VIERAM OS DEUSES DE OUTRAS ESTRELAS? ERNST VON

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VIERAM OS DEUSES DE
OUTRAS ESTRELAS?
ERNST VON KHUON
Neste volume — indubitavelmente um dos mais interessantes livros
de discussão de teses — tomam posição dezesseis mundialmente
conhecidos eruditos, com relação às teorias do autor dos best-sellers
internacionais "Eram os Deuses Astronautas" e "De Volta às
Estrelas", Erich von Dãniken.
O livro mostra por que milhares de pessoas — no mundo todo —
discutem essas teses.
Além disso, este livro representa uma contribuição complementar
às perguntas de largo interesse atual:
—Tiveram seres estranhos influência no desenvolvimento da humanidade e no de sua inteligência?
—E existem ainda hoje seres inteligentes em outros planetas?
***
A tese de Erich von Dãniken de que astronautas, provenientes de
estrelas estranhas, tenham visitado a Terra em priscas eras, é
conhecida por dois entre cada três habitantes do mundo civilizado.
E aproximadamente cada quarta pessoa a tem por verídica.
Não é de admirar, portanto, que os livros desse autor tenham
causado viva ressonância nos círculos científicos.
O mais tardar pela descida dos norte-americanos na Lua, as suas
teses se tornaram "pensáveis".
E surge a pergunta, comentada e discutida por todos:
— Erich Von Dãniken, o "pesquisador por curiosidade", como ele
próprio se apelida, foi de utilidade para os cientistas, ou os
prejudicou?
***
Os indícios apresentados por Erich Von Dãniken são analisados e
comentados por dezesseis cientistas, neste livro, que o publicitário
de televisão Ernst Von Khuon organizou e editou.
Agora o leitor tem a possibilidade de decidir quais as teses e teorias
que ele quer aceitar como possivelmente verdadeiras.
No final do livro, em posfácio, Erich von Dãniken tem a
oportunidade de tomar posição quanto às contribuições
apresentadas.
E ninguém ficará surpreso ao verificar que, nesse assunto, os
cientistas de modo nenhum são unânimes, e também a ninguém
surpreenderá não recusarem, por completo e em definitivo, as teses
de Erich von Dãniken.
***
Ernst von Khuon
é, como repórter-chefe da Rádio Sudoeste da Alemanha, dom mais
de duas mil e quinhentas transmissões — e sobretudo através da
televisão, um dos mais conhecidos publicistas alemães de nossa
época.
A denominação que lhe dão, de "intérprete para história da cultura,
ciências naturais e técnica", atinge o âmago de seu trabalho talvez
do modo mais expressivo.
Capa de HERBERT HORN
Ernst von Khuon
(Compilador)
VIERAM OS DEUSES DE OUTRAS
ESTRELAS?
Cientistas discutem as teses de Erich von
Dániken
Nesta obra:
Onde fui mal interpretado por meus críticos, por
von Däniken
Tradução de
Trude von Laschan Solstein
EDIÇÕES MELHORAMENTOS
Índice
Introdução Ernst von Khuon
I Foi a Nossa Terra Visitada por Astronautas Alienígenas?
II Inteligências em Estrelas Distantes
III Estamos sós no Universo?
IV Pleiteando uma Pesquisa Inconvencional do Nosso Passado
V Deviam vir Deuses Extraterrestres para Criar o Homem?
VI Fatos e Preconceitos conforme Sabemos, o que Sabemos —
Dãniken no Campo da Biologia
VII Pensamentos sobre a Possibilidade do Vôo Espacial Interestelar
VIII Ensaios Filosóficos sobre a Relatividade do Tempo
IX "Kyborgs" em Viagem pelo Espaço
X O Que Diz a Medicina, Especialmente a Psicologia Médica?
XI Argumentos para o Possível, Tirados de Fatos da Astronomia e
de Textos Antigos
XII Documentos Bíblicos e a Teoria Cósmica dos Astronautas
XIII A Respeito da Demonstrabilidade da Viagem Espacial PréHistórica, em Mitos e Contos de Fada
XIV Dãniken e a Pré-História
XV Os Antigos Egípcios e Dãniken
XVI Comentário sobre Nazca
Onde Fui Mal Interpretado por Meus Críticos — Erich von Dãniken
Índice das ilustrações
Os "canais" de Marte / Um gene individual, visto com um
microscópio eletrônico / O editor assistindo a filmagens... em Tula,
México / Ernst von Khuon com os cameramen da Rádio Sudoeste da
República Federal da Alemanha / A célebre Porta do Sol de
Tiahuanaco
/
A
Porta
do
pedra ..........................................................
Sol
é
uma
só
Ernst Stuhlinger mostrando a Ernst von Khuon modelos de foguetes
/ Astronautas norte-americanos no módulo lunar / A lápide no
Templo das Inscrições, em Palenque / Deus celta em Kernunnos
O deus celta do cervo, com anel e serpente / Desenho mostrando um
xamanotungúsio com tamborim / Lâmpadas usadas pelo homem no
Período Glaciário / Lâmpada de 22 cm encontrada em Lascaux,
França / Escada de 7 degraus cortados na rocha, há uns 4.500 anos /
O "deus pássaro" dos habitantes da Ilha da Páscoa
Antiga pintura rupestre de Hokaido, Japão / Faca egípcia de pedra
(quarto e terceiro milênios antes de Cristo) / Sarcófago egípcio /
Mapa astronômico ou aeroporto pré-histórico. Nazca, Peru / Macaco
de uns 80 m de altura é um só exemplo entre muitas figuras de
animais ....................................................
INTRODUÇÃO
VIERAM OS DEUSES DE OUTRAS ESTRELAS? por
Ernst von Khuon, Baden-Baden
A IDÉIA EXTRAVAGANTE DE Erich von Dãniken de que a
evolução cultural da humanidade teria sido promovida por
cosmonautas provenientes de outras estrelas, levou ao maior e mais
'explosivo' sucesso de livraria desde a Segunda Grande Guerra. Os
livros "Erinnerungen an die Zukunft" (Eram os Deuses
Astronautas?) e "Zurück zu den Sternen" (De Volta às Estrelas)*
foram best-sellers em todo o mundo e, somente nos países de língua
germânica, estão beirando o primeiro milhão de exemplares
vendidos.
Muitos dos enigmas tratados por Dãniken ainda não foram
esclarecidos. Contudo, um dos grandes atrativos da pesquisa científica reside justamente no fato de existirem problemas a serem
resolvidos e de surgirem novas perguntas com a solução de cada
problema. Os pioneiros da ciência avançam no grande abismo,
sabendo que jamais chegarão ao ponto final, pois, com cada novo
horizonte que se abre, surgem novas perspectivas. Este conhecimento torna os cientistas humildes e cautelosos e eles dizem:
"Não sabemos dar uma resposta definitiva, talvez nunca chegará a
ser dada". Erich von Dãniken é menos humilde e menos cauteloso e
deve ser esta a razão pela qual seus livros encontram aceitação tão
extraordinária do grande público leitor. Ele faz perguntas e tem
suas respostas prontas; oferece sua 'chave' para a solução de todos
os enigmas.
Em janeiro de 1970, ele escreveu-me de Chur, na Suíça, onde ficou
detido para interrogatório: "Tenho certeza absoluta de que, em eras
remotíssimas, a nossa Terra recebeu a visita de astronautas, vindos
de planetas distantes. Esta convicção não se baseia apenas nos
indícios que publiquei nos meus livros, mas ainda mais nos que
ficaram a ser publicados.
Funda-se, inclusive, em ponderações
filosóficas". Perguntei então se Dãniken considerava essas visitas
como cientificamente comprovadas e ele respondeu: "Na época
atual inexiste prova científica de uma visita de astronautas de
planetas distantes a nossa Terra. Ainda estamos na fase das
'pesquisas de base'. Provas concretas poderão ser obtidas apenas
quando a ciência realmente começar a ocupar-se do problema".
* Ambos traduzidos cm português, Edições Melhoramentos.
Tampouco existe prova em contrário. Ninguém poderia oferecê-la.
Como se poderia provar que, em tempos remotos, seres inteligentes
provenientes de outros astros não aterrissaram em nosso planeta? A
comprovação do não-acontecimento de alguma coisa apenas pode
ser obtida em face da impossibilidade do seu acontecimento; talvez
porque seja inconcebível, ou comprovadamente contra as leis da
natureza. A idéia de uma visita de inteligências estranhas ao planeta
Terra não é nem inconcebível nem contrária às leis básicas da
natureza. É perfeitamente concebível que seres inteligentes de
outros planetas fossem bem mais adiantados em relação aos
homens da Terra e teriam chegado a ser astronautas muito antes de
nós, tendo visitado o nosso planeta em épocas pré-históricas.
Qualquer pessoa dotada de um pouco de fantasia pode, muito bem,
imaginar isto, quanto mais um cientista, acho eu. Por conseguinte, a
ciência se pronuncia de maneira cautelosa, dizendo: "É possível; não
está fora de cogitação; não há provas (por enquanto)". E talvez ela
até vá um pouco mais longe e diga: "É bastante improvável,
segundo os conceitos científicos atuais".
Outrossim, em absoluto é novo aquilo que Dãniken afirma. Teorias
análogas já foram avançadas por repetidas vezes. A exemplo dos
seus antecessores e contemporâneos, Dãniken serviu-se de fontes
antigas e, ao mesmo tempo, elaborou e executou seqüências de
idéias, ponderações, afirmações e argumentos de outros autores. É
fato inconteste que Dãniken defende suas convicções com
tenacidade excepcional; um dos motivos pelos quais seus livros
mereceram a devida atenção em todo o mundo. E, aliás, nada é tão
bem sucedido como o sucesso. Outro fato é de Dãniken servir de
vanguardista para seus antecessores, os quais superou e agora está
levando na esteira do seu formidável sucesso.
Sem dúvida, Dãniken realizou algo de extraordinário. Ele soube
estimular a fantasia do leitor, o que significa muita coisa nos tempos
atuais, dos quais se diz que deixam margem sempre menor para a
fantasia. E isto foi conseguido apesar dos formidáveis progressos
nas ciências naturais e técnicas, ou, talvez, justamente por causa
disto.
A fantasia costuma ser menosprezada. Admite-se fantasia em um
poeta, um artista, pois ele vive com e da sua fantasia; isto se
compreende. Conforme falou Wilhelm Hauff, ele deve cozinhar
suas obras na 'panela dourada da fantasia'. Mas, e no nosso mundo
atual dos fatos concretos?
O historiador Theodor Mommsen falou: "A fantasia não é somente a
mãe da poesia, mas, igualmente da historiografia". Como? A tarefa
da historiografia não se resume em registrar os fatos, conforme
aconteceram? No entanto, como seria possível reconstruir o passado
sem o auxílio da fantasia, entreligando as peças avulsas que a
tradição nos fornece?
Lenin, um dos personagens que mais movimentaram a História,
definiu o papel da fantasia com as seguintes palavras: "Esta
faculdade é de imenso valor. Está errado supor que só o poeta
necessita dela. Isto é um preconceito tolo. A fantasia tem seu papel,
inclusive na matemática; a descoberta do cálculo diferencial e
integral teria sido impossível sem fantasia". De fato, até a invenção
do zero foi uma obra-prima da 'fantasia matemática'.
Muitas pessoas estão completamente equivocadas pensando que a
fantasia não combina com o trabalho científico. A fantasia é a força
motora decisiva do progresso humano. Sem a curiosidade e sem a
fantasia o homem teria ficado em estado primitivo. Sem fantasia e
imaginação, sem a vontade de 'ver o que está por detrás', nem
invenções, nem descobertas teriam sido feitas. Quanta fantasia era
precisa para a roda ser inventada! Quanta fantasia requer o conceito
da descarga de gás de um foguete para poder funcionar, inclusive
no vácuo, onde não há resistência e lá, melhor ainda, por não
encontrar ponto de apoio algum?
Será que Roger Bacon, o filósofo e físico do século XIII, poderia ter
avançado a sua profecia sem o dom divino da fantasia: "Serão
construídos navios sem remos e os maiores serão dirigidos por um
só homem. E haverá veículos incrivelmente velozes, que não serão
puxados por animal algum. E máquinas voadoras. E outras que,
sem perigo algum, poderão mergulhar até o fundo dos mares e dos
rios". Como teriam sido aceitas tais palavras pelos cientistas da
época?
Será que sem fantasia Johannes Kepler poderia ter encontrado suas
leis da mecânica celeste e prenunciado a era atual dos vôos
espaciais, em sua carta aberta a Galileu, dizendo: "Quem teria
pensado, outrora, que as viagens nos oceanos imensos serão mais
tranqüilas e seguras do que no estreito Mar Adriático, no Mar
Báltico ou no Canal da Mancha? É só-providenciar as naves ou velas
adequadas aos ares celestes e não faltarão os homens sem medo
daquela imensidão enorme". Decerto, seus contemporâneos
deveriam ter achado Kepler maluco, homem que não podia ser
levado a sério.
Antes de o Sputnik I levantar vôo, quanta fantasia era precisa para
imaginar que uma lua técnica poderia sempre cair ao redor da
Terra? Quanta fantasia requereu a tese de Einstein da quarta
dimensão do tempo, para o cálculo da dilatação do tempo no
interior de um veículo que se move quase à velocidade da luz, à
descoberta da fórmula E = m x c2 (energia = massa por quadrado da
velocidade da luz), da qual resultou o conhecimento de uma energia
enorme caber dentro de um dedal de matéria. Onde quer que se
procurar uma solução, onde quer que chegarmos a saber do
possível, a reconhecer o provável e o compro-vável, é a fantasia a
explorar o caminho.
***
Desde sempre, o homem se fascinou com a idéia de mundos
habitados ficarem escondidos nas penumbras do Universo. Só que
na era espacial é mais fácil imaginar a existência de tais mundos. E,
naturalmente, o homem especula como poderia entrar em contacto
com civilizações estranhas, em outros planetas. Daqui para a idéia
de tal contacto ter acontecido em épocas remotas, há um curto
passo, apenas. Conforme já ficou dito, Erich von Dàniken não é o
primeiro a ocupar-se do assunto. A obra de Robert Charroux
'Passado Fantástico' (Phantastische Vergan-genheit, Herbig Verlag)
foi publicado antes de "Eram os Deuses Astronautas?" de Dãniken;
e, antes de Charroux, dois outros autores, Louis Pauwels e Jacques
Bergier publicaram "Partida para o Terceiro Milênio" (Aufbruch ins
dritte Jahrtausend, Scherz-Verlag). Esses últimos, no entanto,
indicaram-me como seu antecessor Kurd Lasswitz, cujo romance
"Em Dois Planetas" data de 1897.
Provavelmente, Dániken, Charroux, Pauwels e Bergier inspiraramse em "Culturas Perdidas", de Eugen Georg, publicado em 1930,
que, por sua vez, deveria ter conhecido "Países Enigmáticos", de
Richard Hennig, publicado em 1924. Já em 1919, nos Estados
Unidos da América, Charles Hoy Fort transferiu seres
extraterrestres para o nosso planeta; em 1928 saiu "Hipóteses
Cósmicas", por Robert Nast (pseudônimo de Richard Huber),
atualmente residente nos E.U.A., igualmente pressupondo a existência de inteligências extraterrestres, em um conceito muito mais
amplo. Nast defende a tese de o Homo sapiens, o homem racional,
não poder representar o ápice da hierarquia dos seres vivos. Ele
compara os homens às células de um órgão cósmico que, por sua
vez, pertence, junto com outros órgãos incrivelmente grandes, a um
superser superevoluído. Com isto Nast não pensou em DeusCriador, na alma universal; ele 'vê' na Via-Láctea 'indivíduos
intelectuais' que (até agora) nossas limitadas faculdades mentais são
incapazes de compreender. Interessante é notar que o astrônomo
inglês Fred Hoyle, pesquisador de renome, introduziu no seu
romance "A Nuvem Negra", de 1957, um tal ser cósmico, dotado de
percepção e vontade. Na ficção científica, nossos cientistas
conseguem estabelecer contacto técnico com tal superser, fazendose de intermediários entre ele e os políticos na Terra.
Aliás, a ficção científica possui árvore genealógica de antiga e nobre
linhagem, ostentando ancestrais ilustres. Nem Júlio Verne que, em
1865, de fato fez voar três americanos da Flórida para a Lua, é o
primeiro na linha. Kepler já despachou um homem para a Lua e,
muito antes, no século II, Luciano de Samósata levou o herói de
suas "Histórias Verdadeiras" em vi sita à Lua e a Vénus.
Contudo, a partir de Júlio Verne, a seqüência prática e real não
sofreu solução de continuidade até o dia de hoje: um garoto da
Transilvânia, o jovem Hermann Oberth, devorou "Da Terra à Lua",
por Júlio Verne; o livro de Hermann Oberth "O Foguete para os
Espaços Planetários", publicado em 1927, foi lido pelo jovem
Wernher von Braun. Em linha tão reta e dentro de apenas três
gerações, o caminho pôde levar da utopia para a realidade: no Natal
de 1968, a Apolo 8 girou em torno da
Lua; em 20 de julho de 1969 Armstrong pisou o solo lunar. Para
muitos esses fatos foram totalmente incompreensíveis. O que havia
sido considerado além do possível e imaginável transformara-se em
fato concreto de um dia para outro. E, com isto, a opinião de
milhões de pessoas convergiu para o outro extremo: Nada mais é
impossível.
Patrulhas espaciais deverão atravessar o Cosmo, a 'conquista do
espaço' começou. Será que com isto encontraremos mundos
habitados? E se os 'outros' forem mais adiantados do que nós? Mas
então nos teriam visitado há tempo? Para os milhões de pessoas que
já ouviram falar na idéia extravagante de Erich von Dãniken, ela até
parece familiar. Soa um tanto plausível — O senhor não acha?
Cada passo para frente na pesquisa astronômica foi seguido pela
respectiva fata-morgana de uma viagem maravilhosa no espaço
recém-descoberto. As viagens para sóis distantes só se tornaram
possíveis depois de Galileu ter verificado pelo telescópio que a ViaLáctea é um 'aglomerado de inúmeras estrelas'. Até aquela época,
eram válidos os conceitos medievais: além e detrás da esfera de
vidro estende-se o reino infinito dos anjos e santos, por baixo
abrem-se os abismos dos condenados. Quem pensaria que as luzes
do céu estrelado poderiam ser sóis gigantes, talvez até com
acompanhantes passíveis de expansão?
Foi Galileu o primeiro a considerar os planetas do nosso sistema
solar como plaquinhas, como 'corpos estelares' e a descobrir que
luas descrevem seu percurso em torno de Júpiter. A partir de então
era apenas um passo para a comparação com o nosso planeta Terra.
As luzes no firmamento vieram a oferecer à nossa fantasia um
possível destino de viagem; quem sabe, esses astros eram habitados
como a Terra.
Atualmente, conseguimos olhar espaço adentro em profundidade
de dois bilhões de anos-luz. O telescópio gigante no Monte Palomar
é uma das maravilhas dos tempos modernos. Chapas fotográficas,
expostas horas a fio, fixam os vestígios da luz estelar; é a luz que
chega à Terra após dois bilhões de anos. O que podemos enxergar
pertence, portanto, a um passado inimagi-navelmente remoto. Na
imensidão do Universo as estrelas poderiam ter-se apagado desde
tempos imemoriais, muito antes de haver vida nesta Terra; e ainda
poderíamos ver a sua luz.
Talvez com o telescópio no Monte Palomar a astronomia da luz já
alcançou seu limite máximo. Conforme sabe todo fotógrafo, não
vale a pena continuar ampliando, e ampliando sempre mais, um
retrato pouco nítido. A foto das estrelas não é bastante nítida, nem
em Monte Palomar, debaixo do céu claro da Califórnia. Mesmo que,
em termos cósmicos, seja finíssimo o invólucro de gás circundando
a Terra, nós homens vivemos no fundo de um oceano, que não
permite visão clara das coisas de fora.
Todavia, o invólucro gasoso possui ainda uma segunda 'janela' que permite a entrada das emissões de rádio de determinadas estrelas. Há duas décadas, as antenas possantes da
radioastronomia captam um mundo de mundos, até então des-
conhecido; e os radioastrônomos se referem aos anos de 60 como
'os sessenta dourados'. Foi Fred Hoyle que pronunciou as palavras orgulhosas: "Nenhum gênio literário poderia ter inventado uma estória que em sua centésima parte fosse tão fantástica
como o são os fatos concretos, desvendados pela pesquisa astronômica".
,
De fato, o Cosmo do século XX se apresenta de maneira tão
grandiosa como tremenda. Há bilhões e bilhões de sóis. O nosso Sol
é apenas um astro de média grandeza, desenvolvendo energia
mediana. Os 'gigantes vermelhos' desenvolvem energia cem a mil
vezes maior. Os 'anões brancos' são, em verdade, gigantes
medonhos; um centímetro cúbico de sua matéria pesa meia
tonelada. O homem de nossa ínfima Terra deve sentir neste Cosmo
uma solidão imensa, sempre mais imensa e é por isto que está à
procura de 'irmãos no Universo'.
Em última análise, ou melhor, em primeiro lugar, as teorias de
Dániken voltam para a eterna pergunta: Há vida nas outras
estrelas? Uma resposta negativa acabaria de vez com o assunto. Mas
será que se pode dar resposta afirmativa? E de que maneira poderia
ser comprovada? A ciência já tratou do assunto seriamente? Já foi
feita uma tentativa concreta de, ao menos, captarmos 'mensagens'
por sobre os abismos das distâncias de anos-luz? Sim; a tentativa foi
feita. O início foi dado por Frank D. Drake, professor do
Observatório de Rádio Green Bank, Virgínia Ocidental, E.U.A. Com
humor e poesia, o professor denominou seu programa de pesquisa
"projeto OZMA", segundo o nome da rainha do país fabuloso OZ(
descrito em um romance de L. F. Baum. Nos anos de 1962 e 1963,
grande variedade de estrelas 'suspeitas' foi auscultada; no entanto,
apesar de todos os esforços despendidos, não se conseguiu captar
sinal algum que pudesse provir de uma 'civilização técnica', existente nalgum planeta longínquo. "Deste ponto de vista, o projeto
fracassou", observou Wolfgang Priester, professor de Ra-
dioastronomia em Bonn, que dispõe do maior radiotelescopio
móvel na Terra (diâmetro da concha da antena: 100 metros).
Decerto, havia pouca possibilidade de logo na primeira tentativa
receber 'sinais inteligíveis'. No entanto, menos de cinco anos mais
tarde, em julho de 1967, houve grande surpresa em Cambridge, na
Inglaterra: uma descoberta devida ao acaso, ou antes, à
inexperiência e ao cuidado excessivo de uma estudante. Ela estava
encarregada de medir, com o novo campo de antena, os diâmetros
de quasares 'no fim do mundo'. Em determinada posição do
instrumento, a estudante experimentou 'movimentos elétricos' que,
com um radioastrônomo experiente, teriam passado despercebidos,
a título de interferências típicas causadas por um automóvel. No
entanto, a estudante queria averiguar o porquê dos movimentos.
Por diversas vezes ela verificou essa ligeira interferência e, por
coincidência, sempre apareceu no mesmo ponto, quando o
instrumento estava na constelação de Vulpécula (Raposinha, em
latim), mais ou menos no meio entre as estrelas Vega e Altair.
Talvez houvesse uma sonda espacial distante? As respectivas
averiguações deram em nada. Uma missão secreta? Mas aí vieram
impulsos de rádio de outras partes do céu, que se repetiram com
precisão maquinal. Para os impulsos da constelação de Vulpécula
foi registrada freqüência de repetição da ordem de 1,337 segundos,
para os provenientes da área limítrofe de Hidra e Câncer a
freqüência era de 1,274 segundos; na constelação do Leão havia dois
transmissores, que transmitiam em intervalos de 1,188 e 0,253
segundos, respectivamente.
"De fato, nossos colegas de Cambridge deveriam pensar em sinais
emitidos por seres inteligentes em planetas distantes", relatou
Wolfgang Priester. "Inicialmente, mantiveram sua descoberta em
segredo. Preferiam averiguar primeiro o que realmente estava
acontecendo. Entre eles, chamaram de LGM — Little Green Men —
"homenzinhos verdes" — ao seu estudo de sinais misteriosos."
Sinais do primeiro pulsar, descoberto na constelaçãode Vulpécula. A distância
entre as grades é de aproximadamente 4 segundos
Por fim chegou-se a saber que se tratava de um novo e ainda
desconhecido tipo de estrelas, que então os radioastrônomos pas
saram a chamar de 'pulsares'. Até }agora foram encontrados 49
pulsares. A solução do enigma só foi possível em janeiro de 1969,
quando um representante desse tipo de estrela foi localizado na
chamada nebulosa do Câncer. Esta é um objeto astronômico famoso,
pois trata-se dos resíduos de uma supernova, de uma explosão de
estrela fixa, observada por astrônomos chineses no ano de 1054 d.C.
Em face desses antecedentes, os radioas-trônomos modernos
acharam a seguinte explicação: as partes internas da estrela formam
uma constelação muito pequena e de rotação ultra-rápida, composta
de nêutrons (os componentes sem carga do núcleo atômico). Igual a
um farol, com cada rotação a nova estrela emite, de uma mancha
clara em sua superfície, impulsos de rádio, bem como impulsos
ópticos. Em todo caso, a honra da descoberta dos pulsares cabe a
uma jovem dotada de fantasia e tenacidade, Jocelyn Bell. Por
enquanto, achou-se uma explicação cientificamente plausível para
os sinais registrados em intervalos certos; será que foi dada em
definitivo? O modo de pensar deverá ainda ser ampliado e
aperfeiçoado; todavia, aí, os 'homenzinhos verdes' estariam de fora.
Em 1877, pela primeira vez eles estimularam a fantasia do homem,
mesmo que então ainda não tivessem seu nome atual, quando o
planeta Terra e seu vizinho de fora, Marte, tornaram a ficar bem
pertos um do outro. Os astrônomos estavam preparados para valerse da situação propícia e logo mais, Asaph Hall, professor de
Matemática no Observatório Naval em Washington, descobriu as
duas luas de Marte, Deimos e Fobos. Aliás, como são diminutas
(calcula-se seu diâmetro em 15 e 8 km, respectivamente), poderiam
até tornar-se um dia metas para vôos espaciais. Em Deimos os
astronautas quase estariam flutuando no espaço, livres das leis de
gravidade. Ali, uma bola de futebol, bem chutada, sumiria no
Cosmo.
Outra grande descoberta do ano de 1877 foi feita em Milão, na Itália.
Schiaparelli observou linhas finas em Marte, que chamou de 'canali',
termo que foi logo e erroneamente traduzido por 'canais'. Para
muita gente esta palavra já explicava tudo, pois um canal representa
uma obra de técnicos; por conseguinte, o planeta Marte era habitado
por seres inteligentes. Uma sensação sem-par! Em sua qualidade de
cientista, Schiaparelli assumiu atitude discreta e cautelosa; no
entanto, a interpretação dada nada tinha de impossível, a priori, e
assim foi que inclusive ele próprio chegou a endossar o termo
'canais'. "Não é preciso considerá-los como construções, executadas
por seres inteligentes, não obstante apresentarem forma quase
geométrica", explicou Schiaparelli. "Poder-se-ia admitir que se
formaram por si sós, a exemplo dos canais da Mancha e de
Moçambique, aqui na Terra." Logo mais, a existência de 'canais' foi
confirmada, inclusive por outros pesquisadores. Numerosas teorias
surgiram: valas profundas nas quais penetra a neblina vinda do
pólo; fendas na crosta do planeta, que racha como vidro quebrado;
arranhaduras causadas por meteoros. Contudo, o astrônomo norteamericano Percival Lowell considerou a teoria dos habitantes de
Marte absolutamente razoável e até mais razoável do que as demais.
Ele escreveu: "Igual a Robinson Crusoe, que empalideceu à vista de
pegadas estranhas, o pensador civilizado recua instintivamente
diante de toda e qualquer referência a uma inteligência que não seja
a sua; ...o homem aceita de bom grado as hipóteses mais
extravagantes e surpreendentes, se isto lhe poupar a admissão de
algo a relacionar-se com a sua própria espécie...". Quem falar em
seres de Marte, não precisa necessariamente pensar em marcianos
(homens de Marte).
Obviamente, a idéia não podia deixar de fascinar o grande público,
ou, aliás, todo homem que pensa. Por que deveria ser impossível?
