Mentges BTC(1)et al. • Apresentações clínicas: atualização da toxoplasmose gestacional http: www.revistaapi.com ATUALIZAÇÃO / ATUALIZACIÓN / UPDATE Apresentações clínicas: atualização da toxoplasmose gestacional Clinical presentations: update toxoplasmosis gestational Bruna Ten Caten Mentges¹ Ivete Terezinha. Machado da Rocha² Rev Panam Infectol. 2015;17(1):30-36 http: www.revistaapi.com Recebido em 16/3/2015 Aprovado em 15/4/2015 RESUMO A Toxoplasmose é uma doença infecciosa originaria do protozoário Toxoplasma gondii, podendo ser transmitida de forma congênita ou adquirida. Diante disso, a finalidade deste foi determinar quais as formas de apresentações clínicas nos diferentes estágios da gravidez e quais as complicações ocasionadas pela toxoplasmose quando presente na gravidez, tanto para o feto quanto para a gestante. Ainda, determinar a parasitologia da toxoplasmose, proporcionar esclarecimento sobre o diagnóstico, forma de rastreio e definir as formas de tratamento. Foi constatado que as principais consequências que podem vir a ocorrer são as cefaléias, paresias, graves perturbações da visão, microcefalia, hidrocefalia, calcificação intracraniana, surdez e ainda atraso mental. Conclui-se que, a Toxoplasmose Congênita, deve ser diagnosticada através de exames clínicos e laboratoriais o quanto antes a fim de efetivar-se o tratamento apropriado para reduzir os danos e assim assegurar o bem-estar do feto. Palavras-chave: Toxoplasmose; Congênita; Gestante; Recém-nascido; Diagnóstico clínico ABSTRACT Aluna da Pós Graduação em Análises Clínicas e Toxicológicas; Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo (IESA), Porto Alegre, RS, Brasil 2 Doutora em Patologia pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre. (UFCSPA). Professora do Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo (CNEC) e Pesquisadora da Fundação Estadual de Produção e Pesquisa em Saúde do Rio Grande do Sul (FEPPS/RS), Laboratório Central (LACEN), Laboratório de Parasitologia, Porto Alegre, RS, Brasil 1 30 Toxoplasmosis is an infectious disease would lead the protozoan Toxoplasma gondii, which can be transmitted from congenital or acquired form. Therefore, the purpose of this was to determine which forms of clinical presentations in different stages of pregnancy and what are the complications caused by toxoplasmosis when present in pregnancy for both the fetus and the pregnant woman. Still, determine the parasitology of toxoplasmosis, provide clarification on the diagnosis, screening form and define the forms of treatment. It was found that the main effects that may occur and define the forms of treatment. It was found that the main effects that may occur are Rev Panam Infectol 2015;17(1):30-36 headaches, paresis, severe visual disturbances, microcephaly, hydrocephalus, intracranial calcification, deafness and even mental retardation. In conclusion, the Congenital Toxoplasmosis, must be diagnosed by clinical and laboratory examinations as soon as possible in order to accomplish it the appropriate treatment to reduce damage and thus ensure the wellbeing of the fetus. Keywords: Toxoplasmosis; Congenital; Pregnant women; Newborn; Clinical diagnosis INTRODUÇÃO O Toxoplasma gondii é o protozoário causador da Toxoplasmose. Em humanos, a infecção acontece por meio da ingestão de carne, crua ou mal passada, através do contato com gato infectado ou pelo consumo de leite, queijo não pasteurizado ou de vegetais que não estejam higienizados e até mesmo pelo contato com o solo que esteja contaminado(1). A toxoplasmose congênita é resultante da transferência do Toxoplasma gondii para o feto através da placenta, quando a mãe já é possuidora da infecção primária(2). A probabilidade de transmissão da gestante para o feto é de 40% e aumenta conforme a gravidez evolui. Existe uma relação inversa com o período de gestação e o agravamento da doença. Portanto, no primeiro trimestre a taxa de transmissão é menor, mas os sintomas são mais graves. Já no terceiro trimestre, apesar da taxa de transmissão da mãe para o feto ser elevada, as conseqüências para o feto são menos