UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS FACULDADE DE BIOMEDICINA BRUNO JOSÉ MARTINS DA SILVA ESTUDO DO EFEITO IMUNOMODULADOR DO EXTRATO AQUOSO PROVENIENTE DA RAIZ DA PLANTA Physalis angulata SOBRE CÉLULAS OBTIDAS DA MEDULA ÓSSEA DE CAMUNDONGOS BELÉM-PARÁ-BRASIL 2012 BRUNO JOSÉ MARTINS DA SILVA ESTUDO DO EFEITO IMUNOMODULADOR DO EXTRATO AQUOSO PROVENIENTE DA RAIZ DA PLANTA Physalis angulata SOBRE CÉLULAS OBTIDAS DA MEDULA ÓSSEA DE CAMUNDONGOS Trabalho de conclusão de curso apresentado à Faculdade de Biomedicina da Universidade Federal do Pará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Biomedicina. Orientadora: Profª Drª Edilene Oliveira da Silva BELÉM-PARÁ-BRASIL 2012 BRUNO JOSÉ MARTINS DA SILVA ESTUDO DO EFEITO IMUNOMODULADOR DO EXTRATO AQUOSO PROVENIENTE DA RAIZ DA PLANTA Physalis angulata SOBRE CÉLULAS OBTIDAS DA MEDULA ÓSSEA DE CAMUNDONGOS Trabalho de conclusão de curso apresentado à Faculdade de Biomedicina da Universidade Federal do Pará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Biomedicina. _____________________________________________ Orientadora: Profª. Drª. Edilene Oliveira da Silva Instituto de Ciências Biológicas – ( ICB - UFPA) _____________________________________________ Membro: Prof. Dr. Antonio Carlos Rosário Vallinoto Instituto de Ciências Biológicas – (ICB – UFPA) ______________________________________________ Membro: Prof. Dr. Marcelo de Oliveira Bahia Instituto de Ciências Biológicas – (ICB – UFPA) _______________________________________________ Suplente: Prof. Dr. Sergio Marcelo Rodríguez Málaga Instituto de Ciências Biológicas – (ICB – UFPA) Belém, PARÁ, 10 de dezembro de 2012. i “Se o conhecimento pode criar problemas, não é através da ignorância que podemos solucioná-los” (Isaac Asimov) ii À Deus pelo discernimento concedido e por sempre iluminar os meu passos nessa longa jornada. Aos meus familiares, pela força nos momentos mais difíceis, carinho e compreensão. OBRIGADO! iii AGRADECIMENTO Primeiramente à Deus pela força, conforto e discernimento concedido ao longo desses 4 anos de graduação. A minha família, minha mãe Angelita, irmãs Ana Regina e Regiane, irmão Junior e meus sobrinhos Yuri, Carol, Bianca e Gabriel por todo incentivo, amor e dedicação dados nos momentos tristes e felizes dessa trajetória. À minha orientadora Profª. Edilene Oliveira da Silva pela excelente orientação e oportunidade concedida em participar desse grupo de pesquisa. Obrigado professora pelo voto de confiança! À Ana e o Luis pelas imensas, longas e demoradas montagens e discussões de protocolos. As contribuições de vocês dois foram fundamentais e essenciais para a minha formação e melhora na conduta técnica no grupo de pesquisa. À Raquel a primeira pessoa com quem conversei no laboratório, e que posteriormente veio a se tornar minha supervisora e auxiliadora nos experimentos. Muito obrigado Raquel pelo companheirismo e paciência em ajudar nos “milhões” de experimento que eu queria realizar ao mesmo tempo. À Amanda, pela imensa paciência de analisar minhas “poucas” amostras no citômetro. Amanda aprendi a ser mais calmo e paciente com você. À Neide, obrigado por me ensinar a arte de se desesperar por antecipação...rsrsrs, obrigado pelo companheirismo, pela companhia em alguns experimentos, pelas várias idéias oferecidas para complementar o meu trabalho, e também por toda força e pelas bonitas palavras de conforto dadas em alguns momentos de tristezas e desânimo. Obrigado também pelos convites em participar das feiras de ciências e palestras realizadas na escola MAC, elas foram de imensa importância para o meu crescimento profissional. À Carol, minha parceira de experimento, obrigado pelo companheirismo na obtenção das células da medula, por aturar a minha imensa chatice todas as segundas- feiras as 7 horas da manhã. Isso não é pra qualquer um, você é muito guerreira..rsrsrs... À Paula, amiga desde o terceiro semestre do curso, fico feliz em ter conhecido você e poder participar do mesmo grupo de pesquisa. Obrigado pelo sua companhia, pelos vários momentos felizes e de muitas loucuras que tive ao seu lado. Muito obrigado Paula pela sua amizade e de sempre estar por perto quando mais precisei, para fazer um cafezinho ou uns favorzinhos..rsrsrs.... iv À Lienne e o Jorge obrigado pela correção do TCC, suas dicas foram de suma importância para o enriquecimento do trabalho, e também obrigado pelos vários momentos de descontração que tivemos ao longo desse ano. Ao Rodrigo, Davi, Aprígio e Camila pela companhia e momentos descontraídos no laboratório. Ao Dr. José Antonio Picanço Diniz do Instituto Evandro Chagas, por permitir a utilização do microscópio óptico do laboratório de miscroscopia. À Fernanda por todo suporte oferecido na preparação dos fixadores utilizados. Ao professor Chubert, pela ajuda no manuseio dos equipamentos do LBE. A professora Suzane do Laboratório de Citogenética pela ajuda fornecida no manuseio no microscópio de imunofluorescência. A CAPES, ao CNPq e ao INCT de Biologia Estrutural e Bioimagem (INBEB), pe- lo apoio financeiro, que auxiliou na exceução desse trabalho. E também não posso deixar de agradecer aos meus amigos camundongos, pois sem as suas células a realização desse trabalho seria impossibilitada. E por fim, a todos que contribuíram de alguma forma para a concretização desse trabalho. v SUMÁRIO LISTA DE TABELAS E FIGURAS.......................................................................................viii LISTA DE SÍMBOLOS E ABREVIATURAS.........................................................................x RESUMO.................................................................................................................................xii ABSTRAT...............................................................................................................................xiii 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 1 1.1 ASPECTOS GERAIS ...................................................................................................... 1 1.2 MEDULA ÓSSEA .......................................................................................................... 2 1.3 CÉLULAS DIFERENCIADAS ........................................................................................ 4 1.3.1 Eritrócitos ..................................................................................................................... 4 1.3.2 Linfócitos ...................................................................................................................... 5 1.3.3 Granulócitos .................................................................................................................. 6 1.3.4 Monócitos ..................................................................................................................... 7 1.3.5 Células Dendríticas ....................................................................................................... 9 1.3.6 Macrófagos ................................................................................................................. 10 1.4 IMUNOMODULADORES ............................................................................................ 13 1.5 GÊNERO PHYSALIS ..................................................................................................... 14 2 OBJETIVOS ................................................................................................................... 16 2.1 OBJETIVO GERAL ...................................................................................................... 16 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ......................................................................................... 16 3 MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................................. 17 3.1 PREPARO DO EXTRATO AQUOSO DA PLANTA .................................................... 17 3.2 OBTENÇÃO E CULTIVO DAS CÉLULAS DA MEDULA ÓSSEA ........................... 17 3.3 CARACTERIZAÇÃO DAS CÉLULAS DA MEDULA ÓSSEA DE CAMUNDONGOS ............................................................................................................................................ 18 3.4 AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE DAS CÉLULAS DA MEDULA ÓSSEA ............... 18 3.4.1 Método Thiazolyl Blue (MTT) .................................................................................... 18 3.4.2 Detecção de potencial da membrana mitocondrial (JC-1)...............................................19 3.5 CONTAGENS DAS CÉLULAS MONONUCLEARES DO SOBRENADANTE .......... 20 3.6 ANÁLISE MORFOLÓGICA DAS CÉLULAS DA MEDULA ÓSSEA TRATADAS COM EAPa APÓS ADESÃO AO SUBSTRATO ................................................................ 20 3.6.1 Microscopia Óptica ..................................................................................................... 20 vi 3.7 IMUNOFENOTIPAGEM................................................................................................21 3.7.1 Detecção de marcadores de superfície celular por imunofluorescência .........................21 3.7.2 Detecção de marcadores de superfície celular por citometria de fluxo...........................21 3.8 RESPOSTA MICROBICIDA DAS CÉLULAS DA MEDULA ÓSSEA TRATADAS COM EAPa .......................................................................................................................... 22 3.8.1 Dosagem da produção de óxido nítrico por células da medula tratadas com EAPa ....... 22 3.8.2 Dosagem da produção de radicais superóxidos pelas células da medula óssea tratada com EAPa ............................................................................................................................ 22 3.8.3 Interação de Saccharomyces cerevisiae com células da medula tratadas com EAPa ..... 22 3.9 ANÁLISE ESTATÍSTICA ............................................................................................. 23 4 RESULTADOS ................................................................................................................ 24 4.1 CARACTERIZAÇÃO DAS CÉLULAS DA MEDULA ÓSSEA DE CAMUNDONGO 24 4.2 VIABILIDADE CELULAR ........................................................................................... 27 4.2.1 Método triazolyl blue (MTT) ....................................................................................... 27 4.2.2 Detecção do potencial de membrana mitocondrial (JC-1) ............................................ 28 4.3 CONTAGEM DAS CÉLULAS DO SOBRENADANTE ............................................... 29 4.4 ANÁLISE MORFOLÓGICA POR MICROSCOPIA ÓPTICA DAS CÉLULAS DA MEDULA ÓSSEA DE CAMUNDONGOS TRATADAS COM EAPA ............................... 30 4.4.1 Análise quantitativa das células aderidas cultivadas por 24, 48, 72 e 96 horas.............. 30 4.4.1.1 Linfócitos ................................................................................................................. 30 4.4.1.2 Polimorfonucleares ................................................................................................... 31 4.4.1.3 Célula com núcleo em anel ....................................................................................... 32 4.4.1.4 Monócitos ................................................................................................................ 33 4.4.1.5 Macrófagos residentes .............................................................................................. 34 4.4.1.6 Macrófagos ativados ................................................................................................. 35 4.4.2 ANÁLISE MORFOLÓGICA DAS CÉLULAS ADERIDAS ....................................... 36 4.4.2.1 Análise das células aderidas e cultivadas por 24, 48, 72 e 96 horas.............................37 a) Marcação com CD11b...................................................................................................... 41 b) Marcação com CD11c...................................................................................................... 44 4.4.4 CITOMETRIA DE FLUXO ........................................................................................ 47 a) Marcação com CD11b...................................................................................................... 49 b) Marcação com CD11c...................................................................................................... 48 4.4.5 RESPOSTA MICROBICIDA DAS CÉLULAS DA MEDULA TRATADAS COM EAPa ................................................................................................................................... 49 vii 4.4.5.1 Dosagem da produção de óxido nítrico por células da medula tratadas com EAPa .... 49 4.4.5.2 Produção de radicais de oxigênio pelas células da medula tratadas com EAPa .......... 50 4.4.5.3 Interação de Sacharomyces cerevisiae com células da medula tratadas com EAPa ... 