Questão social, redes de solidariedade e estratégias de

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QUESTÃO SOCIAL, REDES DE SOLIDARIEDADE E ESTRATÉGIAS DE SOBREVIVÊNCIA DAS
FAMÍLIAS ENTRE RECURSOS MATERIAIS E O SIMBÓLICOS: UMA ANÁLISE NA REGIÃO DO
CERRADO NORTE MINEIRO1
Yara Mendes Cordeiro Araújo2
[email protected]
Universidade Estadual de Montes Claros/MG - Unimontes
Luciene Rodrigues3
[email protected]
Universidade Estadual de Montes Claros/MG - Unimontes
Área temática: Desenvolvimento e Espaço: ações, escalas e recursos
Resumo
O artigo propõe um estudo sobre as redes de solidariedade e das estratégias de sobrevivência das famílias
no norte de minas. O objetivo da pesquisa foi compreender as famílias em seu cotidiano, as formas como
se organizam, produzem, reproduzem e criam novas formas de viver, suas maneiras de transpor as
dificuldades. Para isso, realizou-se pesquisa bibliográfica e empírica. O estudo bibliográfico teve como
fios condutores a perspectiva da crise da sociedade salarial, questão social, redes de solidariedade e as
estratégias de sobrevivência. Nessa linha, o referencial analítico utilizado na elaboração teórica teve a
contribuição de autores, dentre eles destacam-se Castel (2008), Harvey (1995), Estivill (2003), Draibe
(1989) Polanyi (2000) Carvalho (1994;1997;2005) dentre outros. Em relação à pesquisa empírica, essa
pode ser caracterizada como exploratória e foi desenvolvida na Feira de Artesanato que ocorreu durante o
VI Encontro Regional Povos dos Cerrado - sustentabilidade e desenvolvimento: meio ambiente, cultura e
território no Norte de Minas, realizado no período de 02 a 05 de junho de 2011 na cidade de Pirapora,
Minas Gerais. Foram aplicados questionários e entrevistas para registrar os dados, opiniões e percepções
das famílias sobre os seus processos de trabalho. Os entrevistados foram escolhidos aleatoriamente entre
as famílias ou grupos feirantes. Diante do diagnóstico levantado, percebeu-se que as estratégias
desenvolvidas pelas famílias partem de ações que vão desde a formação de redes de ajuda mútua situadas
no seio da própria família ou no campo da Economia Solidária. Nesse âmbito os recursos conseguidos são
materiais e simbólicos a exemplo da renda, do capital social, da reciprocidade e das solidariedades.
Assim, as formas identificadas participam de uma economia plural visando maximizar, renda, consumo e
o social aspectos responsáveis pela manutenção dos laços entre famílias ou grupo de economia solidária.
As estratégias são vistas como positivas pelas famílias que tem o fator trabalho como principal meio de
articulação e de possibilidades de desenvolvimento econômico e social dos agrupamentos seja no campo
doméstico ou não. Contudo, na percepção das famílias entrevistadas o desenvolvimento precisa ser
ampliado saindo assim da esfera da sobrevivência e das condições precárias.
Palavras chave: Questão social; redes de solidariedade. estratégias de sobrevivência. recursos. famílias.
1
Estudo resultante de pesquisa com opoio da Fapemig/CNPq.
Graduação em Ciências Sociais e Mestre em Desenvolvimento Social pela Unimontes.
3
Graduação em Ciências Econômicas. Doutora em História Econômica pela Universidade de São Paulo e Profª. titular do Departamento de
Economia da Unimontes e do PPGDS - Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Social da Unimontes.
2
Abstract
The article presents a study on the networks of solidarity and survival strategies of families in northern
mines. The objective of this research was to understand families in their daily lives, the ways to organize,
produce, reproduce and create new forms of life, their ways of incorporating difficulties. For this, we
carried out literature research and empirical. The bibliographical study was to wire the perspective of the
wage crisis in society, social issues, solidarity networks and survival strategies. In this line, the analytical
framework used in the theoretical development was contributed by authors, among them stand out from
Castel (2008), Harvey (1995), Estivill (2003), Draibe (1989) Polanyi (2000) Carvalho (1994, 1997; 2005)
among others. In relation to empirical research, this can be characterized as exploratory and was
developed in the Craft Fair that took place during the Sixth Regional Meeting of the Cerrado Peoples and sustainable development: environment, culture and territory in the north of Minas, conducted from 02
the June 5, 2011 in the city of Pirapora, Minas Gerais. Questionnaires and interviews were applied to
record the data, opinions and perceptions of families about their work processes. Respondents were
chosen randomly among the families or groups fairground. Once the diagnosis raised, it was noted that
the strategies developed by families leave the stock ranging from the formation of mutual help networks
located within the family or in the field of Economic Development. Achieved within the resources that
are material and symbolic example of the income, capital, reciprocity and solidarity. Thus, the identified
forms part of a plural economy aiming to maximize income, consumption and social aspects responsible
for maintaining links between families or group solidarity economy. Strategies are seen as positive for the
families that have the labor factor as the primary means of articulating and possibilities of economic and
social groupings in the country is home or not. However, the perception of the families interviewed
development needs to be extended well out of the realm of survival and poor conditions
Key: words: Question social solidarity networks. survival strategies. resources. families
Introdução
“Não estamos apenas em uma crise econômica, mas numa crise do
compromisso que funda a sociedade, na crise do projeto. O que, às vezes, é
chamado de crise de hegemonia, isto é, da capacidade das elites e dos
grupos sociais que a sustentam de propor uma visão de mundo e um modelo
de desenvolvimento aceitáveis para toda a sociedade”.4
A tendência global de transformações na sociedade salarial ou do mundo do trabalho
articulada à crise dos grandes projetos de crescimento econômico e de intervenção do Estado no mercado
tem trazido novos desafios para as famílias ou indivíduos em âmbito global, nacional e regional que
sofrem com exclusão dos processos de desenvolvimento e das políticas sociais. Falar de políticas sociais
implica falar em direitos sociais e para tanto falar de direitos sociais nos remete a noção de cidadania5 que
tem como componentes distintivos tais direitos. A crise econômica advinda dos mecanismos do mercado
e das políticas neoliberais tem fragilizado os mecanismos garantidores dessa cidadania. “Infelizmente,
apesar dos avanços tecnológicos de nossa sociedade e apesar das conquistas inimagináveis da sociedade
do século XXI, a pobreza continua resistente às análises e os esforços que os Estados dizem estar
resolvendo” (COSTA, 2005, p. 254).
Especialmente nas últimas décadas, o ocidente com o seu modelo de desenvolvimento
hegemônico engendrou demasiados desequilíbrios nas relações societais. Como bem observou Castel
(1998) esses desequilíbrios poderiam ser explicados pela emergência de uma nova problemática advinda
do progresso e da riqueza alcançados com a dinâmica da produção industrial. A questão social
reitroduzida com o advento da sociedade salarial gerou aos que não estavam integradas nesse sistema,
incertezas, precariedades e novas formas de instabilidade social.
Com um olhar essencialmente Durkheimiano, Castel (1998) define a “questão social” “por
uma inquietação quanto à incapacidade de manter a coesão de uma sociedade. “A ameaça de ruptura é
apresentada por grupos cuja existência abala a coesão do conjunto” (CASTEL, 1998, p.41).
