um modelo do planejamento integrado de recursos para a

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UM MODELO DO PLANEJAMENTO INTEGRADO DE RECURSOS
PARA A ENERGIZAÇÃO RURAL NO NOVO CENÁRIO ELÉTRICO
BRASILEIRO
Luiz Henrique Alves Pazzini, Fernando Selles Ribeiro, Luiz Fernando Kurahassi,
Luiz Cláudio Ribeiro Galvão, Miguel Edgar Morales Udaeta
GEPEA-USP - Grupo de Energia do Departamento de Engenharia de Energia e Automação Elétricas
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo
Avenida Prof. Luciano Gualberto, travessa 3, 158; Sala A2-35
CEP: 05508-900, São Paulo - SP - Brasil; Tel: (55)(11)818-5279 - Fax: (55)(11)210-3595
e-mail: [email protected]
RESUMO
A mudança para um ambiente competitivo
do setor elétrico brasileiro é simultânea à mudanças
sociais e econômicas na zona rural: as atividades
tradicionais agropecuárias estão se expandindo e
estão surgindo novos negócios, tais como
restaurantes e pesque-pague, definindo “o novo rural
brasileiro”. Diante disso, a energização de áreas
rurais necessita de alternativas dinâmicas e atuais,
que possibilitem o acesso à energia, capazes de
atender necessidades básicas e de produtividade.
Este trabalho apresenta um modelo de Planejamento
Integrado de Recursos (PIR), baseado na
identificação da real demanda dos interessados e das
fontes de recursos existentes para seu atendimento. É
analisada a importância da participação de diversos
segmentos do Estado, de empresas privadas, dos
interessados, de toda a sociedade. Conclui-se que a
alternativa é viável e se destaca o papel dos agentes
reguladores do Estado na indução de mecanismos
que tornem a zona rural mais atraente para
investimentos.
ABSTRACT
The change to competitive atmosphere for
the Brazilian electric sector is simultaneous to the
social and economic changes in the rural zone: the
agricultural traditional activities are expanding and
new business are appearing, such as restaurants and
fish-pay, as " the new rural Brazilian ". Because that,
the electrification of rural areas needs real and
dynamic alternatives, that facilitate the access to
energy, to meet the basic needs and for productivity.
This paper presents a model of Integrated Resources
Planning (IRP), based on the identification of the
real demand of the interested ones and of the sources
of existent resources for its attendance. The
importance of the participation of several segments
of the State, of private companies, of the
stakeholders, of the whole society is analyzed. It is
founded that the alternative is viable and it stands
out the role of the State regulator agents in the
induction of mechanisms that turn more attractive
the rural zone for investments.
INTRODUÇÃO
O século XX foi palco de diferentes
experiências relativas à participação do Estado nos
sistemas econômicos das nações: desde o
centralismo total das economias comunistas até o
alto grau de liberdade do modelo norte americano. A
discussão sobre qual deve ser o papel do Estado na
vida econômica de um país continua gerando debates
apaixonados, fortemente marcados por questões
ideológicas. No contexto atual, a tendência
dominante é o Estado deixar sua função
empreendedora mas manter um papel atuante. De
fato, o Estado está indicando o caminho à iniciativa
privada realizar os investimentos necessários para a
criação de uma infra-estrutura que atenda aos
anseios da sociedade moderna. Porém, deverá
assumir o papel de fiscalizador, no intuito de garantir
a qualidade dos serviços prestados.
As razões apregoadas para tais alterações
promovidas são de que o arcabouço institucional
anterior tinha esgotado seu potencial. Isso estaria
evidente na queda de qualidade dos serviços
ofertados à população e na crescente necessidade de
incremento nas tarifas. Esses fatos geraram
descontentamento nos atores da indústria energética
(dentre eles os consumidores) que passaram a
reivindicar mudanças que alterassem o quadro
vigente. A alternativa encontrada foi buscar a senda
da privatização.
O processo de desestatização, como
referencial do paradigma do mercado, iniciou-se
com força na Europa, especialmente na Inglaterra
onde as empresas estatais foram quase que
totalmente privatizadas. Esse movimento de
alterações no setor público também atingiu terras
brasileiras. A década de 90 vem assistindo a um
contínuo processo de transferência das empresas sob
tutela do Estado para mãos da iniciativa privada no
Brasil. De fato, o sistema de telecomunicações já foi
inteiramente transferido para controle de empresas
particulares e o setor de energia elétrica e de gás
natural estão trilhando caminhos similares. A
distribuição de energia elétrica já está, praticamente,
toda sob a tutela da iniciativa privada; parte da
geração também já foi vendida, devendo o Estado
manter sob seu controle o sistema de transmissão.