51 5 DISCUSSÃO ................................................................................................................... 52 6 CONCLUSÃO ................................................................................................................. 58 7 REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 59 8. ANEXO.................................................................................................................................67 viii LISTA DE TABELAS E FIGURAS Figura 1. Processo de diferenciação celular das células da medula óssea. ............................... 4 Figura 2. Processo de diferenciação de monócitos a partir de uma célula tronco ..................... 8 Figura 3. (A) Processo de diferenciação e maturação dos monócitos (B) As diferentes denominações dos macrófagos nos vários tecidos do organismo...............................................9 Figura 4. Desenho esquemático da síntese do NO... .............................................................. 12 Figura 5. (a) Planta Physalis angulata (Pa). (b) fruto da planta Pa.. ..................................... 14 Figura 6. Caracterização das células da medula óssea. . ........................................................ 25 Figura 7. Viabilidade celular pelo método MTT em células da medula óssea mantidos em cultivo e tratadas com EAPa por 24, 48, 72 e 96 hora ......................................................... 27 Figura 8. Análise do potencial de membrana mitocondrial das células da medula óssea cultivadas e tratadas com EAPa por 96 horas..................................................................................28 Figura 9. Análise das células dos sobrenadantes dos quatro grupos de estudo. ...................... 29 Figura 10. Contagem percentual do número de linfócitos em culturas de células da medula óssea cultivadas por 24, 48, 72 e 96 horas. ........................................................................... 30 Figura 11. Contagem percentual do número de PMNs em culturas de células da medula óssea cultivadas por 24, 48, 72 e 96 horas...................................................................................... 31 Figura 12. Contagem de CNA presentes em cultura de células da medula óssea de murino mantidas em cultivo por 24, 48, 72 e 96 horas.. .................................................................... 32 Figura 13. Contagem dos MO aderentes presentes em cultura de células da medula óssea de murino mantidas em cultivo por 24, 48, 72 e 96 horas. ......................................................... 33 Figura 14. Contagem do número de MR em culturas de células da medula óssea cultivadas por 24, 48, 72 e 96 horas. ..................................................................................................... 34 Figura 15. Contagem percentual do número de MA em culturas de células da medula óssea cultivadas por 24, 48, 72 e 96 horas...................................................................................... 35 Figura 16. Análise das células da medula tratadas por 24 horas. ........................................... 37 Figura 17. Análise das células da medula tratadas com EAPa por 48 horas. .......................... 37 Figura 18. Análise das células da medula tratadas por 72 horas. ........................................... 39 Figura 19. Análise das células da medula tratadas por 96 horas. ........................................... 39 Figura 20. Detecção do marcador de superfície CD11b em cultura de células da medula óssea mantidas em cultura e tratadas com EAPa na concentração de 100 µg/mL por 96 horas. ...... 42 Figura 21. Detecção do marcador de superfície CD11c em cultura de células da medula óssea mantidas em cultura e tratadas com EAPa na concentração de 100 µg/mL por 96 horas...........................................................................................................................................................................45 ix Figura 22. Detecção do marcador de superfície CD11b em cultura de células da medula óssea mantidas em cultura e tratadas com EAPa na concentração de 100 µg/mL por 96 horas. ...... 47 Figura 23. Detecção do marcador de superfície CD11c em cultura de células da medula óssea mantidas em cultura e tratadas com EAPa na concentração de 100 µg/mL por 96 horas..............................................................................................................................................48 Figura 24. Gráfico da dosagem de NO de células tratadas com EAPa. .................................. 49 Figura 25. Quantificação das células marcadas positivamente com NBT. ............................. 50 Figura 26. Índice endocítico da interação de células da medula óssea com Saccharomyces cerevisae tratadas com 100 µg/mL de EAPa......................................................................... 51 x LISTA DE SÍMBOLOS E ABREVIATURAS ºC – Graus Celsius µg/mL – Microgramas por mililitros µL – Microlitros µm – Micrometros APC – Célula apresentadora de antígenos BSA – Bovina serum albumin CDs – Células dendríticas CFU-GM – Unidade formadora de colônia grânulo-monocítica CFU-M – Unidade formadora de colônia monocítica CNA – Célula com núcleo em anel CTH- Célula tronco hematopiética DAPI – Diamino fenilindole DMEM – Dulbecco’s Modified Eagle’s Medium EAPA – Extrato aquoso de Physalis angulata EPO - Eritropoietina FEC’s – Fator estimulante de colônias GM-CSF – Sigla inglesa para fator estimulante de colônia granulócito/macrófago/monócito H2O2 – Peróxido de hidrogênio IgE –Imunoglobulina E IL – Interleucina INF-γ – Interferon –γ iNOS – Óxido nítrico sintase induzida LB – Linfócitos B LT – Linfócitos T LPS - Lipopolissacarídeo MA – Macrófagos ativados M-CSF – Sigla inglesa para fator estimulante de colônia de macrófagos M-CSFR – Sigla inglesa para receptor do M-CSF MET – Microscopia Eletrônica de Transmissão MEV – Microscopia Eletrônica de Varredura mg/mL – Miligramas por mililitros MO- Monócitos xi MR – Macrófagos residentes MTT – Thiazolyl Blue Tetrazolium Bromide NADPH – nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfatase hidrogenase NH4Cl – Cloreto de amônio NK – Natural killers nm – Nanômetros NO – Óxido nítrico O2 – Íon superóxido OH- – Radical hidroxila PBS – Sigla inglesa para tampão fosfato salino PMC – Progenitores Mielóide comum ROS – Radicais de oxigênio SBF – Soro bovino fetal TGF-β – Sigla inglesa para fator modulador de crescimento TNF-α – Sigla inglesa para fator de necrose tumoral TCR – Sigla inglesa para receptor de célula T xii RESUMO A medula óssea é um tecido hematopoiético abastecido pelos seios sinusóides, que na presença de citocinas e fatores de crescimento as células desse tecido sofrem o processo de proliferação e diferenciação gerando todas as células sanguíneas circulantes. Estas células são importantes para a proteção do organismo contra agentes patogênicos e para o estabelecimento de uma resposta imune eficaz. Medicamentos com ação imunomoduladora são bastante utilizados para restabelecer um organismo com um sistema imune alterado, fazendo assim importante a busca de novas substâncias com ação imunomodulatória, que sejam de baixo custo, e capazes de promover a proliferação e diferenciação das células da medula óssea sem causar dano a mesma. Neste contexto se destaca a planta Physalis angulata, que é utilizado na medicina popular como analgésico, antireumático e antitérmico. Este trabalho tem como objetivo avaliar ação do extrato aquoso da planta Physalis angulata (EAPa) sob as células da medula óssea de camundongos. Estas células foram obtidas por lavagem dos fêmures, mantidas em culturas e tratadas com EAPa na concentração de 100 µg/mL. Foi possível observar por microscopia óptica que EAPa estimula o processo de adesão celular, e na análise morfológica foi observado que as células tratadas apresentaram maior espraiamento celular e maior volume citoplasmático. Além disso, EAPa não promoveu a proliferação de linfócitos e polimorfonucleares, e nem o aumento do número de macrófagos ativados e residentes ao longo do tempo de cultura. Na imunofenotipagem realizada por imunofluorescência e citometria de fluxo, a marcação para CD11b, marcador específico de fagócitos mononucleares, revelou que EAPa parece estimular o processo de diferenciação das células da medula óssea em macrófagos. A imunofenotipagem para CD11c, marcador de células dendríticas, mostrou que EAPa não estimulou a diferenciação das células tratadas em células dendríticas. Alem disso, a análise da resposta microbicida mostrou um aumento de células marcadas positivamente com Nitro Blue Tetrazolium (NBT), mostrando que EAPa apresenta a capacidade promover ativação das células da medula via aumento da produção de radicais superóxidos, porém não foi observado aumento da produção de óxido nítrico e nem da atividade fagocíticas das células tratadas. A análise da viabilidade celular mostrou que EAPa não apresentou efeito citotóxico para as células da medula óssea. Os resultados demonstram que EAPa consegue promover a diferenciação das células da medula em macrófagos e sua ativação em apenas 96 horas de cultivo. Desse modo, a partir dos resultados obtidos é possível concluir que o extracto aquoso da planta Physalis angulata pode ser usado como um agente imunomodulador. Palavras-chave: Proliferação e diferenciação celular, Medula óssea, Physalis angulata xiv xiii ABSTRACT The bone marrow is a hematopoietic tissue supplied by capillary sinusoids in the presence of cytokines and growth factors that tissue cells undergo the process of proliferation and differentiation generating all circulating blood cells. These cells are important to protect the organism against pathogens and for establishing an effective immune response. With immunomodulating medications are still widely used to restore a body with a defective immune system, thus important to search for new substances with immunomodulatory action, which are inexpensive, and can promote the proliferation and differentiation of bone marrow cells without damage the same in this context stands the plant Physalis angulata, which is used in folk medicine as an analgesic, anti-inflammatory and antirheumatic. This study aims to evaluate the action of the aqueous extract of the plant Physalis angulata (EAPa) in the bone marrow cells of mice. These cells were obtained by flushing femurs, and maintained in cultures treated with EAPa at a concentration of 100 mg/mL. It was observed by optical microscopy that EAPa stimulates the process of cell adhesion. The morphological analysis showed higher cell spreading and increased cytoplasmic volume in treated cells. Furthermore, it not promotes the proliferation of lymphocytes and polymorphonuclear leukocytes, nor the increased number of activated macrophages and resident along the culture time. In immunophenotyping performed by immunofluorescence and flow cytometry, labeling CD11b, a marker specific for mononuclear phagocytes revealed that EAPa seems to stimulate the differentiation of bone marrow cells in macrophages. In immunophenotyping using the CD11c marker, specific of dendritic cells, showed that EAPa did not stimulate differentiation of the treated cells into dendritic cells. The microbicidal response analysis showed an increase of cells positively stained with nitro blue tetrazolium (NBT). Thus, EAPa has the ability to promote activation of bone marrow cells via increased production of superoxide radicals.On the other hand, we did not observed the production of nitric oxide nor increased the phagocytic activity of the treated cells. No cytotoxic effect was observed in cells treated with EAPa when compared to the untreated control. Finally, these results demonstrate that EAPa can promote the differentiation of bone marrow cells into macrophages with activation in just 96 hours of culture and can be used as an immunomodulator agent. Key words: Cell proliferation and differentiation, Bone marrow, Physalis angulata 1 1. INTRODUÇÃO 1.1. ASPECTOS GERAIS A medula óssea está localizada na cavidade medular dos ossos longos, esterno, ossos ilíacos e nas costelas. Este tecido é irrigado por vasos sanguíneos de paredes finas, conhecidos como seios sinusóides (Alberts et al., 2012). Em um indivíduo adulto, a medula óssea é o local de geração de todas as células sangüíneas circulantes (Cesar et al., 2008). Essas células têm origem comum, porém em função de estímulos específico, promovido por citocinas e fatores de crescimento, adquirem morfologia e funções distintas (Geissmann et al., 2010). Um microambiente medular favorável para a realização da hematopoiese é constituído por precursores das células sanguíneas, fibroblastos estromais, matriz extracelular, fatores de crescimento e citocinas, sendo estas produzidas por macrófagos da medula óssea e pelas células estromais (Abbas et al., 2012). As células tronco hematopoiéticas (CTH) presentes na medula óssea apresentam extensivo potencial de auto-renovação e proliferação (Cesar et al., 2008). Estas células quando estimuladas por citocinas e fatores de crescimento, sofrem o processo de diferenciação/maturação, originando as células progenitoras mielóide e linfóide (Zanichelli et al., 1995). Quando estimuladas, as células progenitoras mielóide, sofrem diferenciação e originam células dendríticas, células sanguíneas e macrófagos, enquanto que a linhagem linfóide originará linfócitos T, linfócitos B, células natural killer (NK) e células dendríticas. (Zanichelli et al., 1995; Abdelhay et al., 2009). Atualmente vários estudos vêm demonstrando que alguns produtos de origem natural são bastante eficazes na terapêutica de determinadas doenças e, são capazes de proporcionar uma resistência ao organismo frente algumas infecções, por promover o processo de proliferação e diferenciação das células da medula óssea (Pereira et al., 2004; Abud, 2006; Cesar, 2008; Guimarães et al., 2009; Luzakibanza et al., 2010). Desta forma, é importante a busca de produtos naturais, de baixo custo, que possam ser utilizados em processos terapêuticos. 