Neste contexto, na dinâmica das políticas sociais, a participação dos diferentes atores sociais
se apresenta como uma alternativa às questões primordiais do desenvolvimento. Na contemporaneidade, a
questão social passa a ser de responsabilidade de todos. Palavras como solidariedade tornou-se senso
comum passando a significar a disposição altruísta voluntária de um indivíduo, de grupos, famílias, de
organização ou empresa , “um quase sinônimo de cidadania”(PAOLI, 2003, p.160). Os sistemas de apóio
baseados na solidariedade são vistos por muitos na modernidade como uma saída alternativa a exclusão
social, para outros a reinvenção solidária mostra-se como panacéia.
Diante das questões sociais fomentada pela crise emergem em diferentes contextos estratégias
de (sobre) vivências criadas por redes de solidariedade para obtenção de diferentes recursos para
satisfação das condições materiais de produção e reprodução social de existência das famílias em situação
de desigualdades sociais. O objetivo desse artigo é analisar alguns dos principais desdobramentos destes
processos no campo teórico e empírico com vistas a observar diante da crise da sociedade salarial como
as famílias trabalhadoras e inseridas na informalidade criam estratégias para se apropriarem dos recursos
para satisfação de suas necessidades; quais tipois de recursos existentes e o empacto destes nas suas
condições de vida. Para responder tais questões, a investigação teve como sujeitos os feirantes ou famílias
participantes da feira de artesanato promovida pela Universidade Estadual de Montes Claros-MG no VI
4
LIPIETZ, A. Audácia: uma alternativa para o século XXI. São Paulo: Nobel, 1991. In. MICHEL, Renaut; RIBEIRO, Rosana.
Considerações sobre a determinação do nível de emprego em contexto de reestruturação produtiva e globalização financeira.
Revista Archètypon.V.1, nº.1 dez. 1999. p.15.
5
Status concebido àqueles que são membros integrais de uma comunidade. Todos aqueles que possuem o status são iguais
com respeito aos direitos e obrigações pertinentes ao status”. MARSHALL,T.H. Cidadania e Classe Social e Status. Brasília;
Fundação Projeto Rondon, 1988.
Encontro Povos do Cerrado ocorrido em Pirapora. A aplicação de questionários e entrevistas com os
feirantes foram utilizadas como instrumentos metodológicos para coleta de dados. Pode se depreender do
olhar sobre os sujeitos estudados que as estratégias de sobrevivência criadas nas experiências geram
oportunidades para obtenção de diferentes recursos, materiais e simbólicos capazes de fomentar a geração
de trabalho, renda e reprodução social das famílias mendiante as mutualidades das sociabilidades
primárias.
O trabalho está estruturado em três partes além desta introdução e das considerações finais.
Primeiramente, discute-se sobre alguns dilemas ligados a crise da Sociedade Salarial. Em seguida, na
segunda seção será explicitada uma discussão acerca da ampliação das redes de solidariedade em meio a
crise da sociedade salarial. A intenção é mostrar de que forma o processo de mudanças no sistema
capitalista veio propiciar uma extraordinária fragmentação social onde os “vulneráveis” são os mais
atingindo pelos efeitos do progresso. As redes de solidariedade, a exemplo da família e das experiências
no âmbito da Economia Solidária nesse sentido, (re) aparecem como uma alternativa não só social, mas
econômica. Na terceira e última parte do trabalho, discute-se os resultados da pesquisa a partir do olhar
para os mecanismos de intervenção social ou estratégias criadas pelas famílias.
1. Dilemas ligados a crise da Sociedade Salarial
Ao discutirem acerca da pós-modernidade, Harvey (1992) e Santos (2003) se apóiam sob os
mais diversos enfoques, mas os mesmos apresentam pontos em comum; o fato de partirem do mesmo
pressuposto: da crise da pós-modernidade. A crise apontada por esses autores reflete em todas as
dimensões: cultural, econômica, política, social, ambiental e moral.
Harvey (1992) define esse momento histórico de “crise de superacumulação” iniciada no
final dos anos de 1960, e que chegou no auge em 1973 está relacionada à lógica transformativa do capital
entendido com o um processo de reprodução da vida social por meio da produção de mercadorias. Nesse
processo todas as pessoas pertencentes ao mundo capitalista estão profundamente implicadas. Para
Harvey (1992) o capitalismo (“modo dinâmico e revolucionário de organização social”) é responsável por
transformar de modo “incansável e incessantemente a sociedade em que está inserido.
Numa outra perspectiva Castel (1998) atribui as mudanças ocorridas no modelo de
produção capitalista a “instituição do livre acesso ao trabalho” no século XVIII. De acordo com o autor
esse mecanismo de controle das massas é tão importante quanto as transformações que vem ocorrendo no
bojo do sistema capitalista. Como frisa Castel, foi o com o advento da “condição salarial” que foi
reintroduzida a questão social” sobre bases absolutamente novas no início do século XIX e nos séculos
que se seguiram.
No entedimento de Harvey:
“se houve alguma transformação na economia política do capitalismo do final do século XX,
cabe-nos estabalecer quão profunda e fundamental pode ter sido a mudança (...) em processos de
trabalho, hábitos de consumo, configurações geográficas e geopolíticas, poderes e práticas do
Estado etc,.” (HARVEY, 1996, p.117).
A crise mundial apontada pelo autor se deve a um período de transição de um padrão de
acumulação capitalista rígido (Fordismo) aos novos modos de acumulação capital (Flexível). O resultado
tem sido a produção da fragmentação, da insegurança e do desenvolvimento desigual no interior de uma
economia de fluxos de capital do espaço global unificado. Este processo reflete uma produção desigual da
natureza em diferentes regiões geográficas, pois as mesmas não têm possibilidades iguais de criarem
condições para o desenvolvimento do capital, assim, o capital age, separa ou agrupa de acordo com seus
interesses (HARVEY, 1992).
Neste sentido, os efeitos da acumulação flexível tornam-se cada vez mais visíveis na
segmentação da força de trabalho; redução de emprego regular em favor do crescente uso de trabalho de
tempo parcial, temporário ou sobcontratado, sem carteira assinada, precarização da força de trabalho,
aumento da informalidade, etc. Essas mudanças no mercado de trabalho, sobretudo na década de 1990
com a intensificação da globalização somada a reestruturação produtiva e a privatização de empresas
públicas representam uma conjuntura desfavorável aos trabalhadores principalmente àqueles inseridos no
mercado formal, uma dramática ruptura causadora de desemprego. Trabalhadores antes incluídos no
mercado formal vieram somar se aos já historicamente excluídos, pertencente ao mercado informal.
Estivill (2003) explica que:
“A crise econômica que surge na década de 70 faz cair as bases de um modelo anterior. Já não é
possível pensar em crescimento, com pleno emprego que utiliza matérias primas e energias
abundantes e baratas. Os recursos encareceram e expande-se a consciência da escassez dos
recursos naturais (...) as reconversões industriais, a deslocação fabril, a descentralização produtiva
estão na ordem do dia (...) o mercado de trabalho transforma e expulsa os grupos mais fracos, que
depois também sentem mais dificuldades na reintregação laboral. Ressurge o velho fantasma do
desemprego, alcançando uma grande porcentagem da população que pensava estar protegida e
afastada de tais riscos [...]. (ESTIVILL, 2003, p.8).
