Apresentações clínicas: atualização da toxoplasmose gestacional

Propaganda
Mentges BTC(1)et al. • Apresentações clínicas: atualização da toxoplasmose gestacional
http: www.revistaapi.com
ATUALIZAÇÃO / ATUALIZACIÓN / UPDATE
Apresentações clínicas: atualização da toxoplasmose
gestacional
Clinical presentations: update toxoplasmosis gestational
Bruna Ten Caten Mentges¹
Ivete Terezinha. Machado da Rocha²
Rev Panam Infectol. 2015;17(1):30-36
http: www.revistaapi.com
Recebido em 16/3/2015
Aprovado em 15/4/2015
RESUMO
A Toxoplasmose é uma doença infecciosa originaria do protozoário
Toxoplasma gondii, podendo ser transmitida de forma congênita ou
adquirida. Diante disso, a finalidade deste foi determinar quais as
formas de apresentações clínicas nos diferentes estágios da gravidez
e quais as complicações ocasionadas pela toxoplasmose quando presente na gravidez, tanto para o feto quanto para a gestante. Ainda,
determinar a parasitologia da toxoplasmose, proporcionar esclarecimento sobre o diagnóstico, forma de rastreio e definir as formas de
tratamento. Foi constatado que as principais consequências que podem vir a ocorrer são as cefaléias, paresias, graves perturbações da
visão, microcefalia, hidrocefalia, calcificação intracraniana, surdez
e ainda atraso mental. Conclui-se que, a Toxoplasmose Congênita,
deve ser diagnosticada através de exames clínicos e laboratoriais o
quanto antes a fim de efetivar-se o tratamento apropriado para reduzir os danos e assim assegurar o bem-estar do feto.
Palavras-chave: Toxoplasmose; Congênita; Gestante;
Recém-nascido; Diagnóstico clínico
ABSTRACT
Aluna da Pós Graduação em Análises Clínicas e
Toxicológicas; Instituto Cenecista de Ensino Superior
de Santo Ângelo (IESA), Porto Alegre, RS, Brasil
2
Doutora em Patologia pela Universidade Federal
de Ciências da Saúde de Porto Alegre. (UFCSPA).
Professora do Instituto Cenecista de Ensino Superior
de Santo Ângelo (CNEC) e Pesquisadora da Fundação
Estadual de Produção e Pesquisa em Saúde do Rio
Grande do Sul (FEPPS/RS), Laboratório Central
(LACEN), Laboratório de Parasitologia, Porto Alegre,
RS, Brasil
1
30
Toxoplasmosis is an infectious disease would lead the protozoan
Toxoplasma gondii, which can be transmitted from congenital or acquired form. Therefore, the purpose of this was to determine which
forms of clinical presentations in different stages of pregnancy and
what are the complications caused by toxoplasmosis when present
in pregnancy for both the fetus and the pregnant woman. Still, determine the parasitology of toxoplasmosis, provide clarification on
the diagnosis, screening form and define the forms of treatment. It
was found that the main effects that may occur and define the forms
of treatment. It was found that the main effects that may occur are
Rev Panam Infectol 2015;17(1):30-36
headaches, paresis, severe visual disturbances, microcephaly, hydrocephalus, intracranial calcification,
deafness and even mental retardation. In conclusion,
the Congenital Toxoplasmosis, must be diagnosed by
clinical and laboratory examinations as soon as possible in order to accomplish it the appropriate treatment to reduce damage and thus ensure the wellbeing of the fetus.
Keywords: Toxoplasmosis; Congenital; Pregnant
women; Newborn; Clinical diagnosis
INTRODUÇÃO
O Toxoplasma gondii é o protozoário causador da Toxoplasmose. Em humanos, a infecção acontece por
meio da ingestão de carne, crua ou mal passada, através do contato com gato infectado ou pelo consumo
de leite, queijo não pasteurizado ou de vegetais que
não estejam higienizados e até mesmo pelo contato
com o solo que esteja contaminado(1).
A toxoplasmose congênita é resultante da transferência do Toxoplasma gondii para o feto através da
placenta, quando a mãe já é possuidora da infecção
primária(2). A probabilidade de transmissão da gestante para o feto é de 40% e aumenta conforme a
gravidez evolui. Existe uma relação inversa com o
período de gestação e o agravamento da doença. Portanto, no primeiro trimestre a taxa de transmissão é
menor, mas os sintomas são mais graves. Já no terceiro trimestre, apesar da taxa de transmissão da mãe
para o feto ser elevada, as conseqüências para o feto
são menos grave(1).
