Daniela Mota Gonçalves Doença Inflamatória Intestinal crônica: relato de caso Niterói/RJ 2013 Daniela Mota Gonçalves Doença Inflamatória Intestinal crônica: relato de caso Monografia apresentada como requisito final à obtenção do Título de Especialista no Curso de Pós-Graduação, Especialização em Clínica e Cirurgia de Pequenos Animais, da Equalis, orientada pela Prof. MSc. Sylvia Cristina Silva de Azevedo. Niterói/RJ 2013 Daniela Mota Gonçalves Doença Inflamatória Intestinal crônica: relato de caso Monografia apresentada como requisito final à obtenção do Título de Especialista no Curso de Pós-Graduação, Especialização em Clínica e Cirurgia de Pequenos Animais, da Equalis, orientada pela Prof. MSc. Sylvia Cristina Silva de Azevedo. Niterói/RJ, 11 de junho de 2013 _______________________________________ - Sylvia Cristina Silva de Azevedo - Niterói/RJ 2013 Dedicatória Aos meus pais e irmãs por tudo que sou hoje. Ao meu marido pela compreensão, paciência e apoio. Agradecimentos Agradeço à minha família, por tudo que sou. Não tenho palavras pra descrever o quanto sou grata por tudo. Nos momentos mais difíceis a nossa união nos deu a força de continuar em frente. E vocês sempre me mostram o caminho! Ao Carlos, que teve a grande compreensão pela minha ausência nos finais de semana de pós-graduação. TE AMO!!! Aos meus amigos e padrinhos Marcela e Pedro que também compreenderam a minha ausência. Em especial a Nina, que nos trará eterna alegria. A minha Orientadora, Sylvia pelos ensinamentos, pela paciência, companheirismo e mais do que tudo, pela amizade. Ao Mauricio, obrigada por fazer minha amiga feliz. Obrigada por existirem! A toda Equipe da Animália que acreditou em mim desde o início. Em especial, obrigada aos padrinhos Jaqueline, Renato e Ana Carolina por tudo! A amiga Priscila, sempre presente e que me incentivou a ingressar nessa jornada. A Duda e a Tchatcha, que contribuem diariamente na minha formação profissional e me fazem entender o que é ser proprietária. A Raquel, por me ajudar nessa jornada. A todos os amigos que fazem parte da minha vida e me mostram que nada é por acaso! “Toda grande caminhada começa com um primeiro passo. Então, não espere um momento ideal, uma pessoa ideal, um local ideal, uma ferramenta ideal ou uma ideia ideal para começar sua caminhada (seu trabalho). As ferramentas são muitos úteis, contudo, quando damos mais ênfase às ferramentas, acabamos perdendo o foco, o objetivo da caminhada. Logo, antes de sair de casa tenha em mente um objetivo claro e um plano bem definido. Contudo, pode ser que seu objetivo e consequentemente seu plano mude. Entretanto, perceba que eles nunca deixam de existir nas caminhadas bem sucedidas.” Robson Feitosa Resumo A doença inflamatória intestinal crônica é uma patologia imunomediada que pode causar diarreia, vômitos, perda de peso e hematoquezia por mais de 3 a 4 semanas. Seu diagnóstico é feito através da histopatologia de fragmentos de estômago e intestino, que podem ser coletados por endoscopia ou por laparotomia exploratória. O objetivo deste trabalho foi relatar o caso de um cão, fêmea, Labrador Retriever, 8 anos com gastrite linfocítico-plasmocitária cujos sintomas de vômito e diarreia persistentes, anorexia, perda progressiva de peso e hematoquezia persistiam cerca de 8 meses. O paciente foi submetido à corticoterapia já que não teve boa resposta a outros imunossupressores. Palavras-chave: vômito, diarreia, histopatologia. Lista de Ilustrações Figura 1 – Segmento intestinal com arquitetura ultrassonográfica normal (seta preta). Segmento intestinal com discreto espessamento em submucosa e discreta perda de definição de arquitetura parietal (seta branca). 7 Figura 2 – Segmento intestinal com paredes muito espessas, hipoecoicas, com perda de arquitetura. Segmento intestinal com moderado espessamento em camada muscular (seta branca). 7 Figura 3 – Visão endoscópica do estômago: A e B, evidenciando coloração e aspecto normais de mucosa. C, D, E e F, evidenciando mucosa de aspecto hiperêmico e com pontos de hematina (seta branca). 8 Figura 4 – Visão endoscópica do duodeno: A, evidenciando coloração e aspecto normais de mucosa. B e C, evidenciando mucosa de aspecto granuloso e hiperêmico (seta branca). 9 Sumário Introdução ......................................................................................................................... 1 Revisão de literatura ..................................................................................................... 1.1 Etiopatogenia .......................................................................................................... 1.2 Classificação ........................................................................................................... 1.3 Sinais clínicos ......................................................................................................... 1.4 Diagnóstico ............................................................................................................. 1.4.1 Exames laboratoriais ...................................................................................... 