Incubação de Empreendimentos Econômicos Solidários – Tema Gerador para Busca de Ambientes de Inovação mais Sustentáveis 1 Carine Muller Paes de Barros; Oscar Zalla Sampaio Neto; Wilson Luconi Junior; Josita Correto da Rocha Priante; Nicolau Priante Filho. Resumo Este artigo apresenta o processo de incubação de Empreendimentos Econômicos Solidários da ARCA Multincubadora, em parceria com a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), fazendo analogia com o Método Paulo Freire. As demandas desses empreendimentos são fontes de “temas geradores” para promover a conscientização de estudantes, professores, empresários e gestores públicos para atuarem em ambientes de inovação mais sustentáveis. A superação de problemas na viabilização de empreendimentos econômicos solidários exige que estudantes, professores, empresários e gestores públicos participem de espaços coletivos e se articulem, não somente para busca conjunta de significados, como também para superação de problemas relacionais e/ou técnicos de gestão, produção, processamento e comercialização. Desde 2006, as demandas surgidas para superar os desafios de viabilização de empreendimentos econômicos solidários propiciaram a reestruturação da ARCA Multincubadora, que a tornou referência nacional como Centro de Referência para Apoio a Novos Empreendimentos (CERNE) para esses empreendimentos. Isso atraiu estudantes, professores, consultores, empresários e gestores públicos a atuarem em articulação com o Escritório de Inovação Tecnológica da UFMT (EIT) por meio de projetos de pesquisa e extensão aprovados em diversos editais. A ARCA Multincubadora passou a liderar o Fórum Territorial de Segurança Alimentar e Nutricional de Baixada Cuiabana (FTSAN-BC) e teve sua inscrição reconhecida no Prêmio Celso Furtado de Desenvolvimento Regional em 2014. Estudantes de diferentes cursos têm possibilidade de aplicarem imediatamente os conceitos obtidos em suas disciplinas a partir dos problemas “temas geradores” que surgem no processo de incubação. Palavras chave: Tema gerador; Inovação; Economia Solidária; Incubação; Sustentabilidade. 1 Apoio recebido do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq – Brasil – Projeto “Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da UFMT” – ITCP/UFMT Economical Solidarity Incubation Projects - Theme Generator for Innovation Environments ABSTRACT This article presents the process of solidarity and economical enterprises incubation of ARCA Multincubadora, in partnership with the Federal University of Mato Grosso (UFMT), one analogy with the Paulo Freire method. The demands of these enterprises are sources of "generative themes" to promote awareness of students, teachers, business people and public officials to act in more sustainable innovation environments. Overcoming problems in enabling solidarity economic enterprises requires a collective work, not only for joint search for meanings, as well as for overcoming relationship problems and / or technical management, production, processing and marketing. Since 2006, the demands arisen to meet the challenges of viability of solidarity economic enterprises led to the restructuring of ARCA Multincubadora, which made national reference as Reference Center for Support of New Enterprises (CERNE) for these enterprises. It had attracted students, teachers, consultants, entrepreneurs and public officials to act integrated with the Innovation Office of UFMT (EIT) through research and extension projects approved in several edicts. The ARCA Multincubadora went on to lead the Territorial Forum on Food Security and Nutrition of Cuiabana Baixada (FTSAN-BC) that had its registration recognized in Award Celso Furtado Regional Development in 2014. Students from different courses are able to immediately apply the concepts obtained in their subjects from the problems "generative themes" that arise in the incubation process. Keywords: Theme generator; innovation; Solidarity Economy; Incubation, sustainability INTRODUÇÃO A evasão escolar nas universidades tem atingido níveis preocupantes nos últimos anos e a identificação das causas e das possibilidades de superação