grave(1). Grande parte da população mundial é infectada pelo Toxoplasma gondii. A infecção pode ser tanto assintomática, ou seja, ausência de sintomas, como também pode vir a ser sintomáticas, com apresentação de diversos sintomas(3). Em torno de 70% das crianças infectadas são assintomáticas no momento do nascimento, entretanto aproximadamente 10% apresentam manifestações nos primeiros dias de vida(2). Em recém-nascidos não tratados e que apresentam sintomas, eleva-se o risco de adquirir seqüelas que permaneçam por um longo período. Algumas lesões podem vir a se manifestar nos primeiros dois anos de vida do recém-nascido. No caso de a lesão se apresentar mais tarde, menor serão as seqüelas(1). O diagnóstico de toxoplasmose gestacional é feito por meio de pesquisa de microorganismos ou de anticorpos contra eles. Os testes sorológicos para anticorpos IgG e IgM e a pesquisa de avidez de IgG anti-toxoplasma, são usados no diagnóstico em gestantes. Na gestação, esses testes são utilizados para determinar o risco de transmissão para o feto. Uma gestante com probabilidade de infectar seu feto deve realizar exames mensalmente para detectar a viragem sorológica e iniciar o tratamento indicado(4). A toxoplasmose congênita pode ser prevenida. Medidas simples podem resultar na diminuição das seqüelas ou prevenir contra elas, como educar as gestantes que não são imunes a terem comportamentos preventivos, realizar o tratamento das gestantes e dos recém-nascidos infectados, mesmo que esses não possuam qualquer sintoma(5). O tratamento da infecção do feto e da criança durante o primeiro ano de vida tem sido demonstrada para melhorar significativamente a evolução clínica(6). MATERIAIS E MÉTODOS Este trabalho foi realizado baseado em revisão sistemática da literatura com base em artigos científicos sobre a Toxoplasmose Gestacional onde foi feita uma busca nas bases de dados como pubmed e scielo. Para a busca utilizou-se as palavras chaves: Toxoplasmose, gestacional, Toxoplasma gondii, e aspectos clínicos, separadamente ou em conjunto. Inicialmente foram selecionados 67 artigos no Pubmed e a seguir uma pré-analise foi realizada pela análise do título, selecionando 20 artigos. Após a avaliação dos resumos identificou-se 9 artigos relevantes. Todos os artigos que pelo título e resumo não apresentaram dados relacionados à toxoplasmose gestacional e aspectos clínicos foram excluídos. Nesta etapa da busca para atingir os objetivos, foi avaliada a necessidade da utilização de outros termos, entre, recém-nascido e sorologia. Ao final, incluindo outras bases de dados, 19 artigos foram incluídos e analisados na integra. RESULTADOS A toxoplasmose é uma zoonose decorrente de uma infecção, causada por um protozoário conhecido como Toxoplasma gondii. É um parasita intracelular obrigatório e possui um organismo unicelular, pertencente à família Sarcocystidae e agrupado na classe Sporozoa(1). O Toxoplasma gondii possui como hospedeiro definitivo os felídeos, já os hospedeiros intermediários podem ser os humanos, como também de pássaros, roedores e outros animais. Este parasita possui diversos mecanismos de transmissão é seu ciclo de vida é complexo, como pode ser observado na Figura 1(7). Em torno de um terço da população mundial é infectada pelo Toxoplasma gondii. No Brasil, esse fato era desconhecido até 2010, quando a notificação compulsória foi implementada sendo necessária a 31 Mentges BTC(1)et al. • Apresentações clínicas: atualização da toxoplasmose gestacional http: www.revistaapi.com Hospedeiro definitivo: animais felinos (fase sexuada) Oócitos expulsos nas fezes São infectados pela ingestão de hospedeiros intermediários infectados (por ex. roedores ou aves) Esporócitos no solo Infecção dos hospedeiros intermediários: homem, aves, roedores, ovinos, suínos (fase assexuada) Taquizoitos (no epitélio intestinal, infecção sistémica) Quistos tecidulares (forma latente, nos tecidos) Figura 1. Ciclo de vida do Toxoplasma gondii(1) avaliação de um programa de controle para toxoplasmose congênita em todo país(8). Na maior parte das vezes a infecção inicial ocorre de forma