A Participação de Antropólogos e Antropólogas no SUAS A Associação Brasileira de Antropologia (ABA), a convite do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) vem apresentar sua contribuição para a definição das funções de antropólogos e antropólogas no Sistema Único de Assistência Social (SUAS). A ABA se congratula com a implantação do SUAS em 2006, e com a realização do Encontro Nacional de Trabalhadores do SUAS em 2010 e 2011, seguindo orientação da Lei Orgânica da Assistência Social-LOAS (Lei 8742, de 07 de dezembro de 1993), que instituiu o CNAS, e que veio a exigir a participação de profissionais de diversas áreas entre os trabalhadores do Sistema Único de Assistência Social, de forma a que diversas especialidades de conhecimentos profissionais venham a contribuir com a formulação, planificação e gestão da Assistência Social no Estado brasileiro. São duas as dimensões do trabalho profissional que queremos enfatizar para caracterizar a contribuição e imprescindibilidade de antropólogas e antropólogos no SUAS e nas suas equipes interdisciplinares: 1. Seu principal método de trabalho: a etnografia; 2. Sua principal ferramenta analítica: a tradução dos códigos culturais e mediação entre grupos sociais distintos. Esta perspectiva analítica decorre não somente de seu método de trabalho, mas de sua acumulada experiência no estudo de populações culturalmente distintas e na atenção à diversidade existente na sociedade brasileira. A pesquisa antropológica baseada no trabalho de campo é extremamente relevante para desvendar problemáticas que estão na ordem do dia sobre a produção da diferença cultural e das desigualdades sociais, saberes e práticas tradicionais, patrimônio cultural e inclusão social e, ainda, desenvolvimento econômico e social. Dessa perspectiva, as questões sociais devem sempre levar em conta a compreensão dos códigos culturais dos diversos grupos populacionais, seja no campo ou na cidade. Os estudos antropológicos têm produzido conhecimento especializado sobre as peculiaridades socioculturais de povos indígenas, grupos quilombolas, povos de terreiro, camponeses, comunidades de fundo de pasto, agricultores tradicionais extrativistas, ribeirinhos, seringueiros, açaizeiros, quebradeiras de coco babaçu, pescadores artesanais, Associação Brasileira de Antropologia, Caixa Postal 04491, Brasília-DF, CEP: 70904-970 Tel/Fax: (61) 3307-3754 – E-mail: [email protected] – Site: www.abant.org.br caiçaras, ciganos, migrantes e imigrantes, operários e trabalhadores autônomos, entre outros. Paralelamente têm examinado problemáticas sobre movimentos sociais, violência, justiça, religião, políticas de administração de conflitos, gênero, família, gerações, sexualidade, reprodução, representações sobre saúde, doenças e processos terapêuticos, assim como sobre aspectos organizacionais, institucionais e político-ideológicos dos programas de políticas públicas. A tradição da perspectiva antropológica está calcada em saberes consolidados capazes de proporcionar uma formação profissional especializada na capacidade de tratar das questões sociais no quadro do reconhecimento das diversidades culturais. Desenvolveu sensibilidade etnográfica aos fatores culturais que, muitas vezes, quando não reconhecidos, constituem entraves na assistência social adequada às populações. Assim a especificidade e importância da participação de profissionais da antropologia nas atividades de gerir e interagir com os usuários do Sistema de Assistência Social está nuclearmente fundamentada na especialidade de compreender, apreciar e traduzir códigos culturais diversos. O aprendizado profissional antropológico propicia uma excelente qualificação para contribuir para a elaboração e gestão tanto de macro políticas públicas, como de micro políticas de gestão cotidiana de assistência social para segmentos sociais urbanos e rurais, especialmente aqueles em situações de desvantagem e risco social e grupos étnicos diferenciados. Através de sua atuação, os profissionais da antropologia buscam contribuir para os objetivos do SUAS em promover uma redefinição do caráter assistencial tradicionalmente associado às políticas de assistência social em geral. Esses profissionais compartilham da visão do “usuário” como cidadão e do objetivo de consolidar sua autonomia. Mais especificamente, pode ser destacada a importância estratégica da participação de profissionais com formação específica em antropologia em cinco dimensões da elaboração, gestão e execução de macro e micro políticas públicas: 1. formulação de estratégias de assistência social culturalmente sensíveis, com a incorporação no planejamento e devida consideração para pluralismo cultural em seus componentes étnicos, raciais, de gênero, etários, lingüísticos, territoriais, espaciais, temporais, religiosos, mágicos, míticos etc., que diversificam as populações a serem assistidas pelo SUAS. Associação Brasileira de Antropologia, Caixa Postal 04491, Brasília-DF, CEP: 70904-970 Tel/Fax: (61) 3307-3754 – E-mail: [email protected] – Site: www.abant.org.br 2. elaboração, gestão e execução cotidiana de projetos de intervenção comunitária e mediação de conflitos comunitários e familiares que contemplem o pluralismo sóciocultural das populações atendidas e respeito à diversidade e individualidades; 3. elaboração, gestão e execução de projetos de planificação, intervenção comunitária e mediação de conflitos comunitários e familiares para comunidades que apresentam reconhecidas peculiaridades socioculturais tendo em perspectiva a compreensão de sua especificidade étnica, cultural e social e atenta aos direitos à necessidade de superar desigualdades culturalmente marcadas, como em relação à gênero, raça, idade, orientação sexual, etc; 4. elaboração de instrumentos para formulação de políticas públicas, pesquisa social e avaliação que permitam tomar em conta a diversidade sócio-cultural em suas várias dimensões e composições, com repercussões positivas para a maior efetividade dos sistemas de assistência e os direitos cidadãos; 5. gestão e pesquisa dos sistemas assistenciais e de suas comunidades atendidas com base na observância do aprendizado obtido através do trabalho etnográfico e aprendizado no campo, e no aprendizado analítico da interpretação e tradução dos códigos culturais. A profissionalização em antropologia é regida pelo CÓDIGO DE ÉTICA DO ANTROPÓLOGO, criado e aprovado pela ABA na Gestão 1986-1988 e encontrado no site: http://www.abant.org.br/?code=3.1 Associação Brasileira de Antropologia, Caixa Postal 04491, Brasília-DF, CEP: 70904-970 Tel/Fax: (61) 3307-3754 – E-mail: [email protected] – Site: www.abant.org.br