23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental II-393 - CARACTERIZAÇÃO DAS BACTÉRIAS HETEROTRÓFICAS DE SISTEMAS DE LODO ATIVADO, GERADAS A PARTIR DE ESGOTO BRUTO E ESGOTO DIGERIDO Alana Queiroz Rodrigues(1) Graduada em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Campina Grande. Mestre em Engenharia Civil, Área de Concentração em Saneamento pela Universidade Federal de Campina Grande. Adrianus van Haandel Ph.D em Engenharia Civil pela Universidade da Cidade do Cabo, África do Sul. Pós-doutor em Ciências Ambientais pela Universidade Agrícola de Wageningem, Holanda. Professor do Curso de Pós-graduação em Engenharia Civil e Ambiental e do Curso de Doutorado em Recursos Naturais da UFCG em Campina Grande. Paula Frassinetti Feitosa Cavalcanti Mestre em Engenharia Civil pela Universidade Federal da Paraíba. Doutora em Ciências Ambientais pela Universidade Agrícola de Wageningen. Professora Adjunta do Departamento de Engenharia civil do Centro de Ciências e Tecnologia da UFCG. Endereço(1): Rua José Alves Sobrinho, 637 – Alto Branco – Campina Grande – Paraíba – CEP:58103-005 – Brasil – Tel: (083) 3322 7792 e (083) 9921 8044 – Fax: (83) 3321 9775 – e-mail: [email protected] RESUMO Neste trabalho são apresentados os resultados obtidos numa investigação experimental sobre a caracterização das bactérias heterotrófico geradas em dois sistemas de lodo ativado do tipo RBS, um tratando esgoto bruto e o outro esgoto digerido. O sistema RBS-1 recebia esgoto bruto, enquanto o sistema RBS-2 recebia esgoto digerido proveniente de um reator anaeróbio de fluxo ascendente e manta de lodo (reator UASB). Para caracterização do desempenho dos sistemas quanto à remoção de matéria orgânica, sólidos suspensos e amônia, foram aplicados métodos analíticos padronizados. Para caracterizar a atividade biológica e decaimento das bactérias heterotróficas foram realizados ensaios respirométricos para determinar a Taxa de Consumo de Oxigênio - TCO. Os resultados desses testes permitiram determinar a taxa de utilização máxima do material carbonáceo (rmc), o crescimento máximo específico (μmc), e o coeficiente de decaimento do lodo. A sedimentabilidade do lodo foi avaliada através do teste de Índice Volumétrico de Lodo (IVL). Ambos os sistemas foram eficientes na remoção de matéria orgânica e de sólidos suspensos. No sistema RBS-2 não houve nitrificação, enquanto que no RBS-1 o processo de nitrificação não foi expressivo. Os resultados da investigação experimental mostraram que as bactérias heterotróficos geradas em cada sistema apresentavam capacidade metabólica bastante diferente: no sistema RBS-1 as bactérias heterotróficas conseguiram o dobro da atividade metabólica que as do sistema RBS-2. Quanto à sedimentabilidade, o lodo gerado no sistema RBS-1 apresentou melhores características de sedimentação que o gerado no sistema RBS-2: IVL médio de 83 mL/g para o sistema RBS-1 e 190 mL/g para o RBS-2. PALAVRAS-CHAVE: Sistema de lodo ativado, reator de batelada seqüencial, bactérias heterotróficas, caracterização, respirometria. INTRODUÇÃO A remoção do material orgânico em sistemas biológicos de tratamento é feita por microorganismos, em particular as bactérias heterotróficas, que utilizam a matéria orgânica para síntese de novo material celular ou como fonte de energia. Os processos que se desenvolvem nos sistemas biológicos de tratamento podem ser de natureza aeróbia e anaeróbia. Sistemas de tratamento biológicos aeróbios produzem um efluente de boa qualidade com baixas concentrações de matéria orgânica e sólidos suspensos, além de possibilitarem a remoção de nutrientes quando adequadamente projetados. Entretanto, esses sistemas apresentam como desvantagens um alto custo de implantação, operação, manutenção e a grande quantidade de lodo gerado. Na tentativa de uma redução de custos, novas alternativas têm sido propostas como, por exemplo, um pré-tratamento anaeróbio. Uma combinação pesquisada (SILVA et al.