dessa evasão vem sendo tema de diversas pesquisas. Alguns temas recorrentes nessas pesquisas apontam para a função social da universidade e para a dificuldade de evidenciar para os docentes e discentes, mecanismos eficazes de atendimento aos anseios da sociedade. As expectativas de alunos em duas instituições de ensino superior foram pesquisadas por Campos e Pinheiro (2014). Essa pesquisa identificou o “conhecimento prático” dos docentes como um dos mais importantes atributos na expectativa dos alunos sobre o serviço numa instituição de ensino superior (CAMPOS & PINHEIRO, 2014, p.16). Entretanto, em alguns setores como o da inovação para a interação universidade-empresa, mesmo com diversos incentivos governamentais, os resultados obtidos são muito aquém do esperado. A diferença de cultura das instituições de ensino e da empresa se apresenta como um dos fatores limitantes para que os resultados dessa interação são sejam incompatíveis com os apoios governamentais às universidades (SCHREIBER, 2014, p.249). Podemos assim afirmar que, pelo menos nesse setor de inovação, há pouco conhecimento prático dos docentes podendo acarretar numa frustração em relação à expectativa dos alunos. Cabe então a pergunta: quais as estratégias eficazes para sensibilizar docentes, discentes e outras categorias da sociedade para a importância da inovação? Entre possíveis estratégias, ressaltamos as empresas juniores. As empresas juniores, entretanto são iniciativas criadas nas universidades principalmente por iniciativa dos alunos tendo como motivação a tentativa de aliar a teoria à prática. De um modo geral, os alunos contam com a ajuda de professores, porém de forma precária. Há também muita dificuldade com a rotatividade dos alunos dificultando que os cargos dessas empresas sejam ocupados continuamente (PENHA et. al., 2014, p. 20 e 21). Assim, percebe-se que essa estratégia, isoladamente, não tem sido eficaz para sensibilizar os docentes e atender a principal expectativa dos alunos de ter docentes com o conhecimento prático sobre a inovação e consequente interação universidade-empresa. Este artigo apresenta o processo de incubação de Empreendimentos Econômicos Solidários da ARCA Multincubadora, em parceria com a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), como uma estratégia eficaz para promover a conscientização de estudantes, professores, empresários e gestores públicos para atuarem em ambientes de inovação mais sustentáveis. Para a superação de problemas na viabilização de empreendimentos econômicos solidários surgem “temas geradores”, por analogia com o Método Paulo Freire, que exigem que estudantes, professores, empresários e gestores públicos participem de espaços coletivos da sociedade e se articulem, não somente para busca conjunta de significados, como também para superação de problemas relacionais e/ou técnicos de gestão, produção, processamento e comercialização. O processo de incubação de empreendimentos econômicos solidários da UFMT vem se consolidando nos últimos dez anos indicando ser eficaz para a promoção da inovação e da interação universidade-empresa, com foco no empreendedorismo social, evoluindo gradativamente num processo crescente de sensibilização de diferentes categorias e de lócus de promoção de conhecimento prático para os docentes (KARLING et. al. 2012; PRIANTE FILHO et. al. 2012; SAMPAIO NETO et. al. 2013). TEMAS GERADORES PARA FORTALECIMENTO DE AMBIENTES MAIS SUSTETÁVEIS Segundo Paulo Freire, o ato educativo deve ser sempre um ato de recriação, portanto a palavra método na obra freireana deve ser contextualizada com base nos princípios que lhe dão corpo, consistência e significado. Hoje, assim como na sua gênese, o “Método Paulo Freire” tem como fio condutor a própria emancipação do aluno, que não se dá somente no campo cognitivo, mas acontece essencialmente no campo social e político (ANTUNES, s/d). É importante no método de aprendizagem que ocorra a interação do aluno com o educador para a construção de um saber comum, levando em consideração todo o contexto de aprendizagem envolvido. No processo de criação do "método", Paulo Freire, do mesmo modo como ocorrera com