Incubação de Empreendimentos Econômicos Solidários

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Incubação de Empreendimentos Econômicos Solidários – Tema Gerador para
Busca de Ambientes de Inovação mais Sustentáveis 1
Carine Muller Paes de Barros;
Oscar Zalla Sampaio Neto; Wilson Luconi Junior; Josita Correto da Rocha Priante; Nicolau
Priante Filho.
Resumo
Este artigo apresenta o processo de incubação de Empreendimentos Econômicos Solidários da
ARCA Multincubadora, em parceria com a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT),
fazendo analogia com o Método Paulo Freire. As demandas desses empreendimentos são
fontes de “temas geradores” para promover a conscientização de estudantes, professores,
empresários e gestores públicos para atuarem em ambientes de inovação mais sustentáveis. A
superação de problemas na viabilização de empreendimentos econômicos solidários exige que
estudantes, professores, empresários e gestores públicos participem de espaços coletivos e se
articulem, não somente para busca conjunta de significados, como também para superação de
problemas relacionais e/ou técnicos de gestão, produção, processamento e comercialização.
Desde 2006, as demandas surgidas para superar os desafios de viabilização de
empreendimentos econômicos solidários propiciaram a reestruturação da ARCA
Multincubadora, que a tornou referência nacional como Centro de Referência para Apoio a
Novos Empreendimentos (CERNE) para esses empreendimentos. Isso atraiu estudantes,
professores, consultores, empresários e gestores públicos a atuarem em articulação com o
Escritório de Inovação Tecnológica da UFMT (EIT) por meio de projetos de pesquisa e
extensão aprovados em diversos editais. A ARCA Multincubadora passou a liderar o Fórum
Territorial de Segurança Alimentar e Nutricional de Baixada Cuiabana (FTSAN-BC) e teve
sua inscrição reconhecida no Prêmio Celso Furtado de Desenvolvimento Regional em 2014.
Estudantes de diferentes cursos têm possibilidade de aplicarem imediatamente os conceitos
obtidos em suas disciplinas a partir dos problemas “temas geradores” que surgem no processo
de incubação.
Palavras chave: Tema gerador; Inovação; Economia Solidária; Incubação; Sustentabilidade.
1
Apoio recebido do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq – Brasil – Projeto
“Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da UFMT” – ITCP/UFMT
Economical Solidarity Incubation Projects - Theme Generator for
Innovation Environments
ABSTRACT
This article presents the process of solidarity and economical enterprises incubation of ARCA
Multincubadora, in partnership with the Federal University of Mato Grosso (UFMT), one
analogy with the Paulo Freire method. The demands of these enterprises are sources of
"generative themes" to promote awareness of students, teachers, business people and public
officials to act in more sustainable innovation environments. Overcoming problems in
enabling solidarity economic enterprises requires a collective work, not only for joint search
for meanings, as well as for overcoming relationship problems and / or technical management,
production, processing and marketing. Since 2006, the demands arisen to meet the challenges
of viability of solidarity economic enterprises led to the restructuring of ARCA
Multincubadora, which made national reference as Reference Center for Support of New
Enterprises (CERNE) for these enterprises. It had attracted students, teachers, consultants,
entrepreneurs and public officials to act integrated with the Innovation Office of UFMT (EIT)
through research and extension projects approved in several edicts. The ARCA
Multincubadora went on to lead the Territorial Forum on Food Security and Nutrition of
Cuiabana Baixada (FTSAN-BC) that had its registration recognized in Award Celso Furtado
Regional Development in 2014. Students from different courses are able to immediately apply
the concepts obtained in their subjects from the problems "generative themes" that arise in the
incubation process.
Keywords: Theme generator; innovation; Solidarity Economy; Incubation, sustainability
INTRODUÇÃO
A evasão escolar nas universidades tem atingido níveis preocupantes nos últimos anos
e a identificação das causas e das possibilidades de superação dessa evasão vem sendo tema
de diversas pesquisas. Alguns temas recorrentes nessas pesquisas apontam para a função
social da universidade e para a dificuldade de evidenciar para os docentes e discentes,
mecanismos eficazes de atendimento aos anseios da sociedade.