Grande parte da população mundial é infectada
pelo Toxoplasma gondii. A infecção pode ser tanto
assintomática, ou seja, ausência de sintomas, como
também pode vir a ser sintomáticas, com apresentação de diversos sintomas(3).
Em torno de 70% das crianças infectadas são assintomáticas no momento do nascimento, entretanto
aproximadamente 10% apresentam manifestações
nos primeiros dias de vida(2).
Em recém-nascidos não tratados e que apresentam sintomas, eleva-se o risco de adquirir seqüelas
que permaneçam por um longo período. Algumas lesões podem vir a se manifestar nos primeiros dois
anos de vida do recém-nascido. No caso de a lesão
se apresentar mais tarde, menor serão as seqüelas(1).
O diagnóstico de toxoplasmose gestacional é feito por meio de pesquisa de microorganismos ou de
anticorpos contra eles. Os testes sorológicos para anticorpos IgG e IgM e a pesquisa de avidez de IgG
anti-toxoplasma, são usados no diagnóstico em gestantes. Na gestação, esses testes são utilizados para
determinar o risco de transmissão para o feto. Uma
gestante com probabilidade de infectar seu feto deve
realizar exames mensalmente para detectar a viragem
sorológica e iniciar o tratamento indicado(4).
A toxoplasmose congênita pode ser prevenida.
Medidas simples podem resultar na diminuição das
seqüelas ou prevenir contra elas, como educar as gestantes que não são imunes a terem comportamentos
preventivos, realizar o tratamento das gestantes e dos
recém-nascidos infectados, mesmo que esses não
possuam qualquer sintoma(5). O tratamento da infecção do feto e da criança durante o primeiro ano de
vida tem sido demonstrada para melhorar significativamente a evolução clínica(6).
MATERIAIS E MÉTODOS
Este trabalho foi realizado baseado em revisão sistemática da literatura com base em artigos científicos
sobre a Toxoplasmose Gestacional onde foi feita uma
busca nas bases de dados como pubmed e scielo.
Para a busca utilizou-se as palavras chaves: Toxoplasmose, gestacional, Toxoplasma gondii, e aspectos clínicos, separadamente ou em conjunto.
Inicialmente foram selecionados 67 artigos no
Pubmed e a seguir uma pré-analise foi realizada
pela análise do título, selecionando 20 artigos. Após
a avaliação dos resumos identificou-se 9 artigos relevantes. Todos os artigos que pelo título e resumo
não apresentaram dados relacionados à toxoplasmose
gestacional e aspectos clínicos foram excluídos. Nesta etapa da busca para atingir os objetivos, foi avaliada a necessidade da utilização de outros termos,
entre, recém-nascido e sorologia. Ao final, incluindo
outras bases de dados, 19 artigos foram incluídos e
analisados na integra.
RESULTADOS
A toxoplasmose é uma zoonose decorrente de uma infecção, causada por um protozoário conhecido como
Toxoplasma gondii. É um parasita intracelular obrigatório e possui um organismo unicelular, pertencente à
família Sarcocystidae e agrupado na classe Sporozoa(1).
O Toxoplasma gondii possui como hospedeiro definitivo os felídeos, já os hospedeiros intermediários
podem ser os humanos, como também de pássaros,
roedores e outros animais. Este parasita possui diversos mecanismos de transmissão é seu ciclo de vida
é complexo, como pode ser observado na Figura 1(7).
Em torno de um terço da população mundial é infectada pelo Toxoplasma gondii. No Brasil, esse fato
era desconhecido até 2010, quando a notificação
compulsória foi implementada sendo necessária a
31
Mentges BTC(1)et al. • Apresentações clínicas: atualização da toxoplasmose gestacional
http: www.revistaapi.com
Hospedeiro definitivo: animais
felinos (fase sexuada)
Oócitos expulsos nas fezes
São infectados pela
ingestão de hospedeiros
intermediários infectados (por
ex. roedores ou aves)
Esporócitos
no solo
Infecção dos hospedeiros intermediários:
homem, aves, roedores, ovinos, suínos
(fase assexuada)
Taquizoitos (no epitélio intestinal,
infecção sistémica)
Quistos tecidulares (forma latente, nos tecidos)
Figura 1. Ciclo de vida do Toxoplasma gondii(1)
avaliação de um programa de controle para toxoplasmose congênita em todo país(8).