Não foram os grandes pensadores do passado, desde Christian
Huyghens e Immanuel Kant, a falarem de maneira concreta e sóbria
de 'habitantes de outros planetas'? Não foi Giordano Bruno, o
dominicano que abandonou seu convento para anunciar em êxtase:
"Há inúmeros Sóis e inúmeras Terras, girando todos da mesma
forma em torno dos seus Sóis... Os mundos sem conta do Cosmo em
nada são inferiores à nossa Terra, pois inteligência alguma poderia
imaginar que eles, que se beneficiam da radiação fecundante de um
Sol, conforme nós nos beneficiamos com o nosso, fossem
desabitados e não possuíssem habitantes inteligentes ou ainda mais
perfeitos do que a nossa Terra... Fiquem descansados, virá o tempo
quando todos verão as coisas como eu as vejo". No ano da graça de
1600 o herético Bruno foi queimado vivo. Aliás, ele jamais olhou por
um telescópio, que foi descoberto apenas oito anos após sua morte
violenta. No que se refere aos 'canais' em Marte, estão sendo
considerados hoje em dia como 'ilusões ópticas'. Supõe-se que o
olho reuniu detalhes de superfície para puxá-los em formações
lineares. Em 14 de julho de 1965 a sonda espacial norte-americana
Mariner 4 passou por Marte em uma distância de apenas 9.000 km
(esta distância é menor do que o diâmetro da Terra). As suas
radiomensagens vieram à Terra de uma distância de 220 milhões de
quilômetros; para usar-se um slogan de propaganda: jamais uma
imagem foi televisionada de distância tão enorme! As imagens
transmitidas mostraram crateras anulares; Marte se assemelha mais
à Lua do que à Terra. E nada de canais. A atmosfera de Marte é
extraordinariamente rarefeita, compondo-se principalmente de
nitrogênio com minúsculos traços de vapor de água. Os pólos
brancos provavelmente não passam de geada. Será que há vida?
Ernst Stuhlinger, professor no Marshall Space Center, lotado para o
projeto Marte, está contando com isto: "Acreditamos que haverá
vida; provavelmente espécies vegetais inferiores, mas por enquanto
não podemos fazer a mínima idéia de como serão".
Um vôo tripulado para uma visita a Marte está previsto somente
para a década dos 80. O que encontrarão os primeiros homens a
pisar o solo de Marte? Serão encontrados os restos de seres extintos?
Fósseis? ou até as ruínas de culturas desaparecidas?
Erich von Dàniken relatou sua conversa com o professor soviético
Josef S. Shklovsky, o qual sugeriu que as duas luas de Marte fossem
satélites artificiais. Os nossos satélites também estariam
funcionando no espaço muito além da duração de nossa vida... No
entanto, tenho a impressão de Dániken já não contar mais com
Marte, faz tempo. Os seus seres inteligentes vêm de muito mais
longe.
Em Huntsville, Alabama, E.U.A., Ernst Stuhlinger mostrou-me o
modelo de uma nave espacial elétrica, que — montada em uma
órbita terrestre — realiza a viagem de ida e volta para Marte em
uma expedição de dois anos. Os sistemas de manutenção de vida,
funcionando agora durante dias e semanas, deveriam funcionar
então uma centena de vezes de sua atual duração. Os custos de uma
expedição a Marte seriam o múltiplo dos de uma alunis-sagem. A
priori, parece mais problemática ainda a viagem para outro vizinho
do nosso sistema solar, o planeta Vénus. Em 1962, a sonda espacial
norte-americana Mariner 2 passou por Vénus a uma distância igual
a menos de três diâmetros da Terra. Como era de se esperar, a
'estufa Vénus' estava coberta por densas nuvens; os sensores
infravermelhos mediram uma temperatura de superfície da ordem
de 400 graus. Nessas condições, Vénus serviria de destino de
viagem exclusivamente para robôs insensíveis ao calor?
Em 18 de outubro de 1967, a Venera 4, soviética, desceu suavemente, de pára-queda, na superfície de Vénus; a temperatura de
superfície então registrada e reportada era da ordem de 270 graus.
Isto já era um pouco melhor; todavia, o calor ainda continuava
intenso bastante para fundir metais, como o zinco.
O calor representa apenas um problema entre muitos. A atmosfera
de Vénus é irrespirável. A Venera 4 averiguou que, em Vénus, o
homem deve suportar pressão de 20 atmosferas. Sem esperança?
Libby, Prêmio Nobel, não exclui a possibilidade de, apesar disto,
existir vida em Vénus. E se os vapores de água se tivessem
precipitado nos pólos de Vénus, que quase não recebe radiação
solar? Aí, deveria existir entre o calor do equador e o pólo ártico
uma estreita faixa de vida, com temperaturas moderadas, talvez
inclusive com organismos, capazes de suportar 20 atmosferas de gás
carbônico.
Com Marte para o lado externo e Venus para o interno está
circunscrito o espaço em nosso sistema solar onde, razoavelmente,
se poderia imaginar a existência de vida. O planeta Mercúrio, mais
perto do Sol, girando em órbita interna, é um inferno; nos planetas
mais distantes do Sol, de Júpiter a Plutão, deveria ficar congelada
toda vida igual à existente em nossa Terra.
Aliás, em fins da década dos 70 haverá uma possibilidade
extraordinária de conhecer por perto os planetas externos do nosso
sistema solar; então, Júpiter, Saturno e Urano estarão em posição
especialmente favorável. As forças de atração desses planetas
deveriam proporcionar impulso adicional a uma sonda espacial,
voando em sua passagem, que levariam em 'slalom cósmico' para
perto de Netuno e Plutão. O vôo para Plutão que, normalmente,
levaria mais de 40 anos, poderia então ser realizado em apenas nove
anos. Dados de medição e imagens fotográficas poderão ser
transmitidos de uma distância de 600 milhões a cinco bilhões de
quilômetros. Já existe um projeto audacioso: nos anos de 1977 e 1979
a NASA pretende despachar uma sonda de 550 kg, equipada com os
instrumentos necessários, para uma 'excursão global' no espaço.
Outros sistemas solares dentro de nossa Via-Láctea poderiam
oferecer possibilidades de vida. Até agora, telescópio algum,
inclusive o mais possante, conseguiu captar um planeta fora do
nosso sistema solar; é preciso lembrar que todo planeta brilha
apenas com a luz emprestada do seu sol. Outrossim, supõe-se terem
sido detectados indiretamente planetas nas proximidades de
estrelas fixas, a distância relativamente pequena, tal como a estrela
Barnard, distante 6 anos-luz. Nos radioimpulsos do pulsar NPO
532, as oscilações periódicas, trimestrais, somente poderiam ser
explicadas admitindo-se interferência na rotação da estrela pelo
campo de gravidade de um planeta. Os radioastrônomos
calcularam um planeta de massa terrestre, girando em volta do
pulsar em intervalos de 0,4 unidade astronômica (uma unidade
astronômica equivale à distância entre o Sol e a Terra); ou seja, um
planeta distante de mais de 4.000 anos-luz.
***
Será que pode existir vida em outros planetas; vida inteligente? O
que se compreende por 'vida inteligente'? Fred Hoyle tentou uma
resposta para os fãs do esporte: "Com isto não quero dizer espécies
de musgo ou líquen, mas indivíduos capazes de integrar-se nos
times do 'Liverpool' ou 'Arsenal' para disputar um jogo de futebol
em Londres".
James Jeans, outro astrônomo inglês de renome, considera a vida
"um acontecimento raro"; por conseguinte, a vida inteligente seria
"acontecimento muito mais raro ainda".
Recentemente, o astrônomo norte-americano David Buhl explicou a
existência de 'germes de vida' no Cosmo: no espaço inte-restelar
foram encontradas nuvens de aldeído fórmico, bem como água,
metano e amoníaco. Portanto, um 'sopro de vida'. Onde poderia ter
ocorrido a precipitação?
A física Dra. Irene Saenger-Bredt considera como "a menos provável
de todas" a hipótese de nossa Terra ocupar "posição
extraordinariamente privilegiada" no Cosmo. Ela argumenta o
seguinte: partindo da soma total dos corpos celestes, foram realizados os mais diversos cálculos de probabilidade que deram
"algarismos surpreendentes", oscilando entre 18.000 e um bilhão de
corpos celestes em condições semelhantes às da Terra; e esses
corpos celestes existiriam somente no âmbito de nossa Via-Láctea.
Todavia, esses algarismos são pouco expressivos, pois apenas em
considerar-se a imensa vastidão do espaço é que se pode chegar a
formar um conceito correto. O Dr. Winfried Petri, da Faculdade de
História das Ciências Naturais, em Munique, menciona um
relatório, resumindo os resultados de uma conferência científica
sobre "Civilizações Extraterrestres", realizada em Biurakan,
República Soviética da Armênia. Os cientistas russos são de pare cer
que seria possível encontrar uma civilização em cada 200 a 300
anos-luz. Cientistas ocidentais são mais otimistas a respeito, pois
cogitam de 30 a 50 anos-luz.
A probabilidade estatística, muito convincente para o matemático,
não constitui prova em si. Suponhamos que o nosso vizinho mais
próximo, a Alfa do Centauro, possuísse planetas semelhantes à
Terra. A Alfa do Centauro está 4,3 anos-luz distante de nós. Um
ano-luz — palavra fácil de ser pronunciada, mas que representa
uma distância inimaginável. Em termos de quilômetros representa,
aproximadamente, o algarismo 9 seguido de doze zeros. Vamos
fazer a prova: são 365 dias do ano X 24 horas (o dia e a noite) X 60
minutos X 60 segundos X 300.000 quilômetros por segundo (que é a
velocidade da luz). Assim temos, para 1 ano-luz, em números
redondos, 9.500.000.000.000 de quilômetros. Vamos comparar a
velocidade da luz com a velocidade das atuais naves espaciais:
satélites artificiais giram em órbita terrestre com velocidade de 8
km/seg; para um foguete lunar vencer a esfera de gravidade da
Terra, devia fazer, no mínimo, 11,2 km/seg. Um foguete ao sair do
nosso sistema solar e vencer a atração do Sol, devia fazer 17 km/seg.
Tal nave espacial gastaria 76.000 anos, só para a viagem de ida;
pensando-se inclusive na volta, decorreria um prazo durante o qual
5.000 gerações humanas teriam passado pela Terra. É esta a
realidade das distâncias em anos-luz.
Por este motivo, Pascual Jordan considera "o nosso sistema solar
como maior campo de ação das viagens cósmicas para, no mínimo,
os próximos séculos, se não milênios. O que vier depois está além
de nossa previsão". Logicamente, a nossa fantasia não pode ser
encarcerada nos limites daquilo que hoje é possível. Quem sabe, em
1.000 ou 3.000 anos, ou talvez antes, a técnica disporá de meios
jamais sonhados? E será que uma civilização vizinha não poderia
ter chegado a essa fase muito antes de nós? Seria impossível vencer
a barreira da luz? No laboratório já se conseguiu a produção de
raios de massa com tais velocidades; poderão essas experiências de
laboratório ser aplicadas na prática, no 'impulso por raios' do
futuro? O Professor Eugen Sãnger(f) sugeriu a 'engrenagem motriz
por fótons', capaz de somar a menor pressão da luz. Em contrário ao
que admitem outros autores, Sànger acreditava que "não era
intenção da natureza confinar-nos para sempre em nosso pequeno
cantinho no Cosmo".
O fato de que, com velocidades aproximadas às da luz, a vida no
interior de uma nave espacial decorreria em ritmo mais lento do
que aqui na Terra, representa conseqüência surpreendente das leis
da mecânica relativista de Einstein. 'Viagens para a Terra
Maravilhosa de Einstein' foi a manchete dada por um jornalista a
uma reportagem, tentando transmitir esses pensamentos
incrivelmente audaciosos ao público leitor. E os processos biológicos, seriam manipuláveis?
O cálculo para uma nave espacial viajando com velocidade quase a
da luz, parte do 'vácuo'. Acontece, porém, que o Cosmo não é um
vácuo. Conforme falou Julián Huxley, o biólogo e filósofo inglês, ele
"está repleto de partículas e raios, unidos em uma gigantesca e
caótica dança de jaz/".
Qual seria a energia necessária com velocidade acelerada? Werner
Braunbek, professor de Física Teórica da Universidade de
Tübingen, fez o respectivo cálculo: a fim de acelerar uma nave
espacial para atingir um quinto da velocidade-luz é preciso dotá-la
de uma carga equivalente a 25 milhões de vezes a força necessária
ao arranque da órbita terrestre, o que seriam então 25 milhões de
vezes a potência do Saturno V. Uma velocidade de 'apenas' 1.000
km/seg (é preciso lembrar: a velocidade da luz é de 300.000 km/seg)
requereria energia 10.000 vezes maior da necessária para vencer a
atração da Terra. E, apesar disto, uma viagem de ida e volta à Alfa
do Centauro levaria 3.000 anos.
Em resumo: a ciência admite a predisposição essencial para a idéia
de Erich von Dãniken, dizendo: sim, é altamente provável a
existência de vida superior em outras estrelas; no entanto, é
extraordinariamente pequena a chance de seres inteligentes se
encontrarem sobre o tempo e o espaço no 'mesmo segundo cósmico'. É mínima a chance de estabelecer contacto pelo rádio. A
chance de um encontro pessoal é altamente improvável. Assim
sendo, pode acontecer que a Terra ficará só — apesar da possível
existência de muitos mundos habitados nas imensidades do Cosmo.
Bem poderá ser que os habitantes da Terra jamais chegarão a ter
certeza da existência ou não de 'irmãos' no Cosmo. Isto faria com
que os homens terrestres, apesar das saudades de estrelas
desconhecidas, viessem a considerar o seu planeta como algo de
singular, como uma preciosidade sem par.
Foi na década dos 50, quando os discos voadores eram assunto
preferido de publicidade e monopolizaram o interesse do grande
público. Todavia, jamais tal onda publicitária soube captar a opinião
pública por muito tempo; mais cedo ou mais tarde um assunto
desses decai de moda e surge outro. Este nem precisa ser novo,
basta que pareça novo; pode até ser coisa do passado, sob novo
aspecto; se o for, tanto melhor, pois então é mais rapidamente
aceito.
Na idéia extravagante de Erich von Dãniken, voltaram os discos
voadores. As visitas de seres inteligentes extraterrestres, muito
superiores a nós, não precisam, necessariamente, acontecer no
espaço de nossa vida; podem muito bem ter acontecido 'ontem',
'ontem, mil anos atrás', ou 'anteontem, 10.000 anos atrás'. Por que
será que não voltaram? é a pergunta formulada hoje por muitos
daqueles que então se entusiasmaram com a novidade. E os que não
abandonaram a idéia dos discos voadores lhes respondem: Mas sim,
eles voltaram. Só que se tentou ridicularizar as coisas e torná-las
inverossímeis.
Será que jamais especialistas autônomos examinaram o assunto? Há
o chamado relatório Condon, publicado em janeiro de 1969, em
forma de livro de bolso pela 'Bantam', com 989 páginas e posto à
venda por US$1.95, intitulado "Scientific Study of Unidentified
Flying Objects" (Estudo Cientifico de Objetos Voadores Não
Identificados), editado por Daniel S. Gillmor. Trata-se de um
trabalho realizado por 37 cientistas sob a orientação do Professor E.
U. Condon, da Universidade de Colorado, controlado e aprovado
por dez pesquisadores da Academia Nacional de Ciências. A
publicação inclui ilustrações de nada menos de 94 OVNIs. É o
seguinte o respectivo parecer de Harry O. Ruppe, professor de
Técnica de Vôos Espaciais na Escola Politécnica de Munique e
colaborador de muitos anos de Wernher von Braun: "Apesar de
toda sua sobriedade, há trechos neste livro que se lêem como um
romance policial de 'suspense'. O leitor bem pode fazer idéia de
como a ciência concreta avança no terreno do desconhecido"! Foram
examinados 45.000 comunicados da aparição de discos voadores,
referentes a 15.000 casos; as ocorrências a serem esclarecidas eram
da ordem de zero a 2,5% do total.
Todo mundo conhece a problemática de relatos por testemunhas
oculares. Três observadores podem relatar, de boa fé, um só
acidente de trânsito de três maneiras diferentes. Todavia, 2% de
45.000 avisos representam quase 1.000 depoimentos inaproveitáveis para a ciência. Isto dá o que pensar; não dá?
Em resumo, Harry O. Ruppe diz: "Não sobrou um só fenômeno
OVNI que comprovasse a visita de inteligências extraterrestres na
Terra". Todavia, ele admite que "nunca tais provas negativas podem
ser totalmente convincentes. A quem agradar, pode perfeitamente
recusar as explicações racionais e preferir especulações místicas. Por
outro lado, bastaria como prova positiva uma só peça, digamos de
uma nave caída, que não pudesse ser confeccionada pela técnica
terrestre; no entanto, inexiste tal peça em nosso planeta". Ruppe
considera encerrado "com este relatório um capítulo fascinante em
muitos dos seus aspectos (o estudo dos OVNIs ao longo de 21 anos)
pelo menos até surgirem fatores novos, aptos a ressuscitar o
problema".
Naturalmente, o relatório Condón em nada contribuiu para
'converter' os adeptos fiéis da teoria dos OVNIs; eles consideram os
casos não esclarecidos como 'admissões', resumindo-se o argumento
geral em 'não queriam deixar transparecer coisa alguma'. O
relatório Condón foi precedido por pesquisas da Força Aérea dos
E.U.A., no curso das quais foram estudados uns 10.000 avisos de
OVNIs; conforme aconteceu no caso do relatório Condón, 98% das
ocorrências foram explicados como sendo: novos tipos de avião,
balões meteorológicos, pássaros, aeróstatos, satélites, meteoritos,
formações de nuvens, reflexos de luzes (sóis secundários, holofotes,
faróis); revelaram-se inclusive como 'brincadeiras bem boladas de
gente que gosta de travessuras e publicidade', nas palavras de
Wernher von Braun. Contudo, todas as tentativas de entrar em
contacto com um 'homem de outro planeta' eram inúteis; não se
encontrou evidência alguma, em parte alguma.
"Antes de cogitarmos dos homenzinhos verdes para acharmos a
solução do enigma, seria preferível considerarmos também os 2%
restantes como fenômenos naturais." (Wernher von Braun.)
"Convém dedicar-se atenção maior ao fenômeno misterioso do raio
em forma de bola. Procurei Karl Berger, professor na Escola
Politécnica Nacional de Zurique, que visitei no Posto de Medição de
Raios, no Monte San Salvatore, em Lugano, Suíça, para perguntar a
respeito do fenômeno dos raios em forma de bola. O professor, uma
capacidade de renome mundial, mostrou-se bastante céptico,
dizendo que, até agora, não se conseguiu prova alguma da
existência do raio em forma de bola."
Decerto, é inadmissível considerar como alucinações ou histeria '
coletiva relatórios concordantes sobre Objetos Voadores Não
Identificados. Os depoimentos objetivos de capitães de vôo dão o
que pensar. Também Harry O. Ruppe não admite que todos os
depoimentos de testemunhas oculares sejam considerados como
'alucinações'. Contudo, lembram os aparecimentos de anjos, ocorridos na Idade Média. "É a mística de nossa época que vem a
realizar-se nesses fenômenos técnicos." Em seu livro "Das kosmische Abenteuer" (A Aventura Cósmica), Edmund Verhülsdonk fala
dos discos voadores como "do lado avesso da profundidade
psicológica da idéia dos vôos espaciais"; e na revista astronômica
"Sterne und Weltraum" (Estrelas e Cosmo) são qualificados de 'saga
moderna'.
Em 1958, o célebre psicólogo suíço Carl Gustav Jung escreveu um
livro sobre os OVNIs: "Ein Moderner Mythos. Von Dingen, die am
Himmel gesehen werden" (Um mito moderno. De coisas que se
vêem no céu). Ele as explica como visão coletiva, ou rumor
visionário e procura esclarecer seu sentido simbólico. Segundo esse
autor, os OVNIs são os sinais de uma situação mundial altamente
perigosa, índices do fim do mundo que se aproxima. E continuando,
C. G. Jung escreve que "estou preocupado com a sorte daqueles que,
despreparados, serão surpreendidos pelos acontecimentos e, sem a
mínima noção das coisas, serão entregues à sua inconcebibilidade".
Essas palavras de sentido oculto foram interpretadas de diversas
maneiras.
O fato é que muitos adeptos da idéia dos OVNIs sentem-se
comprometidos com determinados pensamentos de salvação, com
uma espécie de comunidade religiosa. Pouco se importam com
argumentos de ordem científica; para eles trata-se de uma questão
de fé. Evidentemente, os seres em outras estrelas nasceram do medo
e da esperança. Já no romance de Kurd Lasswitz "Auf zwei
Planeten" (Em dois Planetas), publicado em 1897, os sábios habitantes de Marte indicam o caminho para a liberdade e a paz. Na
mesma época (1898) H. G. Wells publicou seu "Guerra dos Mundos": uma invasão de monstros marcianos que, enfim, são vitimados
pelas bactérias terrestres. Quarenta anos mais tarde, em 30 de
outubro de 1938, a CBS de Nova York transmitiu a "Guerra dos
Mundos" em espetáculo radiofônico, dirigido por Orson Welles,
com efeitos sonoros que provocaram pânico geral, apesar dos
repetidos avisos aos ouvintes de a invasão dos marcianos ser apenas
fictícia. Podia ser; mas aqueles avisos também poderiam servir
apenas para acalmar a população. Em quem acreditar?
Aliás, foi muito antes que se "inventaram" os primeiros discos
voadores; há a descrição de uma ilha de forma circular, com 7 km
de diâmetro e de nome Laputa, suspensa sobre o Oceano Pacífico e
guiada por um ímã. Assim se lê em "As Viagens de Gulliver",
publicadas em 1726 por Jonathan Swift. Os astrônomos de Laputa
possuíam conhecimentos muito adiantados à sua época; 150 anos
antes de sua descoberta, já conheciam duas pequenas luas de Marte.
Swift adivinhou de maneira surpreendente suas trajetórias e o
tempo necessário para percorrê-las. Ele era autor muito versado em
Marcianos, Ilustração para “Guerra dos Mundos”, de H. G. Wells
ciências naturais. As luas que descreveu deveriam ficar fora do
alcance dos telescópios da época; conforme as
exigências da estória e, partindo desta premissa, Swift baseou seus
respectivos cálculos nos de Kepler e Newton.
***
Qual o pensamento de Erich von Daniken a respeito dos OVNIs da
atualidade? Obviamente, ele não lhes atribui grande importância,
pois em sua carta já mencionada escreveu: "Até agora, a visita a
nossa Terra de astronautas provenientes de planetas distantes
carece de toda prova científica". Isto é exatamente o que afirma
também o relatório Condon. Dãniken diz: "Isto é impossível; mas
isto não pode ser comprovado (até agora)". Por esta razão, Däniken
coloca os discos voadores na era da pré-história e, desta maneira,
fica disponível um lapso de tempo infinitamente mais amplo, ou
seja, de milhares de anos, em comparação com o breve quarto de
século, decorrido desde o fim da última Grande Guerra. Com isto
ficou multiplicada a chance de um 'encontro'. De outro lado, os
acontecimentos a serem provados ficam perdidos na alvorada dos
primordios primitivos. Simultaneamente, o campo abrangido pela
idéia de Däniken inclui uma esfera de interesse passional do grande
público leitor, desde a publicação de "Götter, Gräber und Gelehrte"
(Deuses, Túmulos e Sábios)*, por Ceram (Kurt W. Marek), ou seja, a
arqueologia, o jogo de adivinhar apresentado pelos enigmas das
civilizações perdidas. Ainda que o livro de Ceram tenha ficado sem
igual, as obras "Die Bibel hat doch recht" (E a Bíblia tinha razão...)**,
de Werner Keller, e "Com o Elevador na Época Romana" (Mit dem
Fahrstuhl in die Römerzeit), de Rudolf Pörtner, também se tornaram 'best-sellers' arqueológicos. Além dessa esfera e avançando
até a pré-história, Däniken atinge o terreno fascinante das últimas
especulações sobre a origem do homem. Ali, Herbert Wendt
conseguiu um 'best-seller' com sua obra "Ich suchte Adam" (À
Procura de Adão)***. Contudo, todos esses autores, de Ceram a
Wendt, escreveram livros técnicos, nada de ficção científica, nada
que ficasse a meio caminho, mas sim, 'ciência, apresentada da
maneira mais interessante possível'.
É perfeitamente imaginável que uma 'evolução paralela à história
da humanidade' em outro planeta poderia ser mais adiantada, por
* Tradução cm português, Edições Melhoramentos.
* * Idem.
* * * Idem.
tantas e tantas vezes. Todavia, para as duas evoluções se
'encontrarem', seria preciso um acaso extraordinariamente feliz,
quase improvável, que viesse a 'sincronizar' a nossa evolução com a
dos nossos irmãos extraterrestres.
O já falecido astrofísico Heinrich Siedentopf condensou em padrão
filosófico a história do Cosmo, estimada em cinco bilhões de anos,
reduzindo para um ano só o tempo no qual tudo teria acontecido.
Conforme este padrão, nosso sistema solar teria ficado acabado no
mês de janeiro; em inícios de março teriam sido criados os
continentes e os mares da nossa Terra. Em meados do ano, ter-seiam originado as formas primitivas de vida, e em novembro, os
primeiros seres vivos, comprováveis em camadas geológicas. Pela
época do Natal, os saurios ficariam extintos. O homem teria
aparecido apenas em 31 de dezembro, uma hora antes do começo
do ano novo; o homem de Neandertal teria vivido dez minutos
antes das 24 horas. O espaço de tempo que costumamos considerar
'história' colocar-se-ia na segunda metade do último minuto e a
nossa era técnica, no último segundo de nosso ano-modelo. Por que
seres inteligentes extraterrestres não deveriam ter amadurecido
para o vôo espacial quase ao mesmo tempo? Para alcançar a Terra
na época de nossa vida, um OVNI deveria atravessar os abismos
das distâncias em anos-luz- e aparecer aqui em determinado décimo
de segundo. Aterrissagens ocorridas nas eras primitivas e préhistóricas, conforme Erich von Dániken pretende provar, deveriam
ter acontecido em 31 de dezembro, entre 23 h e 58 min e o último
instante antes de o relógio marcar o fim do ano. Se é que as
engrenagens deveriam engatar com tamanha precisão, o
'mecanismo da vida' deveria ser 'sincronizado' de maneira quase
inimaginável.
"Uma nave espacial apta a vencer distâncias interestelares deve ser
dotada de dimensões e mecanismos com os quais, até agora, o
homem ainda não se atreveu a sonhar. Uma nave espacial dessa
ordem ou teria descido na Lua morta ou entrado em órbita terrestre,
para então despachar naves menores, aptas a aterrissar. Essas naves
menores, uma espécie de táxis do espaço, poderiam ter descido em
diversos lugares; teoricamente, poder-se-ia cogitar de qualquer
ponto na Terra... Suponho que houve várias aterrissagens, a última
cerca de 3.500 anos a.C", escreveu-me Erich von Dàniken. Isto teria
acontecido 800 anos antes de ter sido construída a pirâmide de
Quéops.
Na redação da revista "Planète", em Paris, nos Campos Elisios,
Louis Pauwels me falou de maneira menos precisa: "Acreditamos
que houve alguma coisa antes da época dos sumérios, 10.000 a
20.000 anos atrás". No que se refere à questão dos 'indícios', Pauwels
mostrou-se mais céptico do que Dãniken: "Acho pouco provável a
obtenção de provas concretas mediante a procura de restos
arqueológicos; aí seria preferível aplicar a análise sistemática de
mitos e lendas dos povos primitivos".
***
Será que o Gênese forneceria alguns indícios? Nos textos antigos
não existem passagens que lembram depoimentos de testemunhas
oculares de uma era técnica? Todavia, poderiam ser interpretadas
ao pé da letra? A fantasia humana é inesgotável, mormente quando
tenta interpretar o céu estrelado como domicílio dos deuses. Os
poetas da Antiguidade costumavam considerar a Via-Láctea como a
estrada de honra, onde moram os imortais. Uma lenda grega diz
que a Via-Láctea surgiu quando Zeus colocou nos seios de sua
esposa Hera, então dormindo, Héracles, filho de Zeus e Alquemene;
o menino sorveu o leite divino com tamanha força que este se
espalhou por todo o firmamento. Conforme se vê, a fantasia do
homem cria imagens grandiosas; ela não está condicionada pela
realidade.
Pela' força dialética dos profetas bíblicos, a autoridade divina
comandava o raio e o trovão. Em seus relatos poderíamos 'reconhecer' os rios de fogo e o 'trovejar' de um foguete Saturno. Todavia, a fantasia nem precisava inspirar-se com os progressos de uma
técnica antiga; o mais provável é que a técnica teria alcançado a
fantasia dos profetas.
Contudo, Dániken não considera mitos e lendas como única fonte
de referência. É certo que cita passagens do Gênese e dos mitos; no
entanto, ele bem sabe que toda prova tirada dali estaria totalmente
em mãos dos cientistas especializados e que não poderia captar a
atenção do seu público leitor com a mera interpretação de textos
antigos, mas sim, que deve apresentar material mais convincente.