As expectativas de alunos em duas instituições de ensino superior foram pesquisadas
por Campos e Pinheiro (2014). Essa pesquisa identificou o “conhecimento prático” dos
docentes como um dos mais importantes atributos na expectativa dos alunos sobre o serviço
numa instituição de ensino superior (CAMPOS & PINHEIRO, 2014, p.16). Entretanto, em
alguns setores como o da inovação para a interação universidade-empresa, mesmo com
diversos incentivos governamentais, os resultados obtidos são muito aquém do esperado. A
diferença de cultura das instituições de ensino e da empresa se apresenta como um dos fatores
limitantes para que os resultados dessa interação são sejam incompatíveis com os apoios
governamentais às universidades (SCHREIBER, 2014, p.249). Podemos assim afirmar que,
pelo menos nesse setor de inovação, há pouco conhecimento prático dos docentes podendo
acarretar numa frustração em relação à expectativa dos alunos. Cabe então a pergunta: quais
as estratégias eficazes para sensibilizar docentes, discentes e outras categorias da sociedade
para a importância da inovação?
Entre possíveis estratégias, ressaltamos as empresas juniores. As empresas juniores,
entretanto são iniciativas criadas nas universidades principalmente por iniciativa dos alunos
tendo como motivação a tentativa de aliar a teoria à prática. De um modo geral, os alunos
contam com a ajuda de professores, porém de forma precária. Há também muita dificuldade
com a rotatividade dos alunos dificultando que os cargos dessas empresas sejam ocupados
continuamente (PENHA et. al., 2014, p. 20 e 21). Assim, percebe-se que essa estratégia,
isoladamente, não tem sido eficaz para sensibilizar os docentes e atender a principal
expectativa dos alunos de ter docentes com o conhecimento prático sobre a inovação e
consequente interação universidade-empresa.
Este artigo apresenta o processo de incubação de Empreendimentos Econômicos
Solidários da ARCA Multincubadora, em parceria com a Universidade Federal de Mato
Grosso (UFMT), como uma estratégia eficaz para promover a conscientização de estudantes,
professores, empresários e gestores públicos para atuarem em ambientes de inovação mais
sustentáveis. Para a superação de problemas na viabilização de empreendimentos econômicos
solidários surgem “temas geradores”, por analogia com o Método Paulo Freire, que exigem
que estudantes, professores, empresários e gestores públicos participem de espaços coletivos
da sociedade e se articulem, não somente para busca conjunta de significados, como também
para superação de problemas relacionais e/ou técnicos de gestão, produção, processamento e
comercialização.
O processo de incubação de empreendimentos econômicos solidários da UFMT vem
se consolidando nos últimos dez anos indicando ser eficaz para a promoção da inovação e da
interação universidade-empresa, com foco no empreendedorismo social, evoluindo
gradativamente num processo crescente de sensibilização de diferentes categorias e de lócus
de promoção de conhecimento prático para os docentes (KARLING et. al. 2012; PRIANTE
FILHO et. al. 2012; SAMPAIO NETO et. al. 2013).
TEMAS GERADORES PARA FORTALECIMENTO DE AMBIENTES MAIS
SUSTETÁVEIS
Segundo Paulo Freire, o ato educativo deve ser sempre um ato de recriação, portanto a
palavra método na obra freireana deve ser contextualizada com base nos princípios que lhe
dão corpo, consistência e significado. Hoje, assim como na sua gênese, o “Método Paulo
Freire” tem como fio condutor a própria emancipação do aluno, que não se dá somente no
campo cognitivo, mas acontece essencialmente no campo social e político (ANTUNES, s/d).
É importante no método de aprendizagem que ocorra a interação do aluno com o educador
para a construção de um saber comum, levando em consideração todo o contexto de
aprendizagem envolvido.
