ENCARTE TÉCNICO RECUPERAÇÃO DE PASTAGENS COM GUANDU EM SISTEMA DE PLANTIO DIRETO1 Luiz Albino Bonamigo2 1. INTRODUÇÃO O Cerrado brasileiro ocupa cerca de 24% do território, com um potencial de 60 milhões de hectares destinados a pastagens cultivadas. Somente no Mato Grosso do Sul, com a maior concentração de gado do país, existem 16 milhões de hectares de pastagens, dos quais 9 a 10 milhões encontram-se degradados. A curto prazo, verifica-se que o crescimento populacional não é compatível com a projeção da produção alimentar. Na década de 60, o fóco do melhoramento de plantas se orientava para a avaliação e a seleção de plantas, com uso incipiente da computação. Na década de 70 houve o grande salto (revolução verde), e já na década de 80 aparece a biotecno-logia, com os materiais transgênicos que talvez venham contornar o problema da produção de alimentos. Estamos, entretanto, com recursos escassos e com poucas opções de auxílios governamentais. Neste cenário, o consórcio de gramíneas com leguminosas melhoradas surge como tecnologia alentadora. 2. AVALIAÇÃO DAS PASTAGENS DEGRADADAS A escala americana (Escola Americana de Manejo de Pastagens Naturais - “Range Management”) prioriza a simplicidade e a facilidade de uso genérico: Condição da pastagem, sob manejo prático: • Boa: 50-75% da produção da forragem. • Razoável: 25-50% da produção da forragem. • Pobre: menos que 25% da produção da forragem. Portanto, segundo essa escala, considera-se uma pastagem degradada quando ela está produzindo abaixo de 50% do seu potencial inicial de produção. No caso específico de pastagens de Brachiaria decumbens, durante o período de verão, NASCIMENTO JÚNIOR et al. (1994), criaram uma escala de classificação do estádio de degradação com base na presença de evidências de erosão e na produção, composição botânica, relação folha/colmo, densidade e altura da gramínea (Tabela 1). Dentre as maneiras de se reformar uma pastagem degradada, vou abordar duas delas: • Renovação, ou substituição por outra forrageira: Pastagem degradada é aquela que apresenta minimização da capacidade produtiva, de bens ou serviços, atual ou potencial, causada por um ou mais processos (FAO-UNEP, citada por MO-RAES, 1993). - forma convencional, com gradagem e a seguir semeadura do capim, a lanço; - forma direta, com integração com lavoura ou de forma consorciada com leguminosa. A pastagem recuperada diz respeito à recomposição em número e constituição dos organismos assemelhados aos originalmente presentes na área, enquanto a pastagem restaurada envolve o retorno dos organismos originais. A reabilitação da área é alcançada com a estabilidade das condições de produção do local, diferentes das originais, podendo favorecer e melhorar o seu aproveitamento. A renovação de pastagem é outro termo utilizado, referindose à substituição da espécie forrageira por outra (Macedo, citado por VIEIRA & KICHEL, 1995) e de significado próximo ao de reabilitação. • Recuperação - método tradicional com grade; - forma direta, com consorciamento da leguminosa em semeadura direta. Esta última resulta a mais econômica e será discutida a seguir. 3. PASTAGENS CONSORCIADAS Quando se considera apenas a compatibilidade entre as espécies em consórcio, suas características básicas devem ser examinadas sob dois aspectos: Tabela 1. Estádios de conservação da pastagem de Brachiaria decumbens, durante o período de verão, com base em algumas características botânicas e de erosão do solo (NASCIMENTO JÚNIOR, 1994). Estádio de conservação Excelente Bom Razoável Pobre Produção de MS/ha (kg) Presença de braquiária (%) 2.500 1.500-2.500 750-1.500 < 750 75 50-75 25-50 < 25 Altura média (cm) > 40 40 < 40 < 40 Relação folha/colmo >1 1 <1 Sinais de erosão laminar causados pela chuva Incipiente Evidente 1 Palestra proferida no IV Encontro Regional de Plantio Direto em Uberlândia, MG. Engenheiro Agrônomo, M.S., Pesquisador da Sementes Bonamigo. Rua Praia da Costa, 84, Jardim Autonomista, 79022-150 Campo Grande-MS. Fone: (067) 726-2236. 2 INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 88 – DEZEMBRO/99 1 a. Adaptação às condições do ambiente: climáticas (temperatura, luz, umidade) e de solo (fertilidade). b. Características intrínsecas das forrageiras: hábito de crescimento, tolerância a pisoteio, desfolhamento, sombreamento, pragas e doenças, CTC das raízes, adaptação à mecanização, nodulação, distribuição da produção da fitomassa, sistema de pastejo, que determinará a pressão de pastejo apropriada, permanência da pastagem e equilíbrio das espécies. Na prática, em pastagem mista, considerar nas forrageiras, basicamente, o índice de área foliar, as reservas orgânicas, a altura de pastejo e o mecanismo de rebrota. Quando semeadas na mesma época, a gramínea, que é uma planta C4, muito mais eficiente quanto à fotossíntese, evidentemente irá superar a leguminosa (C3), com menor eficiência fotossintética. Também, se o gado consumir mais leguminosa, sua área foliar será afetada, e conseqüentemente sua competição com a gramínea será desigual. O guandu, na pastagem mista, entra como fornecedor de nitrogênio (N) durante o período de verão. A partir de maio, no período invernal, quando escasseia o alimento, o guandu começa a florescer, tornando-se palatável e constituindo em fonte alimentícia para o período da seca. dimento se está consumindo a matéria orgânica (M.O.) do solo. Onde está a sustentabilidade desse sistema? Por outro lado, em pastos degradados, quase não existe M.O. Que fazer em solos com teores de M.O. em torno de 1%? Eu, como técnico, não posso concordar com essa estratégia. É necessário adubar. Mas não se trata de usar doses expressivas de adubo para produzir 1.000 kg/ha de carne a pasto. Com alguns exemplos mostrados a seguir pode-se entender melhor a importância de se efetuar uma adubação razoável. A planta de trigo, sem adubação, consome 928 litros de água para cada kg de massa seca produzida; entretanto, quando adubada, consome somente 350 litros. No caso da forrageira, com e sem adubação, são requeridos 1.600 litros e 600 litros de água, respectivamente, para cada kg de massa seca produzida. Os macro-nutrientes, na adubação, aumentam a eficiência da planta em transformar água em fitomassa. Os micronutrientes atuam na ativação dos complexos enzimáticos da planta para catalizar diversas reações químicas na produção de compostos orgânicos. Na ausência deles, o consumo energético da planta é maior para a execução dessas transformações. 