frutinhos regula a abscisão dos mesmos (GOLDSCHMIDT & KOCH, 1996; IGLESIAS et al., 2003). Depois do período de competição no início do crescimento dos frutos causando queda acentuada no teor de carboidratos, parece que se restabeleceu o equilíbrio entre fornecimento de carboidratos e consumo pelos frutos remanescentes e as reservas de amido aumentaram novamente (Figura 9B). Porém, as reservas de amido atingiram um patamar maior nas plantas não irrigadas. Talvez o menor patamar atingido pelas plantas irrigadas esteja relacionado ao maior consumo de carboidratos pelos frutos remanescentes, visto que o crescimento destes frutos foi significativamente maior nas plantas irrigadas (Figura 8). GONZÁLEZ-FERRER et al. (1984) afirmam que a queda no teor dos carboidratos nas folhas se dá devido ao transportes para os frutos, embora 46 eles representem somente uma pequena parte das reservas das plantas. Durante a abscisão tardia, o teor de carboidratos solúveis (substitui sacarose) nas folhas cai demonstrando uma limitação de no suprimento de carboidratos devido à competição entre os frutinhos em desenvolvimento (Figuras 6 e 9) e tanto o amido, como os sólidos solúveis acumulam-se nas folhas até o início do período de queda desses frutos novos (SANZ et al., 1987). Os teores de carboidratos em inflorescências com folhas estão intimamente relacionadas com a taxa de crescimento do fruto. A remoção dos frutos de um ramo afeta além do teor de amido, os conteúdos de açúcares solúveis nas folhas mais velhas e eles se acumulam também em folhas mais jovens até o início da queda dos frutos novos (SANZ et al., 1987). 4.3 Teores de elementos minerais na folha A seguir são apresentadas as tabelas com os resultados das análises de teores de macronutrientes realizadas em abril de 2005 e dezembro de 2005 e as análises estatísticas desses resultados encontram-se em anexo. Na tabela 1 estão apresentados os resultados da análise foliar realizada em abril de 2005, quatorze meses após o desbaste para início do experimento, período em que as plantas de todos os tratamentos já haviam se desenvolvido e, dessa forma, possuíam frutos verdes. Foram colhidas amostras em ramos com e sem frutos em todos os tratamentos. Os resultados demonstraram que as quantidades de N e K foram afetadas pela presença dos frutos. Nas amostras coletadas em ramos sem frutos (NISF, NICF, ICF e ISF), os valores de N e K foram superiores em relação às encontradas em ramos dos mesmos tratamentos, porém com a presença de frutos (NISF+F, NICF+F, ICF+F e ISF+F), indicando que os frutos consomem N e K mobilizado das folhas. De acordo com a tabela 2, os nutrientes N, P e K também tiveram os teores foliares inferiores nos ramos com frutos presentes. Como no caso anterior, isso provavelmente aconteceu devido à transferência/mobilização de nutrientes das folhas para os frutos. Note-se que em ambos os períodos de coleta, ou seja, em abril de 2005 (referente à safra de 2004/2005) com frutos em estádio mais avançado que em dezembro 2005 (safra 2005/2006), os teores desses elementos nutrientes nas folhas com frutos foram inferiores. Assim, a mobilização de nutrientes é um fator importante no desenvolvimento dos frutos. GARCIA-LUIS et al. (1995), também encontraram altas taxas de transferência de N, P e K nas folhas dos ramos com a presença de frutos. SANZ et al. (1987), observaram que a remoção de frutos durante o período de queda 47 (’june drop’) resulta num rápido acúmulo de N e K nas folhas. RUIZ & GUARDIOLA (1994) citam que a concentração de N, P e K nas folhas decresce de acordo com o tempo de desenvolvimento do fruto e com seu tamanho e se apresentam maiores nos frutos fixados do que naqueles que sofrem abscisão. 48 Tabela 1. Análise de macronutrientes em folhas de laranjeira ‘Valência’ sobre limoeiro ‘Cravo’ amostradas em 7 de abril de 2005 nos tratamentos irrigado com fruto (ICF), irrigado e sem fruto (ISF), não irrigado e com fruto (NICF) e não irrigado e sem fruto (NISF). As coletas de folhas foram feitas em ramos com frutos e ramos sem frutos. Nos tratamentos sem frutos os mesmos foram retirados em fevereiro de 2004. Cordeirópolis – SP. N (g kg-1) Tratamentos Irrigado Não irrigado Média Com fruto + F* 22,75 22,83 22,80B Com fruto – F 26,18 25,85 26,02A Sem fruto + F 22,98 25,45 24,22B Sem fruto – F 26,37 28,25 27,31A Média 24,57B 25,60 A *+F significa que a coleta foi realizada em ramos com frutos -F significa que a coleta foi realizada em ramos sem frutos Irrigado 1,32 1,32 1,0667 1,5167 1,30A P (g kg-1) Não irrigado 2,05 0,93 1,3000 1,3167 1,40A média 1,68A 1,13B 1,18AB 1,42AB K (g kg-1) Não irrigado 5,60 10,67 7,267 10,18 8,44ª Irrigado 6,10 11,207 6,27 10,32 8,47A média 5,85B 10,93A 6,77B 10,25A Tabela 2. Análise de macronutrientes em folhas de laranjeira ‘Valência’ sobre limoeiro ‘Cravo’ amostradas