Na maior parte das vezes a infecção inicial ocorre
de forma assintomática. Entretanto, em alguns casos
a infecção pode vir acompanhada de sintomas, podendo eles ser suaves e inespecíficos ou mais graves,
como o acometimento pulmonar, miocárdio, hepático
ou cerebral. A rápida proliferação, dos organismos
nas células hospedeiras, causa lesões, podendo elas
se tornar benignas quando há manifestações clínicas.
A lesão mais freqüente que esta associada com a toxoplasmose é a coriorretinite estando presente em
30 a 60% dos infectados. Há dois tipos de lesões
que podem ser observados na retina: a retinite aguda,
onde há uma intensa inflamação, e a retinite crônica,
onde há perda progressiva da visão, podendo levar a
cegueira(3,9).
Na gestante, a infecção ocorre na maioria das vezes pela ingestão do parasita, que é fagocitado por
leucócitos ou há uma invasão de células no trato digestivo, acompanhado de uma multiplicação intracelular, lise celular seguida de uma disseminação hematogênica, que causa placentite, ou linfática. O feto
pode vir a se infectar no momento do nascimento ou
durante o período de gestação. Outra forma de infecção é por meio de uma reativação da infecção prévia
nas gestantes imunodeprimidas, sendo mais comum
em pacientes com AIDS, doença de Hodgkin ou em
uso de imunossupressores(2, 10).
A média de proporção do risco de transmissão da
gestante para o feto é de 40% e vai aumentando conforme a evolução da gravidez, no entanto, no primeiro
32
trimestre a taxa de transmissão é menos de 15%, mas
os sintomas são mais graves, podendo levar o aborto
espontâneo, morte fetal, morte peri-natal ou no caso
do nascimento da criança, ela pode vir a apresentar
graves seqüelas neurológicas. Já no terceiro trimestre, apesar da taxa de transmissão da mãe para o feto
estar por volta de 60%, as conseqüências para o feto
são mínimas(1).
No ultimo mês de gestação o risco de infecção
chega perto de 100%, esse fato se da decorrente do
fluxo sanguíneo placentário, virulência da cepa do
Toxoplasma gondii, susceptibilidade genética e pela
carga parasitária que atinge a placenta(2).
A consequência mais comum causada pela toxoplasmose é a necrose celular, seguidos dos sintomas
clássicos como calcificação intracraniana, coriorretinite e hidrocefalia(1). Alguns órgãos podem ser acometidos, como a placenta, os pulmões, o coração,
os ouvidos, os rins, os músculos estriados, as supra-renais, o pâncreas, os testículos, os ovários, olhos
e o sistema nervoso central. Nesses órgãos, além de
reações inflamatórias graves com um fenômeno obstrutivo, necrose ou calcificações, também podem ser
observados parasitos. Na fase aguda são os taquizoitos que são observados, e cistos na forma aguda ou
crônica(2).
Cerca de 75% a 90% dos recém-nascidos são
assintomáticos. Contudo, alguns recém-nascidos podem apresentar alguns sintomas nos primeiros dias
de vida, podendo-se avaliar de quatro formas a apresentação dos sintomas, levando em consideração a
fase da vida em que eles surgem:
Rev Panam Infectol 2015;17(1):30-36
1. Doença sintomática neonatal;
2. Doença que se revela durante o primeiro mês
de vida;
3. Conseqüência de uma infecção prévia não diagnosticada que ocorreu na infância ou na adolescência;
4. Infecção subclínica(1).
Freqüentemente, quanto mais tarde os sintomas
se apresentam, menores são as chances de uma possível seqüela neurológica ou intelectual(11).
Microftamia, sinéquia de globo ocular, estrabismo, nistagmus e catarratas são as principais complicações oftalmológicas. Já hidrocefalia, microcefalia,
retardo psicomotor, convulsões, hipertonia muscular,
hiperreflexia tendinosa e paralisias, são as principais
sequelas neurológicas(2).
Quando um recém-nascido que apresenta sintomas não é tratado, eleva o risco de adquirir seqüelas
que permaneçam por um longo período, por exemplo:
50% a 80% dos casos apresentam cefaléia, 55% a
69% dos casos apresentam espasticidade ou paresias, 50% a 76% dos casos apresentam problemas
acentuados de visão, 26% a 32% dos casos apresentam hidrocefalia ou microcefalia, 32% dos casos
apresentam calcificações intracranianas, a surdez
pode aparecer em 15% e o atraso mental pode vir a
aparecer em 58% a 86% dos casos(1).