No plano Político, a tese do pensamento único instaura à lógica do Estado Mínimo, da
desregulamentação e privatização da esfera pública. A ascensão do neoliberalismo significou o desmonte
do social. No Brasil as décadas de 1980 e 1990 são marcadas pela crise descrita produzida pela
globalização seletiva que se refletiu em todas as dimensões. O fenômeno da globalização e
concomitantemente das políticas neoliberais trouxeram grandes conseqüências para o país, principalmente
no tocante às mudanças no mercado de trabalho. A redução do emprego, aliada à diminuição das
responsabilidades públicas do estado no domínio dos serviços e direitos sociais, contribui diretamente
para o aumento do número de pessoas que vivem em situações de extrema pobreza.
É nesse sentido, que Arrigh (1997) chama atenção para o fato de que na economia capitalista
mundial o traço mais marcante é a distribuição desigual dos frutos advindos do crescimento econômico.
“Conseqüentemente, apenas uma minoria da população mundial desfruta da riqueza democrática e o faz
somente por meio de uma luta perene contra as tendências excluídoras e exploradoras” [...] (ARRIGHI,
1997, p.128)
Há um consenso que a exclusão social tem aumentado no capitalismo contemporâneo. As
análises de Cimadamore, Hartley & Siqueira (2006, p.28) evidenciam que “a experiência recente da
América Latina mostra que a reestruturação econômica no contexto das reformas de cunho neoliberal tem
sido ineficiente e ineficaz em sua tentativa de lidar, seja com a “velha pobreza” seja com a nova pobreza”
(...). “A política social continua sendo uma prioridade gritante na maioria destes países”(...) por
apresentarem “fatos inaceitáveis e as estatísticas da pobreza e de extrema pobreza”(...), o que “lança uma
sombra sobre os discursos e as boas intenções declaradas, em nível nacional e internacional”.
Araújo e Lima (2006) dizem que no Brasil, a matriz geradora de iniqüidades sociais é a questão
distributiva. Na perspectiva desses autores a raiz da questão social no Brasil está na arrancada industrial a
partir de 1930 e em estratégicos momentos de planejamento do desenvolvimento industrial brasileiro. O
perfil das desigualdades no Brasil toma uma nova dimensão a partir da década de 80 do século passado,
quando se esgota o ciclo de crescimento iniciado nos anos de 1930. Em 1980 tem-se um período de crise
de estagnação e inflação em que o crescimento, nos termos em que se processava, não erradicava a
pobreza e gerou elevado nível de desemprego e precarização das relações de trabalho. Neste sentido, na
visão dos autores, o termo “excluídos” não é mera retórica, crescem de fato os segmentos excluídos do
processo de crescimento.
Diante desse contexto, diferentes autores apontam para um novo paradigma que se delineia
sob a égide da participação, da responsabilidade e da cooperação. Assim a questão social passa a ser
problemas de todos. Governo, mercado, sociedade devem dar a sua contribuição nas mazelas que afligem
a humanidade. A pobreza, a miséria, a exclusão social deve incomodar toda a sociedade.
Nesta perspectiva no plano das relações sociais, parece imperar a lógica da auto-organização e
da co-participação e da responsabilidade da sociedade civil diante da “redução da esfera de atuação dos
estados nacionais” (MATOS, 2005, p.17). Ao estudar os processos de urbanização no Brasil
contemporâneo, Matos pontua que a globalização da econômica conjugada a reestruração produtiva
iniciada nos anos 1970, bem como das políticas neoliberais, ao mesmo tempo que piora as condições de
vida de maior parte da população aumenta os níveis de desigualdades social e econômica, uma das
características perversas bastante conhecida dos brasileiros. A perspectiva geográfica de matos nos ajuda
a entender pontos importantes no que se refere às redes de solidariedade e as estratégias de sobrevivência
das famílias inseridas nas economias dos setores populares. Sobre esse ponto será tratado nas seções a
seguir.
2. Ampliação das redes de solidariedade em meio a crise da sociedade salarial
Na atual conjuntura socioeconômica e política é possível, conforme Matos & Braga (2005) a
existência de diversos tipos de redes, como por exemplo, a que privilegiamos para esse estudo – as redes
de solidariedade das famílias inseridas em contextos de desigualdades sociais. Esse estudo privilegia uma
análise das estratégias de sobrevivência criadas pelas famílias em âmbito local, mas não poderia deixar
fazer uma interface do papel do Estado, do mercado e de outros tipos de redes de solidariedade em
conexão com as políticas sociais.
Desta maneira, por redes de solidariedade entendemos uma multiplicidade de relações sociais
que podem se apresentar de duas formas conforme aponta o estudo de Draibe (1989). As redes de
solidariedade podem se apresentar na forma tradicional e na forma moderna. A tradicional será composta
por relações primárias com “a família extensa, a comunidade local, a igreja e a filantropia e as
associações corporativas etc.” Na forma Moderna encontra-se organizações contemporâneas de
“associativismo e cooperativismo, envolvendo associações de bairros, de vizinhança, as comunitárias, as
ONG’s (Organizações Não Governamentais). Todas estas formas (...) se articulam, tanto para a demanda,
quanto para a distribuição e controle de bens e serviços sociais” (DRAIBE (1989, p.7).
Carvalho (1997) ao fazer um estudo sobre as redes de solidariedade tradicionais, salienta que elas
são os braços solidários da própria comunidade e ao mesmo tempo o braço do Estado. Elas são
representadas pela família, pela igreja, pela vizinhança no local. A razão de existência dessas redes é uma
clientela ou minoria que dependem de ações como as dos mutirões de autoconstrução, as diversas
experiências de ajuda mútua práticas comunitárias e de vizinhança (na guarda das crianças, no setor de
alimentação, na coleta e processamento do lixo, etc. As considerações feitas por Carvalho são pertinentes
às questões desenvolvidas neste estudo. Em artigo que trata da “Reemergência das Redes de
Solidariedade no Brasil na Formatação da Política Social Contemporânea”, a autora afirma: “as redes
de solidariedade primárias nunca foram descartadas, mesmo em tempos de globalização da economia, já
que elas foram e ainda são, para as camadas populares, a condição de resistência e sobrevivência. Como
exemplo cita a “família alargada” composta por um “grupo de conterrâneos” que possibilita a
maximização de rendimentos, apoios, afetos e relações que facilitem a obtenção de emprego, moradia,
saúde, etc.
Percebe-se que a matriz analítica dessa perspectiva está presente em Polanyi (2000) assim
como em Mauss (2001;2003) que fazem parte da vertente teórica da sociologia econômica que aborda a
existência de uma economia Plural distinguida por quatros princípios, o mercado (intercâmbio) o estatal
(redistributivista) a reciprocidade e a administração domestica, como mostra a figura abaixo:
FIGURA 1 Polanyi e a natureza plural da economia.
Fonte: Grupo de Pesquisa em Economia Solidária da Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Grupo Ecosol UNISINOS
2008.
Conforme Polanyi (2000) embora a economia do intercâmbio constituísse força de mudanças e
dominação ela não eliminou outras atividades que preexistiam. Karl Polanyi reconhece que o intercâmbio
de mercado, embora fundamental em várias sociedades, não elimina outras modalidades de trocas
materiais e simbólicas como as das famílias objeto desse estudo que criam estratégias de sobrevivência
que podem transitar por distintas redes solidariedade e pela economia Plural exemplificada no desenho de
Polanyi, na sociabilidade primária e secundária.