Essas mudanças criaram a necessidade do
surgimento de órgãos capazes de zelar pela
excelência dos serviços prestados por estas
empresas. Assim, foram constituídas agências
federais com o objetivo de regular e fiscalizar a
qualidade do atendimento: no setor de
telecomunicações surgiu a Agência Nacional de
Telecomunicações (ANATEL) e no setor de energia
as Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e
Agência Nacional do Petróleo (ANP), sendo que a
Agência Nacional da Água (ANA) está em vias de
entrar em cena. Também estão sendo formadas
comissões estaduais para auxiliar o trabalho das
agências federais. Um exemplo é a Comissão de
Serviços Públicos de Energia (CSPE) de São Paulo.
Tais alterações no âmbito dos serviços
públicos definem a consolidação da discussão sobre
a universalização do atendimento, entre eles o da
eletricidade em áreas rurais. Durante muitos anos
diferentes programas de eletrificação rural foram
elaborados e implantados, contando com diferentes
linhas de financiamento e desenhos de aplicação. No
entanto, tal iniciativa não foi suficiente para alcançar
as expectativas de diminuir o déficit de eletricidade
nessa área pois, como se observa na Figura 1, falta
luz em mais de 50% das propriedades rurais
brasileiras.
Os dados da Figura 1, mesmo levando-se
em conta sua imprecisão, mostram a existência de
um grande trabalho a ser realizado, dado que regiões
mais desenvolvidas, como o Sul e o Sudeste, ainda
contam com grande parcela de sua população rural
desprovida de energia elétrica. A situação agrava-se
quando são observadas regiões mais carentes, como
as regiões Norte e Nordeste, que apresentam um
grande vazio elétrico, sendo necessários grandes
investimentos para supri-lo.
Brasil
Nordeste
Sul
Propriedades rurais
Sudeste
Propriedades rurais eletrificadas
Norte
Centro-Oeste
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
Núm ero de propriedades rurais (m ilhares).
Figura 1: Situação da eletrificação rural no Brasil.
Fonte: ELETROBRÁS (1999).
Segundo RIBEIRO (1993), uma das razões
para tal cenário é a não utilização de padrões mais
simples nas redes elétricas que atendem áreas rurais.
Os engenheiros agarram-se a supostas questões de
qualidade e segurança e, na maioria das vezes, não
aceitam discutir alterações. Esquecem-se do fato de
que a eletricidade traz consigo a possibilidade de
diminuir o fluxo migratório às metrópoles e,
consequentemente, maiores possibilidades no
desenvolvimento das regiões menos favorecidas
(tanto pela natureza dos recursos locais como pelo
esquecimento dos governos).
Foi neste cenário que ocorreram as
mudanças no setor elétrico brasileiro, gerando mais
dúvidas sobre o futuro da energização das áreas
rurais, pois o momento de transição que gera a
privatização e a desregulamentação vislumbra o
novo paradigma de mercado. A questão que fica é
como fazer com que empresas privadas se interessem
pelo atendimento de um mercado difícil e com
incertezas de retornos dos investimentos (visível).
Este trabalho apresenta uma proposta de
abordagem da eletrificação rural na nova situação de
mercado para a indústria elétrica no Brasil. Esta
abordagem propõe a determinação de recursos
orçamentários anuais para energização do campo
como parte da estratégia de desenvolvimento local
e/ou regional. Assim, sempre que houver o
conhecimento concreto do real estado da
eletrificação rural e definidos os limites de custo
mínimo e classe de instalação (pré-energização ou
definitiva), haverá uma quantidade de recursos a ser
alocada em uma dada geografia e em determinado
período de tempo.
A idéia é introduzir as bases econômicas e
legais para estabelecer um processo de eletrificação
rural em um ambiente competitivo, no qual o poder
concedente colocaria em oferta (ou licitação) bolsões
a serem energizados no campo onde a empresa
(concessionária, cooperativa, consórcio de empresas,
associações, ONGs, etc) vencedora, que apresente o
menor custo para realizar o empreendimento, seja
responsável pela implementação da eletrificação
rural na região, levando em conta as características
locais de disponibilidade energética e participação
da sociedade.