Quanto às lesões oculares e as ocorrentes no sistema nervoso central, estas podem vir a se apresentar
nos primeiros dois anos de vida do recém-nascido.
O risco, decorrente de uma infecção por Toxoplasma
gondii poder causar uma cefaléia vária de 5,2% a
17%, de problemas de visões variam de 20% a 45%,
de hidrocefalia ou microcefalia pode varias de 9,5 a
13%, a surdez pode acorrer em 10,4 a 26% e o risco
de um atraso mental vária de 3,9 a 13%(1).
Distintas reações sorológicas determinam a presença de anticorpos antitoxoplasma, usando marcadores sorológicos diferentes a fim de distinguir as
infecções por Toxoplasma gondii. Para detectar e
localizar os antígenos usa-se a reação de imunofluorescência indireta que é uma técnica histoquímica ou
citoquímica. Para monitorar a atividade enzimática
dos antígenos e dos anticorpos utiliza-se o teste de
ELISA, por ser um método quantitativo(12).
O diagnóstico em casos de infecção fetal é feito
através da pesquisa, no liquido amniótico e no sangue do cordão umbilical, de microorganismos ou de
anticorpos contra eles. PCR é uma das técnicas utilizadas para o diagnóstico devendo ser realizado após a
décima segunda semana de gestação(13, 32).
A pesquisa de IgM no soro da paciente, hemograma fetal e inoculação em cobaia são testes também
utilizados, como complemento, para o diagnóstico.
Anticorpos IgG aparecem após uma semana após
a infecção e seu pico é maior quando chega a dois
meses e permanecem por toda a vida. Anticorpos IgM
aparecem duas semana após a infecção e tem seu
pico em um mês e após seis a nove meses o titulo
sofre declínio e torna-se indetectável. Anticorpos IgA
possuem maior sensibilidade que o IgM em neonatos
e por isso caem rapidamente. Já o anticorpo IgE, em
quatro meses, sobe e desce rapidamente(2).
Os testes mais utilizados são o ELISA e o de Hemoglutinação para o diagnostico. O ELISA é um diagnóstico da fase aguda como também da fase crônica. Já os testes de imunofluorescencia indireta e de
hemaglutinação são indicados para serem realizados
combinados, para traçar o perfil sorológico e distinguir se a fase é aguda ou crônica(3).
Pelo fato da Toxoplasmose ser em 90% dos casos
assintomática, ou seja, sem a presença de sintomas,
é muito importante que uma triagem sorológica seja
realizada para fins de tratamento materno precoce e
intra-uterino, em caso de infecção, é indispensável
que seja feito uma seqüência sorológica em gestantes susceptíveis para detecção de uma sorocenversão
ou um diagnostico de infecção aguda por Toxoplasma
gondii(14).
Os testes sorológicos para anticorpos IgG, IgM e
avidez de IgG anti-toxoplasma, são usados no diagnóstico em gestantes, tendo que ser buscados ativamente. Os possíveis resultados de testes sorológicos
estão representados na Figura 2(15).
Durante a fase aguda da infecção pelo Toxoplasma
gondii, a primeira imunoglobulina a ser produzida é a
IgM, logo após inicia a produção da imunoglobulina
IgG. Nos casos em que a infecção ocorrer pela via
oral, à imunoglobulina IGA também é produzida(12).
Existe ainda o teste de avidez, muito utilizado na
clinica que se baseia na avidez dos anticorpos IgG
idéia de que a avidez dos anticorpos, adquiridos após
a infecção por Toxoplasma gondii, aumenta conforme
passa o tempo(1).
Quanto a avidez de IgG anti-toxoplasma, em gestantes que possuem sorologia positiva para IgG e IgM
for alta o recém nascido não se infecta, enquanto que
se for baixa os recém nascidos se infectam. Nesse
caso, em gestantes IgM positivas a avidez de IgG determina o risco de transmissão para o feto durante a
gravidez. No caso de uma gestante ser suscetível, ela
deve realizar exames mensalmente com a finalidade
de detectar a viragem sorológica, para então iniciar o
tratamento adequado(15).
