Física Básica Frederico Guilherme de Carvalho Cunha São Cristóvão/SE 2009 Física Básica Elaboração de Conteúdo Frederico Guilherme de Carvalho Cunha Copidesque Christianne de Menezes Gally Projeto Gráfico e Capa Hermeson Alves de Menezes Diagramação Lucílio do Nascimento Freitas Ilustração Gerri Sherlock Araújo Copyright © 2009, Universidade Federal de Sergipe / CESAD. Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada por qualquer meio eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização por escrito da UFS. FICHA CATALOGRÁFICA PRODUZIDA PELA BIBLIOTECA CENTRAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE C972f Cunha, Frederico Física básica / Frederico Cunha -- São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe, CESAD, 2009. 1. Física quântica. 2. Leis da física. 3. Dilatação volumétrica. I. Título. CDU 530.145 Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva Chefe de Gabinete Ednalva FreireCaetano Ministro da Educação Fernando Haddad Coordenador Geral da UAB/UFS Diretor do CESAD Itamar Freitas Secretário de Educação a Distância Carlos Eduardo Bielschowsky Reitor Josué Modesto dos Passos Subrinho Vice-Reitor Angelo Roberto Antoniolli Vice-coordenador da UAB/UFS Vice-diretor do CESAD Fábio Alves dos Santos Coordenador do Curso de Licenciatura em Física Marcelo Andrade Macedo Diretoria Pedagógica Clotildes Farias (Diretora) Hérica dos Santos Matos Núcleo de Tecnologia da Informação Fábio Alves (Coordenador) André Santos Sabânia Diretoria Administrativa e Financeira Daniel SIlva Curvello Edélzio Alves Costa Júnior (Diretor) Gustavo Almeida Melo João Eduardo Batista de Deus Anselmo Núcleo de Tutoria Heribaldo Machado Junior Rosemeire Marcedo Costa (Coordenadora) Luana Farias Oliveira Carla Darlem Silva dos Reis Rafael Silva Curvello Amanda Maíra Steinbach Luís Carlos Silva Lima Núcleo de Formação Continuada Rafael de Jesus Santana Andrezza Maynard (Coordenadora) Núcleo de Serviços Gráficos e Audiovisuais Giselda Barros Assessoria de Comunicação Guilherme Borba Gouy COORDENAÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO IMPRESSO Hermeson Menezes (Coordenador) Jean Fábio B. Cerqueira (Coordenador) Baruch Blumberg Carvalho de Matos Christianne de Menezes Gally Edvar Freire Caetano Fabíola Oliveira Criscuolo Melo Gerri Sherlock Araújo Isabela Pinheiro Ewerton Jéssica Gonçalves de Andrade Lara Angélica Vieira de Aguiar Lucílio do Nascimento Freitas Neverton Correia da Silva Nycolas Menezes Melo Péricles Morais de Andrade J´nior Taís Cristina Samora de Figueiredo Tatiane Heinemann Böhmer UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE Cidade Universitária Prof. “José Aloísio de Campos” Av. Marechal Rondon, s/n - Jardim Rosa Elze CEP 49100-000 - São Cristóvão - SE Fone(79) 2105 - 6600 - Fax(79) 2105- 6474 Sumário AULA 1 Introdução à Mecânica ...................................................................... 07 AULA 2 Cinemática em uma dimensão ......................................................... 27 AULA 3 Velocidade Instantânea ..................................................................... 47 AULA 4 Queda livre ........................................................................................ 71 AULA 5 Cinemática em duas dimensões ....................................................... 89 AULA 6 Movimento de projéteis ................................................................... 109 AULA 7 Movimento circular uniforme ........................................................... 125 AULA 8 Primeira e segunda Lei de Newton .................................................. 143 AULA 9 Terceira Lei de Newton .................................................................... 157 AULA 10 Velocidade terminal ......................................................................... 173 Aula INTRODUÇÃO À MECÂNICA META Introduzir os princípios básicos de notação científica. OBJETIVOS Ao final desta aula o aluno deverá: reconhecer os padrões de comprimento, massa e tempo; utilizar corretamente os prefixos que indicam potências positivas e negativas de dez; realizar uma análise dimensional; proceder à conversão de unidades entre os diversos sistemas; PRÉ-REQUISITOS Conhecimentos básicos de física adquiridos no ensino médio. (Fonte: http://bp2.blogger.com). 1 Física Básica INTRODUÇÃO Nesta aula, faremos a introdução do material fundamental para estabelecer a linguagem utilizada durante o curso de física básica. Por se tratar de uma disciplina da área das ciências exatas, torna-se necessário que se definam muito claramente quais serão os termos utilizados durante todo o curso. Muitos conceitos físicos têm uma nomenclatura que facilmente nos induz ao erro, uma vez que a mesma palavra que designa uma série de eventos no dia a dia, na física tem apenas um significado muito bem definido. Levando estas premissas em consideração, trataremos dos sistemas de medidas e unidades mais comuns no mundo; aprenderemos como realizar conversões entre sistemas diferentes e veremos como uma análise dimensional bem feita nos indica o caminho certo. (Fonte: http://www.planetaeducacao.com.br) 8 Introdução à Mecânica Nós vamos começar este curso discutindo como é que faremos para nos comunicar. O problema parece simples quando a nossa linguagem é coloquial, mas estamos agora falando de ciência, e queremos que nossa voz seja ouvida em todos os lugares, e compreendida! Todos os dias, ouvimos na televisão qual é a cotação do Dólar e do Euro em relação ao nosso Real. Esta informação é muito útil para aquelas pessoas que pretendem viajar para outras partes do mundo ou que pretendem fazer investimentos financeiros. Neste nosso cantinho, esta informação serve para ilustrar as diferenças entre os países: nos Estados Unidos, usa-se o dólar como “padrão monetário” (ou seja, a moeda); na Europa usa-se o Euro, e aqui usamos o Real. Talvez alguns de vocês saibam que há apenas alguns anos, atrás não existia o Euro! Cada país europeu tinha a sua própria moeda local, tais como o Marco alemão, a Lira italiana, o Franco francês , e etc. As razões que levaram estes países a unificar suas moedas não são agora relevantes, mas esta variedade de moedas nos ajuda a entender como funcionava o sistema de unidades físicas há algum tempo... Aula 1 HISTÓRIA DO METRO Por volta de 1780, os pesos e medidas franceses estavam uma bagunça, com dúzias de unidades, sendo que cada uma tinha dúzias ou mesmo centenas de variedades locais. Nenhuma outra nação sofria com tal disparidade entre as demandas de uma economia em industrialização e a variedade de seus sistemas de unidades. Muito antes da Revolução Francesa, os mais variados atores políticos estavam clamando por uma reforma “metrológica” (no sistema de pesos e medidas). Havia também um sentimento generalizado (graças à influência de Jean-Jaques Rousseau) de que as unidades deveriam ser, de algum modo, “naturais”. Jean Picard, Olaus Rømer e outros astrônomos famosos na época sugeriram que a unidade de comprimento fosse definida como sendo o comprimento de um pêndulo cujo período durasse exatamente um segundo (o período de um pêndulo é o tempo que ele leva para dar um balanço completo). Mas já se sabia a esta época que pêndulos idênticos, instalados em locais diferentes têm períodos diferentes, de tal modo que esta definição exigiria especificar o local onde se encontraria tal pêndulo. Em 1790, Talleyrand, bispo de Autun àquela época, sugeriu que fosse utilizado o período do pêndulo localizado em Paris, na latitude 45º N. Ele também sugeriu que a Academia de Ciências em Paris colaborasse com a Sociedade Real de Londres para a definição da nova unidade. Ao final de 1790, a Academia entregou o problema para uma ilustre comissão formada por: Lagrange, Laplace, Borda, Monge, e Condorcet. No seu relatório para a Academia de 19 de março de 1791, a comissão 9 Física Básica recomendou que se esquecesse o pêndulo. Ao invés disso, sugeriram que a nova unidade de comprimento fosse o correspondente a um décimo milionésimo da distância, ao nível do mar, entre o pólo e o Equador. De um ponto de vista puramente metrológico, tomar tal distância como padrão não faz nenhum sentido. Quaisquer duas medidas de tal distância fatalmente terão uma diferença extremamente elevada. Também não existia qualquer relação entre uma milha náutica utilizada pelos navegadores e as distâncias interestelares utilizadas pelos astrônomos. Apesar distso, a idéia de que a unidade básica deveria ser uma fração do tamanho da Terra era muito atraente para o espírito renascentista de buscar um padrão na natureza. A assembléia aprovou a unidade em 26 de março de 1791 e foram iniciados os trabalhos para determinar tal distância. Obviamente (por quê?) seria impossível medir a distância total. Ninguém jamais tivera visitado o Pólo Norte! Mas se alguém pudesse medir com uma razoável precisão uma boa parcela de um meridiano, então se poderia calcular o restante. Os dois extremos desta linha deveriam estar ao nível do mar e em algum lugar no meio da distância entre o pólo e o Equador. Por acaso só existe um lugar assim: a partir de Dunquerque até Barcelona, que cobre mais ou menos um décimo da distância entre o pólo e o Equador. A distância se encontra praticamente toda em território francês, o que não escapou aos olhos dos franceses. A pesquisa foi iniciada por P. F. A. Méchain e J. B. J. Delambre. No verão de 1792, Delambre começou seu trabalho em direção ao sul, a partir da costa, próximo a Dunquerque, enquanto Méchain foi para o norte a partir do mar Mediterrâneo. Em setembro foi declarada a república. A revolução francesa estava a todo vapor. Em apenas alguns meses a França entrou em guerra com a Inglaterra, Áustria, Prússia, Holanda e Espanha; 10 Introdução à Mecânica Luis XVI já havia sido executado e a violência se disseminava pelo país. Em tal clima os pesquisadores eram presos regularmente. Em oito de agosto de 1793, a Convenção Nacional destituiu a Academia de Ciências por não considerá-la republicana! O comitê de Segurança Pública, no entanto, continuava com seus trabalhos e precisava da ajuda dos membros da Academia, e, por istso, convenceram a Convenção a criar uma comissão nova e temporária (Commission temporaire des poids et mesures républicains) com os mesmos membros. Em novembro, Lavoisier foi preso, a comissão pediu a sua libertação, o Comitê respondeu expulsando mais cinco membros da comissão, incluindo aí Delambre. Notando para onde soprava o vento, a comissão passou a fazer denúncias revolucionárias dos antigos pesos e medidas. Delambre achava que eles deveriam abandonar o projeto completo de medir um meridiano e apenas aceitar o metro provisório. Mas a guerra exige o uso de mapas. Um cartógrafo militar que também era Jacobino foi designado para fazer os mapas. Como precisava de pessoal treinado, ele trouxe Delambre e Méchain de volta a Paris. Em sete de abril de 1795 foi dada a ordem estabelecendo os nomes que conhecemos hoje (metro, litro e grama) e também restabelecendo a comissão (exceto Lavoisier que havia sido guilhotinado no ano anterior...) para reiniciar as medidas para o metro. Delambre terminou sua parte no segundo semestre de 1797, mas Méchain ainda precisava chegar a Rodes, o que só foi possível, devido à sua saúde, em setembro de 1798. Neste ponto, excetuando-se pelos lados de dois triângulos, apenas ângulos haviam sido medidos: os ângulos de triângulos contíguos que iam desde Dunquerque até Barcelona. Se qualquer um dos lados destes triângulos fosse conhecido, então as dimensões de todos os outros poderiam ser calculados, e, a partir deles, a distância ao longo do meridiano. Em 28 de novembro de 1798, os franceses organizaram um painel internacional de especialistas de vários países. Um dos comitês consistiu de quatro pessoas, onde cada um deles calculou o comprimento do metro a partir das medidas de Delambre e Méchain. Seus cálculos tiveram resultados idênticos. O metro foi estabelecido como sendo uma parcela desta distância. Hoje em dia o quadrante da terra pode ser calculado com relativa facilidade utilizando satélites. Estas medidas indicam que o metro é na realidade algo em torno de 0,2 mm menor que um décimo milionésimo do quadrante da terra. O fato realmente impressionante deste fato não é que o metro não corresponde à sua concepção original, mas que dois pesquisadores do século 18 pudessem chegar tão perto! Desde 1795 o joalheiro real produzia barras de platina de quatro mm de espessura, 25.3 mm de largura e aproximadamente um metro provisório de comprimento, com extremidades paralelas. O comprimento destas barras foi comparado com o comprimento do metro determinado pela Aula 1 11 Física Básica pesquisa. Aquela barra que mais se aproximava do metro medido (a 0o C) foi depositada nos Arquivos Nacionais em 22 de junho de 1799 e desde então tem sido conhecido como “Mètre des Archives”. O sistema métrico foi legalizado em 10 de dezembro de 1799. O interesse internacional levou à realização de duas conferências internacionais (Commission Internationale du Mètre) em 1870 e 1872 para discutir a padronização do metro. Os participantes resolveram trocar o padrão até então utilizado por outro, feito de uma liga de platina e irídio (90% Pt e 10% Ir) por ser mais dura. Em 1875, vinte países participaram da terceira conferência. Dezoito deles assinaram um acordo (Convention du Mètre) que estabeleceu o “Bureau International des Poids et Mésures”. Finalmente em 1889 o protótipo final foi acondicionado no “Bureau International des Poids et Mésures” sendo até hoje preservado. O METRO DEFINIDO PELA LUZ A idéia de definir a unidade de distância em termos do comprimento de onda da luz foi ventilada no início do século XIX (J. Babinet, 1827). A luz “branca” na verdade é uma mistura de feixes de luz de diferentes comprimentos de onda. Para definir uma unidade de comprimento em função do comprimento de onda só precisamos de luz de um único comprimento de onda. Tal tipo de luz é chamado de monocromático. A obtenção deste tipo de luz não é muito difícil, bastando, por exemplo, colocar em combustão um material puro. Por exemplo, ao atirarmos sal de cozinha nas chamas de um fogão obtemos uma chama amarela, ou seja, recebemos feixes de luz monocromáticos. Estes feixes são provenientes da excitação eletrônica dos átomos de sódio. Esta luz é a mesma que vemos hoje em dia nas lâmpadas de vapor de sódio encontradas nas ruas. Em 1892 Michelson e Benoit tiveram sucesso nas medidas do metro em termos do comprimento de onda da luz vermelha emitida por átomos de Cádmio. Benoit e outros aprimoraram suas medidas e em 1907 a “International Solar Union” definiu o Angstrom internacional, uma unidade de medida utilizada para medir comprimentos de onda e que iguala o comprimento de onda da linha vermelha do Cádmio a 6438.4696 Angstroms internacionais. Infelizmente se percebeu que a linha vermelha do Cádmio não era clara o suficiente para a padronização do metro. Intensas pesquisas foram realizadas e finalmente o Kriptônio 86 foi escolhido em 1960 para o padrão, redefinindo o metro como sendo “o comprimento equivalente a 1 650 763.73 comprimentos de onda no vácuo da radiação correspondente à transição entre os níveis 2p10 e 5d5 do átomo de Kriptônio 86.” 12 Introdução à Mecânica Aula 1 P. F. A. Méchain and J. B. J. Delambre. Base du système métrique decimal, ou Mesure de l’arc du méridien compris entre les parallèles de Dunkerque et Barcelone. Paris: Baudoin, 1806–1810. 3 vols. H. Barrell. The Metre. Contemporary Physics 3:415 (1962). Do texto anterior, fica claro que a definição de unidades para medir distância, tempo, massa e etc., não é muito fácil e muito menos consensoual. Existem muitos sistemas de unidades físicas no mundo. O sistema metroquilograma-segundo (MKS), também chamado de sistema internacional (S.I.) é o preferido pelos físicos. O sistema centímetro-grama-segundo (CGS) é menos utilizado, e o sistema pé-libra-segundo (fps), também conhecido como sistema inglês é raramente utilizado em ciência, apesar de ser muito usado em países de língua inglesa. Cada sistema tem várias unidades fundamentais, ou de base, a partir das quais as outras são derivadas. O SISTEMA INTERNACIONAL As unidades básicas do SI quantificam: comprimento, massa, tempo, temperatura, corrente elétrica, intensidade luminosa e quantidade de matéria. 13 Física Básica METRO O metro definido no quadro acima foi substituído por uma unidade de tempo: o segundo. Para issto, foram feitas medidas extremamente precisas da velocidade da luz, e a nova definição do metro consiste na distância percorrida pela luz, no vácuo, em 3,33564095 bilionésimos de segundo! QUILOGRAMA Originalmente, o Quilograma era definido como sendo a massa de 0.001 metro cúbico (ou um litro) de água líquida pura. Esta ainda é uma excelente definição, mas existe um padrão ainda mais exato que consiste de uma amostra de uma liga de platina-irídio localizada no “Bureau International des Poids et Mésures”. É importante notar que a massa não se confunde com o peso. A massa desta amostra de platina-irídio tem a mesma massa, esteja ela em Aracaju ou no espaço sideral. O peso, por outro lado, depende de todos os corpos massivos que se encontram em sua proximidade. 14 Introdução à Mecânica SEGUNDO Aula 1 O segundo foi originariamente definido como sendo 1 minuto dividido por 60, que corresponde a 1/60 de uma hora, o que corresponde a 1/ 24 de um dia solar médio. O segundo foi então definido como 1/86400 de um dia solar médio. E ainda é uma excelente definição, mas hoje em dia definiu-se que 1 segundo é o tempo exato que um átomo de césio leva para sofrer 9.192631770x109 ciclos completos. Confuso com o número que acabamos de ver? Não se preocupe, explicaremos mais a à frente o seu significado. Mas, já que estamos aqui, podemos também definir o segundo como sendo o tempo que um raio luminoso leva para percorrer uma distância de 2.9979258x108 metros. Isto corresponde a, aproximadamente, ¾ da distância entre a Terra e a Lua, o que significa que um feixe luminoso leva mais que um segundo para sair da Terra e chegar à Lua! De certo modo, o tempo é uma forma de expressão da dimensão linear e vice-versa. Estes dois aspectos da natureza estão intimamente relacionados pela velocidade de Luz, a qual Albert Einstein definiu como absoluta. KELVIN A unidade SI de temperatura é o Kelvin. Trata-se de uma medida de quanto calor existe quando comparado ao zero absoluto, o que representa a ausência completa de todo o calor e, portanto, é o maior frio possível. Formalmente, o Kelvin é definido como 1/273.16 da temperatura termodinâmica do ponto triplo da água (0.01°C), que estudaremos nos próximos capítulos. AMPÈRE O ampère é a unidade de corrente elétrica e a sua unidade representa um fluxo de cerca de 6.241506x1018 elétrons atravessando a seção reta de um condutor por segundo. A definição formal do ampère é um pouco difícil de imaginar, mas podemos tentar: 1 A (lê-se um ampère) é o fluxo de carga que atravessa dois fios perfeitamente condutores, infinitamente finos, retos e paralelos, colocados a uma distância de 1 metro e no vácuo e que resulta em uma força entre os condutores igual a 2x17 N/m! Seria interessante aqui adiantar que N corresponde à unidade derivada conhecida como Newton, utilizada para quantificar força. CANDELA A Candela (cd) é a unidade de intensidade luminosa. Ele equivale a 1/ 683 de um wWatt de energia radiante emitida a uma freqüência de 5.4x1014 15 Física Básica Hertz em um ângulo sólido de um estereoradiano. Sim, isto parece extremamente confuso, mas com certeza chegaremos a uma visão mais simples: quer ver?. Uma idéia um pouco mais palatável é a de que uma única vela emite uma quantidade de luz mais ou menos equivalente a uma candela. MOLE O mole, ou mol, é a unidade padrão de quantidade de matéria. Ele também é conhecido como número de Avogadro e trata-se de um número fabuloso!: 6.022169x1023! Este é precisamente o número de átomos em 0.012 Kg de Carbono 12, o isótopo mais comum do carbono consistindo de seis prótons e seis nêutrons. Na atividade abaixo, verificaremos se você compreendeu os conceitos apresentados. ATIVIDADES I. Até aqui nós discutimos como a rotação da Terra ao redor de seu eixo foi utilizada para definir a unidade básica de tempo. Que outros tipos de fenômenos naturais poderiam ser usados como padrão alternativo? II. Suponha que os três padrões fundamentais do sistema métrico fossem comprimento, densidade e tempo, ou seja, trocando a massa pela densidade. O padrão de densidade deste sistema seria definido como sendo aquele da água. Que tipo de considerações deveriam ser feitas para se assegurar que o padrão de densidade da água seria o mais preciso possível? COMENTÁRIOS I. Quaisquer fenômenos periódicos: as fases da Lua, as marés, os solstícios de inverno e verão, etc. II. Como sabemos (ou saberemos em breve), a densidade dos líquidos depende fortemente da temperatura e da pressão, portanto a massa e o volume teriam que ser medidos com a maior precisão possível, estabelecendo-se condições constante de temperatura e pressão. 16 Introdução à Mecânica POTÊNCIAS DE DEZ Aula 1 Como vimos anteriormente, as grandezas físicas não podem ser expressas apenas com números; precisamos utilizar as unidades corretas. Por exemplo, não faz nenhum sentido dizer à patroa que chegará tarde em a casa, que pois ainda vai demorar duas candelas. Ou ainda, que a massa do seu sobrinho seja espantosa: 14 ampères.... Algum cuidado deve ser tomado, no entanto, quando comparamos tempo e espaço: pode-se calcular distâncias em unidades de tempo, e vice versa????? Após este preâmbulo, podemos iniciar o que se chama notação científica, ou de potência de 10. Aqui simplesmente nos rendemos ao fato de que o universo é grande demais, quer olhemos para as estrelas, quer olhemos para os átomos. Como já vimos anteriormente, algumas das constantes físicas mais importantes são: ou números muito grandes (milhões de bilhões, etc.) ou muito pequenos (milionésimos de bilionésimos). Para escrever estes números é então necessária a utilização de um número pavoroso de zeros! Por exemplo: a distância entre Aracaju e Salvador é de apenas (aproximadamente) 350 quilômetros, certo? Mas, ao utilizarmos o SI precisamos utilizar metros, que correspondem a um milésimo do quilômetro. Deste modo, dizemos que a distância entre Aracaju e Salvador é de 350.000 metros! A distância média da Terra à Lua por sua vez é de 380.000.000 metros! Para poder dar fim a esta quantidade absurda de zeros utilizamos as potências de dez. Estas potências aparecem da seguinte maneira: os algarismos significativos (cuja definição veremos logo mais) aparecem com uma única casa antes da vírgula. Os zeros que apareceriam à sua esquerda ou à sua direita são substituídos por potências de 10, lembrando que: Fica fácil ver então que a distância da Terra à Lua pode ser definida da seguinte maneira: Quando temos um número multiplicado por uma potência de base 10 positiva, queremos dizer que iremos “aumentar” o número de zeros à direita ou “movimentar” para direita a vírgula tantas casas quanto indicar o expoente da base 10. Veja alguns exemplos: 17 Física Básica Quando temos um número multiplicado por uma potência de base 10 negativa, indica que iremos “diminuir” o número de zeros à direita ou “movimentar” a vírgula para esquerda tantas casas quanto indicar o expoente da base 10. Veja alguns exemplos: Quando queremos nos referir a números muito grandes ou muito pequenos, também podemos utilizar prefixos. Estes prefixos, em conjunto com as unidades, permitem que nos livremos da potência de dez. Como exemplo, naturalmente, podemos usar o caso da distância da Terra à Lua: 380.000.000 metros equivalem a 380.000 quilômetros . Já simplificou o nosso problema, mas podemos fazer ainda melhor se soubermos que esta mesma distância pode ser chamada de 380 megametros. Este nomezinho estranho lembra alguma coisa, não é verdade? Nesta época de computadores estamos sempre ouvindo coisas como megahertz, megabytes, etc. Em alguns casos, já temos até mesmo gigahertz e mesmo terabytes! Com isto estamos apenas mostrando que estes prefixos são universalmente utilizados e é muito importante que os conheçamos. Para isto, preparamos uma bela tabelinha que será muito importante a você: 18 Introdução à Mecânica O processo de conversão de um tipo de unidade para outro é bastante simples. O número original, digamos 1200 metros deve ser convertido em quilômetros. Para proceder a conversão, multiplicamos e dividimos este número por 1 quilômetro: Aula 1 Usamos então nosso conhecimento de que 1 quilômetro equivale a 1000 metros para fazer a seguinte alteração: Em seguida rearranjamos esta equação da seguinte forma: Fazemos agora a conta de dividir entre números de mesma unidade e “cortamos” a unidade: É simples assim, mas antes de prosseguirmos seria interessante que você fizesse um teste para verificar se realmente compreendeu. Desenvolva a seguinte atividade. Não olhe a resposta comentada até que tenha tentado o melhor possível. ATIVIDADES Cada uma das conversões abaixo tem um erro. Em cada caso explique qual é o erro: I. II. III. Nano é o prefixo de 10-9, portanto um metro contém 10-9 nanômetros; IV. Micro é o prefixo de 10-6, portanto um quilograma contém 106 microgramas (mg) 19 Física Básica COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES I. O fator original, 1000 kg precisa ser convertido em gramas. É abundantemente claro que 1000 quilogramas não correspondem a um grama, mas onde está o erro? O procedimento de multiplicação e divisão por quantias iguais, mas de unidades diferentes foi correto, mas as unidades não podem ser cortadas! O resultado na verdade é 1 kg2/g! A maneira correta de fazer exige que as unidades no numerador e denominador sejam idênticas para que se possa cortar: II. Neste caso as unidades foram colocadas nos locais corretos, mas 1 m corresponde a 100 cm, e não o contrário! III. Este é um erro comum. Um nanômetro corresponde a 10-9 metros, ou seja, é um número extremamente pequeno. Isto significa que em um metro existirão muitos nanômetros, mais exatamente 109! IV. O erro aqui é um pouco mais básico: de fato micro é prefixo de 10-6. Isto significa que um micrograma é uma quantidade muito pequena de matéria, e que em uma quantidade mensurável de matéria teremos muitos microgramas. O problema é que a unidade básica de massa é o grama, e não o quilograma! Teremos 106 microgramas em um grama de matéria. Como temos 103 gramas em um quilograma, teremos 103X106 = 109 microgramas em um quilograma. ANÁLISE DIMENSIONAL Em um futuro muito próximo, nós começaremos a resolver problemas de física. Em muitas circunstâncias, você precisará determinar um valor numérico e também a unidade utilizada. Geralmente o valor numérico não é difícil de obter, mas a unidade geralmente dá algum trabalho. A Análise dimensional o ajudará a determinar a unidade de uma dada variável em uma equação e pode até mesmo ajudálo a determinar se uma equação que você derivou está correta. Até mesmo um pequeno erro de álgebra poderá ser detectado porque ele geralmente leva a uma equação que é dimensionalmente errada. Ao trabalho: a maioria das quantidades pode ser expressa como combinações de cinco dimensões básicas: 20 Introdução à Mecânica · Massa – M; · Comprimento – L; · Tempo – T; · Corrente Elétrica – I; · Temperatura - θ. Estas dimensões foram escolhidas porque são facilmente mensuráveis. Note que dimensão não é o mesmo que unidade! Por exemplo, a quantidade física conhecida por velocidade pode ser medida em unidades de metros por segundo, milhas por hora etc., mas independentemente das unidades utilizadas, a velocidade corresponde sempre a um comprimento dividido por um tempo. Por issto, dizemos que as dimensões da velocidade são comprimento dividido por tempo, ou simplesmente L/T. De maneira análoga, podemos dizer que a área tem dimensões de L2, uma vez que a área sempre pode ser calculada como sendo um comprimento vezes outro comprimento. Antes de prosseguirmos, é importante que tomemos conhecimento de algumas grandezas físicas e suas unidades padrão, assim como suas relações com as unidades fundamentais. Aula 1 Você pode estar se perguntando quando deve usar Joule, J ou kg.m2/ s2 como unidade de energia. A convenção do SI indica que se não existe um número em frente à unidade, então a unidade é usada como uma palavra completa. Por exemplo, você escreveria “energia expressa em joules”. Se, por outro lado, há um número, então se usa apenas a abreviação: 6.4 J (ou raramente kgm2/s2). Algumas quantidades, no entanto, não têm dimensões. É o caso, por exemplo, do seno de um ângulo. O seno de um ângulo é definido como a razão entre o cateto oposto ao ângulo e a hipotenusa em um triângulo. Temos então a razão entre dois comprimentos que se anulam! Portanto, as dimensões do seno são L/L = 1. Dizemos, então, que o seno é 21 Física Básica adimensional. Há uma série de outras grandezas (incluindo todas as trigonométricas) adimensionais. Note que algumas grandezas “adimensionais” têm unidades! Ângulos, por exemplo, podem ser medidos em graus ou radianos, mas ainda são adimensionais. Outro exemplo familiar é “ciclos por segundo”, ou hertz. A unidade de tempo, segundo, naturalmente que é uma dimensão, mas ciclo é apenas um número. Apesar de ser tudo muito simples, é bom que olhemos alguns pontos mais delicados. Primeiro, o argumento de uma função trigonométrica é sempre um ângulo, e, portanto, adimensional. O expoente de uma função exponencial também o é, assim como o logaritmo da mesma! Estes fatos, muitas vezes, nos ajudam a determinar a dimensão de certa quantia. Por exemplo, se analisarmos a função: , onde t designa o tempo, nós podemos afirmar, com segurança, que k deve ter dimensões de T-1 para que o expoente seja adimensional. Em uma expressão algébrica, todos os termos que são somados ou subtraídos devem ter as mesmas dimensões. Isto implica que cada termo do lado esquerdo de uma equação deve ter as mesmas dimensões do lado direito da equação. Por exemplo, na equação , a deve ter as mesmas dimensões do produto bc, e o produto 1/2xy também deve ter as mesmas dimensões. Uma equação, onde cada termo tem as mesmas dimensões, é chamada de dimensionalmente correta. Já estamos agora preparados para testar os seus conhecimentos! ATIVIDADES I. A lei de Newton da gravitação universal é representada por: Onde F é a magnitude da força exercida por um objeto de massa M em outro de massa m. Sendo r a distância entre as duas massas e levando em consideração que no SI a força term unidades de kgm/s2, determine as unidades SI da constante de proporcionalidade G. I. Um elemento geométrico desconhecido tem expressões bem definidas para o comprimento de suas arestas, seu volume e a área das faces. Identifique estes elementos na coluna da esquerda com suas equações na coluna da direita. a) Aresta b) Área c) Volume 22 ( ) ( ) ( ) Introdução à Mecânica COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES Aula 1 I. A análise deve ser feita colocando as unidades nos dois lados da equação: Vemos que podemos cortar um dos kg presente em cada lado, e passar as outras unidades para o lado esquerdo da equação, obtendo: II. Para completar corretamente esta tabela, basta fazer a análise dimensional. A primeira equação mostra uma dimensão de comprimento, h multiplicada por dimensões de comprimento ao quadrado, r2. Isto resulta em uma dimensão de comprimento ao cubo, ou seja, um volume. O segundo caso é direto, apenas uma dimensão de comprimento, portanto trata-se de uma aresta. O último deles é um pouco menos imediato. Para simplificar, notemos que h e r1 e r2 que aparecem entre colchetes estão elevados ao quadrado, portanto, trata-se de uma unidade de comprimento ao quadrado. Mas o colchete está dentro de uma raiz quadrada, o que leva a dimensão de volta àquela de comprimento simples, a qual, multiplicada pela dimensão de comprimento das unidades que aparecem entre parênteses, dá a dimensão de comprimento ao quadrado: uma área. CONVERSÃO DE UNIDADES Terminaremos esta nossa primeira aula aprendendo a converter unidades entre diferentes sistemas. Algumas vezes, é necessário converter unidades de um sistema para outro, ou mesmo dentro de um mesmo sistema, como por exemplo, de quilômetros para metros. Existem igualdades entre valores de distância do SI e aqueles utilizados nos países de língua inglesa: 23 Física Básica As unidades podem ser tratadas como quantidades algébricas que podem ser canceladas. Por exemplo: suponha que queiramos converter 15 polegadas (inch, ou in. em inglês) para centímetros. Como a polegada é definida exatamente como 2.54 cm, podemos fazer o seguinte: onde a razão entre parênteses é igual a 1. Note que escolhemos colocar a unidade de polegadas no denominador, e a mesma se cancela com a do numerador. Existem as mais variadas relações entre as grandezas nos diversos sistemas. Abaixo introduzimos uma pequena amostra de tabela de conversão de distâncias (disponível de forma integral na página da Wikipédia: http:// pt.wikipedia.org/wiki/Tabela_de_convers%C3%A3o_de_unidades). 