CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE GRADUAÇÃO DE SERVIÇO SOCIAL MARIA GLAUCIANE SILVA DOS SANTOS ANÁLISE DA PERCEPÇÃO SOBRE A PRÁTICA DO ASSISTENTE SOCIAL NA SAÚDE A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO FORTALEZA-CE 2013 MARIA GLAUCIANE SILVA DOS SANTOS ANÁLISE DA PERCEPÇÃO SOBRE A PRÁTICA DO ASSISTENTE SOCIAL NA SAÚDE A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO Monografia apresentada ao curso de graduação em Serviço Social da Faculdade Cearense – FAC, como requisito parcial para aprovação. Orientadora: Ms. Elizângela Assunção Nunes FORTALEZA-CE 2013 MARIA GLAUCIANE SILVA DOS SANTOS ANÁLISE DA PERCEPÇÃO SOBRE A PRÁTICA DO ASSISTENTE SOCIAL NA SAÚDE A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO Monografia como pré-requisito para obtenção do título de Graduado em Serviço Social, outorgado pela Faculdade Cearense – FAC, tendo sido aprovada pela banca examinadora composta pelos professores. Data de aprovação: ___/___/___ BANCA EXAMINADORA Professora Ms. Elizângela Assunção Nunes Faculdade Cearense Professora Ms. Mayra Rachel da Silva Faculdade Cearense Professor Ms. Daniel Rogers de Souza Ferreira Faculdade Cearense A DEUS,e minha querida mãe, sem os quais eu jamais teria conseguido. AGRADECIMENTOS A Deus, pelo dom da vida, por todo amor que tem me dado, pela força e coragem para que eu pudesse chegar até aqui. Agradeço aos meus pais por todo amor, apoio e dedicação. Aos meus irmãos pelo apoio e companheirismo. À minha querida orientadora, professora Elizângela Assunção Nunes, pela acolhida carinhosa, pelo apoio, incentivo, paciência e dedicação, e por ser um exemplo como profissional. À minha querida orientadora de campo, assistente social Luciana Mara, um exemplo para a categoria, o qual em meu campo de estágio eu me espelhava, fonte de inspiração para construção desse trabalho, obrigada pelo carinho, apoio e cumplicidade, foi um privilégio tê-la como supervisora! Ao meu querido namorado Guilber Rodrigues, pelo amor, paciência, cumplicidade e companheirismo. Às minhas queridas companheiras de sala, Nayanna Kelly, Glaucia Giovanna, Nataly Maria, Michelle Adrienne, Jamile Castro, Lusiana Andrea, pelo amor, paciência e dedicação nesses quatros anos de curso. Aos meus queridos amigos, Daniele Soares, Angélica Braga, Haline Lima, Isalenny Gonçalves, Emilie Kluwen, Aritana Kelly, Michiles Marcelo, Marisa Albuquerque por fazerem essa jornada ser inesquecível, jamais esquecerei vocês. Aos professores da banca, Daniel Rogers e Mayra Rachel, por aceitarem esse convite. Aos meus pequenos grandes amores incondicionais. Enfim, agradeço a todos que fizeram parte do meu processo de formação do qual esse trabalho é resultado. Muito obrigada! “Nossos planos fracassaram porque não tinham objetivo. Quando um homem não sabe a que porto deseja chegar, nenhum vento é o vento certo.” (Sêneca) RESUMO Entende-se como estágio, a inserção do aluno no espaço sócio-intitucional, com o objetivo de capacitá-lo para o exercício profissional. A supervisão de estágio é parte do processo de formação do serviço social devendo ser compreendida em sua totalidade, tornando muito mais proveitoso o processo de ensino e aprendizagem. Os envolvidos nesse processo estão os supervisores acadêmicos, supervisores de campo e alunos(as), no qual tem uma relação direta e cada um interage com o seu saber. Os supervisores têm o papel de contribuir na formação profissional dos estagiários(as), socializando seus conhecimentos e suas experiências na prática, a supervisão é uma parte constitutiva na formação dos discentes. O trabalho apresentado tem como objetivos: a) investigar, a partir dos(as) estudantes que estagiaram na área da saúde a importância do assistente social no Sistema Único de Saúde, b) analisar a contribuição do estágio na formação profissional dos(as) estudantes, c) compreender como os(as) estagiários avaliam o trabalho do assistente social na viabilização de direito no Sistema Único de Saúde, d) observar como os estagiários(as) se reconhecem no processo de estágio e enquanto profissional em formação. O campo para a pesquisa foi à instituição de ensino Faculdade Cearense, com alunos(as) do Curso de Serviço Social, com execução de estágio na política de saúde. A pesquisa teve caráter bibliográfico, qualitativo, documental e de campo, tendo como instrumental roteiro semi-estruturado, utilizando-se de gravador e posterior transcrição. As categorias norteadoras da pesquisa foram: saúde, Serviço Social e formação profissional. Palavras Chave: Saúde - Serviço Social - Estágio Supervisionado - Formação Profissional. ABSTRACT It is understood as a stage, the inclusion of students in the socio-institutionally, in order to enable him to exercise professional. The probation supervision is part of the training of social service and should be understood in its entirety, making it much more useful to the process of teaching and learning. Involved in this process are the academic supervisors, field supervisors and students(as), which has a direct relationship and each interacts with their knowledge. Supervisors have a role in contributing to the training of interns(as), socializing their knowledge and experiences in practice, supervision is a constitutive part of the graduating students. The presented work aims to: a) investigate, from (the) students who matured in health the importance of the social worker in the Health System, b) analyze the contribution of internship in professional training (the) students , c) understand how (the) trainees evaluate the work of the social worker in enabling law in the Health System, d) to observe how the trainees(as) recognize the internship process and as trainees. The field for the research was to the university Faculty of Ceará, with students (the) Course of Social Work, with execution stage in health policy. A bibliographic research was qualitative, documentary and field, in semi-structured instrument, using the recorder and later transcribed. The categories guiding the research were: health, social work and vocational training. Keywords: Health - Social Service - Supervised - Vocational Training. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABESS – Associação Brasileira de Ensino em Serviço Social ABEPSS – Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social CEAS – Centro de Estudo e Ação Social CEDEPSS – Órgão Acadêmico que Articula a Pós-Graduação em Serviço Social CFESS – Conselho Federal de Serviço Social CLT – Consolidação das Leis do Trabalho CNSS – Conselho Nacional de Serviço Social CNS – Conselho Nacional de Saúde CRESS – Conselho Regional de Serviço Social CPMF – Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira FAC – Faculdade Cearense HSJ – Hospital São José IAPS – Instituto de Aposentadorias e Pensões INPS – Instituto Nacional de Previdência Social IJF – Instituto Dr. José Frota INAMPS – Instituto Nacional da Previdência Social LOS – Lei Orgânica da Saúde LBA – Legião Brasileira de Assistência MEC – Ministério da Educação e do Desporto NOB – Normas Operacionais Básicas OMS – Organização Mundial da Saúde PNE – Política Nacional do Estágio SESP – Fundação Serviço Especial de Saúde Pública SUS – Sistema Único de Saúde UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro SUMÁRIO INTRODUÇÃO...........................................................................................................11 1. SERVIÇO SOCIAL NA SAÚDE.............................................................................14 1.1. Breve histórico da política de saúde no Brasil...........................................26 1.2. Serviço Social, fundamentos sócio-históricos e a sua inserção na política de saúde no Brasil e a defesa dos direitos sociais..........................................................26 1.3. Saúde como espaço sócio-ocupacional e de aprendizagem....................37 2. O ESTÁGIO CURRICULAR E O PROCESSO DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM SERVIÇO SOCIAL..............................................................................................43 2.1. Formação Profissional em Serviço Social.....................................................43 2.2. O estágio na educação superior brasileira e no Serviço Social.........................52 2.3. O papel da supervisão de estágio em Serviço Social...................................56 3. ALIANDO A TRAJETÓRIA ENTRE TEORIA E PRÁTICA...................................60 3.1. Percurso Metodológico....................................................................................60 3.2. O estágio no curso de Serviço Social da Faculdade Cearense – aspectos históricos e as instituições de campo de estágio na área da saúde..........................62 3.3. O Estágio Supervisionado em Serviço Social na área da Saúde: socializando experiências.......................................................................................67 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................73 REFERÊNCIAS..........................................................................................................76 APÊNDICE.................................................................................................................82 11 INTRODUÇÃO Após realização de estágio curricular em uma instituição de saúde no município de Fortaleza, surgiu o desejo de analisar quais as percepções que os estudantes de Serviço Social têm sobre a prática do Assistente Social no Sistema Único de Saúde. O cotidiano do estágio viabilizou uma reflexão sobre o trabalho do assistente social na área, com isso pude analisar sua prática e pensar sobre sua necessidade histórica no contexto da saúde brasileira. Através do estágio como um processo de ensino e aprendizagem. Também pode ser analisado o quanto a prática é necessária para a compreensão do aluno em processo de formação, promovendo, através do processo de estágio, a unidade entre teoria e prática – que não podem ser tratadas dicotomicamente. A supervisão de estágio é necessária à formação do aluno(a) de Serviço Social, isso lhe propicia um processo de aprendizagem, de reflexão sobre a ação profissional, uma visão crítica da dinâmica das relações existentes no campo institucional. O Serviço Social na área da saúde está inserido no trabalho multiprofissional e interdisciplinar, estando articulado com outras categorias profissionais, com ênfase nas abordagens grupais, acesso democrático as informações e estimulo a participação popular, atuando em uma busca incessante por uma saúde pública de qualidade em favor de um projeto societário, sem exploração e discriminação de classes, etnia e gênero. O assistente social atua na ampliação e consolidação da cidadania, com vistas à garantia dos direitos civis, sociais e políticos das classes trabalhadoras. Analisando o contexto em que o assistente social desenvolve o seu trabalho e que o mesmo é um profissional qualificado a atuar nesta área. O profissional está ali para identificar as tensões e conflitos do sistema, para garantir os direitos dos pacientes/ usuários nesse sistema capitalista vigente e viabilizar o acesso dos mesmos a estes. O escopo de trabalho do assistente social na saúde pública é determinante, não tratando o paciente apenas em um âmbito curativo, mas sim no âmbito de impedir que o usuário não venha sair da instituição (hospital) sem os seus 12 direitos garantidos, mas promovendo a integralidade, universalidade, equidade que é um direito social de cada cidadão. Assim, o assistente social, em sua prática profissional, propicia o acesso dos usuários as informações e ações educativas para que a saúde possa ser percebida como produto das condições gerais de vida. O assistente social da saúde procura agir nas contradições do SUS, atuando como agente de interação do SUS com as demais políticas sociais, e nas múltiplas expressões da questão social, tendo que ser propositivo para poder intervir na realidade posta: A inserção do Serviço Social tem se tornado necessária na promoção, proteção e recuperação da saúde em diferentes níveis do SUS derivada da adoção do conceito ampliado de saúde, que compreende o processo saúdedoença como decorrente das condições de vida e de trabalho (Cavalcanti, 2009 p. 75). Analisando, a prática enquanto estagiária na área da saúde e assistente social em processo de formaçã, pude analisar as atribuições dos assistentes sociais na área e perceber que há uma enorme distância entre a proposta do movimento sanitário e a prática do sistema de saúde vigente. Assim, pretendo contribuir sobre as discussões desta temática, gerando reflexões sobre esta realidade posta em que se encontram os profissionais e estagiários da área da saúde. O objeto de estudo do trabalho é a análise sobre a percepção da prática do assistente social a partir da experiência de estágio, tendo os seguintes objetivos: a) investigar, a partir dos(as) estudantes que estagiaram na área da saúde a importância do(da) assistente social no Sistema Único de Saúde, b) analisar a contribuição do estágio na formação profissional dos(as) estudantes, c) compreender como os(as) estagiários avaliam o trabalho do(da) assistente social na viabilização de direito no Sistema Único de Saúde, d) observar como os(as) estagiários se reconhecem no processo de estágio enquanto profissional em formação. Com esse intuito, dividimos o presente trabalho em três capítulos. O primeiro capítulo aborda o surgimento da política de saúde no Brasil, bem como surgimento do Serviço Social, grupos pioneiros e entidades e a saúde como um espaço sócio-ocupacional e de aprendizagem. O segundo capítulo discute sobre o estágio curricular e o processo de formação profissional e o terceiro capítulo trata da 13 análise do material coletado com os estagiários(as) da política de saúde, demonstrando sua visão sobre o tema. O objeto do estudo foi realizado através de: levantamento bibliográfico sobre saúde pública no Brasil, Serviço Social, Supervisão e Estágio Supervisionado; entrevistas realizadas com dez estagiários(as) da política de saúde, foi uma escolha aleatória, por meio de gravação, explanação livre dos(as) estagiários da política de saúde, sobre a contribuição do estágio em seu processo de formação e o papel dos supervisores de campo. A análise do material coletado foi realizada buscando compreender o processo de formação do estágio supervisionado na vida dos discentes, sua importância para a formação profissional e, através das entrevistas, a visão dos alunos(as) estagiários(as) sobre a política de saúde. Diante o exposto, ressaltou-se a importância de desenvolver a presente pesquisa para os estudantes, profissional e para o processo de formação, gerando reflexões sobre esta realidade em que se encontram os assistentes sociais e estagiários na área da saúde. 14 1. SERVIÇO SOCIAL NA SAÚDE Neste capítulo será realizado um estudo acerca da saúde pública no Brasil, destacando seus principais aspectos, situando-a no contexto histórico, e concomitantemente suas conquistas, o surgimento do Sistema Único de Saúde – SUS, bem como, um apanhando histórico do Serviço Social, situando-o no contexto histórico, suas conquistas e avanços na saúde como um espaço sócio-ocupacional e de aprendizagem. 1.1. Breve histórico da política de saúde no Brasil Fazendo uma análise do que Edler (2010) afirma, durante o período histórico que compreende o Brasil colônia e império, médicos cirurgiões e boticários diplomados estavam inseridos em uma complexa comunidade terapêutica formando uma elite de profissionais que fiscalizavam regularmente os trabalhos dos terapeutas populares da época. Destacamos que neste período a política de saúde era precária digamos que até mesmo inexistente, ficando a população refém de rusticas porções, unguentos e rezas, onde as modernas práticas medicinais dividiam espaço com velhos métodos caseiros1: No mundo da colônia, entretanto, a imposição da rígida hierarquia entre físicos, cirurgiões e boticários mostrava-se inócua. Quando aplicada, recebia queixas dos representantes da Coroa, em nome de realidade colonial. O exercício da medicina no Brasil, até a criação da Junta do Protomedicato, em 1782, no reinado de d. Maria I (1734-1816), era facultado somente a físicos e cirurgiões portadores de um atestado de habilitação, e licenciados pelos comissários das autoridades médicas do Reino: o cirurgião-mor e o físico-mor. Estes representantes diretos do poder real residiam, inicialmente, nas povoações maiores, mas, a partir do séc. XVIII, os regimentos sanitários passam a ser mais observados, com a presença de comissários em um número maior de cidades e vilas (Edler, 2010, p.43). Seguindo Paim (2009, p. 25), quando o Brasil era uma colônia de Portugal, os métodos sanitários eram semelhantes ao da metrópole. As tropas militares possuíam seus serviços de saúde subordinados ao cirurgião-mor do Exército da Coroa Portuguesa. Em relação aos trabalhos do físico-mor, ocupava-se diretamente ou por meio de seus delegados nas capitanias, de questões como 1 Para maior aprofundamento, ver obra de Fidélis e Falleiros (2010). 15 saneamento e profilaxia de doenças epidêmicas e cuidava também de questões referentes às obrigações de médicos, farmacêuticos, cirurgiões, boticários, curandeiros. Todavia, com a chegada da família real surgiu à necessidade de se criar escolas de medicina no país. Em 1808 foram criadas as primeiras escolas de medicina dando início ao ensino da medicina no Brasil. Todavia, essas foram às únicas formas de assistência no âmbito saúde até o Brasil república. Vislumbrando uma ciência moderna e de acordo com Edler (2010), em fins do século XIX a estrutura da saúde pública no Brasil estava repleta de problemas evidenciando um lugar extremamente insalubre, apresentando riscos constantes, em razão da vulnerabilidade das condições sanitárias dos centros urbanos, bem como pela constante presença de epidemias e seus surtos que atingiam a população frequentemente. O país passando por um processo de urbanização e o crescimento exacerbado da população, aliados a falta de estrutura básica e de conhecimentos adequados, agravavam os problemas resultantes das reduzidas condições de higiene observadas nas cidades da velha colônia de Portugal: É nesse contexto, de necessidade de reestruturação da máquina estatal no que diz respeito à área da saúde pública, que a medicina começa a ganhar forte poder de intervenção na sociedade, diferenciando-se, cada vez mais, do vasto grupo de pessoas (curandeiros, parteiras, benzedeiras, rezadeiras, pajés, entre outros) que se dedicavam ao ofício da cura e dos cuidados aos enfermos (Edler 2010, p. 49). Com o esteio de Edler (2010), podemos afirmar que no Brasil, as ações para melhorar a saúde pública foram ampliadas no início do século XX, em virtude dos obstáculos causados à economia o Estado implementa metas de combate às mazelas que obstaculizavam o desenvolvimento do setor agroexportador. De acordo com essa lógica, o foco de atenção inicial do Estado foi o ataque às doenças transmissíveis, sobretudo aquelas de manifestações epidêmica, capazes de ceifar um grande número de vidas e comprometer a ordem econômica. Ressaltando o que Paim afirma: Durante a passagem do século XIX para o XX, início da industrialização do Brasil, a saúde despontava como questão social, ou seja, como um problema que não se restringia ao individuo, exigindo respostas da sociedade e do poder público (2009, p. 27). 16 Nesse período, o que existia era um não sistema de saúde, esse não sistema foi se formando ao longo de século XX, tendo como marco principal a saúde pública e o atendimento médico individualizado, propiciado pela medicina previdenciária. Dialogando com Ponte et al (2010, p. 115), “fatos estes marcaram a história do país, como a revolta da vacina2, gripe espanhola3, onde muitas vidas foram dizimadas, segundo esta concepção”, determinadas doenças representavam uma ameaça constante fazendo com que a coletividade se unisse com a finalidade de combater um mal comum a todos, estabelecendo um elo social interdependente de modo a contribuir juntamente com outros fatores para consolidação de elementos essenciais para a formação do Estado. De acordo com Ponte (2010), com a promulgação da Lei Eloy Chaves4, a partir de 1923, vê-se a criação das Caixas de Aposentadorias e Pensões5, onde eram vinculadas a grandes empresas, em troca de contribuições mensais forneciam serviços de assistência médica e seguridade social aos trabalhadores e seus dependentes, no governo de Getúlio Vargas as Caixas foram transformadas nos 2 “A Revolta da Vacina foi uma revolta popular ocorrida na cidade do Rio de Janeiro entre os dias 10 e 16 de novembro de 1904. Ocorreram vários conflitos urbanos violentos entre populares e forças do governo (policiais e militares). A principal causa foi à campanha de vacinação obrigatória contra a varíola, realizada pelo governo brasileiro e comandada pelo médico sanitarista Dr. Oswaldo Cruz. A grande maioria da população, formada por pessoas pobres e desinformada, não conheciam o funcionamento de uma vacina e seus efeitos positivos. Logo, não queriam tomar a vacina”. Disponível em: http://www.historiadobrasil.net/resumos/revolta_da_vacina.htm. Acesso em 29 de julho de 2013 às 00:40. 