4. OBSTÁCULOS LIMITANTES ÀS PASTAGENS CONSORCIADAS O nitrogênio, em geral, é o nutriente que mais limita a produção de matéria verde das pastagens e o de maior custo entre os adubos químicos. Em pastagens de gra-míneas, Entre os muitos obstáculos que se tem O guandu, na pastagem mista, a absorção de ânions é aproximadamente o doobservado, SPAIN & VILELA (1990) examinam bro da dos cátions, devido o N ser o nutriente entra como fornecedor de alguns deles, colocando-os genericamente em maior demanda metabólica (FER-NANDES nitrogênio (N) durante o período de três grupos: & ROSSIELLO, 1986). O uso da adubação nitrogenada química teria retorno econômico se • Limitações técnicas: poucos germoplas- de verão. A partir de maio, no fossem produzidos 2,35 kg de peso vivo para período invernal, quando mas comprovadamente adaptados para alguns cada kg de N utilizado no sistema de engorda. ecossistemas; limitação para seleção dos germo- escasseia o alimento, o guandu Mas a resposta média de produção, observada plasmas sob pastejo; conhecimento insuficiente começa a florescer, tornando-se por GOMIDE (1985), foi de 1,55 kg de peso vivo sobre compatibilidade das espécies; falta de bases ecofisiológicas para manejo de pastejo de palatável e constituindo em fonte para cada kg de nitrogênio aplicado. A adubação química de N pode encontrar mais pastagens consorciadas e falta de segurança no alimentícia para o período da receptividade em sistemas de alta produção, estabelecimento de pastagens consorciadas. seca. com grande aporte de recursos, que trabalhem • Barreiras econômicas: devido ao alto com carga animal de, no mínimo, 4 UA/ha. A dificuldade de aproveicusto de estabelecimento, em geral, das pastagens. tamento pela gramínea deve ser ressaltada, em função da distribui• Barreiras psicológicas para adoção: a perda da credibi- ção irregular do adubo (baixa absorção pelas plantas do adubo lidade da filosofia de pastagens consorciadas em razão dos fracas- colocado a mais de 15 cm), citado por CORSI (1975), e a formulação sos anteriores. deve ser adequada, para que não ocorram perdas por volatilização, A tentativa de associar duas plantas distintas, como gra- situação mais comum em nossas condições de altas temperaturas míneas e leguminosas, de respostas diferenciadas quanto a tempe- no verão (período de maior produção da fitomassa). Outro fator ratura, luz, disponibilidade de água, exigência e absorção de nutri- desfavorável à adubação química, quando comparada ao nitrogêentes, depende, dentre outros fatores, também da CTC das raízes nio biológico, diz respeito ao aumento da suculência das plantas e (NASCIMENTO JÚNIOR, 1986). Considere-se ainda o hábito de conseqüente diminuição do teor de matéria seca, em razão da grancrescimento e a adaptação das espécies às condições climáticas e de e imediata disponibilidade de nitrogênio para a forrageira. Este edáficas de cada região. Quanto à leguminosa, especificamente, baixo teor de matéria seca pode ser limitante no atendimento das dentre as características mais importantes que devem ser bem necessidades dos animais em produção (CORSI, 1975). dimensionadas, sem dúvida estão a habilidade de resistir ao desfoNo entanto, na reforma de pastagem em semeadura direta, lhamento e a tolerância ao pisoteio (CARVALHO, 1986). não se utiliza a adubação química nitrogenada, pois praticamente todo o N é fornecido através da fixação biológica do guandu. A 5. IMPORTÂNCIA DA ADUBAÇÃO NA RECUPERA- adubação nitrogenada das gramíneas proporciona, em geral, aumento da capacidade de carga da pastagem e da produção animal ÇÃO DA PASTAGEM CONSORCIADA por hectare, mas não melhora o desempenho do animal. Nas pastaEm trabalho efetuado na Amazônia observou-se que a utili- gens consorciadas temos menor investimento, com menor taxa de zação do fogo foi uma ótima alternativa para recuperar pastagens risco e menor custo de produção por unidade de produto animal, degradadas porque aumentou a disponibilidade de Ca em 2.000%, quando comparadas às pastagens de gramíneas adubadas com nide P em 200%, de K em 387% e de Mg em 170%. Isto em 10 anos é trogênio (BOIN, 1986; SILVA & SANTOS, 1986). muito pouco. O que ocorre, então, a longo prazo? Com esse proce2 INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 88 – DEZEMBRO/99 O fósforo é fundamental na implantação da pastagem mista, conforme ressaltado por Rocha (AGROCERES, 1973) e exemplificado na seguinte equação: gramínea + leguminosa + fosfato = gramínea + leguminosa + fosfato + nitrogênio. Outra vantagem do consórcio diz respeito ao maior aproveitamento da água do solo, com as raízes adventícias das gra-míneas concentradas na camada mais superficial e as raízes pivo-tantes do guandu explorando mais profundamente a umidade do solo. Esta vantagem fica bem demonstrada durante o período seco do inverno. Aliado a isto, as plantas melhor nutridas têm maior eficiência no uso da água. A manutenção da leguminosa na pastagem mista deve-se, basicamente, ao potássio, que funciona como elemento-controle. O fornecimento de nitrogênio propicia o aumento da ativiA necessidade deste elemento para a leguminosa geralmente é maior dade fotossintética das gramíneas tropicais, em pastagens consorciadas do que quando em bem como favorece o número e o peso dos cultivo solteiro (FERNANDES & ROSSIEL-LO, Um estudo de quatro anos, perfilhos e estimula o alongamento do colmo, 1986). provocando a elevação do meristema api-cal e plantando guandu comum em A nodulação do guandu diminui em o aumento porcentual de perfìlhos reprosolos com deficiência de P, Ca e Mg, e ainda é épocas diferenciadas, mostrou uma dutivos e a emissão de inflorescências em cainfluenciada fortemente pelos teores de S e Cu, produção, no verão, de 11 t de pim colonião (GOMIDE, 1989). Entretanto, a nutrientes essenciais à fixação do N. massa seca/ha (505 kg de N/ha) e, influência da adubação nitrogenada sobre o Na Embrapa, uma avaliação da acumuno inverno, 5 t de massa seca/ha, valor alimentício da gramínea é complexa e valação do N na palhada, após