Também, na medida em que este trabalho
procura
sintonizar-se
no
contexto
do
desenvolvimento da eletrificação rural no ambiente
das concessionárias privadas, é importante ressaltar
que a proposta se faz dentro de um mercado
emergente, que é fortemente influenciado por uma
demanda reprimida, característica dos países em
desenvolvimento.
O NOVO CENÁRIO DA
ELETRIFICAÇÃO RURAL NO BRASIL
O setor elétrico brasileiro passou, nos
últimos anos, por radicais alterações institucionais.
De um monopólio estatal, derivou-se para um
conjunto de concessionárias privadas, onde o
mercado, a competição e a regulação são seus pilares
fundamentais.
No entanto, persistem críticas a tais
mudanças, pois a evidência da liberalização dos
mercados de energia (mais claramente no hemisfério
norte) levou a alterar o modelo do setor elétrico
brasileiro. Porém, a alteração deste modelo foi
realizada com certas lacunas, sendo uma delas a
eletrificação rural. ROSA et al (1998) resumem os
receios que perturbam grande parte da “inteligência
elétrica” nacional: “A falta de definição prévia das
regras do novo modelo institucional do complexo
setor elétrico brasileiro, contribui significativamente
para aumentar as resistências dos investidores
privados que limitam-se a aproveitar as
oportunidades de negócios surgidas com a venda de
ativos sub-avaliados e já amortizados pela sociedade
brasileira. Os exemplos verificados pela população
do Estado do Rio de Janeiro devem servir como
alerta e levar o governo a rever seu calendário de
prioridades no que se refere às reformas e
privatização do setor elétrico”.
Quando se analisa com atenção a questão
da zona rural observa-se forte tendência, no escopo
do paradigma de mercado, de que esse segmento da
sociedade brasileira permaneça, por um bom
período, sem espaço e esquecido pelos planejadores
do desenvolvimento nacional. De fato, se no
ambiente estatal já não foi possível o atendimento
generalizado do pobre rural, o que acontecerá agora
quando o mercado está sendo imposto como
referencial de implementação? O mais provável, se
nada for estipulado pelo poder concedente, é que a
eletrificação rural venha a se definir como um artigo
de luxo no campo. LESSA, in ROSA et al (1998),
deixa claro essa preocupação: “Todos concordam
que o bilhete de entrada na modernidade deste
século foi o acesso à energia elétrica. Países que
integraram toda a sua população ao século das luzes
e necessitam atender a um modesto crescimento
vegetativo de demanda energética, teriam, na
temática de aumentar a eficácia e a eficiência do
sistema elétrico, uma motivação central na reforma.
No Brasil, entretanto, uma parcela significativa da
população rural ainda está no século XIX, e as ‘luzes
da cidade’ exercem um fascínio não literal para o
crescimento explosivo das metrópoles. Pelos sinais
de mercado esta população jamais será priorizada,
permanecerá excluída. A não ser quando, favelizada,
sugerir um mercado atraente. Nossa reforma, em
seus mesquinhos estudos de corretagem, nem
suspeita o quanto esta questão é estratégica”.
Os planejadores do desenvolvimento
brasileiro necessitam ter como norte a busca do
desenvolvimento sustentável, ou seja, um processo
de desenvolvimento que ocorra sem trazer prejuízos
para o meio-ambiente e sem comprometer as
necessidades das gerações futuras. Isso passa pela
questão energética das áreas rurais, que nos leva a
propor a introdução da filosofia do Planejamento
Integrado de Recursos (PIR) no contexto local para
responder as questões aqui levantadas..
A PROPOSTA DA ELETRIFICAÇÃO
RURAL
O ambiente rural apresenta características
bastante diversas quando comparado à zona urbana.
As cidades, num ambiente urbano típico, apresentam
uma grande densidade populacional e uma grande
gama de diferentes atividades produtivas: indústrias,
pontos comerciais dos mais diversos, profissionais
autônomos, escolas, universidades, etc. Ou seja, a
cidade é um mercado mais atrativo para as grandes
corporações. Elas sabem que a possibilidade de
retorno do seus investimentos é muito alta. Já o
campo apresenta uma densidade populacional
extremamente baixa e, até pouco tempo, pouca
diversidade nas atividades produtivas
Porém o cenário do campo está mudando,
através do surgimento de novos negócios além das
atividades agropecuárias, tais como restaurantes e
pesque-pague. A Figura 2 retrata a evolução da
renda na zona rural durante a década de 90. Por esta
Figura, percebe-se claramente as alterações que vem
ocorrendo, com um aumento gradual das
denominadas atividades não-agrícolas e o declínio
no crescimento da expansão das atividades agrícolas.