sua própria alfabetização, destaca o universo vocabular do alfabetizando como ponto de partida: conhecer o contexto dos educandos, que vão aprender a ler, para descobrir, pela pesquisa, o universo da linguagem para retirar, da vida cotidiana, o vocabulário a ser utilizado no processo de alfabetização (GADOTTI, 1995). Segundo Paulo Freire, seu método é constituído de três etapas: Investigação, Tematização e Problematização, tendo como base na busca conjunta professor-aluno, de palavras e temas geradores que desafiem o aluno a ter uma postura conscientizada no processo de alfabetização. Na etapa de investigação o aluno e o professor buscam, no universo vocabular do aluno e da sociedade onde ele está inserido as palavras e temas centrais de sua biografia; na etapa de tematização eles codificam e decodificam esses temas, buscando então o seu significado social e tomando consciência do mundo vivido; por fim na etapa de problematização, o aluno e professor buscam superar uma primeira visão idealizatória por uma visão crítica do mundo, partindo para a transformação do contexto vivido. Embora Paulo Freire tenha desenvolvido seu método a partir da sua experiência com alfabetização de adultos, as etapas que o constituem se adéquam perfeitamente à relação professor-aluno na Universidade, quando o tema em questão é a inovação. O Plano de Desenvolvimento Institucional da UFMT 2013-2018 ressalta a importância da “Interação” entre a UFMT e a sociedade civil organizada e reforça que nos currículos deve ser considerada a formação ética, estética, cultural e política. Seguindo nessa direção, a ARCA Multincubadora tem como papel, dar suporte a empreendimentos econômicos solidários, por meio de atividades sistemáticas de formação e assessoria técnica, apoiando diretamente a gestão contábil dos projetos que beneficiam os empreendimentos incubados. Desta forma, os empreendimentos econômicos solidários, por sua vez, são associações ou cooperativas que têm como objetivo a geração de trabalho e renda para seus associados, e recebem, na incubadora, acompanhamento e consultorias visando à inclusão social e o desenvolvimento sustentável desses empreendimentos. Esses empreendimentos econômicos solidários estão articulados com diversas entidades, que elaboram projetos de editais de instituições financiadoras de ações de inclusão social e de geração de renda. Esta forma de atuação sistêmica promove a integração de várias entidades. Uma forma de realizar esta articulação se tornou possível por meio do Fórum Territorial de Segurança Alimentar e Nutricional da Baixada Cuiabana – FTSAN-BC, que se reúne mensalmente em diversos locais da Baixada Cuiabana, sendo esta uma região com 14 municípios próximos a Cuiabá, com o intuito de discutir os encaminhamentos e resolver questionamentos trazidos pelos integrantes do mesmo, estabelecendo conexões, com base na incubação de empreendimentos econômicos solidários, para a estruturação e consolidação desses espaços de promoção da responsabilidade e inclusão social (e a racionalidade e justiça ambiental). TEMAS GERADORES IDENTIFICADOS NA CONVIVÊNCIA DO FTSAN-BC O acompanhamento sistemático das reuniões do Fórum Territorial de Segurança Alimentar e Nutricional da Baixada Cuiabana - FTSAN-BC com registros das discussões tem conquistado êxito para todos os participantes. O sucesso das reuniões do FTSAN-BC abrange desde a escolha do local para as próximas reuniões, organização dos materiais para reunião, elaboração do plano de ação, registro de atas, listas de presença, constante comunicação e articulação entre os participantes do Fórum, divulgação de eventos relacionados à temática discutida nas reuniões à elaboração de projetos para captação de recursos para os empreendimentos. Os participantes do FTSAN-BC por um lado são, na maioria, agricultores familiares, quilombolas, catadores, ou seja, pessoas de baixa renda que carecem de apoio institucional e de informações de órgãos públicos frente a suas demandas pela execução de políticas públicas. Por outro lado, participam também do fórum, representantes das três esferas de governo, professores e estudantes universitários, representantes