CONDIÇÕES REDUTORAS NOS SEDIMENTOS SUPERFICIAIS AVALIADAS PELA ABUNDÂNCIA DE TESTAS DE FORAMINÍFEROS IMPREGNADAS COM SULFETO DE FERRO Autores JULIA BISCAIA ZAMONER, LUIZA LUZ SARTORATO, CARLA BONETTI Resumo Diferentes espécies de sulfeto de ferro podem ocorrer como grânulos intracelulares, entre elas Fe7S8, Fe3S4 ou FeS2. Esta última, conhecida como pirita, é a mais comumente relatada no interior das testas de foraminíferos. A estrutura desses organismos em câmaras facilita a individualização de microambientes, nos quais a decomposição orgânica ocorre em condições anaeróbicas associadas à colonização por bactérias sulfato-redutoras, propiciando, assim, a precipitação do FeS2, processo denominado piritização. Embora este processo ocorra naturalmente como parte das transformações tafonômicas que as testas sofrem post-mortem, ele tem sido constatado também em indivíduos ainda vivos. Supõe-se assim que a piritização nos sedimentos superficiais possa também indicar condições de estresse oxidativo. O objetivo deste estudo é verificar se as testas impregnadas com minerais de ferro podem ser usadas como traçadoras da influência dos biodepósitos de cultivos de moluscos no compartimento bêntico. Para tal foram analisadas 3940 testas provenientes de 27 amostras localizadas na Baía Sul de Florianópolis (SC), divididas em três subáreas de uma fazenda aquícola: abaixo do cultivo (Cu), adjacente ao cultivo (Ad) e externa ao mesmo (Ex). A confirmação da composição mineralógica da impregnação das testas nestas amostras está sendo estudada por um sistema de espectrometria por raio-x (EDS). Foi encontrada uma abundância de 3,3% de testas piritizadas na subárea Cu; de 2,6% na subárea Ad e de 2,5% na Ex. Quanto à distribuição dos cristais de sulfeto de ferro, 44% das testas apresentaram impregnações na forma de núcleos pontuais, 28% como manchas, 26% ocuparam uma ou algumas câmaras e 2% a testa inteira. A expressão espacial destas precipitações em cada testa foi quantificada pela razão entre área impregnada e área total da testa. Este procedimento foi realizado a partir do processamento digital de fotomicrografias utilizando o software ImageJ. Foi calculada a razão média de 16,7% de ocupação das testas na subárea abaixo do cultivo (Cu), 13,7% na Ad e 8,5% na Ex. Embora o número de testas analisadas ainda não seja suficiente para diferenciar estatisticamente estas três subáreas (ANOVA Kruskal-Wallis KW=3,4; p=0,19), é evidente o gradiente decrescente de piritização a partir do distanciamento dos biodepósitos formados por fezes e pseudofezes de moluscos cultivados, indicando a resposta destes descritores às mudanças nas condições de oxigenação e enriquecimento orgânico dos sedimentos superficiais.