24 Introdução à Mecânica CONCLUSÃO Aula 1 Nossos antepassados tiveram muito trabalho para conseguir estabelecer parâmetros de comparação para medir tempo, massa e comprimento. Não foi um processo único, iniciado por algum iluminado, mas um trabalho realizado por várias pessoas em diversos países e com diversos graus de sucesso. Vários motivos, tais como orgulho nacional e costumes arraigados, impediram que até os dias de hoje ocorresse uma unificação dos sistemas de medida. Mesmo dentro de um mesmo sistema de medidas, existem variações que representam as diversas facetas da física: um tipo de unidade muito útil em explorações galácticas naturalmente não serve para estudos do átomo, e vice-versa. Para poder vencer esses obstáculos, aprendemos a converter unidades neste módulo. O ponto mais importante, no entanto, foi o da análise dimensional. Através da análise dimensional é possível aprender muito sobre um experimento, assim como determinar se uma equação está correta e se as unidades são específicas para aquele resultado. RESUMO Esta aula tratou dos conceitos iniciais necessários para o estudo de física no ensino superior. Inicialmente, foi abordado o reconhecimento dos padrões de comprimento, massa e tempo. Um breve histórico mostrou como foi difícil o estabelecimento destes padrões, mas nos mostrou como eles são importantes e como utilizá-los nos dias de hoje. Verificamos que, na maior parte do mundo, e principalmente na ciência, se usa o Sistema Internacional de Unidades (S.I.), também conhecido como MKS (metro-quilometro-segundo). O segundo tópico de estudo foi a utilização dos prefixos que substituem as potências de dez. Vimos como prefixos, tais como mega, quilo, mili e etc. facilitam a nossa vida. O aprendizado da análise dimensional constituiu o terceiro tópico. Vimos como ela pode ser utilizada para determinar se uma equação está correta e se as unidades advindas desta equação estão corretas. Passamos então ao estudo da conversão de unidades. Aprendemos como determinar grandezas físicas em um sistema de unidades quando sabíamos este mesmo valor em outro sistema de unidades. Aprendemos a converter distâncias, massas, velocidades etc. 25 Física Básica PRÓXIMA AULA Na próxima aula, faremos uma introdução ao estudo de erros e incertezas experimentais. Em seguida, iniciaremos o curso de física básica, com o estudo da cinemática dos pontos materiais, ou seja, aqueles que têm massa, mas não tem volume! Estudaremos as equações de movimento e tentaremos prever a trajetória de objetos que se movem sem aceleração. REFERÊNCIAS Douglas C. Giancoli. Physics for Scientists and Engineers. 3ed. New Jersey: Editora Prentice Hall, 2000.2. Hugh D. Young e Roger A. Freedman. Física I – Mecânica. 10ed. São Paulo: Editora Addison Wesley, 2003. Tradução de Adir Moysés Luiz.3. Frederick J. Keller, W. Edward Gettys e Malcolm J. Skove. Física, São Paulo: Editora Makron Books, 1997.Vol 1. Tradução de Alfredo Alves de Farias4. Robert Resnick, David Halliday e Kenneth S. Krane. Física 1. 5ed. Rio de Janeiro:LTC Editora, 2003. Tradução de Pedro M. C. L. Pacheco, Marcelo A. Savi, Leydervan S. Xavier, Fernando R. Silva. 26 Aula CINEMÁTICA EM UMA DIMENSÃO 2 META Iniciar os estudos de cinemática com o caso unidimensional. OBJETIVOS Ao final desta aula o aluno deverá: realizar cálculos levando em consideração o número de figuras significativas em acordo com a incerteza experimental; reconhecer pontos de referência e aplicá-los para determinar grandezas físicas; determinar a posição de objetos em relação aos pontos de referência; e calcular a velocidade média de objetos que se deslocam em uma dimensão. PRÉ-REQUISITOS Sistemas de Unidades; fatores de conversão; trigonometria básica (Fonte: http://www.unicam.org.br) Física Básica INTRODUÇÃO Nesta aula serão abordados alguns assuntos que, provavelmente, nunca foram vistos por você. Uma avaliação estatística da distribuição de resultados em torno de uma média é o principal deles. Você verificará que as medidas experimentais nunca são exatas, pois dependem de condições em que são realizadas. Perceberá, também, que estas condições experimentais podem levar a resultados muito acurados, mas pouco precisos, e vice-versa. Aprenderá como tratar dados de uma amostragem relativamente grande de resultados e aplicar regras de avaliação de confiabilidade. O conceito de ponto de referência e de sistema de referência será aprofundado e profusamente exemplificado para que você se prepare para análises mais sofisticadas de sistemas físicos através do uso de vetores nas aulas posteriores. O conceito de velocidade média, já estudado no ensino médio, será revisitado em uma linguagem mais avançada tomando o cuidado de estabelecer a arbitrariedade e liberdade de escolha de pontos e sistemas de referência. 28 Cinemática em uma dimensão Bem vindo à segunda aula do seu curso de física básica. Com certeza tudo aquilo que aprendeu na primeira aula será de muita importância daqui para frente. Hoje começaremos com um estudo fundamental para se compreender como analisar erros experimentais. Aula 2 ERROS – ALGARISMOS SIGNIFICATIVOS Um fato da vida que provavelmente você já percebeu é o de que os resultados de qualquer medição que você faça nunca estarão absolutamente iguais! Eles são vítimas de erros de medidas; erros estes causados por uma série de motivos. Nestas linhas, discutiremos os principais culpados desta situação. Erros sistemáticos: são erros cometidos sempre e somente no mesmo sentido; se forem descobertos, podem ser corrigidos ou eliminados. Ex: Balança mal calibrada, deficiência de funcionamento, erros de operação etc. Erros fortuitos ou aleatórios: são aqueles erros que aparecem sem qualquer regularidade; inevitáveis; estimativas que dependem de pessoa para pessoa e de medição para medição; tendem a anular-se num elevado número de medições. Ex: variações no ambiente do laboratório, limitações dos instrumentos de medida etc. Parece confuso? Dê uma boa olhada na figura abaixo: Nessa figura mostramos quatro casos distintos de medidas repetidas e a distribuição dos resultados. Não colocamos valores nos eixos, mas podemos assumir que o resultado “correto” se localiza no centro dos eixos. Caso A: é visualmente óbvia a fraca precisão. Existe uma grande dispersão de resultados, mas eles se concentram em torno do valor verdadeiro. Isto indica que existem erros aleatórios em abundância. Por outro lado, não se verifica a existência de erros sistemáticos. Isto indica que temos um resultado “acurado” (exato), mas pouco preciso. Caso B: este é um resultado perigoso. A precisão é boa, o que nos levaria a acreditar que foi uma medida de boa qualidade, pois há baixa dispersão de resultados, o que indica um bom controle dos erros aleatóri- 29 Física Básica os. Por outro lado, a medida não é acurada, indicando claramente a existência de uma fonte de erros sistemáticos. Caso C: o pior dos mundos: baixa precisão (grande dispersão de resultados) e baixa acurácia (resultado errado). Encontramos erros aleatórios e erros sistemáticos. Caso D: o melhor dos mundos: boa precisão e acurácia. Um experimento científico que se preze, começa com o Caso C e, através de MUITO trabalho, chega ao Caso D! DISTRIBUIÇÃO NORMAL Quando uma série de medidas repetitivas é realizada, independentemente da acurácia, teremos uma distribuição dos resultados em torno do valor real. Se pegarmos, por exemplo, 10 caixas de fósforos (com quarenta palitos em cada uma), e medirmos o comprimento de cada palito, chegaremos a uma grande distribuição que pode ser esquematizado da seguinte maneira: Este gráfico, conhecido como, um histograma, nos diz o seguinte: temos muitos palitos com o comprimento em torno de 2,9 cm. Temos também alguns palitos com 2,4 cm e até com 3,1 cm! Mas podemos ver um pouco mais que isso. Podemos ver que as discrepâncias tendem a ser pequenas e a se distribuir simetricamente em torno de um dado valor médio do comprimento dos palitos. Para calcular esta média, é muito simples: basta utilizarmos a seguinte equação (ou fórmula): 30 Cinemática em uma dimensão onde quer dizer: valor médio de x. Para quem não conhece esta letra da fórmula ( Σ ), ela é uma letra grega que corresponde ao nosso “S” maiúsculo, indicando que faremos uma soma de todos os valores de x. Mais abaixo, isso ficará mais claro. Em nosso caso, é apenas o comprimento de cada palito. Para calcular este valor médio, no entanto, precisamos dos dados verdadeiros, e os mesmos (inventados, naturalmente) foram colocados na tabela abaixo: Aula 2 A conta fica então muito fácil: Note que colocamos aqui todos os 400 valores medidos! Contamos o valor 2,4 cm dezoito vezes, o valor 2,5 cm 32 vezes e assim por diante. Parece uma perda de tempo, e realmente é. Uma maneira muito mais adequada de fazer esta conta é aquela que utiliza a freqüência de ocorrência dos comprimentos dos palitos. A freqüência corresponde ao número de vezes que um dado valor é obtido. Olhando a tabela, podemos ver que a freqüência de 2,4 cm é 18! Simples não? Se nós chamarmos estes números de fi podemos definir o número total de medidas (ou eventos) como sendo: 31 Física Básica Note que agora não especificamos o número total de itens que serão somados, porque geralmente não sabemos isto. Neste nosso exemplo, são apenas 8. Podemos verificar a validade desta equação: N =18+32+46+68+70+102+36+28=400! Utilizando o conceito então de freqüência, o valor médio pode ser calculado de forma muito mais simples: Com esta equação, obtemos a média de maneira muito fácil: Então, o comprimento médio do palito é matematicamente igual a 2,7825 cm. Isto não nos diz muita coisa a respeito da qualidade do processo de produção dos palitos. A pergunta que temos a fazer é: existe muita variação no comprimento dos palitos? Pode parecer uma dúvida sem sentido para o caso dos palitos – quem se importa com o comprimento dos palitos? Só queremos que eles acendam – , mas, e se o problema fosse outro? Você resolve fazer uma compra de sapatos maluca: quer comprar 400 pares de sapatos, todos de tamanho 38, iguais – eu disse que era maluca. O fabricante manda entregar na sua casa e você, que é bastante desconfiado, pega um par de sapatos confortáveis, número 38, e começa a comparar com cada um dos pares novos recebidos. O que você acha que vai acontecer? Você espera que todos os pares sejam realmente iguais! Para sua grande irritação, nota que existe uma grande distribuição, e que existem pares de números desde 34 até 42! Agora sim, dá para decidir se brigar vale, ou não, à pena. Quantos pares estão fora de especificação? Qual é a sua tolerância a um sapato apertado e a um sapato largo? Qual a razão entre o número de sapatos de tamanho certo e de tamanho errado? Estas perguntas aparecem todos os dias em todos os ramos industriais do mundo. Por exemplo: os fabricantes de automóveis compram os pneus de outros fabricantes. Se uma leva de pneus tem uma grande porcentagem de pneus fora de especificação (apertados...) então o mundo vem abaixo! Vemos então que além da média, precisamos de um número que nos dê uma noção de como os valores se distribuem em torno da média. Este número tem um nome: desvio padrão. O seu cálculo também é muito fácil: 32 Cinemática em uma dimensão Como você agora já está acostumado com esses cálculos, vou deixar você verificar que o desvio padrão (representado pela letra grega σ) é igual a 0,181777 cm. Então, agora nós temos um valor médio para os palitos e um desvio padrão. Mas o que isto significa? O desvio padrão nos dá uma idéia da dispersão dos resultados: este número nos diz que 68% das medidas encontram-se no intervalo: Aula 2 ou, em nosso caso, 68% das medidas encontram-se no intervalo: 2,600568 2,963024447cm. Também devemos ficar sabendo que 95% das medidas encontram-se no intervalo Podemos agora dizer que essa análise estatística mostra o que é conhecido como distribuição Normal. Este exemplo foi muito bom para indicar o método de tratar resultados experimentais de uma série de medidas. No entanto, obtivemos alguns números bastante misteriosos, tais como 2,963024447 cm. Nós podemos agora fazer uso daquela nossa tabela de prefixos para saber o que este número significa: Este número nos diz que sabemos o valor do comprimento do palito de fósforo com precisão de até décimos de Angstrom! Estas são dimensões atômicas! Isto faz sentido? Que máquina maluca foi utilizada para determinar o comprimento de um palito de fósforo com tal precisão? Você não acha que há algo errado? Pois há! A nossa precisão experimental foi determinada pelo equipamento que usamos. Como os valores que medimos são do tipo x,y cm, concluímos que nossa precisão é de milímetros e que devemos ter usado algo como uma fita métrica. Então, este número enorme não deve fazer sentido e precisamos acabar com algumas daquelas casas decimais. Mas este processo, chamado de arredondamento, não pode ser feito de qualquer maneira; existem algumas regrinhas básicas. 33 Física Básica Quando se quer diminuir o número de casas decimais em uma unidade, como por exemplo, de 123,789 para 123,7X, diminuímos o número de casas decimais de três para dois. A pergunta que se faz é: quem é X? Nosso primeiro reflexo seria manter o número 8, simplesmente cortando o número 9. Isto seria simples, mas errado. A decisão de quem será X depende de quem vem depois do X. Neste caso, o 9! O raciocínio que determina a escolha é bastante simples: uma pessoa pergunta a você qual a distância entre sua casa e sua escola. Você já sabe que é algo em torno de 1,9 km. Qual será sua resposta? Um ou dois quilômetros? Naturalmente que dois representa melhor a distância real. No nosso exemplo acima, utilizamos o mesmo raciocínio. Sabendo agora por que estamos fazendo isto, podemos ditar as regras: · Se o número seguinte é menor que 5, mantemos o número inalterado; · Se o número seguinte é maior ou igual a 5, adicionamos uma unidade ao número. Neste nosso exemplo, o número imediatamente após o X é nove, então o número X original (oito) precisa receber uma unidade, perfazendo: 123,79. Se quisermos baixar ainda um pouco o número de casas decimais, procedemos da mesma maneira: 123,X9 vai para 123,(X+1), ou seja, 123,8. Novamente: 12X,8 vai para 12(X+1), ou seja, 124. E para terminar, 1X4 x10 vai para 1X x 10, ou seja, 12 x10. Este processo de arredondamento é necessário quando queremos expressar uma grandeza física de maneira adequada, ou seja, utilizando os Algarismos Significativos. Estes algarismos são aqueles que expressam um significado físico real. No exemplo anterior, calculamos o comprimento médio dos palitos com precisão atômica. Isso é claramente absurdo, pois não temos instrumentos para isto! Quem determina o número de algarismos significativos então é o instrumento de medidas, assunto que será visto em seu curso de Laboratório de Física Básica. No entanto, é importante, desde já, aprender a determinar quantos algarismos significativos estão presentes em uma dada cifra. A maneira de se escrever o valor numérico em trabalhos científicos é preferencialmente a notação científica. Nesta notação, escreve-se o número referindo-se à potência de dez, com a particularidade de se conservar, à esquerda da vírgula, apenas um dígito, diferente de zero. Exemplos: 34 Cinemática em uma dimensão A razão de se preferir a notação científica a qualquer outra é que ela permite a rápida visualização da grandeza (a potência de 10) e do número de algarismos significativos. Aqui iremos nos concentrar em operações com algarismos significativos que, também, seguem regras bem definidas. Na adição e subtração - faz-se a operação normalmente e, no final, reduz-se o resultado, usando o critério de arredondamento para o número de casas decimais da grandeza menos precisa. Exemplos: Adição - (12.441 + 57,91 + 1,987 + 0,0031 + 119,20) = 12.620,1001 = 12.620 Subtração - (12.441,2 - 7.856,32) = 4.584,88 = 4.584,9 Na multiplicação e divisão - o resultado deverá ter igual número de algarismos (ou um algarismo a mais) que a grandeza com menor quantidade de algarismos significativos que participa da operação. Exemplos: Multiplicação - (12,46 x 39,83) = 496.2818 = 496,28 Divisão - (803,407 / 13,1) = 61,328 = 61,33 Na potenciação e radiciação, o resultado deverá ter o mesmo número de algarismos significativos da base (potenciação) ou do radicando (radiciação): Potenciação - (1,52 x 103)2 = 2,31 x 106 Radiciação - (0,75 x 104)1/2 = 0,87 x 102 Uma regra prática para a operação com algarismos significativos é adicionar aos valores um x à direita do último algarismo, realizar a operação e tomar como resultado os algarismos não afetados pelo x. Por exemplo: a) 2,041 + 0,0498 + 98,00 Aula 2 Quando duas ou mais quantidades são multiplicadas ou dividas, o número de algarismos significativos resultante deve ser igual ao menor número de algarismos significativos de qualquer um dos multiplicadores ou divisores. Se o cálculo inicial viola esta regra, ele deve ser arredondado para reduzir o número de algarismos significativos ao valor máximo permitido. Assim, se várias operações são realizadas em seqüência, é desejável manter todos os dígitos nos valores intermediários e arredondar somente o valor final. O truque de se adicionar um x ao final dos cálculos também é válido: a) 8,248 x 3,1 25,8 35 Física Básica Terminaremos esta aula com um breve contato com o mundo real dos laboratórios. Tratamos de algarismos significativos, precisão, acurácia e outros conceitos, mas nos mantivemos no plano teórico. Quando tratamos de cifras reais, precisamos não apenas de magnitudes, mas também de incertezas. Todas as medidas que são feitas experimentalmente são afetadas, até certo ponto, por erros experimentais devido às imperfeições inevitáveis de todos os instrumentos de medida. Todos os resultados experimentais, então, devem ser acompanhados de uma estimativa de sua incerteza, ou erro. A maneira correta de estimar estes erros será discutida no curso de física básica experimental. Por exemplo, ao fazermos uma medida do comprimento de uma cortina, obtivemos o seguinte resultado: 297±2 mm. Com isto, entendemos que a tal cortina mede alguma coisa entre 295 mm e 299 mm. É importante destacar que os erros SEMPRE devem ser utilizados com apenas um algarismo significativo. Quando efetuamos operações com quantias (e suas respectivas incertezas), precisamos respeitar, como sempre, algumas regras, mas elas já estão fora do conteúdo deste curso. Colchão de ar para experimentos de colisão (Fonte: http://www.unerj.br) 36 Cinemática em uma dimensão Aula ATIVIDADES 2 I. Calcule: (a) a soma dos seguintes valores: 756+37,2+0,83+2,5; (b) o produto dos seguintes valores: 0,0032X356,3 e (c) o produto dos seguintes valores: pX5,620 II. Um fazendeiro quer atualizar a escritura de sua fazenda retangular e verifica que ela mede 38,44 m de comprimento e 19,5 m de largura. Determine seu perímetro e sua área. COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES I. (a) O resultado da soma é 796,53, mas a regra da adição diz que devemos arredondar para o número de casas decimais da grandeza menos precisa, que, neste caso, corresponde a nenhuma casa decimal. Devemos então arredondar 796,53 para 796,5 e depois para 797. (b) o resultado algébrico é 1,14016, mas utilizando a regra do produto, devemos manter o mesmo número de algarismos significativos daquela parcela com menor número de algarismos significativos. Neste caso só podemos utilizar dois algarismos significativos, e, portanto, o resultado é 1,1. (c) Sendo p um número puro, ele tem infinitos algarismos significativos, e o resultado do produto é determinado pelo número de algarismos significativos da outra cifra: quatro! E o resultado é: 17,71. II. Este é um caso muito parecido com o anterior. O comprimento tem quatro algarismos significativos e duas casas decimais; a largura tem três algarismos significativos e apenas uma casa decimal. O perímetro, que corresponde à soma de todos os lados deverá então ter apenas uma casa decimal e a área, por se tratar de um produto, só poderá ter três algarismos significativos: SISTEMAS DE REFERÊNCIA Como veremos nas próximas aulas, a cinemática clássica descreve a maneira pela qual um objeto se move. Uma pergunta básica que se apresenta é: move-se em relação a que (ou a quem)? Nosso objetivo é desenvolver um entendimento do movimento, que é muito sutil. Você já teve a sensação, dentro de um carro ou avião ou barco, de não saber se você está parado ou em movimento? Quase todas as pessoas já 37 Física Básica tiveram este tipo de sensação. Isto ocorre quando a visão exterior é restrita de tal modo que perdemos a referência. Este fenômeno é particularmente intenso quando olhamos através de uma pequena janela de avião que permite uma visão muito restrita do mundo exterior. Se você observa outro avião próximo se mover é difícil de dizer se ele realmente está se movendo ou se é o seu avião que está se movendo enquanto o outro está parado. Nestes casos você precisa de um objeto estacionário (como por exemplo, o terminal) para poder se certificar sobre quem está se movendo. O movimento é relativo e ele depende da escolha de um sistema de referência (ou referencial). O problema é, portanto, realmente sutil e, por isso, vamos olhar um pouquinho mais a fundo. Imagine que você está em um barco dentro de um lago, mas sem remos ou motor e visualiza um segundo barco. Sem qualquer instrumento de navegação, como você pode descrever o seu movimento em relação a este outro barco? O seu barco está parado? O outro barco está se movendo? Ou o seu barco está se movendo e o outro parado? Ou estão ambos os barcos em movimento? Se você se define como o observador, você pode chegar à conclusão de que você está parado e que o outro barco está se movendo por ter aparecido em seu campo visual. Por outro lado, se as pessoas no outro barco são os observadores, eles podem concluir que estão parados e que você está se aproximando. O movimento é relativo e é necessário que se defina “relativo a que”. Imagine agora que uma pessoa chuta uma bola em sua direção, e ela viaja a 100 km/h. Se você é o observador, a bola está andando em sua direção a uma velocidade de 100 km/h. Por outro lado, para uma formiga infeliz, sentada sobre a bola, ela está parada, e você está se aproximando a uma velocidade de 100 km/h! Indo um pouco mais longe, em uma viagem aérea para o Rio de Janeiro, uma grande turbulência fez com que você derrubasse uma xícara de café. Como podemos descrever o movimento da xícara? Devemos descrever a partir do ponto de vista de nosso colega dentro do avião (que veria a xícara caindo em linha reta)? Ou devemos utilizar o ponto de vista de um cidadão de Salvador (com super poderes) que podia ver o movimento combinado de queda da xícara com o movimento horizontal do avião? Ou isto não faz a menor diferença? E se, por acaso, esta xícara caísse dentro da estação espacial orbital, deveríamos calcular o seu movimento em relação à estação ou em relação à Terra? Ou talvez em relação ao Sol, ao redor do qual a Terra se move a uma velocidade muito maior (29,8 km/s)? Ou mesmo em relação à nossa galáxia, a Via Láctea? Cada uma destas escolhas representa um ponto de referência. O ponto de referência ideal na Astrofísica é aquele formado pelas estrelas mais distantes, as chamadas “estrelas fixas”. Em nosso cotidiano, porém, ele raramente é o mais conveniente. Para uma pessoa que está dentro de um 38 Cinemática em uma dimensão meio de transporte, é muito mais fácil descrever o movimento de um objeto em relação ao seu ambiente que em relação às galáxias distantes. Uma vez esclarecido o conceito de sistema de referência, podemos ver agora a sua formulação matemática para os problemas de cinemática em uma dimensão. Em uma dimensão, esse problema resume-se em definir um ponto inicial. Imagine, por exemplo, que você se encontra em uma esquina de uma quadra comum. No meio desta quadra, existe uma papelaria e, na outra esquina, existe uma padaria. Tanto a papelaria quanto a padaria podem servir como ponto de referência da sua localização. Se esta quadra tem 100 metros de comprimento, você se encontra a aproximadamente 50 metros da papelaria e a 100 metros da padaria. Se você começa a caminhar em direção a estes dois estabelecimentos, a sua distância em relação a eles diminui com o tempo, não é verdade? Depois de alguns minutos você pode dizer que se encontra a 10 metros da papelaria e a 60 metros da padaria, ou seja, você caminhou 40 metros. Após mais alguns minutos, no entanto, você se encontra novamente a uma distância de 10 metros da papelaria, mas sua distância até a padaria diminuiu para apenas 40 metros. Isto indica que você passou em frente à papelaria e se afastou novamente. Determinar a distância entre dois pontos não é suficiente para que saibamos onde você se encontra. Na figura abaixo, ilustramos um sistema adequado de coordenadas para um sistema de referência. Podemos dizer que o ponto zero corresponde à localização da papelaria e, a partir daí, determinar a todo instante onde uma pessoa se encontra. No início, por exemplo, você se encontrava à esquerda do ponto de referência, a uma distância de 50 metros. Sua posição, então, era dada por . No segundo instante, você ainda se encontrava à esquerda do ponto de referência, mas sua distância era de apenas 10 metros. Sua posição seria então dada por . E, na sua última posição, depois de passar em frente à papelaria e andar mais 10 metros chegaria ao ponto . Pronto, você aprendeu o que é um sistema de referência. Aula 2 39 Física Básica Nosso próximo passo é definir como podemos mudar de um sistema de referência para outro. Poderíamos, por exemplo, definir que o nosso ponto de referência é a padaria, e não a papelaria. Para facilitar a visualização do problema, considere a tabela abaixo. Apesar de não termos dito qual o tempo exato, estabelecemos três momentos distintos correspondendo ao início, à primeira parada antes de chegar à papelaria e ao último momento depois de passar a papelaria. Para cada um destes momentos, sabemos qual é a posição x, ou seja, a sua localização em relação à papelaria. E se escolhêssemos a padaria como ponto de referência? Como ficaríamos? Veja a tabela abaixo: Agora temos uma situação em que todas as posições são negativas e recebem o nome de x’. Usamos x’ para não confundir com x, mas poderíamos ter usado qualquer símbolo que quiséssemos, pois é apenas uma variável. Podemos dizer, com segurança, onde estamos, a cada momento, dando o valor de x ou de x’. Qualquer dos dois valores serve para identificar a posição da pessoa em dado momento. Na figura abaixo, temos os dois referenciais juntos. 40 Cinemática em uma dimensão E, por inspeção, podemos determinar qual é a relação matemática entre x e x’: ou . Você achou muito fácil? Então vamos fazer uma atividade. Aula 2 ATIVIDADES I. A figura acima mostra a distribuição de vértebras na coluna dos seres humanos. Podemos ver no topo da coluna o símbolo C1, que corresponde à primeira vértebra cervical. As letras T, L e S, por sua vez, significam torácica, lombar e sacral. Se estabelecermos que cada vértebra se mantém a uma distância fixa de 2.5 cm de distância de sua vizinha imediata, estabeleça três sistemas de referência distintos que sejam alternativos a este. COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES I. Podemos escolher qualquer vértebra para fixar como ponto de referência. Escolheremos a primeira vértebra lombar como sendo o nosso zero. Sendo assim, assumindo um eixo positivo para cima, podemos construir a seguinte tabela: 41 Física Básica VELOCIDADE MÉDIA Você já tem uma percepção intuitiva sobre o que é o movimento: é a mudança da localização de um dado objeto em certo intervalo de tempo. E o aspecto mais óbvio deste movimento é quão rapidamente ele está acontecendo – a sua velocidade. O termo velocidade, no entanto, pode ser um pouco enganoso e, por isso, iremos tratá-lo com o devido respeito. Imagine, por exemplo, que você sai da sua casa para um passeio a pé. Caminha três quilômetros até a praia, caminha dois quilômetros pela areia, dá meia volta e se dirige a sua casa. A distância total percorrida por você foi de dez quilômetros. Se você gastou exatamente uma hora para fazer este trajeto, a sua velocidade média é simplesmente calculada através da seguinte equação: ou seja, a sua velocidade média foi de dez quilômetros por hora. Esta é a definição padrão da velocidade – que poderia também ser chamada de “rapidez”. Ela é sempre positiva e não depende de um ponto de referência. Em física, no entanto, a velocidade média pode ser determinada de outra maneira. Nesta definição, a distância percorrida é substituída pela diferença entre o ponto inicial e o ponto final em relação a um sistema de referência: Esta “pequena” diferença faz “toda” a diferença. Se o movimento é sempre na mesma direção, então as duas definições de velocidade média dão o mesmo valor. Mas, o exemplo que demos acima já mostra que isto nem sempre é o caso. Se você saiu de sua casa e voltou depois de uma hora, seu ponto inicial é igual ao seu ponto final e, portanto a sua velocidade média é zero! Como veremos nas próximas aulas, esta diferenciação será muito importante quando trabalharmos com vetores. 