3 “A gripe espanhola foi uma pandemia mundial, que matou muitos milhões de pessoas nos anos de 1917 à 1919 em plena guerra mundial. Tratava-se de um vírus do tipo influenza mutado para o qual os seres humanos não tinham imunidade. Esta variação do vírus, fazia com que os pulmões se enchessem de fluido matando as pessoas por "afogamento". Disponível em: http://www.tuasaude.com/gripe-espanhola/. Acesso em 29 de julho de 2013 às 00:45. 4 “A Lei Eloy Chaves, publicada em 24 de janeiro de 1923, consolidou a base do sistema previdenciário brasileiro, com a criação da Caixa de Aposentadorias e Pensões para os empregados das empresas ferroviárias. Após a promulgação desta lei, outras empresas foram beneficiadas e seus empregados também passaram a ser segurado da Previdência Social”. Disponível em: http://www.previdencia.gov.br/vejaNoticia.php?id=36881. Acesso em 17 de junho de 2013 às 14:40. 5 A previdência social no Brasil deu seus primeiros passos com a Lei Eloy Chaves, “de 1923, que criou as Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAPs), que eram geralmente organizados por empresas e empregados. As CAPs operavam em regime de capitalização, porém eram estruturalmente frágeis por possuírem um número pequeno de contribuintes e seguirem hipóteses demográficas de parâmetros duvidosos; outro fator de fragilidade era o elevado número de fraudes na concessão de benefícios”. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Instituto_Nacional_de_Previd%C3%AAncia_Social. Acesso em 29 de julho de 2013 às 00:52. 17 Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPS)6, que eram mantidos pelos trabalhadores, ampliando seu raio de ação. No século XX, grandes transformações chegam ao Brasil, industrialização, transformações no governo, e o modo de produção capitalista vêm através disso tudo, ocupando um espaço cada vez mais prioritário, fatos que marcaram o país como o Tenentismo e a gripe espanhola que dizimou milhares de vidas e muitas dessas vidas eram os intelectuais da época, com a crise de 1929 e a chegada de Getúlio Vargas ao poder deu-se uma nova era, a era Vargas. A saúde surgia como questão social, à aceleração do processo de urbanização, desenvolvimento industrial, a questão saúde ganha novos contornos, as questões sanitárias afetavam diretamente a mão-de-obra. Segundo Bravo (2012), a política de saúde brasileira encontrou um verdadeiro avanço nos anos 30 sendo estabelecida de maneira ampla a formulação do referido setor bem como demais campos sociais de forma a ser dividida em dois subsetores: o de saúde pública e o de medicina previdenciária. Getúlio estruturou a saúde pública no país, com a assembleia constituinte de 1934. Meio a esse contexto foi criada a previdência, embora só tivesse direito quem era trabalhador contribuinte, com carteira assinada. Getúlio Vargas cria os Institutos de Aposentadoria e Pensões- IAPs que eram mantidos pelos trabalhadores e organizados por categorias profissionais. Mesmo com os IAPs, o Estado passava também a controlar a concessão de benefícios no âmbito da seguridade social. Assim, constituía-se para população como uma saúde pública fragmentada no qual através dos meios de comunicação financiados por laboratórios privados anunciavam apenas o que era conveniente, até a censura da ditadura. O sistema de previdência instituído no país a partir dos anos 30. Implantado ainda na República Velha, o sistema teve inegavelmente um novo impulso durante o primeiro governo Vargas, quando se observa um processo de rompimento com o padrão básico de organização das antigas Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAPs), e são criados os Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAPs) a partir de categorias profissionais de âmbito nacional (Ponte et al 2010, p.121). 6 “Em 1930 Getúlio Vargas, suspendeu as aposentadorias das CAPs-Caixas de Aposentadorias e Pensões durante seis meses e promoveu uma reestruturação que acabou por substituí-las por Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs), que eram autarquias de nível nacional centralizadas no governo federal, desta forma a filiação passava a se dar por categorias profissionais, diferente do modelo das CAPs que se organizavam por empresas”. Disponível em: http://politicadahabitacao.blogspot.com.br/2008/11/instituto-de-aposentadorias-e-penses.html. Acesso em 29 de julho de 2013 às 00:57. 18 Mesmo com os IAPs, o sistema público de saúde era precarizado assumindo um caráter fragmentário e corporativo da previdência social, ao vincular a prestação de serviços médicos à contribuição trabalhista regulamentadora. O não funcionamento dos IAPs em tempos de crise gerou a criação de outros programas de saúde, o INPS - Instituto Nacional de Previdência Social, Serviço Especializado de Saúde Pública–SESP, Instituto Nacional da Previdência Social - INAMPS, até o incentivo do governo a privatização. Boa parte da população era excluída dos IAPS por não contribuir com a previdência social, ficando a mercê das Santas Casas de Misericórdia. O governo Vargas foi um modelo de desenvolvimento calcado na substituição de importações, em empreendimento público e setores estratégicos da economia e no intervencionismo do estado como forma de controle societário e uma busca pela modernização do país. Após o fim da Ditatura Vargas, período pós-guerra e Estado de bem-estar social7 e desenvolvimento, abre-se um leque de amplas discussões, com rearticulação de um novo processo político. Isso trouxe a possiblidades de se pensar em uma nova organização do Estado, defendidos sobre aqueles que detinham o poder da máquina estatal com a finalidade de aumentar o poder de regulação sobre a sociedade. Em meio a esse contexto político e de transições do Estado é criado, em julho de 1953, o Ministério da Saúde, que se deu em intensos debates de amplas discussões. A criação do Ministério da Saúde tinha como objetivo, organizar, elaborar planos e políticas públicas voltadas para a promoção, prevenção e assistência à saúde. Enfim dar mais qualidade de vida a população brasileira. Porém, mesmo com a criação do Ministério da Saúde, a saúde era tratada como uma mercadoria, um direito de poucos. Nesse período a saúde gerava lucros exorbitantes observando o crescimento das instituições hospitalares onde até as instituições filantrópicas assumiam um caráter empresarial e lucrativo, servindo de fachada para empreendimentos bastante distintos daqueles que diziam respeito à caridade: 7 Estado de bem-estar social: Modo de organização no qual o Estado se encarrega da promoção social e da economia. Disponível em: http://www.infoescola.com/sociedade/estado-de-bem-estarsocial/. Acesso em: dez de julho de 2013 às 20:55. 19 Apoiado em uma estrutura do nível de empregos e salários e altamente vulnerável às fraudes e os efeitos da má administração, o sistema previdenciário constituído a partir da Reforma da Previdência em 1967, da qual resultou a criação do Instituto Nacional de Previdência Social e mais tarde do Ministério da Previdência e Assistência Social, cedo começa a dar sinais de esgotamento de suas possibilidades como órgão de atenção à saúde (Alves et al 2010, p. 190). A assistência médica era destinada aos trabalhadores contribuintes com a previdência, todos aqueles que estavam submetidos à Consolidação das Leis do Trabalho – CLT ficando de fora os indigentes e as pessoas sem carteira assinada, que buscavam atendimento em instituições filantrópicas ou em unidades administradas pelo Ministério da Saúde. Ressaltando, a população ficou desacreditada em universalizar a saúde, pois quase metade da população não contribuía com a previdência. O Estado Brasileiro durante o período da ditadura militar observou a medicina previdenciária e os privilégios do capital serem impulsionados. Uma característica marcante revelou-se pelo empenho nas práticas médico curativas, individuais, assistencialistas e “especializadas impulsionadas pelo interesse do capital internacional em articulação com o Estado prevendo possibilidades econômicas nas indústrias farmacêuticas e de equipamentos hospitalares” Bravo (2007, p. 07). Seguindo ainda os pensamentos de Bravo (2012, p. 27), “a política de saúde no período de 1964 a 1974 desenvolve-se com base no privilegiamento do setor privado, articulada às tendências da política econômica implantada”. Suas principais características foram: a extensão da cobertura previdenciária, a ênfase na prática médica curativa orientada para burocratização do setor, a criação do complexo médico-industrial e a diferenciação de atendimento à clientela. Conforme Ponte e Nascimento (2010), o atual sistema de saúde da década de 70 e 80 é incompetente, distorcido e perverso, no sentido de que ele é um devorador de recursos públicos e simultaneamente a isso não consegue resolver os problemas mais simples da saúde. Para Falleiros, Ponte e Nascimento (2010), a luta pelo fim da ditadura militar levou a área da saúde a organizar os simpósios de Política Nacional de Saúde da Câmara dos Deputados, tendo o primeiro deles ocorrido em 1979. “Esse foi um período de “crise’’ no âmbito saúde, não apenas uma crise financeira, 20 também uma crise ideológica que colocou em confronto privatista e publicistas” (Ponte, 2010, p. 239). Ainda de acordo com Ponte e Nascimento (2010), com a extinção do Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social do Ministério da Previdência e Assistência Social, começam a ser implementadas as ações integradas de saúde, cujas principais diretrizes eram a universalização, a acessibilidade, a descentralização, a integralidade e a participação comunitária. Segundo Bravo em 1986, aconteceu a 8ª Conferência Nacional de Saúde, que é o marco histórico mais importante na trajetória da política pública de saúde neste país: Reuniu cerca de 4.500 pessoas, sendo mil delegados, para discutir os rumos da saúde no país. O temário teve como eixos: “Saúde como direito de cidadania”, “Reformulação do Sistema Nacional de Saúde” e “Financiamento Setorial”. Foi aprovada nesta Conferência a bandeira da Reforma Sanitária, bandeira esta configurada em proposta, legitimada pelos segmentos sociais representativos presentes ao evento. O relatório desta Conferência, transformado em recomendações, serviu de base para a negociação dos defensores da Reforma Sanitária na reformulação da Constituição Federal (Bravo, 2012, p. 33). A 8ª Conferência de Saúde contou com a participação de milhares de representantes de diversas entidades como, profissionais de saúde, usuários do sistema, prestadores de serviços de saúde pública. A 8ª Conferência foi o instante mais significativo na luta pela democratização da saúde foi o principal marco desse modelo de saúde pública e universal, pois visava romper com essa intensa privatização que caracterizava o modelo de saúde brasileiro. Conforme afirma Reis (2010), a 8ª Conferência Nacional de Saúde, que ocorreu em 1986 foi o principal marco desse processo de formulação de um novo modelo da saúde pública universal, visando romper com a cisão estrutural entre saúde pública e medicina curativa individual, e com a intensa privatização que então caracterizada o sistema de saúde brasileiro. Dialogando com Falleiros et al (2010, p.239), “a 8ª Conferência Nacional de Saúde foi o instante mais significativo e democrático de debate sobre a questão social que jamais aconteceu neste país”. Cujas principais bandeiras foram: 1) a melhoria das condições de saúde da população; 2) o reconhecimento da saúde como direito social universal; 3) a responsabilidade estatal na provisão das condições de acesso a esse direito; 4) a reorientação do modelo de atenção, sob a égide dos princípios da integralidade da atenção 21 e da equidade; 5) a reorganização sistema com a descentralização da responsabilidade pela provisão de ações e serviços. (FINKELMAN, 2002, p. 246). Vale ressaltar que a população lutava pelo direito mínimo a saúde, sendo ela pública e de qualidade e que todos sem distinção tivessem acesso. É evidente que esta conquista não foi fácil. Em contrapartida a todos esses acontecimentos, a luta pela Saúde pública foi longa com muitos entraves. Contudo, com a promulgação da Constituição Federal de 1988 a política de Saúde apresentou-se “como direito de todos e dever do Estado, garantido um sistema universal de saúde, gratuito e de qualidade para todos os brasileiros, bem como a ordenação de formação dos trabalhadores para esse sistema” (FALLEIROS, 2010, p. 246). O Sistema Único de Saúde - SUS é resultado de uma luta histórica, resultado das propostas da reforma sanitária, que trazia em seu bojo falhas do sistema vigente de 1975. O SUS é uma criação da atual Constituição Federal Brasileira que embora garanta a saúde como um direito social, na prática o sistema público de saúde universal e integral está em processo de construção. Como afirma Reis (2012): Sem esgotar o debate, que o “subfinanciamento não permite a expansão da oferta do SUS ponto de evitar o racionamento dos serviços, razão pela qual a demanda extra-SUS se sustenta. A universalização não se concluiu, já que ainda não consegue atender a todos qualitativamente” (p. 21). Mesmo com essas contradições o SUS é um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo, presta assistência à saúde para milhões de pessoas, a qual vai desde a atenção básica como também transplantes, tratamentos contra o câncer, hemodiálise, cirurgia cardíaca, até atendimento de alta complexidade tecnológica, como também serviços de emergência, distribuição de medicamentos essenciais, antirretrovirais, bancos de sangue, atenção básica, atendendo mais de 140 milhões de brasileiros. Todavia, permanecem problemas como surtos de dengue, febre amarela, listas de esperas desorganizadas para exames e cirurgias, emergências lotadas e pacientes a espera por um atendimento, os hospitais estão lotados, falta leitos, médicos, remédios, sem mencionar os problemas sociais que afetam diretamente o 22 sistema, tais como pobreza, injustiça, violência, acidentes de trânsito, baixo nível de educação e cultura, condições sanitárias precárias (Marinho 2004; Cerqueira et al, 2007; Mesa-Lago, 2007; Ugá & Santos, 2007). Destarte, existem os princípios e as diretrizes que constituem a base para o funcionamento do Sistema Único de Saúde, sendo que o alicerce que sustenta essa base é formado pro três documentos, a Constituição Federal de 1988, em que saúde é garantida no tripé da Seguridade Social ao lado da Previdência Social e da Assistência Social e é garantida como um direito de todos e dever do Estado. Em 1990 foi criada a Lei n. 8.080, (Lei Orgânica da Saúde – LOS), que regula as ações e serviços da saúde em todo o território nacional e a Lei n. 8.142, que estabelece a participação popular e dispõe sobre as transferências de recursos na área da saúde bem como sobre promoção, proteção e a recuperação da saúde da população, entendendo a saúde como uma dimensão essencial da qualidade de vida (Falleiros et al, 2010). Porém, se faz necessário entender quais são os princípios e as diretrizes do Sistema Único de Saúde. Os princípios do Sistema Único de Saúde servem de base para esse sistema de saúde brasileiro, ele representa os valores, preceitos e as suas lutas. O atual sistema de saúde é uma conquista histórica no qual a partir da Constituição Federal de 1988 e suas respectivas Leis orgânicas que da saúde se tornou um direito de todo cidadão. Suas diretrizes são as normas para se atingir os objetivos do Sistema Único de Saúde, devendo estar de acordo com os seus princípios8 (Matta et al. 2010). Da Matta et al (2010), ressalta que os princípios do Sistema Único de Saúde devem existir para todos e não apenas para aqueles que trabalham formalmente ou que contribuem diretamente para algum tipo de seguro saúde, isso é o que conta no princípio da universalidade. Nas diretrizes do sistema ele ressalta que são os meios, a norma para se atingir os objetivos desse sistema, devendo estar articulado com seus princípios. Todavia, com a descentralização o Sistema 8 Princípios que norteiam o Sistema Único de Saúde-SUS: Universalidade: É através do princípio da Universalidade que a saúde é garantida como direito de todos e dever do Estado. Equidade: Significa tratar desigualmente o desigual, atentando para as necessidades coletivas e individuais, procurando investir onde há iniquidade é maior. Integralidade: O usuário do sistema tem direito a serviços que atenda as suas necessidades, desde a vacina até o tratamento contra o câncer, transplante etc. Sendo prioritário o desenvolvimento de ações preventivas. Por isso, a denominação Sistema Único de Saúde, não existem dois sistema, um para prevenção e outro para ações curativas (Matta et al, 2010). 23 Único de Saúde tem que ser organizado com uma direção única em cada esfera do governo sendo a descentralização os caminhos para se atingir seus objetivos. No mesmo ano em que o SUS foi regulamentado pela Lei (n. 8.080/90), fruto de muitas lutas pela democratização da saúde, foi instituída a Lei n. 8.142/90, que dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) e regulamenta a realização de conferência de saúde. Lei esta que instituiu os conselhos e as conferências como instâncias de participação no SUS nas três esferas do governo, estadual, municipal e federal. De acordo com da Matta et al (2010, p.254): A principal característica do conselho é seu caráter deliberativo sobre a formulação das estratégias de atenção à saúde no país. Os conselhos são formados por representantes de usuários do SUS (50%), trabalhadores da saúde (25%), e prestadores e gestores (25%). As conferências de saúde devem se reunir em cada nível de governo a cada quatro anos com a representação dos diversos segmentos sociais, convocados pelo poder executivo ou extraordinariamente pela própria conferência ou pelos conselhos. O Sistema Único de Saúde-SUS foi uma conquista de toda a sociedade e é essencial para esta sociedade manter as conquistas anteriores e avançar na luta pela melhoria do sistema de saúde, a participação da comunidade no SUS é necessária e não está somente ligada à diretriz da universalidade, ela estão ligadas as lutas históricas pela democratização da saúde. Nesse sentido, a cada quatro anos são garantidos que a população tenha a oportunidade para avaliar a saúde e propor diretrizes local, estadual e nacional, mediante a realização das conferências de saúde no qual se esperam a definição de estratégias para as políticas de saúde, bem como no acompanhamento de sua execução mediante participação nos conselhos de saúde. O conselho é o espaço do exercício de cidadania, a saúde é um direito social de todo cidadão, não podendo ser tratado como uma mercadoria, sua luta se faz todo dia, sendo assim, não é fácil construir um sistema justo e igualitário, sem a participação de todos. Os conselheiros devem fazer valer o seu direito ao acesso aos serviços de saúde com qualidade e humanismo. É necessário um projeto societário que recupere as desigualdades sociais, e pensar em estratégias para o fortalecimento do Sistema Único de Saúde. 