Lição 13- Judas Iscariotes, o apóstolo traidor Texto Bíblico: Lucas 6.12-14 A teóloga Dorothy Sayers escreveu: “Judas não pode ter sido aquele vilão rastejante, repugnante e desprovido de qualquer valor que muitas pessoas imaginam; isso lançaria uma dúvida sobre a inteligência e o caráter de Jesus. Seria algo impensável da parte do Mestre, escolher um desonesto declarado para ser seu seguidor. E Jesus de Nazaré era um Rabino e não um tolo”. Precisamos formar a nossa opinião a respeito dele pelo relato bíblico: “Naqueles dias retirou-se para o monte a fim de orar; e passou a noite orando a Deus. E quando amanheceu, chamou a si os seus discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu também o nome de apóstolos... E Judas Iscariotes que se tornou traidor” (Lc 6.12-14). Lembremos a narrativa: Uma noite inteira de oração, depois a escolha dos apóstolos, inclusive Judas. Está claro: Judas foi escolhido não para ser traidor, mas para ser apóstolo e servir a Cristo. Ele teve a mesma oportunidade dada a Pedro, Tiago, Filipe e Natanael. Ele se vestia do mesmo modo que eles e tinha aparência idêntica. Ouviu as mesmas mensagens, viu os mesmos milagres, presenciou as mesmas cenas. Ele também saiu de “dois em dois” para testemunhar e proclamar o reino de Deus (Mc 6.7). Durante três anos, ele foi um dedicado apóstolo de Jesus Cisto. Ele tinha qualidades raras que ressaltaram aos olhos e ouvidos do Mestre. É possível que tivesse uma brilhante inteligência e muita habilidade com números, especialmente a administração do dinheiro. JUDAS ISCARIOTES, UM APÓSTOLO “ESTRANHO NO NINHO” Judas era o único discípulo-apóstolo que não era da Galileia. Ele era proveniente da região do sul. Judas era originário da Judeia. Ele mesmo, voluntariamente, demonstrou o desejo de seguir a Cristo. Ele desejava ser um discípulo do Mestre e estava ansioso para segui-lo. Ele havia proposto em seu coração abandonar tudo e seguir Jesus integralmente. E quando Jesus lhe disse: “Segue-me!”, ele se levantou e o seguiu por completo. Mas há um detalhe importante nesse episódio. Judas era originário da cidade de Keriote, região sulina, e, por isso mesmo, era um “estranho no ninho”. Enquanto os demais falavam com sotaque da Galileia, ele tinha um sotaque sulino. Portanto, é natural que as pessoas se agrupem com os amigos, com aqueles que têm os mesmos hábitos e até mesmo sotaques parecidos, como, por exemplo, Tiago, João, Pedro e André, que tinham sido sócios no negócio de pesca, e também Filipe e Natanael, que tinham sido amigos anteriormente. Judas tinha muita habilidade com números. Era um líder nas negociações e controles das finanças do Mestre. Então, eles o elegeram tesoureiro do grupo, pois tinham confiança nele. Entre os apóstolos, havia um núcleo mais íntimo, uma espécie de assessores mais próximos do Mestre: Pedro, Tiago e João. Mas Judas não pertencia a esse comitê. É provável que ali iniciasse uma ponta de inveja, ciúme e, quem sabe, o ressentimento havia entrado em seu coração. Em nenhum momento, Judas aparece em primeiro plano antes do seu ato de traição. Isto aconteceu após ele ter andado três anos na companhia de Jesus. Entretanto, havia duas referências muito breves a ele antes disso e, por intermédio delas, nós temos uma visão de seu caráter. Ninguém se torna traidor de um momento para outro, da noite para o dia. Há sempre alguns passos preliminares que levam ao desastre. JUDAS ISCARIOTES, UM APÓSTOLO MATERIALISTA No Evangelho de João, capítulo 12, há a narrativa de um episódio muito significativo: Jesus ceava em casa de Maria, Marta e Lázaro. Após a ceia, Maria apanhou um frasco de perfume caríssimo. Ela chegou-se a Jesus e derramou o óleo sobre Ele, e depois enxugou seus pés. Aquela maravilhosa fragrância encheu o aposento. Esse seu ato foi um gesto de devoção, mas Judas fez objeção a ele, protestando: “Por que não se vendeu este perfume por trezentas moedas de prata e não se deu aos pobres?” (Jo 12.5). E ele não estava sozinho em sua analogia; os outros discípulos também consideraram aquilo um desperdício. Portanto, ele