Quanto à representação dos princípios em tela nas estratégias das famílias estudadas observa-se
sua auto-organização pelos princípios da reciprocidade e da adminstração doméstica representadas nos
recursos não monetários ou simbólicos expressos nos sistemas de ajuda mútua, doação, cooperação,
solidariedade, amizade dentre outros recursos simbólicos como será mostrado nas análises dos dados da
pesquisa de campo.
Em relação a representação dos princípios mercantil e da redistribuição nas estratégias de
sobrevivência objeto em questão, pode se depreender que na esfera secundária mercantil e monetária, às
famílias são permitidas pelo mercado, através de suas atividades econômicas “o encontro entre oferta e
demanda de bens e serviços com fins de troca através da fixação de preço” (PINTO, 2006, p. 46) e poder
de barganha.
Na representação do princípio da redistribuição nas estratégias das famílias tem se a
correspondência a um tipo de solidariedade que não se confunde com a solidariedade natural como
destacado por Castel (2005), mas uma tipologia de solidariedade social cuja autoridade central não seria o
Estado como idealmente aparece no esquema de Polanyi, mas a família que teria a função e
responsabilidade de redistribuição dos recursos alocados para fins a prover as necessidades e proteção de
seus membros. Tais necessidades, podem estar ligadas ao trabalho, renda, assistência a educação e a
saúde, a habitação, não satisfeitas muitas vezes pelo Estado como proposto no exemplo acima, apontado
no aspecto redistribuição.
Assim a solidariedade vista nas estratégias, extrapola da dimensão intersubjetiva e
relacional para uma dimensão de responsabilidades da família que providência um mínimo de bem
público de proteção social aos seus pares. Desse movimento da economia plural nas experiências das
famílias pesquisadas pode se depreender que “assiste-se a uma acomodação entre os pólos mercantil e não
mercantil (Estado/redistribuição dos recursos alocados dos impostos. Grifo nosso), responsável por
subordinar o pólo não monetário, relativo aos princípios da reciprocidade e domesticidade” (PINTO,
2006, p. 47-48).
Diante disto, em complemento as idéias expostas, é possível sublinhar que:
As formas tradicionais de organização produtiva domiciliar, comunitária e cooperativa tendem
a ficar reduzidas ao papel de sobrevivência ou subordinação à lógica mercantil. Essas mesmas
formas organizativas atuam também como redutoras do custo de reprodução da força de
trabalho assalariada (PINTO, 2006, p. 48).
Entende-se, assim que nos interstícios da política social, as redes de solidariedade na
contemporaneidade se traduzem em unidades protetoras cuja função seria a de garantir aos cidadãos
padrões mínimos de inserção social. Nesse sentido a família passa ser vista numa “perspectiva da
responsabilização pela proteção social, uma espécie de Welfare Family” (FONTENELE, 2007, p.2).
Para Montaño (2002), a noção de solidariedade seria impulsora de uma nova cultura
carregada de valores altruístas, colaboracionistas, onde trabalhadores e cidadãos em geral estariam
percebendo a necessidade de ajuda a próximo; estimularia a participação cidadã, cada qual se sentido
responsável pela solução das próprias necessidades como do carecimento do seu vizinho e da sua
comunidade. O autor chama a atenção para uma nova solidariedade em curso que está relacionada a ações
implementadas pela sociedade civil em âmbito local. Desta forma, com a diminuição das repostas estatais
às necessidades sociais, os laços de solidariedade entre os particulares tendem a aumentar criando espaços
de participação social. Ainda conforme afirma, existe um ocultamento no que ele chama de auto –
responsabilização dos usuários particulares quando de refere ao projeto de solidariedade. Na verdade, o
que se percebe nesse processo é a “des-responsabilização estatal (e do capital) com a resposta às seqüelas
da questão social” (MONTAÑO, 2002, p.168).
Na óptica de Rosanvallon (1997), O Estado não é hoje como o foi (em tempos de Welfare
State em alguns países centrais) o único agente de solidariedade. Em contexto de crise, a solidariedade
não é somente estatal, mas passa a ser de múltiplos atores sociais que compõem a sociedade-providência
que constituem, em comum, “braços de um Estado inadimplente com os empobrecidos e
excluídos”(CARVALHO, 1997).
Nesse contexto das redes de solidariedade, a sociedade participa na questão social e, portanto,
no complemento de ações publicas. Esse fato pode ser verificado nas dinâmicas sociais e econômicas das
famílias situadas no Norte de Minas Gerais. Esses aspectos mais empíricos serão apresentados a seguir.
3. Estratégias de auto-organização do trabalho: A família como unidade econômica e
redistribuidora de recursos no enfrentamento da questão social no cerrado norte mineiro
[...] Tanto a família quanto o Estado são instituições imprescindíveis ao bom funcionamento das
sociedades capitalistas. Os indivíduos que vivem em sociedade necessitam consumir, além de bens
e mercadorias, serviços que não podem ser obtidos pela via do mercado. Para alguns destes,
dependem dos serviços públicos ofertados pelo Estado; outros bens e serviços dependem da família,
pela via de sua condição de provedora de afeto, socialização, apóio mútuo e proteção 6.
3.1. Aspectos teóricos
As estratégias de auto-organização do trabalho tratadas nesse texto são representadas pelas
famílias ou pelo conjunto de trabalhadores/as situados/as no Norte de Minas Gerais, região composta de
sete microrregiões que no total somam 89 municípios. Estudiosos dessa região destacam que a mesma faz
6
CARVALHO. Maria do Carmo Brant de. Famílias e políticas públicas. In: ACOSTA, Ana Rojas; VITALER, Maria Amália
Faller (orgs.). Família: redes, laços e Políticas Públicas. São Paulo: Cortez: Instituto de Estudos Especiais-PUC/SP, 2005, p.
269.
parte do Estado com maior expressividade na questão econômica ou participação do PIB – Produto
Interno Bruto. Para esse resultado conforme análises, a região do Estado com maior índice é a região
central7 com 45% do PIB em 2006 e o Norte de Minas8 “responsavel por 3,8% da riqueza do Estado,
ficando na frente do Noroeste de Minas (1,5%), do Vale do Jequitinhonha/Mucuri (1,8%), e do Alto
Paranaiba (3,6%). (SANTOS, 2009, p. 54).
Ao analisar o crescimento econômico da região Norte de Minas desde a década de 1960 e
1970, Rodrigues (2000) afirma que crescimento econômico da região oriundo do processo de
industrialização9 melhorou significamente o setor de infraestrutura, contudo as assimetrias permaneciam,
o que evidenciava nas grandes desigualdades de condições de vida dos estratos sociais mais baixo tanto
em áreas rurais quanto urbanas.
Como mostra os estudos de Leite e Pereira:
O Norte de Minas tem como uma das suas características mais marcantes o fato de localizar-se
numa área de transição, tanto do ponto de vista ambiental, quanto socieconômico. Com seus
ecossistemas de cerrado e caatinga, seu clima tendendo à semi-aridez e as precárias condições de
vida da maior parte da sua população, apresenta uma maior proximidade com a realidade
nordestina. É comum relacionar a região com a pobreza, a seca, a marginalização, o isolamento
regional, a dependência dos municípios frente às transferências da União e do Estado, fenômenos
que, historicamente, aproximam-na mais do Nordeste brasileiro do que do Sudeste. É considerada
como uma região de transição (...) Conhecendo mais de perto o Norte de Minas não podemos
deixar dar razão a essa visão dualista da região, através da qual identificamos,
concomitantemente, muita pobreza e nichos de riqueza, modernidade e tradicionalismo, produção
e escassez, discursos e realidade. (LEITE E PEREIRA, 2008, p. 28-29).