24 É evidente o avanço da saúde pública no país desde a Carta Magna de 1988, que garante o acesso universal a saúde através da criação de um Sistema Único de Saúde. Todavia, mesmo com a Constituição os objetivos do SUS ainda não são alcançados, em razão de sobrecargas causadas pela falta de adequação de políticas públicas. O SUS necessita de financiamento permanente,9 munido de constância e equilíbrio suficiente para garantir o cumprimento dos objetivos constitucionalmente. Destarte, a Constituição Federal de 1988 tratou do financiamento das ações e serviços de saúde, sendo complementadas pela lei 8.080/90 e 8.142/90 (Gadia 2011, Júnior 2011, Ângelo et al 2011). Na década de 90, no governo de Fernando Collor de Melo, foi introduzida no Brasil uma política neoliberal privatizante “com um discurso de reduzir as ações do Estado ao mínimo” (Vargas, 2008, p. 23). Com o intuito de redução dos gastos públicos, “pela privatização de empresas estatais”, na realidade essa redução de gastos atingiu todos os setores do governo inclusive a saúde. Quando Fernando Henrique Cardoso chega ao governo, esse modelo neoliberal fica mais intensificado, “atrelado à ideologia da globalização e da redução do tamanho do Estado” (Vargas, 2008, p. 23). Em 1994, a saúde foi desvinculada da previdência social, o então ministro Antônio Brito, afirmou não haver “recursos para repassar para a saúde” (Vargas, 2010, p. 23), os recursos arrecadados das folhas de pagamentos dos trabalhadores seriam destinados a Previdência Social. Apesar das Leis Federais que obrigava esse repasse de verba da Previdência para o setor Saúde, o mesmo não foi feito, agravando ainda mais a crise financeira nesse setor. Em 1996, o ministro Antônio José, “reconheceu a incapacidade do governo em remunerar adequadamente os prestadores de serviços médicos” (Vargas, 2011, p. 23). Na busca por significativas mudanças no setor saúde o então ministro da saúde Adib Jatene, buscou por mudanças, alternativas de recursos para financiar a saúde, propondo a criação da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) que entrou em ação em 1997. Ainda no mesmo ano, e antes da CPMF entrar em vigor, o ministro da saúde sentiu que seus esforços foram em vão, desde a criação da CPMF, foram 9 Dados disponíveis em: http://jus.com.br/revista/texto/22446/evolucao-da-saude-no-brasil/2. Acesso em: 02 de abril de 2013 às 08h. 25 frequentes as denúncias de desvio de verba, e pela não transferência de recursos, culminou no seu pedido de demissão. Ainda em 1996, o governo de FHC editou a NOB-SUS 01/96, as NOBS (Normas Operacionais Básicas) essas normas foram criadas em 1991, como uma forma de operacionalizar o SUS, no que tange aos avanços na gestão do SUS, a NOB-SUS foi um importante processo, principalmente no que se refere à consolidação municipal, propondo ao município que se enquadrasse em dois novos modelos: Gestão Plena de Atenção Básica e Gestão Plena do Sistema Municipal. Foi a partir de 1998, que a NOB passou a vigorar efetivamente. Em 1992, chega ao poder Luis Inácio Lula da Silva, militante dos movimentos sociais, criou uma expectativa na população brasileira, o que aconteceu “manutenção dos pilares do modelo capitalista” (Vargas, 2010, p. 25) neoliberal, a continuação da política de FHC voltados para a economia. Em 2008, a CPMF é extinta, seus recursos eram utilizados para outros fins e não da saúde. Ainda no governo Lula, houve significativos avanços na política de saúde, não são incomuns os retrocessos que a mesma vem sofrendo, calamidades que pareciam distantes de nossa realidade, reaparecem com força. No atual governo de Dilma Rousseff, muita ainda precisa ser feito, mas existem dois programas em andamento na política de saúde. Programa “Melhor em Casa” criado em 2011, com o objetivo de ampliar o atendimento domiciliar aos usuários do Sistema Único de Saúde, buscando tornar humanizado e acolhedor, e o programa “Saúde em Toda Hora”, com o objetivo de qualificar e ampliar o acesso aos usuários em situações de urgência, com o intuito de reduzir o tempo de espera, buscando garantir um atendimento ágil, humanizado e acolhedor10. O SUS está com 25 anos de existência, apesar de que houve significativos avanços na política de saúde, o SUS “real está muito longe do SUS constitucional” (Mota et al, 2009, p. 106). Diante o exposto no próximo tópico será feito um percurso histórico do Serviço Social no Brasil e sua inserção na política de saúde. 10 Disponível em: http://delubio.com.br/blog/2012/02/saude-prioridade-do-governo-dilma-%C2%A0/. Acesso em: Dez de Julho de 2013 às 19:01. 26 1.2. Serviço Social, fundamentos sócio-históricos e a sua inserção na política de saúde no Brasil. A década de 1920 foi permeada de mudanças socioeconômicas no país, período pós-primeira guerra, onde a classe média urbana tornou-se mais visível. Porém, com a quebra da bolsa de valores de Nova Iorque, em 1929, a economia do país passou por uma forte crise econômica11. A crise apanhou a cafeicultura em uma situação complicada, a economia do país era baseada na monocultura o qual representava 70% do Produto Interno Bruto- PIB, o país mais exportava do que importava. Com a crise, os preços internacionais caíram bruscamente, ocorrendo retração do consumo, tornado impossível compensar a queda de preços com a ampliação do volume de vendas. Assim, a economia do país foi fortemente afetada ocorrendo um crescente número de desempregados e um êxodo rural em massa, fato este que marcou a década de 1920 em nosso país. Na década de 1930 houve um intenso movimento que ficou conhecido popularmente como movimento de outubro de 1930, assim com um golpe de governo, Getúlio Vargas entra para a história. O Estado getulista promoveu o capitalismo nacional, tendo como base o aparelho do Estado, as Forças Armadas. Na sociedade, uma aliança entre a burguesia industrial e setores da classe trabalhadora marcou seu governo por uma produção agrícola sem mercado, ruína de fazendeiros e a presença exorbitante de desempregados nas grandes cidades. Todavia, foi na década de 1930 que houve um processo de industrialização forçado, consequência da crise de 1929, onde a indústria brasileira começou a criar uma classe operária, que lutava por direitos trabalhistas e uma classe que emergia da industrialização ainda incipiente, que era contra a política econômica do país voltada quase integralmente para a agricultura. Nesse período foram criados o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. Seguindo as leis de proteção ao trabalhador percebe-se entre estas a regulação nos trabalhos das mulheres e menores e o trabalho noturno, concessão de férias, com o limite de oito horas da jornada normal de trabalho, ampliação do direito à aposentadoria a todos os trabalhadores urbanos. 11 Para maior aprofundamento, ver obra de Boris Fausto (2006). 27 A gênese do Serviço Social se deu em uma sociedade industrializada, o qual está associado à intervenção do Estado nos processos reguladores da vida social. No Brasil, sua origem está na emergente sociedade urbanoindustrial dos anos de 1930, marcado por conflitos de classes, pelas lutas sociais, pelo crescimento exacerbado da classe operária urbana os quais a classe trabalhadora lutava, contra a exploração do trabalho e pela defesa dos direitos sociais e cidadania (Yazbek et al, 2008, p. 07). Contundo o Serviço Social surgiu como uma profissão alienada e alienante, pois atuava tanto do lado da classe operária, como também da burguesia, porém a profissão servia aos propósitos da burguesia. De forma indireta ela deveria amenizar os conflitos crescentes da classe operaria. Iamamoto (1998) ressalta que o Serviço Social surgiu como uma das estratégias concretas de disciplinamento, controle e reprodução da força de trabalho. E seu papel era conter e controlar as lutas sociais. Netto (2001, p. 79), corrobora com tal pensamento, quando afirma: Emergindo como profissão a partir do background acumulado na organização da filantropia própria à sociedade burguesa, o Serviço Social desborda o acervo das suas protoformas ao se desenvolver como um produto típico da divisão social (e técnica) do trabalho da ordem monopólica. Originalmente parametrado e dinamizado pelo pensamento conservador, adequou-se ao tratamento dos problemas sociais quer tomados nas suas refrações individualizadas (donde a funcionalidade da psicologização das relações sociais), quer tomados como sequelas inevitáveis do ‘progresso’ (donde a funcionalidade da perspectiva ‘pública’ da intervenção - e desenvolveu-se se legitimando precisamente como interveniente prático-empírico e organizador simbólico no âmbito das políticas sociais). Todavia, a profissão manteve um viés conservador, de controle da classe trabalhadora, recebendo forte influência dos dogmas da doutrina social da igreja católica12. A formação dos primeiros profissionais de Serviço Social no Brasil se dá em 1932, com a criação do Centro de Estudo e Ação Social - CEAS, entidade fundadora e mantenedora da primeira escola de Serviço Social no país. Como afirma Yazbek et al (2008, p.08): O Centro surge após um curso intensivo de formação social (Initiation à 1’ action sociale) para moças, organizado pelas cônegas de Santo Agostinho de 1 de abril a 15 de maio de 1932. A direção desse curso coube à Melle. Adèle de Loneux, professora da Escola Católica de Serviço Social da Bélgica. O curso foi realizado a partir de uma programação teórico-prática, que incluía noções de filosofia moral, religião, direito constitucional e 12 Para essa discussão tomei como referência Iamamoto (2011). 28 administrativo, higiene social e outros elementos de cultura geral, além de visitas a instituições beneficentes. Encontrou grande aceitação entre jovens católicos (em número de 50), que buscaram, após a conclusão do curso, criar uma associação de ação social. O objetivo do CEAS era difundir a doutrina e ação social da Igreja Católica, vale ressaltar que naquela época as orientações da Igreja Católica, eram regidas pelas encíclicas “Rerum Novarum” (1891) e “Quadragésimo Anno” (1931). Ambas assumiam um posicionamento antiliberal e antissocialista. Outras menções estabelecidas ao Serviço Social na época, os pensamentos de São Tomás de Aquino e o Neotomismo. Dialogando com a Yazbek et al (2008, p. 10): O CEAS não se restringiu ao discurso teórico dos problemas que diz respeito à sociedade, porém desenvolvia para as suas associadas visitas a instituições e obras sociais, criando quatro centros operários em São Paulo, em 1932. Os componentes do CEAS, através de palestras, trabalhos manuais, conselhos sobre higiene e a vida social, fazia diligência por encontrar as mulheres operárias e assim entrar em contato com a classe trabalhadora, tentando descobrir e conhecer as suas necessidades e o ambiente em que viviam. Ainda segundo Yazbek et l (2008, p. 10), “esses centros eram organizações transitórias que preparariam a elite operária católica para atuar à massa operária”. Diante o exposto, ainda em 1938 é criado o Conselho Nacional de Serviço Social - CNSS com o intuito de centralizar e organizar obras assistenciais públicas e privadas, como afirma Iamamoto (2011, p.264): A primeira medida legal nesse sentido no âmbito federal será dada apenas em 1938 (Decreto-lei n. 525, de 1.7.38) já sob a vigência do Estado Novo e instituída sob o regime de Decreto-lei. Estatui a organização nacional do Serviço Social, enquanto modalidade de serviço público com o estabelecimento de organismos (no nível nacional, estadual e municipal) de direção, execução e cooperação, e cria junto ao Ministério da Educação e Saúde o Conselho Nacional de Serviço Social, com as funções de órgão consultivo do governo e das entidades privadas, e de estudar os problemas do Serviço Social. O CNSS não chegou a ser um organismo atuante, foi marcado pelo desvio de verbas e subvenções, “como mecanismo de clientelismo político” (Iamamoto 2011, p. 264). Contudo, em 1942 é criado a Legião Brasileira de Assistência – LBA, fundada pela primeira dama Darcy Vargas, sendo a primeira 29 grande instituição nacional de assistência social, que atuaria junto ao Estado. Iamamoto (2011 p. 264) ressalta que: A Legião Brasileira de Assistência é organizada em sequência ao engajamento do país na Segunda Guerra Mundial. Seu objetivo declarado será o de “promover as necessidades das famílias cujos chefes ajam sidos mobilizados, e, ainda, prestar decidido concurso ao governo em tudo que se relaciona ao esforço de guerra”. Surge a partir de iniciativas de particular, logo encampada e financiada pelo governo, contando também com o patrocínio das grandes corporações patronais (Confederação Nacional da Indústria e Associação Comercial do Brasil) e o concurso das senhoras da sociedade. A LBA surgiu com o intuito de prestar assistência às famílias dos soldados enviados a Segunda Grande Guerra sendo presidida pelas primeiras damas. Porém, na década de 1990 pelas denúncias de esquemas e desvios de verbas da LBA, a mesma foi extinta em 1995. Como assinala Iamamoto (2011, p. 265), “a LBA, terá de imediato um papel de mobilização da opinião pública ao “esforço de guerra” promovido pelo governo, e consequentemente ao próprio governo ditatorial”. A partir do período seguinte de 1946, foi criado o Serviço Social da Indústria- SESI, período pós-guerra visando atuar no bem estar do trabalhador da indústria. Iamamoto (2011 p. 285) ressalta que a criação do SESI foi permeada pela maior organização do empresariado, em que este busca dar sentido e homogeneizar uma sucessão de coisas que se relacionam ao novo contexto internacional, “ao novo estatuto econômico do pós-guerra e a seus efeitos internos, tanto no plano econômico como no político”. Todavia, a aplicação de capitais pela parte do empresariado é mínima no que tange as responsabilidades do Estado, que possam afirmar como alternativas públicas as políticas sociais voltados para os trabalhadores. Nessa perspectiva, o Serviço Social recebe forte influência europeia, a expansão da profissão aconteceu no período pós-guerra com o aprofundamento do capitalismo. Ainda no período de 1946, temos a Fundação Leão XIII, criada pelo governo federal com o objetivo de atuar junto aos moradores das grandes favelas, que concentravam grande parte da população pobre nos grandes centros urbanos industriais. A Fundação Leão XIII foi estabelecida da articulação entre a hierarquia da igreja católica e do Estado: O âmbito de atuação dessa instituição – resultado de convênio entre a Prefeitura do Distrito Federal, Ação Social Arquidiocesana e Fundação Cristo Redentor, serão as favelas da cidade do Rio de Janeiro (capital 30 federal à época), principal grande centro urbano onde o Partido Comunista do Brasil se torna força política majoritária nas eleições de 1946. Deverá “trabalhar pela recuperação das populações das favelas do Distrito Federal”, tendo em vista “a extrema precariedade material e moral que estas atravessam” (Iamamoto 2011, p. 298-299). Hoje, a fundação Leão XIII, desenvolve programas e projetos, voltados para prevenção, inserção e promoção social nas grandes favelas do Estado do Rio de Janeiro. A partir, dos anos 1950 com a modernização do Estado, no atual governo do Presidente Juscelino Kubitschek, sua eleição ficou conhecida pelo slogan “cinquenta anos em cinco”, ele ressaltava que faria em cinco anos o que outros governantes fariam em cinquenta. Seu governo foi marcado pelo desenvolvimentismo, transferência da capital do Rio de Janeiro para Brasília, implementação da indústria automobilística, já que o ideal era trazer ao Brasil o desenvolvimentismo econômico e social. No entanto, Juscelino fez empréstimos a centros financeiros americanos endividando o Brasil. Todavia, as instituições assistenciais foram instrumentos de veiculação de políticas sociais com aspectos distintamente assistencialistas. O curso superior de Serviço Social foi oficializado no Brasil pela Lei nº 1.88913 em 1.953. Em 27 de agosto de 1957, a Lei nº 3.252, juntamente com o Decreto nº 994 de 15 de maio de 1962, regulamentou a profissão. Hoje quem regulamenta a profissão no país é o Conselho Federal de Serviço Social - CFESS e os respectivos Conselhos Regionais - CRESS. Hoje a profissão está regulamentada pela Lei 8.66214, de 07 de junho de 1993, que legitima o Conselho Federal de Serviço Social e Conselhos Regionais, passando o Serviço Social a ser uma profissão dotada de um arsenal teóricometodológico, técnico-operativo e ético-político, que atua na viabilização e garantia de direitos sociais. O Serviço Social atua na política de saúde há longa data, sua entrada no campo de saúde foi demarcada pelo viés do trabalho em comunidade, com práticas educativas sobre procedimentos de higiene aplicados à vida privada, incentivando a higiene bucal, controle de natalidade, controle de doenças infantis, realizado por meios de trabalhos educativos para proporcionar ao individuo informações sobre a 13 Dados disponíveis em: http://www.cressrj.org.br/servico_social.php. Acesso em: 17 de abril de 2013 às 18:38. 14 Ver site: http://www.cfess.org.br. 31 higiene do próprio corpo. Esse era um trabalho na época o que se tornava necessário, pois a maioria da população não tinha escolaridade, viviam em extrema miséria e revelavam desconhecimento pelo próprio corpo. Segundo Bravo e Matos (2004), o marco da inserção profissional na saúde acontece por volta de 1948, quando a Organização Mundial da Saúde-OMS elabora um “novo” conceito de saúde pautado em aspectos biopsicossociais, determinando a requisição de outros profissionais para atuar no setor, entre eles o assistente social. Todavia com a citada abordagem da OMS, esse “novo” conceito de saúde requisita, aos assistentes sociais inserir-se no espaço ocupacional do setor saúde, que em décadas posteriores será destinada à área da Saúde Pública15 a referência de principal campo de absorção da categoria. Com o agravamento das condições de saúde da população, isso fez com que o assistente social fosse requisitado a atuar desenvolvendo uma “prática educativa no modo de vida da ‘clientela’, com relação aos hábitos de higiene e saúde, e atuou nos programas prioritários estabelecidos pelas normatizações na política de saúde” (BRAVO, 2004, p. 29). Sendo a política de saúde um dos setores que mais absorvem assistentes sociais, com ênfase no setor público o principal mercado de trabalho, “os profissionais mantiveram como lócus8 central de sua ação os hospitais e ambulatórios” (BRAVO e MATOS, 2009, p. 200). Ainda na década de 1970 nasce nos hospitais públicos o livro preto, “um livro de ata, com capa preta, em que o assistente social relata o atendimento que chega até ele como registro de sua demanda, uma forma padronizada de dizer resolva no próximo plantão” (Sodré, 2010, p. 457). Podemos ressaltar que é um registro superficial, pois as demandas que chegam ao Serviço Social são tratadas de forma isoladas, não destacando a complexidade das manifestações da questão social naquela demanda, trazida ao campo da saúde pública. Conforme Sodré (2010, p. 457) “o Serviço Social criou e reproduziu normas institucionais de forma mecanizada para todos aqueles que o procuravam”. Contudo, a política de saúde no período da ditadura militar, desenvolve-se com base no privilegiamento do setor privado, valorizando a prática clínica e a assistência 8 Lócus, significa lugar em latim. 32 médico-curativo, desprestigiando as ações de caráter coletivo. Sendo assim, houve diminuição das obrigações por parte do Estado, transferindo a função de Estado regulador das políticas públicas de saúde para o setor privado. Ainda nesse contexto da ditadura, embora a saúde pública tenha passado por mudanças, poucas mudanças ocorreram na atuação dos assistentes sociais. A prática do assistente social ainda tinha um caráter conservador com uma visão fragmentada das relações sociais, enxergando o sujeito somente como um ser isolado, sendo o individuo responsabilizado por seu estado de saúde e sua situação social, cabendo ao assistente social práticas moralistas para recuperar esse sujeito. Em meio às influencias advindas do campo teórico-ideológico-político de matriz marxista, mobilizações em prol da redemocratização do país, a tentativa de romper com o tradicional implicou para a profissão, na área da saúde, a compreensão dos aspectos sociais, econômicos, culturais que interferem no processo saúde-doença e a busca de estratégias para o enfrentamento destas questões (BRAVO e MATOS, 2004). Nessa conjuntura, Bravo (2004) relembra um movimento significativo na saúde coletiva, que também ocorre no Serviço Social, de ampliação do debate teórico e da incorporação de algumas temáticas como o Estado e as políticas sociais fundamentadas no marxismo. “O movimento sanitário, que vinha sendo construído desde meados dos anos 1970, colocou em debate a relação da prática em saúde, com a estrutura de classes da sociedade, avançou na elaboração de propostas no fortalecimento do setor público, em oposição ao modelo de privilegiamento do setor privado” (Cunha, 2010, p. 32). Neste sentido, Bravo e Matos, (2009, p. 202) reforçam que o Serviço Social na saúde vai receber influências da modernização16 que se operou no âmbito das políticas sociais, consolidando suas ações na pratica curativa: Na distensão política, 1974-1979, o Serviço Social na saúde não se alterou, apesar do processo organizativo da categoria, do aparecimento de outras direções para a profissão, do aprofundamento teórico dos docentes e do 16 O Serviço Social recebeu influências da modernização e se ajustou ao projeto econômico do governo militar, nesse período a profissão foi considerado um instrumento interventivo, inserido em um arsenal de técnicas sociais a serem “operacionalizados voltados às estratégias de desenvolvimento capitalista”. Disponivel em: http://pt.scribd.com/doc/130267459/PerspectivaModernizadora-do-Servico-Social. Acesso em 28 de julho de 2013 às 23:00. 