o desencantamento das imagens do mundo

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CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO
GESTÃO HOLÍSTICA ABORDAGEM TRANSDISCIPLINAR
SEMINÁRIO No. 01
O DESENCANTAMENTO DAS IMAGENS DO MUNDO
APRENDIZ: ÉDISON R. LOBO R. DOS SANTOS
No.: 05
TURMA: 04
OUTUBRO DE 2005
É bem conhecida a necessidade humana de se afiliar a uma
determinada corrente de idéias, e a dificuldade em admitir o novo ou o
diferente, estabelecendo verdadeiros territórios intelectuais, resguardados
contra tudo o que possa representar uma ameaça à ordem estabelecida. Isto
nos leva a uma verticalização do conhecimento e a uma crescente
especialização, com o risco de se perder de vista a complexidade da
experiência humana, abdicarmos do senso crítico e da possibilidade de
aprender com a cooperação de diferentes visões de mundo.
A discussão a respeito do desencantamento das imagens do mundo,
levou-me a refletir a respeito das relações da psiquiatria ou mais
especificamente da reabilitação psiquiátrica, que vem a ser minha atual área de
atuação, com a ciência clássica.
O termo reabilitação, transportado da reabilitação física, é o primeiro
ponto a ser questionado, por fazer referência a métodos corretivos que visam
recuperar a função motora deficitária. O risco é acreditar-se que exista algo a
ser “consertado” na mente das pessoas ou de que seus hábitos e atitudes
devam ser formatados segundo o modelo de reabilitação adotado. Neste caso
reabilitar se relaciona com a idéia de desenvolver habilidades para a atuação
no mercado de trabalho segundo o modelo capitalista, em que o próprio
trabalho, e por extensão o trabalhador, são considerados mercadoria
manipulável. A idéia se completa com os termos ressocialização e reinserção
social, exemplificados por métodos comportamentais que pretendem treinar
atitudes socialmente aceitáveis, tais como gestos, postura, modo de olhar,
volume de voz e etc. Com este tipo de generalização não é improvável serem
deixadas de lado peculiaridades culturais da pessoa em tratamento, impondo
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um “jeito certo” de fazer as coisas. Nada contra as técnicas utilizadas nos
programas de reabilitação, que podem ser ferramentas muito úteis, se forem
utilizadas como
tal, e
não
com
princípios
a
nortear o tratamento
desconsiderando a subjetividade da pessoa portadora de transtorno mental.
Segundo Capra “o modelo biomédico está firmemente assente no
pensamento cartesiano”, e desta forma a idéia subjacente as práticas
reabilitadoras é a do homem como engrenagem a ser reformada e recolocada
em uma máquina, para que funcione como todas as outras engrenagens.
Outra reflexão despertada por este primeiro seminário foi quanto as
relações do homem com a natureza, tomando como ponto de partida a
afirmação de Marx de que “a forma como os homens tratavam a natureza,
tratariam os outros homens”.
Observo que o pensamento mecanicista, deixa o homem numa posição
muito solitária em relação a natureza. Não sendo a natureza vista como
parceira do homem, e o homem como parte desta mesma natureza, sendo
esta, ao contrário, objeto de exploração e uso, nos privamos de uma relação
potencialmente enriquecedora. Ver a natureza como coisa independente de
nós, produz um vazio existencial que dificilmente será preenchido. Esta relação
de uso nos é ensinada desde a mais tenra idade, com frases aparentemente
inocentes como: a abelha nos dá o mel, a vaca nos dá o leite, o porco nos dá a
carne. Frases que mascaram a visão destes seres como não tendo vida
própria, e existindo apenas para nos servir; e se não tem existência própria,
são objetos e se são objetos, estaremos sós, pois desta forma não há como
estabelecer uma relação verdadeira.
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Vejo este aspecto da solidão humana relacionada a um empobrecimento
emocional que se traduz num problema comum em nossos dias, e que Konrad
Lorenz denominou “neofilia”, o que ele considera como uma verdadeira
doença, em que se procura preencher o vazio interior com a aquisição e
consumo de produtos sempre mais novos. Juntando-se a isso o bombardeio a
que somos submetidos pela propaganda, nos vemos induzidos a comprar as
últimas novidades, muitas vezes agregando modificações irrelevantes, mas
sempre trazendo implícita a seguinte mensagem: ou você tem o mais novo, ou
você está ultrapassado. E assim confundindo o ser com o ter, vamos nos
esvaziando de afeto, de compaixão, e por fim da própria subjetividade.
Olhando a nossa volta, vemos pessoas em busca de sensações, e de
experiências cada vez mais radicais, em que provar o sabor da morte é
condição para se certificar de que se está vivo. Drogas, algumas formas de
diversão, comportamento sexual de risco, gangues, podem ser relacionados a
este empobrecimento emocional.
Por fim considero importante ressaltar a necessidade de se evitar uma
postura de exclusão, em relação ao modelo cartesiano e a ciência clássica,
para não repetirmos os erros destas mesmas disciplinas. Segundo Fritjof Capra
“a ciência moderna tomou consciência de que todas as teorias científicas são
aproximações da realidade; e de que cada teoria válida em relação a uma certa
gama de fenômenos”. Isto nos fala da necessidade de mantermos uma postura
de integração e cooperação entre todas as vertentes do conhecimento.
Martin Buber estabeleceu as duas palavras princípio que definem nossa
postura diante da vida: EU-TU que compreende uma relação baseada na
reciprocidade e na intuição e EU-ISSO que representa uma forma de relação
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baseada em controle, análise e uso. Buber ressalta a importância de
buscarmos uma relação de reciprocidade e amor com a natureza, com o ser
humano e com a divindade; e a respeito da atitude gerada pela palavra
princípio EU-ISSO: “O homem pode viver sem o ISSO, mas quem vive só com
o ISSO não é homem”.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
1- Buber,Martin. Eu e Tu. 2a Ed. Editora Moraes.
2- Capra,Fritjof. O Ponto de Mutação. São Paulo: Cultrix.1986
3- Gomes,Iria Zanoni. O desencantamento das imagens do mundo.
Apostila do aprendiz. Unipaz Paraná. 2005
4- Kane,John M. e Mc Glashan, Thomas H. Treatment of Schizophrenia.
Psychosocial treatment. Lancet 1995, 346: 822-25
5- Lorenz, Konrad. Civilização e Pecado. Editora artenova
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