42 Cinemática em uma dimensão Para discutir o movimento unidimensional de um objeto em geral, suponha que, em certo momento t1 (que pode muito bem ser às16 horas de amanhã, é apenas um tempo qualquer), o objeto esteja em certa posição x1 (que pode ser simplesmente 10 metros afastado da padaria que vimos anteriormente), e que, em um momento t2 o objeto esteja na posição x2. O tempo gasto é certamente t2-t1 e o deslocamento que o objeto teve durante este tempo foi x2-x1. A velocidade média então fica agora definitivamente definida para nossos estudos: Aula 2 onde v corresponde à velocidade, e a barra sobre ela é o símbolo padrão para designar um valor médio. Para o caso habitual do eixo x para a direita, note que se x2 é menor que x1, ou seja, o objeto está se movendo para a esquerda e, por isso, ∆x é menor que zero. O sinal do deslocamento e, portanto, o da velocidade, indica a direção: a velocidade média é positiva quando um objeto se move para a direita ao longo do eixo x, e negativa quando se move para a esquerda. ATIVIDADES I. A posição de um corredor em função do tempo é colocada na figura abaixo: I. Em um intervalo de 4 segundos, o corredor se desloca da posição distante 90 metros do centro de referência para a posição distante cinqüenta metros do centro de referência. Qual é a velocidade média? II. Se você está em uma cidade localizada a 150 quilômetros da sua e precisa chegar a casa, de qualquer jeito, em 90 minutos, responda: respeitando os limites de velocidade mais comuns, será possível chegar a tempo? 43 Física Básica COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES I. Para a resolução deste problema só precisamos utilizar a equação da velocidade média. Claramente temos que o ponto x1 é 90 m e o ponto x2 é 50 m. Portanto, . O tempo decorrido foi fornecido no lugar do tempo inicial e do tempo final, temos então que simplesmente: Encontramos então, finalmente que . II. Neste segundo caso, precisaremos fazer algumas suposições. A primeira delas é a de que teremos uma velocidade constante durante todo o trajeto, e a segunda, de que o limite de velocidade em todo o trajeto é de 80 quilômetros por hora. Se o nosso limite de velocidade, que aqui será igual à velocidade média, é de 80 km/h, e a distância a ser percorrida é de 150 km, podemos obter o tempo mínimo gasto usando a equação da velocidade: Para podermos agora comparar este tempo com aquele que nos foi imposto, precisamos mudar as unidades de um deles. O que parece mais fácil é perceber que 90 minutos corresponde a 1,5 horas. Concluímos, então, que, sem levar uma multa, será impossível chegar a tempo. (Fonte: http://www.ciclobr.com.br) CONCLUSÃO O conceito de velocidade média foi introduzido de uma maneira um pouco mais sofisticada que aquela definida no ensino médio. Através de exemplos e exercícios ficou evidente a simplicidade do conceito e a facilidade de sua aplicação para o caso unidimensional. Sua conjugação com o conceito de sistemas de referência será fundamental no estudo posterior de vetores. 44 Cinemática em uma dimensão RESUMO Nesta aula, aprofundamos um conceito fundamental que é a incerteza associada a qualquer medida. No campo das incertezas, discutimos os conceitos de erro que podem ser aleatórios ou sistemáticos. Verificamos como podemos realizar uma série de medidas idênticas, uma vez que os resultados não são sempre iguais, mas se distribuem em torno de um valor médio. Desta distribuição foram extraídos parâmetros estatísticos tais como a média e o desvio padrão, sendo que este último fornece uma indicação dos limites de confiabilidade dos resultados experimentais. Revisitamos o conceito de velocidade média e verificamos que a posição de um objeto pode ser descrita utilizando qualquer ponto e sistema de referência. No campo dos Sistemas de Referência, por sua vez, verificou-se a possibilidade de transferência de informação desde um ponto de referência para outro através de uma simples transformação de coordenadas. Aula 2 PRÓXIMA AULA Na próxima aula, continuaremos a estudar a cinemática em uma dimensão. O conceito de velocidade instantânea aparecerá naturalmente da definição de derivada. Faremos uma breve introdução ao cálculo diferencial para permitir a utilização de uma ferramenta matemática muito útil: a derivada. Os conceitos de velocidade e aceleração variáveis serão explorados, assim como a descrição gráfica dos movimentos unidimensionais. REFERÊNCIAS DOUGLAS C. Giancoli. Physics for Scientists and Engineers. 3ed. New Jersey: Editora Prentice Hall, 2000. HUGH D. Young e Roger A. Freedman. Física I – Mecânica.10ed. São Paulo: Editora Addison Wesley, 2003. Tradução de Adir Moysés Luiz. FREDERICK J. Keller, W. Edward Gettys e Malcolm J. Skove. Física. São Paulo: Editora Makron Books, 1997. Vol.1. Tradução de Alfredo Alves de Farias. ROBERT RESNICK, David Halliday e Kenneth S. Krane. Física 1. 5ed. Rio de Janeiro: LTC Editora, 2003. Tradução de Pedro M. C. L. Pacheco, Marcelo A. Savi, Leydervan S. Xavier, Fernando R. Silva. 45 Aula VELOCIDADE INSTANTÂNEA 3 META Expandir o estudo de cinemática para o caso onde existe aceleração e orientar sobre a utilização de gráficos para estudar os movimentos. OBJETIVOS Ao final desta aula o aluno deverá: determinar a diferença entre velocidade média e velocidade instantânea; calcular a velocidade instantânea de objetos acelerados; construir gráficos que mostram a evolução temporal da posição e da velocidade de objetos que estão acelerados. PRÉ-REQUISITOS Conceituação de Sistemas de Referência, conceitos básicos de cinemática e álgebra básica. (Fonte: http://www.moderna.com.br) (Fonte: http://goluck.files.wordpress.com) Física Básica INTRODUÇÃO Bem vindo à primeira aula de nosso segundo módulo. À medida que vamos entendendo os conceitos da física, vamos também aumentando, gradativamente, o uso de ferramentas matemáticas. Nesta aula, estudaremos os movimentos em uma dimensão que não têm velocidade constante. Estes são os movimentos que realmente observamos no dia-a-dia. Todos os corpos, geralmente, estão sofrendo algum tipo de aceleração. Quando chegarmos ao estudo das leis de Newton, teremos um entendimento maior sobre as causas, mas hoje observaremos os efeitos de uma aceleração sobre o movimento dos corpos. Para que possamos apreciar toda a beleza da teoria, faremos uma pequena introdução ao uso da derivada. Veremos que a derivada é um conceito simples e que, na maioria dos casos, é muito fácil de utilizar. Ao final desta aula, veremos que a utilização de gráficos é de grande valia para que possamos visualizar a trajetória de um corpo e, de maneira bastante natural, apreciar o conceito geométrico da derivada. Nesta aula, ainda, expandiremos o estudo da cinemática para os corpos acelerados. Não serão discutidos os causadores de tais acelerações, mas apenas como tais acelerações podem alterar o movimento dos corpos. Manteremos também a utilização de corpos idealmente sem massa e sem volume: “pontos materiais”. Divirta-se! (Fonte: http://www.oesteinforma.com.br) 48 Cinemática em uma dimensão O estudo do movimento engloba a aplicação das equações de movimento em diversas situações, assim como o seu estudo mais detalhado se faz através do uso de gráficos que descrevem a posição, velocidade e aceleração em função do tempo. O conceito de velocidade instantânea, em contraposição à velocidade média, por sua vez, vai requerer uma introdução ao cálculo diferencial, apesar de não fazermos aqui um estudo sistemático e elaborado sobre esse assunto como seria de se esperar em um curso de cálculo I. É necessário, porém, que façamos uma explanação breve para que lhe desperte uma visão intuitiva sobre o que é uma diferencial e para que você compreenda algumas técnicas básicas de diferenciação em uma dimensão. Além disso, é importante fazer a correlação entre a interpretação da diferencial como uma função e a sua representação em um gráfico e relacionar a derivada de uma função em um ponto com a tangente que passa por uma curva naquele ponto. A aplicação desta relação em diversos pontos de uma curva de velocidade em função do tempo possibilitará a você perceber que, de fato, a derivada da velocidade em cada ponto corresponde à aceleração naquele ponto, da mesma maneira que, em um gráfico de posição em relação ao tempo, a derivada, em um ponto, corresponde à velocidade naquele ponto e pode ser visualizada como sendo a tangente naquele ponto. Aula 2 VELOCIDADE INSTANTÂNEA Em nossa aula passada, estudamos o conceito de velocidade média e vimos que a velocidade média é a distância percorrida, dividida pelo tempo gasto para percorrer esta distância. Se viajarmos de uma cidade para outra, distantes 80 quilômetros, e gastarmos uma hora, teremos uma velocidade média de 80 km/h. Agora, vamos atravessar uma cidade do início ao fim. A distância percorrida é de 30 quilômetros e gastamos uma hora para percorrê-la. Você vê algum sentido na velocidade média? Não! Passamos por grandes avenidas onde o limite de velocidade é de 80 km/h. Tivemos que parar em diversos semáforos e em cruzamentos perigosos. Para que pudéssemos fazer isso, tivemos que usar os freios e o acelerador do carro, ou seja, mudamos a nossa velocidade a cada instante. Assim, da mesma maneira que poderíamos dizer, com precisão, qual a nossa posição (instantânea) em um dado momento, gostaríamos agora de poder dizer qual era a nossa velocidade instantânea neste mesmo momento. Se você pensou em olhar no velocímetro do carro, acertou. Sim, é exatamente isto que nos informa o velocímetro: qual a velocidade instantânea. E aquele ponteirinho está sempre se mexendo, não é mesmo? E 49 Física Básica agora, como faremos para calcular esta velocidade? É fácil. Em primeiro lugar, usaremos a expressão matemática que relaciona a velocidade média, o deslocamento e o tempo: Por que esta equação não pode ser usada para a velocidade instantânea? A razão é muito simples: verifique a figura abaixo: Figura 1 Esta figura mostra uma linha de trem, onde a diferença entre dois dormentes é sempre de um metro, mas que o tempo que o limpa-trilhos (aquela parte pontuda na frente do trem) leva para atravessar esta distância varia! No trecho 1, leva 10 segundos; no trecho 2, leva vinte segundos; e, no 3, ele leva quarenta segundos. Podemos calcular aqui a velocidade média: Podemos também determinar a velocidade média em cada trecho: Em três trechos distintos, portanto, obtivemos três velocidades diferentes porque o tempo gasto para percorrer o trecho mudou. Outra maneira de visualizar isto seria manter os tempos iguais e variar a distância percorrida! Temos três trechos que serão percorridos no espaço de 10 segundos, mas com as velocidades que acabamos de calcular. O comprimento de cada um destes trechos é obtido facilmente ao modificarmos a equação da velocidade média: 50 Velocidade instantânea Obtemos, assim, os seguintes deslocamentos: Aula 3 Quando utilizamos intervalos de tempo iguais, a velocidade determina qual a distância percorrida. A distância total percorrida seria então 1,75 metros, que, dividida por 30 segundos, dá uma velocidade média de 0.058m/s. Mas, estes valores não se correspondem! Parece haver algo errado; e, de fato, há. Nós criamos uma divisão arbitrária entre três momentos quando o trem passava pelos trechos 1, 2 e 3! Não levamos em consideração que, para passar do trecho 1 para o trecho 2, houve uma diminuição da velocidade que não foi instantânea! A velocidade diminuiu desde um valor inicial até um valor final de maneira gradual. Dividir, então, o movimento em três trechos não foi suficiente para que pudéssemos obter o valor da velocidade instantânea em cada um dos pontos. Precisaríamos dividi-lo em muitos mais trechos! Com o aumento do número de trechos, porém, diminui o espaço de tempo que o trem gasta para percorrê-lo. Assim, podemos, formalmente, definir a velocidade instantânea: Esta equação informa-nos que a velocidade instantânea de um objeto é dada pela divisão da distância percorrida (∆x) dividida pelo tempo gasto para percorrê-la (∆t), quando este intervalo de tempo é muitíssimo pequeno, na verdade quase igual a zero. Em linguagem matemática, dizemos: “no limite de ∆t tendendo a zero”. Neste limite, o denominador chega perigosamente perto do zero, mas o numerador também, e o quociente ainda existe! Esta é a definição da derivada! onde lemos que “a velocidade instantânea é dada pela derivada da posição em relação ao tempo”, ou que “a velocidade instantânea é dada pela taxa de variação da distância em relação ao tempo”. São inúmeras as maneiras de descrever esta definição. Para isso, vamos iniciar o nosso estudo de gráficos. O primeiro gráfico é o da posição em função do tempo. Utilizaremos os dados do exemplo trabalhado acima: uma partícula sai de um ponto 1 e depois de 10 segundos chega a um ponto 2 que dista 1 metro do ponto 1. Após mais 10 segundos, chega a 51 Física Básica um ponto 3 que dista 0,5 metros do ponto 2. Finalmente, após mais 10 segundos, chega ao ponto 4 que dista 0.25 metros do ponto 3. A figura abaixo ilustra a situação. O tempo gasto para ir de 1 a 2 é o mesmo que o tempo gasto para percorrer qualquer um dos outros trechos. Figura 2 Para podermos fazer um gráfico agora da posição em relação ao tempo, teremos que estabelecer um ponto de referência. Vamos começar dizendo que o nosso sistema de referência e de coordenadas está colocado sobre o ponto 1. Nesse caso, podemos fazer uma tabela que mostra a posição x do objeto a cada instante em relação à origem: A partir desta tabela, podemos obter o seguinte gráfico: Figura 3 52 Velocidade instantânea Vejamos agora como faremos para obter as velocidades médias nos trechos 1, 2 e 3, conforme a figura da linha de trem. Podemos ver, inicialmente, que o trecho 1 é aquele que parte do ponto 1 e vai até o ponto 2, ou seja, sai da origem e vai até uma distância de um metro em dez segundos. A velocidade média pode então ser calculada: Aula 3 Esses resultados já eram previsíveis, mas o ponto interessante pode ser visto na figura abaixo, onde a última figura está ligeiramente alterada: Figura 4 Nós podemos ver agora as três regiões distintas I, II e III. Cada uma destas três regiões tem uma velocidade média constante. Quando passamos entre as regiões nos pontos 2 e 3, a velocidade muda. Como podemos então interpretar as retas a e b? Por inspeção da figura, notamos que as retas que unem os pontos 1 e 2, 2 e 3, 3 e 4 e as retas a e b correspondem à tangente da curva em cada um dos pontos! Isto significa que a tangente que obtemos em um gráfico corresponde à derivada da variável em y em relação à variável em x. 53 Física Básica Em cada ponto da curva que vai de 1 até 4, se tomarmos a tangente à curva naquele ponto, obteremos a derivada da distância em relação ao tempo, ou seja, a velocidade instantânea! Note que, entre os pontos 1 e 2, qualquer ponto que seja escolhido terá a mesma tangente, o que significa que terá a mesma velocidade instantânea, ou seja, em todos estes pontos, a velocidade instantânea será igual à velocidade média. Quando passarmos de uma região para outra, a tangente será diferente e, portanto, a velocidade instantânea será diferente. Vejamos um exemplo para esclarecer um pouco mais estes conceitos. Considere a figura abaixo: Figura 5 Nós temos agora um movimento sensivelmente mais realista: um objeto sai de um ponto A que corresponde à origem do sistema de coordenadas e anda para a esquerda (ou seja, para valores negativos de x). Depois de um segundo, chega ao ponto B e inverte a direção de movimento. Passa novamente pela origem e percorre na direção dos pontos C e D. Podemos extrair diversas informações a respeito desse movimento. A primeira delas é que, em nenhum lugar, o gráfico corresponde a uma reta. Isto significa que, em nenhum lugar, a velocidade média é igual à velocidade instantânea. Considere, por exemplo, o trecho entre A e B. O corpo vai da posição x=0 m até a posição x=-2m em apenas 1 segundo. Podemos calcular a sua velocidade média facilmente: 54 Velocidade instantânea Mas, esta velocidade corresponde à velocidade instantânea? A resposta é não! Essa igualdade só ocorre em um único ponto da trajetória que corresponde ao tempo de 0,5 segundos! Neste ponto, uma reta tangente à curva tem a exata inclinação da reta que une os pontos A e B. Em todos os outros pontos, a inclinação é diferente. Vamos ver o que acontece exatamente no ponto B. Se traçarmos uma tangente à curva no ponto B, ela será parecida com a seguinte: Aula 3 Figura 6 A reta corresponde à tangente no ponto B. Mas, qual o valor desta tangente? Ou ainda, qual é a variação ∆x? É zero! A tangente também é zero, e então a velocidade instantânea (apenas em B) é zero. O que isto quer dizer? Isto significa simplesmente que o corpo parou. Notamos que precisava mesmo ter parado, uma vez que estava indo para uma direção e neste ponto inverteu a direção de movimento! Agora que já compreendemos como interpretar um gráfico, verificaremos como equacionar um movimento. A equação que descreve a velocidade média é a divisão da distância percorrida pelo tempo gasto. A velocidade instantânea é dada pela derivada da posição em relação ao tempo. Como nós podemos, agora, trabalhar matematicamente? É muito fácil. Inicialmente, notemos que a posição de um corpo em relação a um sistema de referência é dada pela sua distância até este ponto em função do tempo: Isto nos diz que a posição depende do tempo. Observemos novamente a figura 4: a região I está limitada por uma reta. Isto significa que a velocidade média é a mesma em todos os pontos desta região. Sendo assim, há uma maneira simples de se determinar a posição do corpo em relação ao tempo: 55 Física Básica Mas, como a velocidade é constante, podemos escolher um ponto qualquer x (t) que corresponde ao tempo t. A figura 7 ilustra o caso: Figura 7 A cada t, teremos um x(t). Levando isso em consideração, voltamos à equação da velocidade média (lembrando que x1 =0 e t1 = 0): Finalmente, rearranjando esta equação obtemos a função horária do movimento nesta região: Como o expoente de t é 1, dizemos que a distância varia linearmente com o tempo. Isto somente ocorre quando temos uma reta. Quando há uma curva, podemos ter quaisquer expoentes e mesmo algumas funções matemáticas. O importante a ressaltar é que, geralmente, partimos de uma função horária e, a partir dela, obtemos informações sobre o movimento. Antes de continuar com nosso estudo, vamos dar uma “parada” a fim de verificar como resolveremos alguns probleminhas... 56 Velocidade instantânea ATIVIDADES Aula 3 I. A posição de um automóvel foi observada em vários momentos cujos resultados estão colocados na tabela abaixo. Encontre a velocidade do carro para (a) o primeiro segundo; (b) os últimos três segundos e (c) todo o período de observação. II. O gráfico abaixo mostra o movimento de um carro preso em um congestionamento. Sua velocidade muda o tempo todo. (a) Se a sua única informação fosse a distância percorrida durante o tempo disponível, qual seria a velocidade média que você obteria? (b) Conhecendo o gráfico, qual foi a velocidade mais alta alcançada pelo carro? 57 Física Básica COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES I. Para resolvermos a parte (a) deste problema, precisaremos apenas verificar, na tabela, que, durante o primeiro segundo, o carro percorreu 2.3 metros. A sua velocidade, portanto, foi de . Para a parte (b), notamos que, nos últimos três segundos, o carro percorreu uma distância total de (57.5-20.7) 20.7 metros, o que leva a uma velocidade média de . Para o último item, (c), tudo que temos a fazer é dividir a distância total pelo tempo total: . Como podemos observar, a velocidade média em todo o percurso é sensivelmente diferente da velocidade média no primeiro trecho e no último terço do trajeto. Note que, na realidade, em nenhum dos casos, medimos a velocidade instantânea, apenas a velocidade média em intervalos bem definidos de tempo. Calcularemos a velocidade instantânea nas próximas páginas. II. A primeira pergunta deste exercício pode ser facilmente respondida quando percebemos que a distância total percorrida foi de 90 metros em 14 segundos, ou seja, uma velocidade média de 6.4 metros por segundo. A segunda, no entanto, nos leva a uma pequena reflexão: cada um dos trechos de a até h está simbolizado por uma reta; a velocidade em cada um dos pontos desta reta é a mesma? A resposta é sim. Em cada um dos pontos da reta a, por exemplo, uma tangente a este ponto será paralelo à própria reta a. Então, a velocidade instantânea está definida em todos os pontos de todas retas e corresponde ao coeficiente angular da mesma, ou seja, Dx/Dt! Para escolher então qual das retas corresponde à maior velocidade só precisamos inspecionar e verificar aquela que tem o maior coeficiente angular, ou seja, qual é a mais inclinada! A inspeção então nos indica que a mais inclinada é a reta h, e seu coeficiente angular pode ser obtido, dividindo a sua altura pela sua base: altura = (90-60) = 30 metros; base = (14-12.5) = 1.5 segundos. Obtemos, assim, a nossa velocidade máxima: . Preste bastante atenção agora à diferença entre estes dois problemas: no primeiro, você dispunha apenas de uma tabela com os valores de distância e tempo. Por isso, podia calcular a velocidade média em alguns trechos, não tinha qualquer informação sobre a velocidade instantânea. No segundo problema, é diferente: ao invés de uns poucos pontos, o que temos é um gráfico com infinitos pontos. Como ele é formado de segmentos de retas, podemos concluir que, nestes segmentos de reta, a velocidade média é igual à velocidade instantânea, só ocorrendo mudança nestes valores quando passamos de um trecho para outro. 58 Velocidade instantânea ACELERAÇÃO Nos parágrafos anteriores, vimos que o conceito de velocidade instantânea é diferente da velocidade média. Vimos também alguns gráficos que mostravam trechos percorridos com velocidades diferentes. Particularmente, discutimos o caso daquele pobre coitado que está preso em um grande congestionamento. Vamos prestar um pouco mais de atenção a este problema. Vamos imaginar uma grande auto-estrada que tem um trecho de cerca de 10 km em linha reta e com limite de velocidade de 120 km/h. Imaginemos também que este trecho da estrada está localizado nas imediações de uma grande metrópole. Qual vai ser a diferença entre a velocidade média e a velocidade instantânea em cada ponto de um motorista transitando por esta estrada? Depende. Sim, depende. Depende do horário. Se este motorista está chegando à cidade às três horas da manhã encontrará uma estrada vazia e poderá manter uma velocidade constante de 120 km/h por todo o trajeto, fazendo com que a velocidade média seja igual à velocidade instantânea em cada ponto do trajeto. Imagine agora que este infeliz cidadão resolva chegar às 7.30 da manhã. A estrada estará totalmente congestionada e o motorista ficará preso naquele anda-pára-anda-pára sem fim. A cada ponto do trajeto, a velocidade instantânea será muito diferente da velocidade média. Para que isto ocorra, o motorista deverá utilizar algum mecanismo que lhe permita alterar a velocidade do automóvel: o freio ou o acelerador! Em qualquer um dos casos, ele deverá aplicar uma força que resultará em uma aceleração do automóvel, seja ela para aumentar ou para diminuir a velocidade. A aceleração, portanto, está intimamente ligada à variação da velocidade, que, por sua vez, é medida em relação ao tempo. Uma grande variação de velocidade em um curto espaço de tempo é obtida com uma grande aceleração e uma pequena variação de velocidade em um grande espaço de tempo corresponde a uma pequena aceleração. Voltamos, assim, ao ponto que discutimos anteriormente nesta aula: assim como a velocidade instantânea está relacionada à taxa de variação da posição em relação ao tempo, a aceleração de um corpo está relacionada à taxa de variação da velocidade em relação ao tempo. Assim como no caso da velocidade, podemos trabalhar com dois tipos de aceleração: média e instantânea: Aula 3 59 Física Básica Antes de podermos apreciar as implicações desta relação, será necessário fazer uma pausa para introduzir algumas noções elementares de como se calcula a derivada de uma função. Um estudo formal de Cálculo apenas é indicado para aqueles estudantes que dele precisarão em cursos mais adiantados de física. Para o propósito deste nosso curso de física básica, apenas algumas regras gerais, acompanhadas de alguns exemplos serão suficientes para a compreensão de toda a física do curso. Sendo assim, vamos iniciar definindo uma função f(x). O que é uma função? Uma função é apenas uma informação sobre como um objeto se relaciona com outro. Imagine que temos uma variável independente, como por exemplo, o tempo. O tempo passa independentemente de nossa vontade. O nosso dia é dividido em uma infindável série de tarefas, mas todas elas dependem, de uma maneira ou de outra, do tempo. Temos horário para acordar, almoçar, sair do trabalho, etc. Por isto dizemos que vivemos em função do tempo. Nosso dia é uma função do tempo. Nós podemos dizer então o seguinte: Esta equação simplesmente nos diz que nosso dia depende do tempo, mas não nos dá qualquer informação sobre como nós dividimos o nosso tempo. Outro exemplo pode ser extraído de nossa discussão anterior. A posição do trem também depende do tempo! Se ele parte da origem (ou seja, colocamos nosso sistema de coordenadas no ponto inicial da trajetória) e disparamos um cronômetro para acompanhar o seu movimento em relação ao tempo, então podemos dizer: Novamente, esta equação nos diz que a posição do trem depende do tempo, mas não nos diz como é essa dependência. Neste caso, no entanto, nós sabemos como a posição do trem varia com o tempo, porque nós sabemos a velocidade! Podemos escrever então, como já vimos anteriormente: Agora sim. Esta é uma função completa. Ela nos diz que a posição do trem depende do tempo, e nos diz também como é essa dependência. É este tipo de função que nós iremos agora aprender a derivar. Comecemos com as regras gerais de derivação: 60 Velocidade instantânea Aula 3 Estas regras serão utilizadas em exemplos mais tarde. Precisamos agora das derivadas de algumas funções mais comuns: Agora sim estamos prontos para algum aprofundamento sobre a aceleração dos corpos. Lembremos, inicialmente, que a aceleração tanto pode aumentar a velocidade como pode diminuí-la. Uma aceleração positiva aumenta a velocidade de um corpo (pisa no acelerador); uma aceleração negativa diminui a velocidade de um corpo (pisa no freio). A inspeção da equação que relaciona a velocidade e o tempo com a aceleração (utilizando a análise dimensional que vimos na aula 1-1) nos indica que a sua unidade no SI é m/s2. Para que possamos aprender como utilizar estes conceitos, vamos resolver alguns problemas. 61 Física Básica ATIVIDADES I. Um automóvel parte do repouso sofrendo uma aceleração. Após um segundo, a sua velocidade é de 20.0 m/s e após 2 segundos a sua velocidade é de 60 m/s. Queremos saber: a. A aceleração é constante? b. Um bom carro de passeio acelera de 0 a 100 km/h em cinco segundos. Este automóvel do exercício é real ou fictício? II. Considere o gráfico abaixo: Este gráfico mostra a velocidade de um objeto em função do tempo. Assumindo que ele se move em apenas uma dimensão (eixo x), e que este eixo tem o seu lado positivo para a direita, responda: a. Para qual direção este objeto se move em cada trecho? b. Qual o valor da aceleração em cada trecho? c. Qual o valor da aceleração média durante todo o trajeto? I. O movimento de um corpo é definido por sua função horária que é dada por: onde x é dado em metros e t em segundos. Determine: a. A posição deste corpo quando t é igual a zero e 10 segundos. b. Em que momento ele passa pela origem. c. Qual a velocidade deste corpo quando t é igual a zero e 10 segundos. d.Em que momento este corpo inverte o seu sentido de movimento. e. Qual a aceleração deste corpo quando t é igual a zero e 10 segundos. 62 Velocidade instantânea COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES Aula 3 I. Vamos por partes: a. Como estamos lidando com dois trechos distintos, podemos assumir que a aceleração medida em cada um deles é a aceleração média. Sendo assim: Portanto, a aceleração variou durante o tempo. b. A segunda pergunta é mais complicada, mas nada que não possa ser resolvido. O primeiro problema é que estamos usando unidades diferentes. Para podermos comparar as acelerações, vamos converter a velocidade final do carro de passeio de km/h para m/ s. Precisamos, assim, consultar uma tabela de conversão. Facilmente obteremos a relação: Fazemos uma regra de três então para converter: Levando a: Concluímos, então, que, em cinco segundos, o carro de passeio passou de 0 a 27,78m/s. Comparando agora com o nosso carro que chegou a 60 m/s em apenas dois segundos podemos facilmente concluir que 63 Física Básica o carro é fictício. Apenas por diversão, podemos calcular a velocidade deste carro depois de cinco segundos, assumindo que a aceleração média dele se mantém em 30 m/s2. Usando agora a mesma relação de conversão, conclui-se que a velocidade deste carro após 5 segundos é de aproximadamente 540 km/h. II. Este problema se parece muito com o primeiro, a única diferença está relacionada com a maneira de mostrar os dados; ao invés de uma tabela, temos um gráfico. Passemos, então, à sua solução: a. Independentemente de onde o carro parte, nos trechos A e B, ele tem uma velocidade negativa, o que indica que ele se move para a esquerda. Pelo mesmo raciocínio, concluímos que, nos trechos C e D, ele se move para a direita. Note que entre os trechos B e C ele pára e inverte sua direção de movimento, como deveria ser. b. O cálculo das acelerações em cada um dos trechos pode ser efetuado utilizando a equação da aceleração média: c. O mesmo método utilizado no item anterior pode ser usado aqui: III. A equação horária apresentada descreve a posição do corpo em função do tempo. Se nós a derivamos uma vez, obtemos a equação da velocidade em relação ao tempo. Se voltarmos a derivar, obtemos a equação da aceleração em função do tempo. a. Para o cálculo da posição do corpo nestes instantes, só necessitamos substituir os valores do tempo na equação: 64 Velocidade instantânea Isto indica que no tempo t=0, ou seja, quando o cronômetro foi disparado, o corpo se encontrava a 20 metros de distância da origem. Aula 3 Podemos ver então que, após 10 segundos, o corpo já passou pela origem e se encontra a 500 metros de distância da origem, mas agora para a sua esquerda! b. A resposta a esta indagação aparece ao nos perguntarmos em qual instante t, nós temos x(t)=0: Utilizando a fórmula de Báskara e alguns arredondamentos, obtemos: Como vemos, existem duas respostas, uma positiva e uma negativa. A primeira vista pode parecer estranho, mas não é. A resposta positiva, 3,4 segundos, é facilmente visível: quando o cronômetro foi disparado o objeto se encontrava à direita da origem, a uma distância de 20 m. Depois de 3,4 segundos, ele passou pela origem e se enveredou no lado esquerdo do eixo x. Mas, e no caso negativo? O tempo negativo simplesmente nos informa que o movimento do objeto já existia antes de o cronômetro ser disparado! E este objeto passou pela origem 0,9 segundos antes de que o cronômetro começasse a marcar o tempo. Todos estes dados ficarão mais claros se olharmos um gráfico que mostra a posição do corpo em função do tempo. 