A interpretação dos resultados dos exames de laboratório deve ser realizada da seguinte forma:
Sorologia para toxoplasmose encontre-se IgG-/
IgM-, ou seja, não a presença de anticorpos, tanto
33
Mentges BTC(1)et al. • Apresentações clínicas: atualização da toxoplasmose gestacional
http: www.revistaapi.com
Possíveis resultados dos testes sorológicos
IgG-/IgM-
IgG+/IgM-
Títulos de IgG
Iniciar medidas de
muito reduzidos
prevenção primária.
Rastreio sorológico
durante a gravidez
Repetir
passadas três
semanas: se
SEM INFECÇÃO,
aumento de
SEM IMUNIDADE
títulos superior
a 4x, então
INFECÃO ATIVA
Títulos de lgG
“normalmente”
positos
provÁvel
imunidade
IgG-/IgM+
Deve iniciar tratamento. Repetir
sorologia passadas três semanas
IgG-/IgM+
Anticorpos IgM
não específicos
SEM INFECÇÃO,
SEM IMUNIDADE
IgG+/IgM+
Determinação da avidez das IgG*
Fraca
avidez
Forte
avidez
INFECÇÃO
RECENTE
INFECÇÃO
ANTIGA
IgG+/IgM+
CONFIRMADA
INFECÇÃO
RECENTE
Figura 2. Interpretação dos resultados sorológicos da toxoplasmose durante a gravidez
IgG como IgM, entende-se que a gestante não esta
protegida e medidas preventivas devem ser tomadas,
afim de evitar uma infecção por Toxoplasma gondii,
como também deve receber noções de sintomas que
pode vir a sentir caso ocorra uma infecção. Nesse
caso, como a gestante não possuem nenhum dos dois
anticorpos ela deve ser monitorada, durante o período
gestacional, para sorologia de toxoplasmose. Medidas
terapêuticas devem ser tomadas, caso haja uma casual infecção(1).
Casos relatados na França indicam que mesmo
pacientes soronegativas num determinado momento
da gestação apresentaram bebes com toxoplasmose
congênita(16).
Lembrando que durante a primeira e segunda semana após o inicio da infecção, os anticorpos IgM
pode ser dosados pela técnica de imunofluorescêcia.
Esse anticorpo eleva-se até a sexta e oitava semana,
quando então começa a cair, entretanto, baixos títulos de IgM podem aparecer por mais de doze meses.
Já os anticorpos IgG permanecem, na maioria dos casos, por toda a vida(12).
Quando na sorologia IgG+/IgM-, ou seja, a presença de anticorpos IgG e a ausência de anticorpos IgM, que torna o risco de uma infecção muito
baixa, por se tornar uma infecção crônica, portanto o IgG aplica imunidade a gestante. Em casos de
títulos de IgG muito reduzidos os testes devem ser
realizados novamente para verificar uma possível
mudança nos títulos, se não, não a necessidade
de repetir. Quando os valores, no segundo teste,
forem muito maiores, em torno de quatro vezes
mais, esse resultado deve ser interpretado com
uma infecção ativa.
34
Quando anticorpo se encontra IgG-/IgM+, ou seja,
a ausência de anticorpos do tipo IgG e presença do
tipo IgM, entende-se que há uma infecção aguda.
Nessa situação a mulher é aconselhada a não engravidar até uma nova sorologia ser interpretada, mas
no caso da mulher já estar esperando um bebê, ela
deve iniciar um tratamento imediatamente e repetir
os exames. Em ultimo caso, pode-se encontrar IgG+/
IgM+, ou seja, presença dos dois anticorpos, que
indica uma infecção já antiga ou, então, pode ser
uma primo-infecção recente. Essas duas podem ser
distinguidas através do teste de avidez do anticorpo
IgG, que caso de alta, significa uma infecção já antiga e no caso de dar baixa, significa uma infecção
recente(1).
Segundo Wallon M(17), sempre que a sorologia na
gestante apresentar risco deve-se solicitar IgM para
o recém nascido e acompanha-lo durante o primeiro
ano de vida. Devido à presença de anticorpos maternos de transferência passiva para o feto, o diagnóstico sorológico pode ser difícil devido a uma interferência(15).
A eficácia de terapia para diminuir o risco de
transmissão da mãe para o filho ainda é incerta. O
que é comprovado é a diminuição das sequelas nas
lesões congênitas, e o quanto antes o tratamento começar menor será a gravidade(14).
Espiramicina é o medicamento mais utilizado no
tratamento das gestantes. Ele impede a transmissão
da mãe para o feto(7).