Diante dessas questões postas, cabe uma indagação: o que impulsiona as famílias ou grupos
a se mobilizarem em torno do que aqui estamos chamando de estratégias de sobrevivência, redes de
solidariedade, recursos materiais e simbólicos? Como destacado na realidade do norte de Minas descrita
por Rodrigues (2000), Leite e Pereira (2008) dentre outros pesquisadores regionais, o que impulsiona
tais estratégias de enfrentamento das questões sociais é a questão distributiva dos recursos de modo
desigual entre a população. Tais processos caóticos decorrem segundo Martins e Nunes (2004, p.7) de
uma dinâmica global do planeta, “respaldada doutrinamente nas teorias utilitaristas e economicistas que
desvalorizam a política, vem gerando – sobretudo nos países do sul e com intensidade na América
Latina – intensos processos de exclusão que atingem diferentes dimensões da vida social”.
Sobre esses aspectos do individualismo utilitarista ameaçadores da vida social, Milton
Santos destaca sobre a capacidade de resistência dos mais pobres e de se recriar novas estratégias de
sobrevivência. Assim comenta que tais capacidades devem-se pelo fato de que o nosso tempo está
consagrado pelo paradoxo avassalador do número de objetos ou bens materiais presentes no mercado ao
mesmo tempo em que se multiplicam fontes de escassez de recursos para uma maioria da população. E
diante deste contexto:
A cidade pronta a enfrentar seu tempo a partir de seu espaço, cria e recria uma cultura com a
cara de seu tempo e de seu espaço e de acordo ou em oposição aos donos de seu tempo, que são
também os donos do espaço. É dessa forma que, na convivência com a necessidade e com o
outro, se elabora uma política, a política dos de baixo, constituída a partir das visões do mundo
e dos lugares. Trata-se de uma política de novo tipo, que nada tem a ver com a política
7
A região central do Estado de Minas Gerais é composta pelas microrregiões: Diamantina, Três Marias, Curvelo, Sete Lagoas,
Conceição do Mato Dentro, Para de Minas, Belo, Horizonte, Itabira, Itaguara, Ouro Preto, Conselheiro Lafaiete, São João Del
Rei e Barbacena.
8
A região do Norte de Minas é composta pelas microrregiões: Januária, Janaúba, Salinas, Pirapora, Montes Claros, Grão
Mogol e Bocaiúva.
9
Conforme Rodrigues (2000), o processo de modernização das estruturas econômicas da região norte mineira desenvolveu - se
em decorrência das ações da SUDENE criada em 1959 pelo governo federal no sentido de agir na região Nordeste e Norte de
Minas com vistas ao desenvolvimento em relação aos incentivos à industrialização. O norte de Minas constitui região de
transição entre o Sudeste e Nordeste. Geograficamente localiza-se na região Sudeste. Para fins de planejamento federal, está
inserida na região nordeste, pela semelhança de traços entre seus indicadores socioeconômicos.
institucional. Esta última se funda na ideologia do crescimento, da globalização etc., e é
conduzida pelo cálculo dos partidos e das empresas. A política dos pobres é baseada no
cotidiano vivido por todos, pobres e não pobres, e é alimentada pela simples necessidade de
continuar existindo (SANTOS, 2003, p. 132).
Santos (2003) menciona ser a experiência das carências e escassez a ponte entre o cotidiano
vivido e o mundo. Santos observa ainda que os não possuidores ao lado da busca de bens materiais
finitos cultivam a procura de bens infinitos como a solidariedade e a liberdade: esses quanto mais se
distribuem mais aumentam. Milton Santos atribui um papel primordial dos pobres na produção do
presente e do futuro. Para ele, a pobreza é uma situação de carências, mas também de luta, um estado
vivo, de vida ativa, em que a tomada de consciência é possível. Os pobres descobrem a cada dia formas
inéditas de trabalho e de luta. Assim eles enfrentam e buscam remédio para suas dificuldades e,
portanto, são obrigados a lutar todos os dias para prosseguir vivendo.
A partir desse quadro de análise, a Família entendida como “microrredes” de solidariedades
denominada por Carvalho (1997) tem o seu papel crucial no desenvolvimento, pois a família,
independente das suas pluralidades de formas, “é o primeiro sujeito que referencia e totaliza a proteção e
a socialização dos indivíduos [...]. Ela se constitui num canal de iniciação e aprendizado dos afetos e das
relações sociais” (CARVALHO, 1994, p. 93).
Vista por esse ângulo, de acordo Dowbor (2005, p.293-302), “a família constitui um processo de
reprodução social [...] que se constrói através de laços de solidariedade”. Sendo a família a pedra angular
da reprodução social como aponta o autor, o fator solidariedade será o responsável pela cedimentação dos
laços. sobretudo, daqueles que giram em torno das questões de sobrevivência em resposta as situações de
desigualdades.
Nesse sentido, além do aspecto do papel de socialização da família no que tange a sua função
de reprodução social, outro ângulo do objeto de estudo confere seu status frente à distribuição dos bens
matérias. A proteção familiar não se traduz apenas em vínculos relacionais e de pertencimento, mas
contribui também e especialmente para reforço de renda. Nesse sentido, Dowbor que percebe a família
como unidade econômica destaca que o trabalho sempre representou uma dimensão de continuidade entre
as gerações e, portanto a principal estratégia familiar ou de sobrevivência que pode permitir uma
distribuição interna.
Sobre esses aspectos da economia da unidade familiar, cabe delinear algumas explicações sobre
o que venha a ser as expressões estratégia familiar ou estratégias de sobrevivência termo utilizado nesse
estudo para designar diferentes formas encontradas ou criadas pelas famílias pobres como meio de
obtenção de recursos e proteção social.
Assim Draibe (1994, p. 111) descreve que essas expressões,
[...] foram cunhadas nos estudos e abordagens antropológicas dos comportamentos de famílias
pobres para dar conta do modo integrado com que agem, visando otimizar tanto o acesso quanto
a distribuição dos recursos que logram alcançar. Ancorados na organização e prioridades internas
que, na prática, estabelecem, estes comportamentos definem, a cada momento do clico familiar, o
lugar de cada um dos seus membros na unidade doméstica. A economia familiar ganha assim
concreção, seja pelos seus aspectos imediatamente econômicos (integração de renda e de
consumo), seja pela racionalidade específica que aí se constrói e passa a presidir os esforços de
acesso e distribuição a bens simbólicos e materiais.
O que são as estratégias de sobrevivência das famílias no seu cotidiano senão a expressão da
falta de igualdade social, de igualdade de direitos sociais. Ao refletir sobre as estratégias de
sobrevivências das famílias como forma de obtenção de recursos escassos, sobretudo a renda, não se deve
perder de vista tais problemáticas como a pobreza e exclusão. Nesses processos encontramos os motivos
que impulsionam grande parte das famílias brasileiras inseridas em determinados contextos a acionar as
redes de solidariedade e diferentes tipos de estratégias para produção e reprodução da vida material e
simbólica.
