Perda e ganho rápidos de peso

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Saúde
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23 • CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, domingo, 8 de julho de 2012
Cardápio em risco
de extinção
Estudo da USP alerta que hábitos e padrões
importados, como o consumo de refeições
congeladas, ameaçam a saúde da população
e a tradição alimentar brasileira
Arquivo pessoal/Divulgação
Ed Alves/CB/D.A Press
» BRUNA SENSÊVE
m vez do tradicional prato
com arroz, feijão, salada e
carne, a refeição vem précozida, em uma embalagem descartável, que precisa de
rápidos cinco minutos no microondas para ser servida. No lugar
da família reunida, esperando os
alimentos saírem da panela e serem dispostos na mesa, lanches
são consumidos individualmente em frente ao televisor ou ao
computador. Quanto do comportamento alimentar tradicional do brasileiro já foi substituído
pelos produtos e pela influência
da indústria globalizada?
Essa é a pergunta que dois pesquisadores do Centro de Estudos
Epidemiológicos em Saúde e Nutrição da Universidade de São
Paulo tentam responder, em um
artigo publicado na última edição da PLoS Medicine. Para Cláudio Monteiro e Geoffrey Cannon,
o processo de substituição já se
iniciou, mas, diferentemente do
que ocorre em outros países, o
Estado e a sociedade brasileira
resistem, com leis e políticas públicas que tentam blindar essa
influência.
No país, a alimentação tradicional está baseada no consumo
de refeições preparadas com uma
diversidade de alimentos in natura ou minimamente processados, que propiciam energia e nutrientes adequados. Segundo os
pesquisadores, a ameaça a esse
sistema chega pelas corporações
transnacionais de alimentos e
bebidas — no artigo, retratadas
como Big Food e Big Snack —,
que conseguem desestabilizar as
relações econômicas e políticas,
alterando os fluxos produtivos
locais. Desde os anos 1980, a
E
Cláudio Monteiro: propaganda
estimula alimentação prejudicial
Na Escola Classe da 410 Sul, nada de salgadinho: os alunos só consomem alimentos frescos na merenda
substituição dos sistemas de alimentação tradicionais na África,
na Ásia e na América Latina tem
crescido rapidamente, com produtos ultraprocessados gordurosos, salgados e açucarados, de
longa vida.
O impacto dessa mudança
tem potencial para minar a saúde
pública, levando ao aumento da
incidência de obesidade e doenças crônicas. Para Daniela Frozi,
conselheira nacional de segurança alimentar e nutricional e pesquisadora associada do Observatório
da
Educação
(NUTES/UFRJ), o maior impacto
dessa transição está, provavelmente, na identidade nacional.
Quanto mais adepta do padrão
de alimentação industrializada,
mais a população se afastaria de
sua cultura e de suas crenças po-
pulares relacionadas à alimentação. “Ao substituir os alimentos
frescos e mais tradicionais pelos
já processados, nossa população
poderá perder seu conhecimento
culinário, as tradições religiosas,
regionais e familiares, relacionadas ao preparo e ao consumo.”
O processo é diferenciado
nos países de alta renda, uma
vez que seus padrões dietéticos
já são completamente industrializados. Neles, a sociedade e
o Estado atuais buscam uma
forma de ajustar a formulação
de produtos ultraprocessados
para que contenham, por exemplo, menos sal e gorduras trans,
ou mais micronutrientes sintéticos. No entanto, essas reformulações, muitas vezes, permitem aos fabricantes anunciar
seus produtos como saudáveis.
Perda e ganho rápidos de peso
» REBECA RAMOS
Desde que os problemas causados pela obesidade foram estabelecidos, aumentou a quantidade de opções de dietas para os
mais diferentes biotipos e objetivos. Algumas, mais severas, restringem a ingestão de nutrientes
que seriam vilões da silhueta. Já
outras, mais conscientes, indicam o consumo equilibrado de
todos os alimentos. Um estudo
do Hospital New Balance e da
Fundação Centro de Prevenção
da Obesidade Infantil de Boston,
nos Estados Unidos, analisou três
dietas diferentes e constatou que
aquelas com menor teor de gordura aceleram a perda de peso;
entretanto, a chance de recuperá-lo é maior.
O estudo pesquisou o efeito de
três dietas diferentes e populares:
pobre em carboidrato, com pouca gordura e de baixo índice glicêmico. De acordo com a diretora
associada do Hospital New Balance, Cara Ebbeling, os partici-
pantes foram alimentados com
uma dieta padrão, para perder
entre 10% a 15% do peso corporal
inicial. Em seguida, eles foram
submetidos às três dietas diferentes, em ordem aleatória. Manter o peso é um enorme desafio
para a maioria dos indivíduos.
Uma das razões é a taxa a qual o
corpo queima calorias, que diminui com a perda de peso.
“Em outras palavras, o gasto
energético e o metabolismo ficam
mais lentos. Fizemos esse estudo
para descobrir quais dietas podem ter efeitos mais benéficos sobre o metabolismo após a perda
de peso substancial”, explica a endocrinologista Cristiane Moulin.
A especialista explica que, quando se perde peso, há uma resposta do organismo, que reduz o gasto energético e aumenta o apetite.
