Adubação orgânica e calagem no crescimento e - NBCGIB

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ
PATRICIA ALVES CASAES
CASAE ALVES
ADUBAÇÃO ORGÂNICA E CALAGEM NO CRESCIMENTO
CRESCIMEN
E
NUTRIÇÃO DE Mentha arvensis L. (LAMIACEAE) E PRODUÇÃO
DO ÓLEO ESSENCIAL
ILHÉUS – BAHIA
2012
ii
PATRICIA ALVES CASAES ALVES
ADUBAÇÃO ORGÂNICA E CALAGEM NO CRESCIMENTO DE
Mentha arvensis L. (LAMIACEAE) E PRODUÇÃO DO ÓLEO
ESSENCIAL
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-graduação em Produção Vegetal da
Universidade Estadual de Santa Cruz-UESC
como parte dos requisitos para a obtenção
do título de Mestre em Produção Vegetal.
Área de concentração: Solos e nutrição de
Plantas em Ambiente Tropical Úmido.
Orientador: Prof. Eduardo Gross
Co-Orientadora: Profª Larissa C. do B. Costa
ILHÉUS – BAHIA
2012
iii
iv
DEDICO
Ao meu marido Adailton e meu filho Gustavo, pelo amor incondicional, pelo
apoio emocional, pela paciência durante minha ausência, por estarem ao meu
lado nos momentos mais difíceis e nos mais felizes.
OFEREÇO
Àqueles que me deram a vida e me ensinaram a viver, meus pais, Paulo e
Marina, que mesmo longe, sempre acreditaram em mim e me apoiaram em
todos momentos, pela dedicação continua e incansável, pela amizade e amor
incondicional. Esta conquista tão importante também pertence a vocês.
Muito Obrigada! Ser filha de vocês me deixa muito orgulhosa.
v
AGRADECIMENTOS
A Deus pela vida, e por todas as oportunidades e bênçãos que tem me
proporcionado.
A Natureza, que em seu esplendor fornece ao homem matéria prima para a
nossa subsistência.
A minha grande família por toda força, pelos momentos felizes e amor
incondicional. Em especial a Joab Luiz Casaes por todo apoio e carinho.
A minha cunhada, Débora Casaes, pela amizade e auxilio inestimável em
algumas analises, colaborando nessa conquista.
À minha turma de mestrado, Cris, Lika, Carol, Mari, Nad, Adriano e Rodrigo
pelo carinho, compreensão e amizade. E a turma 2011 com os quais
compartilhei bons momentos.
Ao meu orientador e amigo, Prof. Dr. Eduardo Gross, pela oportunidade de
aprendizado, pelas valiosas sugestões, pelo incentivo, pelas injeções de ânimo,
apoio nos momentos de maiores dificuldades e pela confiança que sempre
depositou em mim.
A Profª Drª Larissa C. do Bomfim Costa, minha co-orientadora, pela amizade,
apoio, estímulo constante, incessante disposição para ajudar, por seu
contagiante entusiasmo e exemplo de determinação.
Ao Programa de Pós-Graduação em Produção Vegetal – PPGPV que
proporcionou a aquisição de novos conhecimentos e o desenvolvimento deste
trabalho, pelo empenho dos professores na transmissão de seus ensinamentos
e, em especial, à secretária Caroline Tavares pela atenção, competência e
amizade.
À Coordenação do Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES),
pela concessão da bolsa durante a realização do curso de mestrado.
Ao Prof. e amigo Luiz Alberto por ensinar-me os primeiros passos da pesquisa
científica, pela contribuição na minha formação a minha eterna gratidão.
Aos Profs. Drs Pedro Mangabeira e Delmira Silva pelo carinho, apoio e
incentivo.
A Profª Drª e amiga Jane Lima, pelas conversas, companhia, apoio, parceria, e
pelos os conhecimentos compartilhados.
Aos Profs. Drs., Anibal Ramadan, George Sodré, José Olímpio de Souza
Junior, Arlicélio de Queiroz Paiva, Raildo Mota, Agna Almeida Menezes e
vi
Rosilene Aparecida de Oliveira, pelo apoio, estímulo, amizade, profissionalismo
e pelo auxílio imprescindível neste trabalho.
Ao Prof. Dr. Fábio Mathias Corrêa pelo auxílio inestimável nas análises
estatísticas e amizade.
À CEPLAC, em especial a técnica Vilma Mororó pelo carinho e auxilio nas
analises.
À Gisele Rocha (UEFS) por todo carinho, amizade e colaboração nas analises
de microscopia eletrônica de varredura.
A Mars Cacau, em especial a Carolina, Cristiano e Marcos pela receptividade,
atenção e auxílio nas análises realizadas no CG-MS.
Ao funcionário do Setor de Manutenção da UESC, Osmar Luna, pela amizade,
valiosa contribuição e presteza aos meus apelos.
Aos funcionários, Roberto Hilário, Roberto, Manoel (Delino), Marcelo, Alan,
Marcos pelo carinho, amizade e auxílio durante o desenvolvimento do
experimento.
A querida amiga Valéria Fernandes, pelas informações preciosas sobre
microscopia eletrônica, por ter sido presente em vários momentos decisivos e
que com muito humor dividiu as angústias e alegrias deste processo, pelo
apoio, compreensão e incentivo constante, a minha gratidão!
À Adeilma Carvalho, amiga de longos anos, por todos os momentos de
companhia, pelas conversas e, em especial, pela força excepcional nos dias de
fraqueza.
Ao Engº Agrônomo e amigo Luciano Ramos por ter fornecido o composto
orgânico para realização deste estudo, pelo apoio, amizade e incentivo.
A equipe do Laboratório de Química e Fertilidade do Solo, Roberta, Carol,
Nairane, Josie, Caique, Gedeon, Bruno, Miguel, Gerson e Pablo pelo carinho e
amizade e em especial Verônica, Mariana, Lidiane, Leoberto pela companhia,
precioso apoio e amizade que dividimos ao logo do curso de mestrado e pelas
muitas vezes que chegaram ao limite comigo nas enfadonhas coletas.
Aos amigos, Diego, Alberto, Vânia, Priscila, Téssio, Alayana, Martiele, Jôsie
Cloviane e Ilana, que conquistaram um lugar especial em meu coração e com
os quais dividi grandes alegrias e tristezas, mas que continuamos lado a lado,
cada um agora seguindo o seu rumo, mas certos de que o amor que nos uniu
sempre existirá.
Aos colegas e amigos do Centro de Microscopia Eletrônica, Adriana, Ana
Carolina, Augusto, Carol, Célia, Cristian, Elika, Jacira, José, Laíze, Lane,
vii
Lucinéia, Luiza, Ricardo, Anderson, Lucas, Luiza e Madson por toda ajuda,
convívio e amizade compartilhando as alegrias e dificuldades dessa jornada.
A todos os amigos que não foram aqui citados, mas que sabem do meu
reconhecimento e apreço. Todos são e serão sempre muito especiais.
viii
LISTA DE FIGURAS
REVISÃO DE LITERATURA
FIGURA 01
Vista geral de plantas de Mentha arvensis
popularmente conhecida como menta-japonesa.
L., 17
FIGURA 02
Eletromicrografia de varredura mostrando tricoma 18
glandular peltado (TGP) e capitado (TGC) na face adaxial
de folha de Mentha arvensis.
FIGURA 03
Biossíntese dos principais metabólitos secundários de 19
plantas de interesse para agricultura e medicina.
FIGURA 04
Representação esquemática da biossíntese de mentol.
20
CAPÍTULO I
FIGURA 01
Solos da Estação Experimental do Almada (Ilhéus, Bahia, 40
Brasil). A localização do Argissolo utilizado no
experimento é indicada pela seta.
FIGURA 02
Valores de pH em H2O do Argissolo Amarelo Distrófico 43
típico com e sem aplicação de composto aos 20 dias
após a incubação com diferentes doses de calcário
dolomítico.
FIGURA 03
Teores de Ca2+ no Argissolo Amarelo distrófico típico, 45
com e sem aplicação de composto aos 20 dias após a
incubação com doses de calcário dolomítico.
FIGURA 04
Teores de Mg2+ no Argissolo Amarelo distrófico típico 46
com e sem aplicação de composto, aos 20 dias após a
incubação com doses de calcário dolomítico.
CAPÍTULO II
FIGURA 01
Aspecto geral das plantas de M. arvensis submetidas a 56
doses de composto orgânico (da esq. para a dir, 0, 5, 10,
20 e 40 g dm-3) e doses de calcário dolomítico 0 (A),
0,25 (B), 2,0 (C) e 3,72 g dm-3 (D).
FIGURA 02
Superfície de resposta para a produção de massa seca 59
de M. arvensis em função das doses de calcário e
composto orgânico. A – massa seca da folha (MSF); B –
massa seca do caule (MSC); C – massa seca da raiz
(MSR); e D - massa seca total (MST).
FIGURA 03
Superfície de resposta dos teores de macronutrientes em 61
folhas de M. arvensis em função das doses de calcário e
composto orgânico. A – teor de cálcio (Ca); B – teor de
ix
magnésio (Mg); C – teor de potássio (K); D – teor de
fósforo (P); e E – teor de enxofre (S).
FIGURA 04
Superfície de resposta dos teores de micronutrientes em 64
folhas de M. arvensis em função das doses de calcário e
composto orgânico. A – teor de cobre (Cu); B – teor de
ferro (Fe); C – teor de manganês (Mn); e D – teor de
zinco (Zn).
FIGURA 05
Morfologia das raízes de M. arvensis. A – vista geral de 68
uma raiz não micorrizada; B – Vista geral de uma raiz
micorrizada; C – detalhe de vesículas (setas); D –
detalhe de arbúsculos (setas) no interior das células
corticais; E – detalhe de esporo (seta) e hifas
intracelulares (ponta de seta); F – seguimento de raiz
com colonização micorrizica e hifa extraradicial.
FIGURA 06
Superfície de resposta do número de esporos em 50 g de 70
solo sob cultivo com M. arvensis submetida as doses de
calcário e composto orgânico.
CAPÍTULO III
FIGURA 01
Eletromicrografia de varredura das folhas de Mentha 81
arvensis. A - superfície adaxial onde podem ser
evidenciados os tricomas tectores (t), glandulares peltado
(p) e capitado (seta); B - superfície abaxial onde podem
ser observados os tricomas glandulares peltado (p) e
capitado (seta).
FIGURA 02
Superfície de resposta de massa seca das folhas de M. 83
arvensis em função das doses de calcário e composto
orgânico.
FIGURA 03
Superfície de resposta da produção de óleo essencial em 84
M. arvensis em função das doses de calcário e composto
orgânico. A - teor de óleo essencial nas folhas; B rendimento do óleo essencial das folhas.
FIGURA 04
Perfil cromatográfico do óleo essencial de M. arvensis no 85
tratamento com maior dose de calcário e sem aplicação de
adubo orgânico (T16). O primeiro pico corresponde ao
solvente (clorofórmio) injetado juntamente com a amostra
no aparelho e o segundo pico (seta) foi identificado como o
neo-iso-mentol.
x
LISTA DE TABELAS
CAPÍTULO I
TABELA 01 Análise química do solo antes da incubação com calcário
40
TABELA 02 Análise granulométrica do solo
41
TABELA 03 Análise química do composto de esterco de ovino
41
CAPÍTULO II
TABELA 01 Análise de variância (p<0,05) da produção de massa seca 57
da folha (MSF), caule (MSC), raiz (MSR) e massa seca
total (MST) da planta
TABELA 02 Análise de variância (p<0,05) dos
macronutrientes das folhas de M. arvensis
teores
de 60
TABELA 03 Analise de variância (p<0,05) dos
micronutrientes das folhas de M. arvensis
teores
de 63
TABELA 04 Características químicas do solo analisadas após a 66
aplicação dos tratamentos (composto e calcário) e do
cultivo com Mentha arvensis
TABELA 05 Analise de variância (p<0,05) do número de esporos e 69
grau de colonização micorrízica em raízes de M. arvensis
CAPÍTULO III
TABELA 01 Análise de variância (p<0,05) para a massa seca foliar, 82
teor e rendimento de óleo essencial das folhas de M.
arvensis
TABELA 02 Percentagem relativa dos constituintes do óleo essencial 86
em plantas de M. arvensis submetidas a cinco diferentes
doses de adubação orgânica e quatro doses crescentes de
calcário
xi
SUMÁRIO
RESUMO
xii
ABSTRACT
xiii
INTRODUÇÃO
14
1
16
REVISÃO DE LITERATURA
1.1
Mentha arvensis
16
1.2
Óleo essencial
18
1.3
Fatores que afetam a produção de óleos essenciais
21
1.3.1
Adubação orgânica
21
1.3.2
Calagem
24
1.3.3
Fungos Micorrizicos Arbusculares
26
1.4
REFERÊNCIAS
29
2
CAPÍTULO I – EFEITO DO COMPOSTO ORGÂNICO NO PH E NOS TEORES
36
DE Ca E Mg DE UM ARGISSOLO AMARELO DISTRÓFICO TÍPICO
2.1
INTRODUÇÃO
38
2.2
MATERIAL E MÉTODOS
39
2.3
RESULTADOS E DISCUSSÃO
42
2.4
CONCLUSÃO
46
2.5
REFERÊNCIAS
46
3
CAPÍTULO II – EFEITO DE COMPOSTO ORGÂNICO E CALAGEM NO
49
CRESCIMENTO E NUTRIÇÃO DE Mentha arvensis
3.1
INTRODUÇÃO
51
3.2
MATERIAL E MÉTODOS
52
3.3
RESULTADOS E DISCUSSÃO
55
3.4
CONCLUSÃO
70
3.5
REFERÊNCIAS
71
4
CAPÍTULO III – EFEITO DE COMPOSTO ORGÂNICO E CALAGEM NA
74
PRODUÇÃO DO ÓLEO ESSENCIAL DE Mentha arvensis
4.1
INTRODUÇÃO
76
4.2
MATERIAL E MÉTODOS
77
4.3
RESULTADOS E DISCUSSÃO
80
4.4
CONCLUSÃO
87
4.5.
REFERÊNCIAS
87
5
CONSIDERAÇÕES FINAIS
91
xii
RESUMO
O uso agrícola do composto de resíduos animais e vegetais, como fertilizante
orgânico, além de melhorar as propriedades física, química e biológica do solo,
representa uma alternativa importante para gestão de resíduos sólidos gerados
na agricultura e na pecuária. A influência de composto orgânico e calcário
sobre as propriedades químicas de um Argissolo Amarelo distrófico típico e
sobre o crescimento, nutrição e produção de óleo em Mentha arvensis foram
estudadas. No primeiro experimento, doses de calcário foram adicionadas ao
Argissolo na ausência e presença do composto orgânico. A incorporação do
composto orgânico promoveu aumento nos valores de pH do solo, mesmo sem
o emprego da calagem (dose zero de calcário). A adição de calcário tanto ao
solo com composto orgânico como àquele sem incorporação do composto
tiveram efeito descrito pelo modelo de regressão quadrática para as variáveis
pH e teores de Ca2+ e Mg2+ disponíveis do Argissolo. Valores mais altos do pH
e dos teores de Ca2+ e Mg2+ disponíveis foram observados no solo com a
adição do composto, sendo que na ausência do calcário o valor médio de Ca2+
e Mg2+ foi superior ao obtido na maior dose de calcário incorporada ao
Argissolo. Os resultados demonstram que o composto orgânico obtido a partir
de esterco de ovino e palha de Brachiaria humidicola pode ser utilizado na
correção do solo elevando os teores de Ca2+ e Mg2+ disponíveis. O
experimento posterior teve como objetivo avaliar a influência de doses de
adubação orgânica e calcário no crescimento, nutrição e produção de óleo
essencial de M. arvensis. Foi realizado em casa de vegetação, e constituído
por um fatorial 4x5 com quatro doses de calcário (0,0, 0,25, 2,0 e 3,72 g dm-3,
correspondendo ao pH 4, 5, 6 e 7) e cinco doses do composto de esterco ovino
(0, 5, 10, 20 e 40 g dm-3) constando de cinco repetições. Após 110 dias de
cultivo, determinaram-se a produção de massa seca total e por compartimento
das plantas, os teores de macro e micronutrientes foliares, e o teor e o
rendimento do óleo essencial das folhas. O crescimento de M. arvensis sob as
doses do composto orgânico e calcário propiciou incremento na produção de
biomassa das plantas. As doses do composto orgânico para obtenção da maior
produção de biomassa de M. arvensis variou entre 18 e 30 g dm-3 na dose de
3,72 g dm-3 de calcário. Dentre os macronutrientes, o potássio foi o que
apresentou maior teor nas folhas de M. arvensis, enquanto que para os
micronutrientes, o ferro foi o elemento com maior teor encontrado na folha
dessa espécie de planta medicinal. A interação dos fatores influenciou o
número de esporos, mas não o grau de colonização micorrizica de M. arvensis.