A imagem é mais antiga do que a escritura. Não foi Henri Lhote,
colaborador do Musée de l'Homme, em Paris, quem encontrou
pinturas rupestres bastante esquisitas nos montes do Tassili? Datam
da época em que o deserto do Saara ainda era fértil, uns 8.000 anos
atrás. Homenzinhos dançam em volta de gigantes com cabeça
redonda, o maior dos quais possui ainda um dedão adicional. O
próprio Lhote chamou um desses gigantes de 'grande deus
marciano'; ele parece usar um capacete de astronauta. Como é
surpreendente a semelhança de tais imagens pré-históricas com a
técnica atual !
De fato, essas imagens são surpreendentes, no entanto, em sentido
inverso. Acho eu que seria a coisa menos provável neste mundo que
esses 'astronautas', que em eras primitivas venceram distâncias de
anos-luz, se parecessem com os tripulantes dos vôos espaciais da
atualidade. O deus dos índios maias, no Templo das Inscrições, em
Palenque, bem podia ser visto como astronauta de nossos dias, mas,
melhor ainda, como piloto de provas em uma motocicleta, com o pé
no pedal e os instrumentos de controle em sua frente. É pouco
provável que o astronauta de uma civilização bem mais adiantada
do que a nossa usasse equipamento parecido com o usado por Neil
Armstrong; a sua aparência deveria ter sido bastante diferente.
Outrossim, a explicação dos arqueólogos de que o deus maia estaria
realizando um culto continua igualmente crível, mesmo nessa
formulação bastante vaga.
Por fim, o assunto dos seres inteligentes de outros planetas levanta
a indagação sobre a origem do homem, ponto central em nosso
autoconceito; para o crente comum constitui o ápice do Gênese,
para a ciência, desde Darwin, o passo final da evolução. "O conceito
de que muitos dos seres vivos que hoje habitam o nosso planeta não
foram criados, em sua forma atual, em um só ato de criação, mas
representam o resultado de uma evolução histórica, em nada deve
ferir o orgulho humano, pois de maneira alguma toca na posição
privilegiada ocupada pelo homem; pelo contrário, lhe garante
explicitamente sua condição de ponto culminante da chamada
pirâmide da vida", é o que diz Konrad Lorenz, pesquisador de
comportamento.
O livro de Darwin "A Origem das Espécies" (publicado em
novembro de 1859) teve o efeito de um choque nos homens da
época, comparável ao produzido pelos conceitos introduzidos por
Copérnico. Uma frase cautelosa de Darwin a respeito da origem do
homem logo mais foi interpretada como 'afirmação descarada de
que o homem descende do macaco'. Ernst Haeckel, o primeiro na
Alemanha a defender a teoria da evolução, deu as seguintes
explicações, em 1863: "Por tudo que sabemos dos tempos mais
primitivos da existência do homem na Terra, assiste-nos o direito de
supor que o homem não brotou da cabeça de Júpiter como uma
Minerva armada, nem saiu da mão do Criador como Adão, livre de
pecados, mas que evoluiu em ritmo muito lento e sucessivo,
passando de um estado de brutalidade animalesca para os
primeiros inícios de cultura".
Hoje em dia, achamos até engraçada a revolta dos nossos tetravôs e
não consideramos mais como ofensa à nossa honra a hipótese de o
homem ter antepassados parecidos com macacos. Deixa mos que o
Em cima: os "canais" de Marte, conforme observados por seu "descobridor"
Schiaparelli, em 4 de junho de 1888. Embaixo: um bloco estrutural do portador dos
dados genéticos (traços hereditários), um gene individual, visto com um
microscópio eletrônico, capaz de ampliá-lo 79.300 vezes. Cientistas da
rnivcrsidade de Harvard lograram a produção sintética do gene.
À esquerda: O editor assistindoa
filmagens na plataforma do
templo da Estrela d’Alva em
Tula, no México. Supõe-se que
os “atlantes”
superdimensionais fossem
imagens de “Deus Branco”,
Quatzalcoatl.
Embaixo: Ernest Von Khuon
com os cameramen do
Sudwestfunk” (Rádio Sudoeste
da Repúblicva Federal da
Alemanha) em Stonehenge (
Inglaterra). O santuário, de
quase 4.000 anos, serviu de
observatório na Idade da
Pedra; segundo resultados das
pesquisas obtidos por G. S.
Hawkins, era um centro de
cálculos astronômicos para a
previsão de eclipses do Sol e da Lua.
A célebre Porta do Sol de Tiahuanaco, em desenhos feitos em 1920 pelo arquiteto
alemão Martin Spring. Tiahuanaco situa-sena proximidade do Lago Titicaca, em
território boliviano
A Porta do Sol é de uma só pedra: continua enigmático o significado das figuras
no relevo.
macaco continue como nosso 'primo retardado'. O título de um livro
"The Naked Ape" (O Macaco Nu) (refere-se ao homem) não
constitui mais provocação alguma, mas antes é considerado como
piada. É muito mais difícil compreender que toda vida provém, em
última análise, de uma 'bolinha' de gelatina (de fato, consiste nas
matérias-primas
chamadas
metano,
amoníaco
e
água,
representando a albumina uma mistura de aminoácidos); e que os
seres vivos, inclusive o homem, evoluíram de organismos
unicelulares, como a ameba, do que admitir o nosso 'parentesco com
os macacos'. A descendência da ameba só seria imaginável se, ao
mesmo tempo, fosse possível imaginar os enormes espaços de
tempo durante os quais a natureza teria completado sua obra.
Os primeiros passos da matéria primitiva para os aminoácidos
foram retraçados por Stanley Miller, em sua aparelhagem de vidro,
que conseguiu também a combinação dos aminoácidos para
moléculas maiores, parecidas com albumina. No entanto, mesmo
assim estamos longe de produzir uma célula, e mais longe ainda de
criar na retorta um ser vivo ou até um homúnculo.
Todavia, não importa quão longo for o caminho, os bioquímicos
avançam passo a passo. Em 1953, o americano James D. Watson e o
inglês Francis H. O. Crick, ambos Prêmio Nobel de 1962, decifraram
em Cambridge um dos maiores enigmas da vida: a composição da
substância portadora de todos os fatores hereditários e responsável
pela evolução das células: a espiral dupla do ADN (ácido
desoxirribonucléico). Esta obra-prima de detetive foi descrita de
maneira temperamental e com fino humor por Watson, em "The
Double Helix" (A Hélice Dupla), que merecidamente se tornou um
best-seller.
Em 1970, o cientista hindu H. Gobind Khorana (Prêmio Nobel de
1968), no laboratório da Universidade de Wisconsin, conseguiu a
produção de um gene, partícula material do cromossomo que
encerra os caracteres hereditários. Parece uma manipulação
fantástica, considerando o tamanho minúsculo desta criação: os
fatores genéticos de toda uma humanidade caberiam dentro de uma
bolinha, pouco maior que uma cabeça de alfinete. No mesmo ano de
1970, Gerald Weissmann e Grazia Sessa produziram em Nova York
componentes básicos para a construção celular, os chamados
lisossomos, executando funções de metabolismo.
***
Quanto tempo decorrerá ainda até que formações celulares completas, tais como glóbulos vermelhos, saiam do laboratório? Já não
se pode prever a época em que o código genético poderá ser
manipulado?
Faz tempo que o homem auto-afirmado do século XX deixou de
acreditar na poesia dos Seis Dias da Criação. Os conceitos e
perspectivas da teoria da origem do gênero humano são aceitos,
quando o são, de coração hesitante e com reservas. A especulação
atual, sobre a idéia de seres inteligentes e superiores terem vindo do
Cosmo para elevar o homem a uma fase decisiva, poderia parecer
como se oferecesse a solução do grande enigma de nossa origem.
Todavia, não seria uma solução definitiva. A pergunta sobre como a
natureza gerou o homem, que se considera coroa da criação, ficaria
assim apenas transferida da Terra para outro planeta distante.
Mesmo que lá houvesse, em relação a nós, um adiantamento
evolutivo de alguns milhões de anos, isto em nada tornaria mais
plausível a pergunta eterna.
Herbert Kuehn, professor emérito de Arqueologia Pré-Histó-rica na
Universidade de Mainz, salienta o fato de até agora não ter
encontrado indício algum da interferência de seres inteligentes
extraterrestres: "Dispomos de todos os detalhes das épocas de transição, que levaram do uso das ferramentas na era do gelo para as
cerâmicas na era da pedra, para os implementos de bronze, para
formas sempre mais evoluídas. Em parte alguma notamos solução
de continuidade". A respeito dos livros de Dániken, Herbert Kuehn
escreveu: "Como neste século os progressos científicos têm sido tão
grandes, para muitas pessoas a ciência tomou o lugar da religião.
Quando, então, aparece alguém que, dentro da ciência, ou sob seu
manto, diz: 'Posso explicar por que e como o homem veio de outras
estrelas', é bem compreensível que sua palavra seja aceita".
***
É justamente isso o que Dániken reclama apaixonadamente em seus
livros: que a ciência se ocupe de suas hipóteses. Eis o seu desafio aos
cientistas especializados. Durante bom tempo, os especialistas não
pareciam tomar conhecimento delas. De fato, não era tão fácil fazer
com que os homens da ciência tomassem conhecimento do desafio
de Dániken e concordassem em colaborar neste livro, cujo fim
exclusivo é debater suas teses audaciosas. Está sendo publicado pela
mesma editora, a Econ, que lançou os best-sellers de Dãniken, visto
sentir-se ela na obrigação de continuar no debate global dos
cientistas. Neste livro estão reunidos os pareceres e opiniões de
dezesseis cientistas, apresentados de maneira ponderada,
temperamental, sóbria, belicosa, conforme a índole e vocação de
cada autor. Para alguns, as idéias de Dãniken são admissíveis, para
outros não; todavia, a sua causa não está mais sendo silenciada.
Quem entre seus adeptos contou com um "não" simples e puro,
deverá corrigir seu pensamento. Em muitos casos, as respostas
saíram diferentes daquilo que se esperava. Tais surpresas constituem as passagens mais interessantes deste livro. Dãniken até
encontrou entre os cientistas quem lhe desse apoio e quebrasse uma
lança por ele, apesar, ou por causa, dos colegas que deverão
levantar as sobrancelhas ao ler-nos.
O fato de as idéias de Dãniken serem criticadas não deverá
constituir surpresa para ninguém. No trabalho científico é de praxe
por em dúvida quaisquer resultados obtidos. O cientista está
acostumado a debates, enfrentando argumentos em contrário.
Quem entre os adeptos de Dãniken não admitir crítica do autor, tão
veementemente contestado, quem não admitir argumentação em
contrário deixa de ser objetivo. Ele prefere crer, sem saber. Sem
sabê-lo, talvez já se incorporou a alguma seita de intolerantes, que
nada põem em estudo e só querem fazer prosélitos. Neste livro,
tanto encontrará motivo de aborrecimento como de satisfação.
Conforme falou o escritor Wilhelm Roggersdorl: "Com esses seus
'argumentos para o impossível' Dãniken mergulhou, de cabeça pra
baixo, no fundo de uma lagoa, a fim de apanhar todos os peixes
pelo rabo". Será que apanhou alguns, ou, pelo menos, um peixe
grande? O seu mergulho na lagoa pode ter sido temerário; seu
propósito de apanhar todos os peixes ao mesmo tempo, não foi
realista. Contudo, o público leitor correu para a beira da lagoa, a fim
de verificar se estava ele sendo bem sucedido e certo de que Erich
von Dãniken era homem disposto a tudo, em defesa dos seus
conceitos. Este livro mostra agora como aqueles surpreendentes
peixes sabem esquivar-se das mãos do pescador. Aqueles entre os
espectadores que desejem assistir ao desenrolar do espetáculo vão
aprender muita coisa a respeito de peixes e pesca; possivelmente
voltarão por mais algumas vezes à lagoa, depois de a multidão terse retirado, para observar os pacientes pescadores (cientistas).
Neste livro, o posfácio ficou reservado ao próprio Dãniken, pois é
conforme seu temperamento o responder imediatamente.
Wilhelm Roggersdorf e Peter Rocholl são os autores de "A Vida
Singular de Erich von Dãniken" (Das seltsame Leben des Erich von
Dãniken, Econ Verlag, 1970), a história extraordinária do sucesso
incomum de um homem que não pode ser julgado pelos padrões
convencionais.
Dãniken pretende — assim anunciou ele — escrever mais outro
livro. Algumas de suas posições serão defendidas, fortalecidas com
nova argumentação. Pelo que se saiba, Dãniken não tenciona
capitular.
CAPÍTULO I
Foi a Nossa Terra Visitada por Astronautas
Alienígenas?
Por Ernst Stuhlinger, Huntsville, E.U.A.
NOSSA VIA-LÁCTEA COMPÕE-SE de cem bilhões de estrelas; o
Universo possui uns mil bilhões de galáxias semelhantes à ViaLáctea. Supõe-se que mais da metade de todas as estrelas tem em
sua órbita um ou mais planetas. Suponhamos que cada milésimo
planeta, em virtude de suas adequadas dimensões e distância da
sua estrela central, possuísse condições ambientais que, a exemplo
das de nossa Terra, permitissem a existência de vida, chegaríamos a
quase cem bilhões de bilhões de planetas no Universo, nos quais, ao
menos teoricamente, a vida poderia originar-se. Em nossos sistemas
de galáxias poderíamos então esperar mais de cem milhões de
planetas, em condições de abrigar vida semelhante à da nossa Terra.
Nenhum dos nossos planetas solares, com exceção da Terra, oferece
condições para a evolução superior da vida. Provavelmente, em
Marte existiria vida em suas formas mais primitivas e bastante
especializadas; talvez ainda em determinadas regiões da atmosfera
de Vénus e Júpiter.
Umas vinte estrelas fixas encontram-se a uma distância de dez anosluz do nosso sistema solar, 10.000 estrelas a uma distância de cem
anos-luz e vários milhões de estrelas a uma distância de mil anosluz. O diâmetro do nosso sistema é de 80.000 anos-luz, a distância
para a galáxia mais próxima, a nebulosa espiral M31 na constelação
de Andrômeda, mede uns 2,5 milhões de anos-luz.
É lícito supor que, em um perímetro de até 1.000 anos-luz, se
encontrem vários milhares de planetas com condições ambientais
que permitam a evolução de vida superior. No entanto, a distância
para o mais próximo desses planetas deveria medir cem anos-luz,
no mínimo. Todavia, não se pode excluir a possibilidade da
existência de condições ambientais favoráveis, inclusive em planetas mais próximos.
Será que formas superiores de vida chegaram a evoluir em outros
planetas? Ainda não o sabemos. Pelas observações feitas na Terra,
sabemos que organismos vivos, enquanto podem existir,
aproveitam toda e qualquer oportunidade para evoluir, adaptar-se,
expandir-se e propagar-se. Quanto mais se estudar a vida na Terra,
quanto mais se pesquisarem as relações e funções de sistemas vivos,
tanto mais ficamos propensos a estabelecer uma regra empírica, a
saber: Quando houver as condições necessárias para a origem e a
evolução de organismos, estes de fato nascem e evoluem.
Em sua qualidade de corpo celeste, a Terra existe há quatro ou cinco
bilhões de anos. Provavelmente, há dois ou três bilhões de anos
atrás começou a evolução das primeiras moléculas de albumina
'vivas'; os primeiros organismos primitivos devem ter começado a
existir há um ou dois bilhões de anos atrás. Os fósseis mais antigos
de algas e outras formas primitivas de vida apresentam idade de
600 a 800 milhões de anos. Os primeiros vertebrados surgiram há
uns 400 milhões de anos atrás, os primeiros mamíferos, uns 150
milhões de anos. Presumivelmente, a história primitiva do homem
data de alguns milhões de anos atrás. A era do Homo sapiens iniciouse apenas há uns 50.000 anos atrás e, apenas há uns 200 anos atrás, a
espécie mais nova e influente, o Homo technicus, começou a interferir
decisivamente na formação do seu ambiente e de sua vida. Nos
últimos 60 anos, o homem obteve acesso a todas as partes do seu
planeta e, nos últimos dez anos, aprendeu a deixar a Terra e
levantar vôo para o corpo celeste mais próximo.
Representaria esta evolução a partir do 'caldo primitivo' até o Homo
technicus, avançando espaço adentro, acontecimento único no
Universo, ou será que uma evolução de grandeza similar chegou a
ocorrer também em outros planetas? No caso de haver evolução de
vida em outra parte do Cosmo, será que aconteceu de maneira
semelhante à registrada na Terra? Existe ou existiu em outros
planetas um Homo sapiens, capaz de usar ferramentas, desenvolver
máquinas e, por fim, empreender vôos espaciais?
Ainda não há resposta precisa para essas perguntas. Sabemos, a
grosso modo, como aos poucos a vida na Terra evoluiu e se
diferenciou. A teoria da descendência explica como a colaboração
entre as mutações hereditárias e a seleção na luta pela subsistência
provocaram a origem de novas faculdades e de novas espécies.
Começamos também a compreender como o esboço da constituição
de cada indivíduo ficou encerrado no ácido desoxirribonucléico
(ADN) dos genes e como as diretrizes para o crescimento de tecidos
e órgãos, bem como o regulamento para as funções vitais no
organismo estão sendo transmitidos por moléculas portadoras de
'mensagens', que estão sendo levadas pelas moléculas gigantes
ADN 'programadas' para os centros de ação e crescimento do
organismo.
Em vista de existir o esboço de constituição para o indivíduo,
haveria um padrão análogo, abrangendo os seres vivos, em sua
totalidade, que não chegaria a realizar-se no período de uma vida
individual, mas, aos poucos, no decorrer de toda a história da
evolução dos reinos vegetal e animal? Existiria nos genes tal esboço
de constituição, em forma condensada e armazenada, como um
código filogenético', em contrário ao código ontogenético, constituindo um código de supermoléculas programadas, e será que tal
esboço de constituição — se é que existe — vem sendo transmitido
de geração em geração? Não o sabemos.
No caso de haver vida em outros planetas, terá ela por base
essencial a combinação entre C, H, N e O, ou seja, carbônio,
hidrogênio, nitrogênio e oxigênio? Representaria a radiação solar a
fonte de energia primária e a oxidação de H e C a fonte de energia
secundária para a manutenção da vida e o desempenho de suas
funções? Constituiria a combinação entre 02 e O para C02 e a
decomposição de C02 em seus elementos, a base do metabolismo,
inclusive nas formas de vida extraterrestre? O papel desempenhado
pela água será de igual importância lá, como aqui na Terra?
Não o sabemos; todavia, pelos nossos conhecimentos da vida na
Terra temos condições de avançar uma série de hipóteses a respeito
das possibilidades de vida nos outros planetas. Além do vasto saber
individual sobre a constituição e função de organismos vivos, as
pesquisas científicas dos últimos séculos ensinaram-nos a compreender alguns princípios fundamentais, que parecem ser adotados pela natureza. Esses princípios ajudam-nos a avaliar a probabilidade e as formas possíveis da vida extraterrena. A nossa
experiência diz que a natureza está altamente empenhada em criar e
manter a vida. Onde quer que exista qualquer possibilidade para a
origem de novas formas vivas, tais formas penetram das zonas
vizinhas e tentam sua manutenção e multiplicação. No caso de
surgir perigo, organizam ações de resistência e dispositivos de
proteção. Praticamente, não se pode imaginar que em qualquer
ponto da nossa Terra surgisse um biótipo suscetível de vida que, no
decorrer do tempo, deixasse de ser invadido por organismos vivos,
provenientes da vizinhança. Esta tendência enorme dos organismos
vivos de mani£estar-se, desenvolver-se, adaptar-se e expandir-se,
tão logo houver as condições mínimas, levou-nos à suposição de,
provavelmente, existir vida em outros planetas e chegar ela a
evoluir em todo planeta, oferecendo os elementos químicos certos e
faixas de temperatura adequada. Nessas condições poderão as
espécies vegetais e animais chegar a evoluir como na Terra? —
Provavelmente. Poderia uma dessas espécies chegar a produzir
formas similares ao nosso homem terrestre? — Talvez. Será que os
homens 'extraterrenos' passariam em sua evolução por uma fase
técnica, semelhante à pela que nós passamos, nos últimos séculos?
— Possivelmente. No caso de haver um Homo sapiens em outros
planetas, decerto a sua técnica se baseia em leis fundamentais de
mecânica, óptica, termodinâmica, eletricidade, física nuclear e
relatividade, muito semelhantes às nossas e que, pelo que saibamos,
são válidas em sua essência para todo o Universo?
Empreenderiam os homens extraterrestres vôos espaciais? — Sem
dúvida; tão logo sejam suficientemente avançados na evolução
técnica. Poderiam outras civilizações — se é que existem — ser
adiantadas à nossa por muitos, talvez milhares ou milhões de anos?
— Sem dúvida. Se a fase primitiva, originária da evolução orgânica
na Terra, de dois a três bilhões de anos atrás, teria reduzido o seu
ritmo apenas em um por mil, estaríamos hoje na fase do prépitecantropo, forma muito rudimentar do homem primitivo. No
caso de seu ritmo ter sido acelerado por uma mínima fração,
provavelmente já estaríamos em condições de explorar os espaços
interestelares.
Poderiam seres de outros planetas ter visitado a nossa Terra? —
Talvez. Dispomos de indícios de tais visitas? — Até esta última
pergunta, o autor dos livros "Eram os Deuses Astronautas?" e "De
Volta às Estrelas", Erich von Dãniken, concorda em suas perguntas e
respostas com a grande maioria dos representantes modernos das
ciências naturais. No entanto, com ela os caminhos se dividem.
Dãniken responde com um 'sim' apaixonado. Cientistas, que em
suas especialidades conseguiram acumular vastos conhecimentos e
noções profundas, preferem responder: "No âmbito de minha
especialidade ainda não podemos oferecer provas convincentes, que
justificariam uma resposta afirmativa".
***
O autor dos dois livros supramencionados está profundamente
convencido de nossa Terra ter recebido, em eras remotíssimas, a
visita, ou provavelmente as visitas, de representantes de uma civilização extraterrena. A fim de provar sua tese, cita ele uma série de
textos antigos, como o Gilgamés, a Cabala, os Vedas, a Bíblia,
falando de seres sobrenaturais e seus veículos celestes, de fogo;
descreve ele antigos desenhos, cartas geográficas, demarcações e
pinturas rupestres, grandes bolas de pedra, ruínas de construções
gigantescas e as estátuas colossais na Ilha da Páscoa. E, por fim,
conclui que nem os relatos de divindades estranhas, descendo do
céu em veículos de fogo, nem as demarcações enormes no solo, no
Peru, nem os gigantes de pedra na Ilha da Páscoa seriam concebíveis sem a ação de seres inteligentes extraterrestres, que visitaram
nossa Terra de tempo em tempo. São eles os responsáveis pela
evolução gradativa das faculdades técnicas e até culturais do
homem. Chegaram mesmo a misturar-se com os habitantes da
Terra, e seus descendentes foram os pioneiros e portadores do
progresso técnico e cultural neste planeta.
O enorme sucesso de livraria dos dois livros atesta o grande
interesse de largos círculos nas indagações sobre a origem e a
evolução do homem. Indagações tão imediatas e óbvias que dispensam de toda formação científica quem as formular. Se um dia
forem encontradas as respostas, serão compreendidas com igual
facilidade pelas mais amplas camadas de nossa sociedade. No
entanto, para achá-las e comprová-las devidamente é preciso
desenvolver um trabalho extremamente complexo, profundo, sóbrio
e paciente, que provavelmente só poderá ser terminado por
gerações futuras. Requer esse trabalho contribuições por parte da
Geologia, Paleontologia, Astronomia, Física, Biologia, Arqueologia,
Filosofia, Medicina, Etnologia, Filologia, Psicologia e Teologia.
Quase não há ramo de atividade intelectual cuja colaboração
poderia ser dispensada na solução do magno problema da origem e
evolução da humanidade. Os resultados até agora obtidos com
pesquisas referentes enchem um sem-número de volumes. A
hipótese de Darwin sobre a evolução por mutação e seleção provou
ser altamente proveitosa para nossa compreensão dos nexos
existentes na história da evolução. Achados de fósseis, experiências
com a criação de determinadas espécies e pesquisas referentes à
hereditariedade proporcionaram vastos conhecimentos sobre as leis
do desenvolvimento biológico, bem como sobre as tendências, em
sentido mais amplo, demonstradas pela natureza na formação de
suas criaturas. O trabalho dos arqueólogos, pesquisando culturas
primitivas, foi igualmente bem sucedido. A história turbulenta de
Tróia ou das dinastias do antigo Egito são exemplos
impressionantes da expansão dos nossos conhecimentos sobre a
evolução precoce da civilização humana.
Ainda continuamos longe de poder formar uma idéia nítida e
precisa no que se refere apenas aos últimos quatro milênios de
nossa civilização. Épocas houve, decerto, nas quais a atividade
humana era intensa: no entanto, praticamente nada sabemos a
respeito. Contudo, existem igualmente provas impressionantes da
atividade humana, cujo significado e origem não temos condições
de compreender, como por exemplo, as gigantescas demarcações no
solo no Peru, ou as estátuas colossais na Ilha da Páscoa, ou os
relatos dos veículos celestes, de fogo, nas antigas epopéias, ou na
história de Sodoma e Gomorra. Aqui, Erich von Dániken oferece
pronta solução: "deuses" estranhos, astronautas de outros planetas,
visitaram a Terra; em veículos de fogo desceram para os homens,
foram os escultores das cabeças na Ilha da Páscoa, para eles foram
feitas as demarcações no solo do deserto peruano, eles fizeram
explodir a bomba atômica de Sodoma e Gomorra. Talvez, por
ocasião de visita anterior, até criaram Eva, como homunculus, na
retorta, fazendo com que Adão fornecesse o caldo de culturas, em
forma de uma costela.
Até agora não chegaram os cientistas a tais conclusões. Por isto,
Dãniken reprova à ciência sua pouca elasticidade, falta de audácia,
atitude superconvencional e adesão a padrões filosóficos superados.
No entanto, 'a ciência' não representa um grupo fechado de pessoas
que planeja e executa, em perfeita concordância e harmonia,
determinado programa de trabalho, dentro de conceitos bem
definidos e concordantes e, por tudo isto, não deve ser reprovada
ou elogiada. Constitui ela uma atividade humana cuja meta é
acumular conhecimentos em todos os campos dignos de serem
conhecidos. Ela apenas reconhece conceitos passíveis de crítica
objetiva e construtiva. O implemento em comum de todo trabalho
científico é a lógica. Novas teses científicas surgem, quando ilações
lógicas tornam seu pronunciamento obrigatório ou possível. Quanta
margem para o livre pensamento criativo, a audácia e a coragem
individual é oferecida pelo verdadeiro trabalho científico, ficou
comprovado pelos exemplos de Copérnico, Newton, Darwin,
Planck e Einstein. Suas teses se originaram como frutos de
argumentos lógicos e convincentes. Como todo cientista verdadeiro,
não tiveram eles dúvida em se expor à crítica e aceitar o debate, no
intuito de prosseguir no estudo até que a pureza lógica e a ausência
de contradição íntima em suas novas teses fossem reconhecidas por
todos os homens de boa vontade.
Com Dániken, o caso é diferente. A possibilidade de a Terra ter
recebido, no passado, a visita de inteligências estranhas foi
freqüentemente debatida nestas últimas décadas. Hoje em dia, vem
ela sendo largamente admitida. No entanto, Dãniken faz do
possível uma certeza. Os argumentos que usa para comprovar suas
teses não convencem. Ele deveria compreender que o seu adversário não é a ciência, mas sim, a lógica. A pesquisa lógica não pode
ser substituída pela afirmação ilógica. Desde os primórdios da
civilização terrestre, a lógica foi o guia mais seguro do pensamento
humano. E também nas indagações sobre a origem e evolução da
humanidade, deve ela desempenhar seu papel decisivo.
Poderão os relatos de 'deuses estranhos', vindos à Terra em veículos
de fogo e deixando-a da mesma maneira, ser considerados como
provas de visitas de astronautas extraterrenos? Conhecemos relatos
desta espécie por intermédio dos mais diversos textos e tradições
antigos. No entanto, cumpre proceder com muita cautela na
interpretação de tais relatos. Sem dúvida, em todos os tempos os
homens sonharam com imagens de seres divinos, que lhes seriam
superiores em força, saber, sabedoria e perfeição, em poder e
potência e que desconheceriam todas as limitações impostas às
criaturas terrestres. Onde moram esses seres sobrenaturais? — Não
na Terra, mas sim no espaço infinito do céu. Como vieram em visita
à Terra? — Nem a pé, nem a cavalo, mas em fantásticas carruagens
celestes. — Qual a força que moveu sua carruagem? — Nem o
vento, nem a força muscular, mas a energia enigmática e sagrada do
fogo. Essas ilações são tão simples e óbvias que poderiam ser
geradas pela fantasia, mesmo sem qualquer visita verdadeira de
seres sobrenaturais a nosso planeta, e poderiam, decerto, ter surgido
em várias épocas e diversos lugares. Em nossa infância, muito antes
de termos ouvido falar em Ezequiel ou Gilgamés, não sonhamos
todos nós com seres fabulosos descendo do céu em uma carruagem
de fogo? A reserva demonstrada pela ciência em reconhecer antigos
relatos de veículos de fogo como prova da visita de inteligências
extraterrestres não reflete falta de audácia por parte dos cientistas,
mas sim, o fato de os relatos não convencerem logicamente.