1.4.2 Exame coproprasitológico .............................................................................. 1.4.3 Ultrassonografia ............................................................................................. 1.4.4 Endoscopia ..................................................................................................... 1.4.5 Histopatologia ................................................................................................ 1.4.6 Radiologia ...................................................................................................... 1.5 Diagnóstico diferencial ........................................................................................... 1.6 Tratamento .............................................................................................................. 1.7 Prognóstico ............................................................................................................. 2 Relato de caso ............................................................................................................... 3 Resultados e Discussão ................................................................................................. Conclusão .......................................................................................................................... Referências bibliográficas ................................................................................................. 1 2 2 3 4 5 5 5 6 8 9 10 10 10 14 15 16 17 19 1 INTRODUÇÃO A Doença inflamatória intestinal crônica é um distúrbio gastroentérico caracterizado pela infiltração de células inflamatórias (linfócitos e plasmócitos) na mucosa o trato gastrointestinal (GUILFORD, 1996; JERGENS, 1996). Os sinais clínicos mais frequentes são vômitos e diarreia crônica, perda de peso, anorexia, alterações no apetite e hematoquezia. (RICART, 2012; TAMS, 2005). Consideram-se como sinais crônicos aqueles que persistem por mais de três semanas (CLASCON, 2011). A sua etiologia ainda é desconhecida, mas acredita-se que ocorre uma complexa interrupção na homeostasia do microambiente da mucosa intestinal em indivíduos geneticamente predispostos, ocasionando uma resposta imune agressiva (linfócitos T) as bactérias existentes no trato gastrointestinal (BALFOUR, 2006) . O diagnóstico da enfermidade é realizado com base na exclusão de todas as outras causas possíveis de infiltração inflamatória na mucosa intestinal. Por isso torna-se indispensável uma anamnese criteriosa do paciente, observando atentamente a alimentação e o uso de medicamentos já administrados (MAGALHÃES, 2008). Excluídas as causas, o diagnóstico histopatológico é essencial e seus fragmentos podem ser obtidos através de endoscopia ou laparotomia exploratória (JERGENS et al, 2003) O presente estudo tem como objetivo relatar o caso de um cão com doença inflamatória gastrointestinal crônica já que seus sinais clínicos são rotineiramente observados na clínica médica de pequenos animais, fato que reforça a necessidade de um diagnóstico preciso e tratamento eficiente. 2 1 REVISÃO DE LITERATURA 1.1 Etiopatogenia A DIIC é um grupo de afecções gastrointestinais crônicas e idiopáticas, determinadas pela presença de infiltrados difusos de células inflamatórias na mucosa do trato gastrointestinal. Trata-se de uma síndrome caracterizada pela resposta exacerbada e descontrolada do trato digestório a uma estimulação antigênica normal, e deve ser diferenciada do processo inflamatório normal em consequência à exposição excessiva a antígenos. Sugere-se que seja resultante de uma resposta imunológica citopática, devido a um desafio antigênico crônico (JUNIOR, 2003). Ainda não se elucidou uma etiologia definitiva para a DIIC, portanto, é considerada como um processo de origem não determinado (JUNIOR, 2003). As teorias sobre as causas potenciais incluem doença imunomediada, defeitos de permeabilidade do trato gastroentérico (TGI), intolerância ou alergia dietética, influência genética, influência psicológica e doença infecciosa segundo Crystal (2006). E de acordo com Junior (2003) os fatores predisponentes da DIIC incluem infecções bacterianas (Campylobacter sp.), quadros parasitários (Giardia sp.), neoplasias (linfoma), e quadros alérgicos ou de intolerância alimentar sitiados no TGI, bem como, pancreatite, colangiohepatite e hipertireoidismo. A resposta a esses estímulos antigênicos ocorre mediante um influxo de células inflamatórias (linfócitos, plasmócitos, macrófagos, neutrófilos ou eosinófilos) na mucosa, cuja gravidade e extensão podem variar consideravelmente, o que explica as diferentes manifestações clínicas. As camadas muscular e serosa não apresentam envolvimento significante na maioria das vezes (JUNIOR, 2003). Pesquisadores identificaram um desequilíbrio no perfil normal de citocinas em pacientes afetados com DIIC e especulam que este desequilíbrio pode contribuir com a patologia da mesma. A motilidade intestinal seria afetada pela inflamação, uma vez que citocinas