O tratamento depende da idade gestacional e grau
de infecção, podendo ser utilizado no primeiro trimestre a espiramicina e nos últimos dois trimestre
podem ser usado uma associação de sulfatiazida, pi-
Rev Panam Infectol 2015;17(1):30-36
rimitamina e ác fólico. Na toxoplasmose gestacional
esses antibióticos são utilizados logo após o nascimento. Na ocular, como na cerebral depende da localização da infecção, podendo ainda ser associado a
sulfametoxazol-trimetoprima(18-19).
DISCUSSÃO
A infecção por toxoplasmose gestacional pode ser
assintomática, assim como, ocasionar severas conseqüências para o feto. A rigidez em que essas conseqüências ocorrem varia com o período gestacional em
que a mulher se encontra no momento da infecção.
No primeiro trimestre a infecção pode resultar em
óbito fetal e alterações morfológicas no recém-nascido. Já no segundo e terceiro trimestre a infecção
fetal resulta em doença subclínica ou leve no recém-nascido.
Na fase aguda, a forma encontrado o taquizoíta
é quando ocorre parasitemia. Na fase latente é encontrado organismos encistados no sistema nervoso,
músculo esquelético e cardíaco. O organismo encistado pode permanecer no hospedeiro e ser reativado
mais tarde e ocorrer manifestações graves como encefalite, miocardite e coriorretinite.
Algumas das conseqüências que podem vir a ocorrer são a cefaléias, paresias, graves perturbações da
visão, microcefalia, hidrocefalia, calcificação intracraniana, surdez e ainda atraso mental.
Quando a toxoplasmose é adquirida após o nascimento ela é geralmente assintomática. É baixa a taxa
em que surgem sintomas e manifestações com quadros leves, como febre e adinamia. Raramente surge
hepatite, envolvimento pulmonar, renal, encefalite e
miocardite.
A toxoplasmose congênita, assim como suas seqüelas, pode ser prevenida, através de algumas medidas simples, como por exemplo, educação das
gestantes ou futuras gestantes que não são imunes,
sobre alguns comportamentos preventivos como, por
exemplo, não limpar a caixa de areia do gato ou ingerir determinados alimentos ou água.
Outra mediada seria realizar o tratamento as gestantes que já contenham infecção aguda, assim como
dos fetos e dos recém-nascidos infectados, mesmo
que esses não possuam qualquer sintoma.
A eficácia de terapia antenatal para diminuir o risco de transmissão da mãe para o filho ainda é incerta,
conforme demonstrado através da literatura. Já o efeito
para a diminuição das seqüelas nas lesões congênitas
possui um efeito comprovado, e a redução da gravidade
será ainda maior se o inicio do tratamento for precoce.
Todos os recém-nascidos devem receber o tratamento com terapia específica, sejam eles sintomáti-
cos ou subclínica, assim como as gestantes que estejam sob suspeita ou com infecção confirmada.
O diagnóstico é realizado através do rastreio sorológico, o que permite a confirmação ou até mesmo a
suspeita da infecção por Toxoplasma gondii, e o padrão ouro de período de realização na gestante seria
mensal.
O tratamento das gestantes com suspeitas de toxoplasmose deve ser realizado de acordo com o período
gestacional, gravidade da doença e tipo de sequelas.
Esse medicamento vai diminuir a taxa de transmissão
do Toxoplasma gondii da mãe para o feto e diminuir
as sequelas ocasionadas pela infecção. Sempre que
na sorologia da gestante apresentar risco deve-se solicitar IgM para o recém nascido e acompanha-lo durante o primeiro ano de vida.
Os resultados indicam que a situação é crítica.
Em todo Brasil, aos moldes do estado de Goiás(20),
dever ser criado um programa de acompanhamento
sorológico para reduzir a transmissão vertical e a gravidade da toxoplasmose congênita. Deve ser criados
protocolos para seguimento das mulheres grávidas e
seus filhos melhorando a assistência médica e minimizando as sequelas. Nesse sentido é necessária a
sincronização de serviços, como laboratório, ginecológico, obstétrico e pediatria para que haja um controle efetivo da toxoplasmose gestacional.
AGRADECIMENTOS
Ao instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo
Ângelo (IESA), pela oportunidade da realização desse
trabalho.