***
Como se apresentaria a possibilidade de uma visita de seres
inteligentes extra terrenos, sob o ângulo do atual progresso terrestre
na exploração espacial?
Em vista do e após o bom êxito das missões Apolo para a Lua, a
exequibilidade de vôos interplanetares pode ser admitida, em
princípio. É de esperar-se que, antes do término do século XX, naves
espaciais tripuladas chegarão a Marte e executarão vôos de
reconhecimento em vastas áreas do sistema planetário. Tais naves
espaciais deverão ser acionadas por agentes químicos, nucleares e
elétricos.
Todavia, esses sistemas de propulsão praticamente não nos permitiriam alcançar a Alfa do Centauro, estrela fixa mais próxima da
Terra. Mesmo se chegassem a ser resolvidos os problemas técnicos,
representados pelas distâncias imensas e a duração prolongada do
funcionamento do sistema de propulsão, haveria ainda o limite
imposto pelo prazo normal de uma vida humana. Mesmo com
propulsão nuclear-elétrica de técnica avançadíssima um vôo de ida
e volta para a Alfa do Centauro levaria uns 600 anos, considerando
que a distância dessa estrela ao nosso sistema solar é de 4,3 anosluz.
Supondo que tivéssemos um motor de fusão para o foguete, apto a
transformar a energia de fusão do núcleo de hidrogênio em impulso
controlável para o foguete e a transformação da energia trabalhasse
sem perda para esse impulso, a viagem de ida e volta à Alfa do
Centauro levaria cem anos. A potência total da nave espacial ao
vencer a órbita terrestre seria de, aproximadamente, um milhão de
toneladas. Vôos para estrelas fixas mais distantes levariam mais
tempo e maior força de arranque.
Teoricamente, a fonte de energia de maior rendimento imaginável é
a transformação da matéria em energia, segundo a fórmula de
Einstein E = m c'-'. Se fosse possível conseguir uma fonte de energia
nesta base e aplicá-la a bordo de uma nave espacial, poder-se-ia
acionar ou um 'foguete de conversão', ou um 'foguete de fótons'. O
foguete de conversão emite partículas de energia com altíssima
velocidade de irradiação; o foguete de fótons emite fótons, ou seja,
raios de luz. Supondo-se o efeito de quase 100% na transformação
da matéria em energia e da energia em impulso, ambos os tipos são
de capacidade similar. Um vôo de ida e volta para a Alfa do
Centauro com um foguete de difusão levaria então uns 25 anos e
requereria a força de propulsão de um milhão de toneladas. Uma
estrela distante cem anos-luz poderia ser alcançada com um foguete
de difusão em uns 150 anos e uma estrela distante 1.000 anos-luz,
em uns 1.200 anos.
Quando um astronauta viaja com sua nave espacial em direção à
Terra, desenvolvendo determinada velocidade, o tempo no interior
da nave passa em ritmo diferente do tempo na Terra. A teoria da
relatividade ensina que o astronauta envelhece mais devagar do que
seus colegas e parentes que ficam em Terra. Com velocidade de 200
km por seg, o astronauta envelhece 1 /400% mais devagar do que os
habitantes da Terra; ao desenvolver velocidade de 298,500 km/seg,
ou seja, 99,5% da velocidade da luz, o seu envelhecimento é
retardado pelo fator dez, em relação ao dos seus colegas em Terra.
Este conhecido efeito da dilatação do tempo poderia permitir a um
grupo de astronautas sobreviver em viagens espaciais prolongadas.
Todavia, deve ser lembrado que um atraso substancial no tempo,
em relação ao planeta de saída, somente é possível quando as
velocidades de vôo se aproximam das da luz. Um foguete de
difusão atingiria também tão elevada velocidade de vôo somente no
caso de a transformação da matéria em energia cinética, do raio do
foguete, realizar-se em altíssimo grau de efeito total e quando, ao
mesmo tempo, fosse muito pouca a parcela da matéria 'morta' do
sistema de transformação de energia, a qual não poderia ser
convertida em força de propulsão. Mesmo se resolvidos todos esses
problemas fundamentais de ordem física e técnica e se os
astronautas estivessem dispostos a empreender um vôo espacial
com dilatação de tempo relativista, usando uma nave com foguete
de difusão, deveriam enfrentar a contingência de, em sua volta, não
encontrarem mais amigo ou parente algum, mas apenas gerações
posteriores; pois a dilatação relativista do tempo só vale para o
interior da nave espacial, em viagem para seu planeta natal,
inicialmente com velocidade acelerada e depois com velocidade
elevadíssima, mas não vale para os que lá ficaram.
Vamos supor que inteligências extraterrestres tivessem resolvido
todos os problemas técnicos dos vôos interestelares e que, de fato,
seus astronautas chegaram à Terra, muito tempo atrás, após uma
viagem que os levou por vários, talvez até centenas ou milhares de
anos-luz, através da Via-Láctea. Suponhamos que entraram em
órbita terrestre, aterrissaram bem e, depois de algum tempo, voltaram para seu planeta de origem. Neste caso, o seu progresso
técnico deveria ter sido muito, mas muito superior ao nosso, nos
dias de hoje. Seria lícito acreditar que astronautas de progresso
técnico tão avançado iriam necessitar para sua aterrissagem de
demarcações no solo, tão enigmáticas como as existentes no deserto
peruano de Nazca? Seria possível que esses astronautas
extraterrenos teriam aproveitado sua visita à Terra para fazerem
esculturas em pedras, como as que existem na Ilha da Páscoa? Ou
para produzirem Eva na retorta?
***
Em vista dos vôos lunares bem sucedidos, estamos hoje dispostos a
considerar como possíveis, em princípio, os vôos interestelares,
supondo que sejam resolvidos numerosos problemas técnicos de
dificílima solução. Também estamos propensos a admitir a possibilidade da existência de vida em outros planetas. Não está fora de
cogitação que inteligências extraterrestres tivessem visitado a Terra.
Todavia, seria de supor-se que tais astronautas deixaram sua
assinatura no livro de hóspedes da Terra de forma diferente
daquela que Erich von Dâniken gosta de considerar como válida. É
absolutamente certa a sua observação de não termos condições para
compreender muitos dos fenômenos verificados; no entanto, sua
conclusão de apenas poderem ser explicados com a visita de
astronautas estranhos, carece de lógica e não convence. O aparecimento de novas faculdades durante a evolução do homem não é
prova da visita de inteligências de fora; outrossim, as gerações
futuras deveriam supor que foram 'deuses estranhos' a ensinarem
ao homem do século XX suas noções de energia atômica, radar,
técnica do raio Laser e, também, o vôo à Lua.
"Não podemos explicar isto, portanto, inteligências estranhas
devem ter visitado a Terra...", em absoluto deixa de ser conclusão
lógica e convincente. Seria o caso de lembrar ao autor uma de suas
próprias frases: "Não se podem simplificar as coisas desta maneira"!
Mas Dániken prefere crer, sem saber. Para a fé o caminho é curto e
fácil; para o saber, é longo e penoso. Por isto, Dãniken encontrou
grande número de adeptos entre aqueles que, apesar de terem real
interesse na história da humanidade, talvez ainda esperam
encontrar um 'caminho para o rei da matemática'. A todos eles
deveriam ser destinadas as palavras: nossa Terra, nossa vida, nossa
história continuam repletas de enigmas e mistérios; trabalhar em
prol do seu desvendamento é talvez a tarefa mais nobre entre todas
que se oferecem ao homem. De geração em geração, a Natureza
permite-nos um olhar mais profundo em seus mistérios; em cada
década que passa, torna-se ela mais inteligível ao homem. Chegará
talvez o dia em que saberemos da existência, em outros planetas, de
'homens' que vieram visitar a Terra em tempos remotos. Talvez nos
visitarão no futuro. Talvez, um dia, chegaremos a voar para outros
planetas. Todavia, não sabemos quantas gerações passarão pela
Terra até esse dia chegar.
CAPÍTULO II
Inteligências em Estrelas Distantes
O sonho de Dãniken e a realidade das chances
biológico-evolutivas para inteligências
extraterrestres
Por Joachim Illies, Schlitz
SERIA UM TANTO MAÇANTE OU, decerto, decepcionante um romance
acerca do futuro, tendo por enredo um planeta longínquo, situado
em uma Via-Láctea desconhecida, falando apenas em formas
inferiores de vida, tais como medusas e vermes marinhos,
vertebrados desprovidos de qualquer inteligência, quando em terra
firme, ou apenas de vegetais mudos, crescendo silenciosa e pacientemente. Isto poderia ser interessante para um biólogo e oferecer
alguma sensação para os jardins zoológicos de nossa Terra — mas
será que justificaria o vôo temerário dos astronautas, a percorrer em
espaços imensos, em velocidade quase a da luz, talvez também em
estado de hibernação ou de sono permanente? Não. Para que todos
esses esforços valessem a pena, então tal estrela distante deveria
estar repleta de tesouros imensos — a exemplo dos esconderijos de
ladrões dos antigos contos de fada, onde o felizardo que neles
penetrou encheu os bolsos de ouro e diamantes — ou então lá
deveriam existir seres inteligentes, homens ou seres com os quais,
não obstante sua aparência, os filhos da Terra pudessem entrar em
contacto inteligente e estabelecer entendimentos. E tais entendimentos não deveriam ser em nível inferior, igual aos mantidos
pelos missionários com os indígenas. Não; tais inteligências estranhas deveriam ser muito superiores a nós, pois, em absoluto, não se
justificaria tal viagem para encontrar seres de raciocínio inferior,
mas somente indivíduos de razão muito elevada. É só deles que nos
ocupamos em nossos sonhos, extravasados nos romances de
antecipação do futuro.
No fundo, continua vivo o eternamente imutável, antiquíssimo
sonho de Jacó, com o céu se abrindo e inteligências superiores
estranhas, então chamadas de anjos, descendo para a sua presença.
Esse velho sonho subsiste em apresentação moderna, talvez até
atualizado, na história em quadrinhos de Barbarella. Estimulava
nossos pais no livro "Em Dois Planetas", romance de Lasswitz, descrevendo o encontro dos homens com os marcianos bondosos, inteligentes e muito superiores a nós e continua proliferando em nossa
geração, em uma inflação de ficção científica, no cinema e nas
revistinhas baratas. Ali, em toda parte, há heróis grandes, poderosos, até imortais e imateriais, ao lado de vilões espertos, personificados por pequenas criaturas verdes ou nuvens enormes, carregadas de eléctrons; contudo, trata-se sempre da existência de seres
inteligentes. Essa literatura não teria aceitação universal tão grande
se não viesse a satisfazer uma necessidade do homem moderno.
Portanto, as nossas buscas no Universo não se destinam a localizar
possíveis alunos, a exemplo dos missionários na Terra, mas
encontrar possíveis mestres, a transmitir-nos sua civilização superior. Este fato não deixa de ser motivo de alegria, pois atesta nossa
humildade de espírito; ademais tem sentido econômico, representa
uma idéia sensata. Os norte-americanos não demoraram em fazer
seus cálculos e chegaram ao resultado de aplicar investimento bem
menor para os homens da Terra simplesmente esperarem receber
sinais de seres estranhos e mais inteligentes, do que para nós
mesmos emitir sinais de rádio no Cosmo, com a tênue esperança de
lá serem recebidos por alguém. Assim acontece que, há mais de dez
anos, existem na Universidade Cornell, nos E.U.A., laboratórios
especializados, pesquisando sinais e mensagens que, porventura,
poderiam ser transmitidos por uma civilização superior e mais
comunicativa do que a nossa, domiciliada nas profundezas do
Universo.
Recentemente, por ocasião da descoberta dos pulsares, durante
algumas semanas turbulentas, parecia que sinais inteligentes teriam
sido recebidos. Entrementes, nada mais se falou dessas
transmissões; sabemos apenas que encontraram explicação astrofísica as radiações que nos chegam em forma de código Morse, com
incrível regularidade, emitidas pela matéria das próprias estrelas e
que nada têm a ver com seres vivos ou suas manifestações.
Todavia, admitindo a existência de criaturas fora da galáxia
_ pois não se pode esperar por algo que se considere impossível _ a
elas deveriam ser concedidas muitas vantagens, proscritas a nós,
visto que podemos imaginá-las como inteligências infinitamente
superiores à nossa, em grau a ser livremente estabelecido pela
opção de cada um de nós. Uma dessas vantagens seria talvez a do
seu enorme avanço nos vôos espaciais e, conseqüentemente, sua
possibilidade de visitar-nos. Isto não precisa acontecer amanhã, ou
em futuro remoto, mas sim, poderia ter acontecido centenas ou
milhares de anos atrás.
O quanto propensa está a humanidade atual a admitir tais
hipóteses, ou melhor, quão ávida está para aceitar o menor e mais
débil indício nessa direção, ficou comprovado pela psicose dos
discos voadores, observados em toda parte do globo. Prova ainda
maior constitui o êxito aventuroso dos livros de Erich von Dãniken,
um aglomerado de fatos duvidosos, em grande parte incontroláveis,
suposições e algumas citações históricas, apresentados à guisa de
prova da tese de nossa Terra ter sido visitada, há mais de 10.000
anos atrás, por astronautas de inteligência superior. Segundo
Dãniken, até o profeta Ezequiel vale para provar a contagem
regressiva de tal lançamento de foguete, em tempos remotos. Em
face dessa fome geral e global por revelações e pronunciamentos
dessa natureza, a ciência só pode verificar, consternada, quanta
ânsia de mensagens de salvação fica escondida debaixo das
aparências de sobriedade e objetividade de nossa época. Deve ser
uma necessidade fundamental do homem, essa de sentir-se
protegido pela sabedoria infinita de inteligências superiores. Aquilo
que sonhamos para nossos filhos, sob a forma de anjos da guarda,
deveria proteger-nos também das grandes catástrofes: inteligências
poderosas, superiores a nós, vieram em nosso auxílio e tornarão a
vir, na hora do maior perigo. A manifestação de tais expectativas é
tão violenta que só nos resta constatar: o que vale não é apenas a
antiga e sábia lógica de Morgen-stern: NÃO PODE SER O QUE
NÃO DEVE SER, mas igualmente o seu contrário: O QUE DEVE
SER TAMBÉM PODE SER!
Neste sentido, milhões de leitores estão agradecidos a Dãniken pelo
fato de adotar em suas exposições uma linha, antigamente
ridicularizada com sarcasmo por um sábio inglês: Meus senhores,
estas são as opiniões nas quais baseei meus fatos Decerto, tal
manifestação de autoconfiança deve impressionar a todos e chega
ainda a despertar no leitor a esperança de poder preencher com
temeridade as lacunas em seus conhecimentos especializados, oferecendo-se, portanto, a ocasião de pregar uma peça nos técnicos na
matéria e de ser mais esperto do que eles, cuja profissão os obriga a
acumular noções especializadas, então tal empreendimento adquire
feições de aventura, apta a fascinar centenas de milhares de leitores.
E o convite de Dãniken é justamente para tal viagem de aventuras:
"Naturalmente, arqueólogo algum com formação acadêmica", é o
que diz o autor em seu primeiro livro, "quer admitir que nossa
Terra foi visitada por astronautas. O homem culto não deseja exporse ao ridículo, fazendo uma afirmação temerária, portanto,
concebível". No entanto, Dãniken — mais culto do que o homem
culto — tem temeridade bastante para arriscar tudo isto e o leitor
pode acompanhá-lo nessa empresa e colocar a sua própria
temeridade contra a ciência cautelosa, céptica e avessa à fé em
milagres.
Todavia, é concebível aquilo que Dãniken apresenta em suas teses;
aliás, quanta coisa não chega a sê-lo? Os cientistas são capazes de
pensar exatamente nos níveis exigidos pelo caso, mas aprenderam
— e esta é a disciplina mecânica de sua especialidade — a selecionar
as possibilidades concebíveis para então encontrarem a solução
mais provável, ao invés da mais desejável ou sensacional. É nisto
que se resume o método científico. São afirmações apenas,
afirmações e nada mais, as exposições de Dãniken, sugerindo que os
canais de pedra nas construções incas não eram adutoras de água,
mas sim invólucros de cabos de energia, enormes desenhos
astronômicos, para serem vistos de grandes alturas, desenhos no
solo do deserto, pistas de pouso para naves espaciais pré-históricas
e que os bárbaros sacrifícios do coração, praticados pelos astecas,
nada mais eram do que fraca imitação da cirurgia usada pelos
astronautas. Decerto, são afirmações concebíveis. No entanto, a
probabilidade de serem exatas é tão diminuta, que se aproxima do
valor zero. Falando em termos de estatística, significam uma
improbabilidade, beirando a incorreção.
Vez ou outra, no âmbito da ciência, o prazer do absurdo, a
necessidade de fantasia, de algo totalmente diferente, provocam
aberrações como as que Dãniken nos apresenta em seus livros.
Trinta anos atrás, ocorreu um fenômeno muito semelhante, ligado
para sempre ao nome de Johannes Lang. Em um best-seller
emocionante, ele "provou" que, realmente, a superfície terrestre
constitui a parte interna de uma bola oca e que todas nossas idéias
sobre a forma de bola convexa do globo não passam de gigantesco
erro da ciência. A teoria da bola oca representava uma "afirmação
concebível" para um nível bem modesto de formação científica e
encontrou adeptos apaixonados. Entrementes, os progressos na
Astronomia e os resultados obtidos nos vôos espaciais tornaram-na
absurda, quer dizer, inconcebível.
A problemática da teoria de Dãniken não é de tão fácil comprovação, pois o autor serviu-se de "provas" em quantidade quase
inesgotável, representadas pelos problemas arqueológicos a serem
resolvidos, ou seja, de tudo que até hoje a ciência ainda não
conseguiu esclarecer e que está para ser desvendado. Por força de
sua natureza, tal catálogo de enigmas não constitui prova alguma,
pois apenas demonstra o que os cientistas bem sabem, isto é, o fato
de ainda estar para ser encontrada a explicação racional, causal do
nosso mundo. Ignoramos como os habitantes da Ilha da Páscoa
criaram seus enormes monumentos de pedra; pois bem. Em termos
científicos, teóricos, isto significa que o fenômeno ainda requer
explicação exata, mas não que toda explicação do fenômeno esteja
certa, ou não; nem que toda explicação seja possível.
Em um problema matemático a resolver, igualmente supõe-se que
seja ele passível de solução; o fato de ainda não termos chegado a
achá-la, não representa motivo para aceitarmos uma "afirmação
concebível", ao invés da solução desejável. Quanto mais
raciocinarmos, tanto menos ficaremos propensos a fazer afirmações;
outrossim, faremos nossos cálculos, por ser este o único método
adequado para encontrarmos a solução. Da mesma forma, não
poremos em dúvida que, afirmações quaisquer, inclusive as pouco
prováveis (mesmo quando concebíveis) em absoluto ficam mais
convincentes pela mera repetição. Por esta razão, o trabalho penoso
de catalogar enigmas, em mais de 100.000 quilômetros de vôo, em
nada melhorou a probabilidade das teses de Dãniken. Mil exemplos
para a probabilidade de 1:1.000 de uma solução, em nada alteram
sua improbabilidade, ou tornam mais provável a solução que teria
sido com a apresentação de um só caso concreto. São essas as leis da
Matemática e, ao mesmo tempo, os dogmas filosóficos de nossa
razão, que não admitem discussão. Contudo, há certos
estreitamentos na percepção e perspectiva de nosso pensamento,
que nos levam à oposição à lógica: os psiquiatras chamam esta
forma de impedimento do julgamento intelectual do indivíduo de
"mania de relação sensitiva". Em sua forma mais branda,
conhecemo-la em todas as situações de nossa vida: o namorado vê
nas coisas menos prováveis indícios, afirmações, "provas" de suas
esperanças; o medroso só vê perigo por toda parte. Todos nós
conhecemos os casos de fanáticos por determinada idéia ou causa,
os monomaniacos, que a cada passo encontram a prova de sua
convicção. São indivíduos com idéia fixa, preconcebida, na qual
baseiam os seus fatos.
***
É o bastante — já é quase demais — a ser dito de Dãniken, o qual,
em cada problema arqueológico a resolver, vê um indício de
visitantes provenientes de outras estrelas. No entanto, passamos
agora a formular a pergunta concreta sobre o que se pode esperar
de tais expectativas. Decerto, os americanos, de índole sóbria e
objetiva, não despenderiam milhões de dólares com a instalação e
manutenção de estações de rádio para a captação de sinais do
Cosmo, se a transmissão de sinais por seres inteligentes
extraterrestres fosse coisa totalmente absurda. Em absoluto o é, pois
nossa lógica científica nos obriga a supor que não vivemos sozinhos
no Cosmo. Hoje em dia, constitui quase temeridade admitir a
existência de vida exclusivamente na Terra e sustentar a tese de a
Terra e seus habitantes constituírem o único fenômeno do gênero
em todo o Universo, quando sabemos da existência de bilhões de
Vias-Lácteas. O homem do século XX assemelha-se a Galileu, o
qual, com todos os conceitos proporcionados pela ciência,
simplesmente não suporta a afirmação, de quem quer que seja, de
que a Terra constitui o ponto central do mundo. Na época de
Galileu, ainda havia a possibilidade de fechar os olhos diante do
telescópio; hoje, no entanto, com todo o progresso das modernas
ciências naturais, isto já não é mais possível.
Portanto, deve haver vida dentro do Cosmo, talvez em muitos ou
milhares de lugares. E ainda mais, existe a grande possibilidade de
a infra-estrutura química dessa vida assemelhar-se à da Terra, pois
a ciência já nos ensinou, em definitivo, que em toda parte é a vida
constituída pelos mesmos elementos, os quais compõem também o
nosso sistema solar. No entanto, esses poucos elementos também
permitem concepções da vida em variedade bem mais ampla da que
existe na Terra e que se baseia nos elementos fundamentais:
carbônio, oxigênio, hidrogênio, nitrogênio e fósforo. Por que não
haveria em qualquer lugar vida em base de silício? Os químicos
poderiam enumerar outras tantas variações possíveis, a título de
especulação, sem avançar informações concretas; os biólogos ainda
não podem pronunciar-se sobre o assunto.
Contudo, a pergunta concreta dirigida à Biologia deve ser formulada da seguinte maneira: Conhecem-se as leis pelas quais a vida
evoluiu aqui na Terra, desde a fase do 'caldo primitivo' orgânico,
passando pelos primeiros aminoacéticos e chegando ao homem
inteligente? E seriam essas leis bastante fortes para vigorarem em
todo o Universo, onde existir um 'caldo primitivo', composto de
moléculas gigantes, no qual se formem sistemas vivos e
multiplicadores, iniciando uma evolução que, em sua última fase,
chega a produzir o homem, ou, ao menos, seres similares,
inteligentes?
Se a Biologia tivesse condições para responder a essa pergunta com
um "sim", realmente, nada mais haveria para inibir-nos de afirmar,
sem sombra de dúvida, que devem existir civilizações em muitos
lugares do Universo, de ordem primitiva e de ordem superior,
análogas e diversas da nossa, velhas de milhares ou milhões de anos
e até mais adiantadas do que a terrestre.
Infelizmente, por enquanto, o biólogo não pode pronunciar-se de
maneira tão categórica sobre as leis da evolução, mas sim, deve
admitir que, por ora, quase nada sabe a respeito. Todavia, desde os
últimos cem anos, a evolução em si foi reconhecida como a força
motriz no desenvolvimento das múltiplas formas e espécies nos
reinos animal e vegetal. Também, em muitos casos os caminhos
seguidos por tal evolução, levando de formas primitivas para as
superiores, foram detidamente examinados; aliás, na evolução
genealógica de determinadas espécies, como o homem, conhecemos
a seqüência quase ininterrupta de formas intermediárias em
ascensão evolutiva. Por conseguinte, e pelas suas experiências com
as formas de vida terrestre, a Biologia bem conhece as origens e
caminhos seguidos pelo processo evolutivo; no entanto, a pergunta
formulada refere-se ao "porquê", ou seja, às normas de tal evolução.
Por que a ameba ou outro ser unicelular evolui para um organismo
multicelular, que se transforma em verme primitivo e por que
evolui então para uma forma superior, que chega a ser um
vertebrado, e por que esse processo evolutivo continua até a criação
do homem, de seres inteligentes, cônscios de sua evolução e capazes
de pensar sobre a sua origem?
Em parte alguma vemos qualquer obrigatoriedade para tal evolução. E é justamente a minúscula ameba, unicelular, da qual
partiu todo o mecanismo evolutivo, a atestar da forma mais explícita possível contra a existência de tal lei orgânica; pois a
ameba continua existindo até hoje! Por conseguinte, foi a ameba
que no desenrolar de todo o processo evolutivo provou possuir
maior capacidade de adaptação, plasticidade, vitalidade e resistência que todas as demais formas de vida, evoluídas em linhas
secundárias ou descendentes, que ainda não tiveram o tempo
bastante para passar por semelhantes provas de sobrevivência. O
fato de a ameba existir talvez por um bilhão de anos constitui
prova cabal da desnecessidade de o organismo chegar a uma fase
evolutiva superior e, com isto, ao desenvolvimento da inteligên-
cia, para sobreviver. Prova ainda que as espécies animais superiores que evoluíram aos poucos no decurso da história da Terra,
em absoluto se adaptaram ou se organizaram melhor, ao ponto
de, forçosamente, chegarem a extinguir seus antecessores. Hoje
em dia, formas primitivas e superiores subsistem lado a lado;
decerto, conhecemos muitos casos nos quais a forma superior foi
responsável pelo desaparecimento da primitiva, mas, em seu todo,
o nosso mundo orgânico parece-se com um enorme museu ao
vivo, no qual as formas antiquíssimas, pré-históricas, estão expostas ao lado dos últimos tipos produzidos pelo processo evolutivo.
O mesmo acontece com as escavações arqueológicas, cada uma das
quais revela faunas e floras fossilizadas, representando um calidoscopio multicor de formas antiquadas, mas modernas em sua
época.
Portanto, a evolução se processa sem que o biólogo possa verificar a
razão pela qual se torna necessária. Onde vier a processar-se,
proporciona vantagens no sentido de uma organização mais
aperfeiçoada, de um domínio mais amplo do meio ambiente e,
principalmente, nos animais, no sentido de progressiva individualização; nos vertebrados confere sensibilidade sempre maior,
até a própria percepção. No entanto, onde não houver evolução,
aparentemente, a vida continua sem ela, por milhões de anos, em
ponto morto, mantendo-se no nível alcançado. Os biólogos
conhecem também movimentos regressivos, perda do nível de
organização e dissolução da individualidade. Isto acontece principalmente com organismos parasitários; sistemas orgânicos inteiros
chegam a ser dissolvidos no decurso da evolução, ao ponto de o
caranguejo quase não se diferenciar mais do verme primitivo.
Atualmente, muitos microbiólogos consideram as chamadas formas
'mais primitivas' de vida, os vírus e, em especial, os bacteriófagos,
como descendentes degenerados de antepassados mais evoluídos.
Pois bem, então devemos constatar o seguinte: desde que na Terra a
vida apareceu como fenômeno, foi esta se expandindo para todos os
lados. A maioria dos seus ramos estendeu-se em sentido lateral e,
assim, permaneceu no mesmo nível; outros até se inclinaram para
trás, em camadas inferiores; ainda outros — e são estes que contam
— cresceram para cima e, ao menos em algumas de suas formas,
chegaram a alcançar os progressos evolutivos que, ao final, levaram
ao ápice da criação.
Todavia, mesmo nas formas cujo processo levou ao ápice, a
verdadeiras alturas recordes de evolução progressiva, a formação
da inteligência não parece ser a única seqüência possível e necessária. Nos dois pontos altos de evolução animal existente na
fauna terrestre, ou seja, nos articulados e vertebrados, observamos
dois métodos completamente diferentes, empregados para o
domínio do meio ambiente. Nos articulados, ou seja, insetos, aranhas e caranguejos, é o instinto que predomina, isto é, normas de
comportamento inatas, seguidas pelo indivíduo, independente de
qualquer raciocínio pessoal. Isto ficou provado por experiências nas
quais os animais continuam reagindo instintivamente, mesmo sob
condições que, consideradas sob o ângulo de nossa inteligência,
deixariam sem sentido tal reação. Assim sendo, uma abelha
continua enchendo o favo, cujo fundo foi retirado, com a
quantidade normal de mel, que, naturalmente, se escoa, para então
fechá-lo cuidadosamente, como se fosse um favo cheio. Portanto, o
animal individual não raciocina, por isso podemos supor que é
desprovido de tudo que poderia ser considerado como percepção;
ele apenas executa as reações programadas no seu organismo.