um ano de desenriada (EUCLIDES, 1995). volvimento de diversas culturas, incluin-do equivalente a cerca de 144 kg de N/ O declínio da qualidade nutritiva está gramíneas e leguminosas, mostrou que o ha ou a aproximadamente correlacionada ao envelhecimento das planguandu anão e o comum acumularam entre 192 320 kg de uréia/ha. tas e tem sido descrito para as gramíneas em e 600 kg de N/ha provenientes da fixação biorazão do seu maior conteúdo de carboidratos lógica. estruturais nas folhas, quando comparadas com as leguminosas Um estudo de quatro anos efetuado pelo Dr. João Pereira do que não mostram este declínio acentuado (THIAGO & GILL, 1993) CPAC, plantando guandu comum em épocas diferenciadas, mos- por apresentar maior capacidade de manter seu valor nutritivo com trou uma produção, no verão, de 11 t de massa seca/ha (505 kg de a idade (CORSI, 1976). Conforme GOMIDE (1985), a presen-ça da N/ha) e, no inverno, 5 t de massa seca/ha, equivalente a cerca de leguminosa estimula os animais a utilizarem a gramínea passada já 144 kg de N/ha ou a aproximadamente 320 kg de uréia/ha. existente. O fornecimento de N para a pastagem pode ser via esterco O fato do guandu apresentar baixa palatabilidade durante o animal, embora com problema de distribuição, via adubação químiperíodo das águas permite-lhe altas taxas de crescimento e fixação ca e via fixação biológica, que corresponde à nossa proposta. de nitrogênio e posteriormente uma boa aceitação na estação seca, O N fixado biologicamente pelo guandu é reciclado princi- quando a gramínea diminui sua produção em qualidade e quantidapalmente pelas folhas num processo contínuo da planta em derru- de, beneficiando grandemente a produção animal, e ainda promobar folhas velhas e formar novas folhas. As folhas caídas mantém vendo um balanço adequado da gramínea/leguminosa com o acréspequena área de contato com o solo determinando sua degradação cimo de N no solo (FAVORETTO, 1993). por um longo período de tempo. Por outro lado, a sua baixa relação Pastagens consorciadas geram maior estabilidade de proC/N facilita o início de uma imediata degradação da parte em contadução. Entretanto, é importante fazer adubação com P e K. No Alto to com o solo. Esta mineralização gradual, fornecendo pequenas de São Francisco, Norte de Minas Gerais, após sete anos de quantidades do nutriente por maior tempo, pode ser considerada consorciamento de pasto guinea, Stylosanthes guayanensis, siracomo o modo mais eficiente de adubação nitrogenada na pastagem. tro e soja perene, foram avaliadas áreas que não receberam P e K e A liberação do N pelo guandu ocorre de três maneiras, con- áreas adubadas com 20 kg/ha.ano e com 40 kg/ha.ano de P O e 2 5 forme CARVALHO (1986): (1) lixiviação das folhas: é pouco signi- K O. Em termos de composição do consórcio, após sete anos, as 2 ficativa, por volta de 1%, (2) transferência pelo sistema radicular: áreas não adubadas mostraram uma diminuição apreciável da graestimada entre 1 e 3%, alcançando um máximo de 9%; (3) consorci- mínea e ausência completa da leguminosa. Já com a aplicação de 20 ado com leguminosa: mineralização do N contido no resíduo da kg/ha.ano de P e K se manteve a proporção gramínea-legu-minosa leguminosa – é a de maior importância, podendo alcançar 90%. do primeiro ano, e com 40 kg/ha.ano houve até um acréscimo da preA magnitude da reciclagem de nutrientes da pastagem, sença da gramínea no consórcio. Em relação à lotação animal, nas advinda da decomposição da liteira (BODDEY et al., 1996), pode ser áreas não adubadas, houve queda de 1 UA/ha no primeiro ano para vislumbrada no trabalho de BALBINO et al. (1998), numa área sob 0,3 UA/ha no sétimo ano. Com a aplicação de 20 e 40 kg/ha.ano pastejo rotacionado, no cerrado de Goiás, com 197 dias da implan- houve aumento de 1,2 e 2 UA/ha, respectivamente. Em relação à tação do guandu Bonamigo Super-N, de fevereiro a setembro de variação de peso do animal, na ausência de adubação houve uma 1987. Recolhida a liteira, formada pelas suas folhas, e pesada, queda de 229 para 70 kg/ha, entre o primeiro e o sétimo ano, e obteve-se 3.587 kg de matéria seca/ha, correspondendo a 72 kg de aumentos de 360 e 500 kg/ha com as doses de 20 e 40 kg/ha.ano de P e K, respectivamente. Isto demonstra que com um pouco de innitrogênio/ha. O guandu, em pastagens consorciadas, determina um au- vestimento pode-se contornar uma situação crí-tica. mento no crescimento e na palatabilidade das gramíneas, devido, principalmente, ao fornecimento contínuo e efetivo de N para a gramínea, que mostra um aumento de 1,0 a 2,0% no seu teor de proteína. INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 88 – DEZEMBRO/99 Na formação da pastagem, os nutrientes necessários de serem aplicados via adubo químico são o P e o S, e o N fornecido via leguminosa consorciada. Para manutenção, o K é o principal nutriente, seguido de P e S. 3 6. IMPLANTAÇÃO DO GUANDU EM PASTAGENS CONSORCIADAS • Roçadeira: esta tem a desvantagem de atrasar a semeadura devido a espera da rebrota da gramínea. No entanto, em alguns casos, devido à presença de brotações de cerrado, deve-se utilizar a roçadeira. 6.1. Limpeza da área O guandu, em pastagens Pode-se afirmar que as características Remoção somente das árvores ou resconsorciadas, determina um vantajosas de competição da gramínea exigem tos de troncos, assim como tocos e cupins, que o retardamento do seu rebrote, e para tal o glypossam atrapalhar a passagem da máquina de aumento no crescimento e na phosate tem-se apresentado como excelente semeadura. palatabilidade das gramíneas, ferramenta de manejo da pastagem. devido, principalmente, ao 6.2. Amostragem de solo e adubação A renovação da pastagem visa trocar a fornecimento contínuo e efetivo gramínea existente por outra e necessita apliDe cada piquete da pastagem são retiradas amostras de solo em duas profundidades, de de N para a gramínea, que mostra cação de uma dosagem maior do glyphosate com o intuito de eliminar a gramínea. As práti0-20 cm e 20-40 cm, para fins de recomendação da um aumento de 1,0 a 2,0% cas culturais e de manejo discutidas a seguir calagem e da adubação. A calagem pode ser feino seu teor de proteína. são válidas tanto em renovação como em suta superficialmente, colocando o calcário