33 movimento mais geral da sociedade. O trabalho profissional continuou orientado pela vertente “modernizadora” (BRAVO E MATOS, 2009, p. 202). Sem dúvida, o Serviço Social nesse período, recebeu influência da “crise do Estado brasileiro, de falência da atenção à saúde e do movimento de ruptura com a política de saúde vigente e construção de uma reforma sanitária brasileira” (BRAVO e MATOS, 2009, p. 204). Em 1986, ocorre a VIII Conferência Nacional de Saúde - CNS, um evento que contou com grande participação dos trabalhadores, representação de usuários dos serviços de saúde, e do Governo, tendo como temário central, “saúde como direito inerente à personalidade e à cidadania”. Na referida conferência, também ocorreu à discussão sobre a “Reformulação do Sistema Nacional de Saúde”, em consonância com os princípios de integração orgânico – institucional, descentralização, universalização e participação, redefinição dos papeis institucionais das unidades políticas (União, estado, municípios e territórios) e “Financiamento Setorial” (BRAVO, 2011). Essa conferência foi, sendo dúvida, o marco mais importante na trajetória da política pública de saúde no país, aprovando a proposta de reforma sanitária que mais tarde serviria de base a seus defensores na reformulação da Constituição Federal de 1988 (BRAVO, 2004). “Essa Conferência inegavelmente representou um marco, pois introduziu a sociedade no cenário na discussão de saúde” (BRAVO, 2011, p. 111). Isso culminou com a saúde como direito social universal, na Constituição Federal de 1988. Através da Lei Orgânica da Saúde nº 8.080 de 1990, instituindo o Sistema Único de Saúde – SUS. Tal reconhecimento foi uma conquista devido às lutas e mobilizações de profissionais da saúde articulado ao movimento popular. E o assistente social juntamente com outras categorias profissionais, em busca da consolidação da política de saúde como um direito participou ativamente do movimento de luta e reinvidicações. Com a instalação do neoliberalismo17, a partir da década de 1990, percebe-se nesse período a redução dos direitos sociais e trabalhistas, desemprego 17 “Conjunto de idéias políticas e econômicas capitalistas que defende a não participação do estado na economia. De acordo com esta doutrina, deve haver total liberdade de comércio (livre mercado), pois este princípio garante o crescimento econômico e o desenvolvimento social de um país”. 34 estrutural, precarização do trabalho, privatizações de grandes empresas, sucateamento da saúde e educação, tornando as políticas públicas cada vez mais focalizadas e seletivas, confrontando-se com o projeto profissional hegemônico da profissão adotado a partir da década de 1990. A década de 199018 foi permeada de mudanças tanto no âmbito da saúde pública, quanto no Serviço Social. Nesse mesmo período os avanços conquistados pela profissão são insuficientes, o Serviço Social chega à década de 1990: Ainda com uma incipiente alteração do trabalho institucional; continua enquanto categoria desarticulada do Movimento da Reforma Sanitária, sem nenhuma explícita e organizada ocupação na máquina do Estado pelos setores progressistas da profissão (encaminhamento operacionalizado pela Reforma Sanitária) e insuficiente produção sobre “as demandas postas à prática em saúde” (CFESS, 2010, p. 25). Ressaltando que a década de 90 foi o período de implantação do neoliberalismo, com precarização do trabalho, privatização das políticas sociais e desrespolatização do Estado. “Identifica-se que, nesse contexto, os dois projetos políticos em disputa na área da saúde que são o projeto privatista e o projeto da reforma sanitária, com isso passam a apresentar diferentes requisições para o Serviço Social” (CFESS, 2010, p. 26). O projeto privatista19 vem solicitando ao assistente social: Seleção socioeconômica dos usuários, atuação psicossocial por meio de aconselhamento, ação fiscalizatória aos usuários dos planos de saúde, assistencialismo por meio da ideologia do favor e predomínio de práticas individuais (CFESS, 2010, p. 26). Todavia, o projeto da reforma sanitária20 vem aduzindo como ações que o profissional de Serviço Social trabalhe as seguintes questões: Disponível em: http://www.suapesquisa.com/geografia/neoliberalismo.htm. Acesso em 11 de julho de 2013 às 13:58. 18 Disponível em: http://www.cfess.org.br/arquivos/Parametros_para_a_Atuacao_de_Assistentes_Sociais_na_Saude.pd f. Acesso em 17 de junho de 2013 às 21:45. 19 O Projeto Privatista sua base é o Estado Mínimo com parcerias e privatizações, crise financeira e dicotomia entre universalização e focalização, diminuição dos gastos sociais e déficit público. 20 “O Projeto de Reforma Sanitária, construído na década de 80, tem como uma de suas estratégias o Sistema Único de Saúde (SUS) e foi fruto de lutas e mobilização dos profissionais de Saúde, ar-ticulados ao movimento popular. Tem como preocupação central assegurar que o Estado atue em função da sociedade, pautando-se na concepção de Estado democrá-tico e de direito, responsável pelas políticas sociais e, por conseguin­te, pela saúde”. Disponível em: 35 Democratização do acesso às unidades e aos serviços de saúde; estratégias de aproximação das unidades de saúde com a realidade; trabalho interdisciplinar; ênfase nas abordagens grupais; acesso democrático às informações e estímulo à participação popular (CFESS, 2010, p. 26). Nessa perspectiva, a uma estreita relação entre o projeto ético-político e o da reforma sanitária, particularmente no que tange aos seus eixos: referência teórica, formação profissional e princípios. O projeto da reforma sanitária e o projeto privatista que são os dois projetos políticos existentes na saúde ainda continuam em disputa. O atual governo ora fortalece o primeiro, ora desfinancia o segundo, percebendo-se uma atenção maior no projeto privatista. O Serviço Social nos anos 1990 atinge sua maturidade embasada na teoria social crítica. O projeto da profissão conquista sua hegemonia, identificando com “um projeto profissional vinculado ao processo de construção de uma nova ordem societária, sem dominação-exploração de classe, etnia e gênero”, com “um posicionamento em favor da equidade e justiça social que assegure universalidade de acesso a bens e serviços, relativos aos programas e políticas sociais, bem como sua gestão democrática” (CRESS, 2005, p. 21). Dessa forma, o assistente social que trabalha na área da saúde (BRAVO, 2004), vai buscar através de sua intervenção, a compreensão do que se apresenta ao seu cotidiano, aspectos econômicos, sociais e culturais que interferem no processo saúde-doença, buscando estratégias para o enfrentamento destas questões. “As novas diretrizes das diversas profissões têm ressaltado a importância de formar trabalhadores de saúde para o Sistema Único de Saúde com visão generalista e não fragmentadas” (BRAVO e MATOS, 2009, p. 213). Diante o exposto, o trabalho do assistente social na saúde deve estar pautado nos princípios do projeto da reforma sanitária e ao projeto ético-político do Serviço Social. Articulado a esses dois projetos o profissional está qualificado a atender às necessidades apresentadas pelos(as) usuários(as). Assim, o profissional é demandado a formular estratégias que busquem reforçar nos serviços de saúde a efetivação da saúde como direito social atentado que o trabalho do assistente social http://textodaenf.blogspot.com.br/2008/02/sade-no-brasil-reforma-sanitria-e.html. Acesso em 11 de julho de 2013 às 14:16. 36 tem que ter como norte o projeto ético-político profissional e estar articulado ao projeto da reforma sanitária. Considerando que o atual Código de Ética do assistente social apresenta instrumentos fundamentais para o trabalho do assistente social na saúde, destacam-se abaixo os seus princípios fundamentais de atuação profissional em qualquer âmbito de atuação, que são eles: Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do autoritarismo; Posicionamento em favor da equidade e justiça social, que assegure universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas sociais, bem como sua gestão democrática; Articulação com os movimentos de outras categorias profissionais que partilhem dos princípios deste código e com a luta geral dos trabalhadores; Compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população e com o aprimoramento intelectual, na perspectiva da competência profissional. (BRASIL, 1993). Assim, faz-se necessário ao assistente social com atuação na saúde, conhecer a essência da proposta do SUS, seus princípios e diretrizes, pois indicam uma prática direcionada aos interesses dos usuários. Para a profissão não existem fórmulas prontas como uma espécie de receita de bolo, devendo o profissional não se acuar ao que lhe é apresentado no seu cotidiano. Assim, o assistente social, através do acesso a serviços e políticas sociais, deve buscar e reformular estratégias que garantam a real efetivação do SUS, buscando viabilizar a saúde como dever do Estado e direito fundamental do ser humano. Diante do exposto, no próximo tópico irá ser abordada a atuação do assistente social na política de saúde como um espaço de aprendizagem e garantia de direito. Diante o exposto no próximo tópico, será analisado a saúde como espaço de aprendizagem. 1.3 SAÚDE COMO ESPAÇO SOCIO-OCUPACIONAL E DE APRENDIZAGEM PARA O ASSISTENTE SOCIAL NA GARANTIA DE DIREITOS. O campo da política de saúde, historicamente, vem pautando-se como uma grande empregadora dos profissionais de Serviço Social, mostrando-se como um espaço sócio-ocupacional fértil para o exercício profissional, apesar das particularidades expostas pelo contexto neoliberal, de enxugamento dos direitos sociais e das políticas públicas. 37 Ressalta-se que a introdução do referido profissional no campo da saúde possui particularidades, pois se trata de um espaço socio-ocupacional que tem como centralidade o trabalho vivo e a produção de ações que visem cuidados com os(as) usuários(as). Assim, a sua inserção na política de saúde dar-se sobre os determinantes sociais que envolvem o processo saúde-doença com a expectativa de atender as necessidades dos usuários. Compreendendo o campo da saúde como um espaço de aprendizagem do profissional de Serviço Social que norteia o modo de pensar e o de agir profissional, os parâmetros para a atuação dos assistentes sociais na saúde passam a ser um norte para a intervenção dos profissionais que atuam nessa política, pois: Visa responder um histórico pleito da categoria em torno de orientações gerais sobre as respostas a serem dadas pelos assistentes sociais às demandas identificadas no cotidiano do trabalho no setor saúde e àquelas que ora são requisitadas pelos usuários dos serviços ora pelos empregadores desses profissionais no setor saúde (CFESS, 2009, p. 05). Neste sentido, os parâmetros visam expressar as ações que são desenvolvidas pelos assistentes sociais nesse setor, que atuam tanto na atenção básica, média e de alta complexidade. Contudo, foi através da Resolução nº 218, de 06 de maio de 1997, do Conselho Nacional de Saúde, além da Resolução CFESS nº 383, de 29 de março de 1999, que reconheceu a categoria de assistentes sociais como profissionais de saúde. “Sua construção se deu através de documentos, metodologias acerca das atribuições e competências profissionais já sistematizadas pelos Conselhos Regionais de Serviço Social” (CFESS, 2009, p. 06). Assim, ressalta-se que o assistente social é um profissional qualificado para atuar na política de saúde, pois está articulado na luta pela real efetivação do Sistema Único de Saúde – SUS, facilitando o acesso dos usuários aos serviços de saúde, tentando construir conjuntamente com outras categorias de profissionais da saúde, espaços nas unidades que garantam a participação popular e aos trabalhadores de saúde nas decisões a serem tomadas. Todavia, não existem fórmulas prontas para o cotidiano do assistente social que atua nessa área. Contudo, não podemos ficar acuado frente aos obstáculos que se apresenta em nosso cotidiano profissional. Devendo assim, lutar pela defesa intransigente pelos direitos dos usuários frente às contradições do SUS 38 e permanecer desafiado a encarar a defesa da democracia, se articulando com outros profissionais que partilhem desse mesmo ideal. “As atribuições e competências dos(as) profissionais de Serviço Social são orientadas e norteadas por direitos e deveres constantes no Código de Ética Profissional e na Lei de Regulamentação da Profissão” (CFESS, 2009, p. 16). Ressaltando, que essas competências devem ser respeitadas tanto pelos(as) profissionais de Serviço Social quanto pela instituição empregadora. Os profissionais de Serviço Social que pauta o seu trabalho no Código de Ética e na Lei que Regulamenta a Profissão são qualificados para atuar nas diferentes políticas sociais. Todavia, eles devem se abster de abordagens tradicionais funcionalistas e pragmáticas, ou seja, práticas que reforçam ao conservadorismo “que tratam as situações sociais como problemas pessoais que devem ser resolvidos individualmente” (CFESS, 2009, p. 17). O assistente social atua de forma a responder as demandas geradas pela questão social. É uma profissão que têm como característica própria de ser investigativa e interventiva. A mesma está inserida na divisão social e técnica do trabalho onde tem uma dimensão sócio-histórica e política. É constitutiva e constituinte que luta pela defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e autoritarismo, pela garantia dos direitos civis, sociais e políticos das classes trabalhadoras: O reconhecimento da questão social como objeto de intervenção profissional (conforme estabelecido nas Diretrizes Curriculares da ABEPSS, 1996), demanda uma atuação profissional em uma perspectiva totalizante, baseada na identificação dos determinantes sociais, econômicos e culturais das desigualdades sociais. A intervenção orientada por esta perspectiva crítica pressupõe: leitura crítica da realidade e capacidade de identificação das condições materiais de vida, identificação das respostas existentes no âmbito do Estado e da sociedade civil, reconhecimento e fortalecimento dos espaços e formas de luta e organização dos (as) trabalhadores (as) em defesa de seus direitos (CFESS, 2009, p. 17). Para a intervenção profissional do Assistente Social, se faz necessário fazer uma leitura crítica da realidade. Através dessa compreensão da realidade posta, ele estabelece competências e atribuições para o enfretamento das demandas sociais que se apresentam em seu cotidiano. A profissão tem como cerne a questão social que é à base de sua fundamentação enquanto designação de seu trabalho. 39 O pensar e o agir profissional devem estar relacionados a um acordo que vise ao enfrentamento da questão social que se reproduzem desde a atenção básica até os atendimentos de alta complexidade. Diante o exposto, o atendimento aos usuários(as) da política de saúde se dá em diversos espaços sociais, como: centros e postos de saúde, ambulatórios, maternidades, emergências, etc. Hoje, percebe-se que o assistente social na contemporaneidade “tem ampliado sua ação profissional, transcendendo a ação direta com usuários e atuando também em planejamento, gestão, assessoria, investigação, formação de recursos humanos e nos mecanismos de controle social (conselhos e conferências)” (CFESS, 2009, p. 21). Assim, os assistentes sociais também desenvolvem ações em equipe. O mesmo merece ser refletido e reconhecido por outras categorias de profissionais da saúde como assinala Iamamoto (2002, p. 41): “é necessário desmistificar a ideia de que a equipe, ao desenvolver ações coordenadas, cria uma identidade entre seus participantes que leva a diluição de suas particularidades profissionais”. Aqui ela afirma que o assistente social ao trabalhar em equipe “dispõe de ângulos particulares de observação na interpretação das condições de saúde do usuário e uma competência também distinta para o encaminhamento das ações” (CFESS, 2009, p. 23). O trabalho em equipe torna-se interessante, quando este propicia que os demais profissionais de outras especialidades da saúde percebam a atuação crítica e reflexiva do Serviço Social. Infelizmente, tal realidade, ainda incide diante por a prevalência de sociedade conservadora na visão da profissão centrada na ajuda e no assistencialismo. Por isso, o assistente social deve problematizar com a equipe essas questões, permitindo uma troca de saberes e experiências, pois um trabalho é distinto do outro o trabalho na equipe, pois atuação do assistente social não é igual a do médico, mas a interdisciplinariedade das especializações que permitem atribuir unidade a equipe. Contudo, estas ações se constituem em demandas aos profissionais de Serviço Social, afirmando, que o assistente social atue nas contradições do SUS: Entretanto, contradições são criadas com a contra-reforma na saúde, que não viabiliza o SUS constitucional, acarretando, no cotidiano dos serviços, diferentes questões operativas: demora no atendimento, precariedade dos recursos, burocratização, ênfase na assistência médica curativa, problemas com a qualidade e quantidade de atendimento, não atendimento aos usuários (CFESS, 2009, p. 21). 40 Problemas relacionados com a questão social aparecem no cotidiano profissional do assistente social, afirmando que o profissional de Serviço Social deve atuar em respostar a essas questões que aparecem em seu cotidiano de trabalho e por meio dessas demandas que se referem às condições reais de vida dos usuários: desemprego e subemprego, violência, ausência de moradias, abandono do usuário, uma sensação constante nos usuários(as) que “falta tudo”. Vasconcelos, afirma que: Ao assistente social – que tem como objeto a “questão social” – cabem, principalmente, organizar, aprofundar, ampliar, desenvolver, facilitar os conhecimentos e informações necessários sobre todos os aspectos da história e da conjuntura relativos à saúde e seus determinantes e á participação social e política dos usuários, a partir do conjunto de conhecimentos que a ciência tem produzido sobre a realidade social (2007, p. 435). O profissional tem que pautar suas ações afirmadas no Código de Ética e na Lei que Regulamenta a profissão, tendo a clareza das suas atribuições e competências, estabelecendo assim suas prioridades de atuação. Assim, o CFESS aponta algumas das principais ações que devem ser desenvolvidas pelos assistentes sociais, na política de saúde: Prestar orientações (individuais e coletivas) e /ou encaminhamentos quanto aos direitos sociais da população usuária, no sentido de democratizar as informações; identificar a situação socioeconômica (habitacional, trabalhista e previdenciária) e familiar dos usuários com vistas a construção do perfil socioeconômico para possibilitar a formulação de estratégias de intervenção; trabalhar com as famílias no sentido de fortalecer seus vínculos, na perspectiva de torná-las sujeitos do processo de promoção, proteção e recuperação da saúde; realizar abordagem individual e/ou grupal, tendo como objetivo trabalhar os determinantes sociais da saúde dos usuários, familiares e acompanhantes (2009, p. 23). Deste modo, o assistente social desenvolvendo essas ações, os(as) usuários(as) passam a ter o conhecimento quais são os seus direitos e deveres dentro da política de saúde para que assim possam reivindicá-los. Assim, a publicização dos direitos dos usuários dentro do Sistema Único de Saúde – SUS fazse necessários, pois todos(as) têm o direito de: ter acesso ao conjunto de ações e serviços necessários para a promoção, a proteção e a recuperação de sua saúde; gratuidade, mediante financiamento público, dos medicamentos necessários para tratar e restabelecer a saúde; ter acesso a atendimento ambulatorial, cuja espera não prejudique a saúde; 41 ser identificados e tratados pelo nome ou sobrenome, e não por número, códigos ou modo genérico, desrespeitoso ou preconceituoso; não ser discriminado nem sofrer restrição ou recusa de atendimento, nas ações e serviços de saúde, em razão da idade, raça, gênero, orientação sexual, características genéticas, condições sociais ou econômicas, convicções culturais, politicas ou religiosas, do estado de saúde ou da condição de portador de patologia, deficiência ou lesão preexistente (Simões, 2011, p. 146-7-8). A todos(as) devem lhe ser assegurado o tratamento adequado e efetivo para o seu problema, visado à melhoria da qualidade dos serviços prestados, de modo acolhedor e livre de discriminação, visando a uma igualdade de tratamento e a uma relação mais pessoal e saudável, os valores e direitos dos pacientes devem ser respeitados, visando à preservação de cidadania durante o tratamento21 ressaltando que os(as) usuários(as) não podem ser avaliados somente dentro do contexto hospitalar, e sim por todo o trajeto que ele fez até chegar a uma instituição de saúde. Esses são alguns dos direitos o qual o(a) usuário(a) do Sistema Único de Saúde tem acesso e por muitas das vezes são desconhecidos, por isso se faz necessário que o(a) usuário(a) tenha conhecimento dos seus direitos para que assim possa efetivar-ser um sistema de saúde mais efetivo. Conforme Vasconcelos (2000), a existência de um direito social não determina que se tenha o acesso a ele como tal, e dependendo da forma como é usufruído, pode ser transformado em um objeto de favor, doação, troca e controle. Por isso a garantia do acesso a um recurso pelo usuário cidadão de forma crítica e consciente, é elemento fundamental para a transformação do direito formal em direito real. Apesar do entendimento do usuário como portador de direitos que lhe são garantidos constitucionalmente, vê-se, ao mesmo tempo, que há um desconhecimento desses direitos por parte dos próprios usuários. Diante do exposto, percebe-se que atuação do assistente social deve ser pautada para além da perspectiva de garantia e viabilização dos direitos sociais, com vistas à consolidação dos direitos de cidadania dos(as) usuários(as) nos diversos espaços sócio-ocupacionais da saúde, de seus familiares e dos próprios trabalhadores de saúde. 21 Dados disponíveis em: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/cartilha_integra_direitos_2006.pdf. Acesso em: 28 de abril de 2013 às 14:20. 