A operação da Lava Jato entrou em uma fase decisiva esta semana, com a assinatura dos acordos de delação premiada dos executivos da construtora Odebrecht com a Procuradoria-Geral da República (PGR). Além das consequências políticas, o episódio terá impacto na imagem do Brasil junto aos investidores estrangeiros? Ao colaborar com as investigações, os 78 diretores e ex-diretores da Odebrecht prometem mostrar as provas do envolvimento no escândalo de corrupção de dezenas ou até centenas de políticos do alto escalão de diferentes partidos, com nomes de ministros e até chefes de Estado. A imprensa nacional já fala de “delação do fim do mundo”, tamanho pode ser o impacto no cenário político brasileiro. Os desdobramentos da Lava Jato também podem ter repercussões na economia, já que os investimentos estão “relativamente estagnados”, como lembra o francês Yves Jadoul, consultor para empresas estrangeiras no Brasil. Segundo ele, “os investidores internacionais esperam esse movimento há bastante tempo”. No entanto, o consultor, que dirige a Viability, empresa especializada em fusões e aquisições, considera que “os investimentos estão mais parados não pela Lava Jato, e sim porque estão aguardando as regras que vão permitir um saneamento [do déficit] do Estado. Tudo está muito mais travado devido a um Estado paquidérmico do que a um problema de justiça”, analisa. Investidor estrangeiro não tem tempo para essas coisas Em termos de imagem, interna e externamente, caso sejam provadas todas as denúncias, o processo reforça o estigma de um país corrompido. Mas para o francês, essa não é uma especificidade brasileira e “a corrupção é uma gangrena da América Latina. Argentina, Peru, Chile, Colômbia e Venezuela seguem a mesma regra. A diferença é que o Brasil é o único que tem capacidade de receber quantidades gigantescas de investimento”, lembra Jadoul. Já para o economista-chefe Alex Agostini, da agência de classificação de riscos Austin Rating, uma das consequências é que os agentes econômicos passam a desconfiar das ações das instituições e reagem com cautela na hora de investir. “Mas com relação aos investidores internacionais, a situação é mais grave, pois eles não estão no dia-a-dia do país”, comenta. Na opinião de Agostini, diante da incerteza, os estrangeiros ficam muito mais em alerta para medir os potenciais riscos sobre seus negócios ou setores de atividade. Acostumado a acompanhar empresários vindos de exterior para investir no Brasil, Jadoul, que aconselhou a francesa Serap a comprar a empresa Plurinox, em São Paulo, afirma que grande parte dos investidores estrangeiros não entendem exatamente o contexto da Lava Jato. “Quando eu explico, principalmente aos anglo-saxões, eles entendem que isso faz parte do compliance, de uma boa gestão de um Estado. Esse assunto é visto apenas como uma curiosidade local”, relata. Ele reconhece que, para os brasileiros, o escândalo de corrupção representa uma revolução no modus operandi no país. “Mas o investidor estrangeiro não tem tempo para essas coisas”, constata. Um momento de oportunidades No fim de semana passado, um artigo do jornal econômico francês Les Echos dizia que muitas empresas internacionais estariam vendo nesse contexto de turbulência política e econômica um momento de oportunidades. A prova disso, segundo o texto, é que “quatro das cinco maiores transações comerciais registradas no terceiro trimestre de 2016 foram assinadas por investidores estrangeiros”. Mas Agostini pondera essa afirmação. Ele estima que as possíveis oportunidades não surgem diretamente em virtude da Lava Jato e do ambiente político, e sim do que esse contexto provocou em termos de depreciação dos ativos empresariais. “Como a economia foi à bancarrota, muitas empresas ficaram endividadas e estão vendendo parte de suas atividades por preço menores que seu real valuation”, explica. Além disso, comenta o economista, o fato de a Justiça fechar o cerco aos políticos envolvidos no escândalo instaura a ordem e pode resgatar a credibilidade das instituições. Para ele, isso pode ser visto pelos investidores como a entrada em um ciclo mais seguro, “numa economia em que, aparentemente, o pior já passou em termos de ajustes de política econômica”. Já o consultor francês lembra que essa oportunidade de investimentos para os estrangeiros é muito mais uma consequência do câmbio favorável e do diferencial de taxa de juros. “Os investidores podem fazer um empréstimo em seu país de origem com um custo perto de zero, enquanto no Brasil a taxa de juros é de quase 2,5% ao mês”, ressalta. Porém, lembra Jadoul, não adianta investir em um país apenas por causa de condições favoráveis de entrada se, ao mesmo tempo, não há consumo interno para que a atividade possa se desenvolver.