assintomática. Entretanto, em alguns casos a infecção pode vir acompanhada de sintomas, podendo eles ser suaves e inespecíficos ou mais graves, como o acometimento pulmonar, miocárdio, hepático ou cerebral. A rápida proliferação, dos organismos nas células hospedeiras, causa lesões, podendo elas se tornar benignas quando há manifestações clínicas. A lesão mais freqüente que esta associada com a toxoplasmose é a coriorretinite estando presente em 30 a 60% dos infectados. Há dois tipos de lesões que podem ser observados na retina: a retinite aguda, onde há uma intensa inflamação, e a retinite crônica, onde há perda progressiva da visão, podendo levar a cegueira(3,9). Na gestante, a infecção ocorre na maioria das vezes pela ingestão do parasita, que é fagocitado por leucócitos ou há uma invasão de células no trato digestivo, acompanhado de uma multiplicação intracelular, lise celular seguida de uma disseminação hematogênica, que causa placentite, ou linfática. O feto pode vir a se infectar no momento do nascimento ou durante o período de gestação. Outra forma de infecção é por meio de uma reativação da infecção prévia nas gestantes imunodeprimidas, sendo mais comum em pacientes com AIDS, doença de Hodgkin ou em uso de imunossupressores(2, 10). A média de proporção do risco de transmissão da gestante para o feto é de 40% e vai aumentando conforme a evolução da gravidez, no entanto, no primeiro 32 trimestre a taxa de transmissão é menos de 15%, mas os sintomas são mais graves, podendo levar o aborto espontâneo, morte fetal, morte peri-natal ou no caso do nascimento da criança, ela pode vir a apresentar graves seqüelas neurológicas. Já no terceiro trimestre, apesar da taxa de transmissão da mãe para o feto estar por volta de 60%, as conseqüências para o feto são mínimas(1). No ultimo mês de gestação o risco de infecção chega perto de 100%, esse fato se da decorrente do fluxo sanguíneo placentário, virulência da cepa do Toxoplasma gondii, susceptibilidade genética e pela carga parasitária que atinge a placenta(2). A consequência mais comum causada pela toxoplasmose é a necrose celular, seguidos dos sintomas clássicos como calcificação intracraniana, coriorretinite e hidrocefalia(1). Alguns órgãos podem ser acometidos, como a placenta, os pulmões, o coração, os ouvidos, os rins, os músculos estriados, as supra-renais, o pâncreas, os testículos, os ovários, olhos e o sistema nervoso central. Nesses órgãos, além de reações inflamatórias graves com um fenômeno obstrutivo, necrose ou calcificações, também podem ser observados parasitos. Na fase aguda são os taquizoitos que são observados, e cistos na forma aguda ou crônica(2). Cerca de 75% a 90% dos recém-nascidos são assintomáticos. Contudo, alguns recém-nascidos podem apresentar alguns sintomas nos primeiros dias de vida, podendo-se avaliar de quatro formas a apresentação dos sintomas, levando em consideração a fase da vida em que eles surgem: Rev Panam Infectol 2015;17(1):30-36 1. Doença sintomática neonatal; 2. Doença que se revela durante o primeiro mês de vida; 3. Conseqüência de uma infecção prévia não diagnosticada que ocorreu na infância ou na adolescência; 4. Infecção subclínica(1). Freqüentemente, quanto mais tarde os sintomas se apresentam, menores são as chances de uma possível seqüela neurológica ou intelectual(11). Microftamia, sinéquia de globo ocular, estrabismo, nistagmus e catarratas são as principais complicações oftalmológicas. Já hidrocefalia, microcefalia, retardo psicomotor, convulsões, hipertonia muscular, hiperreflexia tendinosa e paralisias, são as principais sequelas neurológicas(2). Quando um recém-nascido que apresenta sintomas não é tratado, eleva o risco de adquirir seqüelas que permaneçam por um longo período, por exemplo: 50% a 80% dos casos apresentam cefaléia, 55% a 69% dos casos apresentam espasticidade ou paresias, 50% a 76% dos casos apresentam problemas acentuados de visão, 26% a 32% dos casos apresentam hidrocefalia ou microcefalia, 32% dos casos apresentam calcificações intracranianas, a surdez pode aparecer em 15% e o atraso mental pode vir a aparecer em 58% a 86% dos