65 Física Básica Neste gráfico fica claro que o corpo está quase sempre no lado negativo do eixo x! Ele vem se aproximando pela esquerda, passa pela origem quando t = -0.9s, chega a uma distância de 20 metros da origem quando é disparado o cronômetro, continua indo para a direita, pára e volta, passando novamente pela origem quando t = 3,4 s. a. Para determinar as velocidades deste corpo em alguns instantes, ou seja, suas velocidades instantâneas, precisaremos determinar a derivada de x(t): Para obtermos então o valor destas velocidades, basta substituir os valores: Encontramos-nos novamente com valores positivos e negativos da velocidade. No primeiro caso, lembramos que o corpo se encontra a uma distância de 20 metros da origem, e no lado positivo do eixo x. Como o valor da velocidade é positivo, concluímos que ele continua se movendo para a direita. Quando se passaram 10 segundos, no entanto, o corpo se encontra a -500 metros e com velocidade de -22 m/s! ou seja, se afastando da origem (como podíamos ver no gráfico). b. Esta pergunta se parece muito com aquela encontrada no item b. Para sabermos quando o corpo inverte o sentido de movimento só precisamos saber quando ele pára! Pois não é possível deixar de ir para frente e começar a ir para trás sem uma parada. Parar significa ter velocidade zero: Concluímos, então, que o corpo inverte o sentido de movimento quando t = 4,5 s. Novamente achamos adequado mostrar um gráfico da velocidade em função do tempo. 66 Velocidade instantânea Aula 3 Este gráfico mostra que a velocidade era positiva até 4,5 segundos após o disparo do cronômetro, quando ela se tornou zero e passou a ser negativa. Notemos também que a velocidade está continuamente mudando. Isto só pode significar que o corpo está sofrendo uma aceleração. Podemos calculá-la se utilizarmos a definição de aceleração média: a. Finalmente, apenas para confirmar o que vimos no item anterior, a aceleração pode ser obtida pela derivada da velocidade em relação ao tempo: 67 Física Básica CONCLUSÃO A utilização do cálculo diferencial nos permitiu apreciar a beleza da descrição dada pela cinemática ao movimento dos corpos. As equações horárias assumiram uma nova face onde uma deriva da outra naturalmente. Equações horárias que não são lineares no tempo foram discutidas sem levar em consideração o que causava o movimento, e, apesar disto, foram suficientes para se descrever o mesmo movimento com riqueza de detalhes.A diferença entre a velocidade média e a velocidade instantânea foi bem estabelecida, assim como os casos onde uma é igual à outra. A partir desta percepção, foi possível observar que, para que a velocidade instantânea seja diferente da média, é necessário que algum novo fenômeno tenha influência neste movimento. Isto é o assunto da próxima aula: a aceleração. RESUMO O estudo do movimento de um objeto real nos mostra que o conceito de velocidade média não é o mais adequado para descrevê-lo. Um carro que passa por uma avenida de grande movimento durante o dia e durante a noite terá velocidades médias bastante diferentes. Esta diferença pode ser vista naturalmente pela presença de outros carros durante o dia. Por esta razão a velocidade instantânea do carro é muito parecida com a velocidade média durante a noite, mas muito diferente durante o dia. Para descrever a velocidade instantânea utilizamos um novo conceito onde os intervalos de tempo e espaço se tornam infinitesimais. Quando isto acontece, utilizamos o cálculo diferencial. O cálculo diferencial é uma ferramenta matemática utilizada por todas as ciências para descrever a taxa de variação de uma grandeza em relação à outra. Aqui ela é utilizada para calcular a taxa de variação do espaço em relação ao tempo para definir a velocidade em cada ponto da trajetória. Por não ser parte deste curso, não é feito nenhum estudo sistemático e rigoroso de cálculo diferencial, apenas apresentamos a sua mecânica de uso, ou seja, as suas regras básicas. A aplicação do mesmo conceito para a derivação da velocidade nos induz a pensar qual o significado de tal derivada. O conceito de aceleração fica implícito, sendo guardada a sua apresentação formal para a próxima aula. O movimento dos corpos e sua velocidade em função do tempo podem ser descritos através de gráficos, onde a relação de tangente com derivada foi explorada. 68 Velocidade instantânea PRÓXIMA AULA Na próxima aula será apresentado o conceito de aceleração, com ênfase na aceleração da gravidade. O movimento dos corpos quando acelerados será estudado em detalhe, com uma maior ênfase no movimento de queda livre. Aula 3 REFERÊNCIAS DOUGLAS C. Giancoli. Physics for Scientists and Engineers. 3ed. New Jersey: Editora Prentice Hall, 2000. HUGH D. Young e Roger A. Freedman. Física I – Mecânica.10ed. São Paulo: Editora Addison Wesley, 2003. Tradução de Adir Moysés Luiz. FREDERICK J. Keller, W. Edward Gettys e Malcolm J. Skove. Física. São Paulo: Editora Makron Books, 1997. Vol.1. Tradução de Alfredo Alves de Farias. ROBERT RESNICK, David Halliday e Kenneth S. Krane. Física 1. 5ed. Rio de Janeiro: LTC Editora, 2003. Tradução de Pedro M. C. L. Pacheco, Marcelo A. Savi, Leydervan S. Xavier, Fernando R. Silva. 69 Aula QUEDA LIVRE 4 META Aprofundar o estudo de corpos sujeitos à aceleração no caso específico da queda livre. OBJETIVOS Ao final desta aula o aluno deverá: discernir entre objetos que sobem e que descem; verificar quando a gravidade aumenta a velocidade e quando ela diminui a velocidade de um objeto; equacionar o movimento de queda livre sob ação da gravidade; e resolver problemas simples de movimento uniformemente variado. PRÉ-REQUISITOS Conhecimentos sobre cálculo diferencial básico, cinemática básica e sobre sistemas de referência. (Fonte: http://upload.wikimedia.org) Física Básica INTRODUÇÃO Bem-vindos à nossa quarta aula! O tempo parece que voa, não é mesmo? Mas não voa. Algumas outras coisas, no entanto, voam: aviões, pássaros e o super-homem… Entre os exemplos existentes e não existentes que citamos, existe uma coisa em comum: a habilidade de vencer a atração que a Terra exerce sobre nós e nos mantém bem firmes sobre o chão. Nós, humanos, não temos esta habilidade, e se resolvermos pular do galho de uma frondosa árvore, estaremos em grandes apuros. O terrível movimento que experimentaremos é chamado de “queda livre”. Se não nos preocuparmos muito com as conseqüências de tal insanidade podemos até nos divertir com loucuras do tipo: salto de pára-quedas ou “bungee-jumping”. A fotografia abaixo mostra ao que me refiro. Colocando de lado as nossas preocupações com bem estar físico, passemos ao estudo desta classe de movimento chamado queda livre. 72 Queda livre Todos nós sabemos que um objeto, deixado à sua própria sorte, sem um apoio, cairá ao chão. Este comportamento acontece devido à atração que a Terra exerce sobre todos os corpos, comunicando-lhes uma aceleração, chamada de atração gravitacional. Nesta aula, aplicaremos todos os conceitos discutidos até agora a respeito da cinemática para entendermos a queda livre, que, como já dissemos, corresponde ao movimento de um objeto que está sujeito apenas à aceleração da gravidade. Entretanto, este estudo exige que façamos algumas aproximações: · Não consideraremos a resistência do ar; · Todos os movimentos estudados serão realizados com pouca variação de altitude, o que garantirá que a aceleração da gravidade se mantenha constante; · A localização geográfica não será levada em consideração, e o valor da gravidade será aproximado para 9.81 m/s2. Trabalharemos sempre em uma dimensão, utilizando as equações horárias do movimento retilíneo uniformemente acelerado. O conceito de derivada será utilizado brevemente. Um dos pontos mais importantes, nesta aula, relaciona-se não só com a escolha dos pontos de referência – pois a escolha adequada de um ponto de referência, ou seja, a posição de nossa origem pode ajudar ou dificultar a solução de problemas –, como também com a escolha da direção da gravidade – se a altura aumenta na mesma direção, ou ao contrário. Uma pergunta muito importante que podemos nos fazer é a seguinte: todos os corpos são acelerados com a mesma intensidade? Colocado de outra forma: se você, que é magro, e seu primo gordinho caírem de uma árvore, quem chegará primeiramente ao solo? Esta pergunta foi respondida por um grande filósofo grego: Aristóteles. Ele viveu alguns séculos antes de Cristo e concluiu, por observação, que os corpos mais pesados são mais acelerados que os mais leves... e estava errado! O século XVII nos trouxe a correta compreensão de que, na ausência da resistência do ar, todos os objetos sofrem a mesma aceleração, idealizado e provado por Galileu Galilei. Para seus experimentos, Galileu lançou mão de algumas estratégias para contornar a falta de instrumentos de medidas de tempo de alta precisão. O objetivo era comparar o tempo de queda de vários objetos quando lançados de alturas conhecidas. Para aumentar a sua precisão, Galileu necessitava aumentar o tempo de queda e, para isso, usou planos inclinados onde esferas rodavam enquanto o tempo era medido. Devemos aqui ressaltar que o movimento de queda livre não necessariamente é aquele experimentado por um objeto solto em repouso. Um objeto em queda livre corresponde a qualquer objeto que se move livremente sob a ação exclusiva da atração gravitacional. Quaisquer objetos jogados para cima, para baixo ou simplesmente soltos estão em um movi- Aula 4 73 Física Básica mento de queda livre, independentemente de seu movimento inicial. Qualquer objeto lançado em qualquer direção, e que esteja em queda livre, vai sentir apenas a aceleração da gravidade em direção ao solo. A aceleração da gravidade é simbolizada pela letra g. O valor de g varia com a distância entre o objeto e o solo e também varia ligeiramente com a posição no planeta, mas geralmente aceitamos um valor fixo de g = 9,8 m/s². As equações de movimento que vimos na aula passada podem ser aqui usadas livremente, levando em consideração dois aspectos: I. Ao invés de usarmos como variável de coordenada usaremos a coordenada . Esta troca é importante para que nos acostumemos com a convenção de que a coordenada x é horizontal e a coordenada y é vertical. II. Todos os problemas com as quais iremos trabalhar utilizarão para a aceleração o valor . O sinal negativo vem da escolha do sistema de coordenadas como mostrado abaixo. Diferentemente do que fizemos nas aulas anteriores, trabalharemos diretamente com as atividades práticas para que possamos compreender melhor este ponto. Antes disso, no entanto, vamos relembrar aquelas equações horárias que nos foram ensinadas no ensino médio. 74 Queda livre ATIVIDADES I. Uma maçã se desprende do galho de uma árvore, sendo a sua altura igual a 20.0 metros. Quanto tempo ela levará para chegar ao chão? II. Resolva o mesmo problema, mas colocando o seu sistema de referência com o zero correspondendo a uma altura de 10 metros em relação ao solo e com o cronômetro sendo disparado quando a maçã passa pela origem. III. Uma bola é lançada para cima com uma velocidade inicial de 15.0 m/s (não se preocupe com o mecanismo de lançamento, estude apenas o movimento da bola depois do lançamento). Qual é a altura máxima alcançada pela bola? Quanto tempo ela leva para voltar à mão de quem arremessou? IV. A altura de um helicóptero em relação ao solo é dada pela equação: y(t) = 3.00t3, onde y é dado em metros e t em segundos. Após dois segundos de trajeto vertical, o helicóptero libera um pacote. Quanto tempo após a liberação, o pacote chegará ao solo? Aula 4 COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES I - Na árvore da esquerda, a nossa maçã sai da origem e viaja em direção ao solo, na posição onde . Em nossa árvore da direita, nossa maçã cai da posição e chega à origem. As duas escolhas de sistemas de referência são absolutamente idênticas. Escolhemos sempre aquela que deixa as contas mais fáceis. Neste caso, faremos as duas. Comecemos com a árvore à esquerda. Aqui a maçã sai da origem, o que nos diz que a posição original, y0, é zero. Como a maçã parte do repouso, então a sua velocidade inicial, v0, também é nula. Sendo assim, 75 Física Básica Antes de colocarmos os valores e obtermos os resultados, vamos prestar bastante atenção aos sinais: a maçã sai de um instante zero e de uma posição zero. A força gravitacional aponta para baixo, ou seja, para valores negativos de y, e, portanto, tem um sinal negativo. Depois de um tempo t, que queremos calcular, a maçã estará no pé da árvore, cuja posição corresponde a y(t) = -20 metros. Esta atenção com sinais será o ponto mais importante desta aula. Veja como a correta escolha dos sinais leva a uma resposta adequada: Novamente obtemos uma resposta ambígua: mais ou menos 2.02 segundos. A resposta para o problema físico proposto só pode ser o valor positivo, afinal de contas o nosso cronômetro não anda para trás, mas, e o sinal negativo? Na verdade, ele indica que, se a maçã saísse do chão com tal velocidade inicial que subisse apenas vinte metros e parasse, levaria exatamente 2.02 segundos, ou seja, a resposta matemática inclui uma situação física inexistente. A solução para a árvore da direita novamente exige a escolha dos sinais com cuidado. Agora nós colocamos a posição da maçã a uma altura de vinte metros quando ela começa a cair. Por isso, a sua posição inicial, y0, não é mais nula, mas vale +20 metros. A posição final da maçã quando usamos este sistema de referência corresponde à origem, o que quer dizer que, quando o tempo t passou, y(t) =0. Na equação: O que nos dá exatamente o mesmo resultado, como esperávamos. II. Agora o problema ficou razoavelmente mais interessante. Agora precisaremos definir muito claramente quem são as variáveis.Vejamos novamente a equação de movimento: A aceleração não muda, naturalmente, será sempre de -9.80 m/s2. Vamos então reescrever a equação: 76 Queda livre Para completar esta equação seria interessante saber quem é y0. Mas isto é muito fácil. Tudo que temos que fazer é nos perguntar: onde está a maçã quando o cronômetro é disparado? Na origem! Está no enunciado do problema. Então podemos reescrever a equação novamente: Aula 4 Mas e quem é v0? Uma análise apressada diria que a velocidade inicial é nula, afinal a maçã sai do repouso. No entanto, v-0 é definida como sendo a velocidade da maçã quando o cronômetro é disparado! Ou seja, a maçã já está na metade do caminho em direção ao solo e, com certeza, não tem velocidade nula quando passa pela origem. Precisamos, então, calcular quem é esta velocidade. Para isto, usaremos a equação de Torricelli: Como de costume, precisaremos tomar muito cuidado com os sinais e com a correta definição dos termos. Esta equação nos diz que a velocidade que a maçã desenvolve quando passa pela origem, v, depende da velocidade da mesma quando começa a queda da árvore, v0. A primeira coisa a notar é que o termo v0, que aparece nesta equação, não é o mesmo que aparece na anterior. A velocidade final v desta equação corresponde à velocidade inicial v0 da outra. Para que estas mudanças não transformem um problema simples em uma grande confusão, é sempre necessário ter muito claro quem são as variáveis. Sendo assim, nesta última equação, lemos que a maçã parte do repouso (v0=0), adquire certa velocidade (v) depois de percorrer certa distância (Dy) acelerada pela gravidade (-9.8 m/s2). Na equação: Temos, como sempre, a velocidade com dois sinais. Apenas um deles nos interessa, qual será? Voltemos ao problema original. A maçã sai do repouso em certo tempo anterior ao disparo do cronômetro, ou seja, um tempo negativo. Nesse instante, a maçã encontra-se em uma posição que equivale a y=10 m. Talvez fique mais simples se olharmos uma nova figura: 77 Física Básica Quando a maçã passa pela origem, sua velocidade é negativa! É negativa porque o eixo y foi escolhido de tal modo que um movimento descendente tem velocidade negativa, assim como a aceleração é negativa. Portanto, a velocidade v0, quando a maçã passa pela origem é de -14m/s, e nossa equação passa a ser: Agora estamos prontos para resolver esta equação. Tudo que precisamos fazer é compreender qual a pergunta: quanto tempo passará entre a passagem da maçã pela origem e a sua chegada ao solo. A chegada ao solo corresponde a y(t) = -10 m. Vamos, então, fazer o cálculo. Obteremos, assim: t1=0.63 s e t2=-3.70 s. Esse resultado pode parecer estranho. Sem levar em consideração a opção de tempo negativo, o tempo de 0.63 segundos pode parecer curto quando comparado com aquele obtido na primeira questão, 2.02 s. Se você esperava que estes tempos fossem iguais é porque cometeu um engano muito comum. A diferença entre os dois problemas não é apenas em relação ao ponto de referência; o instante em que o cronômetro é disparado também muda. No primeiro caso, medimos todo o tempo de queda; no segundo, medimos apenas o tempo de queda da segunda metade do movimento. Isto nos diz que a primeira metade da queda tomou (2.02-0.63) = 1.34 segundos. E isto, é surpreendente! I. Para facilitar a visualização do problema, considere a figura abaixo: 78 Queda livre Vamos escolher, como origem de nosso sistema de coordenadas, o ponto de lançamento. Poderia ser qualquer outro, mas este facilita muito as contas. Vamos também escolher o sentido para cima como sendo o sentido de y positivo. Através desta escolha, vemos que a velocidade da bola é positiva quando está subindo e negativa quando está descendo (setas verdes). Vemos também que a aceleração da gravidade é sempre negativa (setas vermelhas). Note que, à medida que a bola sobe, a sua velocidade diminui até chegar a zero no ponto mais alto. Em seguida, ela começa a crescer (em módulo apenas). Para determinar a altura máxima, nós calculamos a sua posição quando a velocidade é igual a zero. Poderemos utilizar uma das equações de movimento, mas a equação de Torricelli nos serve melhor: Aula 4 fornecendo-nos: y=11.5m. Para calcular o tempo total de subida e descida, poderíamos calcular os dois separadamente, mas consideramos mais simples calcular os dois ao mesmo tempo. Fazendo o cálculo desta maneira, obteremos um resultado também bastante interessante. Vamos utilizar a equação horária como sempre: Notemos, em primeiro lugar, que queremos saber quanto tempo levará a bola para voltar à origem, ou seja: y(t)=0. Em segundo lugar, notemos que a partícula sai da própria origem, ou seja: y0=0. Notemos também que a velocidade inicial é positiva, e a aceleração é sempre negativa. Sendo assim, e colocando o tempo em evidência: dois resultados são possíveis: t=0 s e t=3.06 s. Fica aqui cristalino que o tempo nulo corresponde ao momento do lançamento e que o tempo 3.06 segundos corresponde ao tempo decorrido para que a bola passasse novamente pela origem. I. Este problema adiciona um pouco de sofisticação a um assunto que já está bem assimilado. Temos aqui uma equação horária que descreve o movimento de um helicóptero em movimento para cima. Com certeza, ele está acelerado por seus motores. Vemos que a sua altura, y, varia com o cubo do tempo! Antes de nos preocuparmos em resolver o problema, vamos tentar compreender melhor o que esta equação está dizendo: a altura 79 Física Básica alcançada pelo helicóptero após t segundos será 3t3 metros. A primeira coisa estranha é esta: como pode acontecer de uma variável de tempo, t, elevada ao cubo e multiplicada por uma constante, ter unidades de distância em metros? A única explicação possível é de que a constante que multiplica o tempo e tem um valor igual a três não é adimensional. Isto quer dizer que não se trata apenas de um número. Devemos ler então aquele número como sendo 3.00 m/s3. Não devemos mais nos preocupar com ele, passemos ao estudo do movimento em si. Notamos que a aceleração da gravidade não aparece na equação horária. Isto poderia parecer estranho, mas, na realidade, estamos equacionando o movimento do helicóptero sob ação de diversas forças, e a resultante nos levou àquela equação horária. A partir dela podemos tirar várias conclusões e, portanto, vamos trabalhar cuidadosamente com ela. Iniciamos fazendo um gráfico da posição em relação ao tempo: y(t). Para isto, construiremos uma tabela de valores que vão de 1 a 10 segundos. 80 Queda livre Podemos ver, pelo gráfico, que o helicóptero ganha altura muito rapidamente. Em apenas dez segundos, já se encontra a uma altura de 3000 metros! De acordo com nossa tabela, vemos também que, após dois segundos, o helicóptero encontra-se a uma altura de 24 m. Neste instante, o pacote é liberado. Para podermos calcular o tempo que este pacote levará para chegar novamente ao chão, precisamos saber em que condições ele foi liberado. Ao sair do helicóptero, ele estava em repouso? Pensando bem, não. Quando ele é largado do helicóptero, ele se encontra na velocidade do mesmo. Vamos, então, calcular as velocidades deste helicóptero em função do tempo da mesma maneira que fizemos com a sua posição. Para começar, obteremos a derivada da equação horária do helicóptero para saber como varia a sua velocidade com o tempo. Aula 4 Utilizando novamente aqueles valores para o tempo, chegamos à seguinte tabela: 81 Física Básica E com esses valores, construímos um segundo gráfico: Note que a velocidade também cresce com o tempo, mas não tão rapidamente quanto a altura! Isto já era esperado, uma vez que a altura varia com o cubo do tempo, enquanto a velocidade varia com o quadrado do tempo. Prestando atenção à tabela, você pode ver que, depois de dois segundos, o helicóptero subia a uma velocidade de 36 m/s e que, depois de 10 segundos, ele alcançava a velocidade de 900 m/s. Esse tipo de movimento não é possível na realidade, pois, para um tempo infinito, teríamos uma velocidade infinita. Certamente existem limites reais para a velocidade alcançada (o mesmo acontece com os automóveis). Por fim, vamos ver o que acontece com a aceleração desse helicóptero: A aceleração, portanto, aumenta linearmente com o tempo. Desta vez, iremos omitir a tabela com os valores, mostrando apenas o gráfico da aceleração em função do tempo. 82 Queda livre Aula 4 Como um bônus especial deste problema, você pode ver, em primeira mão, o que queremos dizer com uma relação linear: o gráfico é uma reta! Vemos também que a aceleração não é constante! Se a aceleração fosse constante, esta reta seria horizontal. Depois de todos estes cálculos e gráficos, poderemos voltar ao problema em questão: quanto tempo o pacote levará para alcançar o chão novamente? Agora não dispomos mais de um helicóptero para acelerar o pacote e, por isso, a única aceleração que o pacote sofre é a da gravidade. Mas esta é exatamente a condição para a queda livre. Podemos, então, usar a equação horária: Apesar de bastante simples, esta equação pode nos complicar se não prestarmos atenção aos sinais. Vamos utilizar a mesma convenção do problema anterior. Sendo assim, y0 é positivo e, para dois segundos, tem o valor de 24 metros. Nesse momento, a velocidade inicial, v0 também é positiva com o valor de 36 m/s. A aceleração, no entanto, é negativa com o seu valor habitual, ou seja: 83 Física Básica Nosso problema está agora adequadamente equacionado. Uma última fonte de dúvidas é: quem é y(t) e o próprio t. Veja que o helicóptero continua se movendo para cima. O pacote, no entanto, tem um destino diferente. A posição y(t) descreve onde se encontra o pacote depois de ter sido largado. Isto nos diz que o tempo foi zerado! Esqueceremos o helicóptero (como esquecemos a mão que atirou a bola no problema anterior) e vamos estudar apenas o pacote. A pergunta fica então muito simples: para qual valor de t, y(t)=0? Trata-se de uma equação do segundo grau que tem duas raízes, sendo que apenas a positiva nos importa: t = 7.96 segundos. Vemos que, enquanto o pacote levou apenas 2 segundos para subir, levou quase oito segundos para descer. O problema está terminado, mas será instrutivo estudar graficamente este movimento do pacote após ser lançado. Podemos ver, neste gráfico, em preto, a posição do pacote em função do tempo. Ele continua subindo nos instantes iniciais e, entre 3 e 4 segundos, inverte a trajetória, chegando ao chão próximo aos oito segundos. Após esse tempo, o deslocamento negativo não faz sentido (a não ser que o pacote seja de chumbo, e o chão de algodão...). A forma desta curva também é quadrática, como se poderia inferir da equação de movimento. Em vermelho vemos que a velocidade varia linearmente com o tempo! É uma reta! No trecho mais à esquerda, ela é positiva, o que significa que o pacote está subindo. Não por acaso, entre três e quatro segundos, ela se anula e passa a ser negativa. Isto nos diz que o pacote parou de subir e começou a descer. A aceleração, em verde, é constantemente negativa. 84 Queda livre CONCLUSÃO A ação da gravidade determina a trajetória dos corpos, quando os mesmos não se encontram apoiados em algum suporte. A direção inicial do movimento de um corpo pode estar na mesma direção da gravidade ou na direção contrária, isto não faz diferença na solução de problemas, desde que o devido cuidado seja tomado com os sinais. Através de gráficos de posição, velocidade e aceleração em função do tempo, verificamos que, enquanto a primeira varia com o quadrado do tempo, a segunda varia linearmente e a última é constante. Este resultado naturalmente já era esperado pela simples inspeção das equações horárias, mas a visualização dos mesmos trouxe um melhor entendimento do relacionamento entre estas grandezas. Aula 4 RESUMO Para o estudo da queda livre, é necessário que seja esclarecida a importância dos sistemas e pontos de referência como discutidos em aulas anteriores. Nesta aula, estudamos o movimento de objetos na vertical, sendo que a gravidade sempre aponta para baixo, enquanto a posição e a velocidade podem ser positivas ou negativas: depende do ponto de referência e escolha de qual a direção de crescimento da coordenada e da velocidade. Uma vez definidas estas convenções podemos aplicar as equações horárias do movimento retilíneo uniformemente acelerado para estudar o movimento de objetos, sejam eles soltos à própria sorte ou lançados com uma velocidade inicial. Um ponto de interesse que aparece naturalmente na resolução dos problemas está associado à presença de sinais negativos nos tempos. Eles são interpretados caso a caso, pois estão associados a elementos de simetria. Na maioria dos casos, no entanto, eles correspondem ao movimento destes corpos nos instantes anteriores ao disparo do cronômetro e assumem que não há nenhuma intervenção na trajetória. PRÓXIMA AULA Na próxima aula, iniciaremos com o estudo dos vetores em duas dimensões e imediatamente passaremos ao estudo da cinemática em duas dimensões, mas sem aceleração. 85 Física Básica REFERÊNCIAS DOUGLAS C. Giancoli. Physics for Scientists and Engineers. 3ed. New Jersey: Editora Prentice Hall, 2000. HUGH D. Young e Roger A. Freedman. Física I – Mecânica.10ed. São Paulo: Editora Addison Wesley, 2003. Tradução de Adir Moysés Luiz. FREDERICK J. Keller, W. Edward Gettys e Malcolm J. Skove. Física. São Paulo: Editora Makron Books, 1997. Vol.1. Tradução de Alfredo Alves de Farias. ROBERT RESNICK, David Halliday e Kenneth S. Krane. Física 1. 5ed. Rio de Janeiro: LTC Editora, 2003. Tradução de Pedro M. C. L. Pacheco, Marcelo A. Savi, Leydervan S. Xavier, Fernando R. Silva. 86 Aula CINEMÁTICA EM DUAS DIMENSÕES 5 META Revisar o conceito de vetor e aplicá-lo para descrever o movimento de objetos em duas dimensões. OBJETIVOS Ao final desta aula o aluno deverá: somar e subtrair vetores; multiplicar vetores por escalares; e descrever o movimento de projéteis em duas dimensões sem aceleração, utilizando vetores. PRÉ-REQUISITOS Conhecimentos de trigonometria básica e de álgebra básica. Existem módulos de criação de planos 2D que permitem representar vistas e secções, introduzir detalhes, cortar o desenho etc. (Fonte: http://www.deltacad.es). Física Básica INTRODUÇÃO Bem-vindo, caro aluno. Hoje iniciamos uma nova fase de nossos estudos. Sairemos do movimento unidimensional para alcançar as estrelas, ou, de uma maneira mais floreada, estudar o movimento de objetos em duas e três dimensões (no plano e no espaço respectivamente). Para que esta transição seja feita suavemente, faremos uma introdução ao estudo de vetores. Expandiremos, nesta aula, os conceitos básicos de cinemática de uma dimensão para duas dimensões. Na primeira parte, lidaremos com conceitos de vetores e escalares e suas propriedades principais. Apesar de uma extensão para três dimensões ser trivial, ela será evitada. Essa extensão sobrecarregaria demais a notação e não adicionaria qualquer novidade para você, neste momento. Na segunda parte, aplicaremos os conceitos e propriedades estudados de vetores para o caso do movimento em duas dimensões sem aceleração. Esta escolha deriva da própria sistemática do curso onde a cinemática sem aceleração precede àquela com aceleração que será estudada na próxima aula. (Fonte: http://www.fag.edu.br). 