(1995), COLLETI et al. (1997), FREIRE (1999) MIRANDA et al. (2001), COURA (2002)), e aplicada na prática do tratamento de esgoto é a do reator anaeróbio do tipo UASB ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 1 23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental seguido de sistemas de lodo ativado. De acordo com VAN HAANDEL E LETTINGA (1994) nos reatores UASB a matéria orgânica (MO) é removida com boa eficiência e a uma taxa bastante elevada, com um tempo de permanência de apenas algumas horas, produzindo um lodo estabilizado. Os custos de construção e operação desse sistema são muito baixos. O sistema de lodo ativado recebendo efluente digerido irá gerar uma massa de lodo bem menor que aquela gerada num sistema tratando esgoto bruto, além do que, o lodo produzido poderá ter características mecânicas e biológicas diferentes. A determinação da Taxa de Consumo de Oxigênio (TCO), num teste de respirometria, permite estimar qual é a taxa de metabolismo do material orgânico pelo lodo (Van Haandel e Marais, 1999). O teste pode ser realizado em pequena escala e os valores da TCO em função do tempo possibilitam a determinação das principais constantes cinéticas relativas à capacidade metabólica e ao decaimento do lodo heterotrófico. As características de sedimentação do lodo gerado em cada um dos sistemas podem ser avaliadas através do Índice Volumétrico de Lodo (IVL). Dentro deste contexto e visando a caracterização das bactérias heterotróficas presentes no lodo, foram operados dois sistemas: um sistema de lodo ativado do tipo RBS (reator de batelada seqüencial), e um sistema combinado reator UASB seguido de sistema de lodo ativado do tipo RBS. MATERIAL E MÉTODOS A investigação experimental foi realizada no período de abril a outubro de 2004. Foram operados dois sistemas de lodo ativado do tipo reatores de bateladas seqüenciais (RBS), denominados de sistema RBS-1 e sistema RBS-2, sendo o primeiro do tipo convencional, alimentado com esgoto bruto e com volume útil de 60 litros, e o segundo um sistema combinado UASB-RBS, onde o reator UASB fazia o tratamento do esgoto bruto, alimentando o reator RBS com esgoto digerido. O reator UASB e o RBS do sistema RBS-2 tinham ambos um volume útil 20 litros. O reator UASB foi operado com um tempo de detenção hidráulica (TDH) de 4 horas. As Figuras 1a e 1b são fotos dos sistemas operados, destacando-se o tanque de armazenamento de esgoto bruto (TAEB) e esgoto digerido (TAED), o reator UASB, os reatores RBS, os tanques de armazenamento dos efluentes clarificados (TAEC). Destaca-se, ainda nessas figuras a unidade de automação da operação dos reatores RBS, o Controlador Lógico Programável (CLP), desenvolvido no Departamento de Engenharia Elétrica da UFCG. Como os dois sistemas de lodo ativado eram do tipo RBS, a alimentação, aeração, agitação, sedimentação e descarte eram feitos no próprio reator aerado, de forma automatizada. O ciclo diário de operação foi de 10 bateladas seqüenciais, com duração de 144 minutos, cada batelada. No início da operação dos sistemas a duração de cada fase da batelada era: alimentação – 12 minutos; aeração e agitação – 60 minutos; sedimentação – 60 minutos e descarte – 12 minutos. Para diminuir o tempo sem aeração numa