casos(1). Quanto às lesões oculares e as ocorrentes no sistema nervoso central, estas podem vir a se apresentar nos primeiros dois anos de vida do recém-nascido. O risco, decorrente de uma infecção por Toxoplasma gondii poder causar uma cefaléia vária de 5,2% a 17%, de problemas de visões variam de 20% a 45%, de hidrocefalia ou microcefalia pode varias de 9,5 a 13%, a surdez pode acorrer em 10,4 a 26% e o risco de um atraso mental vária de 3,9 a 13%(1). Distintas reações sorológicas determinam a presença de anticorpos antitoxoplasma, usando marcadores sorológicos diferentes a fim de distinguir as infecções por Toxoplasma gondii. Para detectar e localizar os antígenos usa-se a reação de imunofluorescência indireta que é uma técnica histoquímica ou citoquímica. Para monitorar a atividade enzimática dos antígenos e dos anticorpos utiliza-se o teste de ELISA, por ser um método quantitativo(12). O diagnóstico em casos de infecção fetal é feito através da pesquisa, no liquido amniótico e no sangue do cordão umbilical, de microorganismos ou de anticorpos contra eles. PCR é uma das técnicas utilizadas para o diagnóstico devendo ser realizado após a décima segunda semana de gestação(13, 32). A pesquisa de IgM no soro da paciente, hemograma fetal e inoculação em cobaia são testes também utilizados, como complemento, para o diagnóstico. Anticorpos IgG aparecem após uma semana após a infecção e seu pico é maior quando chega a dois meses e permanecem por toda a vida. Anticorpos IgM aparecem duas semana após a infecção e tem seu pico em um mês e após seis a nove meses o titulo sofre declínio e torna-se indetectável. Anticorpos IgA possuem maior sensibilidade que o IgM em neonatos e por isso caem rapidamente. Já o anticorpo IgE, em quatro meses, sobe e desce rapidamente(2). Os testes mais utilizados são o ELISA e o de Hemoglutinação para o diagnostico. O ELISA é um diagnóstico da fase aguda como também da fase crônica. Já os testes de imunofluorescencia indireta e de hemaglutinação são indicados para serem realizados combinados, para traçar o perfil sorológico e distinguir se a fase é aguda ou crônica(3). Pelo fato da Toxoplasmose ser em 90% dos casos assintomática, ou seja, sem a presença de sintomas, é muito importante que uma triagem sorológica seja realizada para fins de tratamento materno precoce e intra-uterino, em caso de infecção, é indispensável que seja feito uma seqüência sorológica em gestantes susceptíveis para detecção de uma sorocenversão ou um diagnostico de infecção aguda por Toxoplasma gondii(14). Os testes sorológicos para anticorpos IgG, IgM e avidez de IgG anti-toxoplasma, são usados no diagnóstico em gestantes, tendo que ser buscados ativamente. Os possíveis resultados de testes sorológicos estão representados na Figura 2(15). Durante a fase aguda da infecção pelo Toxoplasma gondii, a primeira imunoglobulina a ser produzida é a IgM, logo após inicia a produção da imunoglobulina IgG. Nos casos em que a infecção ocorrer pela via oral, à imunoglobulina IGA também é produzida(12). Existe ainda o teste de avidez, muito utilizado na clinica que se baseia na avidez dos anticorpos IgG idéia de que a avidez dos anticorpos, adquiridos após a infecção por Toxoplasma gondii, aumenta conforme passa o tempo(1). Quanto a avidez de IgG anti-toxoplasma, em gestantes que possuem sorologia positiva para IgG e IgM for alta o recém nascido não se infecta, enquanto que se for baixa os recém nascidos se infectam. Nesse caso, em gestantes IgM positivas a avidez de IgG determina o risco de transmissão para o feto durante a gravidez. No caso de uma gestante ser suscetível, ela deve realizar exames mensalmente com a finalidade de detectar a viragem sorológica, para então iniciar o tratamento adequado(15). A interpretação dos resultados dos exames de laboratório deve ser realizada da seguinte forma: Sorologia para toxoplasmose encontre-se IgG-/ IgM-, ou seja, não a presença de anticorpos, tanto 33 Mentges BTC(1)et al. • Apresentações clínicas: atualização da toxoplasmose gestacional http: www.revistaapi.com Possíveis resultados dos testes sorológicos IgG-/IgM- IgG+/IgM- Títulos