88 Cinemática em duas dimensões Muitas das grandezas físicas que conhecemos têm, não apenas um valor numérico, mas também uma indicação de direção. Imagine, por exemplo, como você responderia à seguinte pergunta: qual a velocidade daquele carro (um que você esteja vendo)? Para responder, seria necessário dizer que ele tem uma velocidade de 80 km/h (magnitude) e está indo em direção à praia. Entendeu? Esta e muitas outras grandezas físicas só podem ser definidas quando lhes atribuímos uma magnitude e uma direção e, nestes casos, a grandeza é representada por um vetor. Graficamente falando, um vetor é apenas uma flecha, como a mostrada abaixo que liga um ponto O a um ponto P. Aula 5 O comprimento da flecha está relacionado à sua magnitude, e a sua direção indica a própria direção. Note que, além da direção, a seta indica um sentido. Esta particularidade se tornará mais transparente logo à frente. Veja a figura abaixo, simbolizando um coelho e uma tartaruga apostando uma corrida: As setas indicam a velocidade dos dois animais. Pode-se ver claramente que eles partem em direções distintas e têm diferentes velocidades. O método gráfico de mostrar os vetores é muito útil quando queremos visualizar operações entre eles, mas, na maioria dos casos, queremos apenas fazer operações com eles. Para isso, 89 Física Básica precisamos utilizar alguma simbologia que os diferencie de números apenas. Na figura do vetor, por exemplo, a seta sai de certa origem O e chega até o ponto P. A maneira mais simples de descrever este vetor poderia ser: . Este símbolo, no entanto, é utilizado com maior freqüência para designar um segmento de reta. Os símbolos mais usados para descrever um vetor assumem que a origem é conhecida, ou seja, eles indicam uma magnitude, uma direção e um sentido com relação a uma dada origem. Neste caso estes símbolos são ou simplesmente P (em negrito). A primeira informação que pode ser obtida de um vetor é a sua magnitude, ou “módulo”: . Nas próximas páginas, quando definirmos uma base, ou sistema de coordenadas, teremos uma visualização melhor sobre como calcular o módulo. As operações que são comuns com os números comuns também podem ser estendidas para os vetores, mas algumas regras são diferentes, como veremos mais adiantes. Para introduzi-las, no entanto, vamos apresentar duas definições simples, mas importantes. Dois vetores e serão idênticos se eles tiverem a mesma magnitude, mesma direção e mesmo sentido (não importando de onde saem e aonde chegam). Neste caso, dizemos que , ou, que A=B. Para facilitar a leitura, daqui para frente deixaremos de utilizar a simbologia que emprega uma flecha sobre a letra para indicar um vetor. Usaremos apenas caracteres em negrito. Quando nos depararmos com uma expressão do tipo A=B, o que estamos dizendo é que |A|=|B|. Esta afirmação é distinta do primeiro caso. Ela não nos diz que os dois vetores são iguais, mas apenas que eles têm a mesma magnitude. Se dois vetores têm o mesmo módulo e direção, mas sentidos inversos, então A=-B. 90 Cinemática em duas dimensões Com estas definições, podemos passar para a adição de vetores: a soma de dois vetores A e B tem como resultado um terceiro vetor C. Graficamente falando, a soma destes vetores corresponderá ao ponto inicial de B colocado no ponto final de A, ou vice versa! Veja: A+B=B+A=C. Aula 5 A subtração de vetores é a soma quando invertemos o sentido do vetor, ou seja, B-A=B+(-A). E, graficamente: Quando tratamos da multiplicação de vetores, precisamos tomar um cuidado extra. Todos os números (que podem significar quantidades, ou não, mas que não têm associados direção e sentido) são conhecidos como escalares. Números, como 3, π, e quantidades, tais como temperatura, massa e etc. são escalares. A multiplicação de um vetor A por um escalar k dá outro vetor B, de tal modo que B=kA. Os vetores B e A têm a mesma direção e o mesmo sentido, mas a magnitude mudou, de tal modo que |B|=k|A|. Na figura abaixo, mostramos um exemplo onde k=2. 91 Física Básica É importante saber que, muitas leis que valem na álgebra, também valem na álgebra vetorial. Já vimos que a propriedade comutativa pode ser aplicada A+B=B+A. A propriedade associativa também pode ser aplicada: ou, graficamente: Para finalizar esta discussão sobre as propriedades, vamos apenas mencionar algumas relacionadas à multiplicação (onde usamos a notação de variáveis em negritos corresponderem a vetores, e as outras a escalares): • Comutativa: kA=Ak; • Associativa: (k1+k2)A=k1A+k2A; • Distributiva: k(A+B)=kA+kB. Agora que já vimos as propriedades dos vetores de uma forma gráfica, vamos agora associar esses vetores a um ponto de referência, ou a uma base. Como nós vimos no estudo em uma dimensão, as distâncias são sempre referenciadas a uma origem. Dizíamos então “...no instante t=3.0 segundos, o automóvel se encontrava a 7 km da origem...”. Agora em duas e depois, em três dimensões, precisaremos de uma definição mais sofisticada de origem. Definiremos a origem a partir de um sistema de coordenadas retangular (ou cartesiano) como sendo um ponto associado a dois vetores unitários e perpendiculares entre si. Esses vetores recebem um nome especial: versores e são designados por uma letra com um acento circunflexo: , etc. A figura abaixo representa um sistema cartesiano: 92 Cinemática em duas dimensões Nesta figura, devemos destacar, em primeiro lugar, os eixos cartesianos X e Y. Eles são perpendiculares entre si e determinam a escala usada. Vemos também os versores âx e ây (ou ) que têm módulo igual a um e são paralelas às direções dos eixos cartesianos. Temos representado também um vetor A e as suas “componentes” Ax e Ay. Nós podemos ver que esses componentes são escalares: são distâncias. Se nós as multiplicarmos pelos versores correspondentes, elas se tornarão vetores. Aula 5 O mesmo vale para o eixo y. Note agora que, se utilizarmos as propriedades discutidas anteriormente, chegaremos à seguinte situação: Temos agora os vetores Ax e Ay. O segundo deles ou o primeiro pode ser livremente movido, de tal modo que o colocamos onde termina o primeiro. Chegamos, então, a um resultado muito importante: Isto significa que os vetores podem ser decompostos entre as suas componentes! 93 Física Básica A primeira conseqüência disso é que podemos facilmente calcular o módulo dos vetores aplicando o teorema de Pitágoras: . A separação de um vetor em suas componentes também facilita as operações até aqui definidas. Veja: • Adição: Se e Então Cx=Ax+Bx e Cy=Ay+By. Fica mais fácil se olharmos para uma figura como a colocada abaixo: 94 Cinemática em duas dimensões Muito simples? Não muito, mas com os exercícios à frente conseguiremos uma melhor visualização. Para encerrar o assunto de vetores, vamos apenas relembrar algumas relações trigonométricas adaptadas à linguagem vetorial. Isto é necessário porque, algumas vezes, nos depararemos com situações em que sabemos qual é o módulo de um vetor e também qual é o ângulo que ele faz com algum eixo da base e, a partir deles, teremos que obter as componentes. Considere a figura abaixo: Aula 5 O vetor A pode ser definido por suas componentes Ax e Ay, ou pelo seu modulo |A| e seu ângulo θ com a horizontal. As relações entre estas grandezas são dadas pelas equações abaixo, provenientes da trigonometria básica: E estas relações levam a novas relações: Vamos agora fazer alguns exercícios para que os vetores tornem-se um pouco mais “amigáveis”. 95 Física Básica ATIVIDADES I. Um vetor que sai da origem tem componentes Ax = 12 metros e Ay = 15 metros. Determine o seu módulo e o ângulo que o mesmo faz com o eixo y. II. Dados os vetores: A=1.5âx -1.7ây; B=3.2âx+0.5ây;C=0.1âx. Calcule: D=2A-B+3C. Determine o módulo de D e o ângulo que o mesmo faz com a horizontal. II. Para procurar um mapa do tesouro saindo de uma árvore, algumas crianças receberam as seguintes indicações: caminhem 23 passos diretamente para o norte; caminhem agora 14 passos em uma direção que faz um ângulo de 25º do norte para o oeste; finalmente caminhem 10 passos em uma direção que faz um ângulo de 77º do sul para o leste. Qual é a posição do tesouro em relação a esta árvore? COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES I. Como de costume, será uma boa idéia prepararmos um desenho para identificar o que sabemos e o que não sabemos. Este é o desenho padrão de um vetor em um eixo cartesiano. Utilizando as equações citadas no texto, ou mesmo o teorema de Pitágoras podemos facilmente obter o módulo de A. 96 Cinemática em duas dimensões O cálculo do ângulo também é muito simples quando prestamos atenção para perceber que θ é o ângulo formado entre o vetor e o eixo x, sendo que o pedido é o ângulo entre o vetor e o eixo y. Para calcular θ precisamos apenas das equações anteriores: Aula 5 Mas, como mencionamos anteriormente, este não é o ângulo pedido, é o seu complementar. Isto significa que a soma deste ângulo com aquele que foi pedido deve resultar em 90º. II. A solução deste problema passa pela utilização das regras da aritmética de vetores. Multiplicaremos os vetores por constantes quando for o caso e, depois, faremos as adições/ subtrações: 2A=3.0 âx -3.4 ây; -B=-3.2 âx -0.5 ây; 3C=0.3âx D=2A-B+3C=0.1 âx -3.9 ây O cálculo do módulo de D e do ângulo que o mesmo faz com a horizontal fica então muito simples, bastando aplicar as equações do texto: O aparecimento deste ângulo negativo pede uma explicação. Note que a componente horizontal de D é positiva, mas que a componente vertical é negativa. Isto faz com que o vetor esteja no quarto quadrante, e seu ângulo com relação à horizontal seja negativo. 97 Física Básica III. Para resolver este problema só precisamos de álgebra: cada um dos deslocamentos pode ser definido como um vetor e tudo que temos a fazer é somá-los. Como estamos tratando de pontos cardeais, é uma boa idéia apresentar uma figura: Você pode estranhar à primeira vista por ver que os vetores saem todos da origem, quando na verdade um deveria sair do final do outro. Mas, como vimos no início desta aula, tudo que um vetor tem é módulo, direção e sentido, não importando onde é colocado. Isto nos facilita muito as contas. Já sabemos o módulo dos vetores e os ângulos que os mesmos fazem com os eixos cartesianos. Para determinar as componentes dos mesmos, só precisaremos agora de um pouco de visualização e de trigonometria. Vamos usar a notação mais comum: corresponde ao versor que aponta para o leste e ao versor que aponta para o leste. Sendo assim podemos escrever os três vetores da seguinte forma: Com o auxílio de uma calculadora, chegamos aos valores: 98 Cinemática em duas dimensões Obteremos o resultado final, somando as componentes e chamando o vetor resultante de R: Aula 5 Para podermos melhor apreciar o resultado, colocamos na figura abaixo os vetores da maneira que estariam em um mapa e com o vetor resultante. Note que, de fato, o vetor resultante tem componentes positivas. Para dizer às crianças como ir diretamente ao tesouro, poderíamos ter lhes dado diretamente o módulo de R e o ângulo que o mesmo faz com algum ponto cardeal. O módulo é facilmente calculado: Quanto ao ângulo, precisamos determinar qual queremos: do norte para leste, ou leste para norte. Pessoalmente, prefiro de leste para norte. Assim, Olhe agora a figura. Estes valores de módulo e ângulo não lhe parecem corretos? Agora que já estamos bem encaminhados no estudo de vetores, vamos analisar o movimento de objetos em duas dimensões, mas sem a aceleração. Este tipo de movimento pode ser descrito em um lugar sem gravidade ou sobre um suporte horizontal, como por exemplo, uma mesa. Para isto, será necessário que ampliemos a aplicabilidade de nossas equações horárias de escalares para vetores. Visualize, abaixo, o movimento de uma partícula no plano x-y: 99 Física Básica Esta trajetória não é especial em nada. Pode ser, por exemplo, a trajetória de um peão que foi lançado e está prestes a cair. As forças envolvidas não são importantes para nós, neste momento, pois só estamos interessados na sua trajetória. Observe, agora, a sua descrição: em um momento t1 a partícula se encontra em um ponto P1 e em um tempo t2 a partícula se encontra em um ponto P2. O vetor r1 é o “vetor posição” da partícula no momento t1 e corresponde a um vetor que sai da origem e termina no ponto P1. Analogamente, r2 representa o vetor posição da partícula no instante t2. Lembre-se de que, no caso unidimensional, nós definimos o deslocamento como sendo a diferença entre a posição inicial e a posição final. Aqui ocorre a mesma coisa, mas, ao invés de usarmos escalares, usamos vetores: Este vetor ∆r é chamado de vetor deslocamento, em analogia ao deslocamento unidimensional. Não se esqueça de que este deslocamento ocorre em um intervalo de tempo definido: ∆t=t2-t1. Se nós colocamos agora os vetores-posição decompostos em suas coordenadas, podemos facilmente obter o vetor deslocamento.Veja: Perceba que, quando o movimento é apenas no eixo x (unidimensional), voltamos à antiga definição ∆x=x2-x1. Agora que já definimos os vetores posição, podemos passar, sem problemas, para a definição das outras grandezas estudadas até agora. Começamos com a velocidade média: Muito simples? Com certeza! Mas, além disso, precisamos notar que (1/∆t) é um escalar e quando o multiplicamos por um vetor obtemos outro vetor na mesma direção, mas com módulo diferente. Nós já vimos isso anteriormente. Aqui vemos que a sua aplicação leva à conclusão de que o vetor velocidade tem a mesma direção do vetor deslocamento! Aplicando o mesmo raciocínio do movimento unidimensional, definimos o vetor velocidade instantânea: A mesma discussão do parágrafo anterior aplica-se à velocidade instantânea. Como esta velocidade é definida em intervalos de tempo 100 Cinemática em duas dimensões muito pequenos, os vetores velocidade correspondem às tangentes à trajetória em cada ponto da mesma. A figura abaixo ilustra este ponto: Aula 5 Assim como o vetor posição, o vetor velocidade instantânea também pode ser decomposto em suas componentes: De uma maneira absolutamente análoga, definimos a aceleração média e a aceleração instantânea como sendo, respectivamente: Depois de todas estas considerações, podemos agora enunciar as equações horárias em suas formas vetoriais: Concordo que estas equações parecem assustadoras, mas você verá que nós sempre trabalharemos unicamente com as componentes! Todos os nossos dados serão separados em componentes e então trabalharemos independentemente, será ótimo! Para isto, construímos a tabela abaixo: 101 Física Básica Podemos, então, agora, resolver alguns problemas para ganhar um pouco mais de intimidade com a matéria. ATIVIDADES I. Uma partícula parte da origem no momento que um cronômetro é disparado. Ela se move no plano x-y com velocidade constante dada pelo vetor: . Determine o vetor posição desta partícula nos instantes t=10 segundos e t=20 segundos. Determine a distância percorrida entre estes dois instantes. COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES I. Para este tipo de problema, nem é necessário um desenho, e já é hora de começarmos a trabalhar com a matemática na certeza de que chegaremos ao resultado correto. Vamos, então, à interpretação da questão. É dado um valor constante para a velocidade e a mesma está dividida entre duas componentes. vx = 4.2 m/s e vy = 1.8 m/s. Isto nos diz que a partícula moverse-á muito mais rapidamente para a direita do que para cima. Para obter as posições nos devidos instantes, tudo que temos a fazer é escrever as equações horárias. Como a partícula parte da origem e tem aceleração nula: Então podemos construir uma tabelaonde colocamos os tempos em questão e as coordenadas correspondentes: Podemos então agora extrair os vetores posição correspondendo aos instantes iguais a dez e vinte segundos: e . A distância entre estes dois pontos é apenas o módulo do vetor deslocamento, que é dado por: ∆r=r20-r10=(84-48)i+(36-18)j 102 Cinemática em duas dimensões CONCLUSÃO A utilização da notação vetorial permite e facilita o estudo da física em mais de uma dimensão. A maneira de descrever os vetores varia muito. Existem as mais variadas notações para se simbolizar matematicamente uma entidade que tem módulo, direção e sentido. O conceito de ponto de referência, porém, está intimamente ligado aos sistemas de referência que servem como origem dos vetores. Mesmo sem o ferramental da álgebra vetorial, é possível a solução de problemas, através de simplificações. Aula 5 RESUMO Certas grandezas físicas podem ser definidas apenas através de um número. A única informação pertinente é a magnitude dessa grandeza. Estas grandezas são chamadas de escalares. Existem outras, no entanto, que necessitam de mais informações, tais como a velocidade, a força, etc. Neste segundo caso, precisamos de mais informações, nomeadamente a direção e o sentido. Assim, utilizamos os vetores cujas propriedades se assemelham muito àquelas dos escalares. Eles podem ser manipulados graficamente ou matematicamente. No primeiro caso, é possível uma visualização de suas propriedades, mas é muito pouco prático. A sua manipulação matemática permite a obtenção de informações sobre sua magnitude e direcionamento de maneira muito simples e direta. Os vetores podem ser definidos matematicamente de duas maneiras: a) a partir de seu módulo e do ângulo que este vetor faz com algum eixo do sistema de referência; e b) a partir das componentes do mesmo. A divisão em componentes permite separar o movimento completo do objeto em dois, cada um deles paralelo a um dos eixos do sistema de referência. Quando isto é feito, torna-se possível tratar um movimento em duas dimensões como dois movimentos unidimensionais, permitindo-nos, assim, utilizar o que já foi estudado sobre cinemática em uma dimensão. PRÓXIMA AULA Na próxima aula, estudaremos o movimento de projéteis, ou seja, o movimento de corpos sob a ação da gravidade em duas dimensões. O movimento deste tipo é conhecido como parabólico. 103 Física Básica REFERÊNCIAS DOUGLAS C. Giancoli. Physics for Scientists and Engineers. 3ed. New Jersey: Editora Prentice Hall, 2000. HUGH D. Young e Roger A. Freedman. Física I – Mecânica.10ed. São Paulo: Editora Addison Wesley, 2003. Tradução de Adir Moysés Luiz. FREDERICK J. Keller, W. Edward Gettys e Malcolm J. Skove. Física. São Paulo: Editora Makron Books, 1997. Vol.1. Tradução de Alfredo Alves de Farias. ROBERT RESNICK, David Halliday e Kenneth S. Krane. Física 1. 5ed. Rio de Janeiro: LTC Editora, 2003. Tradução de Pedro M. C. L. Pacheco, Marcelo A. Savi, Leydervan S. Xavier, Fernando R. Silva. 104 Aula MOVIMENTO DE PROJÉTEIS 6 META Expandir o estudo do movimento em duas dimensões para o caso de aceleração constante; descrever o movimento de projéteis. OBJETIVOS Ao final desta aula o aluno deverá: Utilizar equações vetoriais para descrever o movimento em duas dimensões; reconhecer a aceleração da gravidade como um vetor; e descrever o movimento de projéteis sob a ação da gravidade. PRÉ-REQUISITOS Conhecimento básico de vetores e de cinemática unidimensional. (Fonte: http://geek42.org). Física Básica INTRODUÇÃO Bem vindos à nossa sexta aula. Acabamos de terminar nosso primeiro quarto de curso. O restante será tão interessante quanto este. Hoje nos libertamos dos exemplos pouco convincentes sobre a sua aplicabilidade e trataremos diretamente do problema geral do lançamento de projéteis. O Homem descobriu, desde sua infância antropológica, a utilidade das armas como elemento de subjugação da natureza e de seus pares. Na falta de um arsenal mais sofisticado, uma pedra ou pedaço de madeira apareciam como elementos bastante interessantes para a consecução de seus objetivos. O cálculo de risco já fazia parte de seu mecanismo de defesa, o que o levava a decidir qual atitude tomar diante de algumas circunstâncias. Verdade ou não, nasceu, a partir de preocupações semelhantes, o estudo do movimento de projéteis. Na Idade Média, porém, foi criada uma arma formidável no ataque a fortificações: a catapulta! Seu mecanismo de cálculo de alcance dependia das tentativas e erros: se aumentasse a força de lançamento, poderia ir mais longe ou mais perto; dependia do ângulo de lançamento. De qualquer forma, estes dois exemplos indicam a necessidade de um estudo científico do lançamento de projéteis. Ele se enquadra na cinemática em duas dimensões e é o objeto desta aula. (Fonte: http://upload.wikimedia.org). 106 Movimento de projéteis O lançamento de projéteis também é conhecido como lançamento parabólico (como mostraremos mais à frente). O movimento de projéteis estudado em nosso curso utiliza duas premissas simples, mas necessárias: 1. A aceleração da gravidade é sempre perfeitamente vertical e tem sempre o mesmo valor, independentemente da altura e posição no globo; 2. A resistência do ar pode ser ignorada. Em todas as nossas discussões, dependeremos da escolha de sistemas de referência para descrever os movimentos. Isto equivale a determinar onde se encontra a origem, a partir da qual definiremos os vetores que descrevem o movimento. Na figura abaixo, indicamos um exemplo daquilo a que estamos nos referindo. Aula 6 Em certo instante no tempo, um objeto foi lançado com certa velocidade. Depois de outro espaço de tempo, nós o localizamos e verificamos algumas de suas características. Neste tempo t, podemos definir: • r = r(t) é o vetor posição do objeto no instante t; • v = v(t) é o vetor velocidade quando o objeto está no instante t; • g = g(t) é o vetor aceleração da gravidade quando o objeto está no instante t. Note alguns aspectos importantes destas definições: o tempo aparece como uma variável independente: seja qual for o tempo, temos alguns vetores que dependem deste tempo. Os vetores posição e velocidade mudam a cada instante. O vetor aceleração da gravidade, no entanto, nunca muda. Poderia se argumentar que o seu início varia com o tempo. Se este ponto o angustia, sugiro que releia o texto sobre vetores das aulas anteriores. Se imaginarmos 107 Física Básica como estes vetores variam com o tempo, podemos chegar a algumas conclusões bem interessantes. Veja a figura abaixo: Aqui nós podemos ver o objeto em cinco instantes diferentes, desde o seu lançamento até o seu impacto com o chão. Os vetores, em linha pontilhada, correspondem à aceleração da gravidade. Todos eles têm a mesma magnitude, direção e sentido. Os vetores em linha tracejada, que correspondem à velocidade, variam em todos os parâmetros, assim como os vetores em linha contínua, que correspondem ao vetor posição. Como se trata, de qualquer modo, de um movimento em duas dimensões, podemos equacioná-lo com muita simplicidade: Esta equação pode parecer difícil de solucionar, mas, na verdade, é bem simples quando trabalhamos com componentes como discutido na aula passada. Para isso, basta lembrar que cada um dos vetores pode ser decomposto. Para tornar este conceito visualmente reconhecível, examine cuidadosamente a figura abaixo: 108 Movimento de projéteis Trata-se da mesma figura apresentada antes, com a diferença que agora os vetores têm ângulos definidos com a horizontal (e conseqüentemente com a vertical). Podemos, então, decompor agora todos estes vetores nas componentes x e y: • Componente x (horizontal): Aula 6 • Componente y (vertical): Devemos atentar para o fato de que as equações acima tratam de valores em módulo. O sinal destas grandezas sempre dependerá dos ângulos e dos sistemas de referência escolhidos. O grande mérito desta separação em componentes é o de que agora já podemos trabalhar com as duas componentes individualmente, ou seja, aplicamos as equações de movimento para cada uma delas: Os valores de r0x e r0y dependem apenas da escolha da origem. Os valores da aceleração já estão definidos com apenas uma componente vertical e, por isso, já podemos escrever as equações finais de movimento em suas componentes (assumindo que o eixo y é vertical e cresce no sentido inverso ao da gravidade). É fácil reconhecer estas equações como as do movimento retilíneo uniforme da componente x e do movimento retilíneo uniformemente variado da componente y. Então, temos de fato um movimento único que pode ser tratado pela superposição de dois outros. Passamos de um problema bidimensional para dois unidimensionais. Apesar de parecerem independentes, estes problemas estão indexados, ou parametrizados, 109 Física Básica pelo tempo. Isto quer dizer que o tempo que aparece em uma equação é o mesmo tempo que aparece na segunda. Sendo assim, podemos isolar o tempo na primeira equação e substituí-lo na segunda: Uma boa simplificação desta equação leva a algo parecido com: E esta é a equação de uma parábola, explicando o nome de movimento parabólico. Agora já temos uma boa ferramenta para iniciar os exercícios. ATIVIDADES I. Uma bola é lançada de tal modo que as componentes vertical e horizontal são 20 m/s e 40 m/s, respectivamente. Determine o tempo total de vôo e a distância alcançada. II. Utilizando os dados do problema anterior, assuma que uma camada de névoa de 3 metros de altura cobre todo o campo visual. Determine o instante em que a bola sai da névoa e o instante que ela volta a entrar na mesma. Determine, também, a distância horizontal percorrida pela bola em cada um destes instantes. III. Passamos agora a um problema mais perigoso: um aluno de física decide fazer um teste de seus cálculos da seguinte maneira: vai tentar voar sobre um vão de 20 metros com a sua motocicleta. Usará para isto uma plataforma de lançamento de cerca de três metros de altura que faz um ângulo de 30º com a horizontal. Sua aterrissagem deve ocorrer em uma segunda rampa que tem seis metros de altura e o mesmo ângulo com a horizontal. Qual deve ser a sua velocidade de lançamento para que ele não se arrebente? IV. Um jogador de futebol chuta uma bola horizontalmente da beirada de um abismo de 40 metros de altura. Se este jogador escuta o som da bola batendo no chão cerca de três segundos depois, qual era a velocidade inicial da bola? Assuma que a velocidade do som no ar seja igual a 343 m/s. V. Um arqueiro atira uma flecha a uma velocidade de 45 m/s fazendo um ângulo de 50º com a horizontal; um assistente que se encontra a uma distância de 150 m do local de lançamento atira para cima uma maçã com a mínima velocidade necessária para que al110 Movimento de projéteis cance a trajetória da flecha. Determine qual é a velocidade inicial da maçã e quanto tempo depois do lançamento da flecha ele deve lançar a maçã para que elas se encontrem. Aula 6 COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES I. Este é o problema padrão do movimento parabólico. Ele claramente não traz informações completas sobre o evento real. Por exemplo, não sabemos a partir de qual altura do solo ela é atirada. Neste caso vamos assumir que a bola é lançada a partir do chão (não importa como isto é feito, mas pode ser uma tacada de golfe, por exemplo). Nossa primeira informação indica o valor das componentes da velocidade inicial: v0x = 20 m/s e v0y = 40 m/s. Nós podemos imediatamente obter o valor do módulo da velocidade e o ângulo que esta velocidade faz com a horizontal. 111 Física Básica Obtivemos, assim, o módulo e o ângulo de lançamento. Isso nos ajuda em algo? Não, mas serve para nos dar uma idéia um pouco melhor de como foi o lançamento. Para resolver o problema em si, não precisávamos disso. Como discutimos no texto, vamos dividir o problema em dois. Vamos tratar primeiramente do movimento vertical. A razão para esta escolha ficará mais clara mais para a frente. Vamos também definir que o eixo y tem valores positivos para cima e negativos para baixo. Sendo assim, a equação deste movimento é: Tudo que precisamos saber está nesta equação: dado o tempo sabemos exatamente onde a bola está. Neste problema, em particular, queremos saber quando a bola atinge o chão. Nós não sabemos onde ela estará, mas isso não é importante. Só precisamos notar que, quando a bola cair ao chão novamente, y(t) = 0. Resolvemos, então, a equação acima: Essa equação tem duas raízes: uma é trivial: , e corresponde ao instante de lançamento da bola. A outra também é simples: . A bola fica, portanto, apenas 8,2 segundos no ar. Agora chegou a vez de calcular a distância percorrida pela bola neste intervalo de tempo. Nada mais fácil: Esta distância percorrida pelo lançamento até a queda é chamada de alcance. Incidentalmente, podemos também calcular a altura máxima alcançada pela bola. Isto pode ser feito de várias maneiras. A mais simples leva em consideração que esta altura máxima será alcançada na metade da trajetória, que equivale à metade do tempo: 4,1 segundos. A altura máxima, então, é dada por: II. A solução deste segundo problema passa novamente pela 112 Movimento de projéteis aplicação direta das fórmulas. Precisamos apenas refazer as perguntas pensando em duas dimensões: queremos saber quanto tempo a bola leva para alcançar três metros de altura. Podemos desprezar o movimento horizontal e, assim, voltarmos ao clássico problema de queda livre: Aula 6 Esta é uma simples equação do segundo grau com raízes iguais a 0,08 segundos e 8,08 segundos. Estes tempos claramente referem-se à saída da região de neblina e à sua re-entrada, respectivamente. De posse destes tempos, fica muito simples determinar as distâncias percorridas na horizontal, simplesmente utilizando a equação horária: Vejamos em detalhes o tamanho do desafio: Agora, sim, temos um problema interessante. Não fazemos menção ao tempo em nenhum momento, mas ele é, naturalmente, de suma importância. O sistema de coordenadas foi colocado arbitrariamente no ponto de lançamento, mas isto absolutamente não importa (como veremos a seguir). Nós apenas precisamos equacionar os movimentos em suas componentes e refazer a pergunta de uma maneira que possamos responder. Comecemos com o movimento vertical uma vez que, como no problema anterior, a componente horizontal não nos interessa agora. Nós temos um problema clássico de queda livre, apesar de termos uma velocidade inicial para cima. Vamos chamar esta quantidade vetorial de v-0. Ela faz um ângulo de trinta graus com a horizontal; então, podemos concluir (por trigonometria) que suas componentes horizontal e vertical são, respectivamente; 113 Física Básica Conhecendo nossa componente vertical da velocidade e notando que o sentido da velocidade inicial é para cima (positivo) e o sentido da gravidade é para baixo (negativo), podemos escrever a equação horária: Podemos, agora, determinar quando o motoqueiro alcançará a altura de seis metros (que corresponde a um ponto três metros abaixo do centro de coordenadas). Matematicamente falando: Vimos, então, que este tempo já depende da velocidade inicial, ou seja, que a velocidade inicial depende do tempo. Mas qual é o fator limitante deste tempo? Por que ele não pode ser um tempo qualquer? A resposta é dada pelo senso de auto-preservação do motoqueiro: seu alcance deve ser precisamente de 20 metros. Mas, esta equação horária também é simples, pois a componente horizontal da velocidade já é conhecida... Podemos agora isolar o tempo e substituir na equação anterior: Resolvendo esta simples equação do segundo grau, temos: . Note que esta é a mínima velocidade necessária para chegar ao limite esquerdo da rampa. Existe, no entanto, outro limite: o máximo. Se a velocidade for maior que certo valor, o motociclista ultrapassará o limite da rampa e cairá diretamente no solo. O cálculo é exatamente o mesmo, trocando apenas os limites de x e y. III. Vamos observar como o problema pode ser estudado: 114 Movimento de projéteis Aula 6 O problema nos diz que a bola é chutada na horizontal, portanto, a velocidade inicial na direção y é zero. Se assumirmos as direções dos eixos coordenados como sendo as usuais, podemos equacionar o movimento horizontal como sendo: Podemos, então, calcular o tempo necessário para a bola chegar ao chão, ou seja, quando y=0: . Mas, o tempo que o jogador precisou esperar foi de três segundos, o que dá uma diferença de . Este tempo corresponde ao tempo necessário para o som do impacto chegar (em linha reta) aos ouvidos do jogador. Isto quer dizer que podemos calcular a distância percorrida pelo som, uma vez que sabemos qual é a sua velocidade: Temos então, finalmente, a distância em linha reta (hipotenusa) que é de 49 metros e a distância vertical, de 40 metros. Utilizando Pitágoras, determinamos, então, qual é a distância horizontal: x. Concluímos que a distância horizontal percorrida em 2,86 segundos foi de 28,3 metros, e podemos, a partir daí, obter a velocidade inicial na direção x, que se mantém constante durante o movimento. 