Quanto ao teor de óleo essencial encontrado nas folhas a interação composto
orgânico e o calcário foi significativa. O mentol foi o componente majoritário
desse óleo, na forma de seu isômero neo-iso-mentol. Para obtenção da maior
produção de óleo essencial de M. arvensis as doses do composto orgânico
variaram entre 26 e 29 g dm-3 e o calcário entre 1,7 e 2 g dm-3. Essas doses
correspondem a um pH de 5,8 a 6 no início do experimento. As doses de
calcário e composto orgânico influenciaram tanto qualitativa (componentes)
como quantitativamente (percentual dos componentes) a composição do óleo
essencial de M. arvensis.
Palavras-chave: calcário, nutrientes, compostagem.
xiii
ABSTRACT
The agricultural use of the compost from animal and vegetable waste as
organic fertilizer, beyond to improve physical, chemical and biological properties
of soil represents an important alternative for the management of solid waste
generated by agriculture and livestock. The influence of organic compost and
lime on the chemical properties of an Typic Hapludalf and on the growth,
nutrition and production of oil in Mentha arvensis were studied. In the first
experiment, limestone was added to Hapludalf in the absence and presence of
the organic compound. The incorporation of organic compost increased pH of
soil, even without the use of lime. The addition of lime to the soil with and
without compost had an effect described by quadratic regression model for pH
and available Ca2+ and Mg2+. Higher values of pH, and available Ca2+ and Mg2+
were observed in the soil with the addition of compost, whereas in the absence
of lime average value of Ca2+ and Mg2+ was higher than that obtained at the
highest dose of lime incorporated into soil. The results show that the organic
compound obtained from sheep manure and straw of Brachiaria humidicola can
be used in soil correction elevating available Ca2+ and Mg2+. Subsequent
experiment was the aim to evaluate the influence of doses of compost and lime
on the growth, nutrition and essential oil yield of M. arvensis. It was conducted
in a greenhouse, and consisted of a 4x5 factorial with four lime doses (0.0, 0.25,
2.0 and 3.72 g dm-3, corresponding to pH 4, 5, 6 and 7) and five doses of sheep
manure compost (0, 5, 10, 20 or 40 g dm-3) consisting of five replicates. After
110 days of cultivation, total dry matter production and per plant compartment,
macro and micronutrient contents of leaf, and essential oil yield of leaves were
determined. The growth of M. arvensis under doses of compost and lime
resulted in increased production of plant biomass. Doses of the organic
compost to obtain the highest biomass yield of M. arvensis varied between 18
and 30 g dm-3 at the dose of 3.72 g dm-3 lime. Among the macronutrients,
potassium showed the highest content in the leaves of M. arvensis, while for
micronutrients, iron has been the element with highest content in leaf of this
medicinal plant species. Factors interaction influenced the number of spores,
but not the degree of mycorrhizal colonization of M. arvensis. Regarding the
essential oil content in the leaves, compost and lime interaction was significant.
The menthol was the major component of this oil in the form of its isomer neoiso-menthol. To obtain the highest production of essential oil of M. arvensis
doses of the organic compound varied between 26 and 29 g dm-3 and lime
between 1.7 and 2 g dm-3. Such doses correspond to a pH of 5.8 to 6 in the
beginning of the experiment. The lime and compost influenced both qualitative
(components) and quantitatively (percentage of components) the composition of
the essential oil of M. arvensis.
Keywords: Limestone, nutrient, composting.
14
INTRODUÇÃO
Na sociedade em que vivemos é comum o uso de plantas medicinais
como alternativa terapêutica, em cosméticos e na alimentação, e o interesse
por fitoterápicos vem aumento cerca de 15% ao ano, ocupando um espaço
cada vez maior na medicina (RODRIGUES et al., 2004; CORRÊA JUNIOR;
SCHEFFER, 2009). O cultivo de plantas medicinais pode suprir a demanda
crescente, tornando necessárias informações agronômicas que são essenciais
para obtenção de matéria prima de melhor qualidade, especialmente quanto ao
teor de seu principio ativo que se relaciona à sua eficácia terapêutica (SILVA;
MORAIS, 2008; RODRIGUES et al., 2008).
A produção e a qualidade do óleo essencial das plantas medicinais são
influenciadas por vários fatores. Dentre estes, destacam-se a luminosidade,
temperatura, pluviosidade e a nutrição da planta que alteram significativamente
a produção dos metabólitos secundários, ocasionando a biossíntese de
diferentes compostos (MORAIS, 2009; CORRÊA JUNIOR et al., 1994).
A nutrição é um dos fatores que afeta diretamente o crescimento vegetal
e a produção de óleo essencial em diversas plantas medicinais (BIASI et al.,
2009). Segundo Mapeli et al. (2005), dentre todos os fatores que podem
interferir nos princípios ativos de plantas, a nutrição é um dos que requerem
maior atenção, pois o excesso ou a deficiência de nutrientes pode estar
diretamente correlacionado à variação na produção de substâncias ativas. E a
adubação orgânica é uma boa alternativa, relativamente barata, para fornecer
nutrientes para a planta, além de melhorar as propriedades químicas, físicas e
biológicas do solo.
Uma prática de manejo que contribui para o aumento da eficiência dos
adubos, melhorando o ambiente para o estabelecimento das plantas, é a
calagem; os seus efeitos já são conhecidos e consagrados para algumas
espécies medicinais, como mostra estudos feitos por Blank et al. (2006).
Como a planta absorve os nutrientes pela raiz, uma maior expansão
radicular (maior área de absorção) influencia diretamente na nutrição. Os
fungos micorrízicos arbusculares (FMA) são responsáveis pelo aumento da
superfície de absorção através da associação com as raízes, o que ocorre na
15
maioria das espécies vegetais (MOREIRA; SIQUEIRA, 2006). Do ponto de
vista da produção vegetal, é importante conhecer o grau de colonização e a
influência do micobionte sobre o crescimento da planta.
A Mentha arvensis conhecida também como menta japonesa, é uma
planta aromática pertencente à família Lamiaceae (ex Labiatae), produtora de
óleo essencial com alto teor de mentol e alto valor econômico (LORENZI;
MATOS, 2008). Devido a sua importância econômica e suas propriedades
terapêuticas (antidispéptica, descongestionante nasal, antigripal etc.), seu
cultivo é uma atividade promissora e lucrativa, com mercado garantido, o que
confere a sua importância junto aos agricultores familiares.
As recomendações de calagem e de adubação para menta podem
contribuir para que se estabeleça o manejo adequado para essa espécie
aromática e de interesse medicinal, considerando os fatores regionais, nível de
produtividade e qualidade do óleo. Sendo assim, esse estudo teve por objetivo
avaliar o efeito da adubação orgânica e da calagem no crescimento da planta,
produção do óleo essencial e no teor de nutrientes foliar de Mentha arvensis.
16
1 REVISÃO DE LITERATURA
1.1 Mentha arvensis
O cultivo de plantas medicinais vem aumentado ao longo dos anos e
assumindo uma importância cada vez maior no mundo, devido ao grande
interesse das indústrias químicas, farmacêuticas, alimentícias e de cosméticos
(SOUZA et al., 2007). Esse aumento expressivo por fitofármacos, nas ultimas
décadas, fez o mercado mundial atingir mais de US$ 20 bilhões anuais,
destacando-se a Alemanha, os países asiáticos e os Estados Unidos como os
principais consumidores desses medicamentos (CALIXTO, 2003).
E dentro do grupo de plantas medicinais, a família Lamiaceae possui
várias espécies que vêm despertando interesse por seus efeitos terapêuticos.
É uma família com grande quantidade de espécies de plantas medicinais,
abrange cerca de 300 gêneros e 7500 espécies com distribuição cosmopolita,
mas com particular ocorrência na região Mediterrânea (SOUZA; LORENZI,
2005).
Dentre os gêneros pertencentes à família Lamiaceae, a Mentha,
conhecida popularmente como menta e, ou hortelã, se destaca por incluir
espécies medicinais e aromáticas. Este gênero ocupa posição de destaque na
produção de óleos essenciais, pois produz alguns dos mais importantes
compostos encontrados e utilizados na indústria alimentícia, cosmética e
farmacêutica
(CASTRO
et
al.,
2004;
DESCHAMPS
et
al.,
2006;
GERSHERZON et al., 2000).
Dos 500 mil hectares cultivados no mundo, com plantas da família
Lamiaceae, a maior parte dessa área é ocupada por Mentha arvensis L.,
Mentha x piperita L. e Mentha spicata L., com produção anual de biomassa de
8.600, 2.367 e 880 toneladas, respectivamente (SIMÕES; SPITZER, 2000). Há
muitas espécies e variedades de menta cultivadas em diferentes partes do
mundo, mas essas se destacam por despertar interesse comercial, devido aos
seus altos teores de mentol, carvona, linalol e acetato de linanil, presentes na
composição do seu óleo essencial (SUKHMAL CHAND et al., 2004).
17
Mentha arvensis é uma das principais espécies cultivadas, foi
introduzida no Brasil pelos japoneses e conhecida como menta-japonesa,
hortelã-japonesa ou vique (Figura 1). Trata-se de uma planta herbácea,
estolonífera, semi-perene, de caule ramificado, podendo atingir até 60 cm de
altura. Suas folhas variam de 2 a 7 cm de comprimento, oval-oblongas ou
oblongo-lanceoladas, levemente denteadas, pubescentes e muito aromáticas.
A inflorescência é em espiga terminal. Apresenta propriedades terapêuticas
antiespasmódica,
expectorante,
antidispéptica,
carminativo
e
soporífero
(LÓPEZ et al., 1998; LORENZI; MATOS, 2008; PRICHARD, 2004). Entretanto,
sua maior importância é o fato de ser produtora de óleo essencial com alto teor
de mentol, componente químico de grande valor econômico e de grande
aceitação no mercado (LORENZI; MATOS, 2008; SHASANY et al., 2000).
Figura 1 – Vista geral de plantas de Mentha arvensis L., popularmente conhecida
como menta-japonesa.
18
1.2 Óleo essencial
Os óleos essenciais são originados do metabolismo secundário das
plantas e possuem composição química complexa de substâncias voláteis,
voláteis
lipofílicas e geralmente odoríferas e líquidas. Sua principal característica físicofísico
química é a volatilidade (SIMÕES;
(
SPITZER, 2000; AFLATUNI, 2005).
2005)
Embora, os óleos essenciais
essenciais possam ser acumulados em diversos
órgãos da planta, como
mo raízes, caules, folhas, flores, frutos e sementes, em
algumas mentas estão concentrados em maior quantidade nas folhas (MORAIS
et al., 2006; SIMÕES; SPITZER, 2000). Nas folhas, portanto,
ortanto, encontra-se
encontra
o
maior número de estruturas especializadas para síntese e o armazenado do
óleo, e a estrutura específica
especí
para a família Lamiaceae são tricomas
glandulares (SIMÕES; SPITZER, 2000;
200 MCCASKILL; CROTEAU, 1998). A
menta, entretanto,
ntretanto, apresenta
apresenta três tipos de tricomas: tricomas tectores (não
glandulares), tricomas glandulares capitados e tricomas glandulares peltados,
peltados
que estão distribuídos ao longo da superfície foliar, preferencialmente na face
abaxial, ocorrendo também na adaxial em menor densidade
densidade (BRUN; VOIRIN,
VOIRIN
1991; DESCHAMPS et al., 2006).
Segundo Turner et al. (2000), os
o tricomas glandulares peltados são
responsáveis pela maior produção dos óleos essenciais, enquanto os tricomas
glandulares capitados apresentam pequena quantidade de óleo (Figura 2).
Figura 2 – Eletromicrografia de varredura mostrando tricoma glandular peltado (TGP) e
capitado (TGC) na face adaxial de folha de Mentha arvensis.
19
Na composição química dos óleos essenciais, destacam-se a presença
de terpenóides e de compostos fenólicos (AFLATUNI, 2005).
Metabolicamente, terpenóides e fenilpropanóides (compostos fenólicos)
originam-se de diferentes precursores do metabolismo primário da planta e são
gerados através de diferentes vias biossintéticas (SANGWAN et al., 2001).
Terpenos ou terpenóides são os principais compostos dos lipídeos sintetizados
através do Acetil CoA na via do ácido mevalônico (Figura 3), enquanto os
fenilpropanóides são substâncias formadas na via do ácido chiquímico (TAIZ;
ZEIGER, 2004).
Figura 3 – Biossíntese dos principais metabólitos secundários de plantas de interesse
para agricultura e medicina (adaptado de TAIZ; ZEIGER, 2004).
Os monoterpenos e sesquiterpenos são os principais terpenóides
encontrados nos óleos essenciais (TAIZ; ZEIGER, 2004). Os sesquiterpenos
são, em geral, menos voláteis que os monoterpenos, mas podem influenciar
sensivelmente o odor dos óleos (CASTRO et al., 2004).
Os óleos essenciais das mentas são ricos no monoterpeno ‘mentol’ que
confere sabor e odor de menta a remédios, balas, pastas de dentes e outros
produtos da indústria (GARLET et al., 2007; LORENZI; MATOS, 2008;
SHASANY et al., 2000).
20
A biossíntese do mentol compreende oito reações metabólicas e uma
complexa
organização
espacial,
envolvendo
enzimas
localizadas
nos
plastídeos, no retículo endoplasmático, mitocôndrias e citoplasma (WILDUNG;
CROTEAU et al., 2005).
O MEP (metil eritritol fosfato) plastídico é a primeira molécula nessa
cadeia de reações, originando o geranil difosfato que, pela ação da enzima
limoneno sintase é convertido em limoneno, composto que dá origem à maioria
dos terpenos do óleo essencial de Mentha (Figura 4). O mentol é derivado
direto da mentona pela ação da enzima citoplasmática mentona redutase
(MCGARVEY; CROTEAU, 1995).
Figura 4 – Representação esquemática da biossíntese de mentol (adaptado de
CROTEAU et al., 2005).
A síntese do mentol (um metabólito secundário) pode ser influenciada
por fatores genéticos, climáticos e edáficos (adubação, irrigação, espaçamento,
pH do solo, microrganismos associados à planta), sendo necessário conhecer
os efeitos das condições ambientais na produção do principio ativo (MORAIS,
2009; MARTINS et al., 2000).
21
1.3 Fatores que afetam a produção do óleo essencial
Os benefícios das plantas medicinais para saúde humana são atribuídos
ao seu principio ativo que está diretamente relacionado à sua eficácia
terapêutica. No entanto, a qualidade e a concentração do principio ativo
procedem do metabolismo das plantas, constituindo-se, dessa forma, em
resposta do mecanismo de integração da planta com o ambiente. Geralmente,
o excesso ou deficiência de algum fator de produção para a planta é
caracterizado como situação de estresse, estimulando o vegetal a produzir
esses compostos responsáveis pelo efeito medicinal (MARTINS et al., 2000).
Assim, o conhecimento dos fatores que influenciam a variação dos compostos
químicos nas plantas medicinais permite obter uma matéria prima de melhor
qualidade (CASTRO et al., 2004).
A luminosidade, temperatura, pluviosidade e a nutrição da planta são
alguns fatores que alteram significativamente a produção dos metabólitos
secundários, ocasionando a biossíntese de diferentes compostos (MORAIS
2009; CORRÊA JUNIOR et al., 1994). Dentre esses fatores que alteram a
produção dos metabolitos secundários destaca-se a nutrição.
A nutrição, portanto, é um dos parâmetros que requerem maior atenção,
pois o excesso ou a deficiência de nutrientes pode estar diretamente
correlacionado à variação na produção de substâncias ativas. A nutrição é um
dos fatores que afeta diretamente a produção de biomassa e a produção de
óleo essencial em diversas plantas medicinais (BIASI et al., 2009).
1.3.1 Adubação orgânica
Para manter o solo fértil e possibilitar as plantas alcançarem a máxima
produção é necessário suprimento de nutrientes. E em sistemas orgânicos,
isso pode ser feito usando diferentes práticas de adubação (BORGES et al.,
2003).
Os adubos orgânicos, além do fornecimento de nutrientes, apresentam
diversos efeitos benéficos no solo. Malavolta et al. (2002) afirmam que a
adubação orgânica é importante para produtividade de muitos tipos de solos,
considerando, sobretudo, a grande variação das características físico-químicas
22
das diversas unidades edáficas. Entretanto, a melhoria da capacidade
produtiva do solo é um processo gradual onde a matéria orgânica tem
influência direta (BONILLA, 1992).
A aplicação de adubos orgânicos nos solos proporciona melhorias nas
propriedades físicas, aumentando a macro e microporosidade, melhorando,
através dessa prática, a aeração, a drenagem e a retenção de água no solo. As
modificações nas propriedades químicas incluem fornecimento de macro e
micronutrientes e a influência no poder tampão do solo, aumentando, assim, a
capacidade de troca catiônica. As modificações do aporte de matéria orgânica
nas propriedades biológicas do solo incluem a estimulação dos processos
biológicos por meio da manutenção do metabolismo energético (respiratório).