No processo de criação do "método", Paulo Freire, do mesmo modo como ocorrera
com sua própria alfabetização, destaca o universo vocabular do alfabetizando como ponto de
partida: conhecer o contexto dos educandos, que vão aprender a ler, para descobrir, pela
pesquisa, o universo da linguagem para retirar, da vida cotidiana, o vocabulário a ser utilizado
no processo de alfabetização (GADOTTI, 1995).
Segundo Paulo Freire, seu método é constituído de três etapas: Investigação,
Tematização e Problematização, tendo como base na busca conjunta professor-aluno, de
palavras e temas geradores que desafiem o aluno a ter uma postura conscientizada no
processo de alfabetização. Na etapa de investigação o aluno e o professor buscam, no
universo vocabular do aluno e da sociedade onde ele está inserido as palavras e temas centrais
de sua biografia; na etapa de tematização eles codificam e decodificam esses temas, buscando
então o seu significado social e tomando consciência do mundo vivido; por fim na etapa de
problematização, o aluno e professor buscam superar uma primeira visão idealizatória por
uma visão crítica do mundo, partindo para a transformação do contexto vivido.
Embora Paulo Freire tenha desenvolvido seu método a partir da sua experiência com
alfabetização de adultos, as etapas que o constituem se adéquam perfeitamente à relação
professor-aluno na Universidade, quando o tema em questão é a inovação.
O Plano de Desenvolvimento Institucional da UFMT 2013-2018 ressalta a importância
da “Interação” entre a UFMT e a sociedade civil organizada e reforça que nos currículos deve
ser considerada a formação ética, estética, cultural e política. Seguindo nessa direção, a
ARCA Multincubadora tem como papel, dar suporte a empreendimentos econômicos
solidários, por meio de atividades sistemáticas de formação e assessoria técnica, apoiando
diretamente a gestão contábil dos projetos que beneficiam os empreendimentos incubados.
Desta forma, os empreendimentos econômicos solidários, por sua vez, são associações
ou cooperativas que têm como objetivo a geração de trabalho e renda para seus associados, e
recebem, na incubadora, acompanhamento e consultorias visando à inclusão social e o
desenvolvimento sustentável desses empreendimentos. Esses empreendimentos econômicos
solidários estão articulados com diversas entidades, que elaboram projetos de editais de
instituições financiadoras de ações de inclusão social e de geração de renda. Esta forma de
atuação sistêmica promove a integração de várias entidades.
Uma forma de realizar esta articulação se tornou possível por meio do Fórum Territorial de Segurança
Alimentar e Nutricional da Baixada Cuiabana – FTSAN-BC, que se reúne mensalmente em diversos
locais da Baixada Cuiabana, sendo esta uma região com 14 municípios próximos a Cuiabá, com o
intuito de discutir os encaminhamentos e resolver questionamentos trazidos pelos integrantes do
mesmo, estabelecendo conexões, com base na incubação de empreendimentos econômicos solidários,
para a estruturação e consolidação desses espaços de promoção da responsabilidade e inclusão social
(e a racionalidade e justiça ambiental).
TEMAS GERADORES IDENTIFICADOS NA CONVIVÊNCIA DO FTSAN-BC
O acompanhamento sistemático das reuniões do Fórum Territorial de Segurança
Alimentar e Nutricional da Baixada Cuiabana - FTSAN-BC com registros das discussões tem
conquistado êxito para todos os participantes. O sucesso das reuniões do FTSAN-BC abrange
desde a escolha do local para as próximas reuniões, organização dos materiais para reunião,
elaboração do plano de ação, registro de atas, listas de presença, constante comunicação e
articulação entre os participantes do Fórum, divulgação de eventos relacionados à temática
discutida nas reuniões à elaboração de projetos para captação de recursos para os
empreendimentos.