de secretarias estaduais e municipais e também profissionais liberais, todos com interesse na troca de experiências e, unindo esforços na busca de soluções para as dificuldades daqueles menos favorecidos na sociedade. Os temas geradores que mobilizam os participantes do Fórum pressupõem um estudo e uma rede de relações entre situações significativas e uma rede de relações que orientarão a discussão da interpretação e representação dessa realidade. Pressupõe também uma metodologia dialógica, cujo trabalho tenha o diálogo como sua essência; assim como o educador tem que assumir uma postura crítica, de problematização constante, de distanciamento, de estar na ação e de se observar o educando, os participantes do Fórum elegem temas em comum para serem discutidos de forma crítica buscando atender e compreender as demandas coletivas. Segundo Ângela Antunes, trabalhar com o tema gerador permite, de um lado que a comunidade desvele os níveis se compreensão que ela própria tem de sua realidade, e, de outro, insira essa realidade imediata em totalidades mais abrangentes. A comunidade compreenderá melhor sua realidade e compreendendo-a melhor, terá maiores condições de intervenção. É dentro dessa relação, realidade local e contexto universal, que se buscam conhecimentos historicamente organizados e sistematizados para se superarem as situações do cotidiano (ANTUNES, s/d). A temática que congrega os participantes nas reuniões do FTSAN-BC, por meio de discussões e auxilio teórico elevam o nível de compreensão da situação da “realidade local”, e em parceria com outras entidades realizam uma rede de colaboração para superar as dificuldades do cotidiano. Assim, como os temas geradores devem ser o ponto onde as áreas do saber são relacionadas interdisciplinarmente em busca da leitura crítica da sociedade, é possível à comunidade desvelar os níveis de compreensão que a mesma tem de sua própria realidade e inserir essa realidade imediata em totalidades mais abrangentes, conforme Antunes, s/d. Esses ambientes de debates e trocas de experiências promovem a comunicação presencial, a visibilidade ao processo de incubação e estabelece relações de confiança entre representantes de diferentes entidades que se dedicam a processos de inclusão social e de geração de renda. Para o estudante é de grande importância a vivencia nessas reuniões para visualizar na prática o que se estuda em sala de aula, ocasionando a troca de experiências com valorização dos sentimentos, da fala e dos sonhos das pessoas, respeitando sua condição social. Isso deixa os estudantes mais motivados para suas responsabilidades sociais, promovendo a auto realização com as ações de cidadania. Paulo Freire não se dedicou especificamente ao estudo da educação ambiental, mas sua leitura de mundo sistematizada, tendo sido tão ampla quanto profunda, abre possibilidades para refletirmos sobre essa compreensão de educação subsidiada em sua teoria do conhecimento. Paulo Freire (2003) nos ensinou não só o processo de como se pode conhecer, mas, sobretudo, através de sua práxis teórica, nos oferece meios para refletirmos sobre o ético, o político e o pedagógico no ato de ensinar-aprender. Por isso, inúmeros cientistas das mais diversas áreas do conhecimento têm se valido de seu pensamento para criar novos saberes. Podemos, pois, procurar na sua obra os pressupostos teóricos para subsidiar a educação ambiental que nos demanda, hoje entendimento e a preservação da vida. Procurar não mecanicamente porque outros e outras fizeram-no e continuam fazendo na busca de construir corpos teóricos dentro das ciências às quais se dedicam, mas, porque, na verdade, sua teoria é capaz disso. Ela, estou certa, tem muito a dizer e a propor para a ação dos que se preocupam séria, intencionalmente e sistematicamente com a necessária educação ambiental vista na sua totalidade (FREIRE, 2003, p. 11). Os temas geradores são no Método Paulo Freire, o eixo da proposta metodológica. Entendemos que o Método é o próprio pensamento de Paulo Freire, é o conjunto de fundamentos filosófico-políticos presentes na sua teoria do conhecimento e ação no mundo, a educação libertadora. A