2 1.2. MEDULA ÓSSEA A medula óssea é um tecido esponjoso, altamente irrigado por vários vasos sanguíneos, o que possibilita a locomoção dos precursores rumo a circulação (Abbas et al., 2012; Alberts et al., 2004), estando localizada entre as trabéculas longas dos ossos longos. O espaço existente entre as trabéculas é preenchido com células sanguíneas circulantes, fibroblastos estromais e células gordurosas (Abbas et al., 2012). A medula óssea é dividida em três compartimentos de sistemas celulares: compartimento hematopoiético, epitelial e estromal (Deans & Moseley, 2000; Owen, 1985). O sistema hematopoiético é composto pelos precursores das células sanguíneas, tais células tem a capacidade de locomover-se rumo a circulação sanguínea após terem passado pelo processo de proliferação e diferenciação celular (Abbas et al., 2012; Alberts et al., 2004). O compartimento estromal é composto por macrófagos, fibroblastos, adipócitos, células endoteliais e reticulares. Alguns desses componentes, como macrófagos e fibroblastos apresentam a capacidade de produzir várias citocinas hematopoiéticas, que juntamente com os fatores estimulante de colônias (FEC’s) proporcionam um microambiente favorável para a geração de todas as células circulantes, processo este denominado de hematopoiese (Owen, 1985; Zanichelli et al., 1995; Silveira, 2000; Abbas et al., 2012; Abdelhay et al., 2009). Este é um processo complexo, que envolve fatores de crescimento e citocinas, resultando na geração das células sanguíneas circulantes. No período intra-uterino o principal local de realização da hematopoiese é o saco vitelínico, e com o avanço do desenvolvimento embrionário outros órgãos começam a adquirir a capacidade de realização da hematopoiese. No período embrionário, fígado e baço já iniciam a fabricação das células sanguíneas e no quarto mês deste período, a medula óssea começa realizar a hematopoiese. Ao longo do período intra-uterino a produção das células sanguíneas vai diminuindo no fígado e aumentando na medula óssea, sendo que após o nascimento e durante toda vida do individuo esse tecido torna-se o principal local de realização da hematopoiese (Silveira, 2000). Como relatado anteriormente, a medula óssea é dividida em três compartimentos, e um desses é o hematopoiético. O sistema hematopoiético comporta todos os tipos celulares que participam do processo da hematopoiese, e esse sistema pode ser dividido em quatro compartimentos de acordo com o grau de maturidade de cada tipo celular. No primeiro compartimento são encontradas as CTH, que compõe cerca de 0,01% da população total de células da medula óssea. As CTH são multipotentes, ou seja, podem gerar diferentes tipos celula- 3 res, apresentam a capacidade de promover auto-renovação, e podem gerar os progenitores hematopoiéticos. Os progenitores correspondem a 0,5% das células residentes da medula e ao contrário das CTH não podem realizar o processo de auto-renovação, porém são multipotentes, em alguns casos monopotentes, originando assim apenas um tipo celular e podem ser classificados em mielóide e linfóide (Kondo et al., 1997; Mayani et al., 2007). Os progenitores mielóides comuns (PMC) são originados por um processo que ocorre na medula óssea denominado de mielopoese. PMC após amadurecimento se comprometem com uma linhagem de células específicas, esse comprometimento está relacionado com o início da expressão de vários genes dentre os quais destacam-se: PU.1 , Hox , C / EBPa, C / C EBPb e / EPBe , RUNX1 e SCL. O aumento de expressão de um determinado gene irá estimular a diferenciação dos progenitores mielóides a um tipo celular específico. Os progenitores mielóides vão dar origem aos neutrófilos, eosinófilos, basófilos (granulócitos), monócitos, plaquetas e eritrócitos, enquanto que os progenitores linfóides, originados através da linfopoese, irão se diferenciar em linfócitos B, linfócitos T e células NK (Figura 1) (Zanichelli et al., 1995; Mayani et al., 2007; Abdelhay et al., 2009; Abbas et al., 2012). O terceiro compartimento é composto pelos precurssores das células sanguíneas, e representam cerca de 90% da população total das células da medula óssea, e por fim, no quarto compartimento são encontradas células sanguíneas maduras, que irão se direcionar até a circulação após completa maturação. Os neutrófilos se direcionam a circulação sanguínea totalmente diferenciados, porém os monócitos só completam o processo de diferenciação quando invadem os tecidos, onde se diferenciam em macrófagos ou células dendríticas (Mayani et al., 2007). 4 Figura 1: Processo de diferenciação celular das células da medula óssea (Modificado). Fonte: Revista Scientific American- Edição especial ciência e saúde nª 3. 2006. 1.3. CÉLULAS DIFERENCIADAS As células sanguíneas maduras são constituídas pelos eritrócitos, eosinófilos, basófilos, neutrófilos, linfócitos T (LT) e B (LB) e monócitos. Este último se diferencia em macrófagos ou células dendríticas nos diferentes tipos de tecidos. 1.3.1. Eritrócitos Os eritrócitos, glóbulos vermelhos ou hemácias são originadas a partir dos precursores mielóides da medula óssea num processo conhecido como eritropoiese. Esse processo é regulado positivamente por uma citocina denominada de eritropoietina (EPO). A EPO é sintetizada nos rins e em pequena quantidade no fígado, sendo responsável pelo processo de sobrevivência, proliferação e diferenciação dos percussores eritróides. Os ertitrócitos são caracterizados por serem um grupo de células bastante complexo, apresentam membrana celular e citoplasma, porém não apresentam núcleo (Zago, 2001; Mayani et al., 2007) . 5 Morfologicamente os eritrócitos são células com forma bicôncava, e medem em média 7,5 µm de diâmetro por 2,6 µm de largura. Essas células são responsáveis por transportar a molécula de O2 devido apresentarem uma grande quantidade de hemoglobina em seu citoplasma, e são encontradas em situações normais circulando no interior dos vasos sanguíneos, tendo uma vida útil de aproximadamente 120 dias (Junqueira & Carneiro, 2006). Os eritrócitos maduros apresentam a expressão de proteínas na sua superfície como o TER-119 e o CD45, estes marcadores estão presentes nos eritrócitos desde estágio de proeritroblasto (Kina et al., 2000). 1.3.2. Linfócitos Os linfócitos são células sanguíneas formadas a partir dos precursores linfóides da medula óssea, que além de se diferenciarem em LB e LT, também dão origem as células NK. O processo de maturação e diferenciação dos linfócitos envolve a presença de várias citocinas que vão atuar sobre os progenitores comprometidos estimulando a sua diferenciação e maturação. Durante este processo, várias citocinas estão envolvidas, como: IL-2, que participa da maturação dos LB, LT e NK, a IL-4 e IL-6, participam da proliferação e maturação dos LB, LT e a IL-7, estimula a proliferação dos LB (Roitt, 1999; Abbas et al., 2012) Estas células são responsáveis por estabeler uma defesa imunológica do organismo, por meio da produção de anticorpos, sendo estes produzidos pelos LB e reconhecendo diferentes antígenos ou agindo sobre as células infectadas por um agente agressor, mediado pelos LT. Os linfócitos se diferem em relação ao local de maturação e função. As células T ainda no estágio de células imaturas migram da medula óssea para o timo onde sofrem maturação. No fim desse processo apenas 5% dos linfócitos se tornam maduros expressando assim em sua superfície moléculas CD4 ou CD8, tornando-se capaz de interagir com as células apresentadoras de antígenos (APCs) e desenvolver a defesa imunológica. O processo de maturação dos LB ocorre na medula óssea, e após maduras migram para os órgãos linfóides secundários, onde são capazes de produzir anticorpos, fato esse que a torna uma célula importante na participação da defesa imune humoral (Junqueira & Carneiro 2006; Mesquita-Junior et al., 2010). Uma etapa importante na maturação dos linfócitos é a formação dos receptores de antígenos, feitos a partir de um processo de recombinação aleatória de DNA, envolvendo uma enzima denominada recombinase V. Estes receptores que estão localizados na superfície dos 6 linfócitos são diferentes para cada tipo celular, sendo os genes TCR expressos em LT, no qual darão origem ao receptor TCR e os LB expressam genes de imunoglobulinas (Ig). Ambas as células durante a formação desses receptores passam por um processo denominado de seleção negativa, que é caracterizado pela eliminação dos linfócitos que apresentam receptores de antígenos com alta afinidade para os antígenos do próprio organismo, evitando a autoimunidade (Roitt, 1999; Mesquita et al., 2010; Abbas., et al 2012). Análise morfológica em microscopia óptica (MO) de campo claro mostra que linfócitos B e T apresentam pouco citoplasma, um núcleo grande com uma cromatina disposta em grumos e poucas organelas citoplasmáticas. Morfologicamente os LB e LT não podem ser diferenciados, porém técnicas de imunofenotipagem utilizando marcadores de proteinas de superficies podem ser utilizados para realizar essa diferenciação (Lorenzi, 1999; Junqueira & Carneiro, 2006). 1.3.3. Granulócitos Os granulócitos são um grupo de células sanguíneas que apresentam grande diferença em relação a sua função e morfologia tendo origem a partir de um linagem formadora de colônia grânulo-monocítica (CFU-GM). Após estímulos apropriados, geralmente proporcionados pelo fator estimulador de colônias de granulócitos/macrófago/monócito (GM-CSF), as células imaturas vão se comprometer a uma linhagem específica e se diferenciar (Mayani et al., 2007). Os granulócitos são classificados em três tipos celulares: neutrófilos, eosinófilos e basófilos. Os neutrófilos são polimorfonucleares (PMNs), apresentam em seu citoplasma um número variável de núcleos, dois a cinco, unidos por ponte de heterocromatina. Estas células são as primeiras a migrar para o local da infecção, realizando o processo de quimiotaxia. Os PNNs são fagócitos profissionais e apresentam em seu citoplasma grânulos que podem ser específicos e azurófilos, e apresentam enzimas que degradam agentes patogênicos, porém os grânulos específicos também apresentam enzimas oxidantes e componentes essenciais para a reposição da membrana plasmática (Falcão, 2001; Junqueira & Carneiro, 2008; Cruvinel et al., 2010). Os eosinófilos são granulócitos que apresentam em seu citoplasma grânulos que coram em laranja-avermelhado, um núcleo com várias lobulações variando de 2 a 3 lóbulos. 7 O seu número no sangue é aumentado em caso de infecções causadas por helmintos, em processos alérgicos e infecciosos (Rue, 2001; Savi, 2002). Os basófilos são células que apresentam em seu citoplasma um rico conjunto de grânulos eletro-densos e grandes, que quando corados adquirem uma cor preto-azulado. Diferente dos neutrófilos, os basófilos não são fagócitos profissionais, eles liberam no meio extracelular o conteúdo contido em seus grânulos. Esses grânulos são ricos em histamina, heparina e fatores quimiotáticos para os neutrófilos e eosinófilos, e vale ressaltar que os basófilos expressam na superfície da sua membrana plasmática receptores FcεRI, sendo este ativado pelo complexo imunogloubulina E (IgE) – antígeno. Este complexo apresenta uma importante contribuição em reações de hipersensibilidade imediata (Albert et al, 2004; Junqueira & Carneiro, 2008; Cruvinel et al., 2010). 