Informativo Técnico Acariquara-roxa Versão impressa ISSN 1679-6500 Minquartia guianensis Aubl. Versão on-line ISSN 1679-8058 Identificação Família: Olacaceae. Nomes vulgares: acariquara, acariquara-roxa, acari, acapú, acaximba, arariúba, entre outros. Sinonímias: Minquartia macrophylla Ducke, M. parvifolia A. C. Smith, M. punctata (Radlk.) Sleumer, Eganthus poeppigii V. Teigh., Endusa punctata Radlk e Secretania loranthacea M. Arg. Usos da espécie A madeira, devido a sua resistência, é utilizada geralmente como poste elétrico e, pelo aspecto estético do fuste quando polido, em colunas na construção civil, sendo também empregada na fabricação de estacas, dormentes e mourões. Os cavacos, quando fervidos, produzem um corante negro que serve para o tingimento de tecidos. Algumas populações indígenas do Equador usam a infusão da casca no tratamento de infecções intestinais, causadas por parasitas, e contra dores musculares e irritações cutâneas. Bio-ensaios indicaram a eficácia de um ácido da casca no tratamento de infecções intestinais. O ácido minquartinóico, isolado da planta, mostrou ser eficiente no combate à malária e à leishmaniose. Contudo, não se conhecem pesquisas atuais sobre o emprego medicinal da espécie no Brasil ou algum investimento para viabilizar comercialmente a utilização dos produtos não-madeireiros. A árvore apresenta características ornamentais, pelo aspecto do tronco e formato da copa, podendo ser plantada em parques urbanos. Descrição botânica Árvore de porte médio, podendo alcançar até 30m de altura e 85cm de DAP. O tronco é fenestrado e acanalado, mas também há árvores com sapopemas e troncos não fenestrados. A casca, que pode apresentar látex, é marrom-acinzentada, com fissuras verticais retas e pequenas placas oblongas. A copa tem formato cônico. As folhas são simples, com disposição alterna e textura cartácea a coriácea; medem 10-16cm de comprimento e 4-6cm de largura; o formato é oblongo a elíptico; a base é obtusa a arrendondada-truncada; o ápice é abrupto, curto e acuminado; a margem é inteira; a face adaxial é verde-escura; a face abaxial é mais clara e algumas vezes esbranquiçada. A inflorescência, uma espiga axilar solitária e simples, com 2-9cm de comprimento, se forma nas partes terminais dos galhos mais finos e possui flores hermafroditas minúsculas de coloração creme, distribuídas irregularmente ao longo da raque. O fruto é do tipo drupa monospérmica, com peso médio de 3,5g; o formato é elíptico ou ovalado, com base e ápice arredondados; o exocarpo é fino e membranoso, com superfície lisa, glabra, brilhosa e coloração variando, conforme a maturação, de verde-escura, verde-clara, amarela até roxo-escura; apresenta látex abundante e gosto adstringente quando imaturo; ao amadurecer, o mesocarpo carnoso amolece e adquire coloração amarelada e gosto adocicado. O propágulo, botanicamente um pirênio, apresenta superfície marromclara, verrugosa e glabra, consistência lenhosa e peso médio de 1,5g; o formato é elipsóide, com base arredondada e ápice acuminado. A plântula apresenta hipocótilo roxo-escuro e glabro, que pode alcançar cerca de 12cm de comprimento; o epicótilo é verde, piloso, densamente ferrugíneo e curto; o primeiro par de folhas é simples e oposto, enquanto as folhas posteriores são simples, alternas e coriáceas; a gema apical é tipicamente curvada, tomentosa e ferrugínea, características de fácil reconhecimento no campo. Ecologia A espécie ocorre na América Central e na Bacia Amazônica. No Brasil, é encontrada nos estados do Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá. Ocorre em solos arenosos ou argilosos, desde terras baixas até 1000m de altitude, com precipitação média anual variando de 2500 a 6500mm e temperatura média anual de 22°C a 35°C. O seu estabelecimento depende de locais sombreados nas florestas primárias e secundárias de terra firme ou periodicamente inundadas. A polinização é feita por besouros e abelhas, embora pássaros também tenham sido relatados. A dispersão dos propágulos é zoocórica. A predação dos frutos é alta e pode ocorrer na copa, antes da dispersão natural; após a dispersão, frutos e sementes são predados por cutias, cutiaras, veados e ratos. Floração e frutificação Na região de Manaus, a frutificação é supra-anual, com baixa produção. Anos de maior produção podem ocorrer em intervalos de até dez anos. O período de floração vai de março a julho e a frutificação inicia em abril e pode se estender até setembro. Assim, a dispersão dos propágulos ocorre no período mais seco do ano. O mesmo padrão fenológico foi observado no estado do Pará. Informativo Técnico Rede de Sementes da Amazônia Nº 10, 2005 Acariquara-roxa Minquartia guianensis Aubl. Obtenção de sementes O ideal é coletar os