1. Definição: Doença desmielinizante do SNC, de mecanismo inflamatórioauto-imune, acometendo, sob a fonna de placas, a substânciabranca do cérebro, tronco encefálico, cerebelo, medulaespinhal e nervo óptico. Fisiopatoloeia: Agressão inflamatória auto-imune (dependente de linfócitos T) da bainha de mielina dos axônios do SNC e dosoligodendrócitos (células produtoras de mielina no SNC). Epidemiologia: Apresentação na faixa etária de 35-50 anos. Mais comum em mulheres (2:1). Ouadro Clínico: A doença geralmente tem um curso de exacerbaçõese remissões (tipo mais comum), cada surto apresentando-sede forma aguda ou subaguda com a instalação de algumdéficitneurológico focal. Os sintomas iniciais mais comuns são(1)paresia (monoparesia ou hemiparesia), (2) déficit sensoriallocalizado (hipoestesia), (3) neurite óptica - dor ocular associadaa perda da acuidade visual ou amaurose fugaz e a um achadofundoscópico semelhante ao edema de papila. Outras apresentaçõescomuns são: parestesias, diplopia (oftalmoplegia intemuc1ear - perda da adução de um ou ambos os olhos), ataxia, vertigens,disfunção vesical. Dois ou mais déficits provenientes de diferentesáreas do SNC são comuns, especialmente com o aparecimentodos próximos surtos. É freqüente o acúmulo de déficitsneurológicos parciais irreversíveis após os surtos. Uma formaevolutiva menos comum é a fonna progressiva (piora paulatinados sintomas, sem surtos), que pode ser secundária (apósum período de surtos) ou primária. Deve-se ressaltar: o déficitda esc1erosemúltipla piora caracteristicamente com o aumentoda temperatura corporal (febre, clima quente) e melhoracoma sua redução. A doença evolui inexoravelmente para a disfunçãomatara grave, em um período médio de 15 anos. Dia~nóstico: É feito pelo quadro clínico, complementado pela RNMe pela punção lombar. Para estabelecer o diagnóstico, são utilizadoscritérios clínico-laboratoriais. Os principais critérios clínicossão: (1) envolvimento de 2 ou mais áreas do SNC, (2) envolvimentoda substância branca (tratopiramidal, feixe espinotalâmico,cordão posterior da medula, vias cerebelares, fascículo longitudinalmedial do tronco - oftalmoplegia internuclear, 41 RNM- T2, mostrando lesões típicas da esclerose múltipla na substância subcortical (ver setas) nervo óptico, (3) surtos que duram> 24h, separados por> 1 mês. A pesquisa de um déficit focal sem expressão clínica pode ser realizada utilizando-se o exame do potencial evocado, principalmente para o nervo óptico. A RNM- T2 deve mostrar múltiplas lesões (pelo menos 3), com localização preferencial da área periventricular, com diâmetro> 5 mm. O líquor mostra bandas oligoclonais de IgG (eletroforese em ágar gel) em 85% dos casos, achado bastante sugestivo do diagnóstico, quando associado a outros critérios clínicos. Tratamento: Surtos: Devem ser tratados com metilpredni8010na em pulsoterapia 1g IV por 3 dias, seguida de prednisona VO. Qualquer pico febril deve ser controlado agressivamente e qualquer infecção deve ser prontamente tratada. A terapia crônica é eficaz apenas na forma exacerbação-remissão e consiste no uso parenteral do interferon-beta-a ou do interferonbeta-b. São drogas imunomoduladoras que melhoram o curso da doença em graus variáveis. Alternativas são: glatiramer, r-42 MEDCURSO - "Do INTERNATO À RESIDÊNCIA" mitoxantrona, metotrexate, azatioprina, ciclofosfamida e imunoglobulina. lidade é de 5%. Cerca de 85% dos pacientes apresenta boa recuperação dos movimentos durante os próximos meses. 