REFERÊNCIAS
1. Martins C. Toxoplasmose na gravidez. Revista
Portuguesa de Medicina Geral e Familiar. [S.l.],
v. 18, n. 5, p. 333-40, set. 2002. ISSN 21825173. Disponível em: 2002. <http://www.rpmgf.
pt/ojs/index.php?journal=rpmgf&page=article&op
=view&path%5B%5D=9891>. Acesso em 2015
(Mar 11).
2. Moreira LMO. Toxoplasmose Congênita.
Disponível em: 2012 < http://www.sbp.com.br/
pdfs/TOXOPLASMOSE_congenita-LM-SBP16.
pdf>. Acesso em 2014 (Fev 4).
3. Souza ST. Toxoplasmose Congênita: Uma revisão
bibliográfica. Disponível em: 2010 <www.lume.
ufrgs.br/handle/10183/28225>. Acesso em
2015 (Fev 1).
4. Diniz EMA. O diagnóstico da toxoplasmose na
gestante e no recém-nascido. Pediatria (São
Paulo) 2006;28(4):222-5.
35
Mentges BTC(1)et al. • Apresentações clínicas: atualização da toxoplasmose gestacional
http: www.revistaapi.com
5. Reis MM, Tessaro MM, D´Azevedo PA. Rev Bras
Ginecol Obstet. 2006; 28(3):158-64.
6. Montoya JG, Remington JS. Management of
Toxoplasma gondii infection during pregnancy. Clin
Infect Dis. 2008;15;47(4):554-66.
7. Amendoeira MRR, Camillo-Coura LF. Uma breve
revisão sobre a toxoplasmose na gestação.
Scientia Medica (Porto Alegre) 2010; volume
20, número 1, p. 113-19.
8. Lopes-Mori RFM, Mitsuka-Breganó R,
Capobiango JD, et al. Programs for control
of congenital toxoplasmosis. Brazil Rev Med.
2011,57(5):581-86.
9. Melamed J. Contributions to the history of ocular
toxoplasmosis in Southern Brazil. Mem Inst
Oswaldo Cruz .2009; Mar;104(2):358-63.
10.Rorman E, Zamir CS, Rilkis I, Ben-David
H. Congenital toxoplasmosisprenatal aspects
of Toxoplasma gondii infection. Reprod Toxicol.
2006 May;21(4):458-72.
11.Margonato FB, Rigo-Silva AM, Soares DA, et
al. Toxoplasmose na gestação: diagnóstico,
tratamento e importância de protocolo
clínico. Rev. Bras. Saúde Matern. Infant.
2007;7(4):381-86.
12.Cantos GA, Prando MD, Siqueira MV, et al.
Toxoplasmose: Ocorrência de anticorpos
antitoxoplasma gondii e diagnóstico. Rev Ass
Med Brasil. 2000; 46(4):335-41.
13.Lopes FM, Gonçalves DD, Mitsuka-Breganó
R, et al. Toxoplasma gondii infection
in pregnancy. Braz J Infect Dis. 2007
Oct;11(5):496-506.
14.Porto AMF, Amorim MMR, Coelho ICN, et al.
Perfil sorológico para toxoplasmose em gestantes
atendidas em maternidade. Rev Assoc Med Bras.
2008;54(3):242-8.
15.Diniz EMA. O diagnóstico da toxoplasmose na
gestante e no recém-nascido. Pediatria (São
Paulo) 2006;28(4):222-5.
16.Ben Hamida Nouaïli E, Chaouachi S, Meftah
N, et al. Neonatal screening of congenital
toxoplasmosis. Prospective study]. Tunis Med.
2009 Mar;87(3):196-9.
17.Wallon M, Peyron F, Cornu C, et al. Congenital
toxoplasma infection: monthly prenatal
screening decreases transmission rate and
improves clinical outcome at age 3 years. Clin
Infect Dis. 2013;56(9):1223-31.
18.Foster C, MIstry NF, Peddi PF, et al. Manual de
terapêutica clínica. 33ª edição. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2012.
19.Diniz EMA, Vaz FAC. Qual é a recomendação
atual para o tratamento a toxoplasmose
36
congênita? Rev Assoc Med Bras.
2003;49(1):1-23.
20.Avelino MM, Amaral WN, Rodrigues IM, et al.
Congenital toxoplasmosis and prenatal care state
programs. BMC Infect Dis. 2014 an 18;14-33.
Correspondência
Ivete Terezinha Machado da Rocha
Rua Itajaí 156, Apto 301
Cep: 90470140 - Porto Alegre, RS, Brasil
E-mail: [email protected]
Download