1.3.4. Monócitos Os monócitos são células pertencentes ao sistema de fagócitos mononucleraes, constituem cerca de 3 a 8% dos leucócitos presentes no sangue e, morfologicamente, apresentam núcleo em forma de rim ou ferradura, citoplasma não volumoso apresentando finas granulações (Dickholt et al., 2010). Trabalhos recentes na literatura mostraram que os monócitos circulantes apresentam capacidade de proteger o organismo contra patógenos através da fagocitose, aumento da produção de radicais de oxigênio (ROS) e de nitrogênio (NO), aumento da produção da mieloperoxidade e de citocinas pró-inflamatórias, e em alguns casos, como em doenças autoimunes e em infecções graves apresentam atividade imunossupressora sobre as células T (Serbina et al., 2008; Saha & Geissman, 2011). Os monócitos apresentam um grupo de células bem heterogêneas, sendo divididos em sub-grupos, levando em consideração seus marcadores de superfície CD14 e CD16, e também existem trabalhos mostrando que os monócitos são caracterizados pela presença de outro marcador, o Ly-6C, este é encontrado principalmente na superfície celular dos granulócitos. Os monócitos que expressam em sua membrana o Ly-6C (monócitos inflamatórios GR1+), são recrutados mais rapidamente para o local da infecção e sofrem o processo de diferenciação e ativação celular. Esses monócitos diferenciados permanecem no local da inflamação por um período mais longo que os neutrófilos, sendo eficaz na eliminação do agente agressor graças ao aumento da fagocitose, o qual estimula a liberação de citocinas, a produção 8 de ROS e NO (Dale et al., 2008; Heitbrock et al., 2010; Geissman et al., 2010; Saha & Geissman., 2010). Em contraste, os monócitos que não expressam em sua superfície a proteína Ly6C não são recrutados no inicio da infecção e não estão associados com o desenvolvimento do processo infeccioso (Figura 2) (Geissman et al., 2010). PMNC CD TIP Figura 2: Processo de diferenciação de monócitos a partir de uma Célula tronco hematopoiética (CTH), que origina o precursor mielóide (MP) gerando os monócitos circulantes sanguíneos. Esses monócitos podem se diferenciar nos diferentes tecidos em macrófagos ou células dendríticas. Vale evidenciar que os monócitos expressam em superfície celular marcadores, o Ly-6c. Monócitos que apresentam esse marcador tem a capacidade de migrar mais rapidamente para o local da infecção, chamado de monócito inflamatório, em contraste os monócitos que não apresentam Ly-6C não participam de imediato do processo inflamatório. Linhagem linfoide (LP), Linhagem mielóide (LM), precursores de mononucleares (PMN), precursor de células dendríticas (PCD), pré-células dendríticas (PréCD), macrófagos (MØ), células supressoras derivadas da linhagem mielóide (CSDM) e CD que produzem mediadores inflamatórios (CDTIP). Fonte: Geissmann et al. (2010) Modificado. Os monócitos necessitam da presença de um fator de crescimento para poder se desenvolver e circular pela corrente sanguínea. Esse fator de crescimento é denominado de M-CSF (Fator estimulante de colônia de macrófagos), é produzido por macrófagos, monócitos e células dendríticas (CDs) (Auffray et al., 2009). Após três dias circulando no sangue, os monócitos iniciam o processo de migração para os diversos tipos de tecidos, para assim, se diferenciarem em macrófagos ou CDs. Esses macrófagos recebem denominações e funções diferenciadas dependendo do tipo de tecido que eles se localizarão (Figura 3) (Trembicki et al., 1984; Qureshi et al., 1995; Randolph et al., 2008). 9 Figura 3: (A) Processo de diferenciação e maturação dos monócitos, resultando na diferenciação em macrófagos nos tecidos. (B) As diferentes denominações dos macrófagos nos vários tecidos do organismo. Fonte: Mosser & Edwards, 2008 (Modificado). 1.3.5. Células Dendríticas As células dendríticas são fagócitos mononucleares e APCs pertencente ao sistema imune inato. Essas células tem a capacidade de promover a ativação dos LT desencadeando assim o início da resposta imune (Steinman et al., 1974; Cella et al., 1997; Geissmann et al., 2010). As CDs diferem nos tecidos em relação a sua localização, função, fenótipo dos marcadores de superfícies, o qual diferenciam em seus estágios maturativos (Geissmann et al., 2010). As CDs são originadas a partir dos precussores linfoides ou mielóides, e necessitam de citocinas como a IL-4, TNF-α e do GM-CSF para assim sofrerem o processo de proliferação celular (Inaba et al., 1992; Sato, 2010). As CDs são um grupo de células bastante heterogêneo, podendo ser encontradas em diferentes localidades do organismo, dependendo do seu estágio maturativo. As células precursoras pré - Células dencrítica são encontradas circulando pelos vasos linfáticos e sanguíneos, as imaturas são residentes em variados tipos de tecidos, apresentando nessas localidades atividade fagocítica, função importante na destruição de patógenos. Nos tecidos as CDs ainda estão imaturas, não sendo capazes de estimular as células T, porém na invasão de qualquer patógeno, as CDs sofrem o processo de maturação/ativação tornando- se capaz de apre- 10 sentar antígenos aos LT. As CDs maduras são encontradas nos tecidos linfóides secundários, onde produzem uma quantidade elevada de citocinas (Cella et al., 1997; Banchereau & Steinman, 1998; Geissmann et al., 2010; Sato, 2010). As CDs maduras se diferem dos outros fagócitos mononucleares pela expressão de diferentes marcadores em sua superfície, podendo destacar o CD1a, CD11c, CD40, CD80, CD83, CD205, e não apresentam em sua superfície celular o CD114, sendo um excelente marcador de exclusão para esse tipo celular (Reis, 2008). 1.3.6. Macrófagos Os macrófagos são células fagocíticas originadas a partir da migração dos monócitos da corrente sanguínea para os diferentes tipos de tecidos do organismo. O monócito/macrófago é originado a partir da CFU-GM, o qual dará origem a unidade formadora de colônia monocítica (CFU-M), e por fim culminará na geração dos fagócitos mononucleares (Mayani et al., 2007). Para ocorrer essa longa cascata de diferenciação é necessário à presença de citocinas e fatores de crescimento, onde se destacam a IL-3, IL-6, GM-CSF e o M-CSF, sendo esse último o principal fator de crescimento que estimula a diferenciação dos macrófagos. O M-CSF se liga a um receptor de membrana das células fagocíticas mononucleares, o CD115 (M-CSFR), que é uma glicoproteína de membrana, pertencente à família tirosinaquinase (CPK) e a classe de receptores III (Barreda et al., 2004; Mayani et al., 2007). O M-CSF é sintetizado a partir de uma variedade de tipos celulares, como células da medula óssea, fibroblastos, células endoteliais, estroma osteoblasto, dentre outras (Barreda et al., 2004). Macrófagos e monócitos ativados, micróglias, fibroblastos, linfócitos B e T são capazes de promover a síntese do M-CSF. A formação desse fator de crescimento por macrófagos e monócitos é realizada a partir de estímulos feitos por citocinas pró-inflamatórias (IL1, INF-γ, TNF-α) e, também, pelo GM-CSF (Barreda et al., 2004). Durante e após o processo de diferenciação celular os macrófagos maduros começam a expressar proteínas em sua superfície, algumas exclusivas, e outras que são encontradas em outros tipos celulares. A proteína EMRI F4/80, é uma molécula expressa somente na superfície dos macrófagos, porém atualmente ainda é desconhecida sua importância, e alguns autores acreditam que essa proteína seja importante no processo de adesão, migração e sinalização celular (Khazen et al., 2002). A proteína CD11b/MAC-1 é encontrada em pequena 11 quantidade na superfície célular dos linfócitos B e T, das células dendríticas e dos granulócitos e, em grande quantidade nos macrófagos e monócitos. Assim como a molécula F4/80 a proteína CD11b também esta envolvida com o processo de adesão celular, e migração para o local da invasão de um agente agressor (Brom et al., 1995). Macrófagos são células fagocíticas com complexo de golgi bem desenvolvido, lisossomos abundantes e retículo endoplasmático proeminente, tendo como principal função a destruição e eliminação dos agentes infecciosos (Smit et al., 2008; Abas et al., 2012). Ao entrar em contato com o agente infeccioso os macrófagos sofrem uma série de alterações, como o aumento da atividade fagocítica, que ocorre devido a presença de vários receptores na superfície como o CR1, CR3, para manose e para LPS (CD14). Outros componentes importantes para a fagocitose são as moléculas sinalizadoras, das quais é importante ressaltar a fosfolipase C, fosfoinositídeo-3-quinase (PI3-quinase), e a proteína quinase C (PKC), que têm a capacidade de desencadear uma série de ações nos macrófagos, como a liberação de citocinas, promovendo, assim, a ativação desse tipo celular, estabelecendo uma resposta inflamatória que culminará na morte do agente agressor (Ambrosio & Reason, 2005; Resseti, 2009). A ativação do macrófago pode ser classificada em tipo I (M1), tipo II (M2) e tipo III. A M1 é caracterizada por ser estimulada por citocinas pró-inflamatórias (INF-γ, IL-1, IL2, IL-6), e essa ativação induz a liberação de várias substâncias tóxicas, dentre elas a ROS, ânions superóxidos (O2-), radicais hidroxila (OH -), peróxido de hidrogênio (H2O2) e NO (Das et al., 2001; Gordon, 2003; Finaud et al., 2006; Stempin & Cerban, 2007; Mosser et al., 2008). A formação de ROS, esta ligada a um complexo enzimático denominado nicotinamida adenina dinucleotídeo reduzida (NADPH). Este processo decorre a partir de um estímulo externo, geralmente originado pela invasão de algum agente agressor. Após a invasão o complexo une as suas sete subunidades rapidamente, se ativando, e assim formando os ROS (El – Benna et al., 2005). Outra substância tóxica liberada pelos macrófagos ativados é o NO. Esse radical de oxigênio é sintetizado pela enzima óxido nítrico sintase (iNOS), a qual utiliza como substrato o aminoácido L-arginina, originando o NO e L-citrulina (Figura 4) (Marleta, 1993). O NO é um importante mediador inflamatório no combate de agente agressores, dificultando a sua proliferação, impedindo a progressão de tumores, sendo importante no controle de doenças autoimunes e degenerativas (Resseti, 2009). 12 Figura 4: Desenho esquemático da síntese do NO. O aminoácido L-arginina é transpostado para o interior da célula com o auxílio de uma proteína transportador, e no interior da célula é convertido pela enzima iNOS em L-citrulina e NO. Além do aumento da fagocitose, liberação de espécies reativas, o macrófago pode ser identificado como ativado através de análise por microscopia óptica de campo claro, microscopia eletrônica de transmissão (MET) e pela microscopia eletrônica de varredura (MEV). Por microscopia óptica e MEV os macrófagos ativados apresentam características como o aumento no padrão de espraiamento celular e aumento do volume citoplasmático. Por microscopia óptica pode ser observado também a presença de vácuolos, núcleo grande e eucromatina bem evidente. Por MET podem ser visualizados com mais detalhes o aumento do número de projeções citoplasmáticas, lisossomos contendo enzimas hidrolíticas, retículo endoplasmático e aparelho de golgi bem proeminente com várias cisternas (de Oliveira, 2006; Cesar, 2008). Outro processo de ativação descrito é o alternativo ou M2, que está relacionado com imunossupressão, sendo desencadeado na presença de citocinas, como a IL-10, IL-13 e pelo fator de transformação de crescimento β (TGF-β). Após ser ativado por esta via, o macrófago ainda não apresenta a maioria dos receptores de superfície citados acima, sendo encontrado principalmente receptor para manose. Outra característica importante na ativação M2 seria que essas células não apresentam uma elevação na produção de ROS e NO, impedindo assim a eliminação dos agentes agressores do organismo (Gordon, 2003; Mosser, 2003). E por fim, a ativação do tipo III, é uma resposta imune anti-inflamatória, que resulta na liberação de citocinas como IL-4, IL-10 e IL-12, sintetizada pelos linfócitos auxiliares, decorrente de um estímulo dos macrófagos. Nesse processo é observado liberação de TGF-β, citocina capaz de promover uma regulação negativa sobre o INF-γ, impedindo liberação de ROS e NO (de Oliveira, 2006; Resseti, 2009). 13 1.4. IMUNOMODULADORES São substâncias que apresentam duas atividades diferenciadas sobre o organismo, podendo potencializar a resposta imune, ou simplesmente atuar como imunossupressor. Esta última resulta principalmente no impedimento da proliferação dos linfócitos, prejudicando assim a produção de anticorpos e reconhecimento de antígenos. A importância da ação imunossupressora está ligada a não rejeição de órgãos após transplantes e, também, em doença autoimunes, dificultando o seu desenvolvimento (Fischer et al., 2008). Um imunomodulador que potencializa a resposta imunológica consegue promover a proliferação, e a maturação de vários tipos celulares, atuando na medula óssea, principal local de geração dessas células. Uma das principais células alvos são os macrófagos, onde o imunomodulador tem a capacidade de estimular o seu recrutamento para local da invasão do agente agressor, promovendo sua ativação, aumento da fagocitose e liberação de substâncias tóxicas para destruir os diferentes patógenos (Fischer et al., 2008; de Oliveira et al., 2011). Atualmente uma diversidade de produtos naturais vem se mostrando eficazes na terapêutica de várias doenças, tornando o organismo capaz de impedir o desenvolvimento e proliferação de vários agentes agressores, por agirem principalmente estimulando as células da medula óssea (de Oliveira et al., 2011). Dentre os imunomoduldores destaca-se Silene nocturna, Nigella sativa, Matricaria Matricaria chamomilla (Ghonime, 2011) a Ipomoea obscura (Hamsa & Kuttan, 2010), que proporcionam aumento do número de células da medula óssea, o medicamento homeopático Canova (Sato et al., 2005), que favorece o aumento do número de leucócitos e linfócitos TCD4+ in vitro, ativação de macrófagos peritoneais e de células mononucleares da medula óssea (Pereira et al., 2005; Abud et al., 2006; Cesar et al., 2008). Neste contexto se torna importante a pesquisa de produtos de origem natural com ação imunomodulatória, principalmente substância oriundas de plantas, devido a imensa biodiversidade da Amazônia. 