42 As ações devem transpor o caráter biomédico, emergencial e burocrático, não tratando o problema do(a) usuário(a) como um processo saúde-doença em um âmbito curativo e sim, gerando reflexões com relação às condições sócio-históricos a que esses usuários(as) estão submetidos(as), desenvolvendo ações socioeducativa e mobilizações para a participação na luta em defesa dos direitos da garantia à saúde. Reforça-se que as ações de mobilização, participação e controle social desempenhada pelo assistente social devem estar voltadas para a inserção dos(as) usuários(as), familiares e trabalhadores de saúde dentro dos espaços democráticos de controle social e construção de estratégias para fomentar a participação e defesa dos direitos pelos(as) usuários(as) e trabalhadores nos conselhos, fóruns e políticas públicas. Já as ações de investigação, planejamento e gestão têm como perspectiva o fortalecimento da gestão democrática e participativa capaz de produzir em equipe ou intersetorialmente, propostas que produzam e fortaleçam a gestão em favor dos(as) usuários(as) e trabalhadores de saúde, na garantia dos direitos sociais. Reafirmando a importância do(a) usuário(a) como sujeito de direitos, em um contexto de cidadania e democracia. Este é um compromisso que cabe ao assistente social assumir e que pode ser alcançado por meio de suas práticas interdisciplinares, pautadas em um horizonte ético de humanização e de respeito à vida. Segundo Martinelli (2011, p. 500) “isto exige um contínuo processo de construção de conhecimentos, pela via da pesquisa e da intervenção profissional competente, vigorosa e crítica, alicerçada na Política Nacional de Saúde e no Projeto Ético‑Político do Serviço Social”. Assim, a intervenção profissional deve estar pautada em um aporte teórico crítico, para que sua atuação não seja fadada ao cumprimento de normas, rotinas e prescrições ministeriais, incidindo, por conseguinte, na burocratização. Esse aporte teórico propicia que o profissional reflita sobre a realidade em que atua e respalde sua intervenção profissional. Assim, o profissional que tem uma prática comprometida com os(as) usuários(as) de seus serviços não pode pôr a parte seu arcabouço teóricometodológico, pelo contrário deve-se estar atualizado na defesa intransigente do individuo rompendo, também, com a visão dos usuários no assistente social a 43 possibilidade de “conseguir alguma ajuda”, o que aperfeiçoa–os como “mendicantes institucionais”, colaborando para a perda da expectativa do espaço público como lócus de concretização de direitos. Portanto, o assistente social desenvolve suas ações em várias dimensões, o qual é complementar e indissociável para a profissão, tais como: participação e controle social, investigação, assessoria, qualificação e formação profissional, supervisão direta de estagiários de Serviço Social estabelecendo articulações com as unidades acadêmicas. Diante do exposto no próximo capítulo será abordado o estágio curricular e o processo de formação profissional em Serviço Social. 44 2. O ESTÁGIO CURRICULAR E O PROCESSO DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM SERVIÇO SOCIAL Neste capítulo faz-se um apanhando histórico do surgimento das primeiras escolas de Serviço Social no Brasil, o protagonismo da ABESS/ABEPSS, o processo do estágio supervisionado, supervisor e supervisionado. 2.1. Formação Profissional em Serviço Social No princípio do Serviço Social sua base profissional eram os preceitos da Igreja Católica22. Nesse mesmo contexto os princípios fundamentais da Igreja eram embasados nos preceitos que se manifestava nas Encíclicas Papais, a Rerum Novarum23 e o Quadragésimo Anno24. A Encíclica Papal Rerum Novarum seu autor foi o Papa Leão XIII, suas ideias básicas era uma posição da Igreja Católica em relação à questão social e ao Socialismo. A Rerum Novarum analisa o estado dos trabalhadores industriais: A encíclica Rerum Novarum divide-se em duas partes: “A solução proposta pelo socialismo” e “A solução proposta pela Igreja”. A encíclica menciona a necessidade de tocar no cerne da questão social, esclarecendo que esta tarefa compete à Igreja em razão da relação que existe entre a sua causa e a do bem comum (Castro, 2008, p. 52). A Encíclica Quadragésimo Anno sua promulgação se deu em 15 de maio de 1931, seu autor o Papa Pio XI, onde o mundo estava afetado pela forte crise econômica de 1929 com a quebra da bolsa de valores de Nova Iorque. Esta Encíclica mantinha ainda a ideia de justiça firmada nos princípios Tomista, mantinha também uma crítica ao socialismo e ao capitalismo. Dialogando com Castro (2008, 22 Para essa discussão teve-se como referência Castro (2008). “Significado da Rerum Novarum: sobre a condição dos operários (em latim Rerum Novarum significa "Das Coisas Novas") é uma encíclica escrita pelo Papa Leão XIII a 15 de Maio de 1891. Era uma carta aberta a todos os bispos, debatendo as condições das classes trabalhadoras. Wilhelm Emmanuel von Ketteler e Edward Manning tiveram grande influência na sua composição. A encíclica trata de questões levantadas durante a revolução industrial e as sociedades democráticas no final do século XIX. Leão XIII apoiava o direito dos trabalhadores formarem sindicatos, mas rejeitava o socialismo e defendia os direitos à propriedade privada. Discutia as relações entre o governo, os negócios, o trabalho e a Igreja”. Disponível em: http://www.jurassicos.com.br/leao_XIII/rerum_novarum.html. Acesso em 23 de junho de 2013 às 11:22. 24 “A Encíclica apresentava uma visão mais totalizando do que a "Rerum Novarum". Mantém a critica ao socialismo e ao capitalismo e reafirma a Doutrina Social da Igreja Católica como uma terceira via para o tratamento da questão social e econômica. Continua com o conceito de justiça fundado nos princípios tomistas.” Disponível em: http://thor.sead.ufrgs.br/objetos/servico-social/anno.php. Acesso em: 23 de junho de 2013 às 11:31. 23 45 p. 61) “Nesta encíclica reafirma-se a importância da ação orientada para responder ao grande desafio do paganismo e da secularização”. O movimento da reação católica foi uma tentativa da Igreja de tornar-se influente na vida nacional, seu predomínio havia se perdido ainda no Império. A Igreja cria estratégias para restaurar seu domínio, além de mudar a observância de certas práticas religiosas e piedosas populares tradicionais por novas práticas religiosas mandadas pela hierarquia do clero, o relacionamento da Igreja entre bispos, padres e leigos eram embasados no poder religioso. O Papa era o centro da Igreja, o bispo para sua Arquidiocese e o leigo tinha uma posição passiva sem qualquer poder próprio (Oliveira, 1980). Partindo desta analise, isso era válido apenas no capitalismo agrário, onde a influência da igreja era maior nas classes subalternas rurais do que no operariado urbano. Todavia, a Ação Católica teve uma estreita relação na criação das primeiras escolas de Serviço Social e no seu processo de profissionalização. No Brasil, na década de 30, Era Vargas, registra-se no país uma intensificação no processo de industrialização e um período de profundas transformações tanto sociais como políticas e econômicas, tornando-se mais intensas as relações sociais particulares ao sistema social capitalista. É nesse contexto que em 1936 o Centro de Estudo e Ação Social (CEAS), e por iniciativa Maria Kiehl e Albertina Ramos, formadas na Escola de Serviço Social de Bruxelas, dirigida pela pioneira na área Adèle de Loneux, cria em São Paulo a primeira escola de Serviço Social, o curso tinha caráter de formação técnica e recebia forte influência do pensamento neotomista e tinha como objetivo formar profissionais no exercício de atividades para atuar neste setor, no inicio foi inspirado no modelo belga, teve influência cristã com nítidas orientações das Encíclicas 25, diretamente inspirada pela Ação Católica e pela Ação Social: Iniciava-se assim uma nova etapa na prática da assistência social, quando a Igreja, em seu conjunto, atravessava um importante momento na sua redefinição no interior da cambiante sociedade brasileira. Ademais, quando se funda a escola, os fatores antes mencionados (referidos ao projeto católico) juntam-se também como uma demanda profissional que começa a revelar-se a partir de alguns aparelhos do Estado, tornando mais exigente a qualificação acadêmica, religiosa e técnica (Castro, 2008, p. 105). 25 Para essa discussão teve-se como referência Iamamoto (2002). 46 A escola de Serviço Social de São Paulo que atualmente é a PUC-SP, contribuiu para a formação profissional e inserção no mercado de trabalho de profissionais insubstituíveis a execução do Serviço Social que a propagação do capitalismo requisitava, dentro do campo de contestações dessa ligação capital e trabalho. Abrindo lugar nos campos de atuação e espaços institucionais iminentes, colaborou veemente na formação e no reconhecimento da profissão: Ainda sob a inspiração católica e em 1937 é criada o Instituto Social do Rio de Janeiro que atualmente é a PUC-RJ-Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, e o curso de Serviço Social da escola Ana Neri que atualmente é a UFRJ- Universidade Federal do Rio de Janeiro, ambas inscrevia-se na luta travada pela igreja para defender o povo de influências consideradas danosas e para constituir-se como preceitos da sociedade26. Dialogando com Castro (2008), no Rio de Janeiro o método estabelecido do Serviço Social, desenvolvia-se nas mais diferentes variantes, “provavelmente porque na capital do país estavam centralizadas muitas repartições públicas sob cuja demanda se profissionalizou o Serviço Social” (p. 108): No Rio de Janeiro, a fundação das escolas foi patrocinada pelo Grupo de Ação Social, pela Escola de Enfermagem Ana Nery e pelo Juizado de Menores; entretanto, as suas bases doutrinárias continuavam sendo a moral e os princípios religiosos católicos. Na capital brasileira, a primeira escola católica de Serviço Social resulta de um processo semelhante ao ocorrido em São Paulo, já que emergiu igualmente no bojo em movimento articulado de vários grupos onde atuavam leigos sob-reconhecida influência da hierarquia (Castro, 2008, p. 108). Com definições claras para a formação do assistente social essa escola seguia quatro eixos perceptíveis, formação técnica, cientifica, moral e doutrinária, princípios inerentes à profissão. Dialogando com Vieira (2008, p. 83) a maior parte dessas escolas foi iniciada por leigos27 ligados à igreja católica, grupos religiosos, o vínculo do Serviço Social com a Igreja “impregnou a nova profissão em seu surgimento e toda a sua formação. Os assistentes sociais apoiavam-se na doutrina social da Igreja para delimitar uma intervenção no problemático mundo secular” (p. 83). Em 1940 pelo juiz de menores do Recife, dr. Rodolfo Aureliano é criado a escola de Pernambuco a primeira do nordeste, como consequência da criação 26 27 Para essa discussão teve-se como referência Iamamoto (2011). Que ou quem não pertence ao clero nem fez votos religiosos. 47 dessa instituição, “o dr. Rodolfo, concernente à reunião de religiosos Mariana, conciliou amigos ligados a Igreja e contatou a União Católica Internacional de Serviço Social, seguindo suas orientações” (Vieira, 2008, p. 83): “A Escola de Serviço Social de Pernambuco constitui um centro de formação, informação e documentação social. Ela prepara os trabalhadores para as diversas espécies de Serviço Social e vem preencher duas grandes lacunas: a necessidade atual que sentem as obras sociais, as instituições e as indústrias duma organização mais metódica e mais social duma parte e, de outra, a oportunidade de oferecer aos jovens uma carreira que lhes proporciona interessante retribuição, ao mesmo tempo em que põe em atividade a sua cultura geral e seu devotamento. As desordens atuais são constituídas pelas falências individuais, isto é, pelos desajustamentos sociais...” (Vieira, 2008, p. 83). Ainda em 1944 pelo Decreto Lei 6.527 remetido pelo presidente Vargas é criada a escola técnica de Assistência Social Cecy Dodsworth, onde estava submetida à Secretaria de Saúde e Assistência da Prefeitura do Distrito Federal, antiga Guanabara na época. Contudo em 1948 passou a se submeter à Secretária de educação e cultura e através de muitas lutas ela se tornou a primeira escola gratuita de Serviço Social que hoje é a universidade do Rio de Janeiro (UFRJ)28, nasceu assim à primeira instituição pública de ensino profissional de Serviço Social do Rio de Janeiro, já que na época existiam poucos cursos de Serviço Social. Todavia, ainda na década de 40, nasce a primeira escola de Serviço Social do Rio Grande do Sul, criada em 1945, teve seu reconhecimento pelo Decreto 38.758/56, a experiência das primeiras escolas colaboraram para a criação da Escola de Serviço Social do Rio Grande do Sul atualmente a PUC-RS, e aos primeiros profissionais formado nesta escola lhes pertencia “a árdua tarefa de criar obras sociais de que o meio era carente; organizar e racionalizar a assistência; batalhar pelo reconhecimento da profissão e tratar da educação dos novos profissionais” (Bulla, 1992, p. 370). Dialogando com Mendes et al. (2008): A Escola de Serviço Social do Rio Grande do Sul foi à terceira no Brasil a ser constituída, tendo sido fundada em março de 1945 em Porto Alegre, tendo como mantenedora a União Sul Brasileira de Educação e Ensino (Usbee), entidade civil dos irmãos Maristas. Suas origens estão presas aos debates sobre a necessidade de constituição de uma Escola para formar assistentes sociais resultante da V semana de Ação Social Católica 28 Dados disponíveis em: http://www.fss.uerj.br/menu_sobrefss_apresentacao.php. Acesso em: 14 de maio de 2013 às 01: 31. 48 realizada em Porto Alegre, a exemplo de outras escolas como em São Paulo (1940), Salvador (1946) e Recife (1948) (Pereira 1990) (p. 143). As escolas de Serviço Social surgiram em um contexto, de intensificação no processo de industrialização, avanços significativos rumo ao desenvolvimento econômico, cultural, politico e social onde as práticas de assistência social cada vez mais se expandiam, contudo, essas escolas foram marcadas pelo assistencialismo e tinha um caráter religioso, eram embasadas em uma formação técnica e recebia forte influência do pensamento neotomista. Nesse mesmo contexto, em 1946 é criada a ABESS29 (Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social), com o intuito de estabelecer uma metodologia de ensino, reformulando a grade curricular das escolas. Um momento propulsor na história dessa entidade foi à convenção de 1979 “quando assume a tarefa de coordenar e articular o projeto de formação profissional, transformando-se em Associação Brasileira de Ensino em Serviço Social” (Rodrigues, 2006, p. 1). Outro momento marcante na história da ABESS foi na década de 90 com a mudança de seu nome para Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS): Justificada em função da defesa dos princípios da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão e da articulação entre graduação e pósgraduação, aliada à necessidade da explicitação da natureza cientifica da entidade, bem como a urgência da organicidade da pesquisa no seu interior (Rodrigues, 2006, p. 02). Nessa perspectiva, esse processo de construção em que se dá a trajetória da ABEPSS foi repleto de confrontos, e permeada de debates bastante polemizados, na busca pelo amadurecimento e enriquecimento do debate profissional. No Brasil, na década de 80 é regulamentado no país o currículo mínimo para os cursos de Serviço Social, essa regulamentação significou uma relevante mudança trabalhista que se deu em um momento redemocratização e ascensão da classe trabalhadora. “Nesses termos, o currículo mínimo de 1982 significou, no âmbito da formação, a afirmação de uma nova direção social hegemônica no seio acadêmico-profissional” (Rodrigues, 2006, p. 02). Foi consolidado com a (Rodrigues 2006) elaboração das Diretrizes Curriculares para o curso de Serviço Social aprovada pela categoria em 1996, esse 29 Para essa discussão teve-se como referência Rodrigues (2006). 49 processo de estruturação sobreveio por meio de longos diálogos, englobando profissionais da área, no qual foram trocadas vivências importantes, experiências que ocorreu em diferentes formações acadêmicas e em vários locais do país “tendo o pluralismo (teórico – metodológico e político) e o processo democrático se constituído em parâmetros na condução desse processo” (Cardoso et al, 1997). “A elaboração das Diretrizes teve na ABESS um protagonismo incontestável” (Rodrigues, 2006, p. 03): A proposta de Diretrizes Gerais para o Curso de Serviço Social foi, portanto, um produto coletivo, construído pelos(as) assistentes sociais brasileiros, a partir de 1993, ano no qual a XXVlll Convenção Nacional da ABESS deliberou os encaminhamentos da revisão do Currículo Mínimo vigente desde 1982 (Rodrigues, 2006, p. 03). É um desafio constante para a ABEPSS a execução das Diretrizes Curriculares. Faz-se necessário pensar em um processo de formação continuada aonde o curso de graduação em Serviço Social venha ser um instrumental imprescindível para que a consolidação das Diretrizes não fique dispersas em seus elementos mais importantes. O bacharel em Serviço Social é um profissional que atua nas mais diversas expressões da questão social30, estabelecendo e executando propostas para o seu enfrentamento, por meio de políticas sociais públicas, movimentos sociais, organizações da sociedade civil e empresariais. O assistente social é um profissional dotado de uma formação intelectual, cultural generalista crítica, que tem suas ações pautadas nos valores e princípios que norteiam o código de ética profissional, tem uma capacidade de inserção criativa e propositiva no conjunto das relações sociais. O profissional atua em diversas áreas, saúde, habitação, gênero, trabalho, família, educação, previdência, etc., e sua defesa estão na garantia dos direitos sociais e na construção de uma sociedade justa e igualitária. 30 Entende-se por questão social, um conjunto das expressões das desigualdades sociais. Surgiu na Europa, no século XIX, se iniciou para exigir a formulação de políticas sociais em favor da classe operária, que viviam em extrema pobreza. “Começa-se a se pensar então a "questão social", a miséria, a pobreza, e todas as manifestações delas, não como resultado da exploração econômica, mas como fenômenos autônomos e de responsabilidade individual ou coletiva dos setores por elas atingidos”. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s010166282012000200004&script=sciarttext. Acesso em 23 de junho de 2013 às 12:28. 