frutos com coloração roxo-escura diretamente na árvore, porém bons resultados também foram obtidos com frutos coletados no chão. A produção de sementes por árvore pode chegar a 4-6kg. As sementes não toleram dessecamento, devendo ser transportadas em sacos plásticos. tratamento pré-germinativo apresentaram tempo inicial de germinação de 3 meses, tempo médio de 4 a 5 meses e tempo final de 6 meses, com germinação média final em torno de 75%. Propagação vegetativa Até o momento, não se conhece um método eficiente de propagação vegetativa para a espécie. Beneficiamento O despolpamento, que deve ser feito logo após a colheita, é facilitado pela maceração dos frutos em peneira e lavagem em água corrente. O teor de água das sementes recém-coletadas varia em torno de 40%, 1000 sementes pesam entre 1,3 e 1,8kg e 1kg de sementes pode conter 560-800 unidades. Armazenamento das sementes As sementes são recalcitrantes, sendo que o dessecamento e a exposição à refrigeração são letais. A melhor condição para o armazenamento consiste em manter as sementes com teor de água elevado (45-60%) e sob temperatura de 15oC, em sacos plásticos finos e perfurados, contendo vermiculita úmida. Desta forma, foi possível conservar as sementes por até 9 meses. Produção de mudas no viveiro As sementes podem ser semeadas sobre areia e cobertas por uma camada de vermiculita de 2-3cm, em canteiros ou caixas. Após a expansão das primeiras folhas, as mudas podem ser repicadas. A semeadura pode também ser feita diretamente em sacos plásticos, contendo mistura de argila, areia e material orgânico (proporção volumétrica de 3:1:1). As mudas devem ser mantidas sob sombreamento de 50 a 75% e o tempo de permanência no viveiro deve ser de no mínimo 1 ano. Fitossanidade Germinação das sementes As sementes podem ser atacadas pelo coleóptero Lophopoeum circunflexum (Cerambycidae). Quando necessário, as mudas devem ser protegidas do ataque de herbívoros vertebrados ou invertebrados, principalmente das formigas cortadeiras (Atta spp.). A germinação é epígea e criptocotiledonar. As sementes possuem dormência mecânica e morfológica. A retirada do endocarpo diminui pela metade o tempo médio de germinação, mas a retirada favorece o ataque de microrganismos e ocasiona uma redução significativa na germinação. Por isso, a retirada do endocarpo não é recomendada. Sementes recém-dispersas e sem Autores José Luís Campana Camargo, [email protected] Isolde Dorothea Kossmann Ferraz, [email protected] Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia Caixa Postal 478, CEP 69011-970, Manaus-AM, Brasil Telefone: (92) 3642-1148, ramal 23 Bibliografia Camargo, J.L.C. 2004. Alterações na dinâmica e demografia de árvores tropicais após a fragmentação florestal na Amazônia Central. Manaus, INPA/UFAM. 154p. (Tese – Doutorado). Camargo, J.L.C & Ferraz, I.D.K. 2004. Acariquara-roxa, Minquartia guianensis Aubl, Olacaceae. In: Ferraz, I.D.K. & Camargo, J.L.C. (Ed.) Manual de Sementes da Amazônia. f.4. Manaus, INPA. 8p. Ferraz, I.D.K. et al. 2004. Guia de propágulos e plântulas da Amazônia. Manaus, INPA/PDBFF. 26p. Flores, E.M. 2002. Minquartia guianensis Aubl., Olacaceae (Olax family). In: Vozzo, J.A. (Ed.) Tropical Tree Seed Manual. Washington, USDA Forest Service. p.575-578. (Agriculture Handbook, 721). Nebel, G. 2001. Minquartia guianensis Aubl.: use, ecology and management in forestry and agroforestry. Forest Ecology and Management, 150:115-124. Salazar, R. 1999. Minquartia guianensis Aublet. In: Salazar, R. (Coord.) Nota técnica sobre manejo de semillas forestales. n.57. Turrialba, CATIE/DFSC. 2p. Sleumer, H.O. 1984. Olacaceae. In: Luteyn, J.L. (Ed). Flora Neotropica. New York, NYBG. v.38. p.1-43. Expediente Informativo Técnico Rede de Sementes da Amazônia é uma publicação da Rede de Sementes da Amazônia, projeto financiado pelo Fundo Nacional do Meio Ambiente/MMA. Este informativo, assim como as fotos, estão disponíveis no endereço: http://www.rsa.ufam.edu.br Instituições parceiras Universidade Federal do Amazonas (UFAM); Universidade Federal do Acre (UFAc); Universidade Estadual do Amazonas (UTAM); Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA); Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA); Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa/AM/PA/RR); Fundação de Tecnologia do Acre (FUNTAC); Instituto Rondônia de Alternativas de Desenvolvimento (IRAD); Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Amapá (IEPA); Associação das Empresas Exportadoras do Pará (AIMEX); Agência de Desenvolvimento da Amazônia (ADA); e Centro de Pesquisas Ecológicas da Amazônia (CEPEAM). Conselho Editorial Isolde D. K. Ferraz, Sidney A. N. Ferreira e Daniel F. O. 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