batelada, visando melhorar o desempenho dos sistemas, o tempo de cada fase da batelada foi modificado para: alimentação – 12 minutos; aeração e agitação – 94 minutos; sedimentação – 30 minutos e descarte – 8 minutos. Esse novo ciclo de operação teve uma duração de 3 meses. A vazão de alimentação dos dois sistemas era de 120 L/dia.Os reatores aerados dos sistemas RBS-1 e RBS-2 foram operados com idade de lodo de 10 e 20 dias, respectivamente. Os parâmetros analisados foram: pH, alcalinidade total (Alctot), DQO, NTK, N-NH4+, N-NO-2, N-NO-3, SST, SSV e IVL30 (AWWA/APA/WEF, 1995). O lodo obtido dos descartes diários era utilizado para fazer os testes respirométricos para avaliação da capacidade metabólica e sedimentabilidade. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 2 23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental (a) (b) Figura 1 – Fotos dos sistemas: (a) RBS-1 (direita) e RBS-2 (esquerda), vendo-se o tanque de armazenamento de esgoto bruto (TAEB), o tanque de armazenamento de efluente digerido (TAED), o reator aerado (RBS), o reator UASB, o tanque de armazenamento de efluente clarificado (TAEC) e o Controlador Lógico Programável (CLP). O teste respirométrico para determinação da capacidade metabólica das bactérias heterotróficas foi realizado da seguinte maneira: uma amostra de 1 litro de licor misto era coletada e submetida a agitação e aeração controlada por um respirômetro, afim de que todo substrato eventualmente presente fosse utilizado, estabelecendo-se uma TCO mínima correspondente à respiração endógena. Logo em seguida era adicionado substrato orgânico em abundância, sendo então registrada a TCO máxima (respiração exógena) correspondente à utilização desse substrato. Como substrato orgânico foi adicionado 140mg/L (como DQO) de acetato de sódio e a proporção entre a TCO máxima (com substrato abundante) e a TCO mínima (sem substrato) dá a informação sobre a capacidade metabólica do lodo heterotrófico. Para se determinar o Índice Volumétrico de Lodo (IVL) uma amostra de 1 litro da suspensão de lodo, com concentração de sólidos suspensos determinada, era deixada decantar por 30 minutos, numa proveta transparente e graduada, anotando-se o volume dos sólidos sedimentados. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Desempenho dos sistemas A Tabela 1 apresenta a media dos valores que caracterizaram os afluentes e efluentes dos sistemas, durante todo período de operação. Observando-se a Tabela 1, vê-se que os valores da DQO do esgoto bruto variaram entre 124 e 962 mg/L, enquanto a DQO do efluente do sistema RBS-1 variou de 18 a 173mg/L e do sistema RBS-2 de 27 a 181mg/L. Devido às chuvas, que resultou numa diluição do esgoto bruto, os sistemas RBS-1 e RBS-2 foram operados sob condições variáveis de carga orgânica, mas, no entanto, conseguiram apresentar bom desempenho quanto à eficiência de remoção de matéria orgânica e sólidos suspensos, com uma eficiência de remoção de DQO e de SST superior a 80% e 90%, respectivamente. Deve-se ressaltar o bom desempenho do sistema anaeróbio de pré-tratamento, o reator UASB, que apresentou uma eficiência média de remoção desses dois parâmetros de 70% para DQO e 84% para SST. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 3 23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental Tabela 1: Caracterização do afluente e efluente dos sistemas durante o período de operação. Parâmetros DQO (mg/L) NTK (mg/L) N-NH+4 (mg/L) N-NO-3 (mg/L) N-NO-2 (mg/L) Alctot (mg/L) pH SST (mg/L) SSV (mg/L) EB Méd Máx Mín 483 962 124 44 35 329 7,2 151 118 Sistema RBS-1 Reator Efluente RBS RBS 74 173 18 24 23 1466 1214 Efluente UASB 141 249 76 42 38 1,2 2,86 256 7,6 11 11 0,50 0,03 393 7,4 23 22 Sistema RBS-2 Reator Efluente RBS RBS 82 181 27 39 37 1091 938 0,80 0,06 349 7,7 13 12 O processo de nitrificação não foi satisfatório nos sistemas RBS-1 e RBS-2,: enquanto que no sistema RBS-1 o processo de nitrificarão se desenvolveu com baixa eficiência e de maneira instável, no sistema RBS-2, que recebia esgoto digerido, não houve nitrificação, mesmo sendo a idade de lodo de 20 dias e operando sob condições próximas as ideais de pH (próximo a neutralidade), temperatura (±26°C) e concentração de oxigênio dissolvido (3 a 4,5mg/L). A remoção de nitrogênio do sistema RBS-1 foi de 45% para NTK e de 34% para nitrogênio amoniacal, apresentando ainda concentrações elevadas no efluente final de 24mg/L e 23mg/L, respectivamente. Atividade metabólica do lodo heterotrófico A atividade metabólica do lodo heterotrófico é dada pela taxa máxima de crescimento especifico das bactérias heterotróficas e foi calculada utilizando-se as equações básicas do metabolismo bacteriano: 1) crescimento das bactérias heterotróficas DOLD et al (1980): ⎛ dX a ⎞ = μ ⋅ X = μ ⋅ S ⋅ X / (S + K ) ⎜ c a mc b a b sc dt ⎟⎠ c ⎝ onde: (dXa/dt)c: taxa de crescimento das bactérias heterotróficas; μc: taxa de crescimento específico das bactérias heterotróficas; Xa: concentração de bactérias heterotróficas; μmc: taxa de crescimento específico máximo das bactérias heterotróficas; Sb: concentração do substrato material orgânico biodegradável; Ksc: constante de meia saturação do uso do material orgânico. (1) De acordo com VAN HAANDEL E MARAIS (1999) a essência do modelo de Monod se resume em dois pontos: (1) a taxa de crescimento de microorganismos é proporcional à taxa de metabolismo ou utilização do substrato pelos microorganismos; (2) a taxa de utilização do substrato depende da concentração desse substrato. Então, a expressão básica que relaciona a taxa de utilização do substrato orgânico biodegradável com a taxa de crescimento das bactérias heterotróficas é: ⎛ dX a ⎞ = Y ⎛ dSb ⎞ = Y ⋅ r ⎜ h⎜ h uc dt ⎟⎠ c dt ⎟⎠u ⎝ ⎝ (2) onde: (dSb/dt)u: taxa de utilização do material orgânico; ruc: taxa de utilização do material orgânico; Yh: coeficiente de rendimento das heterotróficas – 0,45 mgXa/mgDQO (MARAIS E EKAMA, 1976). ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 4 23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental A taxa de crescimento das bactérias heterotróficas é máxima quando a concentração do substrato material orgânico é muito alta fazendo com que Sb/(Sb+Ksc)≈ 1. Neste caso pode-se escrever: μ mc = Yh ⋅ rmc / X a (3) onde: rmc: taxa de utilização máxima do material orgânico. A constante μmc representa numericamente o crescimento máximo das bactérias heterotróficas e é a constante cinética mais importante que caracteriza á massa. Para se calcular o seu valor, é necessário que se determine, além da taxa máxima de utilização do substrato, a concentração de lodo ativo (concentração das bactérias heterotróficas). Para se obter a taxa de utilização do substrato, pode-se determinar a TCO máxima relacionada com essa utilização. Como o material orgânico é o substrato das bactérias heterotróficas, utiliza-se um afluente com abundância de material orgânico para proporcionar grande quantidade de alimento para as bactérias. Sabe-se que no metabolismo do material orgânico 2/3 deste é usado para síntese de nov massa bacteriana e 1/3 é oxidado (Marais e Ekama, 1976). Como para a oxidação de 1/3 kg DQO é necessário por definição 1/3 kg de oxigênio, a taxa de utilização máxima do