liberadas dos imunócitos poderiam alterar a função neural ou do músculo liso entérico, resultando em motilidade anormal (KRECIC, 2001). Existem indícios de que seja uma afecção causada pelo próprio sistema imunológico, que se torna a principal causa dos danos teciduais observados nesses pacientes. Essa afirmativa tem como base a falta de 3 detecção de agentes infecciosos na etiologia desses processos, bem como, uma boa resposta terapêutica às drogas anti-inflamatórias e imunossupressoras (JUNIOR, 2003). Segundo Junior (2003) os processos inflamatórios situados nas alças tornam-se permanentes através da perda de integridade da mucosa, com consequente alteração de permeabilidade, o que permite que microrganismos da própria microbiota entérica e antígenos (proteínas da dieta) adentrem a lâmina própria, estimulando e intensificando as respostas imunes já iniciadas. Para Crystal (2006) a síndrome clínica da DIIC possui sinais do TGI persistentes (com mais de três semanas de duração), respostas incompletas aos ensaios dietéticos ou terapêuticos empíricos de rotina, incapacidade de encontrar outras causas para a inflamação do TGI, lesões histológicas de inflamação da mucosa, e responsividade geral à intervenção imunoterapêutica. A DIIC é descrita principalmente em animais de meia idade a avançada, mas pode afetar também cães e gatos jovens (LEICONDRE, 2004). 1.2 Classificação A DIIC é classificada segundo Crystal (2006) de acordo com o tipo de infiltrado celular inflamatória na parede intestinal. O tipo mais comum é a gastroenterite e/ou a colite linfocítico-plasmocítica. Outras formas menos comuns de DIIC incluem gastroenterite e/ou colite eosinofílica, granulomatosa, supurativa (neutrofílica) e histiocítica. Para os gatos o segundo tipo mais importante de DIIC é a enterite eosinofílica. Nestes animais, as células inflamatórias localizadas dentro da lâmina própria do intestino são os eosinófilos. Pressupõe que isso pode ser resultado de reação imunológica a parasitas ou a dieta. A síndrome hipereosinofílica é uma enfermidade rara em gatos, e designa uma situação hematológica inespecífica que se caracteriza por eosinofilia acentuada persistente. Essa condição sanguínea acarreta em doença sistêmica concomitante e está associada a parasitismo, doenças fúngicas, reações de hipersensibilidade e neoplasias (FIGHERA, 2004). É necessária confirmação histopatológica para diferenciá-las. A histopatologia também determinará a gravidade das lesões através da intensidade do infiltrado celular; tipo de epitélio do segmento envolvido; arquitetura de vilosidades, criptas e glândulas; além de outras alterações inflamatórias observadas no tecido (JUNIOR, 2003). 4 1.3 Sinais Clínicos A DIIC pode apresentar diversos sinais clínicos, sendo o mais comum o vômito intermitente crônico. Outros sinais observados incluem perda de peso, anorexia e diarreia. Alguns animais podem apresentar início súbito dos sinais clínicos; os quadros eméticos são normalmente intermitentes, com evolução de semanas, meses ou anos. Na medida em que o quadro progride, a frequência dos episódios aumenta e outras manifestações clínicas passam a ser notadas. Ressalta-se que não há correlação entre vômito e o momento da ingestão de alimento e/ou água. (FEIJÓ, 2008) Quando há comprometimento do cólon, a hematoquezia, tenesmo, presença de material sólido e muco nas fezes são sinais encontrados com frequência. Outros sinais ainda podem ser observados como flatulência, borborigmos, halitose, poliúria, polidpsia e mudanças de comportamento como excitação, agressividade, ansiedade e defecação em locais não usuais (JUNIOR, 2003). No exame físico a palpação as alças intestinais podem estar espessadas e a diarreia ocorre com mais frequência, em fases mais tardias da doença, podendo manifestar-se de forma aguda ou crônica, sendo a última intermitente ou intratável. As características das fezes são normalmente de processos que ocorrem no intestino delgado, variando de macias a aquosas, podendo haver esteatorreia.(WASHABAU, 2010). O apetite nesses pacientes é bem variável e pode não haver nenhum tipo de alteração, porém, extremos podem ser observados, como anorexia ou polifagia. Quando se observa, num mesmo paciente, a concomitância de polifagia, perda de peso e diarreia, primeiramente deve-se realizar o diagnóstico diferencial entre DIIC, hipertireoidismo e insuficiência pancreática exócrina, sendo esse último pouco frequente em felinos (JUNIOR, 2003). Gatos com síndrome hipereosinofílica podem manifestar mal-estar, diarreia sanguinolenta, tosse e anormalidades dermatológicas (BURROWS et al., 1997). 