50 A prática do assistente social também está inserida em outras ações, no qual estas ações devem ser realizadas com a participação de outros profissionais, e não isoladamente. Faz parte dessas ações a formação profissional através da criação de campo de estágio, supervisão de estagiários, a articulação com as unidades de formação acadêmica é fundamental para o desenvolvimento dessas atividades (CFESS, 2009). Sendo necessário ressaltar, os princípios que norteiam a formação profissional através do campo de estágio, segundo a ABEPSS. Princípios norteadores da realização do estágio Indissociabilidade entre as dimensões teórico-metodológico, éticopolítica e técnico-operativa, devendo ser garantida na experiência de estágio, evitando a tendência de autonomização da dimensão operativa em detrimento das demais. Articulação entre Formação e Exercício Profissional, expressa e potencializada por meio da interlocução entre estudantes, professores(as) e assistentes sociais dos campos de estágio. Indissociabilidade entre estágio e supervisão acadêmica e de campo, em que o estágio, enquanto atividade didático pedagógica pressupõe a supervisão acadêmica e de campo, numa ação conjunta. Articulação entre universidade e sociedade, uma vez que o estágio se constitui como um elemento potencializador desta relação. Unidade teoria-prática, na medida em que o estágio, como atividade acadêmica, a evidencia como processo dialético entre dimensões que não se equalizam, mas são indissociáveis. Articulação entre ensino, pesquisa e extensão, o estágio possibilita a articulação entre ensino, pesquisa e extensão, numa perspectiva de totalidade (ABEPSS, s/d, p. 13-14). Faz-se necessário citar os princípios que norteiam a formação profissional, segundo o Ministério de Educação e do Desporto (1999, p. 03): “Flexibilidade e dinamicidade dos currículos plenos expressa na organização de disciplinas e outros componentes curriculares, tais como: oficinas, seminários temáticos, estágio, atividades complementares”; “Rigoroso trato teórico, histórico e metodológico da realidade social e do Serviço Social, que possibilite a compreensão dos problemas e desafios com os quais o profissional se defronta no universo da produção e reprodução da vida social”; “Adoção de uma teoria social critica que possibilite a apreensão da totalidade social em suas dimensões de universalidade, particularidade e singularidade”; “Estabelecimento das dimensões investigativa e interpretativa como princípios formativos e condições centrais da formação profissional, e da relação teoria e realidade”; “Necessária indissociabilidade entre a supervisão acadêmica e profissional na atividade de estágio”. O currículo mínimo de 1982, não era como hoje é as Diretrizes Curriculares da ABEPSS. Na década de 90, no governo de FHC (Fernando Henrique 51 Cardoso), foi alterada a forma de organização curricular do curso de nível superior, ou seja, o que era currículo mínimo antes passa agora a ser considerado Diretrizes Curriculares, sendo que o currículo mínimo era mais completo, com a abertura da reforma universitária, em 1982 as disciplinas eram divididas, fragmentadas, as disciplinas fundamentais da formação profissional eram três e estavam divididas em história, teoria e método. Na atualidade as algumas das disciplinas fundamentais para a formação profissional, segundo o Ministério de Educação e Desporto (1999, p. 4-5-6) está dividido em: Sociologia: “matrizes clássicas do pensamento sociológico (Marx, Weber, Durkheim)”, “Teoria Política: os clássicos da Política (Maquiavel, Hobbes, Locke e Rousseau) análise do Estado moderno e sua relação com a sociedade civil”, “Economia Política: sistema capitalista segundo as análises liberal, marxista, keynesiana e neoliberal”, “Filosofia: principais correntes filosóficas no século XX (marxismo, neotomismo, neopositivismo, fenomenologia) e suas influências no Serviço Social”, “Antropologia, a relação dialética entre o material e o simbólico na construção das identidades sociais e da subjetividade”, “Psicologia, as principais matrizes teóricas de análise das relações entre indivíduo e sociedade”, “Formação Sócio-Histórica do Brasil, a herança colonial e a constituição do Estado Nacional”, “Direito e Legislação Social, as instituições de Direito no Brasil”, “Política Social, o público e o privado: as políticas sociais e a constituição da esfera pública”, “Desenvolvimento Capitalista e Questão Social, a inserção do Brasil na divisão internacional do trabalho. A constituição das classes sociais, do Estado e as particularidades regionais”, “Classes e Movimentos Sociais, as teorias sobre classes sociais e sujeitos coletivos”, “ Direitos sociais e humanos do Brasil”. “Movimentos sociais em suas relações de classe, gênero e étnico-raciais”, “Fundamentos Históricos e Teóricometodológicos do Serviço Social, as fontes teóricas que fundamentam historicamente o Serviço Social”, Etc. No novo currículo, ou nas novas Diretrizes da ABEPSS, onde as mesmas são diferentes das diretrizes do MEC, e é um desafio contínuo da ABEPSS acompanhar a implantação das Diretrizes Curriculares, onde estão articuladas em três eixos, que se sustentam em um tripé dos conhecimentos organizados pelos núcleos de fundamentação da formação profissional, onde esses núcleos estão articulados nos fundamentos teóricos – metodológico, ético político da vida social onde abrange ser social enquanto totalidade histórica, e faz uma análise do Serviço Social em seu caráter contraditório e os fundamentos do Serviço Social como uma especialização do trabalho. Segundo o Ministério da Educação (1999, p. 04) “os núcleos englobam, pois, um conjunto de conhecimentos e habilidades que se especifica em matérias, 52 enquanto áreas de conhecimentos necessários à formação profissional”. Ressaltando, o estágio curricular obrigatório deve ser desenvolvido durante o processo de formação profissional, afirmando que o estágio se configura a partir da inserção do aluno no espaço sócio-institucional com o intuito de preparar o aluno para o exercício profissional e a sua supervisão será feita pelo professor supervisor e pelo profissional do campo, através de um acompanhamento institucional, por isso o aluno deve estar sempre estudando e em busca de atualizações para a sua formação profissional, a sua supervisão de estágio deve ser baseada nos planos de estágio que devem ser elaborados em conjunto pelas unidades de ensino e pelas instituições que oferecem os estágios. Enfim, existem vários desafios para a ABEPSS na defesa de uma formação profissional de qualidade, e por uma construção de um estágio31 supervisionado que esteja em consonância com as diretrizes curriculares da ABEPSS. Diante do exposto no próximo tópico será abordado o estágio no ensino superior e no Serviço Social. 2.2 O estágio no ensino superior brasileiro e no Serviço Social. Entende-se como estágio supervisionado, inserir o aluno no espaço sócioinstitucional a fim de capacitá-lo para o exercício profissional, essa capacitação envolve a dimensão investigativa, reflexiva e interventiva da profissão. A atividade do estágio pressupõe um olhar crítico, reflexivo e investigativo, capaz de propiciar como aprendizado o enfrentamento das situações que são colocadas à profissão. O estágio é um instrumental para o estudante se preparar para o seu cotidiano profissional, no campo do estágio o aluno coloca em prática tudo que aprendeu na faculdade, é nesse momento de aprendizagem que o aluno coloca em prática o seu senso crítico sobre a realidade posta para os profissionais de Serviço Social. Segundo a Lei 11.788, de 25 de setembro de 2008, o estágio é um ato educativo supervisionado, devendo ser desenvolvido no ambiente de trabalho 32. O estágio faz parte do projeto pedagógico do curso, integrando o itinerário formativo do 31 Ocorreram em 2009 Oficinas Locais, fóruns, Oficinas Regionais e a Oficina Nacional de Graduação que consolidaram os processos de debates da PNE (Rodrigues, 2009, p. 11). 32 Para essa discussão teve-se como referência a Lei 11.788/2008, Lei que Regulamenta o Estágio no Brasil. 53 educando. O estágio pode ser obrigatório33 e não obrigatório34, órgão de administração pública direta35, funcional, autárquica, podendo ser dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Alunos devidamente matriculados no curso de ensino superior educação profissional e médio, que estejam frequentando regularmente, podem ser estagiários (art. 1º da Lei nº 11.788/2008). Segundo os arts. 3º e 15º da Lei 11.788/2008, o estágio não se caracteriza como um vínculo de emprego de qualquer natureza, todavia de acordo com o art. 3º da Lei 11.788/2008, os requisitos para a concessão do estágio devem ser respeitados: I “matrícula e frequência regular do educando público-alvo da Lei; II” celebração de termo de compromisso entre o educando, a parte concedente do estágio e a instituição de ensino; e “III. Compatibilidade entre as atividades desenvolvidas no estágio e as previstas no termo de compromisso”. Segundo o art. 4º da Lei 11.788/2008 e a legislação vigente, o estágio pode ser concedido a alunos estrangeiros, se esses estiverem devidamente matriculados em cursos superiores no Brasil, autorizados ou reconhecidos. É de obrigação da instituição de ensino em relação aos estagiários, celebrar termo de compromisso com o aluno ou com um representante legal; se faz necessário ser avaliado as instalações da parte concedente do estágio e sua adequação à formação cultural e profissional do educando; um professor precisa ser indicado para ser orientador da área a ser desenvolvida no estágio como responsável pelo acompanhamento e avaliação das atividades desenvolvidas no campo de estágio, deve conter visto de orientador da instituição de ensino e do supervisor da parte concedente (§ 1º do art. 3º da Lei 11.788, de 2008), se as normas do termo não forem cumpridas o estagiário deverá ser reorientado para outro local, de acordo com o art. 7º da Lei 11.788/2008), deve ser comunicado à parte concedente do estágio, o início do período letivo, as datas de realizações das avaliações acadêmicas. O estágio supervisionado encontra-se como elemento de processo formativo desde as primeiras escolas de Serviço Social no Brasil em 1930. Desde a origem do curso o estágio tem papel central na formação profissional, sendo percebido como fundamental para a garantia de qualidade nesse processo 33 Estágio obrigatório é definido como pré-requisito no projeto pedagógico do curso para aprovação e obtenção do diploma (§ 1º do art. 2º da Lei nº 11.788/2008). 34 Estágio não obrigatório é uma atividade opcional, acrescida à carga horária regular e obrigatória (§ 2º do art. 2º da Lei nº 11.788/2008). 35 Órgão de administração pública é aquele exercido diretamente pela União, Estados e Municípios, que se utiliza de ministérios, secretarias, departamentos e outros órgãos. 54 (ANDRADE, 2007). O estágio é o lócus gerador de aprendizagem teórico, técnicas e metodológicas. É no estágio que articulamos os saberes aprendidos em sala e apreendemos outros juntos a realidade. Destarte, é de inteira obrigação da parte concedente do estágio, celebrar termo de compromisso com a instituição de ensino aluno, suas normas devem ser seguidas; a instituição que concede o estágio deve oferecer um aprendizado social, cultural e profissional, a instituição do campo de estágio deverá indicar um supervisor de campo, para orientar e supervisionar até dez estagiários simultaneamente, todavia, o estagiário terá uma apólice de seguro cujo valor seja compatível com o mercado, quando o estagiário se desligar da instituição, deve ser lhe concedido um termo de realização do estágio, nesse termo deve conter de forma resumida suas atividades desenvolvidas durante o período de estágio; segundo o art. 9º da Lei nº 11.788/2008, deve ser enviado à instituição de ensino, um relatório semestral, contendo as atividades do estagiário, com vista obrigatória. Segundo a lei 11.788/2008 que regulamenta o estágio, a jornada diária de estágio, deverá ser definida de comum acordo entre a instituição de ensino e a instituição que concede o estágio, a sua carga horária deverá constar no termo de compromisso. Contudo, nos dias de prova o aluno terá sua jornada reduzida, o estágio poderá ter a duração de até dois anos. Todavia, a lei que regulamenta o estágio deve ser seguida e respeitada tanto pela instituição de ensino, pelo aluno e pela instituição que concede o estágio. O estágio é fundamental para a nossa formação profissional, ele é o momento de aprendizado prático, em meio ao campo teórico vivenciado na faculdade, no campo de estágio podemos dialogar a teoria com a prática. Segundo o Decreto: nº 87.497 de 18 de Agosto de 1982 traz no seu artigo 2º a seguinte definição: "Considera-se estágio curricular, para os efeitos deste Decreto, as atividades de aprendizagem social, profissional e cultural, proporcionada ao estudante pela participação em situações reais da vida e trabalho de seu meio, sendo realizada na comunidade em geral ou junto a pessoas jurídicas de direito público ou privado, sob-responsabilidade e coordenação da instituição de ensino". Diante o exposto, um dos momentos fundamentais na formação do(a) assistente social é o contato com o exercício profissional que se dá através do estágio, o estágio é um dos momentos significativos onde se articula teoria e prática. 55 Dialogando com Silva et al (2010, p. 63), para o aluno(a) o estágio se caracteriza numa ocasião de relevantes reflexões sobre a profissão. “As atividades desenvolvidas no estágio estão diretamente ligadas às expectativas profissionais, sendo satisfatórias ou não para os futuros profissionais em Serviço Social”. Buriolla (2001) ressalta que o estágio é o campo de treinamento, espaço de aprendizagem do fazer concreto do serviço social. Ainda, segundo a referida autora o estágio é o lócus onde a identidade profissional do aluno é gerada, construída e referida; volta-se para o desenvolvimento de uma ação vivenciada, reflexiva e crítica e, por isso, deve ser planejado gradativamente e sistematicamente. Segundo a ABESS/CEDEPSS (1997, p. 71) o estágio curricular obrigatório é uma atividade que se configura a partir da inserção do aluno no espaço sócio-institucional, a fim de capacitá-lo para o exercício profissional, “o que pressupõe uma visão sistemática”. Essa supervisão se dará por meio de um professor supervisor, e por um profissional de campo no caso terá que ser um assistente social: A supervisão de estágio é uma atribuição privativa do assistente social, ou seja, é vedado a outro profissional exercer a supervisão de estagiários de Serviço Social, em conformidade com o inciso Vl do artigo 5º da Lei n. 8.662/93 (Código de Ética do assistente social, 2012, p. 164). A supervisão do estágio em Serviço Social faz parte do trabalho profissional, “faz parte das condições objetivas dos assistentes sociais e do professor” (Lewgoy, 2009, p. 52). Essa supervisão se dá através de reflexões, ABESS/CEDEPSS, 1997, p. 71, acompanhamento e sistematização com base em planos de estágio, elaborados em conjunto entre unidade de ensino e unidade de campo de estágio, tendo como referência a Lei 8662/93 (Lei de Regulamentação da Profissão) e o Código de Ética Profissional. Sendo assim, podemos entender como estágio supervisionado, um processo de aprendizado para a formação profissional, que vai se afirmando diante do acompanhamento organizado, das orientações e do ensino, com o intuito de garantir ao aluno a capacidade de produzir conhecimento sobre a realidade na qual se encara o estágio e o mesmo ser capaz de intervir nessa realidade, através de políticas sociais. 56 O estágio pode ser desenvolvido em instituições pública e privada, e cursos como Serviço Social contam com um supervisor de campo. Esse momento de aprendizagem consiste na preparação do aluno, enquanto profissional em formação preparando o mesmo para o mercado de trabalho. Todavia, o estágio dá as suas devidas contribuições para a formação acadêmica do estudante de Serviço Social, momento de reflexão da teoria sobre a prática, vivência real do cotidiano do assistente social, emprego de técnicas e instrumentais que geram um aprendizado profissional. O assistente social atua nos tensionamento das classes sociais (burguesia e classe trabalhadora) e, por isso, ele pode escolher em responder aos interesses do capital ou do trabalho. Dialogando com Ferrarine (2003), à formação em Serviço Social ganha elementos próprios, os quais fazem do estágio momentos de dúvidas, questionamentos e incertezas. É um período enriquecedor de aprendizado, pois é nesses momentos que sabemos o verdadeiro valor da profissão. No cotidiano do estágio, surgem inúmeras dúvidas sobre as atribuições e competências do assistente social na área, pois estes dependem de regras, normas impostas pela própria instituição que emprega o Serviço Social. Nessa perspectiva, o papel da supervisão de estágio é fundamental na formação profissional do aluno, a supervisão contribui no processo de formação por meio do ensino e aprendizagem, ela não se limita apenas aos alunos, mas também aos supervisores de campo, estes se beneficiam por meio desta. Diante do exposto no próximo tópico será abordado o papel da supervisão de estágio em Serviço Social. 2.3 O papel da supervisão de estágio em Serviço Social O Serviço Social está inserido na divisão sócio-técnica do trabalho, atuando de forma expressivamente na prática interventiva da realidade social. Nessa perspectiva, o papel da supervisão de estágio se materializa por meio de planejamento, orientações, acompanhamento e da estima que está no decurso do ensino e aprendizagem. Afirmando, o que a PNE-Política Nacional do Estágio, da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS, 2010, p. 03): 57 O estágio, enquanto atividade didático-pedagógica, pressupõe a supervisão acadêmica e de campo, numa ação conjunta, integrando planejamento, acompanhamento e avaliação do processo de ensino-aprendizagem e do desempenho do (a) estudante, na perspectiva de desenvolvimento de sua capacidade de investigar, apreender criticamente, estabelecer proposições e intervir na realidade social. Segundo Buriolla (2011, p. 82) “supervisor e supervisionado estão inseridos na dinâmica relacional, e esse vínculo pode assumir variados matizes, tais como de dependência, autoritarismo, competição, cooperação e de amizade” essa articulação entre supervisão acadêmica e de campo, se constitui como um dos princípios para a formação profissional em Serviço Social. O estágio curricular é um instrumento fundamental para que o aluno venha desenvolver uma postura crítica, propositiva e investigativa, para que o mesmo venha intervir na realidade posta em seu campo de estágio. É necessário estar em consonância com as Diretrizes Curriculares da ABEPSS e com o projeto ético-político profissional. Conforme Buriolla (1999, p. 13), o estágio supervisionado em Serviço Social: É concebido como um campo de treinamento, um espaço de aprendizagem do fazer concreto do Serviço Social, onde um leque de situações, de atividades de aprendizagem profissional se manifesta para o estagiário, tendo em vista a sua formação. Nessa perspectiva, a supervisão do estágio é um espaço para a instrumentalização das demandas da prática. Guerra (2002, p. 05) “só o estágio permite a análise concreta de situações concretas”. Nessa perspectiva, Oliva afirma: Dentre as formas diversas de convivência com a realidade, o estágio na formação profissional é fundamentalmente uma alternativa de conhecimento da realidade concreta, uma forma de apropriação de conhecimento e questões presentes na sociedade (1989, p. 150). Destarte, a prática profissional do assistente social abrange as dimensões ético-política, teórico-metodológica e técnico-operativa, sua concretização se dá na ordenação e na execução de políticas sociais, os termos para as reais possibilidades do assistente social, da sua intervenção. É necessário que o profissional de Serviço Social, desde seu período de formação, seja preparado para o exercício profissional: O estágio supervisionado tem um significativo papel no processo de formação profissional, pois representa essencialmente ao aluno uma possibilidade de aproximação da realidade cotidiana dos indivíduos sociais, 58 associada à apropriação de conhecimentos teórico-metodológicos, que orientam o exercício profissional do assistente social (OLIVEIRA, 2004, p. 65). A supervisão é um processo de ensino-aprendizagem, onde há aprendizagem tanto pelo supervisor de campo, como também pelo estagiário, esse processo envolve tempo, momentos, um conjunto de vivências. A supervisão como um processo de ensino e aprendizagem é um espaço afirmativo de formação. Nessa perspectiva, a supervisão é um processo complexo Lewgoy (2009, p. 132-133) “supõe apreensão da realidade concreta da sociedade, da formação, da universidade, do campo, do acadêmico e do processo de ensino-aprendizagem”. Nesse ponto um momento de questionamento, reflexão, e de incorporar a teoria numa dimensão pedagógica, é um ambiente do qual o supervisor e supervisionado tem o papel de se colocar disponível nesse processo de ensino e aprendizagem no qual está inserido. O estagiário sujeito que também está incluido nesse processo deve levar suas experiências, conhecimentos adquiridos na academia, com o objetivo de contribuir em seu trabalho na instituição. A instituição de ensino, deve se fazer presente nesse processo, com o intuito de acompanhar o desenvolvimento do estagiário, as condições a qual esse estágio está se realizando, com o objetivo de evitar possíveis problemas entre a instituição acadêmica e a supervisão realizada no campo de estágio. Além do dever de acompanhar o processo formativo, de articulação desse momento de ‘prática’ com os conhecimentos ensinados em sala de aula. É de fundamental importância que o aluno estagiário seja capacitado para os desafios postos em seu campo de estágio, o enfrentamento do exercício profissional na condição de estagiário, nunca como mero reprodutor de outros profissionais ou como substituto do qual. A Lei 8.662/93, que dispões sobre a profissão do assistente social, Código de Ética Profissional (1993) são instrumentos imprescindíveis a serem vivenciados cotidianamente nos espaços de trabalho, bem como nos campos de estágio (Lewgoy, 2009, p. 138-139), a Lei 11.788/2008, que dispõe sobre o estágio de estudantes. Nessa perspectiva, o reconhecimento da legislação que abriga e protege o estagiário devem ser seguidas e respeitadas. A Lei n° 11.788 de 25 de Setembro de 2008, define no capítulo IV – do estagiário, art. 10, p. 20-21 que: 59 [...] A jornada de atividade em estágio será definida de comum acordo entre a instituição de ensino, a parte concedente e o aluno estagiário ou seu representante legal, devendo constar do termo de compromisso ser compatível com as atividades escolares e não ultrapassar: [...] II 6 (seis) horas diárias e 30 (trinta) horas semanais, no caso de estudantes do ensino superior, da educação profissional de nível médio e do ensino médio regular. §1º O estagiário relativo a cursos que alternam teoria e prática, nos períodos em que não estão programadas aulas presenciais, poderá ter jornada de até 40 (quarenta) horas semanais, desde que isso esteja previsto no projeto pedagógico do curso e da instituição de ensino. §2º Se a instituição de ensino adotar verificações de aprendizagem periódicas ou finais, nos períodos de avaliação, a carga horária do estágio será reduzida pelo menos à metade, segundo estipulado no termo de compromisso, para garantir o bom desempenho do estudante. O estágio supervisionado é exercido como uma atividade pedagógica é de competência da instituição de ensino Lewgoy (2009, p. 139) “decidir sobre carga horária e atividades do estagiário, de modo que experiências vivenciadas colaborem no seu processo educativo”. A instituição de ensino deve fiscalizar os campos de estágio, a respeito do desenvolvimento dos estagiários, vale ressaltar se os estagiários estão desenvolvendo o que é coerente com a profissão e não sendo usado para outros fins que venham a prejudicar a sua formação, por exemplo, sendo usado como mão de obra barata. Junqueira afirma: A obra (instituição), que em geral luta com a falta de pessoal, solicita do aluno, a execução dos trabalhos mais variados sem certa sequencia, e muitas vezes de ordem puramente administrativa, ou de outra natureza qualquer Consequência: o aluno presta serviços a obra, deixa lá um bom nome, desembaraça-se, mas não adquire prática de Serviço Social propriamente dita. Qualquer pessoa de boa vontade e de certa cultura realizaria o mesmo trabalho, Falta um dos fatores essenciais para o aproveitamento do estágio – a supervisão (1947, p.300). A supervisão é fundamental na formação profissional do aluno, no campo de estágio, o aluno conhece mais profundamente a profissão e põe em questão o que aprende na faculdade e vivencia em seu campo de estágio, sendo assim ele define sua postura em relação à profissão: Seu papel social e sua prática profissional, definindo também que tipo de profissional pretende ser. Por isso, a supervisão se torna de extrema relevância para uma formação profissional de qualidade, que forme o aluno sobre o conhecimento teórico-metodológico, técnico-operativo e éticopolítico referente à sua profissão, possibilitando que tenha clareza sobre o papel e o objeto de sua profissão, capacitando-o e instrumentalizando-o para o exercício profissional (Horácio, 2011, p. 37). 