material orgânico é três vezes o valor da TCO máxima, tem-se: rmc = 3 ⋅ TCOmc (4) A concentração de lodo ativo Xa pode ser determinada pela expressão da taxa de respiração endógena (VAN HAANDEL E MARAIS, 1999): TCOend = fcv(1-f)bhXa TCOend fcv f bh Xa (5) taxa de respiração endógena proporção entre DQO e massa de lodo volátil (1,5 mgDQOP/mgSVS) fração que permanece como resíduo endógeno depois do decaimento (0,8) constante de decaimento das bactérias heterotróficas (0,4*1,04(t-20)) concentração das bactérias heterotróficas (mgSVS/L) Com a determinação da TCO máxima e da concentração das bactérias heterotróficas é possível calcular a taxa máxima de crescimento específico para a população bacteriana heterotrófica. Como se tinha duas populações de lodo geradas com características diferentes, onde um dos sistemas recebia um pré-tratamento anaeróbio e o outro não, pôde-se avaliar alguma interferência sobre a capacidade metabólica através do valor de μmc. Nos respirogramas da Figura 2, observa-se a variação da TCO com o tempo, quando era adicionada uma determinada quantidade do substrato específico para as bactérias heterotróficas – acetato de sódio, quando a TCO registrada era mínima (TCO endógena – TCOend). No respirograma, vê-se que, após a adição do substrato houve aumento da TCO que atingia o seu valor máximo (TCOmax = 116 mg/L/h). A partir daí e, a medida que o substrato ia sendo utilizado, a TCO diminuía até atingir o seu valor mínimo (TCOend = 16 mg/L/h) novamente. Já no sistema RBS-2, que recebia como afluente esgoto digerido, a resposta ao mesmo estímulo de acetato de sódio era bem menor, sendo que a TCO só aumentou de 18 para 59 mg/L/h. Conclui-se que a capacidade metabólica das bactérias heterotróficas no lodo do sistema RBS-1 era bem maior que a das bactérias no sistema RBS-2. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 5 23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental Figura 2: Respirogramas típicos dos testes de TCO para determinação da atividade metabólica das bactérias heterotróficas dos sistemas RBS-1 (esquerda)e RBS-2 (direita). Tabela 2: Valores TCO endógena e a TCO máxima e valores derivadas da concentração de lodo ativo, da taxa máxima de utilização de material orgânico (acetato) e da constante de crescimento específico máxima μmc dos sistemas RBS-1 e RBS-2. Parâmetro TCOend TCOmax TCOmax-TCOend Xa = TCOend/(fcv(1-f)bh) rmc = 3(TCOmax-TCOend) µmc=Yhrmc/Xa Unidade mg/L/dia mg/L/dia mg/L/dia mgSVS/L mgDQO/L/dia /dia RBS-1 384 2928 2544 1053 7632 3,3 RBS-2 432 1416 984 1185 2952 1,1 Na Tabela 2 observa-se a seqüência de cálculos que se fez para determinar a constante de crescimento específico máximo a partir das taxas mínima e máxima de consumo de oxigênio: calculou-se a taxa máxima de utilização do substrato acetato, rmc e da concentração de lodo ativo Xa e subseqüentemente a constante, µmc. O valor numérico encontrado para µmc do lodo de RBS-1 era em torno de 3 vezes maior que a de RCS-2, o que indica que a capacidade metabólica do primeiro era bem maior que do segundo. Em termos absolutos, um valor µmc = 3,3 /dia é um valor baixo para um substrato bom como acetato e uma temperatura de 26 oC, que era a média durante a pesquisa. Sedimentabilidade do lodo A Tabela 3 contém os valores do Índice Volumétrico de Lodo (IVL em mL/g). O sistema que recebia esgoto digerido (RBS-2) apresentou melhores resultados de sedimentabilidade, com IVL médio de 83mL/g, enquanto que o sistema RBS-1 apresentou IVL médio de 190mL/g. Enquanto o valor de IVL em RBS 1 seria aceitável na prática o IVL de RBS-1 levaria a grandes