Para Dowbor, uma visão geral que está se materializando é que não basta só o formal
empresarial e o emprego no Estado. É preciso desenvolver outras formas de inserção da população na
economia. As estratégias de sobrevivências das famílias mediante diferentes tipos de redes de
solidariedade nesse contexto, seria como um sistema alternativo de produção e teria a função de
equacionar as questões básicas do desenvolvimento no quadro dos direitos sociais.
Na perspectiva Durkheimiana (1973), são as patologias sociais eventuais que dão origem a
mecanismos institucionais que visam restabelecer o equilíbrio da solidariedade. Assim, iniciativas
tomadas na esfera privada para compensar o fracasso do Estado a exemplo da economia da família, da
economia solidária dentre outras atividades dos setores populares estariam inseridas em contexto de
intensa fragmentação social onde os indivíduos passam a ver nessa economia uma oportunidade de
inclusão social.
Polanyi (2000), partindo de um viés semelhante, formulou uma opinião similar quando
defendeu a tese de que a sociedade é dotada de um instinto de autoproteção; a mão oculta da sociabilidade
cria naturalmente formas de inclusão social para os menos privilegiados.
No entendimento Castel (2005), no interior das sociabilidades primárias, pode se encontrar a
família providência, assim denominada pelo autor em analogia ao Estado providência ou ao Estado
Social. O termo utilizado faz menção aos indivíduos que para reproduzir sua existência mobilizam as
potencialidades existentes. Nas palavras de Castel (2008,p.51), “os indivíduos desestabilizados [...]
solicitando recursos econômicos e relacionais do meio familiar e ou social [...] terão um mínimo de
solidariedade natural (e obrigatória – grifo nosso) na comunidade. (CASTEL, 2005, p.51). Como
observado nas práticas das famílias objeto desse estudo.
3.2. O papel da família no desenvolvimento: aspectos empíricos das estratégias de sobrevivências
Esse artigo propõe uma reflexão sobre as estratégias desenvolvidas pelas famílias em âmbito
local na região do norte de Minas Gerais com o propósito de verificar dentre outros objetivos como essas
iniciativas vêm encontrando sua real concretização na busca de recursos para sobrevivência. Para isso,
realizou-se um estudo com algumas famílias que participaram da Feira de Artesanato que ocorreu durante
o VI Encontro Regional Povos dos Cerrado - sustentabilidade e desenvolvimento: meio ambiente cultura
e território no Norte de Minas, realizado no período de 02 a 05 de junho de 2011 na cidade de Pirapora,
Minas Gerais.
Foram aplicados 12 questionários com questões abertas e fechadas e entrevistas individuais
semi-estruturadas com os integrantes da feira. Para essa técnica da entrevista, foi utilizado o gravador
para registrar a opinião e percepção das famílias sobre as estratégias e recursos buscados por elas para
geração de trabalho e renda e vivências. Os entrevistados foram escolhidos aleatoriamente entre os
feirantes.
A proposta da coleta de dados visou obter informações das experiências individuais ou
coletivas das famílias/grupos participantes da feira com o propósito de compreender e identificar as
diferentes estratégias de (sobre) vivências e de reprodução social, seus esforços de auto-organização ou a
forma como se organizam para geração de trabalho e renda, destancando a emergência das redes de
solidariedade sóciofamiliar e da economia solidária dentre outros tipos de redes; identificar os vários tipos
de recursos sejam provenientes dos próprias individuos/famílias/grupos, do Estado, mercado ou da
sociedade civil organizada. Ademais, objetivou-se traçar um perfil socioeconômico que caracterizam as
famílias e/ou grupos a partir das variáveis: sexo, faixa etária, idade, escolaridade, renda, estado civil, ou
organização familiar, número de filhos, ocupação e ramos de atividade.
O local onde residem as famílias que forneceram os dados pertinentes a pesquisa, encontra-se
em destaque na TAB. abaixo:
TABELA 1
Distribuição das famílias pesquisadas no Norte de Minas (N= 12)
Localidade/Cidade
Nº
%
Pirapora
5
37
Montes Claros
3
23
Janaúba
1
8
Várzea da Palma
1
8
1
8
1
8
12
100
PacoPaco/Assentamento
Rural - Umbuzeiro
Assentamento
Francisco/ Pirapora
Total
São
Fonte: Dados obtidos junto aos entrevistados a partir da Pesquisa de Campo 2011.
Conforme dos dados registrados, a maior parte das famílas entrevistadas são oriundas das
cidades de Pirapora local onde foi realizada a feira e de Montes Claros com 37% e 23% respectivamente.
Do total de pesquisados, 16% são de origem rural, especificamente de assentamentos rural e indígena.
Quanto aos domicílios, a maioria residem em moradias próprias (58,3%), alugados (25%) e cedido (16,
7%). As famílias moram nas suas localidades há mais de 10 anos ( 67%).
Em relação às respostas dadas no questionário, tem-se que a maioria é do sexo feminino
(67%) como mostra o GRAF. 1.
33%
Feminino
Masculino
67%
Gráfico 1 - Distribuição dos entrevistados quanto ao gênero. (N=12)
Fonte: Dados obtidos junto aos entrevistados a partir da Pesquisa de Campo 2011.
Quanto à composição das famílias, do universo feminino (67%), percebe-se uma uma
variação de arranjos familiares. Os dados registraram 33,3% representativos de mulheres casadas
pertencentes ao modelo tradicional de família integrado por pai, mãe e filhos. Nesse caso, a renda gerada
pelas mulheres na atividade econômica, segundo informações obtidas, servem como complemento do
orçamento familiar. O outro percentual (33,4%) é corresponde a mulheres chefes de família composta de
mãe e filhos com distribuição entre solteiras (16,7%); separada (8,3%) e viúva (8,3 %). Registra-se que
todas a mulheres pesquisadas possuem de 1 a 8 filhos e uma média de 3, 3% (filhos) por mulher.
Para o universo masculino pesquisado, 25% dos entrevistados são casados e 8% solteiro. A
composição familiar também apresentou a presença de 1 a 8 filhos entre os casado e o solteiro, com
média de (3, 75%) de filhos por família dos homens pesquisados.
Em relação à faixa etária, os dados indicaram dos entrevistados idades entre 34 a 72 anos,
sendo que houve uma concentração entre 34 a 49 anos (75%) e uma média de 43 anos de idade para os
integrantes das atividades pesquisadas.
Quanto a variável escolaridade, o GRAF. 2 mostra que os entrevistados têm escolaridades
diferenciados. Os maiores índices percentuais se concentram no ensino médio completo (34%) e ensino
fundamental incompleto (33,%) e respectivamente tem-se (17%) com ensino médio incompleto, e de
modo igual os percentuais de (8,8%) para o ensino fundamental incompleto e superior incompleto.
17%
34%
8%
Ensino Médio Completo
Ensino Fundamental Incompleto
Ensino Superior Incompleto
Ensino Fundamental Completo
8%
Ensino Médio Incompleto
33%
Gráfico 2 - Escolaridade (N=12)
Fonte: Dados obtidos junto aos entrevistados a partir da Pesquisa de Campo 2011.