Os participantes do FTSAN-BC por um lado são, na maioria, agricultores familiares,
quilombolas, catadores, ou seja, pessoas de baixa renda que carecem de apoio institucional e
de informações de órgãos públicos frente a suas demandas pela execução de políticas
públicas. Por outro lado, participam também do fórum, representantes das três esferas de
governo, professores e estudantes universitários, representantes de secretarias estaduais e
municipais e também profissionais liberais, todos com interesse na troca de experiências e,
unindo esforços na busca de soluções para as dificuldades daqueles menos favorecidos na
sociedade.
Os temas geradores que mobilizam os participantes do Fórum pressupõem um estudo e
uma rede de relações entre situações significativas e uma rede de relações que orientarão a
discussão da interpretação e representação dessa realidade. Pressupõe também uma
metodologia dialógica, cujo trabalho tenha o diálogo como sua essência; assim como o
educador tem que assumir uma postura crítica, de problematização constante, de
distanciamento, de estar na ação e de se observar o educando, os participantes do Fórum
elegem temas em comum para serem discutidos de forma crítica buscando atender e
compreender as demandas coletivas.
Segundo Ângela Antunes, trabalhar com o tema gerador permite, de um lado que a
comunidade desvele os níveis se compreensão que ela própria tem de sua realidade, e, de
outro, insira essa realidade imediata em totalidades mais abrangentes. A comunidade
compreenderá melhor sua realidade e compreendendo-a melhor, terá maiores condições de
intervenção. É dentro dessa relação, realidade local e contexto universal, que se buscam
conhecimentos historicamente organizados e sistematizados para se superarem as situações do
cotidiano (ANTUNES, s/d).
A temática que congrega os participantes nas reuniões do FTSAN-BC, por meio de
discussões e auxilio teórico elevam o nível de compreensão da situação da “realidade local”, e
em parceria com outras entidades realizam uma rede de colaboração para superar as
dificuldades do cotidiano.
Assim, como os temas geradores devem ser o ponto onde as áreas do saber são
relacionadas interdisciplinarmente em busca da leitura crítica da sociedade, é possível à
comunidade desvelar os níveis de compreensão que a mesma tem de sua própria realidade e
inserir essa realidade imediata em totalidades mais abrangentes, conforme Antunes, s/d.
Esses ambientes de debates e trocas de experiências promovem a comunicação
presencial, a visibilidade ao processo de incubação e estabelece relações de confiança entre
representantes de diferentes entidades que se dedicam a processos de inclusão social e de
geração de renda.
Para o estudante é de grande importância a vivencia nessas reuniões para visualizar na
prática o que se estuda em sala de aula, ocasionando a troca de experiências com valorização
dos sentimentos, da fala e dos sonhos das pessoas, respeitando sua condição social. Isso deixa
os estudantes mais motivados para suas responsabilidades sociais, promovendo a auto
realização com as ações de cidadania.
Paulo Freire não se dedicou especificamente ao estudo da educação ambiental, mas
sua leitura de mundo sistematizada, tendo sido tão ampla quanto profunda, abre possibilidades
para refletirmos sobre essa compreensão de educação subsidiada em sua teoria do
conhecimento. Paulo Freire (2003) nos ensinou não só o processo de como se pode conhecer,
mas, sobretudo, através de sua práxis teórica, nos oferece meios para refletirmos sobre o ético,
o político e o pedagógico no ato de ensinar-aprender. Por isso, inúmeros cientistas das mais
diversas áreas do conhecimento têm se valido de seu pensamento para criar novos saberes.
Podemos, pois, procurar na sua obra os pressupostos teóricos para subsidiar a
educação ambiental que nos demanda, hoje entendimento e a preservação da vida. Procurar
não mecanicamente porque outros e outras fizeram-no e continuam fazendo na busca de
construir corpos teóricos dentro das ciências às quais se dedicam, mas, porque, na verdade,
sua teoria é capaz disso. Ela, estou certa, tem muito a dizer e a propor para a ação dos que se
preocupam séria, intencionalmente e sistematicamente com a necessária educação ambiental
vista na sua totalidade (FREIRE, 2003, p. 11).