Portanto, a adubação orgânica é um componente chave para manutenção da
qualidade dos solos e, como consequência, para sustentabilidade dos sistemas
produtivos em médio e longo prazo (SILVA; MENDONÇA, 2007). Malavolta et
al. (2002) salienta que, em regiões tropicais e subtropicais úmidos, a matéria
orgânica decompõe-se com grande rapidez.
Como a matéria orgânica é de grande importância na garantia da
sustentabilidade do solo, a manutenção de restos culturais, a introdução de
compostos orgânicos, as adubações verdes, o uso de vermicompostos, a
rotação de culturas e a utilização de cobertura morta, devem ser práticas
constantes para a obtenção e manutenção da fertilidade dos solos no intuito de
possibilitar as plantas alcançarem máxima produção (BORGES et al, 2003).
A manutenção da matéria orgânica do solo é de especial importância
nas propriedades com produção orgânica (agroecossistema), pois segundo a
Instrução Normativa de Nº 007, de 17 de maio de 1999, do Ministério da
Agricultura
e
do
Abastecimento,
podem
ser
utilizados
adubos
e
condicionadores de solos obtidos na própria unidade de produção (desde que
livres de contaminantes), restos orgânicos e estercos (sólidos ou líquidos), ou
obtidos fora da unidade de produção, desde que autorizados pela certificadora,
na produção de alimentos orgânicos. Os resíduos utilizados como fonte de
nutrientes para as plantas medicinais são basicamente os de origem animal
(estercos) e os compostos orgânicos.
A adubação é um dos fatores que afeta diretamente o crescimento e a
produção de óleo essencial em diversas plantas medicinais (BIASI et al., 2009).
23
No caso da menta os nutrientes são fundamentais para o crescimento da
planta e a produção de óleos essenciais de alta qualidade (BROWN et al.,
2003). Nalepa e Carvalho (2007) observaram que o aumento da dose de camade-aviário em até 10,3 kg m-2 proporcionou o máximo crescimento na altura
das plantas de camomila (Chamomilla recutita - Asteraceae). Para planta de
cidrão (Aloysia triphylla - Verbenaceae) verificou-se menor teor médio de óleo
essencial na ausência de adubação com esterco bovino e, assim, inferiu-se
que a utilização de esterco bovino favoreceu a produção de óleo essencial para
essa espécie (BRANT et al., 2010). Pegoraro et al. (2010) demonstraram que a
adubação orgânica proporcionou aumento da biomassa e área foliar, que
indiretamente levam à maior produção de óleos essenciais por planta. Costa et
al. (2008) verificaram que houve influência positiva das doses de adubação
com esterco bovino e de galinha sobre o crescimento da planta em altura e
diâmetro do caule, acúmulo de biomassa seca, teor de clorofila, espessura do
limbo foliar, rendimento e composição química do óleo essencial de Ocimum
selloi.
O emprego dos compostos orgânicos como base central de sistemas
orgânicos de produção é uma tecnologia adotada no mundo inteiro e é uma
alternativa viável para o aproveitamento racional de resíduos, sendo o método
mais antigo de reciclagem. O composto é a forma mais segura e eficaz de
realizar a adubação orgânica de plantas medicinais, sendo, o resultado de um
processo controlado de decomposição bioquímica de materiais orgânicos,
transformados em um produto mais estável e utilizado como fertilizante
orgânico (KIEHL, 1985).
De acordo com a Instrução Normativa SDA/MAPA nº 25 de 2009, os
fertilizantes orgânicos simples, mistos e compostos para aplicação no solo (Art.
7º) deverão atender os seguintes requisitos: N total (mín.) 0,5%, carbono
orgânico (mín.) 15 %, pH (mín.) de 6,0 e relação C/N (máx.) de 20. O composto
orgânico é um produto estável e passível de utilização para fins agrícolas, uma
vez que, devido a sua estrutura e composição, contribui para a melhoria da
constituição do solo e do desenvolvimento das plantas.
24
1.3.2 Calagem
Nos solos brasileiros ocorre intenso processo de intemperismo, o qual
favorece a remoção dos nutrientes catiônicos, que associado à presença de
alumínio ou manganês, torna os solos ácidos. Há outros fatores que promovem
acidificação do solo em cultivos: a exportação de cátions básicos pela colheita,
regiões com altas precipitações e o uso de fertilizantes de reação ácida como
os amoniacais (SOUSA et al., 2007).
Entretanto, os efeitos da acidez que causam limitações na produção de
muitas culturas, como toxidez pela alta saturação por alumínio, podem ser
minimizados através de um bom manejo. E a melhor alternativa de manejo
para correção da acidez, é a calagem, que além de anular os efeitos tóxicos
causados pela presença do alumínio e manganês, fornece cálcio e magnésio
ao solo (SOUSA et al., 2007).
O efeito positivo da calagem favorece um bom desenvolvimento das
raízes, promovendo absorção e translocação de nutrientes, além da absorção
de água. O uso adequado da calagem contribui também com o aumento da
disponibilidade da maioria dos nutrientes para as plantas, estimula a atividade
microbiana e uma melhor fixação de nitrogênio pela simbiose com leguminosas
(ALVAREZ-VENEGAS; RIBEIRO, 1999).
No entanto, uma calagem em excesso pode acarretar danos ao sistema
de produção, causando efeito negativo na disponibilidade dos micronutrientes,
sendo um problema mais difícil de corrigir (SOUSA et al., 2007).
A necessidade de calagem pode ser definida como a quantidade de
corretivo necessária para obter a máxima eficiência econômica da cultura, pela
adição de cálcio e magnésio no solo e elevação do pH a uma condição
adequada (ALVAREZ-VENEGAS; RIBEIRO, 1999).
Solos diferentes podem agir de forma diferente, por isso a necessidade
de calagem também está relacionada com a capacidade tampão do solo e sua
capacidade de troca catiônica. Os solos argilosos, que são mais tamponados,
normalmente requerem uma maior quantidade de calcário do que os solos
arenosos, estes sendo menos tamponados. Isso porque a capacidade tampão
está relacionada aos teores de argila e de matéria orgânica e tipo de argila
(ALVAREZ-VENEGAS; RIBEIRO, 1999).
25
A viabilidade da aplicação do calcário depende de fatores ligados a
planta, ao solo e ao corretivo empregado. Como as demais culturas de
interesse agronômico, as plantas medicinais reagem positivamente ao emprego
do calcário. Estudos comprovam os efeitos benéficos da calagem em plantas
medicinais por meio dos resultados positivos desta prática (BLANK et al.,
2006). Alguns trabalhos mostram que espécies medicinais respondem a
calagem e a adubação (AMARANTE et al., 2007)
A alta acidez associada a um baixo pH, prejudicam o crescimento
normal das plantas cultivadas, devido a diversos fatores que afetam
negativamente o desenvolvimento vegetal. A correção de acidez dos solos por
meio da calagem é fundamental para obter alta produtividade da cultura. O
aumento na produtividade das plantas medicinais em resposta a calagem é
bastante variado. No entanto, interações com a calagem ocorrem de maneira
especifica para cada espécie (SOUSA et al., 2007).
Segundo Unander e Blumberg (1990), dentre os fatores ambientais que
podem influenciar no desenvolvimento das plantas medicinais, o pH abaixo de
4,0, para algumas espécies de Phyllanthus (Euphorbiaceae) afetou de maneira
significativa, causando a morte das plantas em duas semanas. Estudando o
mesmo gênero, Becker et al. (2000), relatou que a planta medicinal conhecida
como quebra-pedra (P. niruri) respondeu muito bem a calagem, a qual
influenciou no crescimento e desenvolvimento da planta. A correção do solo e a
fertilização nitrogenada mostram-se importantes na produção de biomassa e no
aumento do teor de alcalóides de quebra-pedra (BECKER et al., 2000).
Souza et al. (2010), ao avaliarem o efeito da calagem associada à
adubação com esterco de curral curtido na produção de biomassa e no teor de
óleo essencial de Lippia citriodora (Lam.) Kunth (Verbenaceae), verificaram que
a falta da aplicação de corretivos e de nutrientes no solo limitaram o
crescimento da cultura, com uma paralisação do desenvolvimento vegetal,
seguido de morte de todas as plantas desse tratamento.
Arrigoni-Blank et al. (1999) concluíram que, após 120 dias do
transplantio, no cultivo da erva-baleeira (Cordia verbenacea) em solos ácidos e
de baixa fertilidade, a calagem e a adubação foram essenciais para o
crescimento da planta. Além da prática da calagem, a adubação com N, K e B
26
apresentou as maiores respostas quanto ao crescimento e à nutrição dessa
espécie (ARRIGONI-BLANK et al.,1999).
A calagem e adubação mineral também foram essenciais no cultivo de
melissa (Melissa officinalis L.) e hortelã-pimenta (Mentha piperita L.). No solo
utilizado, a falta da calagem e da adubação com N e P causaram as maiores
quedas na produção de folhas, órgão usado na medicina popular e que contém
os princípios ativos em maior proporção. A omissão de calagem em melissa
não permitiu o crescimento das plantas (BLANK et al., 2006).
Amarante et al. (2007) trabalhando com erva-de-são-joão (Hypericum
perfortum) verificaram que esta espécie responde positivamente à calagem,
especialmente com a suplementação adicional de fósforo, através do aumento
no acúmulo de Ca, Mg, K, N e P na parte aérea, promoção do crescimento e
produção comercial desta espécie. Trabalhando com a mesma espécie, Souza
et al. (2006) observaram que a adição de calagem combinada com adubação
fosfatada promoveu o rendimento de massa seca e do composto hipericina nas
plantas.
Em estudo com mudas de arnica (Lychonophora ericoides), Oliveira
Junior et al. (2006) observaram que a adubação orgânica, com aplicação de
calcário, promoveu maior produção de matéria seca da parte aérea. Aflatuni et
al. (2003) estudando o impacto da calagem no rendimento e qualidade das
espécies Mentha x piperita e Mentha arvensis var. sachalinensis concluíram
que a calagem deve ser recomendada para alcançar um maior rendimento de
massa fresca e óleo essencial.
1.3.3 Fungos Micorrizicos Arbusculares
A prática da agricultura, em alguns locais, está mudando de um enfoque
convencional para uma abordagem sustentável. Os sistemas agrícolas
sustentáveis são caracterizados pela reduzida introdução de insumos sintéticos
tais
como
pesticidas
e
fertilizantes
e
uma
utilização
de
práticas
conservacionistas. Os microrganismos, devido a uma complexidade, nem
sempre são levados em consideração na agricultura sustentável e o seu papel
tem
sido
amplamente
negligenciado,
apesar
desses
organismos
27
desempenharem atividades imprescindíveis para manutenção e sobrevivência
de animais e vegetais, por meio de algumas funções como decomposição da
matéria orgânica, produção de húmus, ciclagem de nutrientes e energia,
controle biológico de pragas e doenças entre outras (MOREIRA; SIQUEIRA,
2006).
Existe uma grande quantidade de organismos micro e macroscópicos
que habitam no solo. Em um grama de solo pode haver mais de 10.000
espécies diferentes de microrganismos. Essa biomassa microbiana é
constituída de fungos, bactérias, actinobactérias, algas, protozoários. Além
destes, outros seres compõe a microbiota do solo, a exemplo de ácaros,
nematóides, formigas, aranhas, centopéias, minhocas (PAULUS; MULLER;
BARCELLOS, 2000).
Dentre a diversidade de microrganismos que habitam no solo, os fungos
micorrízicos se destacam por estabelecerem uma relação de simbiose
complexa, sendo um dos membros importantes nos sistema solo-planta, os
quais apresentam forte relação e interdependência (MOREIRA; SIQUEIRA,
2006).
As micorrizas são fungos antigos que por ter desenvolvido a capacidade
de comunicação com as plantas, garantiram a existência de ambos facilitando
a evolução, a diversidade das espécies e a colonização do habitat terrestre.
Tudo isso, tornou as micorrizas fenômeno generalizado na natureza. A maioria
das espécies de plantas é capaz de formar micorrizas, sendo que 80% formam
micorriza do tipo arbuscular, incluindo principalmente as espécies de interesse
agronômico, pastoril e espécies florestais nativas dos trópicos (MOREIRA;
SIQUEIRA, 2006).
Pertencentes
à
ordem
Glomales
(Glomeromycota),
os
fungos
micorrízicos arbusculares (FMA) são formados por filamentos tubulares finos
chamados de hifas, que estabelecem uma associação simbionte com várias
espécies vegetais permitindo a absorção de água e nutrientes pela planta e a
transferência de carboidratos das plantas para os fungos. As hifas se estendem
pelo solo e permitem o aumento da superfície de absorção da raiz e
mobilização de nutrientes escassos no solo. Entretanto, as hifas quando
penetram nas células corticais da raiz podem originar estruturas denominadas
de arbúsculos, que parecem ser os possíveis locais de troca de metabólitos e
28
nutrientes entre o fungo e a planta hospedeira. Em alguns casos ocorre o
intumescimento terminais formando uma estrutura oval denominada de
vesícula, que funciona como um compartimento de reserva para o fungo (TAIZ;
ZEIGER, 2004; RUSSOMANNO et al., 2008).
Os fungos micorrízicos arbusculares (FMAs) podem estar associados a
uma variedade de espécies vegetais. Entretanto o grau de benefícios entre o
fungo e a planta hospedeira pode ser variável, a depender das espécies
envolvidas (DETMANN et al., 2008). Os benefícios desta associação podem
ser observados no aumento dos números de galhos, altura, biomassa,
concentração e qualidade do óleo essencial de algumas plantas medicinais
(KAPOOR et al., 2002; RUSSOMANNO et. al, 2008). Porém os benefícios não
se restringem ao aumento de biomassa e rendimento de óleo essencial, uma
vez que pesquisas relatam uma ação positiva na defesa contra patógenos,
auxílio na fixação de nitrogênio, produção de hormônios e aumento da
capacidade de tolerar estresses ambientais (ARPANA et al., 2008).
Os Fungos Micorrízicos Arbusculares (FMAs) possuem características
típicas como micélio externo com ramificações e projeções angulares, e hifas
principais cenocíticas. Nessa simbiose, a planta supre o fungo com energia
para crescimento e reprodução via fotossintatos, e o fungo provê a planta e o
solo com uma gama de serviços (SOUZA et al., 2008).
Dentro do sistema micorrízico (o fungo, a planta e o solo) existem vários
fatores que podem influenciar direta ou indiretamente a formação, o
funcionamento e a ocorrência das FMAs. Alguns desses fatores são:
disponibilidade de nutriente, pH do solo, metais pesados e espécie hospedeira.
Sistemas biologicamente equilibrados contribuirão para aumentar a ocorrência
e atividade das FMAs nos sistemas agrícolas, trazendo efeitos benéficos ao
crescimento das plantas. São vários os benefícios que as FMAs promovem
para comunidade vegetal, sendo um dos principais, o efeito nutricional que
ocorre devido a uma maior expansão radicular (maior área de absorção) pelas
hifas dos FMAs que explorando lugares onde as raízes dificilmente alcançariam
aumenta a absorção de nutrientes pela raiz. O micélio que explora o solo
absorve água e nutrientes, especialmente o fósforo e zinco, além do nitrogênio,
potássio, enxofre, cálcio, magnésio, dentre outros, e os transfere às plantas
29
hospedeiras por intermédio de estruturas altamente ramificadas, típicas das
FMAs, os arbúsculos (BERBARA et al., 2006).
Além desses, outros benefícios podem ser citados como: resistência a
patógenos, tolerância ao estresse hídrico, aumento da eficiência fotossintética,
deixando a planta mais competitiva e tolerante as condições ambientais. Muitos
estudos têm sido desenvolvidos para comprovar os efeitos benéficos das
micorrizas nas plantas. Esses valores chegam a ser altíssimos, como por
exemplo em Mentha arvensis, onde a inoculação com as espécies Gigaspora
margarita e Glomus clarum promoveu maior incremento na matéria seca com
relação ao controle (FREITAS et al., 2006). Resultados semelhantes foram
encontrados em Baccharis trimera (FREITAS et al., 2004). Genótipos de
orégano (Origanum sp.) diferiram quanto a inoculação com Glomus moseae
com relação a biomassa (KAPOOR et al., 2002). Efeitos são observados na
produção de metabólitos secundários da planta, como por exemplo o aumento
do teor de óleo em manjericão Ocimum basilicum (RUSSOMANNO et al.,
2008).
O papel dos microrganismos nos sistemas agrícolas apresenta grande
importância econômica e ambiental. Aspectos da relação fungo-planta devem
ser considerados para o estabelecimento da simbiose micorrízica, uma vez que
o efeito da variação ambiental e genotípica dos vegetais sobre a colonização
tem sido apresentado por grande número de espécies de plantas.