115 Física Básica IV. Este problema também é muito interessante e, para a sua solução, será dividido em dois. No primeiro deles, determinaremos qual é a trajetória da flecha dada a velocidade inicial e o ângulo de tiro. Para chegar a este objetivo, dividiremos esta velocidade inicial entre as suas componentes vertical e horizontal. As componentes são dadas por: Os movimentos da flecha podem ser equacionados (considerando o ponto de lançamento como sendo a origem do sistema de coordenadas): Podemos, agora, determinar quanto tempo a flecha levará para chegar à distância horizontal de 150m: 116 Movimento de projéteis Depois de decorrido este tempo, determinaremos qual é a altura da flecha (acima da cabeça do ajudante): Aula 6 Nosso problema com a flecha está resolvido. Estudemos agora a maçã. Nossa primeira questão é: qual a menor velocidade inicial para que a maçã chegue à altura de 47 metros? Esta pergunta pode ser facilmente respondida através da equação de Torricelli: Agora o que nos resta é garantir que a flecha e a maçã chegarão a este ponto ao mesmo tempo. O tempo que a flecha levará já foi calculado: 5,19 segundos. Precisamos, agora, perguntar qual é o tempo que a maçã leva para chegar àquela altura de 47 metros quando é lançada a uma velocidade de 30,3 m/s. Para isto, só precisamos aplicar a equação horária da velocidade: t=3,10 segundos Como os tempos de vôo da flecha e da maçã são distintos, então precisaremos determinar a sua diferença para saber quanto o ajudante deverá esperar antes que possa lançar a maçã: t=5,19-3,10=2,09 segundos. CONCLUSÃO Vimos, nesta aula, que o movimento de projéteis pode ser adequadamente tratado quando grandezas vetoriais, tais como posição e velocidade são tratadas exclusivamente através de suas coordenadas. Problemas de razoável complexidade podem facilmente ser decompostos em pares de problemas simples, onde os grandes pontos de interrogação encontram-se na correta interpretação das perguntas e na escolha bem feita de sistemas de coordenadas. Apesar de o sistema cartesiano usual ser geralmente o mais utilizado, em algumas situações é mais interessante inverter os sentidos dos eixos coordenados para se obter maior simplicidade. 117 Física Básica RESUMO Nesta aula, tratamos sobre o problema de lançamento de projéteis. Este movimento é composto por uma componente horizontal e uma vertical. A estas direções serão atribuídos eixos cartesianos, que as dividirão entre componentes x e y (horizontal e vertical). O movimento global então poderá ser estudado em suas duas componentes, individualmente, o que possibilita a solução de pares de problemas simples e que indicam a solução de um problema complicado. O tempo é mostrado como um fator de parametrização, que pode, ou não, ser utilizado para a resolução dos problemas. PRÓXIMA AULA Na próxima aula estudaremos o Movimento Circular Uniforme. Serão discutidas as forças necessárias para a manutenção de tal movimento e como fazer para equacioná-lo. REFERÊNCIAS GIANCOLI, Douglas C. Physics for Scientists and Engineers. 3ed. New Jersey: Editora Prentice Hall, 2000. YOUNG, Hugh D. & FREEDMAN, Roger A. Física I- Mecânica. 10ed. São Paulo: Addison Wesley, 2003. Tradução: Adir Moysés Luiz. KELLER, Frederick J.; GETTYS, Edward & SKOVE, Malcolm J. Física. São Paulo: Makron Books, 1997. Trad. Alfredo Alves de Farias. Vol. 1. RESNOCK, Robert; HALLIDAY, David & KRANE, Kennneth S. Física 1. 5ed. Rio de Janeiro: LTC Editora, 2003. Trad. Pedro M. C. L. Pacheco, Marcelo A. Savi, Leydervan S. Xavier, Fernando R. Silva. 118 Movimento de projéteis Aula 6 119 Aula MOVIMENTO CIRCULAR UNIFORME 7 META Particularizar o movimento em duas dimensões para o caso do movimento circular uniforme. OBJETIVOS Ao final desta aula o aluno deverá: descrever o movimento de um objeto em movimento circular uniforme; utilizar as equações de movimento para obter as grandezas físicas associadas a este movimento; e calcular as acelerações tangencial e radial inerentes ao movimento circular uniforme. PRÉ-REQUISITOS Noções de Trigonometria, cinemática, vetores e diferenciação . (Fonte: http://www.cefetsp.br) Física Básica INTRODUÇÃO Bem vindos à nossa sétima e última aula de cinemática. Hoje terminaremos nossos estudos desta importante disciplina que deverão ser úteis em nossa caminhada até o final de sua graduação. Entramos, mais uma vez, em novas águas. Introduziremos, agora, o estudo do movimento em duas dimensões onde a aceleração não é constante. A gravidade é pouco discutida nesta aula, e a aceleração que efetivamente interessa é aquela que mantém o objeto em sua trajetória circular. Esta aceleração, necessariamente, aponta para o centro do círculo e, por isso, é chamada de centrípeta. Na ausência desta aceleração (ou força), o objeto mantém a velocidade que apresentava imediatamente antes. Ele, literalmente, sai pela tangente. Este efeito não é, em absoluto, devido à ação de uma força, mas simplesmente uma manifestação da inércia do corpo (que discutiremos nos capítulos vindouros). A descrição matemática do movimento circular uniforme é ligeiramente diferente daquela estudada até agora, mas veremos que a mesma apresenta o mesmo formato. Uma vez compreendido quem são as variáveis angulares, as equações tornam-se as mesmas para o caso linear. Vários conceitos, a serem amplamente discutidos neste capítulo, terão impactos diretos no estudo da dinâmica do movimento. Manteremos, no entanto, a nossa atenção na cinemática do movimento rotacional. Depois, faremos uma pequena introdução ao estudo do movimento rotacional, utilizando variáveis angulares e coordenadas polares. (Fonte: http://www.infoescola.com). 122 Movimento circular uniforme O assunto a ser tratado nesta aula é o Movimento Circular Uniforme (MCU). Com alguma probabilidade, nossos primeiros contatos com o MCU são dentro de um automóvel. Sentados no banco de trás, com o cinto afivelado, vimos o motorista fazer uma curva fechada para um dos lados do carro. Imediatamente apareceu uma força tentando nos jogar para fora do carro, mas para o outro lado. Que força misteriosa é ela? Será ela capaz de efetivamente nos jogar para fora? Possivelmente sim. Nosso problema, no entanto, é outro: que força é essa? Alguém está nos empurrando? O carro está nos empurrando? A reposta é não. Se considerarmos o carro como sistema de referência, teremos a impressão de que a força existe. Se não tivermos nenhum contato com a realidade externa, ou seja, se estivermos dentro de um ambiente fechado dentro deste automóvel, pensaremos que estamos sujeitos a uma força. O erro desta interpretação reside no fato de que o nosso sistema de referência, o carro, está acelerado! Acelerado para uma direção diferente da sua trajetória, que é a condição necessária para mudar a sua velocidade (talvez não o seu módulo), mas com certeza a sua direção. Se o nosso sistema de referência está acelerado, então ele não é inercial, e as leis de Newton não se aplicam (voltaremos a isto mais tarde). Nossos estudos precisam de um sistema de referências inercial para poder analisar o movimento. Podemos, então, usar como sistema de referência um observador que vê o carro se mover a partir de uma posição elevada. A partir desse observador, não existe o problema: para que o carro possa virar precisa do atrito de seus pneus com o asfalto, e a mudança de trajetória implica em uma força aplicada pela lateral do carro sobre o seu corpo, ou mesmo o atrito de seu corpo contra o banco, o que lhe dá a sensação de estar sendo empurrado para o outro lado. No intuito de melhor compreender o MCU, vamos recordar que a velocidade é um vetor que tem módulo, direção e sentido. Lembremos também que a definição de aceleração é a derivada em relação ao tempo da velocidade: Aula 7 Esta simples equação nos diz que, se a velocidade está variando no tempo, então existe uma aceleração responsável por isto. Em outras palavras, se o sistema está acelerado, então a velocidade vai variar com o tempo. Estamos todos acostumados a associar uma variação da velocidade com o aumento ou diminuição do seu módulo, da mesma forma quando aceleramos ou freamos um automóvel. A velocidade, no entanto, é uma grandeza vetorial, e uma variação de módulo, direção ou sentido só pode ser obtida através da aplicação de uma força que lhe confere uma aceleração. Se esta 123 Física Básica força é aplicada na mesma direção e sentido da velocidade a mesma aumenta; se é aplicada na mesma direção, mas em sentido oposto, ela diminui. Se ela é aplicada em outra direção ocorre a mudança de trajetória. Veja o esquema 1: ESQUEMA 1 As linhas contínuas nos mostram os vetores velocidade inicial de uma dada partícula. As tracejadas mostram os vetores aceleração aplicados nesta partícula. Finalmente, as pontilhadas marcam os vetores velocidade resultantes. O último deles indica a situação quando a direção é alterada. O movimento circular uniforme é um caso particular deste último. No MCU, o módulo da velocidade não se altera. O movimento dos ponteiros de um relógio é um bom exemplo para este movimento. Cada um dos ponteiros tem um módulo de velocidade diferente, mas as velocidades (em módulo) são constantes. Se o módulo da velocidade se mantém constante, mas a sua direção se altera continuamente, então deve haver alguma força sendo aplicada ao objeto. Considere a figura 1 abaixo: FIGURA 1 124 Movimento circular uniforme A partícula sem a ação da força (seja ela provida por quem quer que seja) faria uma trajetória em linha reta como mostrada pela linha tracejada. Esta linha, naturalmente, segue o vetor velocidade naquele ponto, e que corresponde à tangente naquele ponto. Note também que a força é perpendicular ao vetor velocidade. Alguns instantes depois, se a força continua a agir sobre o corpo, sempre em uma direção perpendicular à velocidade, o vetor velocidade encontrar-seá em outra direção, como pode ser visto na figura 2 abaixo: Aula 7 FIGURA 2 Nesta figura, observamos que, em dois instantes diferentes, o vetor velocidade se encontra em dois pontos diferentes e com direções diferentes. Como vimos na aula de vetores, podemos colocar estes dois vetores em um mesmo ponto de referência e realizar operações algébricas sobre eles. No lado direito da figura, mostramos os dois vetores V1 e V2 com o mesmo ponto de início e também o resultado de V2-V1 que chamaremos de ∆V. Podemos, então, verificar qual é a variação desta velocidade quando o tempo variou para obtermos a própria definição de aceleração média: Apesar de correta, esta equação não nos satisfaz, porque, entre o instante 1 e o instante 2, houve uma grande variação da velocidade. Observe o que estamos dizendo: FIGURA 3 125 Física Básica Este seria o resultado se tivéssemos entre os instantes 1 e 2 uma aceleração constante (em módulo direção e sentido). Para que tenhamos, efetivamente, um movimento circular uniforme, a aceleração precisa mudar continuamente, ou seja, precisamos que o intervalo de tempo entre os instantes 1 e 2 se torne muito pequeno... Esta é exatamente a definição da derivada. Vamos prestar alguma atenção a este ponto. Veja que a aceleração tem o mesmo módulo, direção e sentido da derivada da velocidade. Isto não quer dizer que a aceleração e a velocidade estejam na mesma direção! De fato, como pode ser visto na figura 2, a direção da aceleração (∆v/∆t) é perpendicular à velocidade. E isto realmente ocorre para todos os pontos da trajetória: a velocidade é sempre perpendicular à aceleração no MCU. Talvez a sua intuição lhe diga que esta última afirmação é um pouco forte demais. Imagine-se amarrando uma pedra à ponta de uma corda e coloque-a a girar em torno de você, utilizando seus braços para aplicar uma força na outra ponta da corda. Esta força não precisa ter uma parte (ou componente) na direção da velocidade da pedra para ela poder começar a girar. Se você apenas puxar a pedra, ela avançará em sua direção e não haverá MCU. Para chegar ao MCU, será necessário que, no início, você aplique uma componente da força em sua direção, e outra na direção de movimento. Com isso, a velocidade de rotação da pedra irá aumentando conforme você mantém esta força aplicada a uma componente na direção do movimento, ou componente “tangencial”. Isto quer dizer que, para iniciar o movimento circular, precisamos de uma força tangencial que confere uma aceleração tangencial. Esta aceleração tangencial altera a velocidade tangencial da pedra. Quando existe esta aceleração tangencial, a pedra se encontra em um regime de Movimento Circular não Uniforme! Somente quando esta componente se anula (ou seja, se torna igual a zero), e a única aceleração existente é na direção do centro da trajetória é que temos um MCU. Esta componente da aceleração é chamada de aceleração radial. No MCU, portanto, apenas um tipo de aceleração é responsável pelo movimento: a aceleração radial. A aceleração tangencial pode afetar o módulo da velocidade, mas não a sua direção. A aceleração radial não pode afetar o módulo da velocidade, mas afeta continuamente a sua direção. Precisamos, então, encontrar uma maneira de obter uma relação funcional entre esta aceleração radial 126 Movimento circular uniforme Aula e as variáveis do movimento: velocidade e raio do círculo. Para obter essa relação, vamos estudar juntos a figura 4 abaixo: 7 FIGURA 4 A parte A da figura 4 mostra uma parcela da trajetória de um MCU. Nela estão indicados os vetores posição e os vetores velocidade da partícula nos instantes 1 e 2. O ângulo formado entre os vetores posição é chamado de ∆θ. Os vetores velocidade foram copiados e colados na parte B e, como são perpendiculares aos vetores posição, então o ângulo entre eles também é ∆θ. Finalmente, em C, podemos observar o desenho de A, rodado de 90º para ficar idêntico a B. Todos os vetores que aparecem nesta figura são tratados nesta discussão como escalares: apenas estamos nos preocupando com os seus módulos. Por semelhança de triângulos, podemos dizer: e . Isolando ∆θ, chegamos à relação: Lembremos agora que a aceleração é dada por e, portanto, onde usamos ∆r/∆t=v. Esta relação é a final que obtemos para a aceleração centrípeta: Com a explanação desenvolvida até aqui, já podemos passar para alguns problemas que nos ajudarão a melhor compreender estas definições. Antes disso, no entanto, introduziremos um segundo tipo de sistema de coordenadas que é de grande importância no estudo de movimentos circulares: o sistema polar de coordenadas. 127 Física Básica O sistema polar de coordenadas utiliza dois parâmetros para designar a posição de um dado objeto: a distância deste objeto até a origem e o ângulo que a reta que une este ponto à origem faz com a horizontal. Verifique a figura 5 abaixo: FIGURA 5 Aqui observamos um objeto cuja localização pode ser definida por suas coordenadas cartesianas: (x,y). Esta é uma maneira perfeitamente válida para designar a posição, mas não é a única. Se fornecermos o par (r, θ), também definimos onde podemos encontrar o mesmo objeto. A informação sobre a localização de um ponto em um sistema de coordenadas pode ser usada para encontrar a localização do mesmo em outro sistema de coordenadas. Para transformar de um para outro, só é necessária a utilização das equações de conversão: 128 Movimento circular uniforme Com este novo sistema de coordenadas, é possível obter equações de movimento angulares, ou seja, as variáveis não são mais lineares, mas angulares. Podemos assim definir em analogia às equações lineares: Aula 7 No sistema cartesiano, identificamos as grandezas velocidade e aceleração com as variáveis v e a. No sistema polar, identificamos a velocidade angular com ω e a aceleração tangencial com α. As equações angulares ficam assim, quando comparadas com as lineares: É importante notar que no MCU, α é sempre igual a zero. A conversão das grandezas lineares para as angulares é feita, simplesmente, utilizando as seguintes relações: É importante manter em mente que as grandezas que aparecem do lado esquerdo destas equações correspondem às componentes tangenciais de vetores. A aceleração centrípeta, por exemplo, não pode entrar nessas equações. 129 Física Básica ATIVIDADES I. Qual é a aceleração centrípeta que a Terra sofre em sua trajetória ao redor do Sol? Quais são as aproximações necessárias para poder resolver este problema utilizando MCU? II. Uma pessoa normal que se esforça para fazer rodar uma pedra atada à ponta de uma corda foi capaz de fazê-lo a uma taxa de 8 revoluções por segundo quando a corda tinha um comprimento de 0,6 metros. Quando aumentou este comprimento para 0,9 metros, só foi capaz de fazê-la girar a uma taxa de 6 revoluções por segundo. Em qual dos dois casos a pedra se moveu mais rápido e qual o valor da aceleração centrípeta em cada um dos casos? III. Escreva uma equação de movimento para o movimento da Lua em torno da Terra. Assuma que, quando o cronômetro foi disparado, o ângulo que o raio vetor (que ligava os dois corpos) fazia era um ângulo de 37º com uma horizontal arbitrariamente definida por mim. COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES I. Comecemos pela segunda indagação. Para resolver este problema, será necessário tratar tanto o Sol quanto a Terra como pontos materiais, ou seja, partículas sem massa e sem volume; apenas abstrações. Em segundo lugar, deveremos assumir que a trajetória da Terra é circular, o que não é verdade. Se aceitarmos esta premissa, podemos tentar resolver o problema. A equação para o cálculo da aceleração centrípeta é conhecida: . Mas nós temos um probleminha aqui: qual é o raio e qual é a velocidade orbital? O raio pode ser obtido diretamente de qualquer tabela de constantes físicas, e o valor será de 1,496 X 1011 m. A velocidade angular nós não conhecemos, mas podemos fazer uma estimativa lembrando que a terra leva um ano para percorrer uma volta completa. Nós sabemos da geometria básica que o perímetro de um círculo é dado por: , onde r é o raio do círculo. No caso da órbita da Terra em torno do Sol, este perímetro corresponde à trajetória total da Terra em um período. O período é definido como o tempo que um corpo leva para completar uma volta completa em torno de outro. Existem definições mais completas e gerais, mas, para este nosso caso, podemos nos ater a esta mais simples. Sendo o período chamado de T, podemos definir 130 Movimento circular uniforme a velocidade orbital como a distância percorrida (ou o perímetro) dividido pelo período, ou matematicamente: Aula 7 Isto nos leva a uma nova formulação para a aceleração centrípeta em função do período orbital: Agora só precisamos saber qual é o período em unidades do SI: segundos. Isto é fácil: basta multiplicarmos o número de dias por vinte e quatro para saber o número de horas; o resultado é multiplicado por sessenta para saber o número de minutos etc. Podemos, agora, calcular a aceleração centrípeta: Este valor da aceleração centrípeta é três ordens de magnitude menor que a aceleração gravitacional como visto, por exemplo, na queda livre. O que você pensa sobre isto? Elas deveriam ser iguais? Ou são coisas totalmente diferentes? II. O início da solução deste problema passa pela interpretação de uma das informações que é dada em “revoluções por segundo”. No século passado, antes do advento do CD (compact disk), os discos musicais eram feitos de um material polimérico preto chamado vinil. A sua leitura não era digital, como os CDs, mas analógica: uma agulha era acoplada à superfície do vinil e micro-ranhuras em sua superfície transmitiam o som para o amplificador. A quantidade de músicas que cabia em um único disco dependia da qualidade de impressão das micro-ranhuras no vinil. Os 131 Física Básica de melhor qualidade (mais modernos) rodavam mais devagar e os mais antigos rodavam mais rápido. Tradicionalmente existiam três modelos: 78 rpm, 33 rpm e 16 rpm. Esta unidade, conhecida como rotações por minuto é a análoga à que aparece neste problema. Ela descreve quantas voltas o objeto realiza por unidade de tempo. Enquanto os “fonógrafos” utilizavam r pm, nós utilizamos RPS, rotações por segundo. Na verdade, esta é uma medida de freqüência – f, e a sua unidade no SI é 1/segundos, ou Hertz. Então, no primeiro caso, temos uma freqüência de 8 Hz e, no segundo caso, temos uma freqüência de 6 Hz. Como podemos perceber, esta freqüência tem unidades de inverso de tempo e, de fato, corresponde ao inverso do período discutido no problema anterior: Sendo assim, podemos calcular o período dos dois movimentos: Temos então a seguinte tabela de valores: Lembrando agora a discussão apresentada no problema anterior, podemos calcular as velocidades através da equação: E podemos também calcular a aceleração centrípeta através da equação 132 Movimento circular uniforme Podemos agora mostrar os resultados finais em outra tabela: Aula 7 III. A solução deste problema é muito mais fácil do que possa parecer, mas vamos trabalhar bem devagar para que seja possível apreciar todos os detalhes. Como foi estabelecida uma posição inicial para a Lua, vamos fazer um desenho para ilustrar a situação inicial. No desenho acima, fica clara a arbitrariedade do eixo x. Se nós girássemos o sistema cartesiano em 37º, faríamos coincidir o vetor posição com o eixo horizontal, mas não é este nosso objetivo. Para a correta resolução deste problema, precisamos de um valor médio da distância entre a Terra e a Lua, e também assumiremos que a órbita é circular. Este valor é facilmente encontrado na literatura: 3,84x108 m. Este, então, é o valor de r. Sendo o ângulo que este raio vetor faz com aquela horizontal igual a 37º, podemos calcular quais são as coordenadas cartesianas desta posição inicial: 133 Física Básica Assim, as coordenadas iniciais são: (3,07; 2,31)X108 metros. Agora devemos estudar a órbita da Lua. Como seriam as equações de movimento em coordenadas cartesianas? Comecemos com o vetor velocidade. No instante inicial, a velocidade da Lua tem uma componente vertical e outra horizontal. Vamos calcular seu valor! Sabemos que o período da Lua em torno da Terra é de 28 dias, que corresponde a 28X24X60X60 segundos, ou 2419200 segundos. Sendo assim, é fácil calcular o módulo de sua velocidade: Para calcular agora as componentes desta velocidade nas direções x e y, precisaremos decompor esta velocidade. Para isto, será útil dar uma boa olhada na seguinte figura. A partir desta figura, é fácil ver que existe um ângulo de 37º entre o vetor velocidade e a sua componente y, e de 53º (=90º - 37º); entre o vetor velocidade e sua componente x. Para obter esses valores, só precisamos então multiplicar o valor do módulo da velocidade pelo cosseno do ângulo em questão. Simples? Sim, é claro, mas existe um probleminha: um segundo após o disparo do cronômetro (na verdade, muito antes que isto), os ângulos que o vetor velocidade faz com a horizontal e 134 Movimento circular uniforme a vertical já mudaram! Eles mudam continuamente conforme o tempo passa. Verifique o que acontece na figura abaixo.: Aula 7 Em cada momento, ou seja, a cada local da trajetória o vetor velocidade apontará para uma direção distinta. Nos exemplos da figura, colocamos os instantes quando uma das componentes cartesianas é igual a zero. Este problema fica então muito difícil de resolver quando utilizamos coordenadas cartesianas. Mas não é preciso se preocupar, pois podemos utilizar as coordenadas polares. Quando fazemos esta opção, não precisamos mais saber o ângulo que o vetor posição faz com os eixos cartesianos, pois sabemos que ele sempre aponta na direção tangencial à curva! Temos então um caso muito simples onde tudo que precisamos saber é a posição angular inicial e a velocidade angular. Já vimos que o cronômetro é disparado quando o raio vetor que liga a Terra à Lua faz um ângulo de 37º com a horizontal. Isto quer dizer que θo=0,65rd=37º. A velocidade angular, por outro lado, pode ser obtida facilmente utilizando a equação: A equação de movimento limita-se, então, a: 135 Física Básica CONCLUSÃO O movimento circular uniforme é um equivalente do movimento retilíneo uniforme em sua formulação matemática. Apenas a variável angular é capaz de descrever completamente o movimento, assim como no caso do MRU. Em contraste com o caso linear, no entanto, o MCU necessita de uma força externa que mantenha o objeto de estudo em sua trajetória circular. Esta força externa também precisa ser exclusivamente radial, pois, de outro modo, causaria uma aceleração tangencial alterando a velocidade angular. Este último caso é chamado de movimento circular não uniforme e não faz parte de nossa ementa. Sem entrar no mérito de sua origem, discutimos brevemente a aceleração centrípeta que é facilmente calculável e ajuda a descrever completamente o movimento. RESUMO Esta aula trata do equacionamento do Movimento Circular Uniforme. A trajetória de um objeto sujeito a uma força central e que produz uma aceleração centrípeta (“em direção ao centro”) é estudado em detalhe. Discutimos sobre as variáveis utilizadas na descrição do movimento e sobre a utilidade de se usar coordenadas polares ao invés de cartesianas. É possível a conversão entre os dois sistemas de coordenadas e, nas atividades, fica evidente a conveniência de se utilizar um em detrimento do outro. O aparecimento, até certo ponto, de uma aceleração central pavimenta o caminho para a discussão da dinâmica dos corpos, materializada nas Leis de Newton, que serão apresentadas no decorrer do curso. PRÓXIMA AULA Na próxima aula, estudaremos as condições de forças aplicadas que possibilitam o equilíbrio de um corpo. Estudaremos também, com algum detalhe, metodologias para a determinação do centro de gravidade dos corpos extensos. 136 Movimento circular uniforme REFERÊNCIAS GIANCOLI, Douglas C. Physics for Scientists and Engineers. 3ed. New Jersey: Editora Prentice Hall, 2000. KELLER, Frederick J.; GETTYS, Edward & SKOVE, Malcolm J. Física. São Paulo: Makron Books, 1997. Trad. Alfredo Alves de Farias. Vol. 1. RESNICK, Robert; HALLIDAY, David & KRANE, Kennneth S. Física 1. 5ed. Rio de Janeiro: LTC Editora, 2003. Trad. Pedro M. C. L. Pacheco, Marcelo A. Savi, Leydervan S. Xavier, Fernando R. Silva. YOUNG, Hugh D. & FREEDMAN, Roger A. Física I - Mecânica. 10ed. São Paulo: Addison Wesley, 2003. Tradução: Adir Moysés Luiz. Aula 7 137 Aula PRIMEIRA E SEGUNDA LEI DE NEWTON 8 META Introduzir os conceitos de força e da primeira e da segunda Lei de Newton. OBJETIVOS Ao final desta aula o aluno deverá: definir com segurança e precisão o que é uma força em seu caráter filosófico e em sua natureza vetorial; aplicar a 1ª Lei de Newton para resolver problemas simples de dinâmica; definir massa e calcular a aceleração que a mesma sofre quando uma dada força é aplicada sobre ela; e utilizar a 2ª Lei de Newton para calcular mudanças nos estados de movimentos de objetos. PRÉ-REQUISITOS Conhecimento sobre trigonometria e vetores (Fonte: http://educar.sc.usp.br). Física Básica INTRODUÇÃO Bem vindos à nossa primeira aula de dinâmica. Enquanto a primeira parte do curso tratou da descrição quantitativa do movimento dos objetos, agora iniciaremos o estudo dos fenômenos que causam o movimento, ou mais apropriadamente, os fenômenos que alteram o estado de movimento dos objetos. Em contraste com as idéias de Aristóteles, Galileu propôs a moderna concepção de força, mas foi Newton o responsável por seu equacionamento e estabelecimento como base da física clássica. A primeira lei de Newton apresenta um conceito de fundamental importância na física: a Inércia. Este conceito é utilizado, não apenas na física clássica, mas também em uma de suas descendentes mais modernas: a relatividade. A segunda lei de Newton estabelece a relação entre a massa de um corpo e a aceleração que ela sofre quando uma dada força atua sobre ela. O conceito de massa confunde-se com o conceito de inércia: quanto maior a massa de um corpo, maior a sua inércia, ou seja, maior a força necessária para fazê-lo se mover. A aplicação de uma força sobre um corpo causa uma aceleração: essa é a dinâmica do movimento. Uma vez sujeita a essa aceleração, o estado de movimento se altera. Estes, serão, portanto, os assuntos a serem apresentados nesta aula. (Fonte: http://www.kaentrenosvip.hpg.ig.com.br). 