5 1.4 Diagnóstico 1.4.1 Exames Laboratoriais Os exames laboratoriais (hematologia, bioquímica sérica e urinálise) raramente tem alterações que apontem um diagnóstico, mas podem oferecer indicação da gravidade do processo patológico. Achados como eosinofilia podem estar relacionados com parasitismo e a hipoalbuminemia pode indicar perda desta protreína pelo lúmen intestinal (BURROWS et al., 1997). Os dados laboratoriais irão auxiliar na exclusão de alguns diagnósticos diferencias, por exemplo, diabetes mellitus, onde é comum observar hiperglicemia, glicosúria e densidade urinária baixa; doenças hepáticas, as quais cursam com hiperbilirrubinemia, redução dos níveis séricos de uréia, aumento da atividade sérica das enzimas hepáticas e bilirrubinúria; doença renal crônica, caracterizada pelo nitrogênio urêico plasmático e creatinina elevados e densidade urinária baixa; e também pelo hipertireoidismo, na qual a tiroxina total, ALT e/ou FA séricas estão elevadas, leve aumento no hematócrito e densidade urinária baixa (CRYSTAL, 2006). 1.4.2 Exame coproparasitológico: O exame fecal é parte importante no diagnóstico de afecção intestinal, devendo ser rotineiro em qualquer paciente com distúrbios do TGI (BURROWS et al., 2004). Porém, como esses exames nem sempre podem detectar parasitas, se recomenda o tratamento empírico contra esses agentes. (GERMAN, 2005) Um exame coproparasitológico deve ser realizado para a exclusão da presença de possíveis parasitas. As amostras fecais podem ser enviadas para cultura de Salmonella sp., Campylobacter sp. e teste de sensibilidade, principalmente nos gatos com diarreia. As amostras devem ser submetidas em meio especial (meio de selenito ou tetrationato), pois os altos números de bactérias entéricas normais presentes nas fezes tendem a crescer excessivamente e mascarar o crescimento da Salmonella sp. e do Campylobacter sp. (CRYSTAL, 2006). 6 1.4.3 Ultrassonografia O exame ultrassonográfico pode indicar se há ou não a presença de alteração do TGI, se essa alteração é localizada ou difusa, além de descartar outras doenças que causem sinais digestivos. A ecogenicidade e a linfonodomegalia são mais importantes que o espessamento da mucosa intestinal para indicar inflamação (RICART, 2012). A aparência ultrassonográfica das doenças inflamatórias gastrointestinais varia com o tipo, duração e extensão do processo. O espessamento da parede do TGI é o achado sonográfico mais frequente. O estudo da distribuição, simetria, extensão e arquitetura das camadas parietais nas lesões é um critério útil na diferenciação entre processos inflamatórios e neoplásicos (FROES, 2004). A inflamação tem sido caracterizada por um espessamento mais extenso, com a estratificação das camadas parietais preservadas, ou seja, as camadas apresentam-se bem diferenciadas, com nítido predomínio da visualização da camada submucosa. Nas neoplasias o espessamento tende a ser localizado, com marcante perda da estratificação das camadas (FROES, 2004). Nas enterites, a grande importância e indicação do exame ultrassonográfico esta na exclusão dos processos neoplásicos, uma vez que os sinais clínicos nas duas enfermidades são muitos semelhantes. As enterites inflamatórias, como as enterites linfocíticasplasmocíticas, caracterizam-se sonograficamente por espessamento leve (4 a 5mm) e muitas vezes difuso. Quando só alguns segmentos estão afetados, apresentam-se com hipomotilidade, rígidos e com uma pequena dilatação fluida ou alimentar, pode ocorrer evidenciação da camada submucosa decorrente de fibrose (FROES, 2004). 7 Figura 1: Segmento intestinal com arquitetura ultrassonográfica normal (seta preta). Segmento intestinal com discreto espessamento em submucosa e discreta perda de definição de arquitetura parietal (seta branca). (Fonte: IEMEV) Figura 2 : Segmento intestinal com paredes muito espessas, hipoecoicas, com perda de arquitetura. Segmento intestinal com moderado espessamento em camada muscular (seta branca). (Fonte: IEMEV) De acordo com Froes (2004), deve-se considerar a importância de se realizar o exame ultrassonográfico em animais de meia-idade com histórico de hiporexia, vômitos e/ou diarreia crônicos; sendo que o objetivo principal do exame nesses pacientes não é evidenciar 8 as alterações sonográficas de processos inflamatórios gastroentéricos e sim descartar os processos neoplásicos. 1.4.4 Endoscopia A possibilidade de observação direta juntamente com a obtenção de amostras teciduais de esôfago, estômago e trato intestinal, de maneira minimamente invasiva, incrementou o diagnóstico clínico e aumentou a precisão do tratamento das doenças do sistema digestivo (TAMS, 1999). A laparotomia exploratória é indicada quando não há o alcance do endoscópio para obter amostras da região intestinal atingida (WASHABAU, 2010). Figura 1: Visão endoscópica do estômago: A e B, evidenciando coloração e aspecto normais de mucosa. C, D, E e F, evidenciando mucosa de aspecto hiperêmico e com pontos de hematina (seta branca). PEQUENA CURVATURA PREGAS GÁSTRICAS PEQUENA CURVATURA hematina B A C CORPO GÁSTRICO PILORO CORPO GÁSTRICO Erosões / edema Edema D Hematina E F (Fonte: Ana Lúcia) 9 Figura 2: Visão endoscópica do duodeno: A, evidenciando coloração e aspecto normais de mucosa. B e C, evidenciando mucosa de aspecto granuloso e hiperêmico (seta branca). DUODENO DUODENO DUODENO aspecto granuloso hiperemia A B C (Fonte: Ana Lúcia) 1.4.5 Histopatologia O diagnóstico definitivo somente pode ser determinado por meio de exames histopatológicos e/ou citopatológicos