1000
agrícola
1997
1996
1995
0
1993
500
1992
R$ (em
milhões)
1500
não agrícola
Figura 2: Evolução da renda total das pessoas residentes na zona
rural, segundo o setor de ocupação, 1992-97 - Brasil.
Fonte: Silva (1999).
Silva (1999) mostra que o aumento das
oportunidades de trabalho em atividades nãoagrícolas estancou a queda no tamanho da população
rural no País: de uma redução de 0,2% ao ano na
década de 80, derivou-se para um crescimento de
0,5% ao ano na década de 90.
Essa alteração no perfil da zona rural gera a
necessidade de incrementar sua infra-estrutura, como
proporcionar acesso à eletricidade e outros
energéticos para satisfazer aos anseios crescentes.
Surge, então, um novo ingrediente na discussão da
eletrificação rural, pois aumenta o clamor por
energia no campo. Isso se reflete no novo cenário do
setor elétrico: as preocupações normalmente são
voltadas para os grandes consumidores, a discussão
é sobre como distribuir energia com boa qualidade,
como evitar que harmônicos criem pertubações nas
grandes indústrias; esquece-se de como propiciar a
chegada de um bico de luz nos rincões mais distantes
do país. Porém as mudanças no campo fatalmente
irão proporcionar maiores pressões para uma maior
universalização da energia elétrica.
Como o mercado, mesmo emergente no
sentido da mudança para competição e participação
privada, já mostra suas tendências a ignorar o
atendimento elétrico das zonas rurais, esse nicho da
sociedade precisa contar, ainda, com a parceria do
Estado, que necessita elaborar projetos, em conjunto
com a iniciativa privada, que propiciem a chegada de
luz ao sertão, como parte de um processo de
desenvolvimento limpo. E esses projetos, para
apresentarem melhores resultados, devem ser
exeqüíveis e calcados em iniciativas que envolvam
diversos segmentos da estrutura estatal: ministérios
(quando da questão nacional) e secretarias (quando
de questões estaduais) de desenvolvimento, trabalho,
energia, infra-estrutura e de agricultura. Também,
segmentos da sociedade civil organizada diretamente
envolvidos, os interessados e a iniciativa privada
devem ser convocados a participar. O problema é de
difícil equacionamento e a somatória de esforços de
diferentes espectros da sociedade propicia maior
eficácia na sua resolução.
O Planejamento Integrado de Recursos
(PIR) possibilita à elaboração de alternativas para
diminuir (e até eliminar, no longo prazo) o déficit de
eletricidade no campo. O PIR, conforme esquema
básico mostrado na Figura 3, pode ser entendido
como um instrumento no processo de planejamento
que leva em consideração opções de utilização de
recursos do lado da oferta e da demanda, em termos
qualitativos
e
quantitativos,
visando
o
desenvolvimento sustentável e contando com a
participação dos órgãos, ou elementos da sociedade
envolvidos, em todo o processo de planejamento,
propiciando a aceitabilidade dos empreendimentos
pela sociedade como um todo (seja no ambiente
local, regional ou global).
PREVISÃO DE
DEMANDA
IDENTIFICAR
METAS
RECURSOS
EXISTENTES
NECESSIDADE
DE
NOVOS RECURSOS
OFERTA
DEMANDA
FACTORES EXTERNOS
SOCIAIS E AMBIENTAIS
DEFINIÇÃO
DO MIX
ADEQUADO
DE
RECURSOS
T&D
TARIFAS
ANÁLISE DE RISCOS
E INCERTEZAS
APROVAÇÃO DO PODER PÚBLICO
PARTICIPAÇÃO PÚBLICA
MONITORAMENTO
OBTENÇÃO
DE
RECURSOS
Figura 3: Esquema geral do Planejamento Integrado de Recursos
(PIR).