2- SíNDROME DE GUILLAIN-BARRÉ Polineuropatia Desmielinizante Inflamatória Crônica (PDIC) Defini~ão: Polirediculoneuropatia inflamatória aguda auto-limitada, na maioria das vezes do tipo desmielinizante, de mecanismo auto-imune pós-infeccioso. Definição: É a versão crônica da 8GB. Fisiopatologia: Fenômeno auto-imune desencadeado por uma infecção respiratória ou gastrointestinal.O agenteinfeccioso mais relacionado é o Campylobacter jejuni. Em cerca de 75% dos casos, pode-se detectar a infecção 1-3 semanas precedendo a doença. A imunopatogênese é dependente de linfócitos T, porém, em cerca de 20-50% dos casos podem ser detectados autoanticorpos anti-GMl (anti-glicofosfolipídeo 1). Quadro Clínico: A doença tem uma instalação hiperaguda (horas ou dias). Inicia-se com uma lombalgia associada a disestesias nas extremidades dos membros inferiores, que logo tomam-se paréticos ou plégicos. Portanto, ocorre uma paraparesia ou paraplegia, que sempre é do tipo flácida e arreflexa. Nos dias subseqüentes, o comprometimento neurológico ascende para os membros superiores que, inicialmente, ficam arreflexos e então podem tomar-se paréticos ou plágicos também. Em 50% dos casos, a evolução pode acometer a face e a função bulbar, levando à disparesia facial periférica, disfagia, disfonia e disartria. Em 30% dos casos, há paresia da musculatura respiratória, suficiente para necessitar de suporte ventilatório. O exame físico é característico: paresia ou plegia + arreflexia + flacidez do tipo simétrico. A sensibilidade térmica e dolorosa geralmente está preservada, mas não a proprioceptiva e a vibratória. Na maioria das vezes, não há distúrbio vesical nem nível sensitivo. A presença destes achados sugere síndrome de compressão medular ou mielite transversa. A variante de Miller-Fisher manifesta-se com oftalmoplegia, ataxia e arreflesia generalizada. Ouadro Clínico: O paciente vai lentamente evoluindo com piora da força muscular, com períodos de exacerbação e remissão. O exame físico é igual À 8GB, exceto por um comprometimento maior da sensibilidade e menor simetria. Esta pode ser uma síndrome paraneoplásica (principal: CA broncogênico oat cell) ou pode estar associada a uma gamopatia monoclonal de significado indeterminado. Tratamento: É diferente ao da 8GB. Baseia-se no uso do corticóide: pulsos de metilprednisolona 6/6 semanas ou prednisona em doses imunossupressoras. Opções são: plasmaferese e imunoglobulina IV. 3- MIASTENIA GRAVIS Diagnóstico: É dado principalmente pelo quadro clínico, às vezes necessitando da exclusão de uma síndrome medular pelo exame de imagem. O exame de líquor apresenta uma alteração característica após a 1a semana da doença: dissociação albumino- citológica (aumento da proteína sem pleocitose ou aumento da celularidade). Quando a 8GB está associada à infecção pelo HIV, pode haver pleocitose com hiperproteinorraquia. A eletroneuromiografia mostra uma polineuroradiculopatia com padrão desmielinizante na maioria dos casos. Tratamento: O paciente deve estar internado, de preferência no CTI (pelo risco de insuficiência ventilatória e arritmias). A causa mais comum de óbito atualmente é a morte súbita arrítmica. O tratamento específico deve ser iniciado com uma das seguintes opções: (1) plasmaferese; (2) imunoglobulina IV.A morta- A sí pela mus rênc da.! (prit ça di Definição: Doença auto-imune da placa motora neuro-muscular (anticorpos anti-AchR - receptor pós-sináptico de aceti1colina), caracterizada por fraqueza e fadigabilidade muscular. Epidemiologia: Acomete mais o sexo feminino (3:2). Apresen- ta-se geralmente na faixa etária de 20-30 anos (mulheres) e de 40-50 anos (homens). Fisiopatologia: Fenômeno auto-imune, com surgimento de anticorpos anti-AchR. A destruição destes receptores e da membrana pós-sináptica da junção neuro-muscular leva à fraqueza do músculo. À medida que a aceti1colina das vesículas présinápticas vão sendo liberadas e consumidas, a fraqueza vai pi- Nos pacientes mais graves, instala-se a insuficiência ventilatória e a disautonomia, levando a arritmias cardíacas, sudorese e picos hipertensivos. Dia dia! acel da s (5 n dod braç um2 haja coliI do t conJ dect anfi, tóra hipe orando (fadigabilidade). Com o repouso muscular, os estoques são repostos. A reação auto-imune provavelmente depende do timo, uma vez que existe uma grande associação entre MG e hiperplasia tímica ou timoma. Trai anti pirid prog form oper co. ) mais 50m. DeVE amiIJ fenol curat Crisl asso( nado Ouadro Clínico: Os dois mais importantes marcos da doença plan são: (1) comprometimento preferencial da musculatura ocular, antic (2) fadigabilidade - a fraqueza do músculo piora após a sua diagt utilização repetida. As queixas iniciais são ptose e diplopia, mas! que pioram com o passar do dia. A fraqueza da musculatura bulbar leva à disartria, fala anasalada e disfagia. O comprometimento facialleva à dificuldade de expressar um sorriso. Com sue; o passar dos meses, a doença evolui com fraqueza muscular proximal nos membros. A história natural da doença costuma 1. I ~ respeitar esta ordem: musculatura ocular - bulbar - membros J proximais. A doença pode seguir um curso de exacerbação e ~ remissão. Os sintomas sempre são piores no fim do dia. Existe 2. umaformamaisbrandada doença,que acometeapenasa musculatura ocular. ~ = CAPíTULO Diagnóstico: O teste do edrofônio é o primeiro passo para o diagnóstico. O edrofônio é um anticolinesterásico (inibe a aceti1colinesterase,enzima que cataboliza a acetilcolina da fendasináptica)de ação imediata (30 seg) e meia-vida muito curta (5min).O médico centraliza a sua atenção para um determinadodéficitmuscular (ex.: ptose palpebral, fraqueza proximal dos braços,voz anasalada) e faz 2mg de edrofônio IV. Se houver umamelhora nítida, o teste é considerado positivo. Caso não hajaresposta,repete-se o teste com 8mg IV.Os efeitos colaterais colinérgicospodem ser revertidos com atropina. A positividade do teste deve ser complementada com mais dois exames para confirmaro diagnóstico: eletromiografia (mostra uma resposta decrementaldos potenciais de ação muscular) e dosagem do anticorpoanti-AchR (presente em 80% dos casos). A TC de tórax deve ser solicitada visando à pesquisa de timoma ou hiperplasiatírnica. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. Asíndrome de Eaton-Lambert deve ser diferenciada da MG pelaeletromiografia(respostaincremental dos potenciais de ação musculares).O quadro clínico é semelhante, exceto pela preferênciapela musculatura dos membros e pela idade mais avançada.Na maioria das vezes, esta é uma síndrome paraneoplásica (principal:CA broncogênico oat celi) e está associada a presençade auto anticorpos anti-canal de cálcio pré-sináptico. Tratamento: O tratamento deve ser iniciado com drogas anticolinesterásicas, sendo a mais utilizada o brometo de piridostigmina60-120mg VO 3-5 xldia. A timectomia deve ser programadaem todos os casos de timoma e nos pacientes com a formageneralizada. A plasmaferese deve ser realizada no préoperatórionos pacientes de maior comprometimento e alto risco.A terapia imunossupressora é recomendada para os casos maisgraves e refratários. Pode ser feito com prednisona 1550mg/diacom ou sem azatioprina. ser evitadas as seguintes drogas no paciente miastênico: aminoglicosídeos, beta-bloqueadores, procainamida, quinidina, fenotiazinas, lítio, magnésio venoso, tetraciclinas, polimixina, curare (exceto a succini1colina). Devem CriseMiastênica: Definida como uma piora aguda do quadro associadaà insuficiência ventilatória. O paciente deve ser internadono CTI, intubado e ventilado. O tratamento de escolha é a plamaferese. Uma alternativa é a imunoglobulina IV. O anticolinesterásicodeve ser retirado à princípio, para se fazer o diagnósticodiferencial com a crise colinérgica (sinais e sintomassemelhantes à crise rniastênica). 10. 11. 12. NEUROLÓGICAS AUTO-IMUNES 43 Trapp, BO, Peterson, J, Ransohoff, RM, et ai. Axonal transection in the lesions of multiple sclerosis. N Engl J Med 1998; 338:278. Newcombe, J, Hawkins, Cp, Henderson, CL, et ai. Histopathology of multiple sclerosis lesions detected by magnetic resonance imaging in unfixed postmottem central nervous system tissue. Brain 1991; 114 (Pt 2):1013. Offenbacher,H, Fazekas, F,Schmidt, R, et ai. Assessment of MRI criteriafor a diagnosis of MS. Neurology 1993; 43:905. Kidd, O, Thorpe, JIN, Thompson, AJ, et ai. Spinal cord MRI using multi-arraycoils and fast spin echo. 11.Findingsin multiplesclerosisoNeurology 1993; 43:2632. Paty, OIN,Oger, JJ, Kastrukoff, LF,et ai. 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