140 Primeira e segunda Lei de Newton Nesta aula, iniciamos o estudo da dinâmica. Na primeira parte de nosso curso, estudamos como os objetos se movem, sem nos preocuparmos com as razões que os levam a se mover. Hoje iniciamos nossa aula com este tópico: o que é movimento? A questão, do ponto de vista da filosofia natural, foi proposta, originalmente, indagando o que causa um movimento e o que causa a mudança deste movimento. É uma pergunta complicada. Aula 8 Aristóteles, um dos grandes filósofos da Grécia clássica, contribuiu para responder a esta questão. Seus estudos sobre o movimento dos corpos chegaram aos nossos dias e indicam sua crença de que um movimento qualquer necessita de uma razão, e propôs três hipóteses: • Movimento natural – indica que os objetos buscam seu local natural, como por exemplo, uma pedra que, ao cair, busca seu local natural parada no chão. • Movimento voluntário – seria aquele efetuado pelos seres vivos obedecendo à própria vontade. • Movimento forçado – ocorre quando um objeto sofre a ação de outro objeto em movimento e passa assim a se mover também. Esta abordagem manteve-se por longos 2000 anos! Galileu iniciou uma nova era na análise do movimento quando mudou a pergunta. Segundo seu entendimento, não é importante saber o que é o movimento, mas apenas o que altera o movimento! É uma mudança e tanto! O grande engano de Aristóteles foi atribuído ao fato de não levar em consideração a força de atrito. Galileu notou que a afirmação: “um objeto que se encontra em repouso assim continuará independentemente se nenhuma força for aplicada a ele”, é equivalente a “se um objeto se encontra em movimento, ele assim permanecerá a não ser que uma força seja aplicada sobre ele”. Notaram a diferença? Os estados de repouso ou de movimento de um objeto são equivalentes. Podemos ainda ir um pouco mais longe. Lembra-se de nossa discussão a respeito de pontos e sistemas de referência? Ótimo. Você e eu, todos nós nos encontramos sobre a face da Terra. Estamos em repouso ou em movimento? Se você está agora sentado confortavelmente lendo este texto, pode argumentar que se encontra em repouso (não dormindo!). O mesmo vale para mim. Estamos assumindo que nosso sistema de referência se encontra em algum ponto perto (ou mesmo dentro) de nós. E para este sistema de referência nós estamos de fato em repouso. Aristóteles Galileu 141 Física Básica Vamos agora pegar este sistema de referência (você pode imaginar como sendo um trio de eixos cartesianos) e levá-lo para a Lua. Isto é o mesmo que colocar um observador na superfície da Lua que tenta nos ver com uma luneta. Para ele nós estamos em movimento! Um movimento muito complicado que envolve a rotação da Terra e a translação da mesma ao redor da Lua! Espere um pouco! Não é a Lua que gira em torno da Terra? Para um observador na superfície da Lua sem muita paciência para observar, é o oposto: a Terra gira em torno da Lua. Pode até parecer loucura, mas faz muito pouco tempo que descobrimos que o Sol não gira em torno da Terra. Mas este assunto pertence à História. O que nos importa aqui, neste momento, é reconhecer que dois observadores (dois pontos de referência) podem ver um objeto de maneiras distintas. Um exemplo mais prosaico seria o de uma pessoa sentada ao lado do motorista de um automóvel que passa velozmente por uma avenida. Para o passageiro (que leva seu sistema de referência), o motorista está parado. Para o pedestre que tenta cruzar a avenida, o motorista está em alta velocidade. A velocidade, portanto, depende do referencial e os estados de repouso ou de movimento são equivalentes. Precisamos voltar agora para nossa indagação original: o que causa mudança no estado de movimento de um objeto (a partir de agora deixaremos de enfatizar que este estado de movimento pode ser um estado de repouso)? Ao contrário de Aristóteles, Newton percebeu que apenas a interação entre dois corpos pode ser responsável por tal mudança. O movimento natural que Aristóteles menciona, por exemplo, não faz sentido. Uma bigorna que escorrega de suas mãos não vai encontrar o seu pé por ser seu “local natural”. Se você pegar um pedaço de um meteoro encontrado na superfície da Terra e soltá-lo, ele cairá para o solo, que, dificilmente, será considerado “local natural”. O que causa estes dois movimentos é simplesmente a atração gravitacional entre o corpo em questão e a Terra. Newton reconheceu que esta alteração de movimento só pode ocorrer quando existe uma interação entre os corpos, chamada de Força. De seus estudos anteriores, você deve ter aprendido que existem muitos tipos de forças: mecânica, elétrica, magnética, etc. Cada uma delas apresenta um tipo de interação diferente entre os corpos. As diferenças podem ser muito grandes, mas o resultado no movimento de um objeto pode ser o mesmo. Uma bola em repouso sobre o chão (no referencial do chão) pode ter seu repouso alterado por várias forças. Se ela começa a se mover em relação ao chão, podemos afirmar, com certeza, que uma força foi aplicada a ela. Podemos não conhecer a origem desta força, mas sabemos que ela 142 Primeira e segunda Lei de Newton está presente. Se a bola se encontrava parada e lentamente começou a se mover, aumentando gradativamente a sua velocidade, então alguma aceleração estava mudando sua velocidade (lembre-se que ). Esta aceleração é produto de uma força... Aula 8 Encontramo-nos agora equipados para explorar um pouco mais este conceito de força aplicada a um corpo que tem como resultado uma aceleração que muda seu estado de movimento. · Um objeto pode estar sujeito a mais de uma força ao mesmo tempo. Estas forças são grandezas vetoriais (têm módulo, direção e sentido) e podem ser somadas vetorialmente para se obter a Força Resultante. · Como grandezas vetoriais, as forças podem ter sinais positivos ou negativos, dependendo sempre do sistema de referência adotado. · As forças podem ser aplicadas quando os corpos estão em contato ou à distância. A Terra e a Lua não estão em contato físico, mas a força de atração entre elas é evidente. Podemos agora enunciar a 1ª Lei de Newton: “Se a força resultante aplicada sobre um objeto é igual a zero, então o seu estado de movimento não se altera” (Fonte: http://www.weno.com.br) 143 Física Básica SISTEMAS INERCIAIS DE REFERÊNCIA É importante saber que a primeira lei de Newton não vale em todos os sistemas de referência. Se você coloca o seu sistema de referência grudado a um automóvel e ele é acelerado, todos os objetos dentro do automóvel podem começar a se mover na direção oposta àquela do automóvel. Se a velocidade do automóvel fosse constante, todos os objetos estariam estacionários em relação ao automóvel. Pense especificamente em uma lata de guaraná sobre o painel: quando você acelera o carro faz com que o guaraná seja derramado em seu colo. Mas, nenhuma força foi aplicada sobre o guaraná! Então o seu movimento (ou repouso) foi alterado sem uma força ser aplicada, o que corresponde a dizer que a primeira lei de Newton foi violada... Os sistemas de referência onde a primeira lei de Newton é válida são conhecidos como sistemas inerciais. Quase sempre podemos assumir que os sistemas de referência acoplados à Terra são inerciais. Isto não é totalmente correto devido ao movimento de rotação da Terra, mas chega muito perto. Qualquer sistema de referência que esteja em repouso ou em movimento com velocidade constante em relação a um referencial inercial também será um referencial inercial. Quando um sistema de referência está sendo acelerado em relação a um sistema de referência inercial, dizemos que ele é não inercial. A primeira lei de Newton é então utilizada para definir se um sistema é ou não inercial. Esta é conhecida como a lei da Inércia. Vejamos algumas aplicações. ATIVIDADES I. Imagine-se correndo em volta de um campo de futebol com um copo cheio de água. Descreva o movimento do copo, da água e discuta as diferenças. II. Um engradado que pesa cerca de 100 N é levantado do chão a uma velocidade constante de 10 m/s. Chegando a uma altura de 10 m, fica parado por cerca de 10 s. Em seguida, é novamente baixado a uma velocidade de 10 m/s até o chão. Em qual destes três casos o guindaste precisa aplicar uma força maior? 144 Primeira e segunda Lei de Newton COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES Aula 8 I. Vejamos primeiramente o que acontece com o copo. É apenas um corpo sólido que está firmemente atado ao seu corpo. Neste sentido, ele pode ser considerado como fazendo parte do seu corpo. Quando você começa a correr, faz uma curva ou mesmo quando pára de correr, o copo não experimenta qualquer aceleração. O que acontece é que o seu sistema de referência está acoplado ao seu corpo e, portanto, não nota qualquer diferença nestes pontos do trajeto. A água, por outro lado, experimenta algo diferente. Todas as vezes em que você muda a sua velocidade, quando começa a correr, quando faz uma curva e quando pára, você também muda a velocidade do copo. A água então sofre forças aplicadas pelas paredes do copo nesses momentos de variação de velocidade e, então, é derramada. Quando está correndo a uma velocidade constante, a água não sofre qualquer força e se mantém estável (tirando é claro o movimento de sobe e desce natural de uma corrida). Você, provavelmente, apostou suas fichas no movimento de subida, certo? Se assim o fez, errou. Se você apostou na descida, também errou. Aliás, não era possível acertar. Em todos os três intervalos de tempo: subida, descida e espera, a velocidade foi constante ou nula. Ou seja, não havia qualquer força resultante sobre o container que o fizesse ser acelerado e, conseqüentemente, mudar de velocidade. Em todos os casos, a força aplicada pelo guindaste foi a mesma. Naturalmente que, por um breve instante, houve um desequilíbrio de forças que iniciou o movimento, mas, em seguida, o equilíbrio foi restaurado, e a velocidade se manteve constante. Você pode estar se perguntando para que serviram os valores da velocidade, tempo de espera e altura alcançada. Infelizmente, eles não fazem nenhuma diferença. SEGUNDA LEI DE NEWTON Como pudemos ver na 1ª Lei, os objetos têm uma tendência a manter seu estado de repouso ou de movimento. Isto é o mesmo que dizer que os objetos são resistentes às mudanças, todos eles têm inércia. Mas alguns corpos têm uma inércia maior que os outros? Com certeza, sim, e o que determina a quantidade de inércia de um corpo é a sua Massa. 145 Física Básica Um corpo mais massivo resistirá mais à força aplicada quando comparado a um corpo menos massivo. Imagine um barquinho de papel boiando em uma piscina. Assopre este barquinho. Ele se moverá? Com certeza, sim. Agora se imagine em um atracadouro e tente empurrar um navio cargueiro de 50 toneladas... Isto é inércia; isto é massa; isto é resistência ao movimento. Se uma mesma força é aplicada a dois corpos, aquele com menor massa sofrerá uma maior aceleração e, conseqüentemente, adquirirá uma maior velocidade. É o caso de um pai e filho se empurrando com as mãos sobre o gelo. A força será a mesma em ambos os corpos e corresponderá à força aplicada pelo pai mais a força aplicada pelo filho. Como o filho tem massa menor, será mais acelerado e sairá escorregando rapidamente. O pai, com sua maior massa, será pouco acelerado e mal sairá do lugar (o que lhe dará tempo de correr atrás do filho e evitar um desastre...). (Fonte: http://www.dancanogelobastidores.globolog.com.br). 146 Primeira e segunda Lei de Newton No sistema internacional, a massa tem unidade de quilogramas, a força tem unidade de Newton e a aceleração de metros por segundo ao quadrado (m/s2). Vejamos como podemos determinar a relação entre estas três variáveis para compreender a segunda lei de Newton. Através de alguns experimentos, podemos determinar que a força é diretamente proporcional à aceleração: se dobramos a força, dobramos a aceleração; se triplicamos a força, triplicamos a aceleração; e assim por diante. Com a massa é diferente: se dobramos a massa, dividimos a aceleração por dois, se triplicamos a massa, dividimos a aceleração por três. Isto nos diz que a massa e a aceleração são inversamente proporcionais: Aula 8 Temos, então, a estrutura funcional da segunda lei de Newton. Lembremos naturalmente que a força e a aceleração são grandezas vetoriais, e a massa é escalar. Nesta equação, estamos assumindo que apenas uma força atua sobre o corpo. Em um sistema real, várias forças atuam simultaneamente e a sua somatória vetorial é que define a resposta do corpo. Desse modo, podemos enunciar a segunda lei de Newton: “A aceleração de um objeto é diretamente proporcional à força resultante que atua sobre ele e inversamente proporcional à sua massa. A direção da aceleração é a mesma da força resultante”. É importante aqui estabelecer uma distinção que é corriqueiramente ignorada: massa e peso não são a mesma coisa! Você nunca vai à farmácia para se “pesar”. Você vai até lá para verificar se aquela feijoada aumentou a sua inércia. Sim, a sua massa é a sua inércia. É a sua resistência à uma força aplicada. Seria muito mais fácil carregá-lo no colo antes da feijoada, pois sua inércia aumentou muito depois dela. Então, simplificando, vamos à farmácia para medir a nossa massa. O peso é outra coisa completamente diferente. Se nós estivéssemos em um universo vazio, o nosso peso seria igual a zero. Se nós estivéssemos na Lua, o nosso peso seria muito menor que o nosso peso na Terra. Mas a massa seria a mesma em todos estes lugares. O peso depende de uma força! E esta força é a 147 Física Básica força gravitacional que nos atrai para este planeta. A força peso corresponde à massa do corpo multiplicado pela aceleração da gravidade, algo em torno de 10 m/s2. ATIVIDADES I. Um ônibus de cerca de 3500 kg de massa é acelerado de 0 a 30 m/s em 10 segundos. Qual é o valor desta aceleração e qual é a força necessária para alcançá-la? II. Uma bola com massa igual a 3kg sofre uma aceleração dada por: Determine a força resultante sobre esta bola, assim como a magnitude dela. Considere a figura abaixo: O corpo mostrado está apoiado em um plano inclinado (θ=30º). A altura do plano é de 20 metros, e a massa do corpo é de 35 kg. Levando em consideração que apenas a componente do peso, paralela ao plano inclinado, contribui para a sua aceleração, determine a velocidade com que o corpo chega ao final do plano. Qual é o valor da força resultante neste bloco? Um elétron tem massa de repouso igual a 9,11 x 10-31 kg. Partindo de uma velocidade inicial de 3.00 x 105 m/s, tem sua velocidade aumentada para 7.00 x 105 m/s em uma distância de apenas 5 cm. Assumindo que a aceleração sofrida seja constante, calcule a força necessária para provocar esta aceleração. O peso do elétron é relevante? 148 Primeira e segunda Lei de Newton COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES Aula 8 I. Para resolver esse problema, teremos que assumir que a aceleração é constante. Se este é o caso, então o seu cálculo é muito simples: E a força aplicada é obtida com a simples aplicação da segunda lei. II. Esse problema difere do primeiro apenas no que diz respeito ao caráter vetorial da aceleração. Não sabemos se a bola está em repouso e também não sabemos se ela se moverá sobre um plano. Não sabemos nem mesmo quais são as direções x e y. Na realidade, isto não importa. Vamos apenas utilizar a álgebra vetorial para resolver o problema: E, para a sua magnitude: III. Este problema já apresenta uma pequena complexidade, mas apenas em sua formulação. Poderíamos resolvê-lo vetorialmente ou somente através das componentes. Vamos trabalhar com as componentes. Primeiramente, notemos que a aceleração da gravidade faz um ângulo teta com uma linha perpendicular à face do plano inclinado. Sendo assim, podemos determinar facilmente qual é a componente paralela à face: Se sabemos que o corpo parte do repouso e não tem atrito com a superfície, então podemos simplificar este problema para o caso de um movimento uniformemente variado, onde tudo se passa na superfície do plano. Usamos então a equação de Torricelli: 149 Física Básica onde Ds indica a distância percorrida. Sendo a altura do plano igual a 20 metros, temos: Substituindo, então, na equação anterior, obtemos: O valor da força resultante é trivial: F=ma=35X5= 175 N (que corresponde exatamente à metade do peso do corpo) IV. Esse problema é muito interessante para a comparação da magnitude de forças totalmente desproporcionais. Vejamos a força necessária para provocar tal aceleração. Para determinar a aceleração só precisaremos utilizar a equação de Torricelli (mantendo as unidades no SI): Quatro trilhões de metros por segundo ao quadrado! Isto é uma aceleração estupenda, mas qual é a força necessária para consegui-la? Podemos ver que a força necessária é muito pequena. Mas, pequena em relação a quê? Vamos compará-la com seu peso: Este último resultado nos informou que a força necessária para acelerar o elétron é 12 ordens de magnitude maior que o peso do elétron. Podemos, portanto, ignorar totalmente a força gravitacional neste cálculo. 150 Primeira e segunda Lei de Newton CONCLUSÃO O estudo das causas das alterações do estado de movimento dos corpos pertence à dinâmica. A primeira lei de Newton pode ser utilizada para definir a massa de um objeto. Enquanto o senso comum nos indica que massa é o mesmo que quantidade de matéria, a abordagem newtoniana nos fornece uma definição muito mais precisa e elegante para a massa: é a quantidade de oposição imposta a uma força externa. A segunda lei de Newton nos permitiu relacionar a dinâmica com a cinemática quando relacionou a força aplicada a um corpo com a aceleração resultante sobre ele, mediada pela inércia do mesmo. Através destas duas leis, é possível descrever o movimento de qualquer objeto se soubermos o seu estado de movimento original e as forças aplicadas sobre o mesmo. Naturalmente, esta descrição não é simples na maioria dos sistemas reais, mas, para pequenos modelos, é possível a sua solução. Aula 8 RESUMO Nesta aula estudamos a primeira e segunda Lei de Newton. A massa é descrita como inércia de um corpo, e a relação entre uma força aplicada sobre um corpo e a respectiva aceleração podem ser equacionadas utilizando a massa como elemento mediador. Fazemos um breve histórico das idéias de força através dos tempos e oferecemos alguns problemas resolvidos para a fixação do conteúdo. PRÓXIMA AULA Na próxima aula, estudaremos a terceira e última lei de Newton. O conceito de ação e reação será abordado em profundidade propiciando ferramentas para o estudo posterior da estática dos corpos. REFERÊNCIAS GIANCOLI, Douglas C. Physics for Scientists and Engineers. 3ed. New Jersey: Editora Prentice Hall, 2000. 151 Física Básica YOUNG, Hugh D. & FREEDMAN, Roger A. Física I- Mecânica. 10ed. São Paulo: Addison Wesley, 2003. Tradução: Adir Moysés Luiz. KELLER, Frederick J.; GETTYS, Edward & SKOVE, Malcolm J. Física. São Paulo: Makron Books, 1997. Trad. Alfredo Alves de Farias. Vol. 1. RESNOCK, Robert; HALLIDAY, David & KRANE, Kennneth S. Física 1. 5ed. Rio de Janeiro: LTC Editora, 2003. Trad. Pedro M. C. L. Pacheco, Marcelo A. Savi, Leydervan S. Xavier, Fernando R. Silva. 152 Aula TERCEIRA LEI DE NEWTON 9 META Conceituar a força peso; e apresentar a terceira Lei de Newton. OBJETIVOS Ao final desta aula o aluno deverá: distinguir a massa dos objetos de seus pesos; calcular o peso de objetos em diferentes cenários; e utilizar a 3ª Lei de Newton para resolver problemas simples de dinâmica vetorial. PRÉ-REQUISITOS Conhecimento sobre álgebra, trigonometria, primeira e segunda leis de Newton e vetores. (Fonte: http://cepa.if.usp.br). Física Básica INTRODUÇÃO Bem vindos à penúltima aula deste primeiro módulo. Hoje apresentamos a terceira e última lei de Newton, conhecida como a lei da ação e reação. Sua formulação esclarece a necessidade de, pelo menos, dois corpos para que haja uma força: não existe uma força aplicada apenas a um corpo. O exemplo mais cabal desta afirmação pode ser detectado no movimento de planetas. O movimento da Lua, por exemplo, quando observado em um referencial inercial fora do sistema solar corresponde a uma composição de dois movimentos (muitos na realidade, mas principalmente dois): o de translação em torno da Terra e o de translação em torno do Sol. Trata-se de um movimento quase circular, o que exige uma força, que claramente só existe porque existem mais corpos para interagir (gravitacionalmente) com a Lua. De acordo com esta lei, quando aplicamos uma força a um corpo (ação), o corpo aplica uma força de igual intensidade, mas em sentido oposto sobre nós (reação). Estudaremos como diferenciar a segunda da terceira lei que, muitas vezes, são confundidas na resolução de exercícios. Grande parte desta aula será utilizada para a resolução de problemas de dinâmica e estática. 154 Terceira lei de Newton A terceira Lei de Newton é, de certo modo, mais interessante que suas antecessoras, pois introduz um conceito muito importante: a necessidade da existência de dois corpos para que exista uma força. Parece muito simples, e de fato é, mas precisa ser discutida em detalhe para que toda a idéia seja adequadamente compreendida. Vamos então enunciá-la: Aula 9 Se dois corpos interagem, a força exercida pelo corpo 1 no corpo 2 é igual em magnitude e tem direção oposta à força exercida pelo corpo 2 sobre o corpo1. Vamos relembrar agora as outras leis de Newton: 1. Todo corpo permanece em estado de repouso ou em movimento retilíneo uniforme se nenhuma força resultante atuar sobre ele; 2. A variação do estado de movimento de um corpo é proporcional à força aplicada sobre ele, e o fator de proporcionalidade é a sua massa, ou sua inércia. As duas primeiras leis explicam como uma força externa pode alterar o estado de movimento de um corpo. A terceira se refere a dois corpos. Observando a equação que colocamos acima, notamos que cada força mostra dois índices: 12 ou 21. A presença de dois índices indica que temos dois corpos e também indica quem aplica força em quem: o primeiro índice serve para indicar quem exerce a força e o segundo indica quem sofre esta força. A figura abaixo ilustra a situação. Enquanto o corpo 1 aplica uma força F12 no corpo 2, o corpo 2 aplica uma força F21 no corpo 1. As setas aparecem indicando a direção, o sentido e a intensidade da força. Quando um corpo exerce uma força sobre o outro, e sofre uma reação a partir do outro, dizemos que existe uma interação entre estes corpos. Esta interação 155 Física Básica pode ser através do contato entre estes corpos, mas também pode ser através de corpos distantes uns dos outros. Estas duas forças costumam ser chamadas de par ação-reação. Não se pode dizer quem é ação e quem é reação, e isto também não é relevante. O que é muito relevante agora é reconhecer esta lei nos problemas que apresentamos nas aulas anteriores. Veja, por exemplo, o movimento de um projétil na figura abaixo: A única força que aparece neste diagrama é a força da gravidade. A partir da primeira lei de Newton, sabemos que, como existe esta força atuando sobre o corpo de massa m, o mesmo não poderá manter uma trajetória retilínea. A partir da segunda lei de Newton, sabemos que, devido a esta força, o corpo de massa m estará sujeito a uma aceleração cujo módulo é dado por F/m. Mas a terceira lei de Newton nos afirma que não existe ação sem reação. Então, onde está a outra força? Será que ela se somará com a força gravitacional e anulará a primeira? Afinal de contas, elas têm mesmo módulo, mas sentidos opostos. Na terceira lei de Newton, as forças são aplicadas em corpos diferentes. Então quem é o outro corpo? A própria Terra! Sim, a Terra. A terceira lei de Newton nos diz que este corpo de massa m exerce uma força sobre a Terra cujo módulo é F, o que se traduz em uma aceleração cujo módulo é dado por F/M, onde M é a massa da terra. Pode parecer um absurdo, mas de fato nós aceleramos a Terra. Só não sentimos nada porque nossa massa é muito pequena. Vamos fazer um cálculo simples para saber que aceleração uma bolinha causa sobre a Terra. Suponha que aquele corpo da figura acima tem uma massa igual a 1 kg. Sendo a aceleração gravitacional aproximadamente igual a 10 m/s2, a força gravitacional (ou a força peso, ou a força que a Terra aplica no corpo) é igual a 10 N. A reação a esta força, em sentido oposto à primeira também tem módulo igual a 10 N. Sendo a massa da terra igual a 5,97 x 1024 kg, obtemos que a aceleração que a Terra sofre é da ordem de 10/5,97 x 1024, ou 1,68 x10-24 m/s2. Parece muito pouco e realmente é muito pouco. Lembre-se que este cálculo só faz sentido se o corpo se encontra muito próximo da superfície da Terra. 156 Terceira lei de Newton É importante se manter atento a este importantíssimo detalhe. Quando duas forças atuam sobre o mesmo corpo e se cancelam (com aceleração nula), o equacionamento do problema fica, suspeitamente, parecido com o caso da terceira lei de Newton, mas este não é o caso, pois para a terceira lei o que vale são forças em corpos diferentes. Os problemas que trabalharemos a seguir ajudarão a trazer mais luz para este conceito, ao mesmo tempo que permitirão uma revisão das três leis de Newton. Aula 9 ATIVIDADES I. Imagine que você possa acelerar um corpo de 1 kg com a aceleração que a Terra sofre pela atração com o mesmo. Quanto tempo demoraria a tirar este corpo do repouso e acelerá-lo a uma velocidade de 80 km/h? II. Uma massa de 10 kg é colocada sobre uma balança e a mesma é colocada dentro de um elevador. Faça um diagrama das forças presentes. Calcule a leitura da balança quando: a. O elevador está parado; b. O elevador está descendo a uma velocidade de 300 km/h; c. O elevador está sendo acelerado para cima a uma taxa de 10 m/s2. III. Um bloco de 10,0 Kg que descansa sobre uma mesa (sem atrito) é puxado por uma de suas extremidades superiores por uma força de 40 N direcionada como indicado abaixo. Determine a aceleração da caixa e a força normal exercida pela mesa sobre a caixa. IV. Uma carga de 200 kg deve ser erguida a certa altura e dispomos de uma corda e duas polias. De que maneira você poderia minimizar o seu esforço? E qual seria esta força necessária para levantar esta carga? 157 Física Básica V. Uma bola de massa m1 e um bloco de massa m2 são conectados por uma corda inextensível que passa por uma polia sem atrito e de massa desprezível como na figura abaixo. O bloco se encontra em um plano inclinado cuja inclinação é de q graus. Determine analiticamente o valor da aceleração e da tração aplicada sobre a corda. Se m1 = 10 Kg e m2 = 15 Kg, qual o valor de q que manterá o sistema em equilíbrio? COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES I. Para resolvermos esse problema, precisaremos converter esta velocidade para unidades do sistema SI: m/s. Isto é simples: consultando uma tabela de fatores de conversão, encontramos que 1 km/h = 0,2778 m/s. Então, 80 km/h = 80X0,2778 m/ s = 22,224 m/s. Agora só precisamos utilizar uma das equações horárias para determinar o tempo: Não é um tempo assombroso? Para melhor apreciar este número, vamos fazer mais algumas conversões: O universo iria derreter antes de ver esta bolinha andar... Esta é a nossa influência sobre a Terra. I. Vamos começar a discutir este problema com bastante paciência para compreender todos os passos sob a luz das leis de Newton. 158 Terceira lei de Newton a. Vamos considerar o nosso sistema quando o elevador está parado. Isto significa que poderíamos assumir que a balança está em uma farmácia de nosso bairro. Façamos uma “perguntinha inocente” para nós mesmos: se eu subir na balança, ela sairá do lugar? Ela sairá voando? Se você for como a maioria dos mortais, nada disto ocorrerá. A balança permanecerá parada em seu lugar. Ela estava em repouso no chão e assim continuou. A sua presença sobre a balança não faz com que ela seja acelerada, e isto quer dizer que a força resultante na balança é igual a zero. Isto quem nos informou foi a primeira lei de Newton... Dê agora uma boa olhada na figura abaixo. Aula 9 O bloco de 10 Kg também se encontra parado. A aceleração do bloco deve ser nula, uma vez que ele não está saindo do repouso. Podemos então utilizar a segunda lei de Newton para calcular quem são F1 e F2. Como a aceleração é nula, A força F2 é simplesmente a força peso: . Lembre-se que é simplesmente um versor indicando que a direção é vertical, e o sentido, para cima. Como existe um sinal negativo, a força é para baixo. A força que balança aplica sobre o corpo é conhecida como força normal. A força normal então só pode ter o valor 159 Física Básica de . Estas foram então as forças que atuaram sobre o bloco de 10 Kg. Não utilizamos ainda a terceira lei. A terceira lei nos informa sobre a fonte destas forças. Estas forças não podem existir apenas; elas precisam de seu par ação-reação. E quem são eles? Para começar, podemos lembrar que o bloco está aplicando uma força sobre a Terra tão intensa quanto aquela que a Terra está aplicando sobre ele: a força peso. Esta reação, no entanto, não é de modo algum a força F1. Esta força de reação está sendo aplicada sobre o centro da Terra. As forças utilizadas na segunda lei de Newton sempre atuam no mesmo corpo. Então quem é F1? Esta é a força que a balança exerce sobre o bloco para mantê-lo parado! É uma força de um corpo sobre outro. E aqui cabe a mesma pergunta: e quem é a reação a esta força aplicada pela balança? Simples, é a força aplicada pelo bloco sobre a balança, fazendo com que ela aponte uma massa de 10 Kg. a. Neste segundo caso nós temos um elevador descendo à velocidade espantosa de 300 Km/h. Para resolver este problema precisamos passar pela primeira lei de Newton novamente. Ele está acelerado? Se a velocidade é constante, então não está acelerado. Se ele não está acelerado, então se encontra em um referencial inercial, que pode ser trocado por outro referencial inercial. Falando mais claramente: se estamos olhando para a frente do edifício onde este elevador panorâmico está se movendo, nós vemos um elevador descendo alucinadamente rápido. Mas, o que diria uma pessoa que acabou de acordar dentro deste elevador e que não pode ver nada à sua volta? Ele não saberia dizer se está andando ou se está parado. Isto corresponde a colocar o referencial dentro do elevador. Então estas duas situações são idênticas: parado ou se movendo a uma velocidade constante. Então esta segunda parte do problema já está resolvida pois é idêntica à primeira. b. Esta última parte nos traz finalmente alguma emoção. Agora nosso sistema não está em repouso. A nossa segunda lei de Newton já pode ser usada para conhecer as forças que estão atuando sobre o bloco. Elas podem utilizar os mesmos índices que estão sendo usados na figura original. Vamos agora analisar o movimento: todo ele ocorre na vertical. Então, podemos transformar este problema vetorial em um 160 Terceira lei de Newton problema de uma dimensão, desde que tomemos cuidado com os sinais. O enunciado do problema nos diz que o elevador está sendo acelerado para cima, portanto, o sinal de a é positivo. Já vimos também que a força F-2 é a força peso do bloco. Esta força não depende do estado de movimento do bloco, esteja ele parado ou acelerado. Seu valor depende apenas de sua massa e tem o valor já calculado de 98,0 N. O que nós já podemos saber é que a força Normal F1- não é igual à força peso. Vamos então obter o seu valor: Aula 9 Como já discutimos, esta força é aquela aplicada pela balança no bloco para mantê-lo sobre a sua superfície (lembre-se ele não sai voando). Então, a esta ação, obtemos uma reação, que é a força que o bloco exerce sobre a balança. Já não é simplesmente a força peso. É uma força aplicada para baixo com uma intensidade de 198 N. Como a balança está calibrada para dividir a força a que ela é sujeita por 9,8 para dar uma leitura da massa, tudo que temos que fazer é efetuar esta divisão: . A massa aparente, m’, que corresponde à leitura da balança, é aproximadamente 20 Kg. Este problema nos traz um novo desafio que