de fragmentos intestinais obtidos por biópsia. As biópsias podem ser coletadas por meio de endoscopia, laparotomia exploratória ou, no caso de espessamento intestinal focal ou difuso maior do que 2 a 3cm guiadas por ultrassom. A histopatologia pode revelar DIIC, linfoma alimentar, Cryptosporidium sp. e/ou gastrite por Helicobacter sp.. O linfoma alimentar só pode ser diferenciado da DIIC por meio de histopatologia, uma vez que os sinais clínicos são idênticos (CRYSTAL, 2006) Segundo Wilson (2008) é importante ressaltar que os fragmentos de biópsia devem ser colhidos, preferencialmente, por laparotomia exploratória, pois tal método permite a colheita de todas as camadas do órgão envolvido. Os outros métodos de colheita de biópsia, como endoscopia e/ou guiado por ultrassom não são capazes de coletar todas as camadas, sendo que o linfoma pode estar presente em qualquer camada intestinal. As alterações encontradas no exame histopatológico são: número aumentado de células inflamatórias na lâmina própria, número aumentado de linfócitos intraepiteliais, estrutura alterada da mucosa como fusões das vilosidades ou atrofia, edema e fibrose. A submucosa não é frequentemente afetada nesta patologia, exceto em casos agressivos como enterites eosinofílica e granulomatosa (KRECIC, 2001). 10 1.4.6 Radiologia As radiografias contrastadas de trato GI raramente são úteis para o diagnóstico das doenças crônicas do TGI. Elas consomem bastante tempo, são difíceis de serem realizadas e interpretadas e raramente revelam um diagnóstico. Mesmo quando existem lesões, a biópsia do TGI e a histopatologia são necessárias para um diagnóstico preciso (CRYSTAL, 2006). Os achados radiográficos não são específicos para DIIC, mas são de grande valia para descartar processos obstrutivos e alterações na motilidade (JUNIOR, 2003). 1.5 Diagnóstico diferencial Todos os diagnósticos diferenciais devem ser excluídos antes de se fazer um diagnóstico de DIIC. Muitas outras doenças são semelhantes clinicamente à esta enfermidade, e pelo fato do TGI responder aos insultos de diversas causas por meio de inflamação, uma biópsia sem a exclusão de outros diagnósticos diferenciais não constitui um diagnóstico de DIIC. Para realização de um diagnóstico preciso de DIIC, todos os diagnósticos diferenciais devem ser excluídos e as células inflamatórias devem ser observadas no interior da mucosa do TGI, por meio do exame histopatológico dos fragmentos obtidos. Outras alterações histopatológicas, como por exemplo, atrofia ou fusão das vilosidades, separação das criptas com edema, fibrose ou necrose da mucosa,achatamento epitelial e vasos linfáticos dilatados ajudam a apoiar o diagnóstico de DIIC (CRYSTAL, 2006). 1.6 Tratamento A doença intestinal inflamatória crônica na sua terapêutica inclui o controle dietético, a suplementação com fibras e a administração de drogas anti-inflamatórias e imunossupressoras. É importante que a escolha da terapêutica a ser aplicada no paciente seja individual, com base na correlação entre os sinais clínicos apresentados, achados laboratoriais, alterações histológicas, resposta à terapia escolhida, bem como gravidade e variedade dos efeitos colaterais das drogas, aceitabilidade das mesmas pelo paciente, cooperação do proprietário e custos gerais do tratamento (JUNIOR, 2003). Para maximizar a resposta clínica do paciente devemos associar à terapia farmacológica com a mudança da dieta, pois desta forma, minimizamos a ação do sistema imune sobre o trato digestório, e simultaneamente reduzimos sua exposição a antígenos, 11 interrompendo a amplificação e a sequência da doença inflamatória. A grande maioria dos felinos apresenta uma boa resposta terapêutica a esse sinergismo, e uma vez em remissão, a doença pode ser controlada através da dieta, o que faz com que o tratamento de manutenção seja de grande importância (BRIDGEFORD, 2008). O manejo dietético é bastante favorável. Animais com quadros de enterite requerem dietas hipoalergências ou de eliminação. Tendo em vista, além da oferta de nutrientes, reduzir a carga de alérgenos no alimento (componentes nutricionais e/ou aditivos), a fim de minimizar a estimulação antigênica nas alças já inflamadas (JUNIOR, 2003). A dieta é uma parte importante da terapêutica em todas as formas de DIIC. Deve ser estabelecida uma dieta altamente digerível, facilmente assimilável e reduzida em conteúdo de gordura. As dietas à base de uma fonte de proteínas diferentes ou parcialmente hidrolisadas e a inclusão de fibras fermentáveis (frutooligossacarídeos) também podem trazer beneficio para alguns pacientes (MANSIFIELD, 2011). De acordo com Junior (2003) dietas caseiras de eliminação podem ser compostas de carne de carneiro, cabrito, coelho ou frango, queijo cottage, arroz, batata e/ou macarrão, com adição de óleo vegetal, vitaminas de complexo B, vitamina K, fosfato dicálcico e taurina (200 a 500mg por refeição). Caso o animal permaneça se alimentado de dieta caseira, a mesma deve ser formulada pelo veterinário. A suplementação com ácidos graxos do tipo ômega-3 é benéfica, pois