problemas operacionais por causa da sedimentabilidade sofrível. Tabela 3: Valores da concentração do Índice Volumétrico de Lodo dos sistemas RBS-1 e RBS-2. Parâmetro Afluente IVL (mL/g) Unidade Máx RBS-2 Esgoto digerido 143 RBS-1 Esgoto bruto 341 Mín 38 126 Méd 83 190 ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 6 23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental CONCLUSÕES Os sistemas RBS-2 e RBS-1 apresentaram bom desempenho na remoção de matéria orgânica e sólidos suspensos, com eficiência de remoção superior a 80% e 90%, respectivamente. O sistema combinado RBS-2 demonstrou ser uma alternativa tecnicamente viável e mais econômica para tratamento de esgotos, visto que o reator UASB se destacou como unidade principal de remoção de matéria orgânica (70%) e sólidos em suspensão (84%), característica fundamental para minimização do custo de aeração no reator aerado (reator RBS). O lodo do sistema RBS-1 apresentou uma sedimentabilidade mediana (IVL de 83mL/g), mas o lodo de RBS-2 apresentou características de sedimentação sofrível (IVL de 190mL/g). As bactérias heterotróficas do sistema RBS-1 apresentaram o triplo da atividade metabólica daquelas do sistema RBS-2. Enquanto as bactérias heterotróficas do sistema RBS-1 apresentaram crescimento específico (μmc) de 3,3 dia-1, as bactérias heterotróficas geradas no sistema RBS-2 tiveram um valor de (μmc) de 1,1 dia-1. A respirometria demonstrou ser uma ferramenta confiável e prática para avaliar a atividade metabólica e o decaimento do lodo heterotrófico. AGRADECIMENTOS A obtenção dos resultados experimentais foi possível graças ao apoio financeiro da CAPES através do programa PROSAB. A investigação experimental foi realizada nas dependências da Cia de Águas e Esgotos da Paraíba - CAGEPA. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AWWA/APHA/WEF. Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater. 19th edition. Washington, 1995. COLLETI, F. J; POLVINELLI, J.; DANIEL, L. A. Pós-tratamento por lodos ativados de efluentes 2. provenientes de processos anaeróbios de tratamento de esgoto sanitário: Determinação de constantes cinéticas. In: 19° Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental - ABES. Foz do Iguaçu - PR. Anais. Tomo I, Trabalho Técnico I-118, p.660-670, 1997. COURA, M. A. Comportamento do sistema anaeróbio-aeróbio com o reator anaeróbio de fluxo 3. ascendente e manta de lodo e o sistema de lodo ativado no tratamento de esgoto doméstico na região tropical. 2002. Tese de doutorado, Universidade Federal de Campina Grande, Paraíba, 2002. DOLD, P.L.; EKAMA, G.A. e MARAIS, G.v.R. A general model for the activated sludge process. 4. Prog.Wat.Tech., 12,47-77, 1980. FREIRE, V. O. Avaliação do desempenho de um sistema combinado UASB – lodos ativados no 5. tratamento de efluentes sanitários e modelagem do sistema de lodos ativados. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Minas Gerais. 126p, 1999. GUIMARÃES, P. Sistema de lodo ativado em bateladas seqüenciais para pós-tratamento de esgoto 6. digerido em um reator UASB. 2003 Tese de Doutorado – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal – RN, 2003. MARAIS, G.v.R e EKAMA, G.A. The activated sludge process: steady state behaviour. Water S.A., 2 7. (4), 163-200, 1976. MIRANDA, F. J. F.; VON SPERLING, M.; CHERNICHARO, C. A. L. Avaliação do comportamento 8. do nitrogênio no sistema combinado UASB - lodos ativados. In: 21° Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental - ABES. 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ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 8