14 1.7. GÊNERO PHYSALIS O gênero Physalis pertence à família Solanaceae, e este gênero abrange cerca de 120 espécies, das quais 70 podem ser encontradas apenas no México (Li et al., 2008), e as demais em regiões tropicais da África, Ásia, América Central e do Sul (Agata et al., 2010). O gênero Physalis é o mais desenvolvido da família Solanaceae, quando se evidencia o seu nível de oxidação biogenética, e neste gênero são encontrados substâncias polioxigenadas denominadas vitaesteróides. Estas substâncias possuem a sua função lactônica em C-26, gerando assim oito grupos estruturais distintos os quais são: Vitanolidos, vitanolidos modificados, vitafisalinas, acnistinas, ixocarpalactonas, perulactonas e as fisalinas (Tomassini et al., 1999), sendo as fisalinas e o vitanolidos os compostos mais abundantes (Ray & Gupta, 1994). Plantas do gênero Physalis são conhecidas por seu valor etnofarmacológico e são utilizadas na medicina tradicional por todo o mundo (Hawkes et al., 1991). Na região Amazônica pode-se destacar a planta Physalis angulata (Pa) (Figura 5). A Pa é uma planta herbácea comum e amplamente distribuída em regiões tropicais e subtropicais no mundo, sendo na região Amazônica muito utilizada na medicina popular devido seus efeitos diurético, antitérmico, analgésico e para tratamento de dor de garganta e abdominal (Magalhães et al 2006). É conhecida popularmente por várias denominações como camapú, bucho-de-rã, joa-de-capote, camambu, camaru, mata-fome, bate-festa e balão-rajado (Lorenzi & Matos, 2002). a b Figura 5: (a) Planta Physalis angulata (Pa). (b) fruto da planta Pa. Fonte: Guimaraes, 2005. 15 Na literatura são mostrados vários trabalhos evidenciando a capacidade de Pa em interferir no processo de proliferação de alguns agentes infecciosos, bem como a sua atividade leishmanicida mostrada por Choudraly et al. (2006), na qual mostram que a fisalina H apresentou uma potente ação sobre as formas promastigotas de Leishmania major. Guimaraes et al. (2009) mostraram uma potente ação leishmanicida das fisalinas B e F in vitro e in vivo sobre as formas amastigotas do protozoário Leishmania amazonensis e Leishmania major. Outras ações evidenciadas de Pa sobre patógenos foram: a ação microbiana da fisalina B sobre a bactéria Staphylococcus aureus (Silva et al., 2005), ação antimicobacteriana (Januário et al.,2002) e antiplasmodial (Luzakibanza et al., 2010; Ruiz et al., 2011; SÁ et al., 2011). A sua ação sobre células da resposta imune, como os linfócitos, foi mostrada por Bastos et al. (2008), as quais observaram a ação inibitória de Pa sobre a proliferação dos linfócitos, especialmente as células T. Yu et al. (2010) mostraram que a fisalina H apresenta uma ação imunossupressora, impedindo a proliferação dos linfócitos T. Em relação aos macrófagos, foi mostrado que as fisalinas B, F e G inibiram a produção de NO em macrófagos previamente estimulados com LPS e INF-y (Soares et al., 2003), porém relatando ainda sobre a resposta microbicida Lee et al. (2009) mostraram que Pa estimula a produção ROS em células cancerígenas da mucosa oral. Resultados obtidos pelo nosso grupo (Laboratório de Parasitologia- ICB UFPA) demonstraram pela primeira vez, que o extrato aquoso obtido da raiz da planta Physalis angulata (EAPa) na concentração de 100 µg/mL promoveu algumas alterações em macrófagos peritoneais como, aumento do padrão de espraiamento celular, desorganização do citoesqueleto, aumento da vacuoalização e de projeções citoplasmáticas, e foi observado uma elevação da produção de ROS. Foi observado também que EAPa não apresentou efeito citotóxico sobre a célula hospedeira. Entretanto, ainda não é conhecido o efeito que EAPa pode exercer sobre o processo de diferenciação e ativação celular em culturas de células provenientes da medula óssea de camundongos, fazendo-se então necessário a realização deste estudo. 16 2. OBJETIVOS: 2.1. OBJETIVO GERAL Estudar os efeitos in vitro do extrato aquoso obtido da raiz da planta Physalis angulata (EAPa) em células provenientes da medula óssea de camundongos. 2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS 1. Caracterização das células da medula óssea nos períodos de 24 horas e 7 dias; 2. Analisar a viabilidade das células da medula óssea tratadas com EAPa 3. Analisar a ação de EAPa sob células obtidas da medula óssea de camundongos; 4. Avaliar a morfologia das células da medula óssea tratadas in vitro com EAPa por microscopia óptica; 5. Detectar a presença de marcadores de superfície por imunofluorescência e citometria de fluxo em células obtidas da medula óssea tratadas com EAPa; 6. Analisar a resposta microbicida através da detecção da produção de NO, ROS e verificar a capacidade fagocítica das células da medula tratada. 17 3. MATERIAL E MÉTODOS 3.1. PREPARO DO EXTRATO AQUOSO DA PLANTA A raiz da planta Physalis angulata (EAPa) foram coletadas no estado do Pará e suas raízes foram cortadas para produção do extrato aquoso. O EAPa foi preparado e cedido pela Drª Gilmara Nazaré Bastos do Laboratório de Neuroinflamação do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Pará (UFPA). Análise cromatográfica revelou que EAPa apresenta em sua composição grande quantidade de fisalinas D e F. 3.2. OBTENÇÃO E CULTIVO DAS CÉLULAS DA MEDULA ÓSSEA Células da medula óssea foram obtidas a partir de fêmures de camundongos albinos (Mus musculus) machos com 6-12 semanas de idade. Os animais foram sacrificados por deslocamento da coluna cervical e os fêmures dissecados no fluxo laminar e lavados com solução de PBS estéril. Após a lavagem, os ossos foram mantidos em PBS estéril A 4ºC. Em seguida, as elipses dos fêmures foram retiradas com auxílio de pinça e tesoura esterilizadas (Marim et al., 2010) e a medula removida com uma seringa contendo PBS. Posteriormente as células foram homogeneizadas, diluídas em DMEM, contadas em câmara de Neubauer, transferidas para garrafas de cultura ou placas de 24 poços contendo lamínulas e incubadas em estufa a 37ºC contendo 5% de CO2. Os animais foram sacrificados de acordo com as normas do Comitê de Ética (processo nº BIO001-09 CEPAE/ICB/UFPA). 18 3.3. CARACTERIZAÇÃO DAS CÉLULAS DA MEDULA ÓSSEA DE CAMUNDONGO Células da medula óssea foram cultivadas, conforme descrito no item 3.2. As células foram mantidas em cultivo por 24 horas e durante sete dias, com a finalidade de analisar quais células da medula iriam aderir ao substrato no período de 24 horas, e posteriormente quais tipos celulares iriam permanecer aderidos após sete dias de cultivo. Após o término de cada tempo de cultivo, as células foram fixadas em solução contendo: 3 % de paraformaldeído em tampão PHEM (5mM cloreto de Magnésio, 70 mM cloreto de potássio, 10 mM EGTA, 20 mM HEPES, 60 mM PIPES), 0,1 M, pH 7,2 por um período de 30 minutos à temperatura ambiente e posteriormente coradas. A coloração foi feita com Giemsa, diluído a 25 % em água tamponada, durante 25 minutos à temperatura ambiente. Após esse período, as células foram desidratadas em acetona 100% e passadas em misturas crescentes de acetona–xilol, até duas passagens finais em xilol puro. As lamínulas foram, então, montadas em lâminas de vidro, tendo Entellan® como meio de montagem. A captura das imagens e análise das lâminas foram realisadas em microscópio Axiophot Zeiss com câmera digital Zeiss acoplada. 3.4. AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE DAS CÉLULAS DA MEDULA ÓSSEA 3.4.1. Método Thiazolyl Blue (MTT) O MTT, é um sal tetrazolium solúvel em água, é convertido pelas desidrogenases mitocondriais em cristais azuis de formazan, os quais são insolúveis em água. Esses cristais por serem impermeáveis às membranas das células viáveis se acumulam no interior dessas células, sendo posteriormente diluído em DMSO (Fotakis & Timbrell, 2006). Células da medula óssea foram cultivadas como descrito no item 3.2 em placas de 96 poços e mantidas em cultura por 24, 48, 72 e 96 horas e tratados com EAPa na concentração de 100 µg/ml. Após o término do tratamento, o sobrenadante foi retirado e os poços lavados com PBS. Logo após a lavagem, foi adicionado 0,5 mg/mL de MTT diluído em PBS sendo, posteriormente, incubados à 37ºC em estufa contendo 5% de CO2 por 3 horas. Após o término de 19 incubação foi adicionado 200 μL DMSO em cada poço para solubilização dos cristais de formazan e a placa foi incubada em agitação por 10 minutos. Posteriormente, a solução resultante foi lida em leitor de ELISA (BIO-RAD Model 450 Microplate Reader) em um comprimento de onda de 570 nm. Como controle negativo, as células foram mortas com solução de 15% de formol em PBS. 3.4.2. Detecção de potencial da membrana mitocondrial (JC-1) O JC-1 é um marcador fluorescente que mensura o potencial da membrana mitocondrial (ΔΨ) das células. O potencial de membrana mitocondrial é um importante parâmetro da função mitocondrial utilizado como indicador de viabilidade celular. A perda desse potencial é utilizada como indicador de apoptose. O JC-1 possui vantagens sobre outros corantes fluorescentes, pois pode penetrar na mitocôndria conforme variações no potencial de membrana. O JC-1 possui duas formas conhecidas. O “J- agregados” que coram células viáveis com fluorescência vermelha intensa. Por outro lado, células apoptóticas com baixo ΔΨ, permanecem na forma monomérica, apresentando apenas fluorescência verde (Cayman Chemical Company, 2009). Células da medula óssea foram cultivadas em tubos falcons e submetidos ao tratamento por 96 hora com EAPa na concentração de 100 μg/mL. Após o tratamento, estas células foram centrifugadas a 1500 rpm por 10 minutos e ressuspendidas em solução de PBS pH 7,2. Em seguida, essas células foram centrifugadas novamente a 1500 rpm por 10 minutos e incubados por 30 min com 10 mM de JC-1 a 37°C. Posteriormente, foi feita uma nova centrifugação e as células ressuspendidas em PBS. A análise foi feita utilizando um citômetro de fluxo BD FACSCantoII TM em comprimento de onda de excitação de 488 nm, sendo que os monômeros de JC-1 emitem a 529 nm e os agregados a 590 nm. Os dados foram obtidos utilizando o software BD FACSDiva. 20 3.5. CONTAGENS DAS CÉLULAS MONONUCLEARES DO SOBRENADANTE Células da medula óssea foram cultivadas, conforme descrito no item 3.2. As células foram divididas em quatro grupos, para assim realizar uma análise mais detalhada. O primeiro grupo é o controle, sem tratamento, o segundo corresponde as células que foram tratadas com 100 μg/mL de EAPa por 24, 48, 72 e 96 horas. O grupo três foi tratado com MCSF na concentração de 100 nM, e o grupo quatro foi tratado com EAPA + M-CSF. Após o término de cada tratamento nos períodos de 24, 48, 72 e 96 horas uma alíquota do sobrenadante das culturas dos quatro grupos foi retirada e as células contadas em câmara de neubauer, levando em consideração apenas as células redondas e brilhantes, com análise feita em microscópio de contraste de fase óptico Olympus BX41 3.6. ANÁLISE MORFOLÓGICA DAS CÉLULAS DA MEDULA ÓSSEA TRATADAS COM EAPa APÓS ADESÃO AO SUBSTRATO 3.6.1. Microscopia óptica Células da medula óssea foram cultivadas conforme descrito o item 3.2, e divididas em quatro grupos como foi mostrado no item 3.5. Após o término do tratamento as células aderentes foram fixadas em solução contendo 3% de paraformaldeído em tampão PHEM 0,1 M, pH 7,2 por um período de 30 minutos a temperatura ambiente e, posteriormente coradas com Giemsa, como descrito no iem 3.3. A mesma concentração de EAPa, M-CSF e AEPa + M-CSF diluídos em DMEM e soro bovino fetal (SBF) foi adicionada às culturas a cada 24 horas até o final de cada ensaio. Após a montagem das lamínulas com Entellan®, foi realizada contagem, sendo contadas 200 células por lamínula analisando alguns tipos celulares como Linfócitos, macrófagos residentes e ativados, células com núcleo em anel, PMNs e monócitos. As células foram contadas em microscópio óptico Olympus BX41 e a captura de imagens foi feita em microscópio Axiophot Zeiss com câmera digital Zeiss acoplada. 