tais ácidos graxos possuem efeitos anti-inflamatórios sobre o TGI (CRYSTAL, 2006). Nos casos de colite, os gatos apresentam boa resposta terapêutica à administração de fibras insolúveis. O papel das fibras na dieta é a normalização da motilidade. Caso o animal rejeite rações com alto teor de fibras, pode-se administrar uma dieta hipoalergênica com suplementação de Psyllium plantago, na dose de duas colheres de chá por refeição, ou ainda farelo de aveia na dose de uma colher de sobremesa por refeição (JUNIOR, 2003). Segundo Crystal (2006) abóbora enlatada também pode ser fonte de fibra, administrada por via oral misturada ao alimento, na quantidade de 1 a 2 colheres de chá a cada 12 a 24 horas. O segredo para o manejo alimentar é a flexibilidade e persistência, já que algumas vezes, várias dietas tenham sido testadas. O paciente deve ser submetido a uma dieta específica, sem a oferta de qualquer outro item alimentar, por um período mínimo de seis a nove semanas, para se verificar os resultados. Devido ao alto custo das formulações 12 comerciais, os proprietários preferem adotar a dieta caseira, sobretudo, na maioria das vezes, estas possuem um balanceamento desfavorável sendo incompletas nutricionalmente (JUNIOR, 2003). Os principais fármacos utilizados atualmente são os salicilatos, os corticosteróides e os antibióticos com efeito anti-inflamatório, como metronidazol e tilosina. Nas enterites ou enterocolitesplasmocitárias, linfocitárias ou eosinofílicas com intenso infiltrado celular, por vezes torna-se necessária a associação de fármacos imunossupressores, como a azatioprina, em combinação com os corticosteróides e antibióticos (ANDRADE, 2008). O manejo do paciente com DIIC e as combinações de fármacos a serem empregadas, assim como suas dosagens, devem sempre ser individualizados de acordo com a gravidade da doença e dos sinais clínicos, a tolerância do paciente e a resposta ao tratamento (ANDRADE, 2008). A prednisolona ou prednisona tem sido o fármaco de eleição no tratamento inicial da DIIC e sua a dose inicial é 1-2mg/Kg a cada 12 horas, com redução da mesma a cada duas a quatro semanas. Em alguns pacientes a redução pode chegar a uma manutenção terapêutica a cada 48 horas, ou até a eliminação total da medicação(RICART, 2012). Gatos que não respondem adequadamente a doses crescentes da prednisolona podem ser tratados com dexametasona na dose de 0,3 a 0,5mg/kg/dia por via oral. O acetato de metilprednisolona na dosagem de 20mg/gato por via subcutânea ou intramuscular pode ser usado em gatos a cada 15 a 30 dias como terapêutica de manutenção ou quando o proprietário não consegue medicar o animal de maneira adequada. Porém, não é uma boa alternativa como terapêutica única em animais com grave inflamação (ANDRADE, 2008). Sinais iatrogênicos de hiperadrenocorticismo podem ocorrer em muitas ocasiões, mas cessam com a diminuição da dose do corticosteróide (MANSFIELD, 2011). A budesonida, um corticosteróide administrado por via oral e fracamente absorvido sistemicamente, pode ser usado na dose de 1mg/gato a cada 12 a 24 horas, porém existem apenas relatos informais sobre a eficácia deste em pacientes felinos, sendo necessários estudos adicionais para determinar a eficácia da dose (CRYSTAL, 2006). De forma geral, os corticosteróides diminuem a exsudação que resulta em perda de proteínas para o lúmen intestinal e melhoram a circulação e absorção nos enterócitos, reduzindo essas perdas. Além disso, tendem a melhorar o apetite do animal e fazer com que ele se sinta melhor. Os corticosteróides devem sempre ser usados com cautela, buscando-se a 13 menor dose eficaz e a associação com outros fármacos que permitam o controle dos sinais clínicos por longos períodos com menor risco ao paciente (ANDRADE, 2008). Segundo Junior (2003), há de se fazer algumas observações quanto à corticoterapia. Apesar dos bons resultados observados, não se recomenda sua instituição previamente à biópsia, uma vez que pode vir a conduzir o clínico a alguns erros de abordagem. O primeiro deles se refere ao fato de que os linfomas alimentares são sensíveis aos corticosteróides, e iniciando sua administração precocemente, podemos determinar uma resistência tumoral a uma das principais drogas envolvidas em seu protocolo terapêutico. A Sulfasalazina é o medicamento de escolha para a colite linfocíticoplasmocitária. Libera ácido 5-aminosalicílico no cólon provocando efeitoanti-inflamatório local. Inicia-se a sulfasalazina na dose de 15mg/kg, via oral a cada 24h, durante 3 semanas. Em seguida, reduzir a dose para 7,5mg/kg, via oral a cada 24h, durante 1 mês e, depois suspender a medicação se a remissão clínica ocorrer. Se os sinais clínicos recorrerem após a interrupção do tratamento, deve-se manter o gato na menor dose eficaz durante 2 meses e tentar suspender a terapêutica novamente. Alternativamente, a preparação de olsalazina pode ser usada na dose de 5-10mg/kg a cada 24h, sendo a duração e redução iguais às da sulfasalazina (CRYSTAL, 2006). De acordo com Andrade (2008), os gatos usualmenterespondem bem ao tratamento