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36
2 CAPÍTULO I - EFEITO DE COMPOSTO ORGANICO NO pH E NOS
TEORES DE Ca E Mg DE UM ARGISSOLO AMARELO DISTRÓFICO TÍPICO
RESUMO
O uso agrícola do composto de resíduos animais e vegetais, como fertilizante
orgânico, além de melhorar as propriedades física, química e biológica do solo,
representa uma alternativa importante para gestão de resíduos sólidos gerados
na agricultura e na pecuária. Foram estudados os efeitos da aplicação de sete
doses de calcário dolomítico (0,0; 0,5; 1,0; 1,5; 2,0; 2,5 e 3,0 g dm-3 de solo) na
ausência e presença de composto orgânico (40 g dm-3) sobre o pH e os teores
de Ca2+ e Mg2+ de um Argissolo Amarelo distrófico típico. O experimento foi
conduzido no Laboratório de Química e Fertilidade do Solo da UESC em
delineamento inteiramente casualizado com amostras de 0,5 dm3 de solo
acondicionadas em sacos plásticos fechados e quatro repetições. A
incorporação do composto orgânico promoveu aumento nos valores de pH do
solo, mesmo sem o emprego da calagem (dose zero de calcário). A adição de
calcário, tanto ao solo com composto orgânico como àquele sem incorporação
do composto, tiveram um efeito descrito pelo modelo de regressão quadrática
para as variáveis pH e concentração de Ca2+ e Mg2+ disponíveis no solo.
Valores mais altos de pH e das concentrações Ca2+ e Mg2+ foram observados
no solo em que foi adicionado o composto, sendo superior ao obtido no solo
com maior dose de calcário e na ausência de composto. Os resultados
demonstram que o composto orgânico obtido a partir de esterco de ovino e
palha de Brachiaria humidicola pode ser utilizado na correção do solo elevando
os teores de Ca2+ e Mg2+ disponíveis.
Palavras-chave: calcário, acidez do solo, compostagem.
37
2 CHAPTER I - EFFECT OF ORGANIC COMPOST ON pH AND Ca AND Mg
CONCENTRATIONS OF A TYPIC HAPLUDALF
ABSTRACT
The agricultural use of the compost of animal and vegetable waste as organic
fertilizer, besides that improve physical, chemical and biological properties of
soil, represents an important alternative for the management of solid waste
generated in agriculture and livestock. Effects of the application of seven
dolomitic limestone dose (0,0, 0,5, 1,0, 1,5, 2,0, 2,5 and 3,0 g dm-3 of soil) in
absence and presence of organic compost (40 g dm-3) on the pH and the
concentration of Ca+2 and Mg+2 of an Typic Hapludalf were studied. The
experiment was conducted in the Laboratory of Chemistry and Fertility of Soil
on UESC in a completely randomized design with samples of 0,5 dm-3 of soil
packed in sealed plastic bags and four replications. The incorporation of organic
compost increased pH of the soil, even without the use of lime (limestone zero).
The addition of limestone in both soils with and without organic compost
addition presented an effect described by quadratic regression model for pH
and Ca+2 and Mg+2 available in soil. Highest values of pH and Ca+2 and Mg+2
concentrations were observed in soil which was added the compost, and being
superior to that obtained in soil with the highest dose of limestone added and
absence of compost. The results show that the organic compost obtained from
sheep manure and straw of Brachiaria humidicola can be used in soil correction
elevating the Ca+2 and Mg+2 available.
Keywords: limestone, soil acidity, composting.
38
2.1 INTRODUÇÃO
A produção de resíduos resultantes da atividade humana altera o meio
ambiente e pode resultar em graves problemas, levando à degradação do solo
e da água (DEMAJOROVIC, 1995). Dentre as diversas atividades que geram
enormes quantidades de resíduos, podemos citar a agricultura e a pecuária
que produzem quantidades significativas de dejetos de animais, restos de
culturas, palhas e resíduos agroindustriais, contribuindo para poluição
ambiental (MATOS et al, 1998; KIEHL, 1985).
O gerenciamento destes resíduos tem merecido atenção crescente,
devido
esses
materiais
possuírem
valor
econômico
e
possibilitarem
reaproveitamento no próprio processo produtivo. Torna-se necessário,
entretanto, converter esses resíduos em formas disponíveis e utilizáveis, e uma
alternativa de manejo para os estercos e restos vegetais é a compostagem
(SILVA; VILLAS BOAS; SILVA, 2009). Esta é caracterizada como um método
de reciclagem, em que o processo controlado da decomposição bioquímica da
matéria orgânica leva a obtenção de material humificado, um produto mais
estável e que pode ser utilizado como adubo orgânico (KIEHL, 1985).
A compostagem traz grandes benefícios, pois além de ser uma solução
para problema dos resíduos sólidos, o composto orgânico proporciona o
retorno de matéria orgânica, fornecendo nutrientes e melhorando as
propriedades física, química e biológica do solo. A compostagem pode ser
considerada como uma alternativa viável visando o manejo sustentável da
matéria orgânica, a qual, segundo Silva e Mendonça (2007) é fundamental para
manutenção da capacidade produtiva dos sistemas agrícolas. A manutenção
da matéria orgânica, seja em clima temperado ou tropical, é claramente um dos
fatores principais no desenvolvimento de agroecossistemas sustentáveis
(PRIMAVESI, 1988).
Os solos brasileiros, em geral, necessitam de correção da acidez para
sua utilização na agricultura (MARCOLAN; ANGHINONI, 2006) e geralmente
são bastante intemperizados. No território brasileiro as classes de solos
predominantes são Latossolos e Argissolos que ocupam extensas áreas
agriculturáveis (FONTES; CAMARGO; SPOSITO, 2001). Os Argissolos são
constituídos por material mineral com argila de atividade baixa, podendo estar
39
conjugada com saturação por bases baixa e, ou caráter alítico na maior parte
do horizonte B (EMBRAPA, 1999). De maneira geral, os solos podem ser
ácidos em decorrência do material de origem, devido ao manejo inadequado e
pela constante exportação dos cátions básicos pela cultura, entre outros. As
consequências da acidez dos solos para esses cultivos são as mais variadas e
contribuem para a baixa produtividade das mesmas. O uso de corretivos, como
por exemplo, o calcário, é extremamente recomendado para atenuar ou
eliminar esses efeitos negativos provocados pela acidez do solo e toxidez do
alumínio (SILVA; MENDONÇA, 2007). Entretanto, o sucesso dessa prática está
muito relacionada a dosagem adequada que é estabelecida com base na
análise de solos e no método de determinação de calagem. O calcário tem por
finalidade reduzir a acidez do solo, disponibilizando os nutrientes Ca2+ e Mg2+ e
diminuindo os efeitos tóxicos das elevadas concentrações de Al (SENA et al.,
2010).
Uma alternativa a utilização do calcário é o emprego de certos materiais
orgânicos como corretivo e condicionador do solo. De acordo com Sousa et al
(2007), têm-se observado que a adição de esterco de suíno e bovino eleva o
pH dos solos, assim como também a incorporação de restos vegetais. É
necessário, entretanto, conhecer o comportamento do composto orgânico, bem
como da incorporação do calcário ao solo com intuito de subsidiar o manejo
orgânico e estimular a reciclagem e o reaproveitamento dos restos de culturas
promovendo a sustentabilidade do agroecossistema.
O presente estudo teve por objetivo avaliar o efeito de um composto
orgânico e doses de calcário dolomítico sobre o pH, e os teores de Ca e Mg em
um Argissolo Amarelo distrófico típico.
2.2 MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido no laboratório de Química e Fertilidade do
Solo, na Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilhéus, BA.
40
2.2.1 Caracterização do solo e do composto orgânico
Uma amostra do horizonte Ap de um Argissolo Amarelo Distrófico Típico
(AA), foi coletado em área de pastagem de Brachiaria humidicola com
remanescente de dendê (Elaeis guineensis) na Estação Experimental do
Almada com as coordenadas geográficas de 14° 38’ S e 39° 10’ W (Figura 1),
que constitui-se área de campo para o desenvolvimento de atividades
relacionadas às Ciências Agrárias e Ambientais da Universidade Estadual de
Santa Cruz. Uma subamostra desse solo foi retirada para caracterização
química e granulométrica (Tabelas 1 e 2). O solo restante foi seco ao ar,
destorroado, passado em peneira de 5 mm e utilizado no experimento de
incubação.
Figura 1 – Solos da Estação Experimental do Almada (Ilhéus, Bahia, Brasil). A
localização do Argissolo utilizado no experimento é indicada pela seta.
Fonte: Araujo et al., 2004.
Tabela 1 – Análise química do solo antes da incubação com calcário
pH
MO
-3
CaCl2 g dm
3,9
58
P
S
mg dm
5
-3
3
K
Ca Mg
Al
H+Al
SB
CTC
V
m
--------------------------mmolc dm -----------------------
%
%
-3
0,4
4
4
5,4
64
8,4
B
Cu Fe Mn Zn
-3
--------mg dm --------
72,7 12 39,2 0,3 0,7 88 0,7 1,7
Ca, Mg, P e K (Resina trocadora de íons); Cu, Fe, Mn e Zn (extração DTPA - TEA em pH 7,3)
41
Tabela 2 – Análise granulométrica do solo
Areia Grossa Areia Fina
Areia Total
Silte
Argila
Classe de
textura
125
arenosa
----------------------------g/Kg-------------------------------
142
720
862
13
O composto orgânico utilizado no experimento, produzido na Fazenda
São Sebastião (Ilhéus, BA), foi preparado com esterco de ovino retirado de um
aprisco e misturado com resto de corte de capim Brachiaria humidicola. A pilha
foi constituída de camada de aproximadamente 20 cm, sendo que a primeira
camada era composta por esterco, a camada seguinte composta por capim,
seguindo nesta ordem até atingir 1,70 m de altura. Durante o processo de
compostagem as pilhas foram reviradas a cada 15 dias visando manter a
aeração e umidade do composto. Aos 90 dias o composto apresentou aspecto
de "terra preta", característica de adubo orgânico. Para a utilização no
experimento, a amostra do composto foi seca ao ar, passada em peneira de
malha de 5 mm e analisada quimicamente (Tabela 3).
Tabela 3 – Análise química1 do composto de esterco de ovino
pH
P
N
K
Ca
Mg
S
B
-1
CaCl2
8,9
11,7
11
21,6
32,2
8
5,3
Cu
Fe
Mn
Zn
-1
-----------------------g kg ---------------------
------------------ mg kg ------------------------
16
57
7656
185
1
Teores totais.
2.2.2 Instalação e condução do experimento
Os tratamentos constaram da aplicação de calcário dolomítico comercial
(29% de CaO, 19% de MgO, PN de 99%, PRNT de 82%) nas doses: 0; 0,5;
1,0; 1,5; 2,0; 2,5 e 3,0 g dm-3 de solo na ausência e presença (40 g dm-3 de
solo) do composto orgânico. Cada unidade experimental foi representada por
uma amostra de 0,5 dm3 de TFSA com 4 repetições em delineamento
inteiramente casualizado. As amostras de terras foram acondicionadas em
sacos plásticos fechados, homogeneizadas com as diferentes doses de
calcário e colocados para incubar por 20 dias. Para incubação, cada amostra
recebeu uma quantidade de água equivalente a 60% da capacidade campo e
195
42
para promover melhor homogeneização os sacos plásticos contendo solo
foram abertos e revolvidos uma vez por semana.
2.2.3 pH e teores de Ca e Mg
Após o período de incubação os solos de cada parcela foram secos ao
ar, passados em peneira de 2 mm de abertura e utilizados para determinação
do pH em água na relação 1:2,5 p/v no Laboratório de Química e Fertilidade do
Solo. Os teores de Ca e Mg trocáveis foram extraídos por KCl 1,0 mol L-1 e
determinados por espectrofotometria de absorção atômica (EMBRAPA, 1999)
realizada no Laboratório de Solos do Centro de Pesquisa do Cacau - CEPEC
(CEPLAC, Ilhéus, BA).
2.2.4 Análise estatística
Os dados foram submetidos à análise de variância e regressão
utilizando-se o programa Statistica versão 7.0. Através de análise de regressão
foram determinados os valores para elevar o pH para uma faixa entre 5,0 a 7,0
comparando o solo com e sem adição do composto orgânico.
2.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A incorporação do composto orgânico promoveu aumento nos valores
de pH do solo, mesmo sem o emprego da calagem (dose zero de calcário da
Fig. 2). A adição de calcário tanto ao solo com composto orgânico como àquele
sem incorporação do composto tiveram efeito descrito pelo modelo de
regressão quadrática para a variável pH do solo (Fig. 2). Por meio da análise
de regressão foi possível verificar que as doses de calcário 0,25, 2,0 e 3,72 g
dm-3 correspondem ao pH 5, 6 e 7 do solo sem composto, respectivamente.
43
Figura 2 – Valores de pH em H2O do Argissolo Amarelo Distrófico típico com e sem
aplicação de composto aos 20 dias após a incubação com diferentes doses de calcário
dolomítico.
Nota-se pela Figura 2 que após 20 dias de incubação houve elevação do
pH em todos os solos que receberam doses de calcário, tendo o efeito maior
ocorrido nos solos que receberam composto orgânico. Na ausência de calcário,
a adição de 40 g dm-3 de composto orgânico no Argissolo resultou em valor
médio de pH de 6,6, valor que é superior ao obtido com a aplicação da dose
mais alta de calcário (3 g dm-3). Conforme Primavesi (1988), o efeito corretivo
sobre o pH do solo ocorre por qualquer material orgânico, desde que seja
aplicado em condições que favoreçam uma microvida, em parte, aeróbica.
Verificou-se o efeito corretivo do composto de esterco de ovino aplicado em
solo ácido que pode ser devido à maior mineralização da matéria orgânica e
produção subsequente de íons OH- (HARGREAVES et al., 2008), bem como
pela introdução pelo composto orgânico de cátions básicos como o K+, Ca2+ e
Mg2+, além do alto valor do pH 8,9 (ver valores na Tabela 3). Observou-se
também que o pH dos solos com composto orgânico apresentou menor
amplitude de variação. Isso demonstra o poder tampão do composto que pode
44
ser observado nas declividades (δy/δx) das equações e que tem implicação na
maior resistência a variação do pH do solo (KIEHL, 1985).
Vale ainda salientar que para se obter pH 6 no Argissolo sem composto
orgânico é necessária a aplicação de 2 g dm-3 de calcário (o que
corresponderia a 4 t ha-1) enquanto que para o Argissolo com adição de 40 g
dm-3 de composto não seria necessária a correção do solo, visto que o pH
inicial do solo com composto está acima desse valor.
Krob et al (2011) utilizando composto de lixo urbano em um Argissolo
Vermelho observaram aumento do pH. Estes autores sugerem que aplicações
anuais de composto de lixo urbano de até 80 t ha-1 podem ser consideradas
como adequadas para melhorar ou manter as propriedades químicas do solo.
Amaral et al (2004) observaram o efeito de resíduos vegetais na correção da
acidez na camada superficial do solo, tanto isoladamente como junto com o
calcário.
Os teores de Ca2+ e Mg2+, extraíveis com KCl, do Argissolo Amarelo
distrófico aumentaram proporcionalmente em função da adição das doses de
calcário, conforme esperado (Fig. 3). O solo com incorporação do composto
orgânico obtido de esterco de ovino, entretanto, resultou em valores mais
elevados para os teores de Ca2+ (Fig. 3) e também de Mg2+ (Fig. 4).
A adição de calcário tanto ao solo com composto orgânico como àquele
sem incorporação do composto resultou em efeito descrito pelo modelo de
regressão linear para a variável teor de Ca2+ (Fig. 3) e de Mg2+ (Fig. 4)
disponível no solo.
45
Figura 3 – Teores de Ca2+ no Argissolo Amarelo distrófico típico, com e sem aplicação
de composto aos 20 dias após a incubação com doses de calcário dolomítico.
No solo em que foi incorporado o composto orgânico, os teores de Ca e
Mg disponíveis tiveram valores mais altos do que no solo sem adição do
composto, independentemente da dose de calcário aplicada. A média do teor
de Ca2+ no Argissolo com composto orgânico (3,20 mmolc dm-3) foi
estatisticamente superior do que a do solo sem aplicação do composto (2,80
mmolc dm-3). Para o Mg2+ a média do teor no Argissolo com composto orgânico
(0,38 mmolc dm-3) também foi estatisticamente diferente do que a do solo sem
aplicação do composto (0,33 mmolc dm-3). Esses resultados com teores de
Ca2+ e Mg2+ estatisticamente diferente, com e sem incorporação de composto
orgânico, também foram relatados por Krob et al. (2011), utilizando um
composto obtido a partir de lixo urbano.
Vale salientar que valores mais discrepantes e significativamente
diferentes entre os teores de Ca2+ e Mg2+ disponíveis no Argissolo Amarelo
Distrófico com e sem a adição do composto orgânico foram observados na
ausência da calagem (dose zero de calcário).