Em relação a renda dos entrevistados, a maioria 92,% possuem renda mensal entre 1 a 2
salários mínimos conforme evidenciado no GRAF. 3. Registrou-se somente um percentual de 8% de
rendimento acima de 3 salários mínimos, cujo entrevistado possui escolaridade de nível superior
incompleto, formação de técnico agropecuário e empreende a produção de sandálias, produto exposto na
feira.
50%
6
42%
5
4
1 S/M
8,%
Mais de 1 a 2 S/M
3
Mais de 3 S/M
Mais de 3 S/M
2
Mais de 1 a 2 S/M
1
1 S/M
0
1
Gráfico 3 - Renda familiar total (N=12)
Fonte: Dados obtidos junto aos entrevistados a partir da Pesquisa de Campo 2011.
Em relação às atividades desenvolvidas pelas famílias no que concerne a obtenção
de rendimentos, em sua maioria, são atividades produtivas variadas nos ramos do comércio e indústria
com baixa qualificação. Em relação às estratégias de sobrevivência criadas pelas famílias nesses setores
de atividades, destaca-se, sobretudo a produção de artesanato (83%) e alimentos (17%). Na sua maioria
(75%) as atividades são oriundas do mercado informal e (25%) são formalizadas.
A pesquisa constatou que boa parte dos negócios (58.3%) é de natureza coletiva e portando
ligadas a Economia Solidária cujas atividades podem ser da forma associativa ou cooperativa. Nesse tipo
de atividade econômica a constituição dos grupos podem ser de parentes e não parentes como nos casos
registrados. A composição dos grupos variaram entre 4 a 30 membros.
Entre os entrevistados participantes da economia solidária, encontrou-se representantes dos
seguintes grupos: Povos do Cerrado em Ação, do assentamento rural São Francisco (produção de doces,
licores, artesanato - projeto frutos do cerrado); Comprarte - cooperativa de coleta seletiva e reciclagem;
empreendimento alegria de viver (produção e venda de vassouras ecológicas); Centro de referência do
Idoso de Pirapora – Artesanato (Pintura e produção de bordados) e Associação de Artesãos e reciclagem
de Jabaúba. Em relação ao tempo de existência das atividades em tela, a mais recente possui 1 ano de
existência, em relação às demais, o tempo de existência varia entre 2 a 27 anos.
Quanto aos outros empreendimentos não associados ou pertecentes ao campo específico da
Economia Solidária, observou-se a participação direta de familiares nas atividades de Arte e Alumínio e
PVC, Pintura, alimentos e artesanato. A família, nesse tipo de estratégia é pensada também como grupo
coletivo. Quanto ao funcionamento das microunidades de produção e comércio essas funcionam de modo
geral em feiras e ambulantes (58,4%), em imóvel próprio exclusivo (25%), dentro da própria residência
(8,3%) e em imóvel alugado (8,3%).
Em relação os mecanismos ou estratégias criadas pelas famílias como fonte de renda destacase a produção de alimentos, bebidas, confecções, pinturas. As ocupações se concentraram em autônomos
(58,3%), desempregados (16,7%) e empregados (25%). A pesquisa constatou que além do percentual de
desempregados e autônomos, há um percentual de trabalhadores que possuem emprego e também estão
inseridos junto às estratégias de sobrevivência como forma de complementar ou aumentar a renda
familiar, dado o baixo nível rendimento já destacado. No que se refere aos valores gerados nas atividades
com a venda dos produtos esses variam entre R$200,00 a R$ 1300,00.
Como os resultados da pesquisa indicaram, as famílias buscam recursos mediante diferentes
estratégias que podem ser nas redes da ‘economia da família’ (DOWBOR, 2005), cujos membros
apresentam vínculos sociofamiliares e na ‘economia solidária’ (SINGER, 2002). Conforme os dados, nos
dois tipos de estratégias, há a participação das famílias em redes de solidariedade, seja na forma de rede
mais tradicional ou na moderna a exemplo dos agrupamentos da Economia Solidária que também se
articulam com outras redes, do Estado e da Sociedade Civil organizada.
Embora as famílias possam se enquadrar em uma forma ou outra de organização econômica,
ambas partem dos setores populares e de um público alvo com características próprias e semelhantes
quanto as condições socioeconômicas e, portanto estão em busca de soluções comuns e complementares
no que diz respeito as suas condições de vida. A troca de idéias e troca de vida, as vivências foram alguns
dos fatores destacados, sobretudo pelas mulheres como fatores responsáveis pelo processo de autonomia,
de quebra da resistência masculina ou do marido pela ausência do lar quando na participação nos espaços
de eventos.
De acordo com a pesquisa, as estratégias das famílias que se situam no campo economia
solidária oferecem possibilidades de quebrar o isolamento e de expansão de cooperação e intercâmbio
com outras redes de solidariedade, o que aumenta a probabilidade das estratégias e obtenção dos recursos
materiais e simbólicos como observado nos relatos: “A solidariedade é um pelo outro, teve uma chuva
muito forte, o muro caiu da casa de uma, nós fomos atrás da prefeitura”, “Alguém da família do grupo,
ficou doente, nós estamos lá junto”. “O associado tira bolso para pagar as despesas, se tiver mais gente,
mais eventos, projetos, poderíamos fazer uma poupança para despesas da associação, “Hoje a
associação não anda com as próprias pernas, há necessidade de apoio do governo”. Há pessoas que está
em outra associação e na nossa, quando choca com outros eventos, nós dividimos o grupo.
As experiências de economia solidária se organizam como grupos e tendem a se a
desenvolver novas formas de articulações entre os associados, o poder público e a sociedade civil
organizada que apóia as iniciativas. Alguns exemplos dessas articulações das famílias são com a
Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares – ITCP da Universidade Estadual de Montes Claros e
a Prefeitura de Pirapora que apoiaram a feira e o Movimento do Graal e da Associação Vencer juntos que
apóiam diversos grupos de Economia Solidária na região.
Quanto às experiências de organização autônoma das famílias que não estão engajadas nos
grupos da economia solidária, mas se restringe somente ao grupo familiar, as estratégias são articuladas
em interação e articulação entre os membros no núcleo familiar.
Entende se que ambas as formas de auto-organização do trabalho das famílias são estratégias
que confluem para um mesmo ponto, qual seja, o objetivo para geração de renda. Essas diferentes
estratégias de sobrevivência se articulam por laços de solidariedade, seja no âmbito sóciofamiliar ou
grupal dos empreendimentos da Economia Solidária.
No âmbito familiar, as estratégias de sobrevivência giram mais em torno dos membros, do
pai, da mãe, dos filhos ou de parentes. Nesse caso, solidariedade é marcada pelo apoio familiar, na ajuda
na fabricação e vendas dos produtos. Nesse sentido, os recursos econômicos conseguidos para
administração e manter o negócio, são próprios e da ajuda familiar. Em alguns casos a família recorre aos
recursos de financiamento. Quanto às estratégias e recursos próprios conseguidos com o esforço dos
membros da família, ouvimos alguns entrevistados dizerem em seus relatos sobre como se auto
organizam e empreendem esforços com vistas à sobrevivência, reprodução social e a socialização da
família nos seus espaços.