21 3.7. IMUNOFENOTIPAGEM 3.7.1. Detecção de marcadores da superfície celular por imunofluorescência Células provenientes da medula óssea foram cultivadas como descrito no item 3.2 e tratadas com EAPa na concentração de 100 μg/mL por 96 horas. As células aderentes foram fixadas em paraformaldeído 3% diluído em tampão PHEM 0,1 M por 30 minutos. Em seguida as células foram lavadas no tampão PBS com 1% de Soro Albumina Bovina (PBS-BSA 1%) por 20 minutos e incubadas por 40 minutos em PBS pH 8 contendo 50 mM NH4Cl. Após a lavagem, as células foram incubadas por 1 hora a temperatura ambiente com anticorpo primário CD11b (marcador de macrófagos/monócitos) e CD11c (marcador de células dendríticas). Os anticorpos primários foram diluídos na proporção 1:50 em PBS/BSA 1%. Posteriormente, uma segunda incubação foi realizada com anticorpo secundário fluorescente conjugada ao fluorocromo ficoeritrina diluídos na proporção 1:50 em PBS/BSA 1% por 40 minutos. Os núcleos foram marcados com DAPI (4,6 diamidino-2-phenylindole dihydroxychloride) (Molecular Probes, Eugene, OR EUA) e incubados por 30 minutos. As lamínulas foram montadas em lâmina contendo o ProLong Gold antifade reagent (Molecular Probes Invitrogen®) e observadas em Microscópio de fluorescência Axiophot Zeiss. Como controle negativo foi feita omissão do primeiro anticorpo. 3.7.2. Detecção de marcadores de superfície celular por citometria de fluxo Células da medula óssea foram cultivadas em tubos falcons e submetidos ao tratamento com EAPa na concentração de 100 μg/mL por 96 horas. Após o tratamento, estas células foram centrifugadas a 1500 rpm por 10 minutos e ressuspendidas em solução de PBS pH 7,2. Em seguida, essas células foram centrifugadas novamente a 1500 rpm por 10 minutos e incubadas com anticorpo primário CD11b e CD11c por 30 minutos. Os anticorpos primários foram diluídos na proporção 1:50 em PBS a 37°C. Posteriormente, uma segunda incubação foi realizada com anticorpo secundário fluorescente conjugada ao fluorocromo ficoeritrina diluídos na proporção 1:50 em PBS pH 8 por 40 minutos, e por fim uma nova centrifugação foi realizada e as células ressuspendidas em PBS pH 8, para assim a fluorescência das células 22 serem determinada por citometria de fluxo. As células foram analisadas em citômetro de fluxo BD FACSCantoII. Os dados foram obtidos utilizando o software BD FACSDiva. 3.8. RESPOSTA MICROBICIDA DAS CÉLULAS DA MEDULA TRATADAS COM EAPa 3.8.1. Dosagem da produção de NO por células da medula óssea tratadas com EAPa A dosagem da concentração de nitrito em meio de cultura é uma forma indireta de se determinar a concentração NO produzido pelas células da medula óssea tratadas e não tratadas por 96 hora com 100 µg/mL de EAPa. Este procedimento foi realizado pelo método de Griess, no qual consiste em adicionar 50 µl do reagente de Griess (sulfanilamida a 1% em ácido fosfórico a 5% e Naftilenodiamina a 0,1% em água destilada) e 50 µl do sobrenadante das células tratadas ou não com EAPa. A leitura foi feita leitor de ELISA sobre um comprimento de onda de 570 nm e a concentração de nitrito foi expressa em µM de acordo com a curva padrão estabelecida. 3.9.2. Produção de ROS pelas células da medula óssea tratadas com EAPa Células da medula foram cultivadas em placa de cultura de 24 poços como descrito no item 3.2 e mantidas em cultivo por um período de 96 horas. As células foram lavadas com PBS pH 7.2 e incubadas com meio contendo 1 mg/mL de Nitroblue Tetrazolium (NBT). Como controle positivo foi utilizado células da medula tratadas com M-CSF. Após 1 h a 37 ºC e em atmosfera de 5% de CO2, as células foram lavadas com PBS, pH 7.2, e fixadas em paraformaldeído 3% por 30 minutos, desidratadas e montadas em lâminas de vidro, tendo Entellan® como meio de montagem. Após a montagem as células foram analisadas e contadas em microscópio óptico Olympus BX41. 23 3.9.3. Interação de Saccharomyces cerevisiae com células da medula tratadas com EAPa Para observar o efeito de EAPa sobre a capacidade fagocítica das células da medula óssea, as células foram cultivadas e tratadas por 96 hora. Em seguida, foi realizada a interação com a levedura em uma proporção de (1:10) durante 2 horas a 37 ºC em atmosfera de 5% de CO2. Após esse período, o sobrenadante foi desprezado e os células lavadas com PBS, pH 7.2, por três vezes, para retirar as leveduras não internalizadas. Em seguida, as células foram coradas com o corante Giemsa, como foi descrito no item 3.3. Foram contadas 200 células por lamínula e o índice endocítico foi obtido calculando-se a porcentagem de células que endocitaram e a média de parasitas por células. As células foram contadas em microscópio óptico Olympus BX41. 3.9. ANÁLISE ESTATÍSTICA Os dados obtidos foram analisados utilizando o Graph Ped Prism Versão 5.0. O teste usado foi a análise de variância, ANOVA, e Teste t de Student, com (*) p < 0,05, (**) p< 0,01, (***) p< 0,001. 24 4. RESULTADOS 4.1. CARACTERIZAÇÃO DAS CÉLULAS DA MEDULA ÓSSEA DE CAMUNDONGO As figuras 6-a1 e 6-a2 mostram as células da medula óssea cultivadas por 24 horas, onde foi possível observar células com núcleo em anel (CNA), precursoras dos monócitos e granulócitos, estas apresentam um núcleo em forma de anel, com pouco ou nenhum citoplasma, os monócitos (MO) que são os precursores dos macrófagos, os MO morfologicamente apresentam pouco citoplasma e um núcleo em forma de rim ou ferradura, e os PMNs, são células com dois ou mais núcleos. No período de 24 horas também foram visualizadas células com núcleo apresentando uma cromatina condensada e pouco citoplasma, estas foram classificadas de linfócitos. As figuras 6-b1 e 6-b2 mostram células mantidas em cultivo por sete dias sem tratamento, onde foi observado um número considerável de células com pouco citoplasma, um núcleo redondo e central e pouco espraiamento celular, estas foram caracterizadas com macrófagos residentes (MR), e células com citoplasma bem volumoso, um núcleo redondo, grande, com eucromatina bem evidente e um intenso espraiamento celular foram caracterizados como macrófagos ativados (MA). A presença desses dois tipos celulares ao longo do tempo de cultivo mostrou que as células que aderem ao substrato pertencem à linhagem de fagócitos mononucleares e esses macrófagos aderidos tendem a se ativar ao longo do cultivo in vitro. 25 Figura 6: Caracterização das células da medula óssea. Em a1 e a2 células da medula óssea com 24 horas de cultivo sem tratamento onde é possível observar a presença de células com núcleo em anel (CNA), polimorfonucleares (PMNs) e monócitos (MO). Em b1 células da medula óssea com sete dias de cultivo, sem tratamento, mostrando macrófagos ativados (MA) e em b2 macrófagos residentes (MR). (a1, a2 e b1 barra =10 µm e aumento de 100x, e em b2 barra = 50 µm e aumento de 40x). 26 Figura 6 27 4.2. VIABILIDADE CELULAR Com objetivo de verificar se EAPa apresenta ou não efeito citotóxico para as células da medula, foi realizado o teste de viabilidade MTT e JC-1. 4.2.1. Método triazolyl blue (MTT) O método MTT detecta a viabilidade das células tratadas através da análise da atividade das desidrogenases presentes na mitocôndria das células. No presente estudo não houve uma diminuição significativa de células viáveis (figura 7) após tratamento com EAPa nos períodos de 24, 48, 72 e 96 horas quando comparados ao controle sem tratamento. Como controle negativo, as células foram incubadas com solução de 15% de formol em PBS. Figura 7. Viabilidade celular pelo método MTT em células da medula óssea mantidos em cultivo e tratadas com EAPa por 24, 48, 72 e 96 horas na concentração de 100 µg/mL. Foi utilizado ANOVA, t Student. 28 4.1.2 Detecção de potencial da membrana mitocondrial (JC-1) O Potencial de Membrana Mitocondrial foi analisado pelo método JC-1. Foi observado que células tratadas com EAPa na concentração de 100 μg/mL mantiveram-se viáveis mesmo após serem mantidas em cultivos por 96 horas, semelhantes ao grupo controle sem tratamento (Figura 8). Indicando assim que EAPa não possui efeito citotóxico para as células da medula óssea. Porém foi observado que as células tratadas com EAPa (78,25 %) apresentaram mais células viáveis que o grupo CTL (54,83 %). a b Figura 8. Análise do potencial de membrana mitocondrial das células da medula óssea cultivadas e tratadas com EAPa por 96 horas. A) CTL sem tratamento. B) Células da medula óssea tratadas com EAPa na concentração de 100 μg/mL. Foi utilizado ANOVA, t Student. 29 4.3. CONTAGEM DAS CÉLULAS DO SOBRENADANTE Após 24, 48, 72 e 96 horas de cultivo, os sobrenadantes dos grupos CTL, EAPa, M-CSF e EAPa + M-CSF foram homogeneizados e contados em câmara de neubauer (Figura 9). No grupo tratado com EAPa e no grupo EAPa + M-CSF no período de 72 e 96 horas, foi observado que ocorreu uma diminuição significativa do número de células do sobrenadante quando comparadas aos períodos de 24 e 48 horas. Também foi possível observar uma diminuição significativa do número de células do sobrenadante nos períodos de 72 e 96 horas de cultivo no grupo que foi tratado somente com M-CSF. Figura 9: Análise das células dos sobrenadantes dos quatro grupos de estudo. As células foram contadas para determinar qual seria a ação da EAPa sobre as células nucleadas do sobrenadante. Foi observado uma redução no número de células presentes nos sobrenadantes nos grupos tratados com EAPa, com M-CSF e com ambos. Foi utilizado ANOVA, t Student. (*) p < 0,05, (**) p< 0,01, (***) p< 0,001. 30 4.4. ANÁLISE MORFOLÓGICA POR MICROSCOPIA ÓPTICA DAS CÉLULAS DA MEDULA ÓSSEA DE CAMUNDONGOS TRATADAS COM EAPa 4.4.1. Análise quantitativa das células aderidas cultivadas por 24, 48, 72 e 96 horas As células da medula foram cultivadas por 24, 48, 72 e 96 horas e analisadas por microscopia óptica. Foram observados seis tipos celulares: os linfócitos, PMNs, CNA, MO, MR e MA e posteriormente foram realizadas analises quantitativa. 5.4.1.1. Linfócitos É possível observar que ocorreu uma diminuição significativa no número de linfócitos no grupo M-CSF e EAPa + M-CSF nos períodos de 48, 72 e 96 horas quando comparados ao controle e ao grupo EAPa. No período de 96 horas foi observado uma diminuição significativa no número de linfócitos no grupo EAPa, quando comparados ao controle sem tratamento (Figura 10). Figura 10: Contagem percentual do número de linfócitos em culturas de células da medula óssea cultivadas por 24, 48, 72 e 96 horas. Houve uma redução significativa no número de linfócitos no grupo EAPa no período de 96 horas quando comparado ao grupo controle. Foi utilizado ANOVA, t Student. (*) p < 0,05, (**) p< 0,01, (***) p< 0,001. 31 4.4.1.2. Polimorfonucleares A análise quantitativa realizada por microscopia mostrou uma diminuição significativa dos PMNs no grupo M-CSF nos períodos de 24, 48, 72 e 96 horas quando comparados ao grupo controle, nos períodos de 24 e 72 horas foi observado uma redução no número de PMNs no grupo M-CSF quando comparados ao grupo tratado com EAPa e EAPa + M-CSF. Não houve diferença significativa entre o grupo CTL e o grupo EAPa nos quatro tempos de cultivo analisados (Figura 11). Figura 11: Contagem percentual do número de PMNs em culturas de células da medula óssea cultivadas por 24, 48, 72 e 96 horas. Não houve diferença significativa no número de PMNs entre os grupo controle e o grupo tratado com EAPa. Foi utilizado ANOVA, t Student. (*) p < 0,05, (**) p< 0,01, (***) p< 0,001. 32 4.4.1.3. Células com núcleo em anel No período de 24 horas foi observado uma redução das CNA no grupo tratado com M-CSF quando comparados aos grupos controle, tratado com EAPa e EAPa + M-CSF. No período de 24, 48 horas foi observado uma diminuição destas células no grupo tratado com AEPa + M-CSF quando comparados ao grupo controle. Nos períodos de 72 e 96 não foi observada diferença significativa entre os grupos, sugerindo que a partir desse tempo de cult ivo as CNA estejam se diferenciando em MO em todos os grupos estudados (Figura 12). 80 *** *** CTL EAPa M -C S F E A P a + M -C S F *** *** N º d e c é lu la s 60 40 * * * ** 20 6 9 2 7 8 4 2 4 0 Figura 12: Contagem de CNA presentes em cultura de células da medula óssea de murino mantidas em cultivo por 24, 48, 72 e 96 horas. Não houve diferença significativa entre o grupo tratado com EAPa e o controle durante os quatro tempos de cultivo. Foi utilizado ANOVA, t Student. (*) p < 0,05, (**) p< 0,01, (***) p< 0,001. 33 4.4.1.4. Monócitos A quantificação do número de monócitos mostrou que no período de 24 horas foi observada uma redução significativa no número de monócitos no grupo M-CSF quando comparada aos grupos controle, EAPa e EAPa + M-CSF, e no período de 48 horas a redução deste tipo celular foi observada no grupo tratado com M-CSF quando comparado ao grupo controle (Figura 13). 80 ** * *** ** ** CTL EAPa M-CSF EAPa+M-CSF Nº de células 60 40 ** 20 96 72 48 24 0 Figura 13: Contagem dos MO aderentes presentes em cultura de células da medula óssea de murino mantidas em cultivo por 24, 48, 72 e 96 horas. Não houve diferença significativa entre os grupos tratados com EAPa e o controle sem tratamento. Foi utilizado ANOVA, t Student. (*) p < 0,05, (**) p< 0,01, (***) p< 0,001. 