sobre pressão da pastagem. a pastagem já implantada, sem incorporação, antes da semeadura do guandu, ou mesmo depois da sua instalação. As doses são fracionadas em menores quantidades e aplicadas 7. SEMEADURA DO GUANDU SUPER-N BONAMIGO mais freqüentemente, sendo adequadas à pequena área superficial Com a utilização de semeadora ou plantadora, o guandu é do solo que estará em contato com o calcário. introduzido no sistema imediatamente após o manejo da gramínea 6.3. Manejo antecipado da gramínea degradada, ou o mais cedo possível, aproveitando o estresse da No caso de supressão utiliza-se o herbicida sistêmico gly- gramínea, via herbicida. O adubo, recomendado pela análise do phosate visando estressar a gramínea, atrasando o seu rebrote, de solo, é colocado na linha do guandu para que este absorva-o antes modo a não prejudicar o estabelecimento e o desenvolvimento ini- que a gramínea o faça. Mais tarde, o adubo também será absorvido cial do guandu. Este manejo é imprescindível, pois o guandu (assim pelas raízes da gramínea. Todas estas ações são imprescindíveis como a maioria das leguminosas) tem crescimento lento nos seus para que o consórcio inicie corretamente e, em conseqüência, tenha primeiros 45 dias. Além disso, a pastagem de gramínea, apesar de maior tempo de permanência. degradada, tem um sistema radicular já estabelecido, que ocupa Com 30 dias da implantação do guandu, a pastagem degragrande espaço no solo e pode dificultar a implantação do guandu. dada começa a mostrar sinais de recuperação pela disponibilidade Em particular, para a Brachiaria brizantha isto é ainda mais indis- de nitrogênio por ele proporcionada. Após 65 a 80 dias, a pastagem, pensável, pois esta causa forte inibição às outras plantas em razão agora consorciada, pode ser utilizada para primeiro pastejo. das substâncias que excreta no solo, fato conhecido como ação • Densidade e espaçamento alelopática. Outra gramínea que tem dificultado o esta-belecimento do guandu é a Brachiaria humidicola, pois compete com ele forteA utilização de menor espaçamento e, portanto, maior adenmente, também com provável ação alelopática. Para o guandu, signi- samento de plantas, tem proporcionado produções de matéria seca fica um obstáculo a mais a ser vencido. Com o estres-se da gramínea bastante superiores, quando comparado ao espaçamento tradiciovia herbicida pode-se contornar estes obstáculos. nal de plantio do guandu. As densidades mais elevadas favorecem uma maior e mais rápida interceptação da radiação solar, compenObservações importantes: sando o lento desenvolvimento inicial e proporcionando maior proO guandu tradicional já vem sendo introduzido em pastadutividade do guandu. O cultivo tradicional do guandu, com popugens mas, devido a alguns fatores, a sua consorciação não tem sido lações menores e espaçamentos mais amplos, basicamente de 1 m sustentável. Outras alternativas, além do uso do glyphosate, têm entre linhas e 30 cm entre plantas, auxiliado pelo alto porte das sido testadas para a implantação do guandu, tais como a realização variedades comuns de mercado, favorece o aumento do seu porte de um pastejo anterior à aplicação do glyphosate, com o objetivo mas dificulta o manejo das plantas pelo pastejo dos animais. O de substituir o herbicida, ou mesmo o uso somente da roçadeira. O número médio de sementes da variedade Super-N, em 1 kg, varia entre guandu estabelecido através dos métodos citados não tem conse11.000 e 11.500 grãos. A recomendação para implantação dessa guido resultados satisfatórios, apresentando-se com pequeno sisvariedade em pastagens mistas seria de 30 kg de sementes/ha, contema radicular e baixo vigor de desenvolvimento, trazendo prejuísiderando um peso médio de 88,5 g por 1.000 sementes, população zos ao sistema com a pequena quantidade de nitrogênio fixado. Isto de 300.000 plantas/ha, com espaçamento de 0,5-0,6 m (15 a 18 planporque: tas por metro linear). Tem-se conseguido excelente estabelecimen• Pastejo: o uso do gado não proporciona o mesmo efeito to das duas espécies, em conjunto, com as taxas de semeadura de uma roçadeira, pois o pastejo nunca é uniforme em toda área, normalmente recomendadas (Tabela 2). observando-se efeitos demasiados em algumas plantas e pouco De modo geral, a densidade desejada pode ser dividida significativos em outras. A conseqüência é uma ação irregular, com em dois grupos. Para as forrageiras de sementes maiores, como deficiência no controle das gramíneas pelo herbicida. A utilização B. brizantha, B. decumbens e outras, considera-se 15 a 20 plântudo pastoreio em substituição ao herbicida não é suficiente para las/m2, enquanto as de semente pequenas, como Andropogon segurar a gramínea pois como o guandu, já aos 30 dias da emer- gayanus, Panicum maximum, Setaria anceps e outras, recomengência, disponibiliza o nitrogênio para a gramínea, possibilita que da-se 40 a 50 plântulas/m2 como suficientes para uma boa formação esta tenha desenvolvimento mais rápido do que o guandu, evitan- da pastagem (VIEIRA & KICHEL, 1995). do-o de se estabelecer. 4 INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 88 – DEZEMBRO/99 Tabela 2. Recomendações para semeadura de algumas gramíneas tropicais. Forrageira Andropogon gayanus Brachiaria brizantha Brachiaria decumbens Brachiaria humidicola Brachiaria ruziziensis Paspalum guenoarum Paspalum notatum Pensacola Panicum maximum Tanzânia-1 Panicum maximum Tobiatã Panicum maximum Comum Panicum maximum Setaria anceps Kazangula Sementes/grama (aproximadamente) 360 150 200 270 230 300 610 960 680 780 1.900 1.490 Taxa de semeadura (kg/ha SPV*) 2,5 2,8 1,8 2,5 2,0 1,5 1,5 1,6 2,5 1,6 1,2 1,2 * SPV: sementes puras viáveis. Fonte: VIEIRA & KICHEL (1995). turais da forragem (GOMIDE & QUEIROZ, 1994). A qualidade da forragem ingerida tem sido muitas vezes subestimada. Quando o guandu é pastejado, os animais consomem basicamente as folhas e o terço superior da haste, compondo uma ingesta de maior qualidade do que a considerada nas tabelas de composição do guandu. Na Tabela 3 estão os resultados de análise química e bromatológica, separados em duas frações: “feno”, quando a forragem fornecida envolve toda a planta, e “pastejo”, com melhor qualidade, como já exposto. A qualidade como forragem pode ser