é o tratamento das leis de Newton em duas dimensões. Começaremos fazendo um diagrama das forças que atuam na caixa: Como já vimos anteriormente, a força peso só depende da massa da aceleração da gravidade. O seu valor é facilmente calculado, multiplicando um pelo outro para obter um valor 161 Física Básica igual a 98N. A força aplicada externamente sobre o corpo é dividida entre a normal aplicada pela mesa e aquela exercida pela pessoa que a está puxando. Esta última tem seu valor conhecido, mas a outra não. Para responder às perguntas deste problema, precisaremos utilizar as leis de Newton. A segunda lei será utilizada agora. Para isto, precisaremos utilizar a linguagem vetorial. Vamos estabelecer um sistema de coordenadas cartesiano que nos ajudará a visualizar as componentes destas forças. Agora apliquemos a segunda lei de Newton: Todas as forças estão aqui equacionadas e o problema parece difícil, mas não é. O problema se torna muito mais fácil se dividirmos em componentes: Componente X: Componente Y: Estamos, agora, com um problema mais fácil de resolver. Na componente X , temos uma conta trivial que nos diz que . Na segunda equação, precisamos tomar um certo cuidado. A força peso é maior ou menor que a componente 162 Terceira lei de Newton vertical da força aplicada pela pessoa que puxa a caixa? Esta última é simplesmente , ou seja, é menor que o peso. Sendo assim, a caixa não perderá contato com a mesa o que equivale a dizer que a aceleração vertical ay é igual a zero. A força nor mal pode ser facilmente calculada agora: . Lembre-se de que esta força normal é igual e oposta à força que a caixa aplica sobre a mesa. Ela não é a força peso apenas: é a força peso menos parte da força exercida pela pessoa que puxa. I. Existem infinitas maneiras de trabalhar com esta corda e estas polias, mas vamos nos concentrar em três configurações básicas que serão suficientes para ilustrar o problema. Considere a figura abaixo: Aula 9 Nós estamos assumindo que a corda não é elástica. Sendo assim, podemos afirmar que a força aplicada em uma ponta da corda é igual àquela aplicada à sua outra ponta. Chamaremos esta força de Tração. Consideremos, então, a carga na primeira das configurações. A força peso é sempre a mesma e é dada pela massa multiplicada pela aceleração da gravidade. Vamos, agora, arredondar a aceleração da gravidade para 10 m/s2. Sendo assim, a força peso é sempre 2000 N. Se a carga está sendo suspensa a uma velocidade constante, sua aceleração é zero, o que indica que a força resultante sobre ela é nula. Se isto é verdade, então a tração é igual ao peso, ou 2000 N. Como na outra ponta da corda, temos uma pessoa equilibrando a tração ao aplicar uma força F, seu valor deve ser 2000 N. Esta polia 163 Física Básica não ajudou muito. Se puxássemos diretamente esta carga, daria no mesmo. Apesar de ser um sistema simples, faremos um diagrama de forças para que facilite a visualização. A tração é, então, igual ao peso e igual à força aplicada. No segundo caso, utilizamos duas polias, mas o resultado não é bom. A força peso ainda é a mesma, 2000 N. A tração continua a mesma e, mudando a posição da pessoa, não ajuda em nada, pois a força que ele precisa usar para puxar a carga continua a mesma. No terceiro caso, temos uma novidade que vale a pena apreciar utilizando novamente o diagrama de força: Ao prender uma das extremidades da corda no suporte de levantamento, foi possível dividir o esforço por dois! Veja como: o peso continua o mesmo, 2000 N, mas a segunda lei de Newton aplicada sobre a carga (com aceleração zero) nos diz que O esforço foi, assim, dividido entre a pessoa, e o suporte e seu esforço caiu à metade. Por isso, é tão interessante o uso de polias para lidar com grandes massas. I. Uma resolução analítica é aquela onde não usaremos números, teremos apenas as equações que serão posteriormente utilizadas para obter resultados numéricos. Aqui novamente precisaremos utilizar as três leis de Newton para resolver o problema. A primeira observação que temos a fazer é em relação 164 Terceira lei de Newton ao equilíbrio do sistema: a bola está caindo e puxando o bloco; ou o bloco está escorregando e puxando a bola? Na verdade, isto depende de θ, mas podemos assumir qualquer uma das duas possibilidades uma vez que o resultado será o mesmo. Vamos ,então, assumir que a bola está caindo acelerada. Precisamos agora desenhar o diagrama de forças em cada um dos corpos. Comecemos pela bola: Aula 9 Como todos os vetores estão na direção y, podemos aplicar a segunda lei de Newton diretamente. Note que a tração aponta para cima, enquanto a gravidade e a aceleração apontam para baixo, e é esta a razão de usarmos estes sinais. Para o bloco, precisamos de um novo diagrama de forças. Poderíamos utilizar o mesmo sistema cartesiano, mas isto não é necessário. Vamos colocar um novo sistema cartesiano inclinado em relação ao primeiro. Pode parecer uma complicação a mais, mas o desenho abaixo irá facilitar a visualização. 165 Física Básica Esta pequena mudança de orientação dos eixos cartesianos e a divisão da força-peso em suas componentes facilitaram todo o nosso trabalho. Veja que a força peso aparece duas vezes no gráfico. Ela aparece em sua direção real e também aparece em suas componentes. Para aplicar a segunda lei de Newton, necessitamos apenas das componentes. No problema anterior, escrevemos a equação vetorial e depois utilizamos as suas componentes. Agora já podemos ir diretamente para as componentes: Componente X: Componente Y: Podemos agora inserir na equação da componente X a expressão de T obtida no diagrama da bola: E, simplificando esta equação, obtemos o valor da aceleração em função das massas e do ângulo de inclinação: Para obter a tração, só precisamos agora substituir este valor de aceleração na primeira das equações: Simplificando esta equação obtemos: As fórmulas podem parecer um pouco assustadoras, mas são apenas isto, fórmulas. Podemos fazer agora o cálculo numérico pedido, onde m1 = 10 Kg e m2 = 15 Kg e a aceleração é zero. Simplesmente substituímos os valores na equação da aceleração para obter a resposta. A resposta, portanto, é um ângulo de aproximadamente 41º. 166 Terceira lei de Newton Aula CONCLUSÃO 9 Vimos, então, que a terceira lei de Newton, em seu aspecto filosófico, é uma ferramenta para a resolução de alguns problemas, inclusive os problemas clássicos que são propostos na maioria dos livros de Física para o curso superior. RESUMO A utilização criteriosa das três equações de Newton é suficiente para a resolução de uma série de problemas simples de mecânica vetorial. A terceira destas leis tem uma particular importância no que tange à interpretação física das interações. Com ou sem contato, nunca existe uma única força. A toda ação existe uma reação. O ponto mais importante desta lei é o entendimento de que estas forças sempre atuam em corpos diferentes. A utilização da segunda lei de Newton em um corpo onde a aceleração é nula propicia um sistema de equações que é semelhante à ação e reação, mas o espírito desta lei é o de que ela se aplica a um único corpo sujeito a várias forças. PRÓXIMA AULA Na próxima aula, passaremos ao estudo dos sistemas dissipativos onde as forças de atrito precisam ser consideradas. A partir destes conceitos e considerações, serão desenvolvidos novos elementos de estudo, principalmente a velocidade terminal dos corpos que estão sujeitos ao atrito. REFERÊNCIAS GIANCOLI, Douglas C. Physics for Scientists and Engineers. 3ed. New Jersey: Editora Prentice Hall, 2000. YOUNG, Hugh D. & FREEDMAN, Roger A. Física I- Mecânica. 10ed. São Paulo: Addison Wesley, 2003. Tradução: Adir Moysés Luiz. KELLER, Frederick J.; GETTYS, Edward & SKOVE, Malcolm J. Física. São Paulo: Makron Books, 1997. Trad. Alfredo Alves de Farias. Vol. 1. RESNOCK, Robert; HALLIDAY, David & KRANE, Kennneth S. Física 1. 5ed. Rio de Janeiro: LTC Editora, 2003. Trad. Pedro M. C. L. Pacheco, Marcelo A. Savi, Leydervan S. Xavier, Fernando R. Silva. 167 Aula VELOCIDADE TERMINAL 10 META Estender as Leis de Newton a sistemas dissipativos; e introduzir o conceito de velocidade terminal OBJETIVOS Ao final desta aula o aluno deverá: calcular a força de atrito resultante do contato entre duas superfícies reais; escrever as equações de movimento na presença de forças de atrito; e calcular a velocidade terminal de corpos acelerados e sujeitos a forças dissipativas PRÉ-REQUISITOS Conhecimento sobre álgebra, trigonometria, leis de Newton e vetores. Experimento com viscosímetro de Stokes. Para medir a viscosidade de um líquido, uma esfera é lançada no topo do viscosímetro e desce com velocidade terminal (a seta indica a posição instantânea da esfera). A velocidade da esfera é medida e obtém-se a viscosidade. (Fonte: http://img144.imageshack.us). Física Básica INTRODUÇÃO Bem vindos à última aula do primeiro módulo. Estenderemos, aqui, as leis de Newton e nossos estudos de cinemática vetorial para sistemas dissipativos – aqueles que perdem energia por enfrentar oposição ao movimento. A primeira parte da aula trata da força de atrito que existe entre duas superfícies reais. Será estabelecida a distinção entre a força de atrito estática, que impede o movimento, e a força de atrito dinâmica, que retarda o movimento. Alguns exemplos já trabalhados em outras aulas serão revisitados, adicionados à força de atrito. O movimento dos corpos será estudado de maneira mais realista ao introduzir o conceito de força de arrasto. O problema da queda livre, que é sempre estudado nos cursos secundários, será aprimorado ao adicionarmos a força de arrasto que limita a velocidade que um corpo pode adquirir. Veremos que, em ambientes densos, a viscosidade é responsável por um importante parâmetro conhecido como velocidade terminal. Mencionaremos brevemente também o conceito de limite e equações diferenciais, permitindo a você um vislumbre de ferramentas matemáticas mais poderosas que estarão à sua disposição. (Fonte: http://www.cepa.if.usp.br). 170 Velocidade terminal Hoje nos aproximaremos da realidade física. Até nossa última aula trabalhamos quase exclusivamente com sistemas idealizados, ou seja, irreais. A principal falha nestes exemplos era a falta de uma força presente em praticamente tudo: a força de atrito. Nossas equações de movimento não levam em consideração a força de atrito. Imagine que dois blocos idênticos são colocados, um sobre uma superfície de gelo, e outro sobre o asfalto. Uma força igual é aplicada durante algum tempo nos dois corpos e depois pára. A aceleração dos dois corpos será a mesma? Segundo as leis de Newton, como as vimos até agora, sim. Se a aceleração é a mesma, então o movimento destes dois corpos deveria seguir a mesma equação horária: . Agora pense um pouco a respeito da seguinte cena: imagine que num lago congelado ao lado de uma estrada, dois blocos estão parados na superfície e duas crianças empurram os dois blocos. Eles realmente se moverão da mesma maneira? Com certeza não. A diferença se encontra, pelo menos formalmente, na força de atrito. Vamos então tentar compreender que coisa misteriosa é esta força de atrito. A força de atrito existe sempre entre, pelo menos, duas superfícies em contato. À primeira vista, pode parecer que duas superfícies são lisas, mas quando olhamos com a ajuda de um microscópio, a situação fica diferente. O desenho abaixo ilustra esta situação: Aula 10 A superfície real é cheia de incrustações que funcionam como verdadeiros obstáculos ao movimento. Em alguns pontos da interface, a proximidade entre as duas superfícies é tão grande que se formam “micro-soldas”. Estas micro-soldas são as principais responsáveis pela dificuldade que temos para arrastar um objeto. Olhando a figura anterior, perceberemos que estes pontos de contato são relativamente poucos. A maior parte da superfície superior nem está em contato com a superfície inferior. Na realidade, a área “real” de contato é muitas vezes menor que a área geométrica da interface. O atrito então depende da quantidade destes pontos de contato. 171 Física Básica Vamos aprofundar um pouco mais este conceito. Se colocarmos dois blocos de madeira sobre o asfalto, o atrito será o mesmo? Podemos imaginar que o asfalto e a madeira são relativamente homogêneos e, portanto, duas fotografias microscópicas das duas interfaces serão muito parecidas. Isto significa que o número de micro-soldas será aproximadamente igual. E, de fato, os atritos serão muito parecidos. O que acontecerá, no entanto, se alguém se sentar sobre um dos blocos? Esta massa colocada sobre o bloco causará uma deformação na interface. O material que for mais mole, a madeira ou o concreto, irá sofrer deformações se aumentar o número de micro-soldas, e conseqüentemente, o atrito. À primeira vista, poderíamos concluir, então, que a força de atrito depende do peso do bloco, mas isto não é verdade. A força peso é sempre direcionada para o centro da Terra e o atrito nem sempre aparece entre superfícies horizontais. Veja a figura abaixo: Uma das pernas da mesa quebrou e o pacote agora está inclinado. Houve alguma alteração na força peso do pacote? Evidentemente não. E a força de atrito, mudou? Com certeza! Se tentarmos empurrar o pacote para baixo será mais fácil quando comparado com a mesa intacta. Por outro lado, se tentarmos empurrar para cima, nós teremos maior dificuldade em comparação com a mesa horizontal. Mas se a força peso não mudou e muito menos a qualidade dos materiais, o que mudou então? Foi a força normal! A reação da mesa ao peso do bloco. O diagrama abaixo mostra todas estas forças. 172 Velocidade terminal Pelo diagrama e pela segunda lei de Newton, já sabemos que a força normal é: . Isto nos mostra que quanto mais inclinada a mesa, menor a força normal. Como sabemos intuitivamente que quanto mais inclinado, menor o atrito para o pacote escorregar, podemos concluir que a força de atrito de fato depende da força normal. Resta uma questão: se a força de atrito é proporcional (e vamos assumir linear) à força normal, qual é o fator de proporcionalidade? Podemos dizer que este fator depende dos materiais dos corpos, do polimento dos corpos, da presença de lubrificantes ou sujeira, etc. E, de fato, é assim, mas é praticamente impossível fazer um modelo de interação e calcular este fator de proporcionalidade. Este fator é obtido experimentalmente para os mais variados pares de superfície e tabelado. Este fator se chama “coeficiente de atrito” e é representado pela letra grega m. Podemos, então, formular esta relação: Aula 10 FN é a força normal. Como as duas forças, a de atrito e a normal, têm as mesmas dimensões, o coeficiente de atrito é um número puro, ou adimensional. Poderíamos já fornecer uma tabela com estes coeficientes, mas é necessário que a estudemos um pouco mais. Imagine que sobre uma mesa horizontal se encontra uma caixa de sapatos de 10 Kg. Esta caixa tem um peso igual a 98 N e, por estar em uma mesa horizontal, a reação normal é também 98 N. Enquanto esta mesa estiver na horizontal, a força normal não mudará: será sempre 98 N. E qual é a força de atrito? Nós já conhecemos a fórmula, vamos dizer que m=0,5. Qual é a força de atrito? Pela fórmula, a força de atrito seria simplesmente: . Perfeito, temos o módulo da força de atrito. Em qual direção e sentido ela aponta? Se esta direção e sentido tiverem uma componente horizontal, então a caixa irá se mover! Isto está correto? Não. A força de atrito só existe em oposição ao movimento. Se tentarmos arrastar esta caixa, aparecerá uma força de atrito. Esta força de atrito se opõe ao movimento, mas ainda não sabemos qual o seu valor. Veja a figura abaixo: 173 Física Básica Nós podemos ver duas forças: uma externa e uma de atrito. Vamos supor que esta caixa seja aquela de 10 kg e que seu coeficiente de atrito seja igual a 0,5. Sendo assim, a nossa equação nos diz que a força de atrito vale 49 N. Se Fext =10 N, o que acontece? A força de atrito é maior que a força externa, e como elas não se cancelam existe uma força resultante. Se há uma força resultante e a caixa está em repouso, então ela começará a se mover, conforme esperado quando se conhece a primeira lei de Newton. A caixa realmente vai se mover contrariamente à força externa? Não, de modo algum! Mas se ela não se move, ou seja, não muda o seu estado de movimento, então a força resultante na caixa precisa ser zero. Já vimos que a força peso está contrabalanceada pela força normal da mesa sobre a caixa. Sendo assim, podemos assumir que a força de atrito é igual à força externa! Mas podemos nos perguntar: e aquela equação, não é verdadeira? Sim, mas apenas no limite. A equação que descreve a força de atrito só nos diz qual é o limite que o atrito pode chegar para se opor ao movimento. Se a força externa for maior que 98 N, a força de atrito não será suficiente para anulá-la, e a caixa se moverá. Então podemos concluir que a força de atrito é sempre igual à força externa até o limite dado por . Passado este limite, a força de atrito não cresce mais e se torna constante. Esta força de atrito que discutimos até agora, que varia com a força externa, só é válida quando o corpo está em repouso em relação à outra superfície. Por esse motivo, é conhecida como força de atrito estática. Lembre-se de que grande parte dessa força é proveniente daquelas micro-soldas que existem no nível molecular. Quando a força externa é suficiente para romper estas micro-soldas, a caixa começa a se mover e, sem estas micro-soldas, o coeficiente de atrito diminui! Isto significa que existe uma grande dificuldade para colocar um corpo em movimento quando ele está parado. Precisamos aumentar gradativamente a força até conseguir romper estas micro-soldas e começar a mover o corpo. Depois disso fica mais fácil mover o corpo. O coeficiente de atrito então pode ter dois valores. Como a força normal não muda, esteja o corpo em repouso ou em movimento, então a única maneira de explicar esta diminuição da força de atrito é através de uma diminuição do coeficiente de atrito. Será ilustrativo estudar o gráfico ao lado. 174 Velocidade terminal Veja que a força de atrito cresce enquanto a força externa cresce. Ao chegar ao limite de 98 N ocorre o rompimento das microsoldas, e a força de atrito diminui até um valor constante. Esta segunda força de atrito só existe quando o corpo está em movimento e, por isso, é chamada de dinâmica. Correspondentemente, o seu coeficiente de atrito é chamado de dinâmico. Podemos agora mostrar uma pequena tabela onde os valores dos coeficientes de atrito estático e dinâmico estão mostrados para vários pares de materiais. Lembre-se de que estes valores são experimentais e dependem, fundamentalmente, das condições em que foram medidos. Aula 10 Com estes dados, já podemos resolver alguns exercícios para melhor compreender estas forças de atrito. ATIVIDADES I. Um bloco de madeira cuja massa é igual a 10 kg é puxado por uma de suas extremidades superiores sobre uma superfície de metal. A força aplicada a esta extremidade tem módulo igual a 40 N e faz um ângulo de 30º em relação à horizontal. Determine a aceleração resultante quando m=0,3 e escreva a equação horária deste bloco. II. Um bloco encontra-se em repouso sobre um plano inclinado que faz um ângulo q com a horizontal. Podendo-se variar este ângulo, é possível determinar qual é o ângulo crítico que corresponde à máxima força de atrito estática antes do início do movimento. Obtenha este ângulo. 175 Física Básica Um bloco de massa 10 kg se encontra em repouso sobre um plano inclinado que faz um ângulo de 37º com a horizontal, como na figura abaixo. O coeficiente de atrito estático entre o bloco e o plano é 0,4 e o bloco está ligado a uma bola cuja massa é m1. Determine qual é o mínimo valor de m1 para não deixar o bloco deslizar para baixo e também qual é o máximo valor de m1 que não arrasta o bloco para cima. COMENTÁRIOS SOBRE AS ATIVIDADES Um diagrama das forças existentes neste problema irá ajudar a resolvê-lo. Considere a figura abaixo: 176 Velocidade terminal A aplicação da forma vetorial da segunda lei de Newton permitirá a solução: Aula 10 Comecemos com a componente y: Obtida a força normal, podemos resolver a componente x: Sendo esta a aceleração horizontal do bloco, podemos facilmente escrever as equações horárias: A solução deste problema só é possível com um equacionamento correto do problema. Precisamos, portanto, de um diagrama de forças como o mostrado abaixo: Note que a força peso aparece como o vetor original e também dividido entre suas componentes. Para equacionar o problema, não podemos contar esta força duas vezes. Vamos neste problema assumir um sistema cartesiano de coordenadas cujo eixo x é paralelo ao plano inclinado apontando para baixo e cujo eixo y é perpendicular a este e apontando para cima. Procedendo deste modo chegamos a duas equações baseadas na segunda lei de Newton sabendo que a aceleração é nula: 177 Física Básica Se substituirmos a primeira na segunda, obtemos: Além de muito simples, este método é utilizado experimentalmente para a determinação do coeficiente de atrito estático. I. A presença da bola na ponta daquela corda pode dar a impressão de que o problema é mais complicado do que realmente é. Um bom truque para simplificar a nossa vida é lembrar que, se os corpos estão parados, então a força peso que atua sobre a bola é igual à tração nas duas pontas da corda, ou seja, Imediatamente, concluímos que . Uma vez obtida esta informação, podemos passar para a análise do bloco sem a presença da bola, apenas com mais uma força. No enunciado do problema, foram propostas duas situações, sendo que na primeira delas queremos determinar qual o valor mínimo de m1 para que o bloco não escorregue para baixo. Nesta situação, a força de atrito aponta para cima, e o diagrama de forças é dado por: 178 Velocidade terminal O equacionamento destas forças é simples como em todos os outros casos: Componente X: Aula 10 Componente Y: Podemos substituir a segunda equação na primeira, pois a força de atrito depende da força normal: Agora podemos substituir os valores dados no problema para calcular m1. Este é, então, o valor mínimo para a bola pendurada. Se a massa dela for menor que 2,8kg, o bloco escorregará e ela será puxada para cima. No segundo caso, onde queremos conhecer o limite superior da massa da bola antes que ela comece a arrastar o bloco para cima, o diagrama de forças é ligeiramente diferente, pois a força de atrito aparecerá na direção contrária: 179 Física Básica O equacionamento naturalmente também é diferente: Componente X: Componente Y: E, fazendo a mesma substituição do caso anterior, obtemos: E, utilizando os valores propostos (já retirando g da equação): Concluímos, assim, que se a massa da bola for maior que 9,2kg, ela arrastará o bloco para cima. VELOCIDADE TERMINAL A força de atrito que acabamos de estudar não é a única que limita o movimento dos corpos. Uma segunda classe de forças é conhecida como Forças de Arrasto. Estas forças aparecem em corpos que se movem dentro de ambientes com alguma viscosidade. Você já sentiu esta força de arrasto enquanto corria em um parque, mas provavelmente já percebeu que esta força é muito mais intensa dentro de uma piscina. Agitar os seus braços dentro ou fora da água causa uma grande diferença. A diferença aqui aparece por causa da diferente viscosidade destes dois meios, ar e água. Se houvesse uma piscina cheia de mel, o seu movimento dentro dela seria ainda mais difícil, devido à maior viscosidade do mel. Vemos, então, que a força de arrasto depende da viscosidade do meio. Quando vemos alguns jovens correndo com suas motocicletas, notamos que os mais rápidos se encolhem todos sobre suas máquinas. Este recurso é utilizado para diminuir a área que está enfrentando o vento. De fato, este é um dos truques utilizados pelos pilotos de motocicletas em corridas: nas retas, onde a velocidade deve ser a máxima possível eles ficam deitados sobre as motos e, quando vão fazer uma curva, endireitam o corpo para ajudar a diminuir a velocidade. Isto indica que a área do corpo que está se movendo também é importante na força de arrasto. 180 Velocidade terminal Em contraste com a força de atrito, a massa não se relaciona com a força de arrasto e foi experimentalmente verificado que a força de arrasto depende da velocidade do corpo. Modelar como é esta relação entre força e velocidade não é trivial. A relação nem precisa ser linear, ou seja, a força pode variar com o quadrado e o cubo da velocidade (e até mesmo com outras potências). Estes termos não lineares podem ter uma grande influência nesta relação, mas, por simplicidade, trabalharemos apenas com a parte linear desta relação: a força de arrasto depende da velocidade . O fator de proporcionalidade, que corresponderia ao coeficiente de atrito no caso anterior, pode ser chamado de coeficiente de arrasto e depende de muitos fatores, não apenas dos materiais. Uma pedra de formato irregular, por exemplo, se estiver caindo em queda livre e girando em torno de algum eixo que passe pelo seu centro, terá, a cada segundo, uma área diferente. Esta diferença aparece porque a área que conta neste caso é a área da pedra que está perpendicular ao movimento. A figura abaixo ilustra a situação. Aula 10 Podemos ver então que este coeficiente não pode ser facilmente tabelado, e o seu estudo é o objeto da aerodinâmica. Como não podemos resolver este problema, vamos ignorá-lo e tratar apenas dos problemas onde já conhecemos este coeficiente. Vamos chamálo de k para poder obter uma equação. É bom notar que nesta equação aparecerá o sinal negativo, pois a força de arrasto é sempre na direção oposta à velocidade: 181 Física Básica Com esta equação já podemos trabalhar com a segunda lei de Newton para estudar o movimento de queda dos copos sob a ação da gravidade, mas com arrasto. O diagrama de forças abaixo ilustra a situação. A partir deste diagrama, podemos então escrever: Vemos, então, que nesta equação aparece a velocidade e a derivada da velocidade em relação ao tempo. Este tipo de equação é conhecido como equação diferencial, e a sua resolução, apesar de simples, não faz parte do programa deste curso. Apresentamos então a solução diretamente: No caso da queda livre (sem arrasto), a velocidade aumentava linearmente com o tempo, pois a equação horária é: Esta equação nos diz que a velocidade aumenta continuamente, sem limite. A equação que leva em consideração o arrasto, por sua vez, impõe um limite. Na figura abaixo, podemos ver, na linha tracejada, como a velocidade se comporta em queda livre e, na pontilhada, o que acontece quando a força de arrasto é levada em consideração. 182 Velocidade terminal Aula 10 Podemos ver que existe um limite para a velocidade a ser alcançada. Para determinar as situações limites, ou seja, quando o corpo iniciou a sua queda e quando muito tempo se passou, utilizamos um elemento de cálculo diferencial conhecido como limite, que é o cálculo diferencial básico, mas que não faz parte de sua formação. Vejamos como isto funciona: Se substituirmos este valor na equação da velocidade, obteremos (para os instantes iniciais do movimento): Mas, esta seria exatamente a velocidade se não houvesse força de arrasto. Isto nos indica que a força de arrasto realmente cresce com a velocidade, sendo praticamente nula quando o tempo é próximo de zero. Podemos também nos perguntar o que acontece quando muito tempo se passou. O que nos dá a seguinte expressão para a velocidade: Aqui já introduzimos o índice t que indica tratar-se de velocidade terminal. Este é um valor fixo e de grande importância em 183 Física Básica várias situações. Se você resolvesse saltar de pára-quedas de uma altura de 1000 metros e ele não abrisse, você chegaria ao solo com uma velocidade de aproximadamente 500 km/h e o estrago seria muito grande. Graças à força de arrasto do ar, a sua velocidade diminuiria para algo em torno de 200 km/h. Se você sentiu algum alívio, não deveria, pois o estrago ainda vai ser muito grande... ATIVIDADES I. Se uma gota de 1,5 mm de raio tem uma velocidade terminal de 7 m/ s, calcule o valor de k, sabendo que a densidade da água é 1g/cm3. COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES I. A única dificuldade com esta questão se encontra nas unidades utilizadas. Uma vez convertidas para o SI, fica muito fácil a sua solução. Raio 1,5 mm = 0,0015 m; Volume = 4/3pr3 = 0,000000014 m3; Densidade = 1g/cm3 = 1000 kg/m3; Massa = Volume X densidade = 0,000014 kg Agora usamos a equação da velocidade terminal: Este resultado nos indica que o coeficiente de arrasto, em contraste com o coeficiente de atrito, não é uma grandeza adimensional. Ele tem a mesma dimensão do momento linear (massa multiplicada pela velocidade). CONCLUSÃO A força peso é sempre direcionada para o centro da Terra e o atrito nem sempre aparece entre superfícies horizontais. A equação que descreve a força de atrito só nos diz qual é o limite que o atrito pode chegar para se opor ao movimento. Em contraste com a força de atrito, a massa não se relaciona com a força de arrasto e foi experimentalmente verificado que a força de arrasto depende da velocidade do corpo. 184 Velocidade terminal RESUMO O movimento dos corpos, como foi estudado nas primeiras aulas, precisava impor duas restrições: não existe atrito e não existe resistência do ar. Estas restrições permitiram o estudo cabal e simplificado da cinemática, mas nos afastaram da realidade. Nesta aula, resgatamos a realidade para os nossos cálculos ao considerar a força de atrito e a força de arrasto ao movimento dos corpos. Pudemos ver que o comportamento real de um corpo em queda livre na atmosfera é bem diferente daquele observado no vácuo. Enquanto no vácuo a velocidade cresce ilimitadamente, na atmosfera qualquer objeto tem a velocidade limitada pelo arrasto até um valor limite conhecido como velocidade terminal. Vimos que esta força é de muita importância na aerodinâmica, mas que o seu modelamento é muito difícil devido à grande quantidade de variáveis envolvidas. Aula 10 PRÓXIMA AULA Na próxima aula, estudaremos o equilíbrio de corpos extensos. Aprenderemos a determinar o seu centro de massa e verificaremos quais são as condições de equilíbrio estático. REFERÊNCIAS GIANCOLI, Douglas C. Physics for Scientists and Engineers. 3ed. New Jersey: Editora Prentice Hall, 2000. YOUNG, Hugh D. & FREEDMAN, Roger A. Física I- Mecânica. 10ed. São Paulo: Addison Wesley, 2003. Tradução: Adir Moysés Luiz. KELLER, Frederick J.; GETTYS, Edward & SKOVE, Malcolm J. Física. São Paulo: Makron Books, 1997. Trad. Alfredo Alves de Farias. Vol. 1. RESNICK, Robert; HALLIDAY, David & KRANE, Kennneth S. Física 1. 5ed. Rio de Janeiro: LTC Editora, 2003. Trad. Pedro M. C. L. Pacheco, Marcelo A. Savi, Leydervan S. Xavier, Fernando R. Silva. 185