60 Por fim, o estágio mostra ao assistente social em formação o significado social da profissão e da construção de sua identidade profissional, ele se constitui como atividade pedagógica, com o intuito de estimular o aprendizado da realidade social e ao articularmos teoria e prática, entende-se que elas são indissociáveis no processo de construção do ensino e aprendizagem. Evidentemente, o acadêmico, a instituição campo de estágio, a instituição de ensino, supervisores, que cuidam da formação acadêmica, fornecerão a sociedade profissionais capacitados, humanizados que atuam nas expressões da questão social e na tentativa de construir uma sociedade democrática, nesse sistema capitalista que oprime a classe trabalhadora, profissionais qualificados para atuar na garantia de viabilização de direitos no dia-a-dia de trabalho. Diante do exposto no próximo capítulo será abordado o percurso metodológico e a análise da pesquisa de campo, aliando a trajetória entre teoria e prática. 61 3. ALIANDO A TRAJETÓRIA ENTRE TEORIA E PRÁTICA Neste capítulo, destaca-se o percurso metodológico da pesquisa, o estágio no curso de Serviço Social na Faculdade Cearense-FAC, seus aspectos e aborda a análise das entrevistas realizadas com os alunos(as) estagiários(as) na política de saúde. 3.1. Percurso Metodológico A pesquisa será norteada pela vertente marxista, o método o qual irei me apropriar é a dialética, pois me possibilita enxergar que a realidade está em constante processo de transformação, com isso irei enxergar a totalidade dos sujeitos a serem pesquisados, buscando críticas e viabilizando a compreensão dos mesmos, onde podemos pensar que a realidade é dinâmica. Segundo Minayo (1994, p. 77), O método reverencia a primazia da fala contextualizada: “essa compreensão tem, como ponto de partida, o interior da fala. E, como ponto de chegada, o campo da especifidade histórica e totalizante que produz a fala”. Diante o exposto, será analisada a relação entrevistado e pesquisador, e o método dialético irá possibilitar compreender esse movimento: Enquanto o materialismo histórico representa o caminho teórico que aponta a dinâmica do real na sociedade, a dialética refere-se ao método de abordagem deste real. Esforça-se para entender o processo histórico em seu dinamismo, provisoriedade e transformação. Busca aprender a prática social empírica dos indivíduos em sociedade (nos grupos e classes sociais), e realizar a crítica das ideologias, isto é, do imbricamento do sujeito e do objeto, ambos históricos e comprometidos com os interesses e as lutas sociais de seu tempo. Como se pode perceber, esses dois princípios estão profundamente vinculados, naquele sentido já advertido (e citado anteriormente) por Lênin: “O método é a própria alma do conteúdo.”(Minayo 1996, p. 65). Partindo desse pressuposto, a dialética oferece as bases para uma interpretação dinâmica e totalizante dos sujeitos da realidade a serem estudados, já que os fatos não podem ser compreendidos isoladamente. Segundo Saviani (1991), o mundo material é dialético, isto é, está em constante movimento, e historicamente as mudanças ocorrem em função das contradições surgidas a partir dos antagonismos das classes no processo da produção social. Partindo dessa análise, a presente pesquisa será de cunho qualitativo, pois a pesquisa qualitativa nos possibilita uma aproximação com o objeto de estudo, 62 com a realidade posta. É uma pesquisa que traz inúmeros questionamentos, faz uma aproximação daquilo que desejamos conhecer, fazendo uma aproximação entre pesquisa e pesquisador. Partindo desse pressuposto, a realidade é construída socialmente e que se requer uma compreensão contínua dessa construção social para que os homens tenham clareza dessa realidade (Berger e T.Luckmann, 1978). A mesma ainda contou com uma pesquisa bibliográfica, documental e de campo. Para o delineamento do objeto, a primeira tarefa proposta foi à realização de pesquisa bibliográfica, capaz de projetar luz e permitir uma ordenação ainda imprecisa da realidade empírica (Minayo 2010, p. 97). Buscando aproximar-se de pesquisadores que possam colaborar e somar com as mesmas, Gil (2008) ressalta que, a pesquisa documental e bibliográfica é próxima com características que as completam. Ainda segundo Gil (2008, p. 51), “a pesquisa documental assemelha-se muito à pesquisa bibliográfica, a única diferença que há entre as duas são as fontes”. Assim, a pesquisa bibliográfica se utiliza de contribuições de diversos autores, sobre um determinado assunto, e a pesquisa documental vale-se de materiais que ainda não receberam um tratamento analítico. Destarte, a pesquisa de campo foi realizada na Faculdade Cearense no curso de Serviço Social. Os sujeitos da pesquisa foram os estudantes/estagiários que tem como campo de estágio a política de saúde, e estão devidamente matriculados no 6º, 7º e 8º semestre, noite, na disciplina de estágio ll e III. Foram escolhidos dez estudantes para a realização das entrevistas, sendo uma escolha aleatória. A coleta de dados teve como instrumento a entrevista semi-estruturada que foi voltada para o público de estudantes: O que torna a entrevista instrumento privilegiado de coleta de informações é a possibilidade de a fala ser reveladora de condições estruturais, de sistemas de valores, normas e símbolos (sendo ela mesmo um deles) e ao mesmo tempo ter a magia de transmitir, através de uma porta-voz, as representações de grupos determinados, em condições históricas, sócioeconômicas e culturais específicas (Minayo 1996, p. 109). A entrevista semi-estruturada faz-se elemento de fundamental importância ao pretendido pela pesquisa, no qual o instrumento contou com perguntas abertas e fechadas, sendo todas entrevistas gravadas e depois transcritas de forma integral. 63 Todos os estudantes que foram convidados(as) a participarem da pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, impresso em duas vias, onde o primeiro termo ficou com o(a) entrevistado(a) e o segundo com o entrevistador. Quanto aos sujeitos forma fornecidos nomes de rosas, preservando seus nomes, respeitando as questões éticas e mantido o sigilo das identidades dos mesmos. Diante o exposto no próximo tópico será analisado a trajetória da faculdade cearense, bem como a inserção do curso de Serviço Social na respectiva instituição. 3.2. O estágio no curso de Serviço Social da Faculdade Cearense – aspectos históricos e as instituições de campo de estágio na área da saúde A Faculdade Cearense está localizada na Av. João Pessoa, 3884, Damas, no município de Fortaleza – Ceará. Foi fundada em 2002 e tem como função contribuir na formação e qualificação de recursos humanos em Fortaleza. Em 2004, foi realizado o primeiro vestibular para o curso de Direito e no ano seguinte para os demais cursos, Administração, Jornalismo, Publicidade e Propaganda, Pedagogia e Turismo. Em seu percurso histórico houve muitas conquistas e hoje a Faculdade Cearense conta com um corpo de quatro mil discentes: No processo de implantação de seus cursos foram considerados múltiplos aspectos dentre os quais as potencialidades da região nordeste, do estado do Ceará e da cidade de Fortaleza, representadas por aqueles fatores, recursos e atividades socioeconômicas existentes; disponíveis; não utilizados ou total ou parcialmente utilizados e que, por suas características, têm apelo suficiente para estimular ou inibir a ampliação de novos empreendimentos (Projeto Pedagógico do Curso de Serviço Social, s/d, p. 01). A Faculdade Cearense oferece um ensino de qualidade, possibilitando uma produção intelectual, demonstrando seus valores, sua qualificação na sociedade o qual está inserida. No ano de 2008, foi autorizado o funcionamento para o curso de Serviço Social da Faculdade Cearense, no qual já formou sua primeira turma e hoje é reconhecido pelo MEC36. Todavia, sua organização didática pedagógica está com um diploma conferido em bacharelado, com modalidade de ensino presencial, duração de quatro 36 Ministério da Educação é um órgão do governo federal do Brasil. 64 anos, carga horária mínima do curso de 3.200 horas, regime letivo semestral, turno de oferta matutino e noturno37. O Serviço Social enquanto profissão se qualifica por ser uma profissão, crítico e interventivo, está pautado em seu projeto ético-político comprometido com os direitos sociais, luta por uma sociedade mais justa e igualitária. A Faculdade Cearense apresenta uma matriz curricular que está adaptada a exigências que se apresenta no cotidiano da profissão. O curso de Serviço Social da Faculdade Cearense foi elaborado: Com uma estrutura curricular que visa atender as exigências mínimas de conteúdo e de duração determinados através da Lei no 9.394, de 20 de Dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação), Parecer CNE/CES nº. 492, de 3 de abril de 2001, Parecer CNE/CES nº 1.363, de 12 de dezembro de 2001,Resolução CNE/CES nº 15, de 13 de março de 2002, Lei nº 8.662 de 7 de junho de 1993 que regulamenta a profissão e as diretrizes recomendadas pela Associação de Ensino e Pesquisa em Serviço Social - ABEPSS para os Cursos de Serviço Social (Projeto Pedagógico do curso de Serviço Social, s/d, p. 08). Nessa perspectiva, sua estrutura curricular do curso de Serviço Social está consolidada em um anexo de conhecimentos interligados que sistematizam os núcleos de fundamentação da formação profissional. O curso de Serviço Social da Faculdade Cearense se constitui em disciplinas obrigatórias, optativas, seminários temáticos, seminários de Serviço Social e oficinas. O mesmo é composto por trinta disciplinas obrigatórias, dois seminários temáticos, dois seminários de Serviço Social e cinco oficinas, sendo ofertadas apenas quatro disciplinas optativas. Todavia, a matriz curricular do curso conta com dois elementos indispensáveis a formação profissional que é o TCC – Trabalho de Conclusão de Curso e o Estágio Supervisionado enquanto atividade obrigatória (Projeto Pedagógico do Curso de Serviço Social). A Faculdade Cearense acredita que a formação profissional deve promover uma “capacitação teórica-metodológica e ético-política, como requisito fundamental para o exercício de atividades técnico-operativa” (Projeto Pedagógico do Curso de Serviço Social, s/d, p. 19). A intuição está comprometida com o ensino, a pesquisa e a extensão. Sendo o Estágio Supervisionado uma atividade curricular obrigatória que se 37 Para essa discussão teve-se como referência o Projeto Pedagógico do curso de Serviço Social da Faculdade Cearense. 65 configura a partir da inserção do aluno no espaço sócio-institucional, objetivando capacitá-lo para o exercício profissional. Sua supervisão é feita em conjunto por um professor supervisor acadêmico e um supervisor de campo, através da reflexão, acompanhamento e sistematização com base em um plano de estágio (Projeto Pedagógico do curso de Serviço Social, s/d, p. 19-20). De acordo com o Projeto Pedagógico do curso de Serviço Social da Faculdade Cearense, dentro da disciplina de estágio supervisionado como atividade curricular obrigatória, existe o campo de estágio que se caracteriza como espaço sócio-institucional, seja ela de âmbito pública ou privada, e a instituição de ensino o qual o aluno está inserido é responsável pelo campo de estágio. Segundo o Projeto Pedagógico do curso de Serviço Social da Faculdade Cearense, dentro da disciplina de estágio supervisionado como atividade curricular obrigatória, existe o campo de estágio que se caracteriza como espaço sócioinstitucional, seja ele de âmbito público ou privado, e a instituição de ensino o qual o aluno está inserido e é responsável pelo campo de estágio. O estágio supervisionado é um momento enriquecedor e privilegiado de ensino e aprendizagem na vida do discente. Destarte, a Faculdade Cearense firma convênios com instituições públicas e privadas para o desenvolvimento do estágio. As instituições campo de estágio na área da saúde que a Faculdade Cearense tem convênio é o Hospital Nossa Senhora da Conceição - HNSC, Instituto Dr. José Frota - IJF, Hospital São José de doenças infecciosas- HSJ, Frotinha de Parangaba, Frotinha do Antônio Bezerra Frotinha de Messejana, Gonzaguinha da Barra do Ceará, Gonzaguinha do José Walter e Gonzaguinha de Messejana. A Matriz Curricular do curso de Serviço Social se compõem em: Currículo do curso de Serviço Social da Faculdade Cearense Disciplinas Período Carga Disciplinas Período Horária Sociologia Clássica 1º Teorias Psicológicas 1º Carga Horária 80 Correntes Modernas da 2º 40 80 Filosofia Sociologia 2º 80 2º 40 Contemporânea Seminário de Serviço Social l 1º 40 Seminário Temático l 66 Fundamentos de 1º 80 Economia Política 2º 80 1º 80 Capitalismo e Questão 2º 80 40 Social Antropologia Social e 2º 80 Filosofia Língua Portuguesa Metodologia do Trabalho Cientifico Pesquisa em 1º Cultural 3º 80 Pesquisa em S.S ll 4º 80 Psicologia Social 3º 40 Politica Social Setorial 4º 80 Fund. Hist. Teórico 3º 80 Questão Social no Brasil 4º 80 e Met. Do Serviço Formação Social l 3º 80 Ética Profissional em S.S 4º 80 3º 40 Fundamentos His. Teor. 4º 80 Serviço Social l Socioeconômica e Política ldo Brasil Oficina Met. Em S.S Politica Social 3º 80 Seminário Temático ll 4º 40 Estágio 5º 80 Fund. Hist. Teórico e Met. 6º 80 80 do Serviço Social lV Estágio Supervisionado 6º 80 Supervisionado em Fund. Teórico ServiçoHist. Social l 5º do Serviço Social lll em Serviço Social ll Oficina ll 5º 40 Oficina lll 6º 40 Serviço Social e 5º 80 Questão Social no Ceará 6º 80 Processo de Direito e Legislação Trabalho 5º 80 Questão Social na área da 6º 80 Social saúde Optativa l 5º 40 Optativa ll 6º 40 Estágio 7º 80 Trabalho de Conclusão de 8º 120 Supervisionado em Curso-TCC Serviço lV Social lll Oficina 7º 40 Oficina V 8º 40 Fundamentos de 7º 80 Seminário de Serviço 8º 40 8º 40 TCC Ética e Direitos 7º 80 Humanos Planej. E Adm. Em 7º 80 Serviço Social Social ll Optativa lV 67 Optativa lll 7º 40 O estágio supervisionado se constitui como uma disciplina curricular obrigatória, com o objetivo de capacitar o aluno para o exercício profissional. De acordo com o Projeto Pedagógico do curso de Serviço Social da Faculdade Cearense (s/d, p. 36-37) seus objetivos são: Proporcionar ao acadêmico oportunidade de analise da realidade que se constitui campo de estágio, referendando nos conhecimentos teórico/prático adquiridos no decorrer do curso; Propiciar ao acadêmico condições de planejar, intervir e avaliar sua ação na realidade, aproximando teoria e prática; Possibilitar ao acadêmico condições de sistematizar conhecimentos a partir de sua prática a luz do referencial teórico; Instrumentalizar o estagiário para construção de metodologia, de intervenção, de acordo com as demandas da realidade, critérios éticos e profissionais. Em seu currículo, são designadas 240 horas às disciplinas de estágio supervisionado l, ll, lll, sendo acrescentados em seu currículo mais 360 horas, referentes à prática do estágio, 120 horas por semestre. De acordo com o Projeto Pedagógico do curso de Serviço Social da Faculdade Cearense, a disciplina de estágio supervisionado está pautada nos princípios norteadores da Política Nacional de Estágio em consonância com a Lei 11.788/2008 e a Resolução 533/2008 do CFESS, sendo incluídas outras resoluções concernentes ao estágio. Como se vê o número de disciplinas teóricas é bem superior ao de disciplinas práticas: A estruturação e a organização dos cursos de graduação centradas nos elementos ditos teóricos atribuem ao estágio o papel de lidar com a dimensão da prática, evidenciando-se assim um enfoque dicotômico no nível do ensino, onde o ‘saber’ e o ‘fazer’ são considerados elementos paralelos, autônomos e independentes – pólos distintos de um mesmo processo (OLIVEIRA, 2004, p.73). O assistente social é um profissional qualificado, a atuar nas mais diversas expressões da questão social, que formula e implementa propostas para o seu enfrentamento, profissional interventivo, generalista crítico, comprometido com o seu projeto ético-político e com os princípios e valores que norteiam o Código de Ética Profissional, um profissional que apresente respostas condizente com o seu exercício profissional que prima pela efetivação e viabilização dos direitos dos seus usuários. 68 A Faculdade Cearense busca formar profissionais capazes de atuar nas mais diversas áreas, evidenciado a importância da sua prática no meio em que atua. Diante do exposto no próximo tópico será analisado o estágio supervisionado em Serviço Social, como o estagiário analisa a prática do assistente social, será feita a análise das falas. 