exemplificada pela capacidade de uso quando comparada ao farelo de soja, como suplemento das vacas leiteiras com 500 g PB/dia (SEIFFERT et al., 1988): 10 kg de forragem verde de guandu = 1 kg de farelo de soja = 0,5 kg PB. Tabela 3. Resultados de análise química e bromatológica do guandu Bonamigo Super N1. • Profundidade de semeadura: O guandu mostra-se bastante sensível ao encrostamento da camada superficial, com dificul-dade de emergir nestas condições, fato mais comum em semeadura convencional. Como a sua germinação é hipógea, deve-se ter o cuidado em não aprofundar muito a semente. Na semeadura, as sementes de pequeno tamanho devem ser colocadas mais superficialmente, até no máximo 2 cm de profundidade. As sementes de maior tamanho toleram a colocação um pouco mais profunda, até 5 cm. • Época de semeadura: A semeadura do guandu Bonamigo Super-N pode ser realizada desde o início das chuvas (setembro/ outubro) até março. Pela sua característica de menor sensibilidade ao fotoperiodismo, possibilita a semeadura até o mês de março. A variedade Super-N amplia a época de semeadura, propiciando uma estratégia de recuperação em diversas épocas e parcelando a oferta de forragem, com uma melhor distribuição para os animais. O adiamento da reforma da pastagem pode ser uma interessante estratégia de fornecimento de alimento de boa qualidade em época mais adiantada, no período seco, quando é baixa a disponibilidade de forragem, em substituição à prática de diferimento de pastagem (feno em pé) que possui baixa qualidade como alimento. • Inoculação: Na inoculação, utilizar o grupo de inoculante específico para guandu, na dosagem de 200 a 400 g do inoculante para 30 kg de sementes. • Variedade: O desenvolvimento durante 17 anos nas condições de cerrado possibilitou o lançamento da variedade Super-N com características bem diferenciadas em relação as até agora utilizadas. Entre elas citam-se a tolerância ao fungo de solo Fusarium, que tem sido a principal razão do pouco tempo de persistência do guandu no campo, e a sua maior qualidade como forragem, pela maior relação folha:haste, que proporciona maior digestibilidade da forragem. 8. PRODUÇÃO E QUALIDADE DA FITOMASSA O fator mais crítico na alimentação nos trópicos tem sido a proteína, em razão da sua escassez e alto custo (RUIZ et al., 1993). A proteína atua no aumento da velocidade de digestão da forragem, ocorrendo sua passagem mais rápida pelo rúmen, trazendo, em conseqüência, um aumento no seu consumo. As leguminosas, com suas características intrínsecas de baixo conteúdo de açúcar e capacidade tampão, podem manter o pH do rúmen próximo de 6,7, favorecendo a atividade dos microrganismos. O consumo de forragem pelos animais em pastejo está associado positivamente ao teor de PB, digestibilidade da matéria seca, e negativamente com o teor da parede celular. Também são fundamentais no consumo a pressão de pastejo e as características estruINFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 88 – DEZEMBRO/99 Guandu Bonamigo Super N Constituintes Total Feno Folhas + haste superior Pastejo N% 2,67 P% 0,15 0,17 K% 1,06 1,10 Ca % 0,68 0,81 Mg % 0,24 0,31 S% 0,14 0,20 3,69 Na ppm 48,00 51,00 Fe ppm 397,00 619,00 Mn ppm 86,00 129,00 Zn ppm 24,00 29,00 Cu ppm 10,00 13,00 DIG2 (in situ) % 69,17 79,05 Fibra (FDN)2 % 54,50 35,60 PB2 % 16,70 23,10 1 2 Todos os resultados corrigidos com base na matéria seca. PB = proteína bruta; FDN = fibra em detergente neutro; DIG in situ = digestibilidade in situ. No desaleitamento precoce de bezerros (com 60 dias), durante o período da seca, o guandu picado pode substituir 1 kg do concentrado por dia, diminuindo o custo de produção (MALAQUIAS JÚNIOR et al., 1991). No sistema de cria, a fase pré-parto é a de maior exigência nutricional das matrizes e coincide com o período de maior escassez, em qualidade e quantidade de alimento, durante o período da seca. Como o guandu passa a ser consumido justamente nesta época, pode ser a solução para eliminar esta carência nutricional generalizada do terço final de gestão das matrizes. 9. MANEJO DA FORRAGEM O manejo da pastagem objetiva a manutenção da área foliar para a fotossíntese e a colheita de grandes quantidades de tecido foliar de alta qualidade, antes que este tecido morra, evitando o seu desperdício (Parsons, citado por SILVA & PEDREIRA, 1997). Diversas são as sugestões para aumentar o rendimento da produção animal em pastagem; dentre elas, Mott, citado por MARASCHIN (1993) estabelece três ações básicas: (a) estabilização da oferta da matéria seca, de modo a não limitar o consumo; (b) 5 melhora da qualidade da forragem através de novas espéci- dificuldade posterior de aumentá-la, depois de implantado o guandu es ou pelo manejo da pastagem; (c) aumento do consumo de forra- na pastagem. gem com maior quantidade de folhas, mantendo a qualidade por Quando o consórcio for estabelecido em semeadura conlongos períodos, e de boa plasticidade e persistência. vencional com o guandu, ou através da renovação da pastagem O consórcio de guandu com gramíneas atende a estes itens. degradada com nova gramínea semeada conjuntamente com o O aproveitamento da forragem em pastejo é estimado em guandu, torna-se fundamental como fator de manejo o pastejo pre40% do total da produção de MS da pastagem, considerando-se coce da pastagem (70 a 80 dias), de modo a conduzir a formação da gramínea com o favorecimento do seu perperdas de 30% devidas ao pisoteio no pastejo filhamento e possibilitando maior cobertura e mais 30% com a forragem remanescente no Com 30 dias da implantação do do solo. campo. Ressalta-se que as perdas podem ser guandu, a pastagem degradada maiores com mau manejo, obtendo-se um aproNo primeiro ano, com a alta população veitamento de apenas 25 a 30%. Com este índiinicialmente implantada do guandu, deve-se começa a mostrar sinais de ce de aproveitamento, determina-se o cálculo ter o cuidado de propiciar luminosi-dade sufirecuperação pela disponibilidade de ciente para as gramíneas consorciadas pois o de ajuste na pressão de pastejo a ser adotada. nitrogênio por ele proporcionada. perfilhamento é estimulado pelos altos níveis O pastejo pelo animal pode prejudicar Após 65 a 80 dias, a pastagem, de radiação solar incidente. Tanto o pastejo