Isso pode ser uma das explicações
de por que é tão difícil manter o
peso após a dieta.
De acordo com Cara Ebbeling,
era esperado que o ritmo de queima de calorias dos participantes
do estudo diminuísse à medida
que perdiam peso. Mas a queda
foi maior com a dieta de baixa
gordura. Em seguida, vieram a de
baixo índice glicêmico e a de poucos carboidratos. “No entanto, é
importante notar que a dieta de
restrição de carboidratos também causou os maiores aumentos no cortisol urinário e circulantes de proteína C-reativa, que
podem aumentar os riscos de
doenças cardiovasculares.”
Para Ebbeling, a conclusão é
que dietas que restringem um tipo nutriente, como gordura ou
carboidrato, não são boas opções.
Em vez disso, é importante ter
uma alimentação moderada, com
foco na qualidade dos ingredientes, algo alcançado com a dieta de
índice glicêmico baixo. Segundo a
médica, o ideal é ingerir alimentos ricos em fibras e carboidratos
naturais, como vegetais sem amido, frutas e feijão, com a proteína
e a gordura saudável, encontrada
em alimentos como nozes, abacate e azeite de oliva.
Dessa forma, o organismo inicia
um processo chamado de cetose,
pelo qual o pâncreas converte as
proteínas em ácidos graxos para
que o organismo utilize as reservas de gorduras como fonte de
energia. A dieta, muito contestada, ganhou mais um ponto contrário. Um estudo realizado na
Suécia e publicado no British Medical Journal sugeriu que as mulheres que seguem essa dieta estão
se expondo aos risco de doenças
cardiovasculares e de acidente
vascular cerebral (AVC).
Mais de 43 mil mulheres que
seguiram a dieta Atkins foram
avaliadas durante 15 anos e, dessas, 1.270 sofreram um AVC no período. Os pesquisadores descobriram que, com menos 20g de carboidratos e mais 5g de proteínas
ao dia, o risco de desenvolvimento
de doenças cardiovasculares foi
5% maior,comparando-se a quem
não aderiu ao regime. (RR)
Para saber mais
Em meados dos anos 1970, o
cardiologista norte-americano
Robert Atkins lançou sua dieta revolucionária. No cardápio proposto pelo médico, os que aderiam à dieta deveriam ingerir
proteínas em grande quantidade
e quase nada de carboidratos.
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Regime
polêmico
Segundo especialistas, isso pode levar a um aumento do consumo desses alimentos, em detrimento daqueles in natura ou
minimamente processados.
Segundo Monteiro, dois bons
exemplos dessas estratégias que
já chegaram aos outros países
são as batatas chips fritas, com
óleos não hidrogenados e com
menos sal, além das redes de fastfood que oferecem lanches supostamente saudáveis. No primeiro caso, o produto continua,
na prática, uma fonte compacta
de calorias vazias, que aumenta o
risco de obesidade e de deficiências nutricionais. No segundo, os
alimentos usualmente apresentam teor de sal, açúcar e gorduras muito próximos dos limites
máximos recomendados. Invariavelmente, são hiperpalatáveis
e possuem alta densidade energética, fatores que promovem a
obesidade. “Esses produtos reformulados são alvo de intensa propaganda e, nessa medida, seu
impacto pode ser ainda mais danoso do que o dos produtos ultraprocessados tradicionais.”
Merenda
A professora da Faculdade de
Ciências Aplicadas da Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp) Julicristie de Oliveira
lembra que, no Brasil, existem
programas que tentam proteger
a população da influência dos
alimentos industrializados. “O
país possui uma série de políticas com grande potencial para
promoção da saúde da população. Entre os principais, estão o
Programa Nacional da Alimentação Escolar (PNAE), o Programa
de Alimentação do Trabalhador
(PAT) e o Programa Restaurante
Popular”, cita Julicristie.
De acordo com a legislação
brasileira, é assegurada a todas as
crianças uma refeição na escola,
sendo que pelo menos 70% do
alimento deve ser fresco ou minimamente processado. Na última
semana, uma das refeições da Escola Classe da 410 Sul foi arroz de
carreteiro. Segundo a coordenadora pedagógica da escola, Cristina Tibúrcio, ainda são acrescentados verduras, hortaliças e
temperos frescos na alimentação. Como a escola não as tradicionais cantinas de salgadinhos,
a comida saudável acaba sendo a
única opção. Mas Cristina acredita que, se pudessem, os estudantes trocariam a alimentação
assada e cozida por frituras. “A
família precisa dar continuidade
ao trabalho da escola em casa. É
possível que na alimentação familiar existam comportamentos
que desestimulam essa mudança no aluno”, observa.
Mesmo com iniciativas nutricionais como a merenda escolar
saudável e o ostensivo incentivo
ao aleitamento materno, o nutricionista Aldemir Mangabeira, especializado em saúde pública,
acredita que o caminho ainda deve ser longo para um intervenção
estatal com maiores resultados.
Para ele, algumas medidas, como
a desoneração tributária para
matérias-primas da cesta básica,
seriam ainda mais efetivas. “Acredito que o Estado, no papel de
promotor de saúde, está perdendo a luta, e a oportunidade de deter o avanço do sobrepeso e da
obesidade, além das doenças
crônicas na sociedade.”
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