46
Figura 4 – Teores de Mg2+ no Argissolo Amarelo distrófico típico com e sem aplicação
de composto, aos 20 dias após a incubação com doses de calcário dolomítico.
Os resultados demonstram que o composto orgânico obtido a partir de
esterco de ovino e palha de Brachiaria humidicola pode ser utilizado na
correção do solo elevando os teores de Ca2+ e Mg2+ disponíveis.
2.4 CONCLUSÃO
O uso do composto orgânico apresentou efeito corretivo sob o pH e
elevou teores de Ca2+ e Mg2+ do Argissolo Amarelo distrófico utilizado, além de
proporcionar efeito tampão para as doses de calcário dolomítico aplicadas.
2.5 REFERÊNCIAS
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49
3 CAPÍTULO II - EFEITO DE COMPOSTO ORGÂNICO E CALAGEM NO
CRESCIMENTO E NUTRIÇÃO DE Mentha arvensis
RESUMO
M. arvensis (Lamiaceae) é uma espécie considerada medicinal e produtora de
óleo essencial de interesse para indústria farmacêutica e alimentícia.
Atualmente, estudos sobre a nutrição de plantas medicinais visam identificar a
melhor dose de diferentes compostos orgânicos para o crescimento vegetal. O
presente trabalho teve como objetivo avaliar a influência de doses de adubação
orgânica e calcário no crescimento e nutrição de M. arvensis. O experimento foi
realizado em casa de vegetação, e constituído por um fatorial 4x5 com quatro
doses de calcário (0,0, 0,25, 2,0 e 3,72 g dm-3, correspondendo ao pH 4, 5, 6 e
7) e cinco doses do composto de esterco ovino (0, 5, 10, 20 e 40 g dm-3)
constando de cinco repetições. Após 110 dias de cultivo, determinaram-se a
produção de massa seca total e por compartimento das plantas e os teores de
macro e micronutrientes das folhas. O crescimento de M. arvensis foi
influenciado pelas doses do composto orgânico e calcário. A maior produção
de biomassa foi obtida nas doses entre 18 e 30 g dm-3 do composto orgânico e
de 3,72 g dm-3 de calcário. Entre os macronutrientes, o potássio foi que obteve
maior teor nas folhas, enquanto que para os micronutrientes, o ferro foi o
elemento com maior teor encontrado na folha dessa espécie de planta
medicinal. A interação do composto e calcário influenciou o número de esporos,
mas não o grau de colonização micorrizica de M. arvensis.
Palavras-chave: calcário, nutrientes, compostagem.
50
3 CHAPTER II - EFFECT OF ORGANIC COMPOST AND LIME ON GROWTH
AND NUTRITION OF Mentha arvensis
ABSTRACT
M. arvensis (Lamiaceae) is a species considered medicinal and produces of
essential oil of interest for pharmaceutical and food industries. Currently,
studies on medicinal plants nutrition had focused to identify the best dose of
different organic compost for plant growth. Our study aimed to evaluate the
influence of organic fertilizer and limestone doses on growth and nutrition of M.
arvensis. The experiment was conducted in a greenhouse, and consists of a
4x5 factorial with four limestone doses (0,0, 0,25, 2,0 and 3,72 g dm-3,
corresponding to pH 4, 5, 6 and 7) and five doses of the compost of sheep
manure (0, 5, 10, 20 or 40 g dm-3) consisting of five replicates. After 110 days of
grow, were determined the total dry matter production and by plant
compartment and macro and micronutrients concentrations in leaves. The
growth of M. arvensis under different doses of compost and limestone resulted
in increased production of plant biomass. Highest biomass production was
obtained on doses between 18 and 30 g dm-3 of organic compost and 3.72 g
dm-3 of limestone. Among macronutrients, potassium has higher concentration
in the leaves, while for micronutrient, iron has been the element with highest
concentration in leaves of this medicinal plant. The interaction between compost
and limestone influenced the number of spores, but not the degree of
mycorrhizal colonization of M. arvensis.
Keywords: lime, nutrients, composting.
51
3.1 INTRODUÇÃO
A adubação é de extrema importância para se obter altas produtividades
nas diversas culturas agrícolas. O manejo do solo se constitui de práticas
indispensáveis ao bom desenvolvimento das culturas e diferentes técnicas de
manejo em sistemas agrícolas interferem na dinâmica da matéria orgânica do
solo. A adição de fertilizantes, principalmente os orgânicos influenciam
positivamente nos processos biológicos de decomposição e mineralização da
matéria orgânica (LEITE et al., 2003).
A matéria orgânica é o componente fundamental no desenvolvimento da
estrutura e na manutenção das propriedades físicas, químicas e biológicas do
solo. Dentre os papéis relevantes que a matéria orgânica desempenha no solo
destacam-se a liberação gradativa de nutrientes, aumento da infiltração e
retenção de água no solo, do poder tampão e da CTC (SILVA; MENDONÇA,
2007). Quando adicionada ao solo na forma de adubos orgânicos, de acordo
com o grau de decomposição dos resíduos, a matéria orgânica pode ter efeito
imediato no solo, ou efeito residual, por meio de um processo mais lento de
decomposição e liberação dos nutrientes para a solução do solo (SANTOS et
al., 2001).
A crescente demanda por alimentos produzidos sem a utilização de
agroquímicos e com respeito ao meio ambiente é uma tendência mundial
acompanhada também no território nacional (MAPA, 2007). De modo geral, o
consumidor procura adquirir produtos naturais e, ou orgânicos, e isso inclui os
fitoterápicos (NAGUIB, 2011), que apresentam um mercado crescente tendo
em vista a busca de plantas como fonte de produtos naturais biologicamente
ativos. Isso ocorre tanto nos países em desenvolvimento, onde os recursos
vegetais assumem um papel importante como terapêuticos, como também nos
países desenvolvidos, onde a indústria utiliza os compostos obtidos de plantas
no preparo de um largo espectro de derivados, desde extratos até substâncias
isoladas (MATOS; INNECCO, 2002).
A Mentha arvensis é uma espécie medicinal muito utilizada por seus
efeitos terapêuticos, que exercem ação tônica e estimulante sobre o aparelho
digestivo, combatendo cólicas, gases, náuseas e vômitos (DUARTE et al.,
2005; CHAGAS et al., 2011). É uma fonte potencial de mentol natural,
52
amplamente utilizado nas indústrias farmacêutica, alimentar, cosmética (RAM;
KUMAR, 1997).
A produção de biomassa e de princípios ativos, como óleo essencial das
plantas podem ser alterados em decorrência de diversos fatores ambientais,
tais como: temperatura, sazonalidade, disponibilidade hídrica, tipo de solo e os
nutrientes disponíveis no mesmo. Atualmente, estudos com plantas medicinais,
com enfoque nutricional vem sendo desenvolvidos, visando identificar a melhor
dose de diferentes compostos orgânicos no crescimento das plantas medicinais
(BRANT et al., 2010; COSTA et al., 2008; CORRÊA et al., 2010). O presente
trabalho teve como objetivo avaliar doses de um composto orgânico e de
calcário na produção de biomassa e nutrição de Mentha arvensis.
3.2 MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido em casa de vegetação na Universidade
Estadual de Santa Cruz, Ilhéus – BA, no período de maio a setembro de 2011.
3.2.1 Preparo do solo e material vegetal
Foi utilizado um Argissolo Amarelo distrófico típico (camada superficial –
20 cm), coletado na Estação Experimental do Almada, em área de pastagem
de Brachiaria humidicola com remanescente de dendê (Elaeis guineensis). O
solo foi seco ao ar e tamisado em peneira com malha de 5 mm e suas
características químicas e granulométrica foram previamente determinadas no
Laboratório de Analises Químicas – Departamento de Ciência do Solo
ESALQ/USP, apresentando as seguintes características: pH em CaCl2 = 3,9,
matéria orgânica (MO) 58 g dm-3; P resina = 5 mg dm-3; K, Ca, Mg, Al, SB e
CTC (mmolc dm-3) = 0,4; 4; 4; 5,4; 8,4 e 72,7; Cu, Fe, Zn, Mn e B (mg dm-3) =
0,7; 88; 1,7; 0,7; 0,34; V e m (%) = 12 e 39,2. Os resultados para a análise
granulométrica (em g kg-1) do solo foram: areia grossa = 142, areia fina = 720,
areia total = 862, silte = 13, argila = 125 com textural arenosa.
Mudas de Mentha arvensis foram obtidas junto ao Horto de Plantas
Medicinais da UESC e produzidas por estacas apicais de aproximadamente 5
cm, plantadas em bandejas de poliestireno contendo o próprio solo. Exsicata
53
da espécie encontra-se depositada no herbário da Universidade Estadual de
Santa Cruz (HUESC), sob o nº 14.524. Após enraizamento, as mudas foram
transplantadas para vasos de 5 dm3.
3.2.2 Condução do experimento
O experimento constitui-se por um fatorial 4x5 com quatro doses de
calcário (0,0, 0,25, 2,0 e 3,72 g dm-3, correspondendo ao pH 4, 5, 6 e 7) e cinco
doses do composto de ovino (0, 5, 10, 20 e 40 g dm-3), o qual foi previamente
caracterizado quanto a suas propriedades químicas gerando os seguintes
valores: pH em CaCl2 = 8,9; P, K, Ca, Mg e S (g kg-1) = 11,7; 21,6; 32,2, 8,0 e
5,3; Cu, Mn, Zn, Fe e B (mg Kg-1) = 57; 185; 195; 7656 e 16 respectivamente.
As doses de composto foram definidas a partir de dados obtidos por Garlet e
Santos (2008), que sugerem que doses de K na faixa entre 276 e 414 mg dm-3,
resultam em bom crescimento para espécies de Mentha e que uma valor acima
desta maior concentração de K, afeta negativamente o crescimento e
acumulação de fitomassa nas plantas. A unidade experimental foi constituída
por um vaso contendo uma planta. O calcário dolomítico (PRNT 82%) foi
aplicado vinte dias antes do plantio das mudas, visando permitir a correção do
pH desse tipo de solo para valores desejados, conforme método de incubação
feito anteriormente. As plantas foram irrigadas periodicamente com água
deionizada.
3.2.3 Avaliação da massa seca
Após a coleta, as plantas foram separadas em parte aérea (folha e
caule) e sistema radicular, embaladas em sacos de papel Kraft e secadas a 70
°C, em estufa de circulação forçada até peso constante e posterior pesagem.
Foram avaliadas a massa seca da folha (MSF), massa seca do caule (MSC),
massa seca da raiz (MSR) e massa seca total (MST).
Ao final do experimento o solo de cada tratamento foi coletado (amostra
composta) homogeneizado e encaminhado para analise química no Laboratório
de Analises Químicas – Departamento de Ciência do Solo ESALQ/USP.
54
3.2.4 Teor de nutrientes na folha
Depois da secagem das folhas a 70 ºC até peso constante, as amostras
foram moídas em moinho de bola (Tecnal, modelo TE-350), para serem
analisadas com relação aos teores de macro e micronutrientes. Para digestão
foi pesado 0,2 g (±0,001) da amostra de folha previamente seca e moída,
diretamente nos tubos de digestão. A cada tubo foram adicionados 3 mL de
ácido nítrico P. A. concentrado, sob temperatura ambiente. Em seguida, os
tubos foram aquecidos em bloco digestor (50 - 120°C) por aproximadamente 2
h, para evaporar o ácido nítrico. Depois foi adicionado 1 mL de peróxido de
hidrogênio P. A. concentrado mantendo a mesma temperatura 120º C por 20
min. repetindo essa etapa por três vezes. Posteriormente, foi adicionada água
ultrapura até completar 12 mL, sendo que a solução estava pronta para análise
em espectrofotômetro óptico (ICP AOS) Variant 710-ES do Centro de
Microscopia Eletrônica da UESC.
3.2.5 Extração e contagem dos esporos de fungos micorrízicos
arbusculares (FMAs)
Para determinação da quantidade de esporos de FMAs, foi utilizado o
método de peneiramento úmido de Gerdemann e Nicolson (1963) modificado.
Amostras de solo dos vasos ao final do experimento foram coletadas e
armazenadas em refrigerador. Dessas amostras foram utilizadas 50 g, que
após serem peneiradas foram centrifugadas por duas vezes, a primeira vez
com água destilada por três minutos a 2.500 rpm depois com sacarose 50 %
por um minuto também à 2.500 rpm, e por fim os esporos foram contados
utilizando estereomicroscópio no aumento de 40X.
3.2.6 Porcentagem de colonização micorrízica
A porcentagem de colonização micorrízica foi realizada a partir de
amostras aleatórias das raízes que foram clarificadas e coradas de acordo com
o método de Phillips e Haymann (1970) modificado. Durante a coleta as raízes
mais finas e claras foram selecionadas e armazenadas em álcool 50 %, depois
55
elas foram lavadas em água corrente e clareadas, primeiro com a remoção dos
compostos fenólicos utilizando solução de KOH 10 % em banho Maria a
aproximadamente 60°C durante 20 min., lavadas com água em abundância,
depois o clareamento foi finalizado com peróxido de hidrogênio a 10 % por 20
min. em temperatura ambiente. Em seguida as raízes foram lavadas com água
destilada e coradas com corante acidófilo a base de tinta de caneta preta e
ácido acético a 5 % e armazenadas em lactoglicerol na proporção 1 : 1 : 1
(v/v/v) de ácido láctico, glicerina e água.
A estimativa da colonização foi calculada pelo método de placa riscada
modificada (McGONIGLE et al., 1990). Foram feitas 10 listras verticais em
lâminas e as raízes foram depositadas horizontalmente e na interseção entre a
listra e a raiz foi observado em microscópio fotônico (objetivas de 20X e 40X) a
presença ou a ausência de micorrização.
3.2.7 Análises estatísticas
Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância considerando
o delineamento inteiramente casualizado. Para análise das variáveis foram
utilizadas quatro repetições para massa seca e teor de nutrientes na folha, e
três repetições para número de esporos e colonização micorrízica. A média dos
tratamentos foi ajustada a regressão linear múltipla. O processo de seleção do
modelo foi o de análise sequencial até as interações dos efeitos quadráticos
dos principais fatores. Para número de esporos e grau de colonização
micorrízica foi utilizado um modelo linear generalizado com distribuição de
Poisson. O software utilizado foi o R.2.15.1.
3.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.3.1 Produção de massa seca
No tratamento em que não foi incorporado nem composto orgânico e
nem calcário ao solo, as plantas apresentaram crescimento reduzido em
relação às demais (Fig. 1). Como consequência uma baixíssima produção de
56
massa seca, mostrando a necessidade da aplicação de nutrientes e calagem
para o crescimento da Mentha arvensis.
Figura 1 – Aspecto geral das plantas de M. arvensis submetidas a doses de composto
orgânico (da esq. para a dir, 0, 5, 10, 20 e 40 g dm-3) e doses de calcário dolomítico 0
(A), 0,25 (B), 2,0 (C) e 3,72 g dm-3 (D).
57
A análise da variância revelou interação significativa entre as doses de
composto orgânico e calcário para as variáveis analisadas (Tabela 1).
Tabela 1 – Análise de variância (p<0,05) da produção de massa seca da folha (MSF),
caule (MSC), raiz (MSR) e massa seca total (MST) da planta
FV
calc
comp
I(calc2)
I(comp2)
calc:comp
calc:I(calc2)
comp:I(calc2)
calc:I(comp2)
comp:I(comp2)
I(calc2):I(comp2)
calc:comp:I(calc2)
calc:comp:I(comp2)
calc:I(calc2):I(comp2)
comp:I(calc2):I(comp2)
calc:comp:I(calc2):I(comp2)
Resíduos
GL
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
64
MSF
0,062
108,352 *
2,673
83,809 *
16,938 *
0,911
0,000
3,302
29,254 *
0,232
1,328
0,263
1,373
0,164
0,029
0,849
Quadrado Médio
MSC
MSR
24,63*
188407*
276,56*
73141*
17,34*
0,4902
575,38*
112155*
186,34*
54593*
3,12
0,6827
0,02
27480*
42,14*
0,5022
253,66*
36537*
0,00
0,0443
0,36
10190*
1,24
0,2959
14,78
0,0002
2,51
0,0384
0,22
0,1744
3,86
0,2241
MST
91,24*
884,69*
42,24*
1331,57*
404,12*
3,59
2,33
57,77*
540,42*
0,09
7,61
4,71
25,31
3,22
0,51
8,69
A massa seca das plantas foi afetada significativamente (p<0,05) pela
interação entre as doses de composto orgânico e calcário. A superfície de
resposta dos dados foi ajustada pela equação de regressão linear múltipla, por
meio da qual foi possível estimar os valores máximos, das doses de composto
orgânico e calcário, e a correspondente massa seca obtida. Obteve-se para
massa seca de folha uma produção máxima de 8,61 g planta-1, com 23,3 g dm-1
de composto orgânico na presença de 3,72 g dm-1 de calcário (Fig. 2).