a sobrevivência da forrageira no caso de hacontínuo como o rotacionado, ou mesmo o ver: (1) gemas regenerativas destruídas pelo agora consorciada, pode ser alternado, possibilitam bons resultados, ainsuperpastejo, (2) exaustão dos substratos utilizada para primeiro pastejo. da que o pastejo rotacionado possa ser inicienergéticos das coroas e raízes, (3) enfraquealmente mais indicado nesta situação. Fundacimento do sistema radicular, aumentando a mentalmente, as relações de competição pela luz podem e devem suscetibilidade das plantas à seca, doenças e pragas (FAVORETTO, ser compatibilizadas através da freqüência, intensidade e época ou 1993). momento da desfolha das forrageiras (RODRI-GUES et al., 1993). A capacidade de ocupar o solo pela parte aérea das plantas é estimada pelo índice de área foliar (IAF). Enquanto para a maioria 9.2. Manejo de manutenção das plantas cultivadas o IAF ótimo não coincide com a máxima A partir do segundo ano, com a diminuição da população do produtividade econômica, nas pastagens, a maior produção da guandu e a estabilização da proporção entre gramínea e legu-minosa, fitomassa corresponde ao IAF ótimo (MAGALHÃES, 1979). Para obtenção de um ótimo IAF concorrem algumas variá- a condução da pastagem pode ser através de qualquer tipo de veis como: (1) nível de fertilidade: leguminosas e gramíneas com manejo. Deve-se evitar pastejo pesado e intenso por longo tempo. O sistema contínuo necessariamente exige uma pressão de diferentes exigências determinam a escolha adequada a cada sipastejo bem ajustada, pois sendo leve a colheita da forragem pelo tuação. A grande rusticidade do guandu propicia amplo aproveitaanimal, este seleciona, na maior parte, as folhas novas, que são as mento de diversos tipos de solos, com exceção de solos muito mais eficientes em promover o crescimento, pela maior atividade úmidos ou alagados, onde tem seu desenvolvimento comprometifotossintética (SILVA & PEDREIRA, 1997). do; (2) população de plantas e espaçamento de semeadura: é fundamental na melhor ocupação do espaço físico explorado; (3) idade A produção animal em pastagens consorciadas está diretada planta: o aumento da idade, e conseqüente aumento da área mente relacionada com a sua composição. Diversos trabalhos foliar, propicia maior captação da luz incidente nas plantas. referem-se a melhor proporção das espécies em consórcio, com Como a localização das reservas orgânicas é diferenciada – valores entre 30 e 40% da leguminosa e 70 a 60% da gramínea. na base do colmo para as gramíneas e no sistema radicular e nas Sabe-se que intervalos curtos entre desfolhas favorecem a coroas para as leguminosas – o corte pelos animais durante o pastejo cultivar com maior proporção de IAF na parte inferior do dossel, deve atentar para as alturas mínimas, de acordo com a espécie ma- com interceptação eficiente da luminosidade, favorecendo rápido nejada, de modo a preservar estas reservas de carboidratos. rebrote; sob períodos longos de intervalo de pastejo as cultivares Os fatores que influenciam o perfilhamento são: (1) reservas de crescimento alto e ereto, com maiores proporções de IAF nas de fotoassimilados; (2) área foliar da planta-mãe; (3) lumino-sidade partes médias e superiores do dossel, podem acumular grande IAF, que atinge as folhas; (4) nível ótimo de nitrogênio que permite um sendo mais produtivas (SILVA & PEDREIRA, 1997). Estas características auxiliam no manejo do guandu e da gramínea con-sorciada. máximo perfilhamento. O fotoperíodo e a temperatura não exercem tanta influência Quando se considera apenas as gramíneas, são utilizados parâmetros que auxiliam no seu manejo, entre eles a altura de corte sobre o perfilhamento quanto os fatores já citados. e o tempo de ocupação e descanso, variáveis conforme os muitos autores (Tabela 4). 9.1. Manejo de formação As plantas eretas (cespitosas) adaptam-se melhor ao pasA grande necessidade de nitrogênio pelas gramíneas, tanto tejo rotacionado (RODRIGUES & REIS, 1997), mas espécies de porem pastagens degradadas como na formação de novas pastagens, te ereto e leguminosas tropicais também podem ser pastejadas de pode ser suprida com o aumento da densidade de plantas de guandu, modo contínuo desde que se permita acúmulo de forragem com fornecendo, rapidamente, maior quantidade de nitrogênio. Além períodos de descanso. ZIMMER et al. (1988) consideram que o disso, com maior densidade e menor espaçamento tem-se melhor pastejo contínuo favorece a persistência da leguminosa, pois os relação folha:haste de guandu. A alta população inicial de guandu, animais preferem pastejar a gramínea, enquanto o rotacionado ten300 mil plantas/ha, diminui gradualmente até praticamente se esta- de a favorecer a gramínea. bilizar no segundo ano da sua semeadura, entre 150 e 180 mil plantas/ha. A opção por esta maior população inicial deve-se também à 6 INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 88 – DEZEMBRO/99 Tabela 4. Manejo de gramíneas em pastejo. Forrageiras Andropogon Brachiaria brizantha Brachiaria decumbens Brachiaria ruziziensis Colonião Tanzânia Tobiatã Napier Capim elefante Jaraguá Pangola Setária Estrela/Tifton/Coast cross Gordura Altura de entrada (cm) 2 40-45 30-40 6; 50-60 2 30-40 6; 40-50 2 30-40 6 50-606; 80-100 2 50-60 6; 70-80 2 50-60 6 110-120 1 60-80 6 302; 30-40 6 25-30 6 30-40 6 25-30 2, 6 30-40 6 Altura de saída (cm) 2 15 20 15-206; 302 15-206; 202 20-25 6 25-30 6; 40-45 2 25-30 6; 35-40 2 25-30 6 50-60 2 5 20-25 ; 30-40 6; 404 10 2; 15-206 10-15 6 15-20 6 2 5 ; 10-15 6 15-20 6 Período de pastejo (dias) 3 1-3 1-33; 1-7 10 1-33; 1-7 10 l-710 3 1-3 ; 1-510; 77; 7-101 1-33; 77 77 1-33; 3-71 l-3 l0 1 -33; 7-101 1-3 3 1-3 3 1-33; 1-7 10 3-7 1 Período de descanso (dias) 28-30 3 28-30 3; 28-42 8; 30-359, l0 28-428; 30-35 9, l0 28-42 8; 30-35 l0 3 35 ; 35-40 1, 10; 35-427 35-42 7 35-42 7 35-451; 453 454, 10; 45-50 5 30 3; 35-40 1 21-28 3 30 3 3 21-28 ; 25-30 10 35-45 1 Fontes: 1MOURA (1976); 2YASSU (1998); 3SILVEIRA (1993); 4CORSI (1993); 5HILLESHEIM (1993); 6RODRIGUES (1986); 7CORSI (1988); 8ZIMMER et al. (1988); 9CORSI et al. (1994); 10LAZZARINI NETO (1994). Temos então que a manutenção da proporção adequada da leguminosa na pastagem depende de fatores como (GOMIDE, 1985): adequada escolha da leguminosa, densidade de semeadura da leguminosa, sistema e pressão de pastejo adotados e adubação de manutenção em P e/ou K. 10. RESULTADOS DE PESQUISA E DE APLICAÇÃO PRÁTICA DA UTILIZAÇÃO DE PASTAGENS MISTAS 10.1. Pesquisas efetuadas na seleção de culturas e variedades vo, tanto de raízes primárias como de secundárias. 