ANÁLISE MORFOLÓGICA DO DESENVOLVIMENTO EMBRIONÁRIO DO Betta splendens (Regan, 1910) Silva, A. P. S.¹; Oliveira, I. R.²; Siqueira-Silva, D. H³; Ninhaus-Silveira, A. 4; VeríssimoSilveira, R4. ¹Graduanda em Ciências Biológicas – Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho – UNESP – Ilha Solteira – SP. <[email protected]> ²Mestranda em Ciências Biológicas (Zoologia) – Instituto de Biociências – UNESP - Botucatu – SP. ³Mestrando em Biologia Animal – IBILCE – UNESP – São José do Rio Preto – SP. 4 Laboratório de Ictiologia Neotropical - L.I.NEO. – Depto de Biologia e Zootecnia – UNESP - Ilha Solteira. Introdução A produção de peixes ornamentais, sejam marinhos ou dulcícolas, é considerada como um dos agronegócios mais rentáveis da atualidade. Essa indústria movimentou três bilhões de dólares, sendo Cingapura o maior exportador seguido pelos Estados Unidos (PORTO, 2008). O Beta Betta splendens é considerado um peixe de melhor mercado quando falamos de peixes ornamentais, mundialmente é um dos peixes de água doce mais comercializado devido à sua beleza e sua facilidade de manejo (SOUZA et. al, 2003). No Brasil sua importância comercial é principalmente entre os machos da espécie, por serem mais vistosos, atrativos e mais vendáveis do que as fêmeas, que são menores e não tão chamativas. Originário do Sudeste Asiático, da família Osphronemidae e da ordem Perciformes, também é conhecido como peixe de briga siamês ou combatente devido à sua agressividade contra peixes da mesma espécie (FROSE and PAULY, 2010) A descrição dos estádios embrionários de uma espécie pode fornecer inúmeras vantagens, pois a embriologia abre possibilidades para estudos das relações evolutivas, da hereditariedade, dos mecanismos de desenvolvimento e das influencias ambientais nas características estruturais dos organismos e pode auxiliar na identificação dos ovos viáveis em estudos de produtividade e sobrevivência, garantindo assim larvas com melhor formação (LAGLER, 1959). Assim sendo, o presente trabalho tem como objetivo a caracterização morfológica do desenvolvimento embrionário do Betta splendens, disponibilizando várias informações que podem ser úteis em futuros estudos sobre reprodução e até mesmo reversão sexual da espécie, visando a melhoria nos programas de piscicultura ornamental. Material e Métodos A reprodução do Betta splendens foi realizada naturalmente, não necessitando de indução hormonal, utilizando exemplares adultos e maduros do plantel de reprodutores do Laboratório de Ictiologia Neotropical – LINEO, do Departamento de Biologia e Zootecnia, da Faculdade de Engenharia da UNESP/ Campus de Ilha Solteira. A escolha do macho de Betta splendens foi determinada a partir de comportamentos de agressividade, pelo seu tamanho, receptividade e formação de ninhos. A fêmea foi escolhida pela conformação abaulada do abdomen e presença de listras verticais bem nítidas neste, além do aparecimento de um pequeno ponto branco no orifício anal. Estes reprodutores foram mantidos em aquários de dimensões 40x20x20(cm) com uma coluna d’água de 10 cm. Foi utilizado um termômetro para mensurar a temperatura do aquário de hora em hora até a eclosão. Para a análise das alterações morfo-temporais, após a desova e fertilização foram coletadas 235 amostras em diferentes períodos da embriogênese. As coletas foram realizadas em intervalos de 5 minutos até a primeira hora, depois de 10 minutos até a segunda hora, e por fim, em intervalos de uma hora até a eclosão das larvas. Os embriões foram fixados em solução de Karnovsky modificada por 24 horas e a seguir colocados em solução de álcool 70% para posterior análise. Resultados Os ovos do Betta splendens são esféricos, brancos e de cor branca opaca quando não fertilizados, pelágicos, adesivos, com uma camada gelatinosa envolvente, córion filamentoso e pequeno espaço perivitelínico, com grande quantidade de vitelo. O período de desenvolvimento desde o momento de fertilização até a eclosão da larva foi de 33 horas a uma temperatura média de 27,5°C. Sendo estabelecidos os seguintes estágios embrionários: zigoto, clivagem, gástrula, segmentação, larval e eclosão (Tabela 1). Zigoto - Na primeira hora de desenvolvimento após a fertilização foi observada a migração citoplasmática evidenciando uma região mais translúcida “in vivo” denominada de pólo animal e uma região mais densa e opaca chamada de pólo vegetal (Tabela 1). Clivagem (1,0 – 6,0h) - A clivagem é do tipo meroblástica, com o seguinte padrão de formação dos blastômeros: 2; 4; 8 (2x4x1); 16 (4x4x1); 32 (4x8x1); 64 (4x8x2) blastômeros, mórula (mais de 100 células) (Tabela 1; Figura 1- A, B e C). Gástrula (7,0 -11,0h) - Caracterizou-se pelo início do movimento de epibolia e ocorrência dos movimentos morfogenéticos de convergência e involução. Teve seu término às 11 horas com o fechamento do tampão vitelino. (Tabela 1) Segmentação (12,0-20,0h) - O estágio de segmentação foi caracterizado pela formação dos somitos, da notocorda, tubo neural, vesícula óptica, vesícula ótica e a delimitação intestinal inicial, com crescimento e alongamento do embrião no eixo cefalo-caudal. (Tabela 1;Figura 1D) Larval (21,0-29,0h)- O estágio larval iniciou-se às 21 horas, sendo caracterizado pelo despregamento da cauda, presença de mais de 25 pares de somitos, notocorda se estendendo até a cauda, intestino posterior bem definido. Ao final deste estágio os embriões possuíam mais de 30 somitos. (Tabela 1; Figura 1E) Eclosão - As 33 horas de embriogênese as larvas eclodiram com total rompimento do córion (Tabela 1; Figura 1F). Tabela 1: Descrição das etapas do desenvolvimento embrionário do Betta splendens. TEMPO (horas) ESTÁGIO CARACTERÍSTICAS 0 – 1,0 Zigoto Formação do pólo animal sem segmentação 1,16 – 6,0 Clivagem 7,0 8,0 9,0 Gástrula Gástrula Gástrula Divisões celulares originando a form ação de 2, 4, 8, 16, 32 e 62 blastômeros terminando na fase de mórula (+100 células). 25% epibolia (migração das células embrionárias). 50% epibolia (migração das células embrionárias). 75% epibolia (migração das células embrionárias). 10,0 Gástrula 90% epibolia – formação do tampão vitelino (porção de vitelo não recoberta pelas células embrionárias). 11,0 Gástrula 12,0 Segm entação Formação do suco neural antes mesmo de terminar a epibolia 90% Neurula inicial – início da diferenciação de cabeça e calda. 13,0 Segm entação Aparecimento da vesícula ótica; diferenciação de cabeça e calda; calda presa. 18,0 Segm entação Aparecimento da vesícula óptica, em média 14 somitos 19,0 Segm entação Em média 20 somitos e primeiros pigmentos 20,0 Segm entação 20 somitos em média; Pigmentos no vitelo; cristalino e cérebro. 21,0 Larval Alongamento do embrião e em média 25 somitos. 22,0 Larval 28,0 Larval Destacamento da região caudal e inicio do desenvolvimento do intestino. Alongamento do embrião e em média 30 somitos. 29,0 Larval Cauda totalmente solta; bem pigm entado;+ de 30 somitos , larva em crescimento 29,0 Larval Alongamento do embrião e pré-eclosão. 33,0 Eclosão Eclosão das larvas – total rompimento do córion. Figura 1. Embrião com: A - 2 blastômeros; B - 4 blastômeros; C - mórula; D – segmentação; E Estágio larval e F – Larva recém eclodida. Medidas da barra: (A) 51,70 µm; (B) 52,37 µm; (C) 52,54 µm; (D) 39,89 µm; (E) 42,07 µm e (F) 42,62. Discussão e Conclusões Os ovos de peixes variam em tamanho, forma, cor, número e densidade de acordo com a espécie (LAGLER, 1959). São classificados como polilécitos, devido à grande quantidade de vitelo, e telolécitos por apresentarem vitelo concentrado no pólo vegetativo e o citoplasma com suas organelas no pólo animal (LEME DOS SANTOS & AZOUBEL, 1996), assim como visto neste trabalho. Segundo Anjos et al. (2006) o cardinal tetra (Paracheirodon axelrodi) tem seus ovos esféricos, adesivos e de cor branca opaca quando não fertilizados, o mesmo foi observado nos ovos do B. splendens. O período de embriogênese até a eclosão das larvas segundo Silva (1991), em B. splendens ocorre de 24 a 48 horas após desova, a uma temperatura que pode variar de 26 a 29°C, neste trabalho as larvas de B. splendens eclodiram com total rompimento do córion às 33 horas com uma temperatura média de 27,5°C. Referências ANJOS, H. D. B; ANJOS, C. R. Biologia Reproduiva e Desenvolvimento Embrionário e Larval do Cardinal Tetra, Paracheirodon axelrodi.São Paulo: B. Inst. Pesca, 151-160 p. 2006 FROSE, R. and PAULY, D. Editors. 2010. FishBase. World Wide Web eletronic publication. Disponível em: <http:// www.fishbase.org, version (07/2010). Acesso em: 09 abr. 2010. LAGLER, K.F. Freshwater fishery biology. 2. ed. Dubuque: W.M.C. Brown Company, 421 p. 1959. LEME DOS SANTOS, H. S.; AZOUBEL, R. Embriologia comparada. Jaboticabal: FUNEP; 1996. PORTO, M. N. M.; Perspectiva de Crescimento na Piscicultura Ornamental. Disponível em: <http://www.pecnordeste.com.br/pec2008/pdf/aqui/Mario_Nunes_de_Magalhaes_Porto.pd>. Acesso em: 17 jul. 2010. SILVA, M. M. Criação Prática do Betta splendens. São Bernardo do Campo: Revista Aquarista Junior, n°3, 26p. 1991. SOUZA, A. C.; FACUNDO, G.M.; SOUZA, A.O.; NETO, S.B; OLIVEIRA, C.M.; Viabilidade Econômica da Reversão Sexual de Betta (Betta splendens) através da utilização de Hormônio Masculinizante. In Congresso Brasileiro de Engenharia de Pesca, pp. 13. Porto Seguro. Anais Porto Seguro: AEP/BA. 2003.