FAMÍLIA BRASILEIRA: A BASE DE TUDO Editora Cortez – UNICEF – 2004 - Sílvio Manoug (Org.) A PRIORIZAÇÃO DA FAMÍLIA NA AGENDA DA POLÍTICA SOCIAL – Capítulo 6, pp. 93-108 Maria do Carmo Brant de Carvalho Serviço Social - PUCSP A PRIORIZAÇÃO DA FAMÍLIA NA AGENDA DA POLÍTICA SOCIAL Retomar a família na agenda da política social Família – lócus de referência, proteção, socialização Independe de suas formas, constitui um canal de iniciação e aprendizado dos afetos e das relações sociais Retomar a família nas Políticas Públicas é um desafio na busca de opções coletivas e eficazes na proteção social Retomar a família na agenda da política social Breve Contextualização da Política Social no Brasil Polit. Públicas – não conseguem alterar o quadro de pobreza e exclusão Questões da vida e cidadania presentes no discurso, mas a atuação resulta no assistencialismo reproduzindo a cultura tradicional assistencialista e tutelar Algumas Características da Nossa Política Social Política que reflete uma cultura histórica enraizada no autoritarismo / tutela / subalternidade = legitima o autoritarismo dos dominantes e a subalternidade dos assistidos Marcadamente elitista, privilegiando segmentos minoritários da população já estruturados Assistencialista e tutelar quando direcionadas a segmentos empobrecidos Ventos do Welfare State – política social extremamente setorizada, centralista e institucionalizada elegendo o indivíduo como portador de direitos e elemento central (indivíduo X coletividade) Portador de direitos e elemento central (indivíduo X coletividade)? Privilegia-se o indivíduo e não as coletividades (família ou comunidade). Ocorre um avanço civilizatório – direitos sociais, mas a individualidade é pautada no fetiche capitalista – fragmentação dos indivíduos Os direitos dos indivíduos (crianças, idosos, mulheres, etc.) Direitos para si - à saúde, educação, transporte (direitos sociais) Psicologização das relações sociais – somatório de necessidades – identidade na carência de bens, serviços e afetos Resistência ao reordenamento político – contemplar uma partilha efetiva de competências e atribuições (Municipal, Estadual, Federal) Política de resultados magros e ineficazes não é por ausência de $ e recursos, mas principalmente pelo gasto público pervertido em prol dos interesses oligárquicos, tutelares, corporativos. A Sobrevivência Cotidiana das Famílias Empobrecidas Muita diferença entre ricos e pobres (cortiços, favelas) excluídos do acesso a bens e serviços e do usufruto da própria cidade A convivência familiar é garantida a duras penas como estratégia para a sobrevivência material e afetiva. A Solidariedade Conterrânea e Parental Família nuclear pela família ampla (conterrâneos e parentes) Condição 1ª de sobrevivência e existência em situação de pobreza e discriminação Identidade é marcada pela carência, sangue e terra natal A Solidariedade Conterrânea e Parental Solidariedade é expressa no cotidiano (empréstimos) A vida do grupo familiar maximiza as chances de sobrevivência dos membros com pouca renda Essa família também assimila novos valores e padrões de reprodução social A Solidariedade Apadrinhada Um ou mais membros da família mantém laços mais próximos com as classes média e alta (empregados em geral). Este vínculo assegura um canal de doação (roupas, remédios, eletrodomésticos, etc.) A Solidariedade Apadrinhada Usufruto de bens de 2ª ou 3ª mãos Isso explica reciclagem de bens de consumo e demonstra a cultura do apadrinhamento se perpetuando no cenário nacional A Solidariedade Missionária Igrejas em geral – porta que acalenta a esperança através de seus programas, pastorais, etc. Suporte emocional, afetivo e material. É a escola para se aprender a viver. Canal de organização para a conquista dos serviços públicos, canal de convivência, espaço de lazer, de cura dos doentes e de assistência social que mesmo sendo paliativa é próxima e acessível A Solidariedade Missionária Igreja se faz presente no cotidiano da vida das famílias e comunidades É a instituição com maior credibilidade p/ esta população. Auxilia na organização e reivindicação de serviços e assistências Na maioria das vezes, mais que os partidos ou os agentes públicos, formam a base p/ a organização da população (luta por moradia, saúde, saneamento, transporte, etc.) Contraditoriamente – é muitas vezes o amortecedor da revolta e indignação com a injustiça. Cumplicidade com a pobreza Elementos frustrantes que demonstram a dureza dessa realidade Social Solidariedades são vividas como contradição e conflito próprios ao confinamento a que estão submetidos Os barracos, cômodos de cortiços e bairros periféricos não garantem a privacidade e vão esgarçando os vínculos Ausência de usufruto de bens e serviços mínimos à sobrevivência (saneamento, lixo, transporte) Paisagem – condições de confinamento homogêneo da pobreza – amontoados de barracos e habitações, etc. Todos convivem sob um mesmo signo: salários baixos, exclusão, discriminação, sem acesso a educação e lazer Poucas ferramentas para romper com suas identidades de excluídos Elementos frustrantes que demonstram a realidade Social A rede de serviços de educação e saúde reproduzem a exclusão – presença compensatória e não de promoção (serviço frio, burocrático, desanimado); por vezes, esses trabalhadores também são subalternos A submissão dos indivíduos se transforma em sina; com ela convivem numa alienação consentida o álcool, a droga. Não há férias ou cortes de cenário – rotina fatigante de luta pela sobrevivência Neste contexto é compreensível que a rebelião se faça sem mediações – convivência familiar e comunitária estressante Explosões e revoltas também dirigidas para fora (arrastões, quebra quebra de ônibus ou instituições, etc.) Medidas para reversão do quadro Macro Políticas: Introdução da família na agenda da política social – erradicação da miséria, descentralização, municipalização, redistribuição de renda, políticas de geração de emprego, assentamento de famílias (reforma agrária), saneamento básico, segurança alimentar Micro Políticas: Âmbito municipal – família e comunidade – ponto de partida para as práticas sociais – alterar o cotidiano. Apoio ao maior e melhor usufruto de bens e serviços – melhorar qualidade de vida (saúde e educação e atenções básicas) Medidas para reversão do quadro Pauta concreta de atenção mínima às famílias: Programa de geração de emprego e renda – municípios terceirizar os serviços (manutenção de parques, jardins, limpeza de córregos, galerias, área azul, manutenção de equipamentos) Rede de serviços comunitários de apoio psico-social e cultural às famílias – organizá-los em rede e dotá-los de infraestrutura, capacitação dos agentes, aspecto humanitário, esses serviços precisam ser uma referência para a população – regularidade. Programas de atenção a gestantes e nutrizes; serviços de apoio psicossocial; programas de socialização e lazer; acesso a cultura; complementação da renda familiar e outros