ideia mais geral da educação libertadora é que a educação é uma atividade em que os sujeitos, educadores e educandos, mediatizados pelo mundo educam-se em comunhão. A esse processo, Paulo Freire chamou de processo de conscientização, isto é, ao se aprofundarem no conhecimento da realidade, realidade vivida, real e concretamente pelos sujeitos, os educandos têm as possibilidades de emergir no conhecimento de sua própria condição, de sua própria vida. A educação libertadora é, para esse renomado educador, a alternativa política à educação tradicional, a que ele denominou "educação bancária", a que, por opção política e metodológica de caráter domesticador, realiza-se por repassar conhecimentos de educadores para educandos. Assim, a educação libertadora tem, como pressuposto, o questionamento radical das relações dos homens entre si e deles com o mundo em que vivem, criando oportunidades para um processo de desvelamento do mundo tendo como objetivo último à transformação social, entendendo que a educação não é a garantia das transformações sociais, mas que as transformações são impossíveis sem ela, sem uma visão crítica da realidade (FREIRE, 1967, 1984). Estudos relacionados à taxa de mortalidade das micro e pequenas empresas identificam os empecilhos para que os micros e pequenos empresários consigam recursos para investimentos em projetos, como: quantidade de recursos insuficientes, dificuldade de acessos, falta de informação, dificuldades de elaboração de projetos para subvenção econômica e a burocracia, impossibilitando os empreendedores que necessitam desse tipo de recurso a dar continuidade ao desenvolvimento de seus negócios (GLOBAL ENTREPRENEURSHIP MONITOR - GEM, 2007). Estudos realizados pelo SEBRAE (2011) apontam a dificuldade em conseguir recursos para financiamento de projetos como um dos principais motivos pelos quais as atividades empreendedoras no Brasil são interrompidas por micros e pequenas empresas. A falta de recurso e de preparo técnico e gerencial dos empreendedores de micro e pequenas empresas resultam em um índice de 26,9% de fracasso nos primeiros anos de vida (SEBRAE, 2011). Portanto, os principais impedimentos para melhoria do processo de incubação de empreendimentos econômicos solidários ainda são ocasionados pela grande dependência da aprovação de projetos que garantam recursos financeiros para manutenção de bolsas ou mesmo atividades técnicas dos consultores da Incubadora, dificultando assim o financiamento de novas tecnologias. O objetivo principal do Fórum Territorial de Segurança Alimentar e Nutricional da Baixada Cuiabana – FTSAN-BC é estabelecer conexões, com base na incubação de empreendimentos econômicos solidários, para a estruturação e consolidação de espaços de promoção da responsabilidade e inclusão social a racionalidade e justiça ambiental. O que podemos relacionar com tudo que foi explicado sobre os temas geradores. Representantes da ARCA Multincubadora e das Incubadoras Tecnológicas de Cooperativismo Popular - ITCP-UFMT participaram ativamente de reuniões de planejamento participativo e de consultas para a identificação de projetos de desenvolvimento local no município de Várzea Grande-MT. Esse envolvimento possibilitou o ingresso de 03 projetos no Programa ReDes, iniciativa do Instituto Votorantim e do BNDES, com o apoio local da Votorantim Cimentos. Esses projetos receberam R$ 2.500.000,00 para serem investidos em três unidades produtivas; uma associação e duas cooperativas incubadas na ARCA Multincubadora. Para o acompanhamento desses projetos foi criado um conselho que, em maio de 2013, se constituiu como Fórum Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional de Várzea Grande (FMSAN-VG). As entidades participantes deste Fórum passaram a atuar de modo articulado com os programas e projetos da ITCP-UFMT e da ARCA Multincubadora, motivando a participação ativa de representantes da sociedade civil e de secretarias municipais de outros municípios. Assim, o FMSAN-VG passou a ter abrangência territorial, se transformando em Fórum Territorial de Segurança Alimentar e Nutricional da Baixada Cuiabana (FTSAN-BC). A metodologia adotada no