A nossa renda sai é da terra. Meu marido e eu plantamos e vendemos, nós fazemos de tudo, plantamos
pimenta, horta, abóbora, fazemos tempero, bolo, biscoito, eu vendo roupa também e ganho
porcentagem. Quando a coisa não dá certo, procuramos outra, tira de um e põe no outro para pagar,
vende alface e compra trigo. Sempre comida na mesa agente tem. Desde quando casei eu e meu marido
trabalhamos na zona rural, desde que eu tinha 13 anos eu trabalho, eu já fiz de tudo para cuidar da
minha família, agente somos muito unidos, eu e meu marido já ralou e já comemos o pão que o diabo
amassou para criar nossos filhos. Um filho já terminou o segundo grau, minha filha já fez faculdade na
Unimontes. Eu já panhei pequi, já tirei gordura, eu adoro trabalhar, tem muita mulher que gosta de
depender do marido e que põe o dinheiro na mão, eu não gosto, eu gosto de trabalhar para ajudar o
meu marido, porque tem mês que pode ter salário, tem mês que agente não tem nada, mas agente faz um
bico aqui e outro ali. (ENTREVISTADA 4)
Percebe-se do relato acima, que as estratégias empreendidas pela família para obtenção de
recursos servem para proteção do grupo familiar e manutanção de suas vidas. O cenário destacado nas
entrelinhas do relato evidencia a pobreza e a desigualdade, traços marcantes de grande parcela da
população brasileira. A situação em que vive essa família pesquisada denuncia as relações de trabalho
precário que obriga os integrantes dessa família a enfrentarem as adversidades para manter o núcleo
familiar. Como descreve a entrevistada:
Você vê eu assim alegre, correndo e tudo, mas eu sou doente, eu tenho problemas de coluna, dos
nervos, minha coluna é desviada. Quando eu trabalho com horta, se você ver como eu fico.. A
única coisa que eu queria era ajuda para minha saúde, que eu ganho não dá para pagar um
especialista. Eu tendo saúde, coragem para trabalhar eu tenho. (ENTREVISTADA 4.)
De acordo com o depoimento, todo o esforço para sustentar a família advém do amor pela
família. Como ainda relata “por isso eu não desisto, é difícil desistir das coisas. Nós criamos nossos
filhos, são tudo trabalhador, tudo honesto, tá tudo empregado hoje”. Essa ‘economia da família’ segundo
Dowbor (2005, p.293) “permite uma redistribuição interna entre os que produzem um excedente e os que
necessitam desse excente”. Tal observação também é reparada por Carvalho numa perspectiva mais
contextualizada. Assim comenta sobre a relevância da família para a esfera pública, embora esteja no
âmbito privado. De uma maneira analógica, a autora compara a família as políticas sociais e tal relação
semelhante que há entre essas duas dimensões é que:
“ambas visam dar conta da reprodução e da proteção social dos grupos que estão sob sua tutela.
Se, nas comunidades tradicionais, a família se ocupava quase exclusivamente dessas funções, nas
comunidades contemporâneas elas são compartilhadas com o Estado pela via das políticas
públicas. [...] Nas décadas mais recentes, tanto nos países centrais quanto, sobretudo, nos países
da periferia capitalista, a família volta a ser pensada como co-responsável pelo desenvolvimento
dos cidadãos ( CARVALHO, 2005, p, 267).
A pesquisa de campo permitiu dimensionar algumas questões enfrentadas pelas famílias
quanto as suas necessidades de recursos. Como já destacado acima no relato de uma das entrevistadas,
falta políticas públicas. Outras reivindicações se expressaram nos relatos das famílias que querem que
seus produtos sejam reconhecidos, valorizados, que elas tenha capacitação, cursos profissionalizantes,
transporte para transportarem seus produtos, dentre outras reivindicações. Percebe-se o desafio que se
coloca as políticas públicas voltadas para a família, sobretudo daquelas cujos traços socioeconômicos se
aproximam das famílias objeto desse estudo.
Em síntese, é preciso políticas sociais de apoio para os recursos materiais de que necessitam
as famílias. Ser solidário em tempos de escassez é importante e ajuda no desenvolvimento social e local.
Contudo, parafraseando Castel (2005), quando o navio se enche de água e está na iminência de se afundar
é importante que a família venha a ajudar, não se descarta o seu papel. Mas, como as incertezas são por
demais numerosas, uma função de salvar vidas deve ficar bem clara, a do Estado responsável por
comandar a manobra e evitar o naufrágio da sociedade.
Considerações finais
Nos interstícios da política social, as redes de solidariedade na contemporaneidade, bem como
as estratégias de auto-organização do trabalho das famílias que vivem do trabalho por conta própria se
traduzem em unidades protetoras cuja função seria a de garantir aos cidadãos padrões mínimos de
inserção social. Nesse sentido as famílias funcionam como importante mecanismos de intervenção na
questão social.
Sempre presentes de uma forma ou de outra na história, essas redes de solidariedade sócio
familiar ou da economia solidária reaparecem e tem a sua grande importância na estrutura social em
diferentes partes do Brasil e do mundo. No cenário onde se encontram tais redes também se encontram a
crise da sociedade salarial e dos agravantes das políticas sociais recessivas, que impuseram processos de
fragmentação e de exclusão social. No Brasil, contingentes cada vez maiores, alijados do mercado de
trabalho e abandonados pelas políticas sociais em recuo, viram-se compelidos a buscar meios de criar
suas próprias oportunidades de trabalho e sobrevivência.
Na realidade pesquisada a sobrevivência da família conta com contribuição da mulher que
ajudam na complentação da renda e em alguns casos por ser arribo de família contribuem em grande
medida para o sustendo dos filhos.
Neste contexto indagamos qual é o papel do Estado nessa nova conjuntura? As metamorfoses da
questão social descrita por Castel caminha nessa direção de tentar mostrar que a questão social que
emergiu da sociedade salarial se mostra hoje sob novas bases, sob nova roupagem (mas sem se esquecer
das velhas bases) nos interstícios de um sistema de mercado que se renova a cada momento e com ele
muda a dinâmica social e política, o que urge de ações efetivas aos excluídos dos processos
socioeconômico. As transformações no mundo do trabalho também apresenta fônomenos atuais de
exclusão que não podem ser comparados com as antigas categorias de exploração. Desta forma
verificamos a emergência de uma “nova questão social” Castel (2005).
Nesse horizonte, as estratégias econômicas desenvolvidas pelas famílias pesquisadas partem de
ações que vão desde a formação de redes de ajuda mútua situadas no seio da própria família ou no campo
da Economia Solidária. Outras estratégias para obtenção de recursos são buscadas pelas famílias junto ao
Estado, mercado e sociedade civil organizada, o que leva a concluir que a importância da participação dos
diferentes atores nas problemáticas sociais se apresenta como uma alternativa às questões primordiais do
desenvolvimento. Desse modo, os sistemas de apoio baseados na solidariedade podem ser vistos na
contemporaneidade com uma saída, uma forma ou estratégia de sobrevivência cujos esforços
empreendidos pelos mais pobres são direcionados para manutenção da vida material e simbólica.
Assim, as formas identificadas participam de uma economia plural visando maximizar, renda,
consumo e o social aspectos responsáveis pela manutenção dos laços entre famílias ou grupo de economia
solidária. As estratégias são vistas como positivas pelas famílias que tem o fator trabalho como principal
meio de articulação e de possibilidades de desenvolvimento econômico e social dos agrupamentos seja no
âmbito doméstico ou não. Contudo, na percepção da famílias entrevistadas o desenvolvimento precisa de
ser ampliado saindo assim do âmbito da sobrevivência e das condições precárias.
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