10.2. Resultados práticos Acompanhei a reforma de uma área em Aragoiânia, GO, com braquiarão juntamente com guandu, em plantio realizado no final de fevereiro de 1998. Observei que, apesar de longo período seco que se iniciou em maio e permaneceu até setembro do mesmo ano, e da pastagem estar muito seca, ainda havia brotações que serviam de fonte protéica. Nessa mesma área, nos meses de abril a setembro, o produtor manteve a suplementação com sal proteinado devido ao fato de que ele vendia seus bois para reprodução, ainda que o problema neste caso não era falta de proteína. Com o bra-quiarão reformado ele teve um ganho de 51 kg acumulados por hectare em 141 dias, e no sistema de consórcio com guandu Super N, 235 kg/ ha, 355% a mais. O trabalho da família Bonamigo iniciou-se em Bandeirantes nos anos 80, onde foram selecionadas uma gramínea (milheto) e uma leguminosa (guan-du). Embora o milheto apresente restrições em regiões frias, já existem Importante: algumas alternativas de linhagens, para esta situação. Nunca roçar o guandu. O uso da roçadeira denota mau manejo da pastagem mista e traz como conseqüência a predisposição a maior incidência de doenças, acelerando a diminuição da população da leguminosa. Anualmente é feita seleção de 1.000 a 2.000 linhagens de guandu visando alta produção de grãos e massa verde. Busca-se também facilidade de colheita, arquitetura compacta, plantas pouco sensíveis ao fotoperíodo, ciclos diferenciados definidos, adaptação a solos pouco férteis, e resistência a pragas e doen-ças, com ênfase no controle do Fusarium porque a planta é suscetível a partir do primeiro ano. Ainda em condições de campo, avalia-se o efeito de supressão do guandu sobre invasoras tais como leiteiro, erva-quente e trapoeraba. Tem-se testado produtos em pré e pósemergência para ervas infestantes no guandu. Busca-se ainda características relacionadas à cor do grão, visando alimentação humana, e variedades que floresçam somente a partir do segundo ano. Num estudo desenvolvido por Oliva, Viçosa, em 1988, avaliou-se a eficiência de conversão de água em massa seca de cinco materiais: guandu, centrosema, galactia, soja perene e leucena. Cabe ressaltar que o guandu, em presença de adequada disponibilidade de água, não se destaca. Entretanto, à medida que a água começa a escassear apresenta alta eficiência de conversão de água em massa seca pois apresenta um sistema radicular muito agressiINFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 88 – DEZEMBRO/99 Na Fazenda Pouso Frio, em Costa Rica, MS, que possui um solo de textura muito pesada, a renovação da pastagem num período muito seco, de julho a novembro de 1998, mostrou que a testemunha sem adubo, apenas com o manejo, respondeu bem, conferindo um ganho de peso de 53 kg/ha; já a testemunha com adubo (área em que foram utilizados P, K e uma baixa dose de calcário à lanço) respondeu com um ganho de 72 kg/ha, e com o guandu Super N chegou-se a ganhos de 183 kg/ha (241% a mais). Na Fazenda Bonamigo, em Bandeirantes, MS, trabalhando num ciclo de um ano, o ganho obtido foi de 568 kg de peso vivo em um solo de textura média e de baixa fertilidade. Até 1990, nessa área utilizava-se o plantio direto para a produção de sementes de soja, mas como esta tornou-se pouco rentável, parou-se a atividade e foi implantado pasto em toda a área, sem grandes investimentos, produzindo-se por quatro anos. No quinto ano, o pasto já estava completamente degradado. Na sua recuperação foi utilizado glyphosate numa subdose, antes da semeadura do guandu. Vale ressaltar que os animais pastoreiam à vontade o guandu a partir do estádio de florescimento. Mesmo sendo semeado mais tarde (final de março), o guandu Super N se destaca por possuir menor sensibilidade ao fotoperíodo. 7 11. CONSIDERAÇÕES FINAIS Segundo o Sr. Franke Dijkstra, um dos pioneiros do plantio direto no Paraná, na Europa não se consegue obter um alto teor de matéria orgânica, nos diversos sistemas de plantio direto, devido ao grande uso de arado. Na minha opinião, a tecnologia está aí para ser utilizada, principalmente se for barata, mas deve ser questionada principalmente em relação ao benefício que irá propor-cionar. Portanto, deixo uma indagação: o que é melhor, utilizar a tecnologia de uma forma racional, em termos de supressão de ervas, ou arar e gradear? Para o produtor isto pode fazer uma grande diferença em relação à conservação e ao aumento do teor de matéria orgânica, sendo que, na prática, nós temos conseguido produzir aumentando o teor de matéria orgânica nas áreas de pastagem mista. 12. LITERATURA CITADA AGROCERES. Pastagens consorciadas. São Paulo: Agroceres, 1973. 78p. BALBINO, L.C.; BONAMIGO, L.A.; FOLONI, L.L.; SCALÉA, M.J. The use of glyphosate as a tool in tropical pasture renovation systems. In: MEETING OF THE WEED SCIENCE SOCIETY OF AMERICA, Chicago, 1998. Abstracts. Chicago: WSSA, 1998. p.21. BODDEY, R.M.; ALVES, B.J.R.; URQUIAGA, S. Nitrogen cycling and sustainability improved of pastures in the brazilian cerrados. In: SIMPÓSIO SOBRE O CERRADO, 8., Brasília, 1996. Anais. Brasília: EMBRAPA-CPAC, 1996. p.33-38. BOIN, C. Produção animal em pastos adubados. In: MATTOS, H.B. de et al. (ed.) Calagem e adubação de pastagens. Piracicaba: Associação Brasileira para Pesquisa da Potassa e do Fosfato, 1986. p.383-419. CARVALHO, M.M. Fixação biológica como fonte de nitrogênio para pastagens. In: MATTOS, H.B. de et al. (ed.) Calagem e adubação de pastagens. Piracicaba: Associação Brasileira para Pesquisa da Potassa e do Fosfato, 1986. p.125-143. CORSI, M. Adubação nitrogenada das pastagens. In: SIMPÓSIO SOBRE MANEJO DA PASTAGEM, 2., Piracicaba, 1975. Anais. Piracicaba: ESALQ, 1975. p.112-142. CORSI, M. Espécies forrageiras para pastagem. In: SIMPÓSIO SOBRE MANEJO DA PASTAGEM, 3., Piracicaba, 1976. Anais. Piracicaba: ESALQ, 1976. p.5-44. CORSI, M. Exigências nutricionais de plantas forrageiras em pastagens. In: SIMPÓSIO SOBRE