FTSAN-BC baseia-se na reaplicação, em fóruns ou conselhos, da Tecnologia Social “Sistema Integrado de Inovação Tecnológica Social” (SITECS) desenvolvida a partir de uma inovadora articulação entre a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e a ARCA Multincubadora. Essa prática pode ser reaplicada em outros fóruns ou conselhos, pelos resultados de superação de inúmeros obstáculos existentes em Mato Grosso que catadores de materiais recicláveis, agricultores familiares, e comunidades tradicionais enfrentam para acessar políticas públicas de geração de renda. Os participantes deste Fórum atuam de modo articulado com os programas e projetos da ITCP-UFMT e da ARCA Multincubadora, motivando assim a participação ativa de representantes da sociedade civil e de secretarias estaduais e municipais de outros municípios. Conta atualmente com 228 participantes. Até o momento, estão participando representantes de sete municípios da Baixada Cuiabana: Várzea Grande, Cuiabá, Poconé, Santo Antonio do Leverger, Livramento e Nobres. O Fórum tem uma coordenação composta por professores aposentados da UFMT, membros da ARCA/EIT/UFMT e representantes de entidades participantes nas funções de coordenador, vice coordenador, secretário e vice-secretário. Uma das entidades participantes do FTSAN-BC e também beneficiada pelo Instituto Votorantim, é a Associação de Catadores de Materiais Recicláveis do Município de Várzea Grande em Mato Grosso. Esta associação surgiu do sonho de três famílias de catadores de Várzea Grande que almejavam um futuro melhor. Iniciando suas atividades com quatro pessoas, todos familiares de catadores de material reciclável do lixão, movidas pelo objetivo de melhorar as condições de vida e de trabalho dos catadores da cidade decidiram criar a Associação dos Catadores de Várzea Grande - ASSCAVAG, sendo a primeira ata lavrada em 02 de janeiro de 2009. A Lei nº 12.305/10, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) é bastante atual e contém instrumentos importantes para permitir o avanço necessário ao País no enfrentamento dos principais problemas ambientais, sociais e econômicos decorrentes do manejo inadequado dos resíduos sólidos. Busca a prevenção e a redução na geração de resíduos, tendo como proposta a prática de hábitos de consumo sustentável e um conjunto de instrumentos para propiciar o aumento da reciclagem e da reutilização dos resíduos sólidos (aquilo que tem valor econômico e pode ser reciclado ou reaproveitado) e a destinação ambientalmente adequada dos rejeitos (aquilo que não pode ser reciclado ou reutilizado). Institui a responsabilidade compartilhada dos geradores de resíduos: dos fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, o cidadão e titulares de serviços de manejo dos resíduos sólidos urbanos na Logística Reversa dos resíduos e embalagens pós-consumo e pósconsumo. Cria metas importantes que irão contribuir para a eliminação dos lixões e institui instrumentos de planejamento nos níveis nacional, estadual, microregional, intermunicipal e metropolitano e municipal; além de impor que os particulares elaborem seus Planos de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (BRASIL, 2010). Com base nesta Lei Nº 12.305, de 2 de agosto de 2010 Art. 7°, são objetivos da Política Nacional de Resíduos Sólidos: I - proteção da saúde pública e da qualidade ambiental; II - não geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento dos resíduos sólidos, bem como disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos; III - estímulo à adoção de padrões sustentáveis de produção e consumo de bens e serviços; IV - adoção, desenvolvimento e aprimoramento de tecnologias limpas como forma de minimizar impactos ambientais; V - redução do volume e da periculosidade dos resíduos perigosos; VI - incentivo à indústria da reciclagem, tendo em vista fomentar o uso de matérias-primas e insumos derivados de materiais recicláveis e reciclados; VII - gestão integrada de resíduos sólidos; VIII - articulação entre as diferentes esferas do poder público, e destas com o setor empresarial, com vistas à cooperação técnica e financeira para a gestão integrada de