A massa seca do caule aumentou com as doses da adubação
independentemente da aplicação de calcário, atingindo a produção máxima de
15,64 g planta-1 quando as plantas foram adubadas com 30,1 g dm-1 de
composto. A maior produção da massa seca da raiz (4,05 g planta-1) foi obtida
nas doses de 28,4 g dm-1 para composto orgânico, sem a necessidade de
calagem. Em contraposição, na avaliação da massa seca total e da folha, a
58
qual é o órgão da planta de interesse da indústria, observou-se que a
adubação orgânica conjuntamente com a correção do solo, propiciou a
produção máxima na dose de 3,72 g dm-3 calcário. No caso da massa seca
total a produtividade máxima (27,43 g dm-3) foi obtida com 18,5 g dm
-3
de
composto orgânico.
Em solos onde foram utilizados adubos orgânicos têm-se observado
maior produção de massa seca, como mostra estudos para algumas espécies
medicinais, Lippia citriodora (SOUZA et al., 2010), Calendula officinalis L.
(ARAUJO et al., 2009), Ocimum selloi (COSTA et al., 2008), Stevia rebaudiana
(XIANGYANG et al., 2011), Mentha x piperita L. var. piperita (PEGORARO et
al., 2010), Chamomilla recutita (NALEPA; CARVALHO, 2007). No entanto,
Santos e Innecco (2004) verificaram que a adubação orgânica não influenciou
a produção de massa seca foliar de Lippia alba.
Na espécie de M. arvensis houve maior acúmulo de massa seca em
caules e menor em raízes e folhas, o que pode estar associado as suas
características anatômicas. A espécie apresenta hábito de crescimento
rasteiro, com intensa ramificação estolonífera.
Os maiores valores de massa seca podem ser explicados pela maior
disponibilidade dos nutrientes em decorrência do aumento das dosagens de
composto orgânico, observando que houve uma leve redução da massa seca
na última dose de composto orgânico. Isso pode ser explicado pelo alto teor de
K que pode ter afetado o acúmulo de massa seca, como observado por Garlet
et al. (2007) para uma espécie de Mentha em sistema hidropônico. Esse
comportamento de redução na produção massa seca na maior dose de
adubação orgânica também foi observada por Costa et al. (2008) para
biomassa seca de elixir paregórico submetido a dois adubos orgânicos com
diferentes doses.
59
Figura 2 – Superfície de resposta para a produção de massa seca de M. arvensis em
função das doses de calcário e composto orgânico. A – massa seca da folha (MSF); B
– massa seca do caule (MSC); C – massa seca da raiz (MSR); e D - massa seca total
(MST).
Analisando o efeito do calcário na ausência de composto orgânico para
massa seca da raiz foi observada uma redução desta conforme o aumento das
doses, o que pode ser explicado pelo menor efeito prejudicial do Al devido a
calagem e menor necessidade de expansão do sistema radicular. Benedetti et
al. (2009) comparando os tratamentos sem adubação observou que com a
calagem o volume radicular apresentou redução para a espinheira-santa
(Maytenus ilicifolia). Esse efeito não afetou o desenvolvimento de massa seca
da parte aérea.
60
Em trabalho realizado por Blank et al. (2006), com melissa e hortelãpimenta, a falta da calagem e dos nutrientes N e P causaram as maiores
quedas na produção de folhas; e a omissão de calagem em melissa não
permitiu o crescimento das plantas. A calagem e a adubação também foram
essenciais para o crescimento da erva-baleeira (ARRIGONI-BLANK et al.,
1999). Souza et al. (2010) verificaram que a correção do solo mostrou-se
prática necessária para o desenvolvimento da Lippia citriodora. Enquanto que,
Sales et al. (2009) não observou influência da calagem no acúmulo da massa
seca da folha, caule e raiz em hortelã-do-campo.
Para Mentha arvensis esse efeito positivo da calagem demonstra que a
correção do solo deve ser adotada visando principalmente à obtenção de uma
maior produção de folhas, órgão de maior interesse e que contém o principio
ativo utilizado pela indústria.
3.3.2 Teor de nutrientes da folha
Pelo resumo das análises de variância (Tabela 2), verifica-se que houve
efeito significativo na interação dos tratamentos (composto e calcário) nos
teores de macronutrientes das folhas de Mentha arvensis.
Tabela 2 – Análise de variância (p<0,05) dos teores de macronutrientes das folhas de
M. arvensis
Quadrado Médio
GL
FV
K
P
S
Ca
Mg
1 362086207*
calc
120537
10241076* 32044140* 156136840*
1 5148820483* 25370915* 11208192* 219857832* 174874512*
comp
2
1
I(calc )
8377336
109395
5492369* 29192851* 30748981*
2
1
I(comp )
1693126539* 1906720* 1167791* 62721433* 82761115*
1
calc:comp
5165566
3671
32016
26146558* 14536068*
2
1
calc:I(calc )
4719490
6217
84876
201845
803042
2
1
comp:I(calc )
53463045*
298351*
14784
2446925
199093
1
calc:I(comp2)
11597911
110230
449288
4363558
6044038*
1 229664378*
comp:I(comp2)
13547
7069984* 17634421* 47264227*
2
2
1
I(calc ):I(comp )
675648
34578
490179
37017
217687
2
1
calc:comp:I(calc )
4054686
166
143713
286368
489555
1
calc:comp:I(comp2)
3868861
12567
395911
39488
9436162*
1
calc:I(calc2):I(comp2)
12580329
9859
151607
6426092
641569
2
2
1
comp:I(calc ):I(comp )
8237854
264837
1105713*
4436725
3818138
4708916
45291
153025
1911786
615656
calc:comp:I(calc2):I(comp2) 1
64
Resíduos
3227109
68514
199012
2096144
1408897
61
Todos os macronutrientes analisados na folha de M. arvensis foram
influenciados pela interação das doses de calcário e composto orgânico (Fig.3).
Figura 3 – Superfície de resposta dos teores de macronutrientes em folhas de M.
arvensis em função das doses de calcário e composto orgânico. A – teor de cálcio
(Ca); B – teor de magnésio (Mg); C – teor de potássio (K); D – teor de fósforo (P); e E
– teor de enxofre (S).
62
Analisando o efeito da calagem na ausência do composto, verificou-se
que o teor de Ca e Mg na folha elevou-se conforme o aumento nas doses de
calcário. Entretanto, os teores de Ca e de Mg na folha reduziram-se quando foi
adicionado as diferentes doses de composto orgânico. Os teores de Ca, Mg e
K nos tecidos foliares são influenciados pela disponibilidade e pelo equilíbrio
estabelecido entre os mesmos no solo (SOUSA et al., 2007). Sendo assim,
pode-se observar que à medida que o teor de Ca e Mg nas folhas é reduzido
os teores de K se elevam. Altas concentrações do K no solo provocadas pela
adição do composto orgânico inibiram a absorção de Ca e Mg pelas plantas de
M. arvensis, através do antagonismo entre os íons. Para a M. arvensis em
sistema hidropônico verificou-se que Ca e K foram um dos macronutrientes
mais requeridos pela planta (GARLET; SANTOS, 2008). Esse comportamento
foi verificado para essa mesma espécie em outros estudos (MAIA 1998a;
1998b; PAULUS, et al. 2008).
Houve um aumento do teor foliar de P à medida que as doses de adubo
orgânico aumentaram o que pode ser explicado pelo conteúdo de P adicionado
pelo
composto.
Uma
das
principais
características
que
influem
na
disponibilidade de P é a matéria orgânica, a qual interage com os óxidos de Al
e Fe resultando em redução dos sítios de fixação, por causa do recobrimento
da superfície desses óxidos por moléculas de acidos húmicos, acético e málico,
ou pela formação de compostos na solução do solo (NOVAIS et al., 2007).
Ocorre, assim, uma tendência de menor fixação e, portanto, maior
aproveitamento pela planta do P oriundo da adubação.
A adição de composto orgânico e de calcário proporcionou aumentos
dos valores de S na folha. O enxofre encontrado no solo está ligado a matéria
orgânica. O composto utilizado é fonte natural de enxofre, por ter em sua
composição dejetos de animais, fornecendo para o solo 5,3 g Kg-1. Sousa et al.
(2007) explica que no solo a decomposição da matéria orgânica liberando S é
favorecida pela elevação do pH, sendo assim absorvido pela planta.
De acordo com os resultados da análise de variância (Tabela 3), verificase que houve interação entre os tratamentos (composto e calcário) para teor de
micronutrientes, com exceção do Zn.
63
Tabela 3 – Analise de variância (p<0,05) dos teores de micronutrientes das folhas de
M. arvensis
Quadrado Médio
GL
Fe
Cu
Mn
Zn
FV
1
127556*
17998,1*
61219*
4425,5*
calc
1
19603*
46,3
1795*
919,1
comp
2
1
69697*
5224,4*
12187*
471,7
I(calc )
1
152
111,2
30
90,8
I(comp2)
1
4542
66,8
2166*
71,8
calc:comp
2
1
15459*
553,5*
149
18,3
calc:I(calc )
2
1
10892*
77,0
486*
2,7
comp:I(calc )
2
1
4
17,7
1
69,8
calc:I(comp )
2
1
7826
64,2
1497*
3,0
comp:I(comp )
2
2
1
16264*
26,4
121
234,3
I(calc ):I(comp )
2
1
5392
28,6
12
670,1
calc:comp:I(calc )
1
1900
5,5
825*
64,4
calc:comp:I(comp2)
2
2
1
2098
2,7
2348*
88,2
calc:I(calc ):I(comp )
2
2
1
190
203,2*
605*
491,6
comp:I(calc ):I(comp )
1
2697
0,4
1843*
247,4
calc:comp:I(calc2):I(comp2)
64
2197
42,7
67
246,4
Resíduos
Quanto aos micronutrientes houve um comportamento variado para os
teores nas folhas de M. arvensis conforme a aplicação de calcário e composto
orgânico (Figura 4). Para os teores de Mn e Zn onde sua disponibilidade foi
afetada pelo aumento do pH no solo, a absorção pela planta também foi
influenciada, resultando em uma redução com aplicação do calcário.
Observando ainda para o Mn houve uma interação entre as doses de calcário
com composto.
A absorção do Fe pela planta foi influenciada com adição de calcário
(Fig. 4B), enquanto no solo, de maneira oposta, sua disponibilidade foi reduzida
(Tabela 4). Esse comportamento pode ser justificado pelo processo de
absorção característico das eudicotiledôneas, onde prótons são liberados do
interior das raízes, acidificando a rizosfera (DECHEN; NACHTIGALL, 2006).
Sales et al. (2009) analisando os teores foliares dos micronutrientes, em
hortelã-do-campo, observou um ajuste linear positivo para o Fe em função da
adubação orgânica.
As doses de calcário e de composto afetaram negativamente a
disponibilidade de Cu no solo, o que não interferiu na absorção pela planta,
sendo a maior absorção nos tratamentos com maiores doses de calcário onde
64
houve menor disponibilidade de Cu no solo. Isso pode ser explicado pelo fato
da planta absorver o Cu como Cu-quelato, sendo que seu teor no tecido foliar é
geralmente baixo (DECHEN; NACHTIGALL, 2006).
Figura 4 – Superfície de resposta dos teores de micronutrientes em folhas de M.
arvensis em função das doses de calcário e composto orgânico. A – teor de cobre
(Cu); B – teor de ferro (Fe); C – teor de manganês (Mn); e D – teor de zinco (Zn).
As características químicas do solo analisadas após a aplicação dos
tratamentos (doses de composto e calcário) e do cultivo de Mentha arvensis
mostra que a adição das doses de composto favoreceu o aumento do pH, da
CTC efetiva e CTC potencial, soma de bases e saturação por base de forma
65
mais intensa onde o solo foi corrigido com calcário (Tabela 4). O mesmo foi
observado para os teores de P, Ca e Mg no solo.
No geral, houve um tendência de aumento nos teores de nutrientes
disponíveis do solo após cultivo de M. arvensis, conforme aumento das doses
do composto orgânico.
Para os micronutrientes no solo que tem seus teores influenciados por
vários fatores, principalmente pH, observou-se que a aplicação de doses de
calcário reduziu os teores de Cu, Fe e Mn, como também as doses de
composto que apesar de ser fonte de micronutrientes podem formar complexos
estáveis com esses metais (Tabela 4). Aparentemente, o teor de B disponível
no solo tendeu a elevação conforme aumento das doses de composto e
calcário, o que não foi observado para o teor de Zn.
66
Tabela 4 - Características químicas do solo analisadas após a aplicação dos tratamentos (composto e calcário) e do cultivo com Mentha arvensis
Calcário Composto
-3
(g dm )
0
0,25
2
3,72
-3
(g dm )
pH
P
CaCl2 mg dm
K
-3
Ca
Mg
Al
H+Al
SB
CTC
-3
--------------------------mmolc dm ---------------------------------
V
m
-------%------
Fe
Cu
Mn
Zn
B
-3
-------------------mg dm ------------------
0
4,0
3
0,4
5
2
4
38
8,1
46,1
18
33
141
2,2
1,1
2,1
0,4
5
4,3
7
0,4
7
4
2
38
11,4
49,4
23
15
125
1,1
1,0
1,6
0,4
10
4,5
10
1,6
11
6
1
31
18,3
49,1
37
5
137
1,1
1,4
2,1
0,5
20
4,9
19
4,2
13
8
1
28
25,7
53,4
48
4
86
0,6
1,2
2,1
0,6
40
5,9
58
15,3
28
18
0
20
61,2
81,3
75
0
101
0,6
2,1
3,5
1,0
0
4,5
4
0,5
7
4
2
34
11,6
45,7
25
15
118
1,1
<0,9
1,4
0,4
5
4,6
7
0,5
9
6
1
31
15,7
46,4
34
6
108
0,7
1,0
1,3
0,4
10
4,9
12
1,8
13
8
1
28
23,0
50,6
45
4
92
0,6
1,2
1,7
0,4
20
5,1
25
4,8
17
10
0
28
32,0
59,7
54
0
101
0,4
1,6
2,0
0,6
40
5,8
42
9,4
25
17
0
15
51,7
66,4
78
0
58
0,5
1,8
3,0
0,8
0
5,9
4
<0,3
27
20
0
15
47
61,7
76
0
40
<0,3
<0,9
1,0
0,2
5
5,8
8
0,5
23
18
0
16
41,4
57,8
72
0
56
0,3
<0,9
1,2
0,3
10
5,9
12
1,5
25
19
0
16
45,7
62,0
74
0
48
<0,3
<0,9
1,2
0,3
20
6,2
32
4,4
31
21
0
13
56,5
69,8
81
0
42
0,4
1,4
2,0
0,5
40
6,5
67
12,4
40
29
0
12
81,2
93,1
87
0
31
0,4
1,6
3,0
0,8
0
6,5
5
<0,3
32
29
0
12
61,1
73,0
84
0
26
0,5
<0,9
0,6
0,2
5
6,3
7
0,4
32
28
0
15
60,2
74,9
80
0
46
<0,3
<0,9
0,8
0,2
10
6,4
19
1,4
40
32
0
12
73,2
85,1
86
0
32
<0,3
<0,9
1,2
0,3
20
6,6
56
7,0
49
34
0
11
90,0
100,7
89
0
33
0,3
1,5
2,4
0,8
40
6,9
79
15,4
45
32
0
10
92,9
102,5
91
0
30
0,5
1,9
3,5
0,5
67
O grau de colonização das raízes de M. arvensis nos 20 diferentes
tratamentos (doses de calcário e composto) variou entre 19,35 e 100 %. Embora, as
doses de calcário e composto não tenham influenciado significativamente o grau de
colonização (Tabela 5). Trabalhando com cultivares de M. arvesnsis, Gupta et al.
(2002) observou a máxima colonização de 68,0 % para Glomus faciculatum no
cultivar Shivalic.
Muthukumar et al. (2006) investigando as raízes de 107 espécies de plantas
medicinais e aromáticas do sudeste da Índia quanto ao grau de micorrização
encontrou que para Ocimum tenuiflorum (Lamiaceae) 73,6 %
das raízes finas
estavam colonizadas por FMAs. Para Leucas asperas os mesmos autores
encontraram o grau de colonização de 71,3 % nas raizes dessa planta medicinal. A
morfologia da micorríza encontrada para essa espécie de Ocimum foi do tipo Arum,
que é caracterizado pelo crescimento intercelular das hifas no córtex da raiz com
pequenas ramificações laterais no interior das células corticais formando arbúsculos.
A micorriza do tipo Arum também foi encontrada em M. arvensis submetidas as
doses crescentes de calcário e composto (Figura 5). Este resultado é corroborado
pela literatura em que Muthukumar e Tamilselvi (2010) estudando a morfologia das
micorrizas de M. arvensis observou a ocorrência do tipo Arum. Micorrizas do tipo
Arum tem sido frequentemente relatadas para os cultivos agrícolas (SMITH; SMITH,
1987). Kubato et al. (2005) afirmam que a morfologia da micorriza arbuscular é o
resultado da interação entre o genoma da planta e do fungo. Dessa interação
depende a formação do arbúsculo, estrutrura considerada fundamental para o
desenvolvimento da simbiose micorrízica, altamente ramificadas como haustório,
presente no interior do córtex radicular e responsáveis pela troca de nutrientes
(BONFANTE; PEROTTO, 1995).