Os temas geradores são no Método Paulo Freire, o eixo da proposta metodológica.
Entendemos que o Método é o próprio pensamento de Paulo Freire, é o conjunto de
fundamentos filosófico-políticos presentes na sua teoria do conhecimento e ação no mundo, a
educação libertadora.
A ideia mais geral da educação libertadora é que a educação é uma atividade em que
os sujeitos, educadores e educandos, mediatizados pelo mundo educam-se em comunhão. A
esse processo, Paulo Freire chamou de processo de conscientização, isto é, ao se
aprofundarem no conhecimento da realidade, realidade vivida, real e concretamente pelos
sujeitos, os educandos têm as possibilidades de emergir no conhecimento de sua própria
condição, de sua própria vida. A educação libertadora é, para esse renomado educador, a
alternativa política à educação tradicional, a que ele denominou "educação bancária", a que,
por opção política e metodológica de caráter domesticador, realiza-se por repassar
conhecimentos de educadores para educandos.
Assim, a educação libertadora tem, como pressuposto, o questionamento radical das
relações dos homens entre si e deles com o mundo em que vivem, criando oportunidades para
um processo de desvelamento do mundo tendo como objetivo último à transformação social,
entendendo que a educação não é a garantia das transformações sociais, mas que as
transformações são impossíveis sem ela, sem uma visão crítica da realidade (FREIRE, 1967,
1984).
Estudos relacionados à taxa de mortalidade das micro e pequenas empresas
identificam os empecilhos para que os micros e pequenos empresários consigam recursos para
investimentos em projetos, como: quantidade de recursos insuficientes, dificuldade de
acessos, falta de informação, dificuldades de elaboração de projetos para subvenção
econômica e a burocracia, impossibilitando os empreendedores que necessitam desse tipo de
recurso a dar continuidade ao desenvolvimento de seus negócios (GLOBAL
ENTREPRENEURSHIP MONITOR - GEM, 2007).
Estudos realizados pelo SEBRAE (2011) apontam a dificuldade em conseguir recursos
para financiamento de projetos como um dos principais motivos pelos quais as atividades
empreendedoras no Brasil são interrompidas por micros e pequenas empresas. A falta de
recurso e de preparo técnico e gerencial dos empreendedores de micro e pequenas empresas
resultam em um índice de 26,9% de fracasso nos primeiros anos de vida (SEBRAE, 2011).
Portanto, os principais impedimentos para melhoria do processo de incubação de
empreendimentos econômicos solidários ainda são ocasionados pela grande dependência da
aprovação de projetos que garantam recursos financeiros para manutenção de bolsas ou
mesmo atividades técnicas dos consultores da Incubadora, dificultando assim o financiamento
de novas tecnologias.
O objetivo principal do Fórum Territorial de Segurança Alimentar e Nutricional da
Baixada Cuiabana – FTSAN-BC é estabelecer conexões, com base na incubação de
empreendimentos econômicos solidários, para a estruturação e consolidação de espaços de
promoção da responsabilidade e inclusão social a racionalidade e justiça ambiental. O que
podemos relacionar com tudo que foi explicado sobre os temas geradores.
Representantes da ARCA Multincubadora e das Incubadoras Tecnológicas de
Cooperativismo Popular - ITCP-UFMT participaram ativamente de reuniões de planejamento
participativo e de consultas para a identificação de projetos de desenvolvimento local no
município de Várzea Grande-MT. Esse envolvimento possibilitou o ingresso de 03 projetos
no Programa ReDes, iniciativa do Instituto Votorantim e do BNDES, com o apoio local da
Votorantim Cimentos. Esses projetos receberam R$ 2.500.000,00 para serem investidos em
três unidades produtivas; uma associação e duas cooperativas incubadas na ARCA
Multincubadora. Para o acompanhamento desses projetos foi criado um conselho que, em
maio de 2013, se constituiu como Fórum Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional de
Várzea Grande (FMSAN-VG).