não é um vilão isolado, pois está claro nos evangelhos que os outros também partilhavam da mesma opinião. E somente depois de alguns anos, relembrando o episódio, foi que João comentou: “Isto disse ele não porque tivesse cuidado dos pobres; mas porque era ladrão e, tendo a bolsa, tirava o que nela se lançava” (Jo 12.6). O outros não sabiam então que ele era um dissimulado ladrão. Isto João descobriu depois, quando examinou os livros. Aqui temos, então, o seu caráter delineado: como muitos seguidores de Jesus, Judas é um homem que age com segundas intenções. Quando expressa interesse pelos pobres, sua motivação real era regida por uma materialista ambição. Ao mostrar sinais exteriores de religiosidade, seu verdadeiro impulso é a avareza; ele esconde este amor às riquezas sob uma capa de boas obras. É uma pessoa que diz as palavras certas, mas age errado, ou não age... Que serve ao seu eu, em lugar de obedecer a Cristo. Portanto, ele seguiu a Cristo levando consigo seu pecado e em consequência disso veio a sua queda. JUDAS ISCARIOTES, UM APÓSTOLO TRAIDOR Os dois atos anteriores precedem o terceiro e mais grave: o ato da traição. O evangelista Lucas descreve isso de forma precisa: “Ora, Satanás entrou em Judas chamado Iscariotes, que era um dos doze. Este foi entender-se com os principais sacerdotes e os capitães de como lhes entregaria Jesus. Então eles se alegraram e combinaram em lhe dar o dinheiro...” (Lc 22.3-5). Qualquer argumento que possamos usar tem que se ajustar à explicação dada pelas Escrituras: “Ora, Satanás entrou em Judas”. E naturalmente isto não se deu sem que ele o permitisse. Judas abriu a porta. Ele tinha dado os passos preliminares que o levariam à ruína. Com isso a porta se fechou para Jesus. A cena da traição é justamente a mesa da comunhão. Tudo começou com aquele ato humilde de Jesus. Ele lavou os pés dos discípulos. Tomando uma toalha e uma bacia e pondo-se de joelhos, Ele foi de um em um, e lavou os pés daqueles que, atônitos, o olhavam em silêncio. Jesus também lavou os pés de Judas, olhou-o em silêncio. E em ato contínuo todos se sentaram em redor da mesa. Jesus liderava a ceia memorial. E em dado momento, Jesus afirma: “Um dentre vós me trairá” (Jo 13.21). Ninguém suspeitava de Judas. Havia um constrangimento geral. A pergunta dominante era: “Porventura sou eu, Senhor?”. Finalmente, Judas pergunta também: “Acaso sou eu, Mestre? E respondeu-lhe Jesus: Tu o disseste” (Mt 26.25). JUDAS ISCARIOTES, UM APÓSTOLO ARREPENDIDO Apenas o evangelista Mateus registrou um dos episódios mais dramáticos da história: o arrependimento de Judas (Mt 27.1-10). Ao ver o Mestre acusado, julgado e condenado, foi tomando por um sentimento de remorso. Uma onda de culpa tomou conta dele: traiu sangue inocente. Por que ele teve tanto remorso? Uma provável explicação para isso é que ele não era um criminoso endurecido, um malvado e sem sentimentos. Era um homem sensível à voz do Espírito Santo. Ele fora tocado pelos ensinamentos de Jesus. A sua consciência não estava cauterizada. Ele não pôde deixar de sentir a culpa. As possibilidades de perversão do coração humano, com efeito, são inúmeras. Lembremos de que Pedro também queria se opor a Jesus quando Ele falou de sua morte, mas recebeu forte reprovação: “Não pensas as coisas de Deus, mas dos homens” (Mc 8.32,33). Depois de sua queda, Pedro arrependeu-se e encontrou perdão e graça. Judas também se arrependeu, mas o seu arrependimento se transformou em desespero e assim em autodestruição. Ele poderia ter sido uma bênção. Ele fora chamado para ser apóstolo, mas escolheu o caminho do mal. PARA PENSAR E AGIR 1. Nós ouvimos Jesus. Sabemos o que devemos fazer. Mas será que deixamos que Ele nos modifique? 2. Ao examinarmos o nosso coração, porventura não estamos trilhando o caminho de Judas? 3. Judas estava seguindo Jesus, mas com outros intentos. E nós? LEITURAS DIÁRIAS: segunda-feira: Mateus. 26.1-5. terça-feira: Mateus 26.6-13 quarta-feira: Marcos 14.18-21 quinta-feira: Lucas 22.1-6 sexta-feira: João 18.1-8 sábado: Mateus 27.1-10 domingo: Atos 1.15-24