de IgG Iniciar medidas de muito reduzidos prevenção primária. Rastreio sorológico durante a gravidez Repetir passadas três semanas: se SEM INFECÇÃO, aumento de SEM IMUNIDADE títulos superior a 4x, então INFECÃO ATIVA Títulos de lgG “normalmente” positos provÁvel imunidade IgG-/IgM+ Deve iniciar tratamento. Repetir sorologia passadas três semanas IgG-/IgM+ Anticorpos IgM não específicos SEM INFECÇÃO, SEM IMUNIDADE IgG+/IgM+ Determinação da avidez das IgG* Fraca avidez Forte avidez INFECÇÃO RECENTE INFECÇÃO ANTIGA IgG+/IgM+ CONFIRMADA INFECÇÃO RECENTE Figura 2. Interpretação dos resultados sorológicos da toxoplasmose durante a gravidez IgG como IgM, entende-se que a gestante não esta protegida e medidas preventivas devem ser tomadas, afim de evitar uma infecção por Toxoplasma gondii, como também deve receber noções de sintomas que pode vir a sentir caso ocorra uma infecção. Nesse caso, como a gestante não possuem nenhum dos dois anticorpos ela deve ser monitorada, durante o período gestacional, para sorologia de toxoplasmose. Medidas terapêuticas devem ser tomadas, caso haja uma casual infecção(1). Casos relatados na França indicam que mesmo pacientes soronegativas num determinado momento da gestação apresentaram bebes com toxoplasmose congênita(16). Lembrando que durante a primeira e segunda semana após o inicio da infecção, os anticorpos IgM pode ser dosados pela técnica de imunofluorescêcia. Esse anticorpo eleva-se até a sexta e oitava semana, quando então começa a cair, entretanto, baixos títulos de IgM podem aparecer por mais de doze meses. Já os anticorpos IgG permanecem, na maioria dos casos, por toda a vida(12). Quando na sorologia IgG+/IgM-, ou seja, a presença de anticorpos IgG e a ausência de anticorpos IgM, que torna o risco de uma infecção muito baixa, por se tornar uma infecção crônica, portanto o IgG aplica imunidade a gestante. Em casos de títulos de IgG muito reduzidos os testes devem ser realizados novamente para verificar uma possível mudança nos títulos, se não, não a necessidade de repetir. Quando os valores, no segundo teste, forem muito maiores, em torno de quatro vezes mais, esse resultado deve ser interpretado com uma infecção ativa. 34 Quando anticorpo se encontra IgG-/IgM+, ou seja, a ausência de anticorpos do tipo IgG e presença do tipo IgM, entende-se que há uma infecção aguda. Nessa situação a mulher é aconselhada a não engravidar até uma nova sorologia ser interpretada, mas no caso da mulher já estar esperando um bebê, ela deve iniciar um tratamento imediatamente e repetir os exames. Em ultimo caso, pode-se encontrar IgG+/ IgM+, ou seja, presença dos dois anticorpos, que indica uma infecção já antiga ou, então, pode ser uma primo-infecção recente. Essas duas podem ser distinguidas através do teste de avidez do anticorpo IgG, que caso de alta, significa uma infecção já antiga e no caso de dar baixa, significa uma infecção recente(1). Segundo Wallon M(17), sempre que a sorologia na gestante apresentar risco deve-se solicitar IgM para o recém nascido e acompanha-lo durante o primeiro ano de vida. Devido à presença de anticorpos maternos de transferência passiva para o feto, o diagnóstico sorológico pode ser difícil devido a uma interferência(15). A eficácia de terapia para diminuir o risco de transmissão da mãe para o filho ainda é incerta. O que é comprovado é a diminuição das sequelas nas lesões congênitas, e o quanto antes o tratamento começar menor será a gravidade(14). Espiramicina é o medicamento mais utilizado no tratamento das gestantes. Ele impede a transmissão da mãe para o feto(7). O tratamento depende da idade gestacional e grau de infecção, podendo ser utilizado no primeiro trimestre a espiramicina e nos últimos dois trimestre podem ser usado uma associação de sulfatiazida, pi- Rev Panam Infectol 2015;17(1):30-36 rimitamina e ác fólico. Na toxoplasmose gestacional esses antibióticos são utilizados logo após o nascimento. Na ocular, como na cerebral depende da localização da infecção, podendo ainda ser associado a sulfametoxazol-trimetoprima(18-19). DISCUSSÃO A infecção por toxoplasmose