As entidades participantes deste Fórum passaram a atuar de modo articulado com os
programas e projetos da ITCP-UFMT e da ARCA Multincubadora, motivando a participação
ativa de representantes da sociedade civil e de secretarias municipais de outros municípios.
Assim, o FMSAN-VG passou a ter abrangência territorial, se transformando em Fórum
Territorial de Segurança Alimentar e Nutricional da Baixada Cuiabana (FTSAN-BC).
A metodologia adotada no FTSAN-BC baseia-se na reaplicação, em fóruns ou
conselhos, da Tecnologia Social “Sistema Integrado de Inovação Tecnológica Social”
(SITECS) desenvolvida a partir de uma inovadora articulação entre a Universidade Federal de
Mato Grosso (UFMT) e a ARCA Multincubadora. Essa prática pode ser reaplicada em outros
fóruns ou conselhos, pelos resultados de superação de inúmeros obstáculos existentes em
Mato Grosso que catadores de materiais recicláveis, agricultores familiares, e comunidades
tradicionais enfrentam para acessar políticas públicas de geração de renda.
Os participantes deste Fórum atuam de modo articulado com os programas e projetos
da ITCP-UFMT e da ARCA Multincubadora, motivando assim a participação ativa de
representantes da sociedade civil e de secretarias estaduais e municipais de outros municípios.
Conta atualmente com 228 participantes. Até o momento, estão participando representantes de
sete municípios da Baixada Cuiabana: Várzea Grande, Cuiabá, Poconé, Santo Antonio do
Leverger, Livramento e Nobres. O Fórum tem uma coordenação composta por professores
aposentados da UFMT, membros da ARCA/EIT/UFMT e representantes de entidades
participantes nas funções de coordenador, vice coordenador, secretário e vice-secretário.
Uma das entidades participantes do FTSAN-BC e também beneficiada pelo Instituto
Votorantim, é a Associação de Catadores de Materiais Recicláveis do Município de Várzea
Grande em Mato Grosso. Esta associação surgiu do sonho de três famílias de catadores de
Várzea Grande que almejavam um futuro melhor. Iniciando suas atividades com quatro
pessoas, todos familiares de catadores de material reciclável do lixão, movidas pelo objetivo
de melhorar as condições de vida e de trabalho dos catadores da cidade decidiram criar a
Associação dos Catadores de Várzea Grande - ASSCAVAG, sendo a primeira ata lavrada em
02 de janeiro de 2009.
A Lei nº 12.305/10, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) é
bastante atual e contém instrumentos importantes para permitir o avanço necessário ao País no
enfrentamento dos principais problemas ambientais, sociais e econômicos decorrentes do
manejo inadequado dos resíduos sólidos. Busca a prevenção e a redução na geração de
resíduos, tendo como proposta a prática de hábitos de consumo sustentável e um conjunto de
instrumentos para propiciar o aumento da reciclagem e da reutilização dos resíduos sólidos
(aquilo que tem valor econômico e pode ser reciclado ou reaproveitado) e a destinação
ambientalmente adequada dos rejeitos (aquilo que não pode ser reciclado ou reutilizado).
Institui a responsabilidade compartilhada dos geradores de resíduos: dos fabricantes,
importadores, distribuidores, comerciantes, o cidadão e titulares de serviços de manejo dos
resíduos sólidos urbanos na Logística Reversa dos resíduos e embalagens pós-consumo e pósconsumo. Cria metas importantes que irão contribuir para a eliminação dos lixões e institui
instrumentos de planejamento nos níveis nacional, estadual, microregional, intermunicipal e
metropolitano e municipal; além de impor que os particulares elaborem seus Planos de
Gerenciamento de Resíduos Sólidos (BRASIL, 2010).