com corticosteróides, sendo o uso da sulfasalazina nessa espécie reservado aos casos refratários. Segundo Junior (2003) os derivados do ácido acetilsalicílico, como sulfasalazina ou mesalazina apresentam efeito anti-inflamatório bastante potente, em decorrência da inibição dos leucotrienos, com a vantagem de serem específicos para afecções localizadas no intestino grosso, por sua degradação exclusiva pela microbiota local. No entanto, os animais podem apresentar sinais de intoxicação pelo salicilato. Há indicação de seu uso terapêutico quando houver intenso infiltrado neutrofílico no exame histopatológico ou quando todas as outras possibilidades terapêuticas tenham fracassado. Os efeitos colaterais mais comumente observados são anorexia, vômito, anemia e ceratoconjuntivite seca. Agentes imunossupressores podem ser úteis nos casos refratários de DIIC. Podem ser usadas as seguintes medicações: clorambucila, na dose de 2mg/m² ou 0,01 a 0,2mg/kg, via oral, a cada 48h; azatioprina, 1-2mg/kg, via oral, a cada 24 h; ou ciclofosfamida, 50mg/m², via oral durante 4 dias e suspender durante 3 dias. Tais medicações devem ser usadas durante 14 4 a 6 meses, quando então são reduzidas em 25 a 50% da dose inicial por mais 2 a 4 meses. A contagem de neutrófilos deve ser semanalmente monitorada durante o primeiro mês de tratamento e, depois desse período, a cada 2 a 4 semanas, enquanto o gato estiver em tratamento. A terapêutica deve ser suspensa ou reduzida se a contagem de neutrófilos estiver abaixo de 3.000/µL (CRYSTAL, 2006). A terapêutica com metronidazol, juntamente com os protocolos descritos anteriormente, pode auxiliar no manejo da DIIC, como resultado de seus efeitos antimicrobianos. Descreveu-se também que o metronidazol inibe a imunidade mediada por células, embora este fato não tenha sido demonstrado em gatos. A dose é de 10mg/kg, via oral, a cada 12h durante 4 a 6 semanas (RICART, 2012). Segundo Junior (2003), animais cujo diagnóstico envolva a presença de espiroquetas (Campylobactersp. ou Helicobacter sp.), devem ser submetidos ao tratamento triplo específico com amoxicilina, na dosagem de 20mg/kg, a cada 12h; metronidazol, na dosagem de 10 a 20mg/kg, a cada 12h; e sucralfato 2,5ml/cão a cada 12 horas. Segundo Andrade (2008), se indica o subsalicilato ou citrato de bismuto como adjuvante no tratamento das infecções por Helicobactersp.. Aqueles pacientes que apresentam quadros eméticos requerem administração de cloridrato demetoclopramida, na dosagem de 0,3 a 0,5mg/kg, a cada 8 a 12h (JUNIOR, 2003). A maioria dos gatos com DIIC responsiva demonstra sinais de melhora clínica dentro de uma semana do início do tratamento (CRYSTAL, 2006). 1.7 Prognóstico Com a terapêutica dietética e medicamentosa adequada, a DIIC linfocíticoplasmocitária frequentemente é controlável, mas raramente curável. O envolvimento pancreático e/ou hepático simultâneo e significativo pode levar a um prognóstico menos favorável. A colite linfocítico-plasmocitária geralmente é controlada com a terapêutica dietética isolada. De forma diferente da doença dos cães, a enterocolite eosinofílica em gatos é agressiva e tem uma natureza quase neoplásica, em geral infiltrando-se em outros órgãos, inclusive medula óssea (CRYSTAL, 2006). 15 O proprietário deve ser notificado de que a resposta terapêutica não significa cura do animal. Normalmente, obtém-se um bom controle do quadro mórbido, porém com grande possibilidade de recidiva (JUNIOR, 2003). Pacientes imunossuprimidos podem apresentar complicações e agravamento do estado geral em decorrência do tratamento farmacológico. Deve-se sempre ponderar com o proprietário todos os riscos envolvidos para o tratamento desses animais (JUNIOR, 2003). Segundo Junior (2003), como a maior parte dos felinos com DIIC apresenta infiltrados linfocitários, o prognóstico é bom resultando em melhora da qualidade de vida, uma vez que o paciente seja periodicamente reavaliado pelo clínico e o proprietário seja cooperativo. Em humanos existe uma associação entre DIIC e aparecimento tardio de neoplasia intestinal, tanto na Doença de Crohn de cólon como na colite ulcerativa (RIBEIRO, 1996; VAN HOGEZAND, 2002), mas essa ocorrência ainda não foi estudada em cães. Em contraste com humanos, existe pouca informação na literatura veterinária tratando o desenvolvimento de neoplasia a longo prazo (CHURCHER; WATSON,1997; STOKES, 2001). 