Udaeta (1997) resume as etapas do PIR,
mostradas no diagrama da Figura 3, conforme
apresenta-se a seguir:
 identificação dos objetivos - definir claramente o
que se pretende atingir com o processo de
planejamento;
 estabelecimento da previsão da demanda a ser
atendida;
 identificação dos recursos de oferta e de
demanda disponíveis para o atendimento
energético segundo as metas estabelecidas;
 valoração dos recursos de oferta e demanda etapa na qual se confere, qualitativa e
quantitativamente, atributos aos recursos de tal
forma que se permita uma comparação entre eles.
Nem sempre é necessário, possível ou desejável
que esta valoração se dê apenas em termos de
custo. Os objetivos podem conduzir a atribuição
de outros critérios, até mesmo subjetivos;
 desenvolvimento de carteiras de recursos
integrados - etapa na qual, de acordo com as
metas, se agrupam os recursos, de oferta e
demanda, em carteiras, de modo que haja
diversas opções integradas, segundo o mesmo
período de previsão;
 avaliação e seleção de carteiras de recursos
integrados - etapa na qual se escolhe, dentre as
opções de carteiras, os recursos que atendem,
segundo os critérios objetivos definidos (menor
custo, maior satisfação, etc), à demanda prevista,
de acordo com as metas estabelecidas;
 plano de ação - etapa na qual se define, a partir
dos recursos já escolhidos, quais os passos que
devem ser dados para que a meta seja atingida.
Deve se prever instâncias avaliativas que
permitam o monitoramento do plano de ação ao
longo do tempo e o seu ajuste à realidade
constantemente mutável.
 participação dos interessados envolvidos nas
diferentes etapas pertinentes de tal forma a: de
um lado fundamentar o processo de planejamento
e, de outro, colocar os participantes cientes do
processo e da sua parcela de ganho.
Assim, alguns pontos importantes de uma
proposta para energizar o campo calcada nesses
princípios são listados a seguir:
 definir e/ou conhecer a região a ser atendida;
 quais os usos que serão dados a energia – ex:
produtivo ou melhoria da qualidade de vida?
 quais as fontes energéticas e hábitos de uso
existentes na região - ex: sistema elétrico
próximo? Potencial de utilização de energia não
tradicional? Possibilidade de aproveitamento de
PCH? Usos finais eficientes? Qual o perfil da
matriz energética local?
 qual é a participação dos interessados – ex:
podem arcar com parte dos investimentos?
Necessitam de um financiamento completo?
Existe possibilidade de executar parte das obras
em mutirão?
As respostas dessas e de outras questões
permitem a elaboração de um perfil da área e do
público a ser atendido. Isso possibilita a
determinação de qual montante de recursos deverá
estar disponível para energizar essa área. Esses
recursos podem provir de entidades que se
interessam em financiar projetos de infra-estrutura
nas zonas rurais. No Brasil, uma entidade que tem
participado de diferentes programas de eletrificação
rural e tem demonstrado interesse em expandir seus
horizontes de financiamento é o Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Segundo estudo da ELETROBRÁS (1999), outras
possíveis fontes de financiamento para eletrificação
rural são o Banco Mundial (BIRD), o Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID), o Banco
do Brasil, o Ministério de Minas e Energia e o
Ministério da Agricultura e do Abastecimento.
Recursos locais e de empresas privadas também
podem, e devem, ser buscados (inclusive deve-se
considerar, em um futuro bem próximo, o
financiamento a partir do CDM – Clean
Development Mechanism). A Figura 4 apresenta
graficamente, e de maneira sucinta, essa proposta.
Fontes
Energéticas
Locais.
Outras regiões.
Fontes Energéticas
Externas.
NICHO PASSIVEL DE
ENERGIZAÇÃO
Outras regiões.
Participação
dos
Interessados - Enevolvidos
Recursos dos
Interessados.
Financiamento
Externo.
Figura 4: O PIR para a energização rural.
Tendo sido identificadas as características
de consumo dos interessados, as características
energéticas disponíveis, quais os recursos com que
os interessados podem contribuir e uma fonte de
financiamento, propõem-se abrir um processo de
concorrência para atendimento da demanda
existente. Qualquer empresa (entidade pública,
privada ou mista) que tenha condições de atender os
interessados pode participar. Essas empresas podem
ser empreiteiras tradicionais, concessionárias, um
conjunto de empresas que se unem para construir
uma obra, ou mesmo uma cooperativa formada pelos
interessados (até a própria prefeitura). Eles devem
buscar atender a demanda através dos recursos
energéticos regionais anteriormente identificados.