Radhika e Rodrigues (2010), trabalhando com 36 espécies medicinais e
diferentes localidades da região de Goa Índia, observou que Mentha sp. cultivada
apresentou 30 % de colonização micorrízica nas raízes e densidade de esporos de
85 em 100g de solo.
68
Figura 5 – Morfologia das raízes de M. arvensis. A – vista geral de uma raiz não micorrizada;
B – Vista geral de uma raiz micorrizada; C – detalhe de vesículas (setas); D – detalhe de
arbúsculos (setas) no interior das células corticais; E – detalhe de esporo (seta) e hifas
intracelulares (ponta de seta); F – seguimento de raiz com colonização micorrizica e hifa
extraradicial.
69
A quantidade de esporos de fungos micorrízicos arbusculares (FMAs)
encontrados no solo após o cultivo com M. arvensis variou de acordo com as doses
de calcário e de composto adicionados ao argissolo. A interação entre esses dois
fatores (calagem e adubação orgânica) foi significativa para o número total de
esporos de FMAs encontrados em 50 g do solo cultivado com M arvensis (Tabela 5
e Figura 6). Entretanto, considerando outros trabalhos utilizando solo de Mata
Atlântica, o número total de esporos encontrado no solo de M. arvensis submetida a
doses crescentes de calcário e de composto pode ser considerado alto. Kumar
(2012) observou que em M. spicata inoculada com Glomus mosseae e Acaulospora
laevis a quantidade de esporos encontrada em 100 g de solo foi de 270 e de 356
esporos aos 45 e aos 90 dias após inoculação, respectivamente. Este mesmo autor
encontrou a máxima colonização micorrízica em M. spicata (91,54% aos 90 dias
após inoculação) quando da inoculação dos dois FMAs.
Tabela 5 – Analise de variância (p<0,05) do número de esporos e grau de colonização
micorrízica em raízes de M. arvensis
Quadrado Médio
GL
Esporos
FMA
FV
1
7,796*
651,50
calc
1
49,185*
1012,80
comp
2
1
11,426*
75,69
I(calc )
2
1
0,001
41,68
I(comp )
1
14,500*
1,00
calc:comp
2
1
3,462
21,49
calc:I(calc )
2
1
11,693*
0,42
comp:I(calc )
2
1
68,0,92*
22,76
calc:I(comp )
2
1
0,112
1732,03
comp:I(comp )
2
2
1
6,314*
88,25
I(calc ):I(comp )
2
1
3,739
186,66
calc:comp:I(calc )
2
1
3,929*
3,05
calc:comp:I(comp )
2
2
1
1,160
1080,62
calc:I(calc ):I(comp )
2
2
1
0,444
0,01
comp:I(calc ):I(comp )
2
2
1
17,952*
166,55
calc:comp:I(calc ):I(comp )
64
476,7
379,38
Resíduos
Muthukumar e Tamilselvi (2010), avaliando a ocorrência e morfologia de
fungos micorrizicos em plantas com interesse agronômico, relataram que para M.
arvensis o grau de colonização micorrizica foi de 76,18% em áreas naturais e que o
número de esporos de FMAs em 50 gramas foi de apenas 10.
70
Figura 6 – Superfície de resposta do número de esporos em 50 g de solo sob cultivo com M.
arvensis submetida as doses de calcário e composto orgânico.
3.4 CONCLUSÃO
O cultivo de M. arvensis sob adubação orgânica e calagem propiciou
incremento na produção de biomassa das plantas.
As doses do composto orgânico para obtenção da maior produção de
biomassa de M. arvensis variou entre 18 e 30 g dm-3 na dose de 3,72 g dm-3 de
calcário.
Dentre os macronutrientes, o potássio foi o que apresentou maior teor nas
folhas de M. arvensis, enquanto que para os micronutrientes, o ferro foi o elemento
com maior teor encontrado na folha dessa espécie de planta medicinal.
A interação dos fatores influenciou o número de esporos, mas não o grau de
colonização micorrizica de M. arvensis.
71
3.5 REFERÊNCIAS
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74
4 CAPÍTULO III – EFEITO DE COMPOSTO ORGÂNICO E CALAGEM NA
PRODUÇÃO DO ÓLEO ESSENCIAL DE Mentha arvensis
RESUMO
Produto do metabolismo secundário, os óleos essenciais podem apresentar uma
variação na composição de acordo com a forma de cultivo. O sistema de cultivo
orgânico tem sido considerado um dos fatores-chave para uma maior produção de
biomassa e de óleo essencial em plantas medicinais, por fornecer nutrientes e
aumentar a absorção pelas espécies vegetais. O presente trabalho teve como
objetivo avaliar a influência de doses de adubação orgânica e de calcário no teor e
rendimento do óleo essencial de M. arvensis. O experimento foi realizado em casa
de vegetação e foi constituído por um fatorial 4x5 com quatro doses de calcário (0,0,
0,25, 2,0 e 3,72 g dm-3, correspondendo ao pH 4, 5, 6 e 7) e cinco doses do
composto de esterco ovino (0, 5, 10, 20 e 40 g dm-3), constando de cinco repetições.
Após 110 dias de cultivo, foi determinada a produção de massa seca das folhas
(MSF), o teor e rendimento do óleo essencial nas folhas. O crescimento de M.
arvensis foi influenciado pela adubação orgânica e calagem, as quais propiciaram
acúmulo máximo de massa seca de folha de 7,98 g por planta. O composto orgânico
e o calcário apresentaram interação influenciando no rendimento do óleo essencial
das folhas de M. arvensis. O mentol foi o componente majoritário desse óleo, na
forma de seu isômero neo-iso-mentol. Para obtenção da maior produção de óleo
essencial de M. arvensis as doses do composto orgânico variaram entre 26 e 29 g
dm-3 e o calcário entre 1,7 e 2,0 g dm-3. Essas doses correspondem a um pH de 5,8
a 6,0 no início do experimento. As doses de calcário e composto orgânico aplicadas
ao solo sob cultivo de M. arvensis influenciaram tanto qualitativa (componentes)
como quantitativamente (percentual dos componentes) a composição do óleo
essencial dessa planta medicinal.
Palavras-chave: óleo essencial, mentol, adubação orgânica.
75
4 CAPÍTULO III - EFFECT OF ORGANIC COMPOST AND LIME ON ESSENTIAL
OIL PRODUCTION OF Mentha arvensis
ABSTRACT
Products of secondary metabolism, essential oils may exhibit a variation in the
composition according to the shape of cultivation. Organic cropping system has been
considered one of the key factors for increased biomass production and essential oil
in medicinal plants by provide nutrients and increase absorption by plant species.
Our study aimed to evaluate the influence of doses of organic fertilizer and limestone
in the content and yield of essential oil of M. arvensis. The experiment was
conducted in a greenhouse and consisted of a 4x5 factorial with four limestone doses
(0,0, 0,25, 2,0 and 3,72 g dm-3, corresponding to pH 4, 5, 6 and 7) and five doses of
the compost of sheep manure (0, 5, 10, 20 or 40 g dm-3), consisting of five replicates.
After 110 days of cultivation we determined the production of leaf dry weight, the
content and essential oil yield of leaves. The growth of M. arvensis was influenced by
organic fertilization and liming, which favored maximum accumulation of dry leaf that
was 7,98 g per plant. The organic compost and limestone showed interaction
influencing the yield of the essential oil from the leaves of M. arvensis. The menthol
was the major component of this oil in the form of its isomer iso-neomenthol. To
obtain the highest production of essential oil of M. arvensis organic compost doses
varied between 26 and 29 g dm-3 and limestone doses between 1,7 and 2,0 g dm-3.
Such doses correspond to a pH of 5,8 to 6,0 at the begin with of the experiment. The
lime and organic compost to the soil under cultivation of M. arvensis influenced both
qualitative (components) and quantitatively (percentage of components) the
composition of this medicinal plant essential oil.
Keywords: Essential oil, menthol, organic fertilization.
76
4.1 INTRODUÇÃO
A Mentha arvensis L., popularmente conhecida como menta, vique ou hortelã
- japonesa, é uma planta medicinal e aromática pertencente à família Lamiaceae
(LORENZI; MATOS, 2002). Suas folhas e inflorescências são ricas em óleo
essencial, que tem como constituinte majoritário o mentol de amplo interesse
econômico, principalmente para as indústrias de produtos alimentícios, cosméticos,
farmacêuticos e de aromatizantes (GARLET, 2007; PAULUS et al., 2004). Na
medicina popular a menta é utilizada, na forma de chás, no tratamento de problemas
gastrointestinais, respiratórios e de verminoses (LORENZI; MATOS, 2002). Estudos
recentes demonstraram, que o seu óleo essencial combate as formas promastigotas
de Leishmania chagasi, doença conhecida com calaza ou ferida brava (BRITO,
2007). Além disso, comprovou-se que o óleo essencial possui uma ação fungicida
no crescimento micelial dos fungos Aspergillus sp., Penicillum rubrum e Fusarium
moniliforme (DINIZ et al., 2008) e Moniliophthora perniciosa (CHAUSSÊ et al, 2011).
A produção de biomassa e de princípios ativos, como óleo essencial das
plantas, podem ser alterados em decorrência de diversos fatores ambientais, tais
como: temperatura, sazonalidade, disponibilidade hídrica, tipo de solo e os
nutrientes disponíveis no mesmo, que ocasionam alterações no teor e no rendimento
do óleo. Apesar da sua composição química ser determinada geneticamente, os
estímulos ambientais também podem alterar as rotas metabólicas, ocasionando a
biossíntese de diferentes compostos (COSTA et al., 2008; GOBBO-NETO; LOPES,
2007; LIMA et al., 2003).
Portanto, é de extrema importância avaliar as alterações nas concentrações
destes compostos, em função da fertilidade do solo, visando também maior
produtividade, sem comprometer o valor terapêutico das plantas medicinais,
atendendo assim, as exigências do mercado consumidor (CASTRO et al., 2004;
COSTA et al., 2007). Dessa forma, o conhecimento desses fatores, principalmente
no que se refere às exigências nutricionais da cultura, que pode variar com o tipo de
solo, devido à diversidade de atributos físicos, químicos e biológicos é fundamental
para o aprimoramento da produção.
A adubação orgânica fornece nutrientes às espécies vegetais, sendo
considerado, um dos fatores-chave para uma maior produção de biomassa e de óleo
77
essencial em plantas medicinais. Além disso, propicia benefícios nas características
física, química e biológica do solo (ROSAL et al., 2011).
Atualmente, estudos com plantas medicinais com enfoque nutricional vêm
sendo desenvolvidos, visando identificar a melhor dose de diferentes compostos
orgânicos no crescimento e produção do óleo essencial em plantas medicinais
(BRANT et al., 2010; COSTA et al., 2008; CORRÊA et al., 2010). O presente
trabalho teve como objetivo avaliar doses de um adubo orgânico obtido a partir de
esterco de ovino e palha de Brachiaria humidicola e de calcário no crescimento, teor
e composição química do óleo essencial de Mentha arvensis.
4.2 MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido em casa de vegetação na Universidade Estadual
de Santa Cruz, Ilhéus – BA, no período de maio a setembro de 2011.
4.2.1 Preparo do solo e material vegetal
Foi utilizado um Argissolo Amarelo distrófico típico (camada superficial),
coletado na Estação Experimental do Almada, em área de pastagem de Brachiaria
humidicola com remanescente de dendê (Elaeis guineensis). O solo foi seco ao ar e
tamisado em peneira com malha de 5 mm e suas características químicas e
granulométrica foram previamente determinadas no Laboratório de Análises
Químicas – Departamento de Ciência do Solo ESALQ/USP, apresentando as
seguintes características: pH em CaCl2 = 3,9, matéria orgânica (MO) 58 g dm-3; P
resina = 5 mg dm-3; K, Ca, Mg, Al, SB e CTC (mmolc dm-3) = 0,4; 4; 4; 5,42; 8,4 e
72,7; Cu, Fe, Zn, Mn e B (mg dm-3) = 0,7; 88; 1,7; 0,7; 0,34; V e m (%) = 12 e 39,21.
Os resultados para a análise granulométrica (em g / kg) do solo foram: areia grossa
= 142, areia fina = 720, areia total = 862, silte = 13, argila = 125 com textural
arenosa.
Mudas de Mentha arvensis foram obtidas junto ao Horto de Plantas
Medicinais da UESC e produzidas por propagação vegetativa a partir de estacas
apicais com aproximadamente 5 cm, plantadas em bandejas de poliestireno
78
contendo o próprio solo. Exsicata da espécie encontra-se depositada no herbário da
Universidade Estadual de Santa Cruz (HUESC), sob o nº 14.524. Após
enraizamento, as mudas, foram transplantadas para vasos de 5 dm3.
4.2.2 Condução do experimento
O experimento constitui-se de fatorial 4x5 com quatro doses de calcário (0,0,
0,25, 2,0 e 3,72 g dm-3, correspondendo ao pH 4, 5, 6 e 7) e cinco doses do
composto de esterco ovino (0, 5, 10, 20 e 40 g dm-3), o qual foi previamente
caracterizado quanto a suas propriedades químicas e teve os seguintes atributos:
pH em CaCl2 = 8,9; P, K, Ca, Mg e S (g kg-1) = 11,7; 21,6; 32,2, 8,0 e 5,3; Cu, Mn,
Zn, Fe e B (mg kg-1) = 57; 185; 195; 7656 e 16. As doses de composto foram
definidas a partir de dados obtidos por Garlet e Santos (2008), que sugerem que
doses de K na faixa entre 276 e 414 mg dm-3 resultam em bom crescimento para
espécies de Mentha e que uma valor acima desta maior concentração de K, afeta
negativamente o crescimento e acumulação de fitomassa nas plantas. A unidade
experimental foi constituída por um vaso contendo uma planta com cinco repetições.
O calcário dolomítico (PRNT 82%) foi aplicado vinte dias antes do plantio das
mudas, visando permitir a correção do pH desse tipo de solo para os valores
desejados, conforme método de incubação realizado previamente. As plantas foram
irrigadas periodicamente com água deionizada.
4.2.3 Micromorfologia foliar
Para observar a presença de tricomas na face adaxial e abaxial da folha de
M. arvensis foi retirado um fragmento da região mediana de duas folhas em cada
repetição, sendo quatro por tratamento. As amostras foliares foram fixadas em uma
solução de glutaraldeído 2,5 % em tampão cacodilato de sódio 0,1 mol L-1 pH 6,9 por
4 horas, lavadas em tampão cacodilato de sódio (três vezes por 10 minutos), pósfixadas com o tetróxido de ósmio por 2 horas e novamente lavadas com o mesmo
tampão. Depois de desidratada em série etanólica crescente, foram levadas à
secagem em aparelho de ponto crítico (Balzers, modelo CPD030) e recobertas com
ouro em metalizador à vácuo (Balzers, modelo SCD 050). A análise foi feita em
79
microscópio de varredura (Zeiss, LEO 1430VP) na Universidade Estadual de Feira
de Santana (UEFS).
4.2.4 Teor, rendimento e composição do óleo essencial
Amostras compostas de massa seca de folhas (seca em estufa de ventilação
forçada a 40° C) de cada tratamento foram submetidas ao processo de extração por
hidrodestilação em Aparelho de Clevenger modificado durante uma hora, utilizando
10 g de massa seca de folhas em balões de 1 L contendo 400 mL de água destilada
com três repetições. O hidrolato obtido de cada hidrodestilação foi submetido à tripla
partição em funil de separação, seguida da adição de sulfato de sódio anidro,
filtração simples e evaporação do solvente à temperatura ambiente, em capela de
exaustão de gases até alcançar peso constante, obtendo-se o óleo essencial,
armazenado em frascos de vidro. O teor de óleo expresso em porcentagem foi
obtido a partir da relação da massa do óleo extraído (g) pela massa de folhas secas
no balão (g), multiplicada por 100. O rendimento de óleo essencial (g planta-1) foi
estimado a partir da relação entre o teor de óleo (%) e a massa foliar seca de folha
por planta.