gestacional pode ser assintomática, assim como, ocasionar severas conseqüências para o feto. A rigidez em que essas conseqüências ocorrem varia com o período gestacional em que a mulher se encontra no momento da infecção. No primeiro trimestre a infecção pode resultar em óbito fetal e alterações morfológicas no recém-nascido. Já no segundo e terceiro trimestre a infecção fetal resulta em doença subclínica ou leve no recém-nascido. Na fase aguda, a forma encontrado o taquizoíta é quando ocorre parasitemia. Na fase latente é encontrado organismos encistados no sistema nervoso, músculo esquelético e cardíaco. O organismo encistado pode permanecer no hospedeiro e ser reativado mais tarde e ocorrer manifestações graves como encefalite, miocardite e coriorretinite. Algumas das conseqüências que podem vir a ocorrer são a cefaléias, paresias, graves perturbações da visão, microcefalia, hidrocefalia, calcificação intracraniana, surdez e ainda atraso mental. Quando a toxoplasmose é adquirida após o nascimento ela é geralmente assintomática. É baixa a taxa em que surgem sintomas e manifestações com quadros leves, como febre e adinamia. Raramente surge hepatite, envolvimento pulmonar, renal, encefalite e miocardite. A toxoplasmose congênita, assim como suas seqüelas, pode ser prevenida, através de algumas medidas simples, como por exemplo, educação das gestantes ou futuras gestantes que não são imunes, sobre alguns comportamentos preventivos como, por exemplo, não limpar a caixa de areia do gato ou ingerir determinados alimentos ou água. Outra mediada seria realizar o tratamento as gestantes que já contenham infecção aguda, assim como dos fetos e dos recém-nascidos infectados, mesmo que esses não possuam qualquer sintoma. A eficácia de terapia antenatal para diminuir o risco de transmissão da mãe para o filho ainda é incerta, conforme demonstrado através da literatura. Já o efeito para a diminuição das seqüelas nas lesões congênitas possui um efeito comprovado, e a redução da gravidade será ainda maior se o inicio do tratamento for precoce. Todos os recém-nascidos devem receber o tratamento com terapia específica, sejam eles sintomáti- cos ou subclínica, assim como as gestantes que estejam sob suspeita ou com infecção confirmada. O diagnóstico é realizado através do rastreio sorológico, o que permite a confirmação ou até mesmo a suspeita da infecção por Toxoplasma gondii, e o padrão ouro de período de realização na gestante seria mensal. O tratamento das gestantes com suspeitas de toxoplasmose deve ser realizado de acordo com o período gestacional, gravidade da doença e tipo de sequelas. Esse medicamento vai diminuir a taxa de transmissão do Toxoplasma gondii da mãe para o feto e diminuir as sequelas ocasionadas pela infecção. Sempre que na sorologia da gestante apresentar risco deve-se solicitar IgM para o recém nascido e acompanha-lo durante o primeiro ano de vida. Os resultados indicam que a situação é crítica. Em todo Brasil, aos moldes do estado de Goiás(20), dever ser criado um programa de acompanhamento sorológico para reduzir a transmissão vertical e a gravidade da toxoplasmose congênita. Deve ser criados protocolos para seguimento das mulheres grávidas e seus filhos melhorando a assistência médica e minimizando as sequelas. Nesse sentido é necessária a sincronização de serviços, como laboratório, ginecológico, obstétrico e pediatria para que haja um controle efetivo da toxoplasmose gestacional. AGRADECIMENTOS Ao instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo (IESA), pela oportunidade da realização desse trabalho. REFERÊNCIAS 1. Martins C. Toxoplasmose na gravidez. Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar. [S.l.], v. 18, n. 5, p. 333-40, set. 2002. ISSN 21825173. Disponível em: 2002. <http://www.rpmgf. pt/ojs/index.php?journal=rpmgf&page=article&op =view&path%5B%5D=9891>. Acesso em 2015 (Mar 11). 2. Moreira LMO. Toxoplasmose Congênita. 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Correspondência Ivete Terezinha Machado da Rocha Rua Itajaí 156, Apto 301 Cep: 90470140 - Porto Alegre, RS, Brasil E-mail: [email protected]