A INFLUÊNCIA DA RESPIRAÇÃO ORAL NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM E A FORMAÇÃO DOCENTE Denise Andreia Marx (UNICENTRO), e-mail: [email protected]. Universidade Estadual do Centro-Oeste/Setor de Ciências . Palavras-chave: respiração oral, aprendizagem de matemática, formação de professores. Resumo: Nas últimas décadas a influência da respiração oral na aprendizagem foi tema de estudos nas áreas médica e educacional. Este trabalho tem como objetivo expor a influência da respiração oral no processo de aprendizagem, além de evidenciar lacunas apresentadas pelos processos de formação docente relação ao trabalho com crianças que apresentam distúrbios orgânicos de aprendizagem. Introdução Grande tem sido a preocupação com a qualidade da educação ofertada pelas redes públicas de ensino nos últimos tempos. É o que evidenciam os parâmetros que norteiam os destinos e fins da educação nacional, ou seja, a Constituição federal, o Plano Nacional de Educação e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9394/96), que apontam como prioridade o atendimento integral e de qualidade aos educandos, inclusive os que apresentam algum tipo de deficiência. Porém, estudos revelam alto grau de dificuldades em relação ao atendimento de certas especificidades linguísticas, sensoriais, cognitivas, físicas, emocionais, étnicas e socioeconômicas, ocasionadas, principalmente, pela falta de informação e má formação dos responsáveis pela disseminação do conhecimento no espaço escolar. Tal situação ocorre, por exemplo, com os respiradores orais que frequentam as salas aula convencionais ou especializadas e não encontram atendimento adequado, específico às suas necessidades. Este trabalho tem por objetivo expor as experiências já concluídas sobre as dificuldades de aprendizagem dos respiradores orais, além de evidenciar lacunas apresentadas pelos cursos de formação de professores em relação ao atendimento aos escolares com deficiências, sobretudo decorrentes de fatores orgânicos. O texto permeia estudos de revisão bibliográfica no que se refere às características, causas, consequências e dificuldades de aprendizagem do aluno respirador oral, e se fundamenta nas contribuições de Berti (2000), Anais da SIEPE – Semana de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão 26 a 30 de outubro de 2009 Leal (2004), Kajihara (2005), Otani (2005), Filus (2006), Gomes (2007) entre outros. Obstrução das Vias Aéreas, Respiração Oral e Aprendizagem A respiração é o processo natural desempenhado pelas vias aéreas superiores e inferiores que possibilita a entrada do gás oxigênio contido no ar atmosférico e a saída do dióxido de carbono do organismo fornecendo ao organismo a energia que ele necessita para a realização de suas funções (VANDER; SHERMAN; LUCIANO, 1981, apud FILUS, 2006). Doenças como a hipertrofia das tonsilas faríngeas (adenóides), hipertrofias das tonsilas palatinas (amígdalas), rinite alérgica, além da sinusite e do desvio de septo, são comuns na infância e podem causar a obstrução das vias aéreas superiores e prejudicar a respiração nasal obrigando a criança a inspirar o ar pela boca fazendo com que ele chegue aos pulmões em menor quantidade, sem ser filtrado, aquecido e umedecido adequadamente. A alteração do padrão respiratório, “prejudica o desenvolvimento infantil, pois compromete o crescimento crânio-facial, a oclusão dentária, a postura corporal, a alimentação, a qualidade do sono, a qualidade de vida e o desempenho escolar” (GOMES, 2007, p. 7). Desde o século XIX, os médicos apontam uma relação entre respiração oral e dificuldades de aprendizagem (SPAHIS, 1994). Isto porque o volume de oxigênio inalado pela cavidade oral é menor do que quando inspiramos o ar pelo nariz, o que diminui a concentração de oxigênio e dificulta a eliminação do gás carbônico no sangue causando a chamada hipoxia que interfere na saúde geral, na qualidade de vida, na concentração e, como consequência, no aproveitamento escolar (ABREU; MORALES; BALLO, 2003). Berti (2000) e Otani (2001), fonoaudiólogas, foram as pioneiras a constatar relações entre a respiração oral e o déficit de aprendizagem. Na sequência, a preocupação se estendeu à esfera educacional onde investigações vinculadas ao Programa de Pós-Graduação da Universidade Estadual de Maringá – PR, realizadas por Godoy (2003), Leal (2004), Silva (2005), Filus (2006) e Gomes (2007), revelaram maior incidência de dificuldades em relação à escrita e à Matemática, nos respiradores orais do que nos respiradores nasais. A falta de atenção foi apontada como a principal causa das dificuldades. Gomes (2007), utilizando-se dos mesmos métodos de pesquisa, desenvolveu estudos junto aos alunos investigados por Godoy (2003), constatou