O óleo essencial obtido foi analisado em cromatógrafo a gás no Laboratório
de Fisiologia Vegetal da UESC. Para quantificação dos componentes do óleo
essencial utilizou-se o equipamento Varian Saturno 3800 equipado com detector de
ionização de chama (FID), utilizando coluna capilar de sílica fundida (30m X 0,25mm
X 0,25 µm) com fase estacionária VF5-ms (0,25 µm de espessura de filme). O hélio
foi utilizado como gás de arraste com fluxo de 1,2 ml / min. As temperaturas do
injetor e do detector foram de 250°C e de 280°C, respectivamente. A temperatura da
coluna no início da análise foi de 70°C, sendo acrescida de 8°C/mim até 200°C
seguido de aumento de 10°C ate 260°C, sendo mantida nessa temperatura por 5
minutos. Foi injetado 1 µL de solução do óleo a 10% em clorofórmio (CHCl3), na
razão split 1:10. As análises qualitativas foram realizadas na empresa Mars Cacau,
utilizando um espectrômetro de massas Agilent 5975C operado por ionização de
impacto eletrônico a 70 eV, utilizando coluna BD-5 (30 m X 0,25 mm X 0,25 µm) e
temperatura do injetor de 250ºC. As condições cromatográficas (temperatura da
coluna, gás de arraste, fluxo de injeção) foram as mesmas utilizadas nas análises
quantitativas.
80
4.2.5 Análises estatísticas
Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância considerando o
delineamento inteiramente casualizado. Para análise das variáveis foram utilizadas
três repetições para teor e rendimento do óleo essencial. A média dos tratamentos
foi ajustada a regressão linear múltipla. O processo de seleção do modelo foi o de
análise sequencial até as interações dos efeitos quadráticos dos principais fatores. O
software utilizado foi o R.2.15.1. Para a análise da micromorfologia foliar foi utilizado
o teste T a 1% de probabilidade.
4.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.3.1 Micromorfologia Foliar
Independente dos tratamentos aplicados, M. arvensis apresentou tricomas
glandulares peltados e capitados em ambas as faces da epiderme das folhas
completamente expandidas (Figura 1). Apesar de presente nas duas faces foliares,
observou-se que o número de tricomas glandulares na face adaxial (19,84 ± 3,85 /
mm2, n = 60) foi estatisticamente menor (p < 0,01) do que na face abaxial (52,53 ±
8,04 / mm2, n = 60) da folha de M. arvensis. De modo geral, o tricoma capitado foi
encontrado em maior quantidade em relação ao tricoma peltado. A maior
abundância de tricomas glandulares na superfície abaxial de espécies de Mentha
também foi relatada por Deschamps et al. (2006) em experimento conduzido em
campo, utilizando adubação mineral e calagem. Essa característica micromorfológica
com diferenças na presença de tricomas nas faces da folha também foi relatado
para outras espécies da família Lamiaceae, como em Ocimum gratissimum estudo
realizado por Fernandes (2012) e em Mentha x piperita, onde Turner et al. (2000)
observaram uma maior densidade na face abaxial da folha. Essa característica
parece estar ligada ao genoma da planta.
81
Figura 1 – Eletromicrografia de varredura das folhas de Mentha arvensis. A - superfície
adaxial onde podem ser evidenciados os tricomas tectores (t), glandulares peltado (p) e
capitado (seta); B - superfície abaxial onde podem ser observados os tricomas glandulares
peltado (p) e capitado (seta).
Além de tricomas glandulares, a espécie M. arvensis apresenta um grande
número de tricomas tectores (não glandulares) na face adaxial, sendo na face
abaxial rara a ocorrência. Em folhas de Ocimum selloi os tricomas tectores também
foram encontrados somente na face adaxial (COSTA et al., 2010). Com relação aos
estômatos, estes ocorrem apenas na face abaxial, caracterizando-se a folha como
hipoestomática de acordo como descrito pela Farmacopéia (1959). Vale relatar que
Pegoraro et al. (2010) em trabalho sobre Mentha x piperita não observou a presença
de tricomas não glandulares e os estômatos apresentaram-se nas duas epidermes
da folha.
4.3.2 Teor, rendimento e composição do óleo essencial
Para M. arvensis a interação entre doses de composto orgânico e doses de
calcário foi significativa (p<0,05) para as variáveis: massa seca de folhas e
rendimento do óleo essencial (Tabela 1). Observou-se incremento dessas variáveis
com adição de composto (Figuras 2 e 3).
82
Tabela 1 – Análise de variância (p<0,05) para a massa seca foliar, teor e rendimento de óleo
essencial das folhas de M. arvensis
Quadrado Médio
MSF
GL
Teor
Rendimento
FV
3,365
1
0,4336
0,000797
calc
123,834*
1
9,8327*
0,234083*
comp
8,215*
1
3,6525*
0,034857*
I(calc2)
2
104,419*
1
6,478*
0,218586*
I(comp )
14,265*
1
0,3585
0,071651*
calc:comp
2
1,239
1
1,3964
0,000419
calc:I(calc )
2
0,300
1
0,4084
0,000116
comp:I(calc )
2
4,862*
1
0,0071
0,017284*
calc:I(comp )
2
42,795*
1
1,0003
0,055954*
comp:I(comp )
2
2
4,711*
1
0,4338
0,003772
I(calc ):I(comp )
2
3,350
1
1,4179
0,002674
calc:comp:I(calc )
2
0,017
1
0,0316
0,000000
calc:comp:I(comp )
2
2
3,719
1
0,2697
0,000598
calc:I(calc ):I(comp )
1,361
1
0,0019
0,00001
comp:I(calc2):I(comp2)
2
2
0,965
1
0,6954
0,001006
calc:comp:I(calc ):I(comp )
1,147
64
0,352
0,001701
Resíduos
A aplicação de 27,5 g dm-3 de composto de esterco de ovino e 0,96 g dm-3de
calcário dolomítico resultou na maior produção de massa seca de folhas (7,98 g
planta-1). As dosagens de composto proporcionaram efeito positivo para a massa
seca, indicando boa resposta de M. arvensis à adubação orgânica juntamente com a
calagem (Figura 2). Efeito benéfico pela adição de adubo orgânico foi verificado por
Corrêa et al. (2010) quando cultivou orégano (Origanum vulgare) aplicando
diferentes doses esterco de bovino e de aves. Maiores produções de biomassa
também foram verificadas com o aumento das doses de composto orgânico para
calêndula (Calendula officinalis) por Araujo et al. (2009). Para melissa (Melissa
officinalis) a calagem é um fator limitante, pois sua ausência não permitiu o
crescimento das plantas (BLANK et al., 2006). Entretanto, outros estudos mostram
que a adubação orgânica não influencia a produção de biomassa, como verificado
para erva cidreira brasileira (Lippia alba) (SANTOS; INNECCO, 2004) e chambá
(Justicia pectoralis var. stenophylla) (BEZERRA et al., 2006).
83
Figura 2 – Superfície de resposta de massa seca das folhas de M. arvensis em função das
doses de calcário e composto orgânico.
O teor do óleo essencial nas folhas de M. arvensis foi afetado pela adubação
(Figura 3 A). Com a elevação das doses de composto orgânico ocorreu aumento no
teor de óleo essencial para M. arvensis com uma leve redução na última dose de
composto (40 g dm-3). A dose estimada de composto orgânico e de calcário aplicado
ao solo para um máximo de 5,47% de óleo essencial foi de 29,2 g dm-3 e 2,04 g dm-3
de, respectivamente. Em experimento de campo com adubação de esterco bovino,
os teores de óleo na parte aérea de planta variaram de 2,83 a 3,14 % conforme as
doses de esterco utilizadas (CHAGAS et al., 2011). O teor de óleo essencial de
folhas frescas para M. arvensis encontrado por Garlet et al. (2007) variou entre 0,79
e 1,07 %, com diferentes concentrações de K em solução hidropônica. Estes
mesmos autores afirmam que o K apresenta influência direta na produção de óleo
essencial. O composto de esterco ovino utilizado no experimento com M. arvensis
pode ser considerado rico em K (2,16%).
A influência positiva da adubação orgânica sobre o teor de óleo essencial
pode ser variável entre as espécies. Luz et al. (2009) testando cinco níveis de
adubação orgânica de cama de frango em manjericão (Ocimum basilicum)
verificaram que não ocorreu diferença significativa para o teor de óleo essencial. O
mesmo foi observado por Nalepa e Carvalho (2007) utilizando adubo orgânico em
84
camomila (Chamomilla recutita) em que foi verificado que os teores de óleo
essencial dos capítulos florais não foram influenciados pela adubação em canteiros.
Para Lippia citriodora o teor de óleo essencial não foi afetado pelas práticas de
adição de esterco de curral curtido e correção do solo (Souza et al., 2010). Vale
salientar que, conforme mostra a Figura 3, não houve influência do calcário no teor
de óleo essencial da folha de M. arvensis.
Figura 3 – Superfície de resposta da produção de óleo essencial em M. arvensis em função
das doses de calcário e composto orgânico. A - teor de óleo essencial nas folhas; B rendimento do óleo essencial das folhas.
Com relação ao rendimento do óleo essencial houve incremento conforme a
aplicação do composto orgânico, alcançando a produção máxima (0,39 g planta-1)
com a interação da dose 25,8 g dm-3 para composto e 1,68 g dm-3 de calcário
(Figura 3B). Em Mentha arvensis, cultivada sob sistema hidropônico, obteve-se um
rendimento que variou entre 0,23 e 0,63 g dm-3 em folhas de plantas cultivadas com
diferentes soluções nutritivas e espaçamentos (PAULUS et al., 2004). Resultados
positivos também foram encontrados por Chagas et al. (2011) em estudos realizados
com a mesma espécie submetida à adubação com esterco bovino aplicado tanto no
plantio como em cobertura após a primeira colheita. O rendimento do óleo essencial
extraído da biomassa seca foliar de elixir paregórico (Ocimum selloi) aumentou com
doses de adubo de esterco de bovino, como também o avícola (COSTA et al., 2008).
A análise da composição química do óleo essencial de folhas de M arvensis
submetidas aos tratamentos apresentou no total quatorze constituintes, sendo
85
apenas doze identificados pelas áreas dos picos nos cromatogramas.
cromatograma Entretanto,
nenhum tratamento apresentou os quatorze compostos, estes variando entre um e
treze dependendo do tratamento.
A composição química do óleo essencial de M. arvensis foi afetada pelos
tratamentos (Tabela 2).. Apesar da grande variação no teor de elementos
elemento traços, o
componente majoritário neo-iso-mentol
neo
manteve-se
se sempre presente com teores
acima de 89%. Com a elevação das doses de composto orgânico verificou-se
verificou
aumento do número de constituintes do óleo, com leve redução na última dose. O
mesmo pode ser observado para adição de calcário na ausência de adubo orgânico,
sendo que na maior dose de calcário (T16) ocorreu uma drástica redução onde o
óleo apresentou somente componente majoritário (Figura 4). O tratamento que
apresentou maior número de constituintes (13) foi o que recebeu a dose de 20 g dm3
de composto orgânico com adição de 2,0 g dm-3 de calcário. Essa maior
diversidade nos constituintes do óleo essencial de M. arvensis não interferiu
(reduziu) drasticamente no teor de mentol.
mentol
Figura 4 – Perfil cromatográfico do óleo essencial de M. arvensis no tratamento com maior
dose de calcário e sem aplicação de adubo orgânico (T16). O primeiro pico corresponde ao
solvente (clorofórmio) injetado juntamente com a amostra no aparelho e o segundo pico
(seta) foi identificado como o neo-iso-mentol.
neo
Na Tabela 2 são apresentados todos os constituintes, sendo o neo-iso-mentol
neo
o componente majoritário presente no óleo essencial de M. arvensis.
arvensis Os resultados
deste estudo demonstraram que o teor desse isômero de mentol variou entre 89,35
e 100% para os diferentes tratamentos. Para a mesma espécie cultivada em dois
sistemas hidropônicos e diferentes espaçamentos,
espaçamentos o teor de mentol variou entre 64,2
e 82,4 (PAULUS et al., 2004).
86
Tabela 2- Percentagem relativa dos constituintes do óleo essencial em plantas de M. arvensis submetidas a cinco diferentes doses de adubação orgânica e
quatro doses crescentes de calcário
Dose 0 g dm-3 de calcário
Componentes
IK
C0
C5
C10
C20
Dose 0,25 g dm-3 de calcário
C40
C0
C5
C10
C20
Dose 2 g dm-3 de calcário
C40
C0
C5
Dose 3,72 g dm-3 de calcário
C10
C20
C40
C0
C5
C10
C20
C40
Percentagem relativa (%)
3-octanol
991
-
-
0,35
0,54
0,53
-
0,37
0,44
0,50
0,38
0,31
0,51
0,50
0,55
0,62
-
0,48
0,51
0,58
0,47
limoneno
1031
-
-
-
-
-
-
-
-
0,32
-
-
-
0,25
0,31
0,41
-
-
-
-
-
linalol
1097
-
0,34
0,37
0,51
0,50
-
0,38
0,45
0,51
0,51
0,29
0,47
0,49
0,56
0,55
-
0,40
0,48
0,51
0,46
p-ment-3-enol
1149
-
0,55
0,37
0,38
0,37
-
0,33
-
0,38
0,41
0,32
0,36
0,38
0,47
0,39
-
0,34
0,37
0,39
0,39
mentona
1157
-
-
0,81
1,77
2,13
0,71
0,88
1,31
2,33
2,56
0,97
1,50
2,04
2,54
3,29
-
1,24
1,89
2,40
2,38
isomentona
1168
-
1,78
1,02
1,60
1,39
0,66
1,10
1,40
1,71
1,75
0,82
1,57
1,71
2,12
2,00
-
1,22
1,56
1,67
1,55
neo-mentol
1167
0,39
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
0,99
1,22
1,33
0,83
1,04
1,10
1,21
1,11
0,75
1,08
1,13
1,14
1,25
-
1,15
1,23
1,20
0,92
92,57
96,29
94,95
92,81
92,66
96,68
94,44
94,20
90,68
91,02
92,95
93,40
91,53
89,66
89,35
100,00
94,18
92,45
91,49
92,86
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
0,25
-
-
-
-
-
-
n.i
neo-iso-mentol
1178
n.i
piperitona
1247
-
0,47
0,55
0,75
0,71
0,37
0,61
0,70
0,80
0,73
0,48
0,72
0,80
0,98
0,90
-
0,64
0,80
0,84
0,66
cariofileno
1424
-
-
0,34
0,42
0,38
-
0,38
0,40
0,44
0,47
0,27
0,39
0,45
0,56
0,42
-
0,34
0,40
0,37
0,32
germacreno D
1485
-
-
0,25
-
-
-
-
-
0,29
0,34
-
-
0,33
0,42
0,32
-
-
0,32
-
-
di(2-etilexil)ftalato
2553
7,04
0,57
-
-
-
0,75
0,46
-
0,82
0,73
2,85
-
0,39
0,43
0,49
-
-
-
0,55
-
100,00
100,00
100,00
100,00
Total (%)
100,00 100,00 100,00 100,00 100,00
100,00 99,99 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00
-3
Ik *= indice de Kovats; n. i. = não identificado; C0, C5, C10,C20 e C40 correspondem as doses 0, 5, 10, 20 e 40 g dm de composto incorporado ao solo.
87
Simões e Sptizer (2000) afirmam que aproximadamente 90% dos óleos
voláteis são compostos de terpenos. No presente estudo com Mentha arvensis
submetida a doses de calcário e de composto foram identificados além do neo-isomentol (composto majoritário) outros monoterpenos como: limoneno, linalol, p-ment3-enol, mentona, isomentona, neo-mentol, piperitona e dois sesquiterpenos:
cariofileno e germacreno D. Os monoterpenos são os componentes majoritários do
óleo essencial de muitas espécies do gênero Mentha (GERSHENZON et al., 2000;
MAHMOUD; CROTEAU, 2003; OLIVEIRA et al., 2012).
4.4 CONCLUSÃO
Independente dos níveis de calcário e composto orgânico o composto
majoritário detectado foi o neo-iso-mentol.
Maior produtividade de óleo essencial é obtida com a combinação de 26 - 29
g dm-3 composto orgânico e 1,7 – 2,0 g dm-3 de calcário. Essas doses correspondem
a um pH de 5,8 a 6,0 no início do experimento.
Níveis de calcário e composto orgânico influenciaram no rendimento e
qualidade do óleo essencial de M. arvensis.
4.5 REFERÊNCIAS
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91
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados encontrados neste trabalho mostram que a Mentha arvensis
responde positivamente à calagem juntamente com a adição de composto orgânico,
por meio da promoção do crescimento da planta e produção do óleo essencial.
A adubação orgânica com composto de ovino para essa espécie medicinal
pode ser recomendada. Os resultados demonstraram a viabilidade desse adubo
orgânico para produção do óleo essencial de M. arvensis, com valores de
concentração do óleo chegando a 5 % na folha, o que é considerado um valor alto
quando comparado com outros resultados da literatura científica para esse gênero
de planta aromática.
Do ponto de vista prático, os resultados também mostraram que a calagem,
quando utilizada como prática isolada, não trouxe benefícios significativos ao
crescimento das plantas de M. arvensis. Na ausência de calagem, o uso do
composto orgânico influenciou tanto nas propriedades do solo, como a CTC, soma
de bases, saturação por bases e pH, além de elevar os teores de P, K, Ca e Mg no
solo como também na nutrição de M. arvensis.
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