Com base nesta Lei Nº 12.305, de 2 de agosto de 2010
Art. 7°, são objetivos da Política Nacional de Resíduos Sólidos:
I - proteção da saúde pública e da qualidade ambiental;
II - não geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento dos resíduos
sólidos, bem como disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos;
III - estímulo à adoção de padrões sustentáveis de produção e consumo de bens
e serviços;
IV - adoção, desenvolvimento e aprimoramento de tecnologias limpas como
forma de minimizar impactos ambientais;
V - redução do volume e da periculosidade dos resíduos perigosos;
VI - incentivo à indústria da reciclagem, tendo em vista fomentar o uso de
matérias-primas e insumos derivados de materiais recicláveis e reciclados;
VII - gestão integrada de resíduos sólidos;
VIII - articulação entre as diferentes esferas do poder público, e destas com o
setor empresarial, com vistas à cooperação técnica e financeira para a gestão
integrada de resíduos sólidos;
IX - capacitação técnica continuada na área de resíduos sólidos;
A coleta seletiva é uma das principais ferramentas para reduzir a quantidade de
resíduos dispostos nos aterros sanitários, aumentar a taxa de reciclagem de distintos materiais
como alumínio, papel, papelão, plástico e vidro e garantir trabalho e renda para os catadores
de materiais recicláveis. A inclusão social e econômica dos catadores, outro aspecto inovador
da PNRS, já era uma questão a ser observada por todos os órgãos da administração pública
direta e indireta.
Pode-se observar a necessidade de investimento em espaços como esta Associação,
onde movida pelo objetivo de melhorar as condições de vida e de trabalho dos catadores da
cidade, auxilia no cumprimento desta lei, na sustentabilidade do meio ambiente, na garantia
de renda e também na melhora da segurança alimentar dos associados.
Outro ponto observado nesta associação foi o alto índice de analfabetismo, onde
devido condições sociais, financeiras e culturais, grande parte dos membros da associação não
possuíam condições de frequentar escolas. Pensando nisso, foi montada dentro desta própria
associação de catadores, uma sala de aula para alfabetização dos trabalhadores e catadores
que ainda não estão alfabetizados, levando em consideração as necessidades ambientais,
sociais e pessoais de cada indivíduo associado.
Pode-se então comparar esta realização com o método educacional de Paulo Freire,
que ocorre a interação do aluno com o educador para que ambos construam junto, um saber
comum, levando em consideração todo o contexto de aprendizagem envolvido e a necessidade
de motivação, por parte da direção da Associação.
CONCLUSÃO
Segundo Freire, a educação é comunicação, é dialogo, na medida em que não é
transferência de saber, mas um encontro de sujeitos interlocutores que buscam a significação
dos significados (FREIRE, 1982. p.69).
Sendo assim as ações da ARCA Multincubadora e do Escritório de Inovação
Tecnológica (EIT) na UFMT também auxiliam na motivação dos estudantes a se envolverem
de forma cada vez mais intensa com os problemas regionais dos empreendimentos de
Economia Solidária, contribuindo para a construção do saber coletivo, auxiliando em seu
processo de aprendizagem, sua formação ética, estética, cultural e política. O resultado disso é
a conquista também de espaço de confiança entre comunidades incubadas.
A transformação na vida de comunidades incubadas, como o caso da Associação de
Catadores de Materiais Recicláveis do Município de Várzea Grande em Mato Grosso, e
muitas outras, onde por meio de ambientes de debates e trocas de experiências promovem a
comunicação presencial, a visibilidade ao processo de incubação e estabelece relações de
confiança entre representantes de diferentes entidades que se dedicam a processos de inclusão
social e de geração de renda.
Assim sendo para o aluno universitário, é de grande importância a vivencia nessas
reuniões para visualizar na prática o que se estuda em sala de aula com os contextos sociais
apresentados, ocasionando a troca de experiências com valorização dos sentimentos, da fala e
dos sonhos das pessoas, respeitando sua condição social. Isso é motivação para o estudante
pois desperta suas responsabilidades sociais e promove a auto realização com ações de
cidadania.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao apoio recebido do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico - CNPq – Brasil – Projeto “Incubadora Tecnológica de Cooperativas
Populares da UFMT” – ITCP/UFMT.
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