34 4.4.1.5. Macrófagos residentes No período de 72 e 96 horas foi observado uma diminuição significativa do número de macrófagos residentes nos grupos tratados com M-CSF, quando comparados aos grupos EAPa + M-CSF, ao grupo controle e EAPa. Não foi observada diferença significativa entre os grupos no período de 48 horas (Figura 14). Figura 14: Contagem do número de MR em culturas de células da medula óssea cultivadas por 24, 48, 72 e 96 horas. Não houve diferença significativa entre o grupo tratado com EAPa e o controle sem tratamento. Foi utilizado ANOVA, t Student. (*) p < 0,05, (**) p< 0,01, (***) p< 0,001. 35 4.4.1.6. Macrófagos ativados Nos períodos de 24, 48, 72 e 96 horas foi possível observar um aumento significativo de MA no grupo M-CSF, quando comparado ao grupo controle, EAPa e EAPa + M-CSF (Figura 15). Figura 15: Contagem percentual do número de MA em culturas de células da medula óssea cultivadas por 24, 48, 72 e 96 horas. Não houve diferença significativa entre o grupo tratado com EAPa e o controle sem tratamento nos períodos de cultivo. Foi utilizado ANOVA, t Student. (*) p < 0,05, (**) p< 0,01, (***) p< 0,001. 36 4.4.2. ANÁLISE MORFOLÓGICA DAS CÉLULAS ADERIDAS 4.4.2.1. Análise das células aderidas e cultivadas por 24, 48, 72 e 96 horas A análise morfológica das células aderidas revelou que as células tratadas com EAPa desde período de 24 horas apresentaram maior padrão de espraiamento, maior volume citoplasmático e tamanho celular, quando comparadas ao controle sem tratamento, apresentando características similares as das células tratadas com o M-CSF. Foi observado no grupo EAPa + M-CSF um menor número de células aderidas e menor quantidade de macrófagos ativados quando comparadas ao grupo M-CSF. Foi observado nas células tratadas com MCSF a partir do período de 72 horas um processo de fusão celular, com a forma de células gigantes. Entretanto, este processo só foi observado no grupo EAPa + M-CSF após 96 horas. 37 Figura 16: Análise das células da medula tratadas por 24 horas. (a) Células controle sem tratamento, observar células redondas, com nenhum espraiamento celular (setas). (b) Células tratadas com EAPa, observar o espraiamento celular (setas). (c) Células tratadas com M-CSF, observar a presença de MR em processo de ativação celular (setas). (d) células tratadas com EAPa + M-CSF, observar os MR em processo de ativação (setas). Barra 10 µm. Figura 17: Análise das células da medula tratadas por 48 horas. (a) Células controle sem tratamento. (b) Células tratadas com EAPa, observar o espraiamento celular, aumento do volume citoplasmático (setas). (c) Células tratadas com M-CSF, observar a presença de MA (setas). (d) células tratadas com EAPa + M-CSF, observar a presença de MA (setas). Barra 10 µm. 38 Figura 16 Figura 17 39 Figura 18: Análise das células da medula tratadas por 72 horas. (a) Controle sem tratamento. (b) Células tratadas com EAPa, observar o espraiamento celular, aumento do volume citoplasmático e as células com características de MA (setas). (c) Células tratadas com M-CSF, observar a presença de MA (setas) e observar o processo de fusão celular (setas). (d) células tratadas com EAPa + M-CSF, observar os MA, observar também que o padrão de espraiamento é similar as das células tratadas somente com EAPa e não foi observado o processo de fusão celular (setas).Barra 10 µm. Figura 19: Análise das células da medula tratadas por 96 horas. (a) Células controle sem tratamento, observar os macrófagos espraiados (setas). (b) Células tratadas com EAPa, observar o espraiamento celular, aumento do volume citoplasmático e as células com características de MA (seta). (c) Células tratadas com M-CSF, observar a presença de MA (setas) e observar que a maioria das células está sofrendo o processo de fusão celular (setas). (d) células tratadas com EAPa + M-CSF, observar os MA (setas), observar também que as células estão iniciando o processo de fusão celular, sugerindo que EAPa não esteja atuando em sinergia com o M-CSF (setas). Barra 10 µm. 40 Figura 18 Figura 19 41 4.4.3. DETECÇÃO DE MARCADORES DE SUPERFÍCIE (IMUNOFENOTIPAGEM) 4.4.3.1. Imunofluorescência a) Marcação com CD11b Após 96 horas de cultivo as células foram analisadas por microscopia óptica e foi observado que a maioria das células aderentes eram macrófagos, e para confirmar se essas células pertenciam ou não a linhagem monocítica foi feita a marcação para CD11b. Foi observado que a maioria das células do grupo EAPa apresentaram marcação positiva para CD11b (Figura 20), mostrando que EAPa parece estimular o processo de diferenciação celular. Foi possível observar que as células tratadas apresentaram maior padrão de espraiamento celular e maior volume citoplasmático, características típicas de células ativadas. 42 Figura 20. Detecção do marcador de superfície CD11b (macrófagos) em cultura de células da medula óssea mantidas em cultura e tratadas com EAPa na concentração de 100 µg/mL por 96 horas. (a) Controle positivo de macrófagos peritoneais; (b) Controle sem tratamento; (c) Células da medula tradadas com 100 µg/mL de EAPa; (d) Células da medula óssea tratadas com M-CSF. Observar que as células tratadas com EAPa apresentam marcação positiva para CD11b. 43 Figura 20 44 b) Marcação com CD11c: A análise por microscopia de imunofluorescência mostrou um menor número de células marcadas positivamente para CD11c (Figura 21) no grupo EAPa, quando comparadas ao resultado obtido com o marcador CD11b, mostrando que EAPa não estimula a diferenciação das células da medula em células dendríticas. 45 Figura 21. Detecção do marcador de superfície CD11c (células dendríticas) em cultura de células da medula óssea mantidas em cultura e tratadas com EAPa na concentração de 100 µg/mL por 96 horas. (a) Controle sem tratamento; (b) Células da medula tradadas com 100 µg/mL de EAPa. 46 Figura 21 a a b 47 4.4.3. CITOMETRIA DE FLUXO a) Marcação com CD11b Com a finalidade de verificar se EAPa estimular a diferenciação dos monócitos em macrófagos foi feito a análise por citometria de fluxo (Figura 22), no qual mostrou que as células tratadas com EAPa apresentaram uma porcentagem de 10,60% para o marcador CD11b, marcação bem próxima das que foram observadas no grupo de macrófagos peritoneais e do grupo que foi estimulado com M-CSF. Porém, a porcentagem observada no grupo EAPa é equivalente ao dobro do que foi encontrado pelo grupo controle sem tratamento. Figura 22. Detecção do marcador de superfície CD11b em cultura de células da medula óssea mantidas em cultivo e tratadas com EAPa na concentração de 100 µg/mL por 96 horas. (a) Controle positivo de macrófagos peritoneais; (b) Controle sem tratamento; (c) Células da medula tradadas com 100 µg/mL de EAPa; (d) Células da medula óssea tratadas com M-CSF. Foi observado um aumento significativo da marcação positiva de CD11b nas células tratadas com EAPa quando comparadas ao controle sem tratamento. Foi utilizado ANOVA, t Student. (*) p < 0,05, (**) p< 0,01, (***) p< 0,001. 48 b) Marcação com CD11c A análise por citometria de fluxo (Figura 23) mostrou que as células tratadas com EAPa apresentaram uma porcentagem de 6,94 % para o marcador CD11c, marcação bem próxima das que foram observadas no grupo controle sem tratamento que foi de 7,04%. Mostrando assim que EAPa não estimula o processo de proliferação e maturação das células dendríticas. Figura 23. Detecção do marcador de superfície CD11c em cultura de células da medula óssea mantidas em cultura e tratadas com EAPa na concentração de 100 µg/mL por 96 horas. (a) Controle sem tratamento; (b) Células da medula tradadas com 100 µg/mL de EAPa. Não foi observado diferença significativa entre o grupo CTL e EAPa. Foi utilizado ANOVA, t Student. 49 4.4.5. RESPOSTA MICROBICIDA DAS CÉLULAS DA MEDULA TRATADAS COM EAPa 4.4.5.1. Dosagem da produção de NO por células da medula tratadas com EAPa Com o objetivo de detectar a produção de NO em culturas de células da medula tratadas com EAPa foi realizado o método de Griess para análise de nitrito/nitrato. Foi possí vel observar que não ocorreu a produção de NO em células cultivadas por 96 horas tratadas com EAPa, quando comparadas com o controle sem tratamento e com controle positivo est imulado com M-CSF. Foi possível observar a redução da produção de NO no grupo de células tratadas com EAPa e EAPa + M-CSF (Figura 24). Figura 24. Gráfico da dosagem de NO de células tratadas com EAPa. Foi observado diferença significativa entre o grupo controle e EAPa e os grupos M-CSF e EAPa + M-CSF.. Foi utilizado ANOVA, t Student. (*) p < 0,05, (**) p< 0,01, (***) p< 0,001. 50 4.4.5.2 Produção de ROS por células da medula tratadas com EAPa A detecção de ROS foi realizada através da reação citoquímica NBT. Foi possível observar um aumento na produção desses radicais em células da medula tratadas com EAPa na concentração de 100 µg/mL. Foi utilizado um controle negativo, células da medula óssea sem tratamento e um controle positivo de células estimuladas com M-CSF para comprovar a especificidade do teste (figura 25). . Figura 25. Quantificação das células marcadas positivamente com NBT. Foi observado um aumento significativo no número de células marcadas positivamente pcom NBT no grupo EAPa quando comparados ao grupo controle. Como controle positivo foi utilizado células da medula tratadas com M-CSF. Foi utilizado ANOVA, t Student. (*) p < 0,05, (**) p< 0,01, (***) p< 0,001. 51 4.4.5.3. Interação de Saccharomyces cerevisiae com células da medula tratadas com EAPa A análise da atividade fagocítica foi realizada utilizando células da medula tratadas com 100 μg/mL de EAPa por 96 hora e submetidos à interação com Saccharomyces cerevisiae. Posteriormente, foi realizada a contagem do número de partículas fagocitadas em microscópio óptico de campo claro. Não houve diferença significativa na atividade fagocítica entre as células tratadas e as sem tratamento. Foram contadas 200 células por lamínula e o índice endocítico foi obtido calculando-se a porcentagem de células que endocitaram e a média de levedura por células. As células foram contadas em microscópio óptico Olympus BX41(Figura 26). Figura 26. Índice endocítico da interação de células da medula óssea com Saccharomyces cerevisae tratados com 100 µg/mL de EAPa. Como controle positivo foi utilizado células da medula tratadas com M-CSF. Não foi observado diferença significativa entre o grupo CTL e EAPa. Foi utilizado ANOVA, t Student. 52 5. DISCUSSÃO A medula óssea é um tecido hematopoiético responsável por gerar todas as células sanguíneas circulantes, como neutrófilos, linfócitos e monócitos. Essas células são importantes para o combate de vários patógenos, na cura ou simplesmente para amenizar os sintomas de várias patologias. Frente a importância dessas células na defesa do organismo humano, se faz importante a busca de novos medicamentos que sejam capazes de promover a proliferação e diferenciação das células da medula (Abud et al., 2006; Cesar et al., 2008), tornando assim, importante os estudos utilizando bioprodutos, principalmente devido a imensa biodiversidade da região Amazônica. Este estudo demonstra, pela primeira, vez a ação do extrato aquoso da raiz da planta Physalis angulata sobre as células da medula óssea de camundongos. Foi possível observar, após 72 horas de cultivo in vitro, que as células da medula óssea e tratadas com EAPa apresentaram redução do número de células nucleadas no sobrenadante e aumento das células aderidas ao substrato, mostrando assim que EAPa estimula o processo de adesão celular. Cesar (2008) mostrou que o medicamento imunomodulador homeopático Canova® também estimula o processo de adesão celular, reduzindo o número de células nucleadas presentes no sobrenadante. No presente trabalho foi feita a caracterização da população de células da medula óssea por microscopia óptica, onde foi observado vários tipos celulares, com morfologia típica de linfócitos, macrófagos, células com núcleo em anel, monócitos e PMNs. Devido à presença de diversos tipos celulares nas culturas foi realizada a quantificação dessas células. A análise percentual do número de linfócitos mostrou que houve uma redução significativa desse tipo celular no grupo tratado com EAPa no período 96 horas quando comparado ao controle sem tratamento, mostrando que EAPa não estimula a adesão e proliferação desse tipo celular. Bastos et al. (2008) mostraram que EAPa, após ser injetada peritonealmente em ratos Wistar nas concentrações de 1 mg/kg e 5 mg/kg, apresentou um efeito inibitório da proliferação de linfócitos, especialmente nas células T. Os resultados obtidos nesse estudo também corroboram com aqueles observados por Yu et al. (2010), os quais, demonstraram que a fisalina H, obtida de P. angulata, apresentou uma atividade imunossupressora, impedindo assim a proliferação das células T. Na quantificação dos PMNs foi observado uma redução no número deste tipo celular no grupo tratado com M-CSF nos períodos de 