em 8 de dezembro de 2005 nos tratamentos irrigado com fruto (ICF), irrigado e sem fruto (ISF), não irrigado e com fruto (NICF) e não irrigado e sem fruto (NISF). As coletas de folhas foram feitas em ramos com frutos e ramos sem frutos. Nos tratamentos sem frutos os mesmos foram retirados em fevereiro de 2004. Cordeirópolis – SP. N (g kg-1) Tratamentos P (g kg-1) K (g kg-1) Irrigado Não irrigado Média Irrigado Não irrigado média Irrigado Não irrigado média Com fruto + F* 21,3 22,00 21,63 B 0,93 0,80 0,87B 7,05 6,48 6,77B Com fruto – F Sem fruto + F Sem fruto – F Média 25,7 21,40 23,30 22,91ª 24,97 22,33 24,58 23,47A 25,32 A 21,87B 23,94 A 1,15 0,88 1,18 1,04A 1,00 0,83 1,05 0,92B 1,08A 0,85B 1,11A 10,28 6,83 9,85 8,50A 8,63 7,45 10,43 8,25ª 9,46A 7,14B 10,14A *+F significa que a coleta foi realizada em ramos com frutos -F significa que a coleta foi realizada em ramos sem frutos 49 5 CONCLUSÕES 1) Na primeira etapa, a somatória dos dados de crescimento vegetativo e a produção de ramos de verão aptos para florescer na primavera seguinte são maiores em plantas sem frutos; 2) a carga pendente de frutos diminui a intensidade do florescimento; 3) as baixas temperaturas do inverno em Cordeirópolis são suficientes para induzir o florescimento. Porém o florescimento é mais intenso quando, no período de indução, também ocorre deficiência hídrica; 4) plantas irrigadas apresentam antecipação do florescimento e crescimento vegetativo em relação às não irrigadas. Além disto, o florescimento concentrou-se num período menor. 5) A irrigação proporcionou um maior crescimento inicial dos frutos. 6) O número de frutos fixados e o crescimento inicial dos frutos são limitados pela disponibilidade de carboidratos. 7) Os teores de nitrogênio, fósforo e potássio em folhas pertencentes a ramos com frutos são mais baixos, devido a mobilização destes para os frutos. 51 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABBOTT, C.E. Blossom-bud differentiation in citrus trees. American Journal of Botany, Saint Louis, v.22, p. 476-485, 1935. AGRIANUAL 2003. Anuário da agricultura brasileira. São Paulo: FNP Consultoria & Agroinformativos. 2003. 544p. AGRIANUAL, 2005. Anuário da agricultura brasileira. 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ANOVA FATOR A B A*B Erro GL 1 1 1 20 SQ 38,281250 4027,53125 132,031250 10076,6250 Tratamento Irrigada Com frutos Sem frutos1 Média 69,3 95,0 82,6 QM F P 38,281250 0,10637 0,74674 4027,53125 11,19133 0,00235 132,031250 0,36688 0,54959 359,879464 Não irrigada cm 75,4 93,8 84,8 Média 72,5 B 94,9 A Letras distintas indicam diferença significativa entre as médias a 5% pelo Teste de Tukey 1 Os tratamentos sem frutos, esses foram retirados em fevereiro de 2004. Anexo 2 - Número de frutos por planta de laranjeira ‘Valência’ sobre limoeiro ‘Cravo’ em plantas com e sem frutos e com e sem irrigação. No tratamento sem fruto os mesmos foram retirados em fevereiro de 2004. Contagem em novembro de 2005. ANOVA FATOR A B A*B Erro Tratamento Com frutos Sem frutos1 Média GL 1 1 1 20 SQ 37,500000 600,000000 0,666666667 1127,66667 Irrigado 194 922 524 QM F P 37,5000000 0,66509 0,42438 600,000000 10,64144 0,00390 0,666666667 0,01182 0,91449 56,3833333 Não irrigado Número frutos planta-1 399 855 660 Média 296 B 888 A Letras distintas indicam diferença significativa entre as médias a 5% pelo Teste de Tukey Os tratamentos sem frutos, esses foram retirados em fevereiro de 2004. 1 59 Anexo 3 - Massa fresca de frutos (por unidade) de laranjeiras ‘Valência’ sobre limoeiro ‘Cravo’ em plantas com e sem frutos e com e sem irrigação. No tratamento sem fruto os mesmos foram retirados em fevereiro de 2004. Contagem em novembro de 2005. ANOVA FATOR A B A*B Erro GL 1 1 1 20 SQ 2566,80167 3489,68167 864,000000 4619,91000 Tratamentos Irrigado Com frutos Sem frutos Média 177 141 159A QM 2566,80167 3489,68167 864,000000 230,995500 F 11,11191 15,10714 3,74033 Não irrigado g.fruto-1 144 132 138B P 0,00331 0,00092 0,06739 Média 161B 137A Letras distintas indicam diferença significativa entre as médias a 5% pelo Teste de Tukey. 1 Os tratamentos sem frutos, esses foram retirados em fevereiro de 2004. Anexo 4 – Diâmetro de frutos (mm) em laranjeiras ‘Valência’ sobre limoeiro ‘Cravo’ em plantas com e sem frutos e com e sem irrigação. No tratamento sem frutos os mesmos foram retirados em fevereiro de 2004. ANOVA FATOR A B A*B Erro GL 1 1 1 20 SQ 1180,20375 9,25041667 14,2604167 122,495000 Tratamentos Irrigado Com frutos Sem frutos1 Média 35,0 35,4 35,1A QM F P 1180,20375 192,69419 0,00000 9,25041667 1,51033 0,23335 14,2604167 2,32833 0,14270 6,12475000 Não irrigado (mm) 22,5 19,7 21,1B Média 27,5A 28,7A Letras distintas indicam diferença significativa entre as médias a 5% pelo Teste de Tukey. 1 Os tratamentos sem frutos, esses foram retirados em fevereiro de 2004. 60