que a falta de atenção continuou a interferir negativamente na aprendizagem dos respiradores orais. Por outro lado, os respiradores nasais apresentaram desempenho inferior ao apresentado nas pesquisas anteriores. Gomes, passou a questionar então, o processo de formação dos professores em relação ao trabalho com escolares que possuem distúrbios orgânicos capazes de interferir no processo de aprendizagem. Anais da SIEPE – Semana de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão 26 a 30 de outubro de 2009 De acordo com Tardif (2000) e Santos (2005), muitos dos problemas enfrentados no cotidiano escolar não são abordados ao longo do processo de formação dos futuros educadores, que ao concluírem sua graduação e ao abraçarem a carreira docente se deparam com um ambiente repleto de diversidades, situações inusitadas, que se distanciam da formação docente e exigem certos conhecimentos que apontem o rumo a ser seguido no planejamento das intervenções didáticas. O despreparo reflete, muitas vezes, no insucesso das práticas adotadas e no não atingimento dos resultados esperados. Por outro lado, a prática docente exige do profissional características como bom senso, autonomia e discernimento na condução do processo de transposição didática, pois o ensino superior comumente apresenta-se descontextualizado e a realidade das salas de aula é instável, evolutiva e progressiva, enquanto os conteúdos curriculares permanecem engessados sob o delíneo das diretrizes nacionais. Conclusões Discursos como o da educação universal e de qualidade e o da escola inclusiva requerem a transposição de diversos obstáculos, entre eles, a má qualidade de ensino que afeta os sistemas educacionais brasileiro em seu contexto global, a falta de infra-estrutura mínima necessária para o atendimento adequado às inúmeras especificidades contempladas no âmbito escolar, o baixo nível de conhecimento dos professores a respeito da influência de fatores orgânicos no processo de aprendizagem. Canôas (2005), advoga acerca da reestruturação das Instituições de Ensino Superior, tendo em vista que a formação inicial desses profissionais não poder mais ser baseada na simples transmissão de conhecimentos acadêmicos. “O professor deve ir além desse conhecimento, transcendendoo, explorando-o de maneira diversificada, por exemplo, criando espaços de reflexão e participação” (CANÔAS, 2005, p. 5). Diante dessas colocações, a ideia de que o professor é um intelectual em contínua formação ganha corpo, assim como a necessidade da superação das teorias e conceitos tradicionais, descontextualizados e distantes da prática evitando a mecanização dos conteúdos. Referências ABREU, A. C. B.; MORALES, D. A.; BALLO, M. B. J. F. A respiração oral influencia o rendimento escolar? Revista CEFAC, v. 5, p. 69-73, 2003. BERTI, L. C. Dificuldades escolares em crianças respiradoras bucais. 2000. 138f. Dissertação (Mestrado em Ensino da Educação Brasileira) – Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília, 2000. Anais da SIEPE – Semana de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão 26 a 30 de outubro de 2009 CANÔAS, S. S. Perspectivas para a formação de professores de Matemática de uma faculdade Isolada: modernização ou transformação? Tese (Doutorado) – Universidade Estadual Paulista – Instituto de Geociências e ciências exatas, Rio Claro, [s.n], 2005. FILUS, J. F. Estudo de problemas posturais e de aprendizagem em alunos respiradores orais. 2006. 96f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Estadual de Maringá. Maringá, 2006. GODOY, M. A. B. Problemas de aprendizagem e de atenção em alunos com obstrução das vias aéreas superiores. 2003. 123f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2003. GOMES, T. de S. Avaliação do desenvolvimento escolar de alunos respiradores orais. 2007. 93 f. Dissertação (Mestrado em Educação) Universidade Estadual de Maringá. Orientadora: Olinda Teruko Kajihara. Maringá, 2006. LEAL, L. D. A hipertrofia das tonsilas faríngeas e suas repercussões na atenção e na aprendizagem escolar. 2004. 77f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2004. OTANI, G. M. Respiração bucal e dificuldades escolares: estudo de coocorrência. 2001.47f. Dissertação (Mestrado em Fonoaudiologia) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2001. SANTOS, L. L. de C. P. Formação de professores na cultura do desempenho. Educ. Soc., Campinas, vol. 25, n. 89, p. 1145-1157, Set./Dez. 2004. Disponível em http://cedes.unicamp.br, acesso em 009/03/2009. SILVA, M. D. dos S. Problemas de aprendizagem em escolares com rinite alérgica. 2005. 104f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2005. TARDIF, Maurice. 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