MANEJO DA PASTAGEM, 6.,Piracicaba, 1980. Anais. Piracicaba: ESALQ, 1980. p.241-263. CORSI, M. Manejo de plantas forrageiras do gênero Panicum. In: SIMPÓSIO SOBRE MANEJO DA PASTAGEM, 9., Piracicaba, 1988. Anais. Piracicaba: FEALQ, 1988. p.57-75. CORSI, M. Manejo do capim elefante sob pastejo. In: SIMPÓSIO SOBRE MANEJO DA PASTAGEM, 10., Piracicaba, 1992. Anais. Piracicaba: FEALQ, 1993. p.l43-167. CORSI, M.; BALSALOBRE, M.A.; SANTOS, P.M.; SILVA, S.C. da. Bases para o estabelecimento do manejo de pastagens de braquiária. In: SIMPÓSIO SOBRE MANEJO DA PASTAGEM, 11., Piracicaba, 1994. Anais. Piracicaba: FEALQ, 1994. p.249-266. EUCLIDES, V.P.B. Valor alimentício de espécies forrageiras do gênero Panicum. In: SIMPÓSIO SOBRE MANEJO DA PASTAGEM, 12., Piracicaba, 1995. Anais. Piracicaba: FEALQ, 1995. p.245-273. FARIA, V.P. de; PEDREIRA, C.G.S.; SANTOS, F.A.P. Evolução do uso de pastagens para bovinos. In: SIMPÓSIO SOBRE MANEJO DE PASTAGENS, 13., Piracicaba, 1996. Anais. Piracicaba: FEALQ, 1997. p.1-14. FAVORETTO, V. Adaptação de plantas forrageiras ao pastejo. In: SIMPÓSIO SOBRE ECOSSISTEMAS DE PASTAGENS, 2., Jaboticabal, 1993. Anais. Jaboticabal: FUNEP, 1993. p.130-165. FERNANDES, M.S.; ROSSIELLO, R.A.P. Aspectos do metabolismo e utilização do nitrogênio em gramíneas tropicais. In: MATTOS, H.B. de et al. (ed.) Calagem e adubação de pastagens. Piracicaba: Associacão Brasileira para Pesquisa da Potassa e do Fosfato, 1986. p.93-123. GOMIDE, J.A. Adubação de pastagens estabelecidas. In: SIMPÓSIO SOBRE MANEJO DA PASTAGEM, 7., Piracicaba, 1984. Anais. Piracicaba: FEALQ, 1985. p.33-60. GOMIDE, J.A. Aspectos biológicos e econômicos da adubação de pastagens. In: SlMPÓSIO SOBRE ECOSSISTEMA DE PASTAGEM, 1., Jaboticabal, 1989. Anais. Jaboticabal: FUNEP, 1989. p.237-270. GOMIDE, J.A.; QUEIROZ, D.S. Valor alimentício das Brachiarias. In: SIMPÓSIO SOBRE MANEJO DA PASTAGEM, 11., Piracicaba, 1993. 8 Anais. Piracicaba: FEALQ, 1994. p.223-248. HILLESHEIM, A. Manejo do capim elefante: corte. In: SIMPÓSIO SOBRE MANEJO DA PASTAGEM, 10., Piracicaba, 1992. Anais. Piracicaba: FEALQ, 1993. p.l17-141. LAZZARINI NETO, S. Manejo de pastagens. São Paulo: SDF Editores, 1994. 118p. (Coleção Lucrando com a Pecuária, 6). MAGALHÃES, A.C.N. Análise quantitativa do crescimento. In: FERRI, M.G. (coord.) Fisiologia vegetal. São Paulo: EPU/EDUSP, 1979. cap. 8. p.331-349. MALAQUIAS JÚNIOR, J.D.; NASCIMENTO JUNIOR, D. do; CAMPOS, O.F. de. Utilização do guandu (Cajanus cajan (L.) Millsp.) como substituto parcial do concentrado na dieta de bezerros desaleitados precocemente, no período das “secas”. Revista Sociedade Brasileira de Zootecnia, v.20, n.4, p.373-383, 1991. MARASCHIN, G.E. Perdas de forragem sob pastejo. In: SIMPÓSIO SOBRE ECOSSISTEMAS DE PASTAGENS, 2., Jaboticabal, 1993. Anais. Jaboticabal: FUNEP, 1993. p.l66-190. MORAES, A. de. Pastagens como fator de recuperação de áreas degradadas. In: SIMPÓSIO SOBRE ECOSSISTEMAS DE PASTAGENS, 2., Jaboticabal, 1993. Anais. Jaboticabal: FUNEP, 1993. p.191-215. MOURA, J.C. de. Uso programado do solo para pastagem. In: SIMPÓSIO SOBRE MANEJO DA PASTAGEM, 3., Piracicaba, 1976. Anais. Piracicaba: ESALQ, 1976. p.45-72. NASCIMENTO JÚNIOR, D. do. Leguminosas: espécies disponíveis, fixação de nitrogênio e problemas fsiológicos para o manejo de consorciação. In: SIMPÓSIO SOBRE MANEJO DE PASTAGENS, 8., Piracicaba, 1986. Anais. Piracicaba: FEALQ, 1986. p.389-411. NASCIMENTO JÚNIOR, D. do; QUEIROZ, D.S.; SANTOS, M.V.F. dos. Degradação das pastagens e critérios para avaliação. In: SIMPÓSIO SOBRE MANEJO DE PASTAGENS, 11., Piracicaba, 1994. Anais. Piracicaba: FEALQ, 1994. p.l07-151. RODRIGUES, L.R. de A. Espécies forrageiras para pastagens: gramíneas. In: SIMPÓSIO SOBRE MANEJO DA PASTAGEM, 8., Piracicaba, 1986. Anais. Piracicaba: FEALQ, 1986. p.375-411. RODRIGUES, L.R. de A.; REIS, R.A. Conceituação e modalidades de sistemas intensivos de pastejo rotacionado. In: SIMPÓSIO SOBRE MANEJO DE PASTAGENS, 14., Piracicaba, 1997. Anais. Piracicaba: FEALQ, 1997. p.1-24. RODRIGUES, T. de J.D.; RODRIGUES, L.R de A.; REIS, R.A. Adaptação de plantas forrageiras às condições adversas. In: SIMPÓSIO SOBRE ECOSSISTEMAS DE PASTAGENS, 2., Jaboticabal, 1993. Anais. Jaboticabal: FUNEP, 1993. p.l7-61. RUIZ, M.E.; THIAGO, L.R.L. de S.; COSTA, F.P. Alimentação de bovinos na estação seca: princípios e procedimentos. 3 reimpr. Campo Grande: EMBRAPA-CNPGC, 1993. 81p. (Documentos, 20). SEIFFERT, N.F.; MONDARDO, E.; SALERNO, A.R.; MIRANDA, M. O potencial do guandu; uma leguminosa tropical rústica, que produz proteína para uso humano e animal. Agropecuária Catarinense, p.18-29, 1988. SILVA, G.L.S.P. da; SANTOS, Z.A.P. de S. Aspectos econômicos da adubação de pastagens no Estado de São Paulo. In: MATTOS, H.B. de et al. (eds.) Calagem e adubação de pastagens. Piracicaba: Associação Brasileira para Pesquisa da Potassa e do Fosfato, 1986. p.421-442. SILVA, S.C.da; PEDREIRA, C.G.S. Princípios de ecologia aplicados ao manejo da pastagem. In: SIMPÓSIO SOBRE ECOSSISTEMAS DE PASTAGENS, 3., Jaboticabal, 1997. Anais. Jaboticabal: FUNEP, 1997. p.l-62. SILVEIRA, M.A. Alternativa para o uso racional do capim elefante na dieta de bovinos. In: SIMPÓSIO SOBRE MANEJO DA PASTAGEM, 10., Piracicaba, 1992. Anais. Piracicaba: FEALQ, 1993. p.299-305. SPAIN, J.M.; VILELA, L. Perspectivas para pastagens consorciadas na América Latina nos anos 90 e futuros. In: SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA (ed.) Produção animal no século 21. Piracicaba: FEALQ, 1990. p.101-119. THIAGO, L.R.L.S.; GILL, M. Consumo voluntário: fatores relacionados com a degradação e passagem da forragem pelo rúmen. Campo Grande: EMBRAPA/CNPCG, 1993. 65p. (Documentos, 43). VIEIRA, J.M.; KICHEL, A.N. Estabelecimento e recuperação de pastagens de Panicum maximum. In: SIMPÓSIO SOBRE MANEJO DA PASTAGEM, 12., Piracicaba, 1995. Anais. Piracicaba: FEALQ, 1995. p.147197. YASSU, F. Técnica de universidade tira leite barato no pasto. DBP Rural, n.210, p.28-34, abril 1999. ZIMMER, A.H.; EUCLIDES, V.P.B.; MACEDO, M.C.C. Manejo de plantas forra-geiras do gênero Brachiaria. In: SIMPÓSIO SOBRE MANEJO DE PASTAGENS, 9., Piracicaba, 1988. Anais. Piracicaba: FEALQ, 1988. p.141-183. INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 88 – DEZEMBRO/99