2 RELATO DE CASO Foi atendido um cão da raça Labrador, fêmea, 8 anos, 35kg em um consultório veterinário situado no bairro de Copacabana - RJ com histórico de vômito e diarreia persistentes, anorexia, perda progressiva de peso e hematoquezia há cerca de 8 meses. O animal já havia sido tratado por outros veterinários com terapêuticas baseadas nos sintomas e não houve mudança ou melhora no quadro. Também realizaram hemograma completo, ureia, creatinina e fosfatase alcalina e todos os valores estavam dentro da normalidade. Na ultrassonografia foram visualizadas alterações sugestivas de gastrite e enterite. O tratamento inicialmente instituído foi metronidazol 25mg/kg + sulfadimetoxina 25mg/kg a cada 12 horas, por vi oraldurante 15 dias,omeprazol 1mg/kg a cada 24 horas por via oral durante 30 dias e ondansetrona 0,5 mg/kg a cada 8 horas por via oral por 10 dias. Após o termino desse tratamento, foi prescrito também febenzadole 50mg/kg a cada 24 horas, 16 por 3 dias consecutivos e essa dose foi repetida após 15 dias. A alimentação do paciente foi modificada para a Royal Canin Hipoalergênica®. Após a realização de todo o tratamento, o animal foi submetido a novo exame ultrassonográfico no qual observou-se imagens sugestivas de gastrite e duodenite. O estudo radiográfico contrastado revelou que animal apresentava hipomotilidade do trânsito gastrointestinal. Nova amostra de sangue foi colhida para realização de hemograma completo, dosagens séricas de proteína total e frações, bilirrubinas, e Gama GT e mais uma vez não foi constatada nenhuma alteração. Diante dos sinais clínicos inespecíficos relacionados ao TGI e a ausência de conclusão diagnóstica pelos exames de imagem anteriores sugeriu-se ao proprietário do animal a realização de endoscopia com biópsia gástrica. A cadela foi então submetida à anestesia para a realização do procedimento endoscópico. Para a indução anestésica, administrou-se 5mg/kg de fentanil via endovenosa e 5mg mg/kg de propofoltambém por via endovenosa. O animal foi mantido anestesiado com isofluorano em vaporizador universal. Na endoscopia encontraram-se edema e hiperemia em pregas de terço proximal de corpo gástrico, pontos de hematina em canal antral que sugerem gastrite enentemática, ou seja, gastrite com lesões na mucosa gástrica. O exame histopatológico dos fragmentos do estômago revelou infiltrado linfoplasmocitário em glândulas gástricas, edema e congestão, sugerindo como diagnóstico gastritelinfoplasmocitária. O tratamento consistiu na administração de prednisona na dosagem de 2,2 mg/kg por via oral, a cada 12 horas durante 20 dias e essa dose foi sendo diminuída gradativamente até atingir a dosagem de 0,2 mg/kg a cada 48 horas por uso contínuo, uma vez que o animal não tolerou a retirada completa da medicação. Tentou-se também a utilização de budesonida na dosagem de 1mg/kg a cada 12 horas via oral como forma de tratamento única, mas animal continuava apresentando os sinais clínicos. O paciente também manifestou intolerância ao uso da azatioprina na dosagem de 2,2 mg/kg via oral a cada 24 horas. 3 RESULTADO E DISCUSSÃO A doença inflamatória intestinal crônica é uma patologia de grande importância na rotina da clínica de pequenos animais, já que se confunde com diversas patologias gastrointestinais. 17 Conforme descritos por Feijó (2008) e Junior(2013)os sinais clínicos relatados pelo proprietário do animal também eram vômito e diarreia crônicos, anorexia, perda progressiva de peso e hematoquezia. Os exames laboratoriais não tiveram nenhuma alteração relevante, como foi descrito por BURROWS (1997) e Ricart (2012). O manejo alimentar do paciente foi modificado instituído com base em proteína hipoalergênica, seguindo as mesmas orientações relatadas por Junior(2003) e Ricart(2012). O animal também foi tratado concomitantemente com febendazol para descartar a possibilidade de endoparasitas corroborando com German (2005). A ultrassonografia foi solicitada para descartar processos neoplásicos e delimitar a extensão das lesões, sendo escolhido a endoscopia como método de investigação e colheita de amostras a serem enviadas para realização de exame histopatológico, assim como indicado por Froes (2008). Conforme Tams (2005) a endoscopia foi o método escolhido por ser menos invasivo e pelas lesões estarem ao alcance do endoscópio. O tratamento prednisona foi instituído na dose de 2,2mg/ Kg a cada 12 horas, segundo relatado por Andrade(2008). A dose também fora reduzida em 20 dias, até ser encontrada a menor dose tolerada pelo animal (0,2mg/kg por via oral a cada 48 horas). A azatioprina citada por Crystal(2006) também foi administrada,mas animal apresentou novamente os sintomas. Neste paciente o mesmo ocorreu com a tentativa do uso da budesonida. CONCLUSÃO A Doença inflamatória intestinal crônica pode se confundir com outras doenças digestivas ou sistêmicas devido a inespecificidade dos sinais clínicos apresentados, devendose sempre descartá-la inicialmente através da mudança alimentar, uso de antiparasitários gastrointestinais e realização de exames laboratoriais e de imagem. 18 O diagnóstico definitivo da doença consiste na execução de exame histopatológico de mucosa gastrointestinal cujas amostras podem ser obtidas por endoscopia ou laparotomia exploratória. Devido à complexidade do diagnóstico e do tratamento da enfermidade, o Médico Veterinário precisa orientar e conscientizar o proprietário quanto às complicações esperadas, recidivas, fracassos das terapêuticas e do prognóstico avaliando individualmente cada caso e cada paciente. 19 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, S.F., Manual de Terapêutica Veterinária. 3ª ed. São Paulo: Roca Ltda., 2008. BALFOUR, S.R. 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