Quem, no entanto, esboçou esses programas inteligentes e
acertados; onde está a inteligência responsável pelo desenvolvimento desses programas? Aí o biólogo deve responder o seguinte: a
espécie em seu todo, a coletividade de seus indivíduos, isto é, toda a
seqüência de gerações, formada em dezenas de milhares de anos,
age no desenvolvimento e na seleção de determinados padrões de
comportamento com acerto prático, igual ao empregado por seres
racionais. Mas, apesar disto, seria absurdo classificar de 'inteligente'
a espécie em sua totalidade, por estar desprovida do mundo interno
da razão clara, viva, individual, por não permitir que se estabeleça
contacto com ela. Nós não podemos estabelecer tal contacto e nem o
conseguiriam inteligências superiores de estrelas distantes, pela
simples falta de um parceiro pessoal. A tentativa de falar com
insetos seria tão inútil como a de entabular conversa com um
computador, de cujo programa não constasse tal item.
Unicamente o outro ramo elevado da evolução animal, os vertebrados, em algumas de suas ramificações superiores — pássaros,
muitos mamíferos e, em especial, os primatas, aos quais pertence o
homem — apresenta a faculdade sublime, que chamamos de
inteligência. Ela consiste em um mundo interno, pessoal, individual,
onde, pelo menos por alguns instantes, pode reinar a percepção e
onde dados novos podem ser tratados conscientemente para a
obtenção de respostas adequadas. Sabemos que este fenômeno
aparece em níveis bem diversos, desde os primeiros inícios
rudimentares até as manifestações mais expressivas. Somente em
poucos casos — com certeza absoluta apenas no macaco — chega-se
ao ponto do "ah — é" da percepção inteligente e somente nos
homens, enfim, após uma longa seqüência histórica dessas
percepções "ah — é" e de suas devidas ilações, chegou-se à cultura e
à civilização, infinitamente superior a toda inteligência animal.
Quão longa é a distância entre o primeiro macaco inteligente que,
pela primeira vez, chegou a perceber o "ah — é", pegou duas hastes
de bambu que uniu para chegar até a sua banana e a inteligência
genial de um Einstein ou a sensibilidade sublime de um Mozartl
Tampouco é necessário ao simples sistema fisiológico de captação e
tratamento de dados, instalado no organismo da ameba, evoluir
para a inteligência de percepção rudimentar, inerente ao macaco,
quão desnecessário era, para esses inícios primitivos, evoluírem,
segundo determinados padrões, para a alta percepção e as
extraordinárias faculdades da sensibilidade humana.
Em face dessas constatações, os biólogos, portanto, não têm
condições de responder à pergunta sobre a evolução da inteligência
era outras estrelas. Contudo, em última análise, esse dilema é
devido ao próprio método das ciências naturais; não se deve culpar
o biólogo. Todavia, a explicação científica se resume em deduzir o
efeito da causa; onde e quando isto for possível, pode-se conseguir
até o inverso: predizer os efeitos subseqüentes. No entanto, as
causas só podem ser verificadas quando há vários casos de um só
efeito a serem examinados. Se Galileu* tivesse observado a queda
de uma só maçã e nada mais, ter-lhe-ia sido impossível estabelecer
as leis da queda. Outrossim, quando o objeto testado em suas
experiências caiu no solo por mil vezes, dentro do espaço de tempo
prefixado, aí então obteve a prova cabal de suas teses.
Os biólogos dispõem de um só caso, a vida terrestre e os fenômenos
de sua evolução. Aquilo que se espera da Biologia a título de
previsão, isto é, afirmar a existência de vida em forma superior em
estrelas distantes, é exatamente do que se necessita com urgência, a
fim de poder estudar esse tal segundo caso, de molde a permitir a
dedução da existência de determinado padrão, que deixaria avançar
uma hipótese. Se pudéssemos estudar as possibilidades de vida em
dois planetas, não seria nada difícil predizer as condições para um
terceiro e até para todos os demais. Aí saber-se-ia então o que
acontece por mero acaso e o que ocorre segundo determinadas
normas preestabelecidas; no entanto, nada se pode deduzir de um
só caso. E nesta conjuntura o homem, com sua inteligência tão
extraordinariamente desenvolvida, em relação aos animais,
representa, de fato, aquele caso único. Seria esta inteligência
fenomenal apenas o fruto do acaso, resultando do acúmulo de
constelações favoráveis, no decurso da evolução? Como nada de
* Equívoco, certamente. Atribui-se essa observação da queda da maçã, ponto de
partida para enunciar-se a lei de gravitação, a Newton, não a Galileu. (N. da E.)
concreto se pode deduzir de um caso único, teoricamente esta tese
seria tão válida como outra em contrário, ou seja, que a inteligência
humana — que, com o tempo, poderá atingir grau ainda mais
avançado — constitui o produto necessário do processo evolutivo,
após percorridas todas as fases, do começo até o fim.
Para esta tese em contrário existem até cálculos. O zoólogo inglês
Sandon reputa o fator acaso na evolução da inteligência humana em
1:1 nonilhão, algarismo enorme, de trinta zeros; e todo o Universo
conhecido, com seus bilhões de Vias-Lácteas, não chegaria, de
longe, a permitir a expectativa de encontrar, pela segunda vez, seres
inteligentes em um dos seus planetas.
Outros cálculos, por exemplo a célebre fórmula Green Bank, são
mais otimistas, tomando a evolução progressiva da vida existente
para seres inteligentes como resultado normal do processo
evolutivo e, partindo desta suposição, chegam a algarismos respeitáveis de algumas dúzias até alguns milhões de civilizações inteligentes por Via-Láctea.
Convém repetir: ambos os cálculos supramencionados são discutíveis, enquanto a Biologia não tiver condições de pronunciar-se a
respeito da proporção em que o acaso colabora na formação da
inteligência, aqui na Terra. E tais pronunciamentos são impossíveis,
enquanto se dispõe unicamente dos dados da vida terrestre.
Todavia, acontece que a situação não é tão desesperadora como
podia parecer, pois, realmente, e ao menos por um trecho limitado e
parcial, conhecemos, além da evolução terrestre, outro caso de
evolução. Este processo evolutivo não ocorre em outro astro, mas
quase vale pela evolução extraterrena, pois trata-se da vida em uma
ilha grande, separada de todas as outras massas continentais
durante milhões de anos, a Austrália. Ao menos no que se refere à
evolução dos mamíferos, desde o Cretáceo, a Austrália constitui
esse segundo caso que permite comparação com a evolução dos
mamíferos no hemisfério norte da Terra. E, realmente, faz tempo
que esse continente fascinou os zoólogos e pesquisadores da
história da evolução. Desde que se separou dos continentes, quase
cem milhões de anos atrás, a fauna australiana dependeu de si só
para seu desenvolvimento, tal como se habitasse outro astro.
Na hipótese de ser o processo evolutivo regido meramente pelo
acaso, as criaturas australianas deveriam ser totalmente diversas
das evoluídas nos continentes. Se, por outra, o mecanismo evolutivo
seguisse normas determinadas, as espécies animais da Austrália
deveriam ser iguais às dos outros continentes. Por conseguinte,
vamos verificar o que, realmente, aconteceu ali em uns cem milhões
de anos e examinar se, para este trecho limitado e parcial de vida
evolutiva, se aplica a tese do Prof. Sandon, ou a fórmula de Green
Bank.
O resultado de tal exame é notável, pois nenhuma das teses
mencionadas se aplica em sua totalidade. A menor aplicação cabe
ainda ao otimismo dos matemáticos da fórmula Green Bank, pois na
Austrália não houve evolução de vida humana, nem de animais de
inteligência superior, nem de verdadeiros mamíferos. Seus
antepassados, os marsupiais, que antigamente habitaram também
os outros continentes, mantiveram-se na Austrália em sua fase
evolutiva primitiva, de exatamente cem milhões de anos atrás,
justamente o espaço evolutivo durante o qual, no continente euroafricano, evoluíram todas as espécies de mamíferos, os primatas e,
por fim, o homem.
De maneira estranha, a Austrália está para provar também a
improcedência da tese do Prof. Sandon; pois, dentro do nível de
organização dos marsupiais, lá evoluíram espécies animais semelhantes aos mamíferos de ordem superior do hemisfério norte,
semelhança tal, em certos casos, ao ponto de poderem ser confundidos com eles. Há lobo, marta, urso, camundongo e toupeira
marsupiais — todos eles e ainda alguns outros evoluíram como se
existissem certas normas pelas quais determinado grupo de animais
deve, forçosamente, evoluir em formas iguais à do lobo, do
camundongo ou do urso. Todavia, tais normas, que ali se revelam
em contornos nebulosos, não parecem válidas para todas as
espécies, pois na Austrália não há veado, cavalo, porco marsupiais
e, muito menos, homens dessa ordem. Contudo, o canguru
representa uma forma de vida que não encontra similar em nosso
continente e constitui caso isolado.
Valendo-nos com todo otimismo daquele "segundo caso" de
evolução mamífera, podemos, em escala modesta, fazer a seguinte
previsão: se, em outro planeta com clima, vegetação e paisagem
semelhantes aos da Terra, chegarem a evoluir seres vivos, que
atingiram determinado grau de organização, semelhante aos nossos
quadrúpedes, vivendo em terra firme e tendo sangue quente, seria
lícito supor que alcançariam formas típicas, lembrando cachorros,
ursos, martas, etc.
De fato, é este um resultado bem modesto, pois, realmente, é tudo o
que a Biologia pode dizer, dentro das normas claras e diretas da
previsão científica. Da Biologia, como ciência competente — e, com
isto, da ciência em geral — não se pode esperar pronunciamento
algum sobre a probabilidade da existência de vida inteligente em
outras estrelas. Decerto, ela não pode excluir tais possibilidades,
mas, tampouco pode torná-las prováveis, em base científica.
Esta noção não nos deveria desiludir demais. Será que só e
exclusivamente a ciência seria competente bastante para responder
a nossas perguntas? Há ainda outros centros ativos sensitivos em
nosso cérebro que podemos mobilizar quando quisermos chegar a
determinadas noções; lá temos armazenados conhecimentos précientíficos, certezas inconscientes, esperanças, especulações e, acima
de tudo, o enorme arsenal de força emotiva. Todos esses elementos,
iguais à ciência, agem como detectores, avançando mundo adentro
em nossa tentativa de busca de orientação. Muitas das certezas da
ciência partiram de uma idéia genial, de uma intuição, de uma
especulação avançada pela sensibilidade. E só depois o pesquisador
veio para por mãos à obra, procurando, em busca penosa, a prova
lógica e convincente daquilo que ele já pressentiu, há muito.
Tomemos, pois, o exemplo dos grandes descobridores e
pesquisadores e, como eles, não subestimemos a força de nossa
sensibilidade individual, aliada à potência do nosso raciocínio
convencional.
Decerto, a sensibilidade sempre constitui uma aventura, pois requer
tudo do indivíduo, a ele está ligada e só possui a força de que ele
dispõe. Por outra, o saber é coletivo e, portanto, mais cômodo para
o indivíduo, que exime de toda responsabilidade. Dizemos "o saber"
ou "a ciência"; e tudo está bem onde e quando nos permitir fazer
pronunciamentos inteligentes. No entanto, não se pode dizer "a
intuição diz", mas somente, "a minha intuição me diz"; isto requer
energia, sem dúvida. Mas sem energia nada se consegue ali, onde os
pronunciamentos convencionais da ciência terminam, mas as
perguntas continuam. Nas relações entre dois seres humanos, por
exemplo, isto se apresenta da seguinte maneira: a pergunta se um
ama o outro é impossível de responder em base científica, ou seja,
coletiva — não obstante toda a importância vital de que se reveste
para o apaixonado. No entanto, como indivíduo, desconsiderando
todo vínculo de ordem científica, achamos a resposta no caso
concreto e, depois de encontrada, significa para nós muito mais do
que toda a ciência.
Da mesma maneira, dependemos de nós mesmos no caso da
pergunta acerca de inteligências extraterrestres, pois não há resposta convencional, científica. Devemos, cada um de nós, arriscar a
"aventura da razão". Só nós mesmos podemos saber se podemos
suportar a idéia, se dispomos de temeridade e orgulho suficientes
para considerar-nos como as únicas criaturas existentes em todo o
Universo — ou se, com espírito mais humilde, podemos considerar
a nossa civilização terrestre como uma entre muitas. Por tratarmos
dessas magnas perguntas teremos compreensão também para as
pessoas há muito familiarizadas com a idéia de inteligências
extraterrenas, as quais consideram ou como fenômenos ocultos, ou
como OVNIs, ou como uma certeza absoluta. E, sensibilizados,
chegaremos a admirar a naturalidade com que nossos filhos enchem
seu firmamento e coração de anjos, demônios e outros seres
sobrenaturais. Enfim, deveremos compreender também aqueles que
desconfiam da força de sua própria razão, negam à sua própria
sensibilidade todo e qualquer pronunciamento e preferem esperar
pacientemente até chegar o dia em que a ciência lhes proporcione
noções exatas sobre inteligências extraterrenas.
Todas essas atitudes são possíveis e cada qual é plenamente
justificada, a título de opção pessoal. Apenas nada de concreto
dizem a respeito do Cosmo. Outrossim, cada indivíduo sente no seu
pronunciamento que, em última análise e olhando pelo telescópio,
ou procurando gênios distantes, ele tem diante de si um espelho e
que, nas profundidades do Universo, detrás do horizonte da ciência,
ele se encontra consigo mesmo e com os enigmas no fundo da
própria alma.
CAPITULO III
Estamos sós no Universo?
Por Winfried Petri, Munique
SE ESTA PERGUNTA DEVESSE SER respondida de maneira direta, breve,
de imediato, seria assim: "Não o sabemos". Erich von Dãniken está
convencido de não estarmos sós e muitos dos nossos
contemporâneos, que pensam sobre o assunto, acompanham-no
nesta opinião. No entanto, em absoluto há concordância entre os
argumentos apresentados por Dãniken em apoio de suas teses e as
defendidas por outros autores, afirmando que, em tempos
históricos e pré-históricos, a Terra teria sido visitada por seres
extraterrestres. Esta hipótese é temerária, não apenas por afirmar, a
priori, a existência de vida extraterrena, mas ainda, e tanto mais, por
considerar tal vida bastante antropomorfa, ao ponto de até admitir a
possibilidade de relações biológicas.
Com o termo antropomorfo (semelhante ao homem) já foi dada a
palavra chave para a caracterização da posição de Dãniken. Em
todas as épocas foram venerados seres superiores, "celestes", em
forma humana. Se um autor for capaz de tornar plausível para um
público leitor, pouco crítico e altamente emotivo, que tais seres,
realmente, apareceram em tempos passados e, para tanto, lançar
mão de todos os recursos da técnica moderna, o sucesso do seu livro
é garantido e em nada surpreende.
A ciência toma atitude objetiva perante essa pergunta. De nada lhe
adiantam meras afirmações, muito distantes daquilo que o
progresso científico atual permite provar ou contradizer. Contudo, a
ciência tem condições de oferecer material de base para pesquisas e
especulações referentes aos pré-requisitos que admitiriam a
possibilidade da existência de formas vivas extraterrenas. No
entanto, deste material não se pode esperar mais do que uma
avaliação de probabilidades.
Estamos sós no Universo? Para que uma pergunta possa ser
discutida objetivamente, forçoso é formulá-la de maneira precisa.
Sob o termo Universo entende-se apenas essa parte do Cosmo que,
em princípio, é acessível ao homem mediante ao menos a
observação 'passiva', talvez pela óptica ou por ondas de rádio. Com
isto e em face do progresso atual da ciência fica de fora tudo o que
estiver além dos limites relativistas, cosmológicos. Esta exclusão se
prende ao seguinte: tanto em base de hipótese teórica, como de
observação prática, atestando por um universo em expansão
uniforme, condições que promovam tal expansão à velocidade da
luz devem surgir no espaço, em qualquer parte, ao nosso redor.
Dependem, principalmente, dos conceitos do Cosmo o diâmetro e a
dimensão que se queiram conferir àquela "esfera de percepção
possível". Se a expansão tivesse começado, digamos, 15 bilhões de
anos atrás e se tivesse sido e continuasse sendo uniforme, então
tudo que, a partir de zero hora, se movimentou à velocidade física
limite de uns 300.000 quilômetros por segundo, tudo isto estaria
agora a 15 bilhões de anos-luz distante de nós. Pelos recursos da
astronomia atual é possível testar esporadicamente grande parte
desse volume, ou seja, uma esfera cujo raio representa
aproximadamente 10 bilhões de anos-luz.
Uma vez que não tem sentido especular sobre aquilo que se
encontra além da "esfera de percepção possível", quanto menos
sentido teria especular sobre "mundos paralelos", embutidos em um
contínuo superdimensional e que existiriam simultaneamente com o
"nosso" Universo. Isto não deixa de dar bom enredo para romance;
pois a fantasia desconhece limites. No entanto, não queremos
perder o contacto com a realidade, conforme ela se apresenta ao
pesquisador das ciências naturais.
Resta ainda esclarecer como se deve entender o conceito "nós" na
pergunta "Estamos sós no Universo"? Aparentemente, Dãniken está
pensando em seres racionais, que, além de muito parecidos com os
homens terrestres, ainda possuam uma técnica semelhante, mas
muito superior à nossa. Nisto há certo estreitamento do âmbito de
nossa pergunta, do qual devemos livrar-nos. Formulando-a de
maneira mais generalizada, devemos perguntar: Quais as
expectativas para a existência de vida orgânica extraterrestre? Quais
as expectativas para a existência de seres racionais extra-terrenos?
Quais as expectativas para a possibilidade de estabelecer-se
contacto com tais seres racionais?
Por conseguinte, a pergunta culmina no problema de estabelecer
contacto com civilizações extraterrestres. Acresce ainda que tal
civilização deveria contar com indivíduos mais ou menos semelhantes entre si e com condições de receber dados, armazená-los,
tratá-los e transmiti-los. Imaginamos esses indivíduos como
organismos biológicos e, de qualquer forma, socialmente organizados. Esta não é uma hipótese de todo trivial, conforme certa vez
se pronunciou o grande astrofísico armênio W. A. Ambar-zumjan:
"Também outros tipos poderiam ser imaginados como portadores
de civilizações extraterrestres. Deduções preliminares não permitem
a negação a priori da possibilidade de existência de tais portadores
(de tipo diverso do nosso). Por exemplo, seria concebível o caso de o
portador de uma civilização extraterrena existir como sistema
cibernético, único e uniforme, que não se compusesse de partes
autônomas, cada uma das quais poderia funcionar como portador
individual de civilização. Por outra, poderia ser portador de
civilização diversa da sociedade humana, um sistema constituído
por uma totalidade de máquinas e autômatos cibernéticos,
autônomos, mas rigorosamente especializados."
É o que opinou Ambarzumjan. A literatura utopista científica de
nível superior já tratou de tais formas de civilização totalmente
estranhas. A nós pouco interessam, pois, em resumo, tratar-se-ia de
casos nos quais os robôs sobrevivessem aos homens e, sem eles,
continuassem funcionando entre si, ou de fenômenos que em sua
essência fugissem a qualquer comparação com elementos
conhecidos. Para tanto, encontramos bons exemplos em "Black
Cloud" (Nuvem Negra), o romance do astrofísico inglês Fred Hoyle,
e no livro do médico e autor polonês Stanislaw Lem, que descreve o
distante planeta "Solaris", dotado de um oceano inteligente.
Restringimo-nos, pois, à nossa pergunta sobre a existência de vida
orgânica no Universo, dispensando a da origem da vida, pois
admitimos o aparecimento da vida orgânica em toda parte, onde as
condições do meio ambiente sejam favoráveis. O pesquisador das
ciências naturais nada tem a ver com a problemática religiosa, pois,
por assim dizer, por força de sua profissão, é materialista e ainda
otimista. Esse otimismo fica manifesto também no fato de o cientista
considerar não apenas possível, mas até necessário, o aparecimento
de vida orgânica e racional sob condições favoráveis.
***
Sob ângulo puramente material, a vida orgânica provém de
complicadas combinações "orgânicas". São combinações cujo componente fundamental é o elemento químico carbônio e que se
tornam possíveis somente em uma faixa de temperatura bastante
restrita. Sua enorme diversidade é devida à qualidade extraordinária do carbônio de formar anéis e correntes que, por sua vez,
constituem os componentes das albuminas e dos cromossomos
(portadores dos genes). Como único concorrente do carbônio, pensou-se no silício; todavia, neste pensamento entrou a especulação de
que combinações complicadas de silício poderiam existir sob
condições físicas menos restringentes daquelas exigidas pelo carbônio. O que há a esse respeito?
A biologia terrestre conhece a vida exclusivamente em base de
carbônio. Como as leis da Natureza são uniformes em todo o Cosmo e como em toda parte existem os mesmos elementos químicos,
inclusive em freqüência de distribuição relativamente igual, poderse-ia argumentar o seguinte: se a vida fosse possível em base de
silício, tal vida surgiria também na Terra. No entanto, obviamente,
isto não é o caso. Talvez em qualquer parte deveria haver falta de
carbônio e excesso de silício (em relação as condições terrestres)
para que surgissem seres vivos em base de silício? A Astrofísica não
nos fornece qualquer indício a respeito.
O elemento encontrado com maior freqüência no Cosmo é o
hidrogênio que também constitui o mais importante "combustível"
atômico das estrelas. Em segundo lugar coloca-se o hélio, liberado
pela desintegração nuclear no interior das estrelas. Também os
grandes planetas do sistema solar (Júpiter, Saturno, Urano e
Netuno) contêm muito hidrogênio. Os planetas menores (Terra,
Vénus, Marte e, provavelmente, Plutão), bem como a Lua, satélite
da Terra, compõem-se em sua maior parte de elementos mais
pesados. O motivo desta origem ainda está para ser esclarecido. Até
pouco tempo atrás, pensava-se em explicar a desintegração nuclear
dos átomos pesados e a freqüência de distribuição geral dos
elementos apenas por um "equilíbrio químico-nuclear congelado",
que teria acontecido em curto intervalo após a "explosão primitiva"
da origem do mundo. Hoje sabemos que também no interior de
algumas estrelas podem existir condições para a desintegração
nuclear superior. E são justamente estas as estrelas que, por vezes,
lançam no espaço grande parte de sua substância e, com isto, os
elementos pesados, recém-formados.
Desta forma, o médio interestelar fica enriquecido das matérias
formarem, subseqüentemente, a base para a origem de novas
estrelas.
Desde o fim do século XIX, aproximadamente, sabe-se que deve
haver matéria bem distribuída no espaço entre as estrelas. Os primeiros indícios para tanto vieram com o aparecimento de linhas
espectrais que não podiam ser provenientes da atmosfera das respectivas estrelas, por manifestarem outro estado de movimentação;
ademais, alguns 'buracos' no céu estrelado, como o célebre 'saco de
carvão' na Via-Láctea meridional, só podiam ser explicados
supondo-se que, em parte, o fundo, uniformemente salpicado de
estrelas, estivesse encoberto por nuvens escuras. Em observações
mais detalhadas, verificou-se então a existência de muitas nuvens
escuras, pequenas, redondas, os chamados glóbulos, que poderiam
ser tomados como pré-fase de uma estrela em formação.
Nos últimos trinta anos, os progressos na técnica de observação
óptica e, principalmente, a radioastronomia possibilitaram muitos
conceitos novos acerca do médio interestelar, ao ponto de poder
falar-se em novo campo especializado, a Astrofísica. De interesse
especial são as relações existentes entre a evolução de estrelas e, de
data bem recente, as com a evolução de sistemas estelares
completos. Assim, chegamos a saber, por exemplo, que a formação
de braços espirais, conforme existem no sistema da nossa ViaLáctea, está intimamente ligada à emanação de gás de sua zona
nuclear.
De fato, é o gás, e novamente o hidrogênio, que representa o
componente principal do médio interestelar. Além deste, há ainda
um componente de poeira, pouco expressivo por sua quantidade,
mas que se faz notar por sua absorção de luz. Esta poeira interestelar está sendo substituída continuamente por partículas de
carbônio, formadas na atmosfera de determinadas estrelas gigantes
e lançadas ao espaço pela pressão da luz. Além do mais, vão se
acumulando os índices da existência de formações, ao menos nas
proximidades de estrelas recém-formadas, que possuem mais ou
menos a matéria de cometas e, provavelmente, composição
semelhante. Outrossim, dados espectroscópicos vieram provar o
fato de os núcleos de cometas conterem várias combinações de
carbônio, na maioria das vezes em forma não acabada, por conseguinte, no estado dos chamados "radicais livres". Trata-se de: CN,
CH, CH3, C2> CO, CH+, CO+, H CN, C2N2, CH4, C2H2 e outros.
Os cometas são considerados como dando origem a substâncias
meteóricas muito antigas, ou seja, condritas de carbônio. Todavia,
ainda não há explicação concludente para a origem dos cometas. No
entanto, pode-se admitir como certo o fato de os cometas, vez por
outra, passarem de um sistema solar para outro, em sua qualidade
de "vagabundos do Universo", conforme já foram denominados no
século passado, por causa das órbitas estranhas que percorrem.
Pensou-se também na possibilidade de os cometas funcionarem
como portadores de germes de vida — talvez em forma de esporões
ultra-resistentes — entre os planetas de diversas estrelas. Com isto,
a pergunta da origem espontânea da vida não ficaria respondida,
em princípio, mas sim, apenas transferida para outro campo. No
âmbito de nossa discussão trata-se apenas de demonstrar a
probabilidade de distribuição quase geral de carbônio e
combinações de carbônio no Universo. Parece que o silício
desempenha papel bem mais modesto, de modo que pode ficar de
lado na cogitação de possível base para combinações 'orgânicas'.
Em todo caso, a pergunta sobre a existência de vida em outros
corpos celestes deveria ser formulada no sentido de procurarmos
lugares onde combinações químicas complicadas sejam encontradas, podem 'desenvolver-se', isto é, mudar de maneira múltipla, e
juntar-se para grandes complexos. Ao mesmo tempo, admitindo a
condição óbvia, embora em teoria não seja preciso, de, para tanto,
haver necessidade de água em quantidade abundante e forma
líquida, podemos dizer: pode haver vida no Universo onde houver
bastante água e carbônio e a temperatura geral varie entre zero e
100 graus centígrados positivos (no máximo).
Supondo que tais condições existam em diversos lugares, logo após
surge a pergunta secundária: É lícito admitir com certa
probabilidade que em toda parte onde a vida poderia ter evoluído,
ela deveria evoluir? Enquanto não dispusermos de noções concretas
sobre a existência de vida extraterrestre, cuja origem dependeria da
origem da vida na Terra, não há resposta exata. No que se refere ao
âmbito do nosso sistema solar, este segundo ponto poderia ser
respondido afirmativamente, mas com certas reservas; todavia se
poderiam imaginar, portanto, possibilidades naturais de
transmissão de 'infecção' interplanetária, em forma de pressão por
radiação, meteoritos, cometas. Tais especulações são bem
conhecidas, desde o fim do século passado, quando o físico sueco
Svante Arrhenius adiantou sua hipótese da pan-es-permatização; no
entanto, essa hipótese ficou relegada a segundo plano, desde que se
chegou a saber da absoluta adversidade à vida do clima de raios, no
livre espaço do Universo.
Outrossim, a ciência moderna está perfeitamente de acordo em
admitir que se pode contar com a origem de vida em toda parte
onde, para tanto, existam ou tenham existido por tempo adequado
condições externas (físico-materiais) favoráveis. Esta suposição está
baseada na célebre experiência do químico norte-americano Stanley
L. Miller, realizada em 1953. Dentro de um recipiente de vidro
esterilizado, combinações sintéticas do provável 'caldo primitivo',
composto de vapor de água, gás de hidrogênio, metano e amoníaco,
ficaram expostas durante uma semana a fortes descargas elétricas,
imitando as freqüentes tempestades que, supostamente, teriam
acontecido nos primórdios da existência do nosso planeta.
Decorrida uma semana de experiência, verificaram-se dentro do
recipiente diversas combinações orgânicas, inclusive ácidos
aminoacéticos que, em sua qualidade de elementos básicos da
albumina, poderiam representar um pré-estágio da vida. A
evolução subseqüente deveria ter ocorrido dentro de um oceano
primitivo, em perfeita concordância com a tese científica, devidamente comprovada, segundo a qual a vida em terra firme é de
data mais recente daquela no oceano. Aliás, até o dia de hoje, as
formas mais primitivas de vida encontram-se dentro d'água.
Outro argumento para a origem independente da vida em diversos
lugares reside na progressiva decadência do antigo conceito
ptolemaico do nosso Universo. Ptolomeu, o grande geógrafo e
astrônomo da Antiguidade, imaginou a Terra como corpo central,
fixo no Universo, e com esta sua doutrina granjeou simpatia de
todas as religiões para as quais a vida na Terra se originou com um
só ato divino, tendo o homem como a 'coroa da criação'. Mesmo
após a introdução do conceito heliocêntrico do Cosmo, por
Copérnico, o nosso Sol ainda continuava sendo o único corpo
central. Jamais Johannes Kepler simpatizou com a idéia de ser o Sol
apenas um astro comum entre tantos outros, mas sim, ele o elogiou
com palavras entusiásticas, como imagem de Deus-Pai e coração
que move o mundo. A este respeito, Giordano Bruno, o infeliz
contemporâneo de Kepler, estava bem mais adiantado com seu
pressentimento da existência de um número infinito de mundos de
grandezas iguais.