24 e 72 horas quando comparados aos 53 grupos EAPa e EAPa + M-CSF, e não foi observado diferença significativa na quantificação deste tipo celular entre o grupo CTL e o EAPa, mostrando que EAPa não estimula a proliferação dos PMN’s. Na literatura muitos trabalhos mostram a ação de extratos de plantas sobre os PMN’s (Braga et al., 2012; Liz et al., 2012; Suzuki et al., 2012), porém estes trabalhos relatam apenas análise da viabilidade dos granulócitos, sobre sua resposta microbicida e ativação. Entretanto, este trabalho mostra pela primeira vez a ação de um produto de origem natural sobre o processo de diferenciação celular dos PMN’s. Este estudo demonstrou a ação de EAPa sobre as células com núcleo em anel e os monócitos, células estas precursoras dos macrófagos. Não foi observado uma redução significativa no grupo EAPa em relação ao número de células com núcleo em anel e de monócitos quando comparados ao grupo controle sem tratamento, a diminuição desses dois tipos celulares no grupo tratado com M-CSF já era esperado, pois esse fator de crescimento estimula as células da medula comprometidas com as linhagens de fagócitos mononucleares a se diferenciarem em macrófagos. Entretanto, foi observado que EAPa não esta atuando em sinergia com o M-CSF, pois no período de 24 horas foi observado uma redução significativa no número de células com núcleo em anel e de monócitos no grupo M-CSF quando comparado ao EAPa + M-CSF. Na análise quantitativa, não foi observada diferença significativa no número de macrófagos residentes e ativados entre os grupos EAPa e controle, porém foi observado um aumento significativo no número de macrófagos ativados no grupo M-CSF quando comparado com o grupo tratado apenas com EAPa a partir do período de 24 horas. Além disso, foi evidenciado também que EAPa não está atuando em sinergia com M-CSF, pois não foi observada uma maior quantidade no número de macrófagos ativados no grupo EAPa + M-CSF ao longo do tempo de cultivo quando comparados aos grupos EAPa e o controle, como foi observado no grupo M-CSF. A análise quantitativa do número de macrófagos ativados mostrou que não houve diferença significativa entre as células tratadas com EAPa e as células do grupo controle, porém a análise morfológica por microscopia óptica mostrou que células tratadas com EAPa apresentaram um maior padrão de espraiamento celular e maior volume citoplasmático, quando comparados com o grupo controle. Abud et al. (2006) e Cesar et al. (2008) mostraram que células tratadas com o medicamento Canova® apresentaram uma maior quantidade de células aderidas ao substrato, e um aumento do volume citoplasmático e do espraiamento celular, características estas, típicas de células ativadas. 54 Por microscopia óptica foi mostrado que a maioria das células aderidas apresentavam morfologia típica de macrófagos, essas células apresentam algumas características peculiares que permitem a sua identificação por microscopia óptica, como o espraiamento celular, forma do núcleo e vacuoalização citoplasmática, porém, para realizar uma análise mais segura se faz necessário a utilização de marcadores de superfície específicos que são encontrados na membrana desses fagócitos. Os macrófagos apresentam várias proteínas em sua superfície, umas delas é a CD11b, essa proteína também pode ser encontrada em pequena quantidade na superfície dos neutrófilos, células dendríticas e em linfócitos, porém a CD11b é expressa em grande quantidade na superfície dos macrófagos (Brom et al., 1995). Nesse trabalho a identificação dos macrófagos foi realizada utilizando o marcador CD11b,e analisado por microspocia de imunofluorescência e citometria de fluxo. A marcação da proteína de superfície CD11b por técnica de imunofluorescência mostrou que a maioria das células aderentes e tratadas com EAPa eram pertencentes a linhagem monocítica, ou seja, apresentaram marcação CD11b positiva. Cesar et al. (2008) mostraram em seu trabalho que o tratamento com nedicmannto Canova® estimula a diferenciação das células da medula óssea em macrófagos, pois a maioria das células aderentes e tratadas com medicamento Canova® apresentavam marcação CD11b positiva. A análise por citometria revelou que as células tratadas com EAPa apresentaram um porcentagem de células marcadas positivamente para CD11b de 10,60%, sendo esta bem próxima a do controle positivo composto por macrófagos peritoneais que foi de 12,18%, e bem similar ao do grupo M-CSF que foi de 9,21% e muito superior a do grupo controle, no qual apresentou uma porcentagem de 5,26%. Este resultado mostra que EAPa tem a capacidade de estimular a diferenciação das células da medula em macrófagos, sugerindo assim que este extrato seja um potencializador da resposta imune inata, que é importante, pois é estabelecida logo no início da invasão do agente agressor (vírus, bactéria, protozoários, fungos), e os macrófagos, são umas das células pertencentes ao sistema imune que migram para o local da invasão, reconhecendo o agente agressor, fagocitando e eliminando o patógeno (de Oliveira et al., 2011; Abbas et al., 2012). Além disso, a análise por citometria mostrou que EAPa estimula a diferenciação das células da medula em macrófagos, essas células são de suma importancia para a manuntenção de um resposta imune eficaz, e frente a essa grande importancia, atualmente muitos estudos vem demonstrando a capacidade de diferentes bioprodutos em promover a ativação dos macrófagos aumentando a sua atividade fagocítica, produção de ROS, e dentre outras variadas vias, e nesses macrófagos ativados são observadas algumas características típicas 55 como aumento do volume citoplasmático, maior espraimento celular, aumento das organelas citoplasmáticas, maior número de filopódios e vacúolos (Abud et al., 2006, Lopez et al, 2006; Cesar et al., 2008, Mayti et a.l, 2009; Rodrigues et al., 2011). Nesse estudo foi mostrado que EAPa promoveu a ativação dos macrófagos derivados da medula óssea através da produção de ROS. Resultado similar também foi obtido por Lee et al. (2009), no qual eles mostraram que o extrato de Physalis angulata apresenta a capacidade de estimular a produção de ROS em células cancerígenas da mucosa oral. Em relação a produção de NO, EAPa parece não estimular o aumento da produção desses radicais. Foi observado uma redução no grupo EAPa na produção de NO quando comparado ao grupo controle sem tratamento. A ação inibitória de EAPa sobre a produção de NO também foi observada nas células estimuladas com M-CSF e tratadas com EAPa. Resultado similar foi observado por Soares et al. (2003), nos qual foi mostrado que as fisalinas B, F e G na concentração de 2 µg/mL, inibiram a produção de NO em macrófagos previamente estimulados com LPS e INF-y. O extrato da planta Physalis alkekengi também inibiu a produção de NO em macrófagos tratados nas concentrações de 50 e 100 µg/mL (Kang et al., 2011). Assim como análise da produção de ROS e NO, a fagocitose também é uma forma de avaliação da ativação dos macrófagos, neste trabalho foi mostrado que células da medula óssea tratadas com EAPa não apresentaram um aumento na atividade fagocítica quando comparado ao grupo contole. Esse resultado esta de acordo com o que foi realizado com os extratos vimang e mangiferin que também não foram capazes de aumentar a atividade fagocítica dos macrófagos (Garcia et al., 2002). Resultados prévios obtidos por no nosso grupo de pesquisa mostram que EAPa apresenta a capacidade de ativar macrófagos de murinos. Por microscopia óptica, microscopia eletrônica de varredura e microscopia de imunofluorescência foi observado que os macrófagos tratados apresentaram maior padrão de espraiamento celular, volume citoplasmático e aumento no número de projeções citoplasmática, por microscopia óptica foi notável a elevação do número de vácuoloso citoplasmático, e a análise por microscopia eletrônica de transmissão mostrou que as organelas apresentavam características normais e não foi observados estruturas apoptóticas nas células tratadas. EAPa não estimulou o aumento da produção de NO e nem aumentou a atividade fagocítica dessas células, porém, no ensaio citoquímico NBT foi mostrado que EAPa tem a capacidade promover um aumento de ROS nas células tratadas com 100 µg/mL, e esse resultado foi confirmado pela contagem das células marcadas positivamente como o NBT. Esses resultados citados complemementam com os que foram obser- 56 vados nesse trabalho, mostrando a capacidade de EAPa em ativar as células mononucleares da medula óssea mantidas em cultura in vitro. EAPa se mostrou como uma substância capaz de estimular a diferenciação dos monócitos da medula em macrófagos, porém, os monócitos quando migram para os tecidos também podem se diferenciar em CDs, que também participam da resposta imunológica, atuando como uma célula apresentadora de antígeno (APc) (Geissmann et al., 2010). Os CDs, são fagócitos que apresentam em sua superfície uma proteína denominada de CD11c, e para verificar se EAPa estimula o processo de diferenciação dos monócitos em CDs foi feita a marcação dessa proteína por imunofluorescência e análise por citometria de fluxo. A marcação por imunofluorescência mostrou que poucas células apresentaram marcação positiva para CD11c no grupo EAPa e no controle sem tratamento. In vitro as células da medula óssea se diferenciaram em CDs num período de duas semanas, e para tal diferenciação é necessário a presença do GM-CSF, IL-4 e TNF-α (Inaba et al., 1992; Citterio et al., 1999). Devido a essa características pode ser sugerido que as células que marcaram positivamente com CD11c seja CDs imaturas, pois na ausência desses fatores de crescimento e citocinas as CDs imaturas tendem a aderir (Citterio et al., 1999). Por citometria foi verificado que não houve diferença significativa na marcação positiva para CD11c no grupo EAPa (6,94%), quando comparado ao grupo controle sem tratamento (7,06%), mostrando que EAPa não estimula o processo de diferenciação e maturação das células mononucleares da medula óssea em CDs. M8, uma substância altamente diluída, apresentou ação similar a EAPa, pois essa substância também não estimulou o processo de maturação e diferenciação das CDs (de Oliveira et al., 2011). A anáise da viabilidade das células da medula tratadas e não tratadas mostrou que o extrato não apresentou efeito citotóxico para as células da medula óssea durante os quatro tempos de cultivo. Foi observado também que as células tratadas apresentavam mais células viáveis que o controle, evidenciando mais uma vez a capacidade de EAPa em ativar macrófagos. Estas células ativadas tem a capacidade de secretar várias citocinas, como o TNF-α, que é capaz estimular a liberação de agentes anti-apoptótico para o meio de cultura, impedindo que as células monofagocíticas entrem em apoptose (Rusten et al., 1994). Este resultado corrabola com os trabalhos realizados com IH, no qual mostraram que as células da medula óssea tratadas com IH conseguiam sobreviver por mais de três semanas em cultivo (Abud et al, 2006; Cesar, 2008). Aumento de células marcadas positivamente com CD11b, aumento da adesão celular, do padrão de espraiamento celular, do volume citoplasmático e de células marcadas 57 positivamente com NBT no grupo tratado somente com EAPa, são características típicas de células ativadas. Vale ressaltar que os testes de viabilidade celular demonstraram que EAPa não apresentou efeito citotóxico em células da medula óssea. Então, a partir dos resultados citados é possível inferir que EAPa parece atuar como agente imunomodulador favorecendo ativação de macrófagos. 58 6. CONCLUSÃO Os resultados apresentados e discutidos permitem concluir que o extrato aquoso da raiz da planta Physalis angulata: 1. Não apresentou efeito citotóxico para as células da medula óssea. 2. Foi capaz de estimular o processo de adesão celular. 3. Interferiu no processo de proliferação, diferenciação e adesão dos linfócitos e polimorfonucleares. 4. Promoveu alterções morfológicas nas células da medula óssea, uma vez que foi observado maior padrão de espraiamento celular e do volume citoplasmático, características típicas de células ativadas. 5. Promoveu a diferenciação das células da medula óssea em macrófagos. 6. Não estimulou a produção de óxido nítrico e nem o aumento da atividade fagocítica. 7. Promoveu a ativação dos macrófagos, como foi observado pelo aumento da produção dos radicais de oxigênio. 59 7. REFERÊNCIAS ABBAS, A.K.; LIGTHMAN, A.H. & PILLAI, S. Biologia Celular e Molecular. Ed. Elsevier. Rio de Janeiro, 2012. 544p. ABDELHAY, E. S.F.W.; BRAGA, F.H.P.;BINATO, R.; BOUZAS, L.F.S. Hematopoietic stem cells: expansion and perspectives for therapeutic use. Rev. Bras. Hematol. Hemoter, 31: 2-8. 2000. ABUD, A.P.R. Ação In Vitro do medicamento homeopático Canova em células de medula óssea de camundongos. Dissertação de mestrado. Curitiba. Universidade Federal do Paraná, 2005. 99p. 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