resíduos sólidos; IX - capacitação técnica continuada na área de resíduos sólidos; A coleta seletiva é uma das principais ferramentas para reduzir a quantidade de resíduos dispostos nos aterros sanitários, aumentar a taxa de reciclagem de distintos materiais como alumínio, papel, papelão, plástico e vidro e garantir trabalho e renda para os catadores de materiais recicláveis. A inclusão social e econômica dos catadores, outro aspecto inovador da PNRS, já era uma questão a ser observada por todos os órgãos da administração pública direta e indireta. Pode-se observar a necessidade de investimento em espaços como esta Associação, onde movida pelo objetivo de melhorar as condições de vida e de trabalho dos catadores da cidade, auxilia no cumprimento desta lei, na sustentabilidade do meio ambiente, na garantia de renda e também na melhora da segurança alimentar dos associados. Outro ponto observado nesta associação foi o alto índice de analfabetismo, onde devido condições sociais, financeiras e culturais, grande parte dos membros da associação não possuíam condições de frequentar escolas. Pensando nisso, foi montada dentro desta própria associação de catadores, uma sala de aula para alfabetização dos trabalhadores e catadores que ainda não estão alfabetizados, levando em consideração as necessidades ambientais, sociais e pessoais de cada indivíduo associado. Pode-se então comparar esta realização com o método educacional de Paulo Freire, que ocorre a interação do aluno com o educador para que ambos construam junto, um saber comum, levando em consideração todo o contexto de aprendizagem envolvido e a necessidade de motivação, por parte da direção da Associação. CONCLUSÃO Segundo Freire, a educação é comunicação, é dialogo, na medida em que não é transferência de saber, mas um encontro de sujeitos interlocutores que buscam a significação dos significados (FREIRE, 1982. p.69). Sendo assim as ações da ARCA Multincubadora e do Escritório de Inovação Tecnológica (EIT) na UFMT também auxiliam na motivação dos estudantes a se envolverem de forma cada vez mais intensa com os problemas regionais dos empreendimentos de Economia Solidária, contribuindo para a construção do saber coletivo, auxiliando em seu processo de aprendizagem, sua formação ética, estética, cultural e política. O resultado disso é a conquista também de espaço de confiança entre comunidades incubadas. A transformação na vida de comunidades incubadas, como o caso da Associação de Catadores de Materiais Recicláveis do Município de Várzea Grande em Mato Grosso, e muitas outras, onde por meio de ambientes de debates e trocas de experiências promovem a comunicação presencial, a visibilidade ao processo de incubação e estabelece relações de confiança entre representantes de diferentes entidades que se dedicam a processos de inclusão social e de geração de renda. Assim sendo para o aluno universitário, é de grande importância a vivencia nessas reuniões para visualizar na prática o que se estuda em sala de aula com os contextos sociais apresentados, ocasionando a troca de experiências com valorização dos sentimentos, da fala e dos sonhos das pessoas, respeitando sua condição social. Isso é motivação para o estudante pois desperta suas responsabilidades sociais e promove a auto realização com ações de cidadania. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao apoio recebido do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq – Brasil – Projeto “Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da UFMT” – ITCP/UFMT. REFERÊNCIAS ANTUNES, Angela. Caderno Formação. Disponível em < file:///C:/Users/Carine/Documents/CADERNO%20FORMACAO.pdf>. Acesso em 22 jun. 2015. BRASIL. Lei Nº 12.305/2010. Capítulo II. Definições. Art. 7º. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm> Acesso em 28 ago.2015. BRASIL. Lei Nº 12.305/2010. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Politica Nacional de Resíduos Sólidos. Disponível em <http://www.mma.gov.br/pol%C3%ADtica-deres%C3%ADduos-s%C3%B3lidos> Acesso em 28 ago.2015. CAMPOS, Domingos Fernandes; PINHEIRO, Catarina de Sena Matos. 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