3.3 O Estágio Supervisionado em Serviço Social na área da Saúde: socializando experiências Como citado anteriormente, o estágio curricular obrigatório configura uma inserção do aluno no espaço sócio-institucional, com o objetivo de capacitá-lo para o exercício profissional. Segundo Buriolla (1999, p. 13) “o estágio é o lócus onde a identidade profissional do aluno é gerada, construída e referida”. O mesmo é fruto de um componente pedagógico do curso de Serviço Social, é um “lócus” gerador de aprendizagem, teórico, técnico e metodológico. Entende-se como supervisão “um neologismo formado pelo prefixo ‘super’, sobre, e ‘visão’, olhar; significa olhar de cima, olhar de conjunto, um todo” (Vieira, 1979, p. 34). Aqui significa um conhecimento superior aos demais, pois conforme Buriolla (2003, p. 20-21) supervisão “é um processo administrativo e educacional pelo qual uma pessoa (o supervisor), possuidora de conhecimento e prática, tem o compromisso de treinar outra (o supervisionado)”. Partindo dessa analise, o supervisor está em uma posição diferenciada de seu estagiário por ter maior conhecimento e experiência profissional. Supervisionar exige conhecimento e configura-se como uma relação, onde estão envolvidos, supervisor: sujeito que realiza a ação e supervisionado: sujeito que sofre a ação. Sendo assim, é fundamental destacarmos o papel do supervisor no processo de formação do estagiário. Conforme relato abaixo, se observa como o supervisor de campo é essencial na formação do discente, pois este aspecto da formação está ligado à prática, ora tem sido protagonista, ora tem sido coadjuvante na prática profissional: De suma importância visto que o supervisor torna-se a 1ª referência profissional do aluno do que é a profissão na prática (Tulipa, 6º Semestre). Toda, minha supervisora de campo é uma pessoa com grandes qualidades, dentre elas compromisso, ela tem também grande comprometimento com o 69 atendimento ao usuário, e, portanto uma pessoa na qual eu vou sim me espelhar quando eu estiver atuando, quando eu estiver na prática (Cravo, 8º Semestre). Aqui as entrevistadas ressaltam o que foi citado anteriormente, que o supervisor de campo possui um papel essencial na formação do estagiário, “a supervisão de estagiários em Serviço Social é intrinsecamente um processo de ensino-aprendizagem” (Lewgoy, 2011, p. 41), existindo, assim, uma relação entre supervisor e supervisionado. Faz-se necessário indagarmos sobre o papel do estágio no processo de formação dos estagiários, haja vista que ele deve se constituir como um espaço de capacitação técnica para o exercício da prática, como um espaço privilegiado no processo de formação dos futuros assistentes sociais, possibilitando ao estagiário um encontro com o real, com o cotidiano da profissão: O estágio trouxe muitas angustias primeiramente eu comecei a achar que o estágio estava ali naquela dicotomização, de que na prática a teoria é outra, só que ai ao longo dos três semestres, eu comecei a ver a diferença, porque eu já tive outras vivências de seminários movimentos estudantis e tudo, mas nenhum desses espaços se comparam a um campo institucional, o estágio ele é o espaço privilegiado, porque ele faz com que a gente tenha esse contato mais de perto como o que o assistente social faz, e quais são as implicações desse fazer profissional se realmente é nós somos uma profissão que só nós sabemos o que é que a gente vai fazer (Violeta, 8º Semestre). Eu acho assim que a prática no estágio é fundamental, porque a prática no estágio é o divisor de águas do curso, que ai você vai saber realmente se é aquilo que você quer ou não, porque quando a gente está só nas aulas, no teórico, a gente tem todo aquele embasamento teórico, mas a gente não conhece muito a prática, a prática a gente vê só na teoria mesmo, a gente não tem diretamente a prática quando chego ao estágio eu acho imprescindível para o profissional mesmo (Gerbera, 6ºSemestre). A entrevistada nº 06, ressaltou que o estágio é um momento relevante na formação profissional, permitindo que o aluno se aproxime da prática, dos usuários e de suas demandas. “O estágio na formação profissional é uma alternativa de conhecimento da realidade concreta, uma forma de apropriação de conhecimento e questões presentes na sociedade” (OLIVA, 1989, p. 150). Sendo o estágio um momento importante na formação profissional: O estágio supervisionado tem um significativo papel no processo de formação profissional, pois representa essencialmente ao aluno uma possibilidade de aproximação da realidade cotidiana dos indivíduos sociais, 70 associada à apropriação de conhecimentos teórico-metodológicos, que orientam o exercício profissional do assistente social (OLIVEIRA, 2004, p. 65). O estágio é indispensável no processo de ensino e aprendizagem. Destarte, ao indagarmos com o estagiário sobre esse famoso jargão que na “prática a teoria é outra?” este em seu campo de estágio passa a ter um posicionamento em relação à profissão, e com isso definindo que tipo de profissional pretende ser. Contudo, esse desencontro existente na formação profissional que na “prática a teoria é outra” gerando frustrações nos discentes: Eu acredito que não exista essa dicotomia de que prática é uma coisa e teoria é outra, é, isso eu não devo a minha inserção no estágio, eu cheguei ao estágio e eu não vi que teoria e prática são coisas iguais, não iguais, mais que formam unidade né e isso eu consegui aprender a partir de estudos né, então foi estudando o pensamento social as contribuições do serviço social na qualificação do que é prática do que é teoria e como essa duas se articulam né, então no estágio eu cheguei lá observando como era a rotina mas eu já acreditava que a teoria é uma representação do que acontece na realidade né, então não acho que a realidade tem que ser do jeito que a teoria está dizendo e nem acho que a prática tem que ser o lugar é que vai levar a frente todo a teoria, é uma questão de unidade mesmo, então se a pessoa chega no estágio né, no quinto semestre e não tem estudado esse tipo de coisa antes, ela vai dizer obviamente ela vai reproduzir aquele discurso que a gente escuta até hoje em sala de aula né (Violeta, 8ºSemestre). Segundo Paulino, “afirma-se no discurso a unidade teoria/prática e o estágio como espaço para realizar esta síntese. No entanto a vivência dessa unidade no decorrer da formação profissional é problemática” (1995, p.301). E com as dificuldades em conciliar o que é aprendido na faculdade e colocar em prática no seu campo de estágio, gera muitas indagações ao estagiário: Como falei anteriormente a teoria e a prática andam de mãos dadas, só que muitas vezes no campo percebo que a teoria não é aplicada por parte de alguns profissionais, até porque existem profissionais com praticas ainda bem conservadores e assistencialistas, eu enquanto estagiária procurei sempre conciliar a teoria discutida em sala de aula, com a prática vivenciada em campo (Rosa, 8º Semestre). O primeiro impacto foi de que elas são bem diferentes teoria e prática, mas com o passar dos dias no estágio eu via que era possível sim, depende da postura de cada profissional né se eu tenho uma postura ética se eu tenho uma postura compromissada, a teoria ela não é distante da minha prática eu posso a todo o momento não vou dizer que 100 % dos atendimentos né eu vou utilizar uma teoria eu vou utilizar o que eu vi ali no livro naquela prática, mas que é possível sim fazer o link lá que a teoria ela se assemelha o que você adquire lá na academia, com as suas leituras como você vai 71 justamente interpretar essa realidade, portanto tem uma grande ligação (Jasmim, 7ºSemestre). E o cotidiano do estágio revela traços ora semelhantes, ora antagônicos da prática, pois uma série de fatores dificulta colocar a teoria em prática. Demonstrando uma multiplicidade de questões no campo de estágio. Estão interligadas, a teoria e a prática estão interligadas na prática, sem a teoria os profissionais não estariam conseguindo tentar atuar de uma forma bem significativa (Girassol, 7ºSemestre). Assim, a teoria e a prática ela está muito ligada o que a gente aprende aqui em sala de aula e o que a gente executa no campo de estágio são muito parecidos, mas nada como a prática tudo que a gente estuda aqui sobre questão social enfim inúmeros outros fatores é muito importante você acaba que está bastante ligado, mas como estou lhe falando, mas nada como executar você sente mesmo quando está na prática você não consegue ver o que é realmente o que é a profissão se você realmente não vivenciar (Lírio, 6º Semestre). A entrevistada nº 10 quando aborda sobre a questão mencionada, teoria e a prática no campo de estágio, também aborda sobre a questão levantada por Forti e Guerra: A leitura do real com essa amplitude supõe teorias macroscópicas sobre a sociedade, que possibilitem a apreensão tanto dos elementos estruturais quanto dos conjunturais, das peculiaridades de seus nexos com a totalidade, das relações entre vários elementos que compõem a realidade em que estamos inseridos e na qual pretendemos atuar profissionalmente (2011, p. 03). Assim, observa-se uma leitura crítica da realidade, esse desencontro da teoria com a prática, se dá em primeiro momento, em que o aluno é inserido no campo de estágio, na realidade posta aos assistentes sociais em seu cotidiano de trabalho quando este tem que atuar nas contradições do SUS: Para que se consiga a integração do Ensino Teórico e do Ensino Prático é imprescindível que ambos sejam planejados de maneira global e não separadamente, e que os objetivos específicos de cada tipo de ensino sigam o desdobramento de um objetivo único (VIEIRA, 1979, p.25). É necessário que esse assistente social em processo de formação se aproprie do projeto ético-político: 72 Um dos desafios de materialização desse processo organicamente vinculado ao projeto ético-político está na necessidade de o cotidiano romper com as ações reiterativas e fragmentadas, abrindo espaço para a elaboração de pensamento que siga movimentos lógico-dialéticos na interpretação da realidade com o objetivo de compreendê-la para transformá-la. (LEWGOY, 2009, p.46). Nessa perspectiva, o discente em seu campo de estágio deverá se apropriar das leituras críticas adquiridas na academia, para que este possa levar sua criticidade para o estágio, “uma leitura cientificista da realidade” (Guerra, 2002, p. 173), e com isso possa analisar que a teoria e a prática são indissociáveis, formam uma unidade, não há como elas serem dicotômicas. Sendo assim, os futuros assistentes sociais, devem ser formados a apreender o real com criticidade, e analisar as alterações na sociedade capitalista em que vivemos sociedade esta que oprime a classe trabalhadora. Assim, o discente em processo de formação deverá assumir um compromisso com o seu exercício profissional, que prioriza pelos direitos de seus usuários, “o que se configura como objeto profissional do Serviço Social é a operacionalização dos direitos de cidadania.” Rezende (2008, p. 39) No âmbito da saúde pública o assistente social deve buscar e reformular estratégias que garantam a real efetivação dos direitos, dentro do SUS, buscando viabilizar a saúde como direito de todos e dever do Estado. O curso de Serviço Social, por meio das práticas de estágio, está inserido na política de saúde. A inserção dos estudantes na instituição (hospital) se dá através do setor de Serviço Social que é composto por profissionais da área que atuam no hospital e também fazem a supervisão de campo. Ao indagarmos com os(as) entrevistados(as) como analisavam a prática do assistente social atuando na viabilização de direitos sociais dentro do Sistema Único de Saúde: Eu acho de estrema importância, porque o SUS né, é o que rege a política de saúde, nós assistentes sociais eu já estou me sentido, porque eu sou só formanda, mas a gente trabalha diretamente com as políticas, logo o SUS a política de saúde não é diferente, então é fundamental sim a atuação ter um profissional um assistente social atuando na política de saúde seja em um hospital seja em uma unidade de saúde básica, em qualquer dos níveis é importante a atuação porque quando você lida com gente, você lida com o povo, você lida com o trabalhador, já que o trabalho é onde direciona a nossa profissão, você necessita de um profissional que domine que tenha conhecimentos que consiga dar resposta para essa realidade (Gardênia, 8º Semestre). Existem sim profissionais que procuram viabilizar os direitos sociais dentro do SUS, profissionais pautados e comprometidos com o projeto ético 73 político, e também com uma conduta ética, mais não pode afirmar que é a maioria (Margarida, 8º Semestre). As entrevistadas nº 02 e 09, afirmaram que os assistentes sociais que atuam na política de saúde, são profissionais que reforçam a efetivação da saúde como direito social, sendo a saúde um espaço de aprendizagem e garantia de direitos. Nessa perspectiva, o estágio na política de saúde, se dá por meio da inserção do aluno no espaço sócio-institucional, “o estágio é o lócus onde a identidade profissional do aluno é gerada, construída e referida” (BURIOLLA, 1999, p. 13). É o momento no qual definirá sua própria imagem acerca de que tipo de profissional pretende ser. O estágio supervisionado em Serviço Social é de extrema importância para a formação profissional no qual deve-se ter como base os preceitos teóricometodológico, técnico-operativo e ético-político pertencentes ao currículo do Serviço Social capacitando e instrumentalizando o(a) estagiário(a) para o exercício profissional. O estágio realizado na política de saúde é de grande valia para o exercício profissional dos futuros assistentes sociais, é nesse cenário que podemos analisar o assistente social atuando na viabilização de direitos sociais dentro do Sistema Único de Saúde. 74 CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta monografia foi realizado um estudo acerca da percepção da prática do assistente social na saúde a partir da experiência de estágio. O estudo de como o estagiário analisa a prática do assistente social atuando na viabilização dos direitos dentro da política de saúde, revela sua importância ao “constatarmos” sua relação com a profissão. O objetivo desse estudo configurou-se na analise da percepção que os estagiários(as) têm sobre a prática do assistente social que atua na política de saúde, mas não pressupõe que se chegue a conclusões definitivas. Buscou-se articulação dos dados obtidos e os referenciais teóricos da pesquisa, tentando responder as questões desenvolvidas com bases nos objetivos. Os resultados da pesquisa são contundentes, não objetivando aqui dar respostas concretas e inacabadas. O processo de estágio supervisionado em Serviço Social configura-se em um processo de aprendizado, com o objetivo de capacitar o aluno para o exercício profissional, oportunizando ao aluno(a) a inserção no espaço sócio-institucional, em um processo de ensino/aprendizagem. A Política Nacional de Estágio-PNE e a Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social-ABEPSS mostram-se cuidadosas a respeito do papel do estágio e dos atributos ao estagiário. No centro dessas políticas, compreendemos o cenário em que o estágio se insere e seus principais atores: estagiário, supervisor acadêmico e de campo. Sendo o estágio supervisionado uma atividade pedagógica do curso de Serviço Social. O perfil apresentado dos estagiários(as) possibilitou apreender que se trata de estagiários(as) jovens de 21 a 30 anos, que buscam uma formação profissional de qualidade. Notou-se também que 70% dos entrevistados trabalham para poder pagar a faculdade, e optaram pela área da saúde pela falta de tempo e opção. Detectou-se, que as impressões que os estagiários têm a respeito do campo de estágio são positivas, mas que a instituição de ensino deveria preparar melhor o(a) aluno(a), antes de inseri-lo(a) no campo de estágio. No decorrer do trabalho, pode-se notar que o processo de supervisão é de suma importância para a profissão. 75 Na relação entre supervisor e supervisionado pode-se analisar que deve haver diálogo constante entre ambos, devendo haver uma relação horizontal de troca e respeito mútuo, no qual ambos têm o que aprender juntos. O(a) estagiário(a) ao ser colocado em seu campo de estágio cria-se um ambiente de confronto, estimulando a elaboração crítica e reflexiva do exercício profissional. Neste sentindo a relação entre supervisionado e supervisor passou a ser compreendida como espaço oportuno de encontro entre teoria e prática por tratar, num mesmo instante, essas duas dimensões da profissão. O processo de supervisão é uma das principais alternativas de conhecimento da realidade concreta, e uma forma da prática profissional vivenciada na instituição. O supervisor de campo deve zelar por esses profissionais em processo de formação (estagiários). Em relação ao perfil apresentando dos(as) estagiários(as), notou-se que esses em seu campo de estágio apresentam uma visão ingênua acerca do que é o Serviço Social na prática, tendo seu conhecimento formado apenas nas teorias que embasam a profissão, ressaltando pouco conhecimento sobre o que fazer ou o que venha a fazer no exercício profissional. Vale ressaltar, a formação profissional iniciase no curso na inserção do estudante de Serviço Social no campo de estágio, essa identidade vai se fortalecendo quando este aluno se torna um assistente social e se identifica como membro efetivo desta categoria profissional. Em relação ao perfil dos entrevistados sobre o famoso jargão que na “prática a teoria é outra”, pode se notar algo positivo, apenas uma minoria apontou que elas são dicotômicas, totalmente diferentes, pode se notar por parte desses alunos(as) a falta de leituras críticas e que os(as) mesmos(as) vão para o campo de estágio despreparados(as), apenas para cumprir disciplinas obrigatórias e carga horária. O que foi apresentando pela maioria dos(as) entrevistados(as), notou- se algo positivo, o estágio no início trás algumas angustia de que eles estão ali naquela dicotomização que na “prática a teoria é outra”, mas no decorrer dos mesmos, eles podem notar a diferença, que ambas são indissociáveis. Percebeu-se que a instituição de ensino enfatiza demais a teoria, na grade curricular do curso de Serviço Social existindo mais disciplinas teóricas do que práticas. Esse descompasso no conteúdo formativo, que é passado aos assistentes sociais em processo de formação, acaba por gerar frustações no futuro profissional. 76 Percebeu-se que foi atribuído ao estágio o papel de lidar com a dimensão da prática, ficando para a supervisão esse papel de articular esses dois conteúdos. Ainda no processo de pesquisa foi identificado através das falas dos sujeitos, que a instituição de ensino não prepara o aluno para o campo de estágio. Dependendo do professor haverá fragmentações de informações, um professor com experiência em assistência e pouca na área da saúde, apresentará fragilidades ao aluno(a), por exemplo. A participação da instituição de ensino no processo de supervisionado e supervisor é frágil. O processo de análise da percepção sobre supervisionado e supervisor, ainda é pouco estudado, o que pode ser percebido através do pouco conteúdo bibliográfico desenvolvido sobre o tema. Ao longo desse trabalho, podemos perceber que os alunos(as) estagiários(as) na política de saúde, grande parte dos problemas da relação entre teoria e prática vividas pelo(a) estagiário(a) em seu campo de estágio, teria outra dimensão, caso este estagiário(a) antes de ser inserido em seu campo de estágio se apropriasse de leituras críticas acerca do real e devendo haver entre instituição de ensino e campo de estágio, uma relação de maior proximidade e troca. 77 REFERÊNCIAS ABEPSS. Política Nacional de Estágio. Brasília, 2010. Disponível www.abepss.org.br. Acesso em: sete de junho de 2013 às 12h07min. em: ABEPSS/CEDEPSS. “Diretrizes gerais para o curso de Serviço Social.” In: Cadernos ABESS nº 7. São Paulo: Cortez, p. 58, 1997. ANDRADE, M.A.R.A. Pensar e repensar a formação profissional: a experiência do curso de Serviço Social da Faculdade de História, Direito e Serviço Social – UNESP –Franca. 2007. 197f. 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Cortez, nº 95, 2008. 83 APÊNDICE 84 ROTEIRO DA ENTREVISTA 1- Qual semestre está cursando? 2- Qual a instituição de estágio? 3- Você analisa que a prática do(a) assistente social no Sistema Único de Saúde – SUS, trás alguma importância para os usuários? 4- Qual a contribuição do(a) supervisor de campo na sua formação profissional? 5- Qual a sua análise na contribuição do estágio no seu processo de formação profissional? 6- Como você se analisa enquanto profissional em formação? 7- Como você analisa a teoria e a pratica no campo de estágio? 8- Na sua opinião, o que deveria mudar, melhorar na prática do(a) assistente social na política de saúde? 9-Como você analisa a prática do(a) assistente social atuando na viabilização de direitos sociais dentro do sistema único de saúde? 85 TERMO DE CONSETIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Sou Maria Glauciane Silva dos Santos, aluna do curso de Serviço Social da Faculdade Cearense, estou realizando uma pesquisa com a finalidade de obter o título de Bacharel em Serviço Social. No âmbito da minha graduação estou desenvolvendo uma pesquisa sobre a análise da percepção sobre a prática do assistente social na saúde a partir da experiência de estágio. O objetivo do estudo é “investigar, a partir dos estudantes que estagiaram na área da saúde a importância do assistente social no Sistema Único de Saúde”. Para obtermos as informações que contribuam nesta análise, gostaria de realizar entrevistas com estudantes/ estagiários na área da saúde e devidamente matriculados no curso de Serviço Social da Faculdade Cearense. Assim, solicito o seu consentimento para participar da pesquisa, onde a mesma será gravada e poderá durar aproximadamente uma hora. Este procedimento não oferece desconfortos de qualquer natureza, pois as informações serão sigilosas, sua identidade será mantida em sigilo, o que significa que seu nome não será em nenhum momento divulgado, caso se sinta constrangido (a), envergonhado (a), ou queira desistir de participar deste processo de obtenção de informações, você tem o direito de pedir para interromper sua participação, sem causar qualquer dano a você. Isso se significa que, mesmo tendo aceitado participar, se por qualquer motivo, durante o andamento da pesquisa resolver desistir, tem toda liberdade para retirar o seu consentimento. A pesquisadora responsável por esta pesquisa é a aluna Maria Glauciane Silva dos Santos, que está disponível para quaisquer outros esclarecimentos no seguinte telefone: (85) 8610.5351. Após ler estas informações e de ter minhas dúvidas suficientemente esclarecidas pelo pesquisador concordo em participar de forma voluntária neste estudo. Face a estes motivos, gostaria muito de poder contar com sua colaboração. Atenciosamente, Maria Glauciane Silva dos Santos Entrevistadora/ Pesquisadora responsável Fortaleza _______ de _________________________ 201___. 86 Declaro que tomei conhecimento do estudo citado acima, coordenado pela pesquisadora Maria Glauciane Silva dos Santos, compreendi seus objetivos, concordo em participar da pesquisa e declaro estar ciente que a qualquer momento posso retirar meu consentimento em participar da mesma. Fortaleza _______ de ______________________________ 201___. _______________________________________________________ Assinatura do(a) entrevistado(a) ____________________________________________________ Testemunha (1ª Via Pesquisadora; 2ª Via Entrevistado(a)).