Assim, uma empresa pode optar em elaborar um
projeto de expansão de rede; outra pode escolher um
aproveitamento hidrelétrico; outra pode optar por
utilizar o potencial das energias não tradicionais (ex.
solar, eólico, etc.); uma quarta pode optar pelos
recursos da biomassa local e existe, inclusive, a
possibilidade de ação nos usos finais e hábitos de
uso da energia.
As diversas propostas são, então,
apresentadas e analisadas. Os critérios utilizados na
análise não devem ser calcados apenas em função do
menor custo, e sim em valores que promovam o
desenvolvimento sustentável da região, o que
implica pensar num mix de recursos mínimos (como
indica a filosofia do PIR). Aqui a participação (ou
melhor, o envolvimento) dos interessados é
fundamental. São eles que conhecem mais suas
peculiaridades, ou seja, seus costumes, sua cultura.
Enfim, as características que envolvem o consumo
de energia.
Todo o processo é constantemente
analisado. Isso permite que eventuais erros possam
ser corrigidos no seu transcorrer. A aprimoração
constante dos trabalhos permite que os resultados ao
longo do processo de energização sejam sempre
melhores, pois otimiza a utilização dos diversos
recursos.
CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES
FINAIS
As mudanças no setor elétrico brasileiro já
são uma realidade e deve-se aprender a conviver
com elas. Hoje não mais existe o monopólio estatal
no setor de distribuição de energia elétrica, mas sim
um conjunto de empresas que disputam um grande
mercado. No entanto, ainda existem nichos pouco
atrativos. A zona rural é um deles.
Cabe ao Estado, através de suas instancias
de poder e tomada de decisão, criar mecanismos e
programas que propiciem condições de atendimento
à zona rural (quer seja através de regras, normas,
subsídios e/ou incentivos, quer seja através de
estratégias específicas de desenvolvimento). Essas
condições podem ser encaradas como incentivos que
tornem a zona rural um mercado mais atrativo para
os grupos privados. Sem isso, não haverá solução
para o problema. E, até o momento, discutiu-se
muito alguns problemas como qualidade de energia,
áreas de concessão, mudanças na matriz energética.
Esqueceu-se um pouco o atendimento do pobre da
zona rural.
Este trabalho apresenta as bases de uma
proposta que visa tornar possível minimizar a falta
de luz no campo. Outras caminhos, para cumprir tal
meta, também são viáveis. O único caminho que não
pode ser trilhado é o da omissão, o da exclusão
social.
Em função da indecisão atual transitória
com referência ao planejamento (indicativo ou não)
e a tendência a deixar às forças de mercado resolver
a problemática energética (e em todos os setores),
considera-se coerente dar passos no sentido de
conduzir tarefas que permitam a implementação do
PIR como filosofia de planejamento local, regional e
global, pois isso permitiria manter os pés no chão e
contornar melhor a problemática subjacente aos
mercados emergentes e às tendências a liberalização.
Não apenas no que diz respeito a eletrificação rural
mas no contexto da indústria energética em geral
(empresas, concessionárias, entes reguladores, poder
concedente, usuários e produtores).
PALAVRAS CHAVES
Eletrificação rural, planejamento integrado
de recursos.
REFERÊNCIAS
[1]RIBEIRO, F.S. Eletrificação rural de
baixo custo. São Paulo, junho de 1993. 157p. Tese
(Livre Docência) - Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo.
[2]ROSA, L.P.; TOLMASQUIM, M.T.;
PIRES, J.C.L. A reforma do setor elétrico no
Brasil e no mundo - uma visão crítica. Editora
Relume - Dumará. Rio de Janeiro, 1998. 211p.
[3]SILVA, J.G.DA.
O novo rural
brasileiro. Instituto de Economia - Universidade
Estadual de Campinas (IE-UNICAMP), 1999. 153p.
[4]UDAETA, M.E.M
Planejamento
Integrado de Recursos Energéticos - PIR - para o
setor elétrico (pensando o desenvolvimento
sustentável). São Paulo, 1997. 351p. Tese
(Doutorado). Escola Politécnica da Universidade de
São Paulo.
[5]ELETROBRÁS
CENTRAIS
ELÉTRICAS BRASILEIRAS S.A.
“Luz no
Campo” - programa nacional de eletrificação
rural - normas operacionais (versão preliminar).
Brasil, março de 1999.
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