Até o século XX houve astrônomos a defenderem a tese de ocupar
nosso Sol lugar de destaque entre os sistemas estelares que
circundam a Terra e a Via-Láctea, de ser este sistema um verdadeiro
gigante em comparação com outras 'ilhas do mundo'. Hoje,
podemos afirmar com certeza que nem o Sol, em cuja órbita se
move a Terra, nem o sistema estelar ao qual pertence ocupam
qualquer posição privilegiada no Cosmo. Pelo contrário, em
número proporcionalmente menor, há estrelas e sistemas estelares
bem mais notáveis do que o nosso sistema planetário; mas nem
esses constituem fenômenos excepcionais. Tal diagnóstico
cosmológico, que ainda poderia ser levado adiante, torna óbvio o
fato de a existência de vida na Terra em absoluto representar
singularidade no Universo e que seria até temeridade avançar a tese
de estarmos sós no Cosmo.
***
Após esclarecidas, na medida do possível, as predisposições materiais e condições do meio ambiente para a origem e evolução da
vida, resta salientar ainda outro fator de magna importância, que é
o tempo. Pelo que permitem deduzir as condições terrestres,
devemos calcular em bilhões de anos o tempo decorrido entre a fase
do oceano primitivo e a evolução de criaturas de ordem superior,
habitando terra firme. Isto significa então que, durante períodos
extraordinariamente longos, as condições do meio ambiente
favoreceram a evolução da vida, o que nos leva a padrões acessíveis
à pesquisa astronômica e permite estimativas numéricas. E é este o
caminho a ser trilhado agora.
Como portadores da vida, só podem entrar em cogitação planetas
relativamente pequenos e frios, situados dentro da esfera 'oikos', de
uma estrela bem pequena, de brilho uniforme. O termo grego
designa o espaço, em forma de salva redonda, dentro do qual pode
ser construída uma residência (oikos — casa). A esfera 'oikos' do Sol
começa em qualquer ponto entre as órbitas de Vénus e Terra e
termina logo além de Marte; é o que ensina o progresso científico
atual. Em outras palavras: em Vénus o calor é grande demais e em
Marte o frio já está quase intenso demais. Esta hipótese é válida
supondo que os planetas girem em torno do seu eixo e com isto
recebam os raios solares, uniformemente, em todos os lados. Aliás,
seria perfeitamente concebível que houvesse um planeta bem mais
próximo do Sol, para o qual expusesse sempre o mesmo lado e que,
na zona de penumbra permanente, entre o calor abrasador e a noite
gelada, possuísse uma estreita faixa oferecendo condições para a
evolução da vida.
Poucos anos atrás, ainda se poderia ter levantado a hipótese de tal
caso singular acontecer com o planeta Mercúrio, mais próximo do
Sol, pois parecia certo que os períodos de rotação pelo seu eixo e ao
redor do Sol fossem ambos de aproximadamente 88 dias. As mais
recentes medições por radar revelaram, no entanto, que Mercúrio
leva 58 a 59 dias para perfazer uma rotação completa em torno do
seu eixo; e como, em virtude do seu movimento em órbita, o planeta
muda constantemente de posição para o Sol no espaço, resulta a
contingência notável de que, em Mercúrio, o dia (isto é, o tempo
decorrido entre uma alvorada e outra) tem duração quase em dobro
da do ano (o período em órbita solar). Nos três meses de sol a
temperatura sobe até cerca de 400 graus centígrados positivos,
enquanto na noite, de duração igual, baixa para 150 graus
centígrados negativos. Considerando ainda o fato de Mercúrio
praticamente estar desprovido de atmosfera, é lícito supor que não
oferece condições de vida. Quando um corpo celeste é muito
pequeno, ou seja, quando sua matéria é insuficiente para, mediante
sua força de atração, assegurar um invólucro de ar, não pode ser
portador de vida na forma por nós conhecida, mesmo que ofereça
condições favoráveis.
Em geral, devemos perguntar quantas estrelas, durante bilhões de
anos, emitiram radiação suportável para a vida orgânica e, ao
mesmo tempo, ainda possuem planetas de dimensões exatas, dentro
da respectiva esfera 'oikos'. A primeira pergunta permite resposta
mais ou menos exata; a segunda só pode ser respondida muito
vagamente, pois aí continuamos dependendo de meras especulações, enquanto não forem descobertos planetas em número
representativo de estrelas.
De início, deixam de entrar em cogitação, como corpos centrais de
planetas habitados, todas as estrelas mais novas de — digamos —
dois bilhões de anos e que por radiação muito nociva (raios X ou
ultravioleta) ou muito variável, não permitiram a formação de uma
esfera 'oikos' permanente. Estrelas desses tipos 'patológicos'
oferecem interesse especial aos astrofísicos e podem ser descobertas
também a grandes distâncias em virtude de sua luminosidade
extraordinariamente intensa; no entanto, seu número é bem inferior
ao das estrelas normais, quietas, das quais chegam a perfazer 10%,
no máximo.
Considerando então apenas as chamadas estrelas em 'filas principais', de evolução muito lenta, entre essas devem ser deixadas de
lado as muito quentes, menos por causa de sua radiação extremamente 'dura' do que por sua falta de idade adequada. Por outra,
as estrelas frias, de luz vermelha, apesar de sua idade, não parecem
ter condições de suprimento de calor em grau suficiente para a
formação de uma esfera 'oikos'. Com isto, mais ou menos uma terça
parte das estrelas em 'filas principais' deixa de entrar em cogitação;
todavia, ainda sobra bem a metade de todas as estrelas existentes.
Esta metade restante deve então ser dividida pela metade, pois, com
relativa freqüência, costuma surgir na Natureza o caso de uma
estrela não aparecer sozinha, mas sim em conjunto com outra, como
estrela dupla, formando um par físico. Há também sistemas triplos
e múltiplos que, no entanto, como tais podem entrar em nossas
considerações. Contudo, há a possibilidade teórica de uma estrela
dupla possuir ainda planetas; só que esses ofereceriam condições de
vida pouco favoráveis, pelo fato de receberem radiação bem diversa
de dois sóis, a não ser que se encontrassem a distância bastante da
estrela central para a radiação perder sua intensidade. Outrossim,
seria difícil supor que suas órbitas fossem estáveis por muito tempo,
considerando a variação nas forças de atração.
Com isto nos restam apenas 20%, ou ao menos 10% de todas as
estrelas como centros de possíveis sistemas planetários. Em virtude
de conhecermos exclusivamente o nosso próprio sistema e de não
dispormos de objetos para estudos comparativos, é difícil predizer
se cada estrela isolada possui planetas. Ademais, surge a pergunta
sobre se a existência desses planetas dentro da esfera 'oikos' e a
composição química dos seus materiais de superfície (inclusive
lençóis de água e atmosfera) satisfazem as nossas exigências. Por
enquanto, não se pode esperar muita resposta por parte da
observação astronômica. Só se pode tornar a perguntar: Por que
deveria constituir exceção única justamente o nosso sistema solar e, nele, a
Terra?
Todavia, nas últimas décadas conseguiu-se comprovar em algumas
estrelas muito próximas acompanhantes invisíveis de pouca massa.
Na mecânica celeste a estrela central não é totalmente fixa com seu
acompanhante girando em sua volta, mas sim, ambos giram em
torno do seu ponto comum de gravidade. Dessa maneira, por
exemplo, o sistema Terra-Lua move-se como um dispositivo
bastante desigual, com a Terra, no decorrer de um mês,
contornando por uma vez o ponto no qual os produtos de massa e
distância chegam a equilibrar-se. Contudo, este ponto ainda se situa
dentro do globo e seriam precisos métodos de medição ultrasensíveis para provar, de grandes distâncias, o movimento
excêntrico da Terra, no ritmo mensal. Em caso dado, isto permitiria
deduzir a existência de uma lua e o seu tempo em órbita, mesmo se
fosse invisível. Conhecendo-se também a massa da Terra e a ordem
de sua oscilação, daí se poderia concluir pela massa do
acompanhante.
Em uma meia dúzia de comprovados acompanhantes invisíveis de
estrelas próximas, trata-se totalmente de corpos que representam
múltiplos da massa de Júpiter. Prova evidente disto é a 'estrela
flecha' de Barnard, distante de apenas seis anos-luz; anualmente,
muda sua posição entre as demais estrelas em nada menos de dez
segundos de curva e, portanto, desenvolve notável movimento
próprio no firmamento. Observações realizadas durante décadas
revelaram que sua mudança de posição acusa oscilações das quais
se deduz a existência de um acompanhante da grandeza de duas
vezes a massa de Júpiter, que leva 25 anos para completar uma
órbita ao seu redor.
Contudo, nem todas as observações indiretas de planetas distantes
fornecem dados tão inequívocos. Observações precisas do nosso Sol,
de distâncias interestelares, não revelariam, de pronto, a existência
de Júpiter, o maior de todos nossos planetas, mas, de início,
permitiriam a hipótese de mais um planeta, rico em massa,
descrevendo seu percurso ao redor do Sol em, aproximadamente,
sessenta anos. Pelo fato de quatro períodos Júpiter perfazerem
59,315 anos e dois períodos Saturno 58,915 anos, os efeitos desses
dois planetas possantes ficam justapostos ao ponto de aparecerem
como um só.
Há a esperança fundada de a precisão das observações poder ser
melhorada substancialmente em futuro próximo, com a instalação
de grandes observatórios em satélites artificiais da Terra ou na Lua.
Desta maneira poderão ser obtidos dados de medição mais exatos a
respeito dos movimentos próprios de corpos celestes; talvez até
possa ser medida a diminuição da luz de uma estrela que deve
ocorrer durante a passagem de um planeta. Todavia, no caso SolJúpiter, tal ocorrência mostraria ao observador em posição favorável
(no nível do percurso) uma diminuição de luminosidade da ordem
de um centésimo de sua dimensão total e perduraria por mais de
três dias.
Em se considerando todos os fatos, e com as devidas reservas, seria
lícito supor que até 5% de todas as estrelas possuíssem um sistema
planetário que, ao menos em um caso, oferecesse condições para as
predisposições cósmicas da evolução da vida. Com o grande
número de estrelas em nossa vizinhança isto quereria dizer que, em
se contando com distribuição regularmente uniforme de tais
sistemas portadores de vida potencial, a distância entre si deveria
ser de mais ou menos 50 anos-luz. Será impossível vencer tais
distâncias e obter dados mais concretos?
Aí se oferecem três possibilidades. Em princípio, o caminho mais
fácil e seguro seria, naturalmente, visitar o espaço circundante de
todas as estrelas vizinhas e pesquisar no local todo planeta
descoberto. Desta maneira, seria possível constatar também a
existência de formas primitivas e diminutas de vida. Como a
evolução de formas superiores requer bastante tempo e condições
particularmente favoráveis, seria de supor-se, a priori, que o número
de planetas com fauna e flora primitiva deveria superar o de
planetas com habitantes altamente evoluídos, ou até seres inteligentes. Por outra, vôos interestelares apresentam problemas
técnicos de tal magnitude que não se pode contar com sua realização para o futuro previsível — em todo caso, não podem ser
efetuados com tripulação humana.
O envio de sondas de medição não tripuladas para estrelas fixas
vizinhas é muito menos problemático e já depende quase apenas da
disponibilidade de instrumentos aptos a permanecerem em perfeito
estado de funcionamento durante períodos prolongados, bem como
da paciência humana, pois, com as velocidades atualmente
possíveis, passar-se-ão muitos anos até a entrada dos respectivos
dados. Ademais, a mera passagem de uma nave espacial por e,
também, seu pouso em um planeta desconhecido não oferecem
muitas possibilidades para a descoberta de formas primitivas de
vida, com as quais se deva contar, em princípio. Parece que a
melhor maneira de descobrir sistemas planetários desconhecidos e
obter dos seus componentes dados astronômicos precisos seria por
meio de sondas espaciais. A este respeito, o século XXI deveria
trazer algum progresso.
***
Por falta de facilidades técnicas de estabelecer contacto fisico
mediante os engenhos astronáuticos atuais, tripulados ou não, só
nos resta, portanto, como terceiro caminho, o contacto por rádio,
que oferece a grande vantagem de se processar à velocidade da luz,
barra insuperável para os foguetes. Todavia, a recepção e troca de
sinais pressupõe a existência de um parceiro inteligente, que
disponha de elevadíssima cultura técnica. Com isto, o número dos
casos possíveis fica enormemente restringido. Seria preciso saber
por quanto tempo, na duração total da existência de vida em um
planeta, haveria condições para e o interesse por uma troca de
noticiário interestelar. O mero estabelecimento técnico de tal
contacto não seria, pois, o suficiente, mas ainda deveria haver
interesse em mantê-lo. No caso de todos os habitantes de um
planeta altamente evoluído resolverem adotar vida puramente
contemplativa, silenciando seus receptores e transmissores, ficariam
eles então perdidos para nós, como parceiros na troca de dados e
informações.
É extremamente difícil converter tais especulações em algarismos,
tanto mais porque, como estamos apenas no início do nosso
progresso técnico superior, carecemos dos padrões para avaliar a
sua duração. Tampouco se pode recusar a idéia da autodestruição
— talvez pela guerra atômica — e podemos excluir o pensamento
de uma técnica capacitada, aliada à adaptação biológica controlada,
estar em condições de dominar um meio ambiente hostil à vida, de
modo que, eventualmente, poderia subsistir vida inteligente no
interior de um planeta, cujo sol esfriou há muito. Todavia, tais casos
deveriam constituir a exceção e dificilmente entrariam em
cogitações estatísticas. Contudo, é de se esperar que nossos
possíveis parceiros nas radiotransmissões interestelares sejam bem
mais adiantados em suas noções da matéria, pois na
Terra a radiotelegrafia sem fio é de data bem recente e a radioastronomia surgiu apenas depois da Segunda Grande Guerra.
Cabe então a pergunta se o nível técnico desigual possibilita tal
contacto. E aí nem se pensa, de início, em uma só 'língua', mas
exclusivamente na transmissão e recepção de sinais.
A situação não é tão difícil como possa parecer à primeira vista. As
leis de Física são as mesmas em todo o Universo e, embora de data
recente, a nossa radiotécnica já atingiu níveis que permitem alcançar
distâncias interestelares. Os peritos calcularam que, com os meios
técnicos atuais, se poderia estabelecer intercâmbio de noticiário com
habitantes de planetas de estrelas próximas, enquanto eles
possuíssem equipamento não inferior ao nosso e nós conhecêssemos
a direção e o comprimento de onda. Saber a direção é importante,
pois uma comunicação por distância tão extrema requer
enfeixamento extraordinariamente estreito, por antenas direcionais,
para transportar a energia necessária até o seu destino. Por
enquanto, nossos meios são insuficientes para a transmissão e
recepção radiofônica com o Cosmo.
No que se refere ao comprimento de onda, pode-se partir da
premissa de, na radiação natural, objeto de estudos dos astrofísicos,
haver alguns pontos privilegiados, correspondentes perfeitamente
às linhas dos espectros ópticos e, decerto, conhecidos aos nossos
eventuais parceiros. Em primeiro lugar, considera-se a radiação do
gás de hidrogênio interestelar, em 21 cm, para a qual são
construídos expressamente muitos dos nossos radiotelescopios, pois
a sua 'luz' permite o melhor exame da estrutura do nosso sistema de
Via-Láctea. Isto deve ter sido notado e aproveitado também pelos
nossos parceiros. No entanto, seria inútil transmitir ou escutar
exatamente em 21 cm, visto haver muito 'barulho' cósmico nesse
comprimento de onda. Provavelmente, dever-se-ia experimentar
com ondas mais harmoniosas, acima ou abaixo desta faixa.
Na hipótese de haver, em civilizações estranhas, possibilidade e
interesse em estabelecer contacto radiofônico interestelar, seriam
possíveis três casos distintos: ou um contacto existente com quaisquer parceiros; ou um serviço de escuta, conforme já existe no
projeto norte-americano OZMA, para duas estrelas determinadas;
ou a transmissão de sinais de chamada 'a todos', para estabelecimento de contacto. Nos três casos, o problema mais difícil reside no
fato de, por motivos de ordem físico-energética, sempre se dever
trabalhar com feixes direcionais muito estreitos, ao ponto de nada
sobrar para alguém do lado de fora — no sentido literal da palavra.
Sistematicamente, a instalação de comunicações radiofônicas
interestelares poderia ser idealizada da seguinte maneira: uma
sonda não tripulada descobriria vida superior orgânica em um
planeta vizinho; uma segunda sonda, despachada posteriormente
para tal fim, constataria lá a existência de eventuais comunicações
radiofônicas interplanetárias e, talvez, também já estabeleceria
contacto para então a Terra entrar em circuito direto, na direção já
conhecida.
A escuta de outras comunicações existentes só poderia oferecer
possibilidades de êxito se a Terra, ou ao menos o nosso sistema
solar, se localizasse diretamente na linha de comunicação entre os
parceiros. Como isto está quase fora de cogitação, só nos resta, por
ora, a transmissão ou a recepção de sinais de chamada. Na hipótese
não totalmente infundada de o radiotransmissor extraterrestre
dispor de progresso técnico e astronômico superior ao nosso, será
bem possível que ele descubra em nosso sistema solar um planeta
suspeito de ser portador de civilização e emita sinais de contacto, de
chamada. Para tanto, a probabilidade é pouca, mas real.
Agora perguntamos: Como podemos reconhecer tais sinais? A
sensibilidade dos modernos radiotelescopios permite a sua captação, enquanto venham de distâncias relativamente razoáveis, de até
100 anos-luz. Em comparação com as tantas 'fontes de rádio',
aqueles sinais deveriam apresentar-se como 'milagre cósmico' e ter
característicos além de toda explicação astrofísica natural. Para
tanto, não bastaria uma simples periodicidade, pois, com isto, todos
os pulsares e quasares descobertos nos últimos anos desqualificaram-se para a busca de contacto. Todavia, seria uma sensação
emocionante se, em base de determinados critérios, uma radioestrela, sob suspeita de ser portadora de civilização, se revelasse como
sendo de natureza variável. Entrementes, os ânimos já se
acalmaram, depois de ter sido localizada toda uma série de tais
objetos.
Contudo, mesmo dispensando conhecimentos profundos em matéria de cibernética e tratamento de dados, é lícito predizer que,
decerto, o caráter artificial de radioimpulsos cósmicos não deixará
de revelar-se claramente, se e quando chegarem a ser recebidos.
Bastaria uma seqüência de pontos:
(3 — 4 — 5) para deixar reconhecer o propósito de anunciar o
teorema de Pitágoras, pois 32 + 42 = 52, 9 + 16 = 25!
***
Se, enfim, perguntar-se o que cabe à ciência fazer para ajudar na
solução do problema "Estamos sós no Universo"? podemos
responder: Ela deve continuar em suas pesquisas como até agora.
Seus esforços devem ser dirigidos, em particular, à busca de estrelas
com sistemas planetários e à descoberta e controle de evidentes
fontes de rádio. A colaboração mais importante a ser prestada pela
astronáutica, em sua fase atual, em prol desses esforços seria a de
proporcionar postos de observação no espaço, fora da atmosfera
terrestre e além do alcance das interferências provenientes da Terra.
Por exemplo, a instalação de um telescópio gigante no lado oculto
da Lua, onde estaria a salvo da neblina interferente, emitida pelas
comunicações radiofônicas terrestres, deveria permitir substancial
incremento de sensibilidade. Outrossim, deve-se mencionar ainda o
grai:de impulso dado ao progresso técnico pelas exigências das
comunicações radiofônicas interplanetárias, a esta altura em seus
primeiros inícios, como, por exemplo, a comunicação entre a Terra e
as sondas 'mariners' em sua passagem por Marte.
Decerto, o contacto com culturas estranhas, se é que poderá ser
estabelecido, contribuirá enormemente para a compreensão de
nossa própria cultura, em escala diferente e de maneira bem mais
intensa do que Dãniken quer nos fazer crer. No entanto, apenas a
busca de tais culturas e o pressentimento de não estarmos sós no
Universo em muito auxiliarão o progresso sadio e promoverão a
consciência coletiva de todos os homens na Terra. O quanto é
grande o desejo de muitos dos nossos contemporâneos de entrar em
contacto com seres superiores ficou provado pelo sucesso sintomático dos livros de Dãniken com o público leitor. No entanto, é
extremamente pequena a probabilidade de super-homens nos terem
visitado ou chegar a visitar-nos. Devemos fazer o nosso caminho
por esforço próprio — inclusive o que leva para as estrelas.
Astronautas norte -americanos no módulo lunar
A esquerda, Ernst Stuhlinger, colaborador direto de Wernher von Braun e chefe
do projeto Marte, da NASA, exibindo a Ernst von Khuon modelos de foguetes
auxiliares, destinados ao percurso de ida e volta Terra / plataforma espacial, bem
como da nave espacial elétrica, a ser montada e colocada em órbita terrestre e que
deverá executar a viagem programada para Marte, cuja duração é calculada em
anos.
A lápide no Templodas Inscrições, em Pelenque, centro da cultura maia; índice
expressivo da necessidade de uma pesquisa não convencional do passado.
Cena de veneração ; o homem diminuto diante do deus celta Kernunnos; pintura
rupestre encontrada na proximidade de Capo di Ponte em Valcamônica,
provincia de Bréscia
CAPITULO IV
Pleiteando uma Pesquisa Inconvencional do
Nosso Passado
Por Siegfried Ru]f e Wolfgang Briegleb
]NÍÃO OBSTANTE O LADO PELO QUAL SE estude a questão, o caso Erich
von Dàniken revelou um escândalo. Após um ano de sucesso do seu
primeiro livro e o silêncio quase total das respectivas disciplinas da
ciência, o grande público não podia deixar de pensar que Dãniken
teria chocado os círculos científicos (motivo de sua reação
retardada) ou que seus livros estariam além de qualquer
possibilidade de observação séria (por isto que foram ignorados).
Em nossa opinião, nenhuma dessas hipóteses procede. Dãniken
apenas conseguiu captar o interesse do grande público para uma
tese que já estava fixada antes de ele ocupar-se dela.
Não sabemos por certo quem, na época moderna, foi o primeiro a
formular o âmago de suas teses. O conceito exato de Dãniken e de
autores franceses e italianos, seguindo idêntica linha de pensamento, foi formulado pelo pesquisador de vôos espaciais, Eugen
Sãnger, em sua obra publicada em 1958, como livro de bolso. Ali,
Sánger escreveu: "Hoje em dia parece-nos mais provável que nossos
antepassados teriam adquirido determinados conceitos mitológicos,
por experiências reais no encontro com visitantes pré-históricos do
espaço, do que de esses conceitos lhes terem sido revelados, de
maneira milagrosa, milhares de anos atrás, por uma previsão
beirando o incrível".
Em 1964, de maneira impossível de ser ignorada, os bioquímicos e
editores da obra "Exobiology", M. H. Briggs e G. Mamikunian,
exigiram da Pré-História e da Arqueologia uma revisão em seus
conceitos convencionais. Em se considerando ainda as discussões
sérias sobre a vida extraterrestre que, desde sempre, vêm sendo
mantidas em círculos científicos, já somente nessa base é que deveriam ser exigidas pesquisas sobre contactos com civilizações extraterrenas, em nosso passado. (Aliás, em forma diversa, durante anos
a fio, esta exigência foi um dos argumentos principais contra o
primeiro aparecimento dos chamados discos voadores, na época
moderna, visto que, para tanto, havia pouquíssima probabilidade.)
Dániken é autodidata; este fato torna quase perdoável grande
número de erros e violencias cometidos em seus livros* quando ele:
a) defende uma tese digna de ser examinada; e
b) mobiliza a opinião pública ao ponto de resultar em uma pressão
nas respectivas disciplinas da ciência.
Somos de parecer que o caso Dániken comporta comparações com o
da norte-americana Rachel Carson que, oito anos atrás, emocionou o
público leitor com seu livro "Primavera Silenciosa"**. Talvez ela
tenha contribuído, assim, para acelerar a proscrição do DDT e dos
chamados pesticidas. Achamos que o paralelo com Dániken estaria
no fato de esferas positivistas e/ou pragmáticas do mundo científico
terem procurado acusar a autora de enganos e exageros nãocientíficos e de demagogia, para assim íurtar-se àquilo que Carson
delas reclamava. A interpretação mais benevolente de tal
procedimento seria ainda a de que se exigiu demais da fantasia
científica. F. E. Egler, um dos críticos norteamericanos dessa atitude
perante Rachel Carson, concluiu que "os próprios críticos da autora
teriam sido incapazes de comover a opinião pública de maneira tão
intensa; que lhes faltava capacidade para se exprimirem de modo a
serem entendidos por todos e que, bem provavelmente, estariam
com ciúmes por causa do êxito obtido pelo livro".
* Vide a crítica mais detalhada, mas nem sempre procedente, feita pelo ginasiano
berlinense G. Gadow, sobre Dániken.
** Tradução em português, Edições Melhoramentos.
O quadro externo das discussões sobre esses dois autores, Carson e
Dániken, revela muitos traços em comum. Por outra, achamos que
existe também a justificativa objetiva para a polêmica de ambos os
autores. No que se refere a Dániken, acontece que vivemos em uma
época toda especial, que automaticamente nos fornece novos
modelos para a interpretação dos bens culturais tradicionais. Tanto
mais singularidades tradicionais chegam a adquirir estruturas
plausíveis aos olhos do homem hodierno, quanto mais alta parece
erguer-se uma barreira psicológica para o seu reconhecimento.
Até fins do século passado ainda não existia tal respeito pelas
coisas. Era costume interpretar a Arca da Aliança como gerador de
alta tensão (conforme foi feito por W. F. A. Zimmermann) e ler na
pirâmide de Quéops uma coleção de fórmulas matemáticas
(conforme Max v. Eyth). Os grandes gênios do passado falaram
freqüentemente e sem restrição cie inteligências extraterrestres (vide
E. Fasan). Por exemplo, duas das principais obras de Kant são da
ficção de um 'mundo inteligente, habitado por 'criaturas racionais,
inclusive humanas'.
Por que, hoje em dia, em sua descrição da luta da tripulação com
uma cobra que lançava fogo, trecho da mitologia egípcia, um
arqueólogo de renome revela receio ao suspeitar como origem desse
trecho outra que não a de visões místicas (Hornung, "O Vale dos
Reis")? Da mesma maneira não se compreende por que assiriólogos
tentam 'amenizar durezas insuportáveis' na tradução da epopéia de
Gilgamés.
Como leigo em Arqueologia não se pode deixar de sentir que os
pensamentos dos nossos antepassados forçosamente convergiam
para o clima-clichê dos cultos dos mortos e da fecundidade, nos
moldes de uma piada, em voga no fim do século passado, dizendo
que todos os assuntos referentes a civilização e cultura deveriam ser
classificados sob a sigla 'Goethe e o alcatrão do carvão de pedra'; ou,
como o botânico moderno, a título de brincadeira, qualifica
freqüentemente todas as espécies vegetais de difícil classificação
morfológica de 'proteção contra o extermínio pela fauna'.
Uma das provas mais impressionantes, de natureza óptica, parecenos ser a placa de túmulo, em Palenque, pois aí, de fato, é necessário
fazer força para não ver naquilo, com os nossos olhos hodiernos,
uma cápsula estilizada de Gemini ou Vostok. Duas máscaras,
tornadas irreconhecíveis na ilustração do livro de Dániken (fato
mencionado por G. Gadow) em nada alteram essa impressão.
Também não procede a crítica que alega Dániken ter olhado a placa
de túmulo sob ângulo errado, pois, olhando a imagem em direção
das máscaras, isto em nada altera o que representa. Aliás, a posição
do corpo humano na imagem só adquire sentido quando se admite
que deve receber um impulso em direção peito-costas e quando esse
impulso deveria proceder de uma força de gravidade, ou, no
sentido de Dãniken, de um foguete. O fato de o piloto do foguete
hipotético aparentemente voar em mangas de camisa, para nós,
entrementes, tornou-se cena bastante familiar.
***
Mesmo que, freqüentemente, a fantasia chegue a ser superada pela
realidade, as teses de Dániken a respeito da evolução do homem,
com seus fenômenos secundários sodomíticos, são recusadas por
pessoas com formação biológica. Todavia, apesar disto e também
neste caso, Dániken poderia citar como exemplo a sugestão de J.
Huxley de se criar uma raça de escravos de trabalho, mediante o
cruzamento do homem com o macaco. (Vide ainda a obra de F.
Wagner: "Criação de Homens — O Problema da Manipulação
Genética do Homem".) Outrossim, é de pouco valor a transferência
de um fenômeno de evolução biológica ou mental para outros
mundos; tal atitude equivaleria a capitular diante do problema de
aparente insolubilidade. A pergunta sobre a origem da vida já
recebeu tratamento similar, quando as experiências de Pasteur,
visando à multiplicação das bactérias, deixaram cair por terra o
conceito de uma procriação primitiva, decorrendo em ritmo
constante. Naquela época surgiu a hipótese da pan-esper-matização
(S. Arrhenius), segundo a qual um ou mais germes de vida,
provenientes das imensidades do Cosmo, teriam iniciado a
evolução da vida na Terra. Essa hipótese ainda não está totalmente
superada mas, em face das noções atuais de Bioquímica,
dificilmente haverá quem duvide da possibilidade de uma procriação primitiva que, sob determinadas condições, pode chegar a
realizar-se a qualquer momento (C. Ponnamperuma, W. Briegleb).
As especulações bastante exageradas de Dániken sobre a origem
biológica do homem fundam-se, essencialmente, em alguns resultados parciais da Biologia e Bioquímica e em determinadas profecias, aceitas também pela ciência. Também nesses pensamentos não
acompanhamos Dániken com muito boa vontade, pois não
gostaríamos de seguir a moda atual de predizer noções científicas.
O aprofundamento dos conhecimentos científicos, certamente, não
constitui simples função exponencial (no caso refere-se ao fator
tempo, a um progresso que possa ocorrer em qualquer época, com
enorme rapidez); aí, aquilo que antigamente se entendia por onipotência divina, seria então alcançado pelo homem em umas poucas
décadas. Somos de parecer que o aumento de conhecimentos
verdadeiros ocorre em função de crescimento, com um ponto
culminante que, talvez, já tenha sido ultrapassado. Por enquanto,
esta opinião é de difícil ou até impossível comprovação; no entanto,
no campo da genética, a ciência popular quase não toma
conhecimento do fato de os bioquímicos e técnicos em genética
molecular, a cuja colaboração se devem as últimas descobertas na
matéria, defenderem pontos de vista bem diversos a respeito da
futura manipulação quantitativa do código genético. Do mesmo
modo, fica em aberto a pergunta sobre se os peritos em cibernética
chegarão a dotar os computadores de raciocínio, em um sentido
mais amplo. Todavia, como se sabe, há cientistas otimistas, inclusive
neste campo.
Pertence à série de profecias bastante duvidosas, inclusive o
organismo cibernético, o qual, na forma em que está sendo projetado, deveria representar um cérebro humano embutido em uma
máquina que substituiria o corpo. Consideramos isto como um
ponto final de fé cega no progresso técnico, que dispensa de todos
os motivos éticos as ações do homem. (Vide F. Wagner.) Nesta
relação surge ainda a pergunta sobre onde devem ser fixados os
limites das experiências de laboratório, principalmente com
macacos.
Essencialmente, parece-nos ser questão de gosto até que ponto se
aceitem as especulações biológicas de Dãniken. Mas acontece que
essas especulações concorrem no páreo das próprias ciências, pois,
atualmente, a Paleantropologia está avançando a hipótese de o
homem de Neanderthal ter-se comunicado por telepatia, pelo fato
de apresentar cérebro em volume maior que o do homem moderno
e de certos detalhes do seu maxilar inferior levarem à conclusão de
não ter possuído a faculdade de falar, no sentido moderno.
Naturalmente, seria uma sensação sem-par se a análise dos mitos
antigos viesse a proporcionar indícios reais de inteligências
extraterrestres, capazes de realizar vôos relativistas. Neste contexto
a ciência acompanha Dãniken e apresenta o argumento da dilatação
do tempo em um vôo relativista, em direção do seu ponto de
partida. Esta argumentação não deixa de ser surpreendente, pois
pesquisas efetuadas nos últimos anos vieram contradizer esta
hipótese (N. Arley).
***
Pela atual avaliação realista, o vôo relativista não tem chance de
chegar a concretizar-se. De outro lado, não se pode excluir, de todo,
um vôo espacial para as estrelas fixas mais próximas. Desta
maneira, não parecem inconcebíveis visitas de outras estrelas, também sem o desligamento da razão. Porém, se nesta base considerarmos como válidos os relatos antigos da cópula de homens com
'deuses', o biólogo entra com o seu veto. Só se poderia admitir
evolução da vida paralela em outro planeta, produzindo seres suscetíveis de cruzamento biológico, com a ação de efeito rigoroso no
processo evolutivo por parte de um componente teleológico.
Outrossim, a ciência natural hodierna (não os autores) nega, em
grande parte, tudo que se relacionar à teleología ou ao vitalismo.
Em se continuando na busca da verdadeira essência dos mitos da
humanidade, mesmo nessas predisposições, então seria o caso de se
arriscar a hipótese de a Terra, em outra época, já ter conhecido uma
civilização muito avançada. Há milhares de anos que existe o tipo
do homem moderno. Será que suas faculdades intelectuais se teriam
manifestado de forma tão modesta que, de fato, sua entrada na
história teria ocorrido da maneira como se acredita, hoje em dia?
Não representaria tarefa interessante para a ciência pesquisar qual
seria a mínima base econômico-civilizatória para o máximo
progresso técnico-científico, conforme nós o entendemos?
As guerras da Antiguidade sempre acabaram com toda continuidade técnico-civilizatória — vide o incêndio da biblioteca de
Alexandria, em 47 a.C. Posteriormente, dentro de sua esfera de
influência, o cristianismo interferiu no desenvolvimento de maneira
bastante unilateral. O fato de o progresso explosivo nas ciências
naturais e na técnica relacionar-se com a democratização e
secularização das instituições na América do Norte e na Europa,
não deveria ser considerado como devido ao acaso. Infelizmente, as
noções científicas foram, progressivamente, mal aplicadas; tanto no
que se refere à gigantomania da técnica, quanto à produção
indiscriminada de agentes químicos e armas.
Será que, de fato, a origem das ciências naturais estaria ligada a
tudo isto de maneira insolúvel? Supondo que, em tempos préhistóricos, um grupo populacional tivesse descoberto a possibi-
lidade e utilidade do controle natalício, em base de matérias
vegetais. Com isto, sua progressiva prosperidade, devida a este
progresso no campo das ciências naturais, teria ficado garantida,
teria ficado a salvo de todo perigo por muito tempo, mormente na
hipótese de o grupo ter sido de índole pacífica, com o instinto inato
para a forma democrática de vida. Achamos que tal hipótese
bastaria para imaginar uma civilização técnico-científica, fundamentalmente diversa da nossa. Ela teria ficado restrita a uma
determinada região geográfica; as interferências no seu ambiente
teriam ficado muito longe daquilo que costuma acontecer hoje em
dia e, também, ela poderia ter desistido de realizar construções
gigantescas.
Seria também neste contexto de considerar-se a contingência de a
evolução hodierna nas ciências naturais e técnicas não ter ocorrido
necessariamente em todos os campos, sob regime de dependência
mútua. Se nosso ponto de vista for correto, a alunissagem do
homem dispensaria a física atômica. Sucessos iniciais no transplante
de órgãos humanos foram possíveis, sem que fossem solucionados
os principais problemas da rejeição. De outro lado, muitos feitos
relevantes nas ciências naturais e na técnica só foram possíveis pela
interdependência desses campos, em grau maior ou menor. Talvez
fosse lícito supor que uma civilização hipotética, em miniatura, não
necessitaria, de uma só vez, todos os progressos científicos, em
todos os campos hoje conhecidos, mas poderia chegar a realizá-los
sucessivamente, sem ficar muito atrasada na soma de suas noções,
em relação à nossa época atual. O grau de justificativa para tal
especulação utopista poderia indicar também o grau de
probabilidade da existência de tal civilização em eras pré-históricas.
***
Aqui cabe mencionar mais uma vez uma possível manipulação do
código genético. Há uma possibilidade bastante banal, a saber, a da
criação de determinados característicos, sempre praticada pelo
homem, consciente ou inconscientemente, e que produziu os
animais domésticos e as plantas úteis (A. Langenauer).
Uma civilização hipotética poderia ter aplicado este método consigo
mesma, apesar de agora parecer difícil definir sua utilidade prática
para o homem. Alguns peritos em genética consideram
indispensáveis medidas de eugenia (hoje conceito proscrito) pelo
bem da futura humanidade. E, para fechar-se o ciclo, medidas de
eugenia certamente teriam sido o meio escolhido por seres
extraterrenos, hipotéticos, para influírem na evolução do homem.
Todavia, cumpre salientar que medidas de eugenia ou criação programada não produzem a evolução superior, mas apenas permitem
melhor aproveitamento da substância genética existente. Até hoje,
como a evolução superior deve ser definida e como, de fato, chega a
acontecer, continua sendo uma pergunta de ordem filosófica.
Tratemos agora da interpretação dada por Dãniken à Eva bíblica e à
questão de até que ponto tal interpretação é discutível. Com o
progresso hodierno já se consegue fazer evoluir gêmeos idênticos
(vide hereditariedade plasmática), de células do corpo de
vertebrados (sapo). Para tanto, destrói-se o núcleo de uma célula
ovular e nele transplanta-se um dispositivo de controle, o que, aliás,
constitui formidável sucesso na arte de preparação de material de
laboratório (J. B. Gurdon).
A fim de seguir a hipótese de Dãniken, seria preciso retirar do
esperma de Adão dois núcleos (haplóides) com os cromossomos
sexuais femininos. Esses núcleos de gameta deveriam fundir-se em
uma célula do óvulo feminino (proveniente da primeira mulher),
que tivesse seu núcleo destruído. Após as primeiras divisões do
óvulo (Dãniken pensa na medula vital de uma parte de costela de
Adão), o óvulo deveria então ser transplantado para o útero da
primeira mulher de Adão (a que foi repudiada) e assim por diante;
todavia, seria uma situação familiar medonha.
Contudo, hoje em dia tal procedimento não parece totalmente
impossível. Acontece que, em relação ao óvulo humano, o óvulo
anfíbio é desproporcionalmente grande; portanto, o que se pode
manipular com o segundo não precisa, necessariamente, chegar a
ser possível com o primeiro. O menos que podemos dizer de tal
interpretação de tradições místicas, em forma tão extrema, é que a
consideramos muito prematura.
A influência exercida no Homo sapiens, como é imaginada por
Dãniken, deveria ter ocorrido antes da divisão da humanidade em
suas diversas raças, conforme existem hoje, pois, de outra maneira,
a interferência dos seres extraterrestres teria sido bastante dificultada.
***
Atualmente, a imprensa está tentando depreciar Dãniken, classificando-o como autor de ficção científica. Decerto, grande parte de
suas especulações é ou prematura ou indefensável, em face dos
nossos conhecimentos atuais, como, por exemplo, sua tese do saber
pré-programado.
De outro lado, as hipóteses de Dàniken se fundam em fatos
comprovados, atrativos demais para que continuassem a ser deixados de lado. Achamos que estão condenadas ao fracasso as tentativas de liquidar de maneira polêmica as teses polêmicas de Dãniken. Outrossim, seria interessante conhecer o pensamento daqueles
cujo intuito é classificar Dániken como autor de ficção científica. Há
autores de ficção científica, cuja profissão principal é a de técnico
em ciências naturais, conforme acontece com F. Hoyle*, ao passo
que outros são convidados como conferencistas para falar em
assembléias científicas, como, por exemplo, Arthur C. Clarke**, o
primeiro a sugerir, em 1945, o lançamento de satélites artificiais
para a transmissão de noticiários.
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CAPÍTULO V
Deviam vir Deuses Extraterrestres Para Criar o
Homem?
Por Wolfgang Fr. Gutmann, Francfort s/Meno
No FUTURO, A CIÊNCIA E a tecnologia virão condicionar, em grau
elevado, a nossa vida. Ouve-se falar que estão sendo elaboradas
técnicas científicas para a futura manipulação do código genético do
homem. Sem sombra de dúvida, inclusive para o leigo no assunto,
tal biotécnica deverá influenciar e modificar profundamente toda a
sociedade humana.
Portanto, nada tem de surpreendente o sucesso espetacular dos
livros de um autor que se propõe a expor a idéia de que tais técnicas
complicadas, ainda a serem concretizadas no porvir da humanidade, mas cujos contornos já estão começando a delinear-se, já
teriam sido aplicadas no passado. Milênios atrás, seres inteligentes
de outras estrelas teriam interferido na vida terrestre e, assim,
provocado os acontecimentos que conduziram aos grandes feitos
culturais e civilizatórios da humanidade.
"Deuses" de estrelas longínquas, dotados de faculdades e técnicas
especiais, a serem adquiridas no futuro, teriam criado o homem.
Seria a eles que devemos nossa cultura e civilização, o orgulho de
nossa condição humana? Uma idéia extravagante. Mas a história da
tecnologia e da ciência não representa, em si, uma pura seqüência
de aventuras extravagantes? E não seria Erich von Dãniken o
homem a provar-nos que, em nosso mundo superorga-nizado,
ainda existem a grande aventura da ciência e a possibilidade para
cada indivíduo de inteirar-se de magnos conceitos?
No entanto, passemos agora para a objetiva pergunta científica:
Existe um indício para o biólogo ou antropólogo de a evolução
humana ter-se processado da maneira como Dãniken a imagina?
As idéias desse autor poderiam ser liquidadas de imediato, ressaltando-se apenas seu lado negativo: conhecimentos falhos e contradições nas afirmações. Todavia, não é isto o que se pretende
fazer. Dãniken e suas idéias devem ser tomados a sério e examinados no seu contexto sob o prisma de noções científicas estabe-
lecidas. Neste empenho, o autor deste trabalho deve contar com a
benevolente paciência dos seus leitores, aos quais convida a
acompanhá-lo nos campos um tanto difíceis da Antropologia e
Biologia, que procurará interpretar de maneira simplificada, tornando-os mais acessíveis ao público leitor. Na condição de cientista,
cumpre ao autor partir de fatos dados e tomá-los a sério.
A ciência conclui pela origem do homem em base de achados.
Desde a descoberta do "homem de Neanderthal", no século passado,
foram feitos muitos achados de hominídeos. Esses restos "humanos"
encontram-se nas camadas superiores, ou seja, nas camadas
geológicas de data mais recente, o que permite deduzir que o
homem é muito jovem, em comparação com outros seres vivos. O
processo evolutivo culminando no homem deveria ter levado pouco
mais de três milênios. A título de comparação, menciona-se que os
insetos mais antigos devem ter 300 milênios e os animais parecidos
a uma espécie de caracol mais de 500 milênios.
Será que o homem subiu no palco da vida de repente e em forma
acabada? Os achados do "homem de Neanderthal" proporcionaram
os primeiros indícios de que, em tempos primitivos, a aparência do
homem era diferente da atual; era mais parecido com o macaco e
mais "selvagem" do que o homem hodierno. Apesar de a ciência,
por muito tempo, não reconhecer o "homem de Neanderthal" como
achado de hominídeo — muito a contragosto de quem o achou, o
mestre-escola Fuhlrott — hoje em dia não existe mais dúvida a
respeito da evolução humana, da descendência do homem de
antepassados parecidos com macacos. Nos últimos 80 anos, foram
achados dúzias de esqueletos do "homem de Neanderthal" e hoje
sabe-se que foi ele o último homem a viver antes da última era do
gelo. No entanto, vieram a ser achados ainda muitos outros restos
que, freqüentemente, não podem ser reconhecidos como humanos.
E houve ainda uma humanidade da era do gelo da qual provém o
Homo sapiens dos nossos dias; não há mais dúvida a este respeito.
Contudo, o "homem de Neanderthal" também constitui um elo
tardio na evolução da humanidade. Antes dele houve homens do
tipo Steinheim e pithecanthropus. Lamentavelmente, os respectivos
achados são menos numerosos e, quase sempre, muito fragmentários. A história geológica da Terra apenas nos legou fragmentos; o cientista deve assumir o papel de detetive e tirar suas
conclusões com grande cautela. Todavia, ficou comprovada a natureza humana desses achados ósseos, pois daquela era nos vieram
também ferramentas, atestando uma cultura primitiva. A construção de ferramentas indica inteligência humana; não pode ter sido
um macaco a confeccionar cunhas e usá-las de maneira acertada.
No entanto, os achados feitos na África, nos últimos 40 anos, é que
se revestem de importância decisiva para o problema da origem do
homem. Esses primatas, australopitecos, representam seres vivos,
com numerosos característicos de macaco, supostamente ligados à
origem do processo evolutivo do homem; já andavam eretos e
possuíam cérebro um pouco maior do que o do macaco; todavia,
ainda não ficou completamente esclarecido se usaram ou não
ferramentas. Este fato vem demonstrar que não há linha divisória
bem definida entre o macaco e o homem verdadeiro.
No entanto, os achados supra comprovam apenas as fases mais
importantes do processo que deu origem ao homem. Os achados
sempre continuarão fragmentários; sempre haverá grandes lacunas
a serem preenchidas. Todavia, o importante para o nexo em questão
é o fato de a evolução do homem seguir em paralelo com a evolução
cultural. Aos poucos, as ferramentas de pedra, antigamente brutas e
quase não trabalhadas pelo homem primitivo, tornaram-se mais
elaboradas. A habilidade na confecção e no emprego de ferramentas
foi sempre se aperfeiçoando. Disso deduz-se uma evolução no
comportamento do homem.
Além dos esqueletos e ferramentas dos períodos glaciados mais
recentes, dispomos ainda de provas de uma cultura mental. Alguns
crânios estão abertos no lado posterior. Evidentemente, representam sobras de refeições canibalescas. O vencedor retirou o cérebro
do crânio do vencido para comê-lo, a fim de integrar-se na posse
das faculdades mentais do assassinado. Tal procedimento pressupõe uma imaginação religiosa, um processo de percepção mental.
Também o tamanho do cérebro aumentou no decorrer da evolução
do homem. Existe uma seqüência quase ininterrupta, começando
com o cérebro em volume típico do macaco e levando às formas
correspondentes ao cérebro humano atual. Mesmo que não se deva
pressupor, sem mais nem menos, um processo evolutivo em
paralelo do cérebro e das faculdades mentais, não pode ser excluída
a hipótese de tal paralelismo, em forma bastante expressiva.
Em se considerando o quadro sob seus aspectos gerais, são distintamente reconhecíveis a formação dos hábitos típicos do homem, a
diminuição dos característicos do macaco, o aumento do volume do
cérebro e a progressiva origem de uma cultura. Em face desses
fatos, não cabe outra explicação senão a de o homem descender de
antepassados semelhantes a macacos, tanto em sua constituição
orgânica, quanto em seu comportamento e sua cultura. Decerto,
existem algumas lacunas; mas são de fácil explicação. Restos
humanos fragmentam-se com facilidade, os ossos dissolvem-se.
Ademais e não obstante esses fatos, há pouca chance para os parcos
restos conservados chegarem a ser encontrados, pois, quase sempre,
as camadas geológicas que contêm restos humanos estão sendo
retiradas e os esqueletos ficam expostos à ação do tempo. Certamente, não haverá quem duvide de que os atuais habitantes da
Europa Central descendem dos homens medievais, cujos esqueletos
são encontrados, vez por outra, nos cemitérios, em sarcófagos e
túmulos. Mas como seria difícil achar, para tanto, prova genealógica
em seqüência ininterruptal Por conseguinte, nos espaços de tempo,
contados em centenas de milênios, da evolução humana, a
existência de lacunas é mais que plausível. No entanto, cabe aqui a
pergunta a Dániken: Será lícito situar nessas lacunas acontecimentos
altamente improváveis? Não são os próprios fatos a atestarem que
nesses intervalos a evolução prosseguiu em curso normal, idêntico
ao que pode ser verificado e comprovado em toda parte?
***
A evolução biológica do homem dispensa outra explicação além da
do desenvolvimento normal, terrestre. Sem dúvida, no decorrer do
tempo, as lacunas serão preenchidas, progressivamente, com
achados a serem feitos e, na medida em que isto acontecer, toda
explicação adicional tornar-se-á menos provável. Neste contexto é
lícito lembrar que, faz 80 anos, a evolução da humanidade já foi
devidamente explicada e afirmada, quando ainda se contava com
uns poucos achados apenas. Foi principalmente o zoólogo alemão
Ernst Haeckel (1834-1919) quem defendeu esta tese com grande
empenho. Naquela época, muitos contemporâneos cépticos
alegaram a falta de provas e a existência de tamanhas lacunas.
Entrementes, o número de achados aumentou muito, as lacunas
diminuíram e foram desmentidos os cépticos de fins do século
passado. Também não se pode duvidar de que achados futuros
virão preencher ainda mais as lacunas remanescentes e atestar o
prosseguimento normal da evolução, também no homem. Aí não
haverá então mais lugar para promotores extraterrenos do desenvolvimento humano.
A improbabilidade das teses de Dániken fica demonstrada pelas
noções obtidas com a pesquisa do comportamento. Nos últimos 20
anos, as atuais espécies de antropóides são objeto de estudos, em
parte bastante intensos; com isso descobriram-se várias maneiras de
comportamento semelhantes àqueles do homem. Principalmente o
chimpanzé revelou-se, em determinados traços, como modelo da
humanidade; sua inteligência, seu manejo de ferramentas, certas
liberdades no comportamento, bem como as relações sociais entre
os animais nos bandos, no tratamento da cria, sujeita a extensos
períodos de educação, indicam semelhança com o homem. Sabemos
até que algumas espécies de macacos que habitam as planícies
adotam regras de comportamento diversas das adotadas pelas que
habitam regiões montanhosas. Isto também poderia ser interpretado
como revelando certas inclinações para a tradição, ou seja, para
legar aos descendentes determinados padrões de comportamento.
Portanto, em princípio, a transição do comportamento do macaco
para o do homem não apresenta problemas. Outrossim, a prova da
transformação do comportamento do macaco na cultura humana
deverá estar perdida para sempre, pois padrões de comportamento
não podem ser convertidos em fósseis. Todavia, as ferramentas de
pedra permitem distinguir nitidamente o emprego sucessivamente
mais amplo das ferramentas pelo homem, sua capacidade de
aprender e sua crescente habilidade.
Durante séculos, considerou-se o homem a "coroa da criação". As
ciências naturais não têm condições de provar ou negar esta
apreciação qualitativa; apenas podem definir a posição do homem
dentro de um mundo conhecido em base dos conhecimentos
acumulados nesse campo especializado. Apreciado sob a perspectiva da constituição e do comportamento de antepassados semelhantes ao macaco, o homem se torna passível de explicações, ao
menos parciais; a evolução lhe esclarece a origem. Não há indícios
para a intervenção de seres extraterrestres. As explicações de
Dãniken são supérfluas; mas não podem ser desmentidas. Não há
prova em contrário para uma tese inútil e infundada.
Todavia, a condição do homem deixa de ser bem definida se não for
considerada em seu grande nexo geral. Os mamíferos, dos quais o
homem, junto com o macaco, representa apenas um ramo lateral,
descendem dos peixes, apesar de sua qualidade de vertebrados. Uns
300 milhões de anos atrás, animais em forma de peixe deixaram as
águas, transferindo-se para a terra firme, como anfíbios e evoluíram
para reptis. Outrossim, tanto pássaros como mamíferos descendem
de reptis. No desenrolar do processo evolutivo, os animais
tornaram-se sempre mais complexos e sua constituição passou por
transformações fundamentais.
Atualmente, dispomos de fósseis em número suficiente para
acompanhar os caminhos seguidos pela evolução dos vertebrados
até o homem. É certo que os membros do corpo evoluíram das
barbatanas em pares do peixe primitivo, que as brânquias do peixe
degeneraram, enquanto nos animais em terra firme evoluíram os
pulmões, antigamente inexistentes. Todavia, também aqui há
grandes lacunas nas provas dessa evolução nas diversas eras
geológicas e nessas lacunas — é o que Dániken poderia alegar —
seres extraterrenos teriam promovido o desenvolvimento mediante
a manipulação do código genético. Também esta tese não pode ser
desmentida. No entanto, o fato é que bastam para a evolução as
explicações supramencionadas. As ciências naturais só podem
considerar como válidos os mecanismos que sempre tornam a ser
funcionais. Deparamo-nos, pois, com a pergunta, se as hipóteses de
Dániken devem ser interpretadas como demonstrando um caso
normal ou como um "deus ex machina" (expediente de emergência)
para o desenvolvimento da humanidade.
O quanto são supérfluas as suposições de Dániken fica também
comprovado pelo fato de ainda hoje ter elevada significação para o
corpo humano o progresso evolutivo levando dos peixes para os
anfíbios e os reptis, pois, até a época atual, o corpo humano
comporta formações resultantes da história dos vertebrados, no
desenrolar de 500 milênios.
Todo embrião em fase precoce, seja humano ou de outro mamífero,
desenvolve fendas de brânquias exatamente como as conhecemos
no peixe. No início, também o coração representa um simples tubo,
conforme existe no peixe. Em fase posterior da evolução embrional,
as brânquias degeneram, deixando apenas um arco situado bem em
frente, que evolui para a maxila, e urna fenda que se desenvolve
para um trecho importante do conduto auditivo. No embrião
humano, o coração adquire formas sempre mais complexas e chega
à sua evolução definitiva passando por fases intermediárias,
correspondentes às observadas nos anfíbios e reptis. A cavidade
abdominal, com o coração e os órgãos internos, evolui aos poucos
para subdivisões intrincadas. Também esta evolução passa por fases
intermediárias; ainda hoje podem ser observadas nos vertebrados
inferiores. Primeiro, o coração é subdividido em vários
compartimentos, os quais, passando por fases que conhecemos nos
anfíbios e reptis, ficam posteriormente transformados; no curso
dessa evolução o coração desloca-se da região do pescoço para o
peito, tal como acontece com os animais primitivos em terra firme,
descendentes do peixe, desprovido de pescoço.
Este breve esboço, muito genérico, vem demonstrar que, em sua
fase embrional, o homem passa pelas etapas mais importantes do
seu passado mais remoto e, com isto, é portador de sua própria
história. Em palavras simples poder-se-ia dizer que o embrião passa
por uma fase de peixe, depois de vertebrado, habitando terra firme,
e, por último, de mamífero. Portanto, o embrião humano demonstra
em resumo as fases transitórias decisivas da evolução. Este processo
prossegue, sem solução de continuidade, até o recém-nascido e
abrange ainda muitos outros órgãos aqui não mencionados.
***
A esta altura, o leitor deverá perguntar em que sentido este estado
de coisas poderia servir de base para uma crítica das teses de Erich
von Dániken. Vejamos, pois: oferece argumentação, sob dois pontos
de vista. Primeiro, cabe indagar se: Uma intervenção de importância
tão grande como o seria a rápida manipulação do código genético,
executada por seres extraterrestres, não teria deixado traços na
evolução embrional? Essa evolução não revela transformações
violentas. Inexistem indícios para a ocorrência de acontecimentos,
conforme pressentidos por Dániken. Não se constatou aceleração
alguma na formação do cérebro na fase final do desenvolvimento
das branquias, nem há qualquer sinal de transformação repentina.
Todavia, os argumentos em contrário de maior peso são obtidos sob
o segundo ponto de vista. Ao supor que os seres extraterrestres
Quadros comparativos do desenvolvimento genealógico, a partir do peixe,
passando por reptis e anfíbios, até os mamíferos e a evolução embrional dos
mamíferos (homem). Nas fases precoces de seu desenvolvimento, o embrião
mostra formações musculares regularmente dispostas (S) e branquias (K),
conforme existem no peixe.
No embrião o coração (H) está se diferenciando na parte posterior do abdome; a
exemplo do peixe, situa-se em frente. O coração desloca-se para trás, dentro do
tórax. Translocação análoga ocorreu quando os vertebrados começaram a habitar
a terra firme, desenvolveram o pescoço e, nos reptis e anfíbios, o coração passou
da região do pescoço para a do tórax. Com a formação do diafragma (Z), o tórax
separa-se do abdome; o diafragma só é evoluído nos mamíferos. No decorrer da
evolução embrional, a parte destinada aos pulmões chega a circundar o coração.
teriam tido aparência humana, Dãniken avança uma afirmação cujo
alcance ele próprio aparentemente ignora. Pois, se nossos órgãos e
nossa aparência externa ter-se-iam moldados no processo evolutivo
supramencionado e conforme demonstra o desenvolvimento do
embrião humano, Dãniken deveria reclamar evolução idêntica para
os promotores extraterrenos do homem terrestre. Se tivessem sido
semelhantes ao homem, dotados, por exemplo, de maxila e ouvidos,
não deveriam então ter-se originado da mesma forma em que nos
originamos? A nossa maxila não é apenas do jeito que é para
mastigar e morder, mas ainda porque, em tempos imemoriais,
constituiu o reforço das brânquias do peixe primitivíssimo. Ainda
no embrião hodierno continua a ser esboçada como arco de
brânquias. O que vale para a maxila é igualmente válido para cada
órgão individual do corpo humano; cada qual tem a sua história de
evolução e só se explica nesta base. Se os seres extraterrenos fossem
de constituição idêntica à do homem terrestre, deveriam ter passado
pelo mesmo processo evolutivo em sua estrela natal. Também lá o
desenvolvimento deveria ter passado do peixe para o mamífero e
para o homem.
A improbabilidade de tal suposição fica patente, considerando-se a
enorme diversidade da vida na Terra. Em toda evolução de vida
entra o fator acaso. E aí está Dãniken, pensando que em outra
estrela teria ocorrido processo evolutivo igual; isto é muito, mas
muito improvável. Se a vida em outro corpo celeste, realmente, teria
chegado ao nível de desenvolver inteligência, teria, ou melhor,
deveria ter criado seres bem diferentes. E nem se poderia avaliar, de
longe, a diversidade de possíveis organismos móveis, inclusive os
que estariam em nível da inteligência humana. Por conseguinte, se
os "deuses" fossem de constituição anatômica diversa, a fecundação
do homem por tais "viajantes entre os mundos" teria sido
impossível, pois a cópula requer dois indivíduos mutuamente
combinando.
Nos últimos 50 anos, a pesquisa científica revelou de maneira
convincente como, no decurso da evolução, novas espécies animais,
de constituição diversa, chegaram a originar-se. Sabe-se que transformações espontâneas são produzidas por mutações que, no
entanto, quase sempre costumam ser nocivas e provocam a extinção
das formas alteradas. Só quando, por acaso, as transformações nos
genes vierem a oferecer vantagem, não chegam a ser exterminadas,
pois a seleção prefere as formas superiores, mais capacitadas, em
detrimento das mais fracas. É dessa maneira que agem no processo
evolutivo as mutações ocasionais e a seleção conseqüente de
aperfeiçoamento.
Como é que Dãniken entende a evolução? Toda vez em que o termo
'mutação' aparece em suas exposições, não pode ter o significado
que lhe é dado pelo biólogo. Evidentemente, Dãniken confunde o
conceito 'evolução', ou seja, o desenvolvimento genealógico, com
'mutação'. Dãniken parece ignorar o fato de mutação significar
apenas a mudança não programada do código genético, processado
a passos curtos. No seu livro "De Volta às Estrelas" o autor avança a
idéia de a Antropologia, em seu progresso de até agora, considerar
a transição do hominídeo para o homem devida a uma só mutação.
Nenhum antropólogo ou biólogo a ser levado a sério jamais
considerou a transformação do hominídeo para o homem devida a
uma só mutação, mas sim, tal transição deve ter sido provocada por
muitas centenas, se não milhares de mutações. Além do mais, a
seleção deveria ter escolhido, entre um número ainda bem maior de
mutações opcionais, aquelas que garantissem as melhores
vantagens de sobrevivência.
Alguns leitores dos livros de Dãniken deveriam ter perguntado se
não seria concebível o cruzamento de seres vivos de desenvolvimento embrional diverso e constituição orgânica fundamentalmente diferente. Tal cruzamento é impossível. No ato da fecundação, os genes dos "deuses" ter-se-iam misturado com os dos
homens primitivos. O código genético humano prescreve a evolução embrional acima exposta; sem dúvida, o código genético dos
"deuses" teria condicionado desenvolvimento diferente. Com isto —
se é que se admite a possibilidade de fecundação — teria sido
provocada uma situação conflitante que nem teria permitido a
origem de um embrião. Jamais poderia ter havido cruzamento entre
"deuses" e hominídeos.
Aliás, há argumentos importantíssimos contra a hipótese do
cruzamento de seres de espécies diferentes; até animais pertencentes à mesma família, quase indistinguíveis em sua aparência
externa, não podem ser cruzados. Mesmo que a cópula chegue a
concretizar-se, os descendentes ficam estéreis, conforme provaram
os cruzamentos de burro com cavalo, de leão com tigre. Para o leitor
leigo no assunto, damos a seguir algumas explicações a respeito.
***
Os característicos genéticos estão dispostos como contas em um
colar, que consiste em formações lembrando filamentos. Os elos da
corrente são constituídos por moléculas que encerram o código
genético e foi desses filamentos que ele chegou a ser decifrado,
mediante o emprego de processos químicos. Também o desenrolar
da evolução embrional é dirigido por essas moléculas, o que quer
dizer que a repetição acima esboçada da genealogia antiquíssima
vem sendo transmitida com os genes, pois as diretrizes para as
transformações do germe, inicialmente minúsculo e em seguida
sempre maior e mais complexo, partem da corrente que encerra o
código genético. O número dos característicos hereditários do
homem é enorme e nem pode ser avaliado com segurança razoável,
pois supera toda e qualquer imaginação. Acontece que o código
genético não está encerrado em uma só corrente comprida, mas sim,
distribuído em grande número de pequenas correntes parciais, em
segmentos, denominados cromossomos. O código genético pode ser
considerado como dispositivo direcional da constituição do
organismo, encerrado nos cromossomos, como em tomos ou
brochuras individuais. Os cromossomos são contidos no núcleo de
cada célula. Por ocasião da divisão celular, os cromossomos ficam
igualmente divididos e cada célula nova leva idêntico código
genético em seu caminho. Portanto, o código genético é
multiplicado. Como no organismo animal toda célula provém da
primeira célula do germe, a célula do óvulo fecundado, todas as
células encerram idêntico código genético.
Seria concebível que a seqüência dos característicos hereditários
fosse completamente diferente. É apenas por acaso que é como é.
Também a subdivisão dos cromossomos poderia ser outra. Uma
obra literária em quatro volumes poderia tão bem ser publicada em
dois volumes apenas. Da mesma forma, o código genético humano
poderia ser distribuído em vinte ou em cem cromossomos. Acontece
que no homem temos 2 x 23 cromossomos na estrutura existente.
Qualquer outra maneira de subdivisão seria igualmente concebível.
E o homem nem precisava ter constituição diferente da que tem.
De que maneira este estado de coisas desmente as teses de Dãniken
só será compreendido em todo seu alcance considerando aquilo que
acontece com os cromossomos no ato da reprodução. No processo
reprodutivo do homem (e de quase todos os animais) os pares de
cromossomos dividem-se nas células reprodutivas em número de 23
por vez; este número chama-se haplóide. Tanto a célula espermática
masculina como a célula do óvulo feminino dispõem de 23
cromossomos dos antigos 46 (formando pares). Quando, na
fecundação, a célula espermática e a célula ovular se fundem, o
conjunto volta a contar 46 cromossomos (23 masculinos e 23
femininos). Nas subseqüentes divisões celulares, produzindo as
muitas células do corpo embrional, cada célula do corpo adquire
novamente 46 cromossomos. Só as células sexuais desta nova
geração subdividem-se no número haplóide. Na origem de células
espermáticas e ovulares, os pares de cromossomos ficam
inicialmente dispostos em sentido paralelo, um ao outro, para
posteriormente ficarem separados. Enquanto se encontram em
disposição paralela, freqüentemente, acontece a troca de partes. Os
novos pares têm composição diferente da dos originais, paternos e
maternos. No entanto, a troca das partes também sempre dá origem
a pares com determinada seqüência de característicos. Os pares de
cromossomos devem combinar perfeitamente. Toda e qualquer
intervenção ou irregularidade no decorrer deste processo incapacita
o indivíduo para a vida ou o deixa com gravíssimos defeitos
congênitos. No caso de os pares de cromossomos sofrerem ligeiras
aberrações, a reprodução pode não se realizar. Aí a barreira não se
ergue apenas entre o homem e o animal, conforme as teses da
Dániken, mas também entre espécies animais da mesma família.
Esta descrição sumária das relações existentes entre os cromossomos deve ser confrontada com as hipóteses avançadas por Dániken. Vamos supor, a seu favor, que os seres extraterrestres realmente teriam sido semelhantes ao homem, com condições de
fecundarem o ser primitivo da Terra. Aí, a corrente das características hereditárias deveria apresentar a mesma continuidade nos
"deuses" e nos homens; além do mais, a subdivisão dos cromossomos também deveria ter sido a mesma, pois a menor aberração teria
impossibilitado o cruzamento dos "deuses" com os homens. Isto
significa que uma cadeia de centenas de milhares, se não de milhões
de característicos hereditários deveria ter-se originado duas vezes,
independentemente uma da outra, no homem e nos "deuses", em
dois corpos mundiais diversos, em idêntica seqüência, Pois,
somente no caso de a seqüência dos característicos hereditários
combinar perfeitamente e de os cromossomos "divinos" passarem
pelo mesmo processo evolutivo por que passam os cromossomos
humanos, chegariam a fundir-se na célula ovular e proces-sar-se-ia
a divisão na nova geração.
A suposição de os "deuses" de uma estrela distante e de o homem
terrestre possuírem idêntico código genético é improvável ao ponto
de ser excluída até por pessoa leiga em biologia, mas conhecedora
dos fundamentos rudimentares do mecanismo de cromossomos.
Daremos a seguir um exemplo comparativo que talvez possa
ilustrar melhor a improbabilidade das idéias de Dãni-ken.
Suponhamos que duas crianças receberam a tarefa de, independentes uma da outra, enfiar contas em um colar. Cada criança
tem contas em quatro cores (correspondentes aos componentes dos
característicos genéticos). Fica a seu cargo escolher a seqüência das
contas, inclusive do comprimento do colar. É só imaginar como
seria improvável que as duas crianças enfiassem as contas na
mesma seqüência. A possibilidade de concordância é de uma em
um bilhão. Da mesma forma é improvável a suposição de os
mesmos característicos existirem na Terra e em qualquer lugar do
Universo, como é improvável — para ficarmos no âmbito do nosso
exemplo — que duas crianças recebessem tarefa idêntica, ou seja,
que o homem tivesse chegado a evolução idêntica em dois pontos
diferentes do Cosmo.
Nem a repetida leitura das respectivas passagens nos dois livros de
Dániken esclareceu-me a respeito dos seus pensamentos sobre
aquilo que os deuses teriam feito com o hominídeo terrestre. Cruzaram-se, ou seja, praticaram o ato sexual para assim gerar as
formas humanas "aprimoradas"? Em que consistiu, então, a manipulação? A reprodução do homem é um processo normal. Se os
deuses tivessem condições de manipular o código genético, não
precisavam eles próprios ter entrado em cena, cruzando-se com o
homem. Aí deveriam eles ter provocado as mutações no hominídeo
com o auxílio de aparelhos complicados, permitindo intervenções
cirúrgicas nos genes. Para tanto, Dániken acha os deuses capazes,
porém não explica como imaginou tais manipulações.
Evidentemente, ele não acha nada difícil manipular o código genético, enfiando em um cromossomo alguns característicos diferentes,
conforme se enfiam contas em um colar, e, com isto, produzir o
homem "mutado".
***
Até hoje perito algum em biologia molecular sabe de que forma, no
futuro, o código genético de uma célula sexual poderá chegar a ser
modificado. As células são de tamanho extremamente minúsculo. E
é só o núcleo celular que encerra a estrutura responsável pela
hereditariedade. Em geral, durante uma só fase da vida essas
estruturas existem em forma de cromossomos incrivelmente
pequenos e delgados. Nessas circunstâncias, como é que se pode
manipular? executar uma intervenção programada? Talvez chegará
o dia em que, de uma forma ou outra, será possível modificar o
código genético. Até agora, ninguém tem condições de, para tanto,
predizer algum método ou qualquer técnica. Experiências com vírus
ou bactérias dificilmente poderiam levar a estabelecer uma técnica
que permita a eventual manipulação do código genético do homem
ou dos mamíferos. Dániken simplesmente ignora este complicado
estado de coisas; ao invés de considerá-lo, prefere citar alguns
pronunciamentos arriscados por Herman Kahn. Nos últimos 15
anos, este futurólogo elaborou planos para o emprego de armas
atômicas na moderna guerra de extermínio; recentemente passou a
ocupar-se de futurologia. Kahn acha que em tempo previsível,
dentro de 15 a 20 anos, será possível comprar na loja embriões pela
cor dos olhos e do cabelo, talvez ainda com outros característicos
determinados, como hoje se compram sementes de flores na
floricultura. Quem arriscar tais previsões, nada mais faz do que
documentar sua ignorância do complicadíssimo contexto genético e
dos mecanismos bioquímicos no interior da célula. Decerto, tais
compras não chegarão a ser feitas durante o tempo de nossa vida.
Aliás, é bem possível que o caminho para a compreensão da vida na
Terra seja ainda mais longo do que o para estrelas distantes.
CAPÍTULO VI
Fatos e Preconceitos conforme Sabemos, o que
Sabemos — Dániken no Campo da Biologia
Por Jürgen Nienhaus
DÁNIKEN É UM FENÔMENO DA história atual — fenômeno (no sentido
do termo grego: aparição), que chamou a atenção geral de maneira
praticamente incrível. Para alguns, o fenômeno era um escândalo
(no sentido do termo grego: zanga). Todavia, quem fica zangado
deixa de ser objetivo. É interessante saber por que Dániken chamou
tanta atenção e por que foi motivo de zanga, para alguns. Ambas as
contingências parecem intimamente entrelaçadas e ambas obrigam
a uma tomada de posição, que ultrapassa a área restrita do campo
técnico, em si.
Os títulos dos livros de Alexander Mitscherlich caracterizam
situações intelectuais típicas e essenciais para a mentalidade moderna e suas manifestações; decerto, em sua maior parte, o grande
sucesso de livraria alcançado por Dániken prende-se ao fato de
ainda não termos vencido "o caminho para a sociedade sem pai".
Após a perda dos "pais", a começar por Deus e até todos os seus
representantes não autorizados, como sejam, sacerdotes, cientistas,
professores e os próprios pais que nos geraram, o deus-cosmonauta
"superior" adquire para nós feições paternas, torna-se o pai ao qual
podemos dedicar nossa veneração, podemos recorrer na hora da
aflição e que também nos pode restituir o conceito de pai, perdido
com experiências dolorosas.
Outros motivos surgirão ainda no decorrer destas nossas pesquisas.
No contexto do pró e contra, acharemos de interesse especial a
atitude mental de Dániken, da qual surgiram suas hipóteses,
fadadas a um sucesso formidável, em todo o mundo.
Acontece porém que a maneira pela qual os representantes da
Justiça Suíça (e os peritos por ela designados) condenaram Dániken
é pouco compreensível para a opinião pública hodierna, científica e
acostumada com as realidades da vida; por isto é que se deve tocar
no assunto, justamente no interesse dessa opinião. A gestão
financeira de Dãniken pode ter sido notável, no sentido literal da
palavra; todavia, a relação entre o homem moderno e o dinheiro
passou a ser diferente do que era em tempos passados. O dinheiro
deixou de ser o "bezerro de ouro", objeto de culto, não constitui
mais um tesouro a ser guardado; hoje em dia, muito mais do que
em qualquer outra época, o dinheiro é simplesmente um meio para
alcançar determinado fim.
A mentalidade moderna acha suspeita uma renda de 18% auferida
em aplicações financeiras que nenhum trabalho exigem do inversor.
Por enquanto, a riqueza continua sendo tolerada pela lei; no
entanto, a chamada para uma posição de destaque na vida pública
torna a legalidade do "capital" sempre mais duvidosa. Não é preciso
ser comunista para reconhecer este fato, que é questão de raciocínio
e está sendo adotado pela opinião pública em ritmo bem mais
ligeiro do que seria de supor-se, em face do proverbial atraso da
jurisprudência e da sociologia, em relação aos conceitos atuais.
Se é que se pode falar de culpa no caso de Erich von Dãniken, essa
culpa não caberia somente a ele, por infringir algumas regras de
jogo (e ademais ele saldou suas dívidas); contudo, todo jogo deve
ter suas regras, pois são úteis e necessárias. Por outra, parece ser de
curta visão, e ainda perigoso, colocar as regras acima do homem;
aliás, parece que as autoridades jurídicas e ainda os peritos em
psiquiatria por elas designadas ficam particularmente expostos a
esse perigo. Apesar de a atual psicologia antropológica limitar-se a
tomar conhecimento, simples e objetivamente, da inexistência de
qualquer norma válida para todos, bem como da praticabilidade de
todas as formas de comportamento na natureza e na sociedade
humanas, servindo à sobrevivência, parece possível condenar
moralmente determinados padrões de ritmo de trabalho (das 12 às
24 h, ao invés do horário comum das 8 às 18 h), de comportamento
sexual e outros. Ao passo que os antropólogos ensinam que em
diversos povos há diferentes normas de conduta (por exemplo,
entre esquimós e em determinadas tribos indianas, ignorando o
termo e conceito "guerra", é de praxe a dona de casa oferecer seu
corpo ao visitante; os insulanos de Dobu, na Nova Guiné,
consideram a maldade e a intriga virtudes máximas), ao passo que o
homem moderno vem se orientando sempre mais pela realidade do
que pela lei, a psiquiatria desvirtuada pela justiça quase se torna
inquisição. Enfim, a tentativa de enquadrar um homem dentro de
determinado esquema normativo nada mais é do que uma crítica da
realidade (antigamente ter-se-ia falado em blasfêmia).
Uma das piores heranças do Ocidente é a filosofia jurídica romana;
pois forçosamente leva para a intolerância e a destruição
esquizofrênica. Acontece que o homem é um indivíduo, cujo cérebro dispõe de IO300 possibilidades de ligação (a título de comparação: o número de todas as moléculas de água em todos os oceanos
alcança IO48). Neste campo, quanto mais se regular, condicionar e
programar, tanto mais paira acima da condição humana a "imagem
de Deus". Tais pensamentos não levam à anarquia, mas sim à
tolerância, a única maneira de comportamento possível na
conjuntura atual. Com as possibilidades técnicas da nossa época, a
intolerância leva, conseqüentemente, para o extermínio da espécie
humana, se não de toda a vida. Se é que existe tal coisa como a
evolução humana pelo progresso, então única e exclusivamente em
base do elevadíssimo grau de liberdade das "máquinas pensantes".
***
Todavia, deixemos essas considerações abstratas e voltemos ao
assunto. Vejamos outras críticas a Dániken.
Há, por exemplo, a do "ghost-writer", ou seja, da terceira pessoa que
teria feito com que seus livros se tornassem legíveis.
Quase não há publicação científica que não tenha passado por uma
revisão pelo redator editorial junto com o autor. Não obstante todo
respeito pela liberdade de escrever, existe certa inibição por parte de
quem escreve, certo receio de não se poder colocar suficientemente
no lugar do leitor, de considerar compreensível o que talvez ainda
necessite de explicação e assim por diante. Nem o relato mais
simples consegue ser perfeitamente objetivo, mas, em última
análise, representa uma reprodução sugestiva, sob o ponto de vista
do relator. Um protocolo literal ou a descrição verbal de uma
determinada passagem tirada da vida real, jamais consegue ser
outra coisa do que um mapa de dado trecho parcial. Tal mapa
nunca pode ser completo, mas deve ser compreensível e os
cartógrafos que trabalham em sua elaboração, tornando-a acessível
à mentalidade do público, correspondem aos redatores que, por
experiência e profissão, sabem como tais mapas costumam ser lidos
e interpretados.
Na época atual, em que a cooperação é valorizada como nunca foi
antes, a ilusão do escritor solitário não deveria ser corrigida com
conceitos tão depreciativos como o do "ghost-writer". Escritores
solitários existem hoje apenas nas classes escolares, quando,
proibindo aos nossos filhos de copiarem um do outro, educamo-los
para seres não sociais ou associais, ou — pior ainda — para
ruminantes de alguns poucos lugares-comuns de sabedoria escolar.
E a crítica do plágio?
Nas referências de fontes, o autor citou a literatura utilizada de
maneira correta, usada na ciência. Aliás, hoje em dia, com a difusão
quase total de noticiário, praticamente deixa de ser possível
comprovar a originalidade da própria idéia. Talvez caberia
mencionar aqui o fato de atualmente serem conduzidas pesquisas
científicas, investigando como pode ser possível que idéias fiquem,
por assim dizer, suspensas no ar e depois, de repente, aparecerem
em diversos lugares ao mesmo tempo e, aparentemente,
independentes uma da outra. Também a prática usual e inevitável
em todo trabalho científico ou científico-popular de usar fontes e
fazer citações não deveria ser considerada no sentido depreciativo
de "plágio", só para manter a ilusão do pesquisador solitário,
lançando o seu repentino "heureka" (achei).
Quando, dez anos atrás, uma pesquisa de opinião realizada na
Alemanha revelou que o professor universitário se coloca entre as
pessoas de maior estima popular, um professor de filosofia
comentou: "Eles não nos conhecem". Desde que J. D. Watson, contra
a vontade da editora universitária que lançou seu livro "A Hélice
Dupla", descreveu de maneira liberalíssima as realidades do
mundo, desapareceu o mito do cientista solitário, antigamente em
moda com o grande público. Nossa vida tornou-se transparente.
Agora só nos resta decidir se queremos passar nossos dias em
tolerância, ou optarmos pelo "estado das formigas", rigorosamente
regulamentado e controlado pelo "irmão maior".
***
E como foi que Dãniken tratou do seu problema?
Ele mesmo se chama de pesquisador domingueiro. Pois bem, é
justamente esta uma das suas grandes qualidades. Como outros,
que vieram antes e virão depois dele, Dãniken também tomou
conhecimento da idéia da cosmonáutica pré-histórica e resolveu
adotá-la. O característico decisivo de sua maneira de trabalhar — ao
contrário de alguns dos seus colegas no campo dos "fatos
incômodos" — é o de partir para seu labor, munido de vara de
aferidor e raciocínio sadio, para ele próprio verificar esses "fatos
incômodos", ao invés de "elaborá-los em livros, sobre livros, de
livros". E é este exatamente o método pragmático, exigido pela
ciência moderna e que deveria ser adotado pela ciência.
Mesmo que até agora nem todos os cientistas tenham-se mostrado
dispostos a aceitar o surgimento de uma atitude orientada pela
realidade (na semântica geral dir-se-ia orientação exten-sional ou
operacional), ainda há a esperança de essa inclinação, indispensável
para a sobrevivência, vencer mediante doutrinação geral semântica.
Hoje em dia já existe muita literatura orientada naquela direção,
tratando, por exemplo, do problema de conforme sabemos, o que
sabemos. Desta maneira ficou revelado que grande parte do nosso
saber é mero saber de palavras, que adotamos em confiança da
"imagem do pai", dos professores e autores. Muita coisa desses
conhecimentos é impassível de qualquer prova; ao menos foi o que
controlamos operacionalmente para nós mesmos; e muita coisa
nova julgamos pela sua eventual certeza, ao som mais ou menos
harmonioso daquilo com que estamos acostumados.
O nosso sistema educacional hodierno só admite como cientista,
perito, técnico, quem aprendeu o mais possível e de uma só língua,
falada por outro cientista que, por sua vez, é reconhecido
oficialmente dentro desse sistema egotista. A condição de cientista
ou perito só se consegue em nosso sistema social já superado
obtendo um certificado de habilidade em determinada filosofia e
terminologia usada pelos peritos, emitido por um desses peritos
egotistas. Também este estado de coisas pertence à triste e hoje
prejudicial herança da antiga filosofia romana, que colocou o
símbolo e a regra acima do homem e da realidade.
Pois bem; no entanto, de um ponto de vista objetivo, achamos que
um homem como Erich von Dãniken, dotado de raciocínio sadio e,
em sua profissão de hoteleiro, possuidor de bons conhecimentos a
respeito do aprovisionamento de grandes massas humanas, deveria
ter condições muito boas — no sentido mais amplo — para
ponderações científicas sobre as possibilidades da construção das
pirâmides e da insolubilidade do conseqüente problema de
abastecer os enormes exércitos de operários. Todavia, Dániken, o
empírico, revelou verdadeiro espírito científico com essas suas
respectivas ponderações. Ao passo que alguns dos seus colegas no
campo dos "fatos incômodos" ainda presos à simbólica pré-científica
do dinheiro, imaginam que as pirâmides foram construídas com os
tesouros apanhados nas minas sul-africanas de ouro, Dániken, o
hoteleiro, sabe muito bem que nos canteiros de obras de tão vastos
exércitos de trabalho precisa-se de ferramentas fora do comum, de
mantimentos em quantidades descomunais e de latrinas especiais
— enfim, coisas que não podem ser levadas para o local apenas com
"ouro e pedras preciosas", nem que existissem em quantidade
inimaginável, por serem meros símbolos de riqueza.
Dániken pensa de maneira operacional, para usar um termo da
ciência moderna: ele procura controlar e, para tanto, não hesita em
empregar todo seu poder meditativo. O fato de ele ter partido de
uma hipótese que, para nós, soa um tanto inco-mum, em absoluto
não é anticientífico, enquanto ele definir essa sua hipótese como tal.
E foi isto o que ele fez. Todavia, elevou sua hipótese para uma
teoria, segundo a qual podem ser feitas previsões sobre achados
ainda a fazer. Com isto, ele demonstra uma atitude aberta, que o
cientista moderno deveria tomar, pois ele diz: "Vamos ver o que dá,
se...", bem ao contrário da atitude dogmática, aristotélica, orientada
pelo som de palavras e por normas fixadas pela autoridade, que
ignora os fatos os quais, no máximo, procura adaptar até chegarem
a "combinar" e nada admite "que não pode ser, porque não deve
ser".
Talvez possam ser respondidas agora as perguntas formuladas no
início deste trabalho: Por que Dániken, o fenômeno da história
atual, chamou tanta atenção e deu tanto motivo de zanga? Dániken
trata de uma tese fora do comum, de maneira moderna,
dispensando a sanção das autoridades convencionais. Com isto, ele
se aproxima da consciência moderna, que se deve orientar por fatos,
mesmo que sejam incômodos. Outro elemento que concorre para o
seu sucesso é o fato de ter restaurado para a sociedade sem pai a
imagem paterna que, ademais, é perfeitamente concebível na época
da astronáutica. Todavia, essa atitude moderna coloca-o em conflito
com as autoridades que se orientam menos pela realidade, do que
pelas leis auto-sanciona-das, sem refletir que toda lei fixada pelo
homem só pode ser de natureza fictícia, de "fazer de conta".
Outrossim, pode ser dito perante o grande público que a idéia de a
vida terrestre estar ligada à vida extraterrestre, em absoluto não
constitui domínio de alguns "outsiders" de pensamentos malucos,
pois, Svante Arrhenius (1859-1927), físico-químico e Prémio Nobel,
já forneceu a explicação para a origem da vida na Terra, mediante
esporos cósmicos, transportados para cá por "pressão de radiação".
Todo pesquisador sério, habituado a um aberto modo científico de
pensar, evitará prudentemente julgar algo "impossível", somente
pelo fato de que é mais difícil provar o impossível que o possível.
Todavia, provas para o "impossível", e isto deveria ser bem
lembrado, somente podem ser inequívocas enquanto ficarmos
dentro de um sistema restrito, criado por nós mesmos. Para tanto, o
exemplo mais conhecido talvez seja a quadratura do círculo ou a
divisão em três de qualquer triângulo sob determinadas condições
restringentes (compasso e régua).
Também a idéia da cosmonáutica pré-histórica não é, em absoluto,
domínio de "outsiders". É só orientar-se com Pauwels e Bergier,
para verificar que Dãniken não foi o primeiro a ocupar-se dela. Só
que Dãniken, e este é seu grande e indiscutível mérito, se fez arauto
dessa idéia e, entre todos os demais arautos, foi ele o primeiro a
conseguir o efeito de divulgação mais amplo. Pode ser que, tal efeito
em parte se prenda à recusa da consciência geral de continuar
aceitando subterfúgios baratos, alegações pseudocientíficas,
palavras e mais palavras em explicação de todos os enigmas e fatos
incômodos. Em grande parte, o sucesso de Dãniken deve provir
também do fato de ele próprio ter olhado e examinado as coisas
com raciocínio sadio e julgamento razoável. Neste sentido, Dãniken
se adapta melhor à época moderna de desmitificação dos antigos
mitos, do que um ou outro adepto das normas e leis, quer dizer: os
antigos romanos.
***
Por fim, mais algumas palavras sobre as escapadas de Dániken nos
campos da Biologia e Genética.
Todos nós sabemos que costumamos perceber muito menos depressa qualquer modificação ocorrida com nossos filhos e amigos,
com os quais convivemos, do que com pessoas que encontramos
apenas esporadicamente, vez ou outra. Estamos todos em situação
idêntica no que se refere à nossa relação com o assim chamado progresso científico. De uma forma ou outra, ficamos presos ao conceito de o progresso poder fazer-se apenas pelo adicionamento de
fatos e valores numéricos desconhecidos, de maior ou menor importância, os quais, no entanto, em nada alteram nossa imagem do
mundo, cientificamente fixada. Essa nossa atitude ainda vem sendo
reforçada pelo noticiário científico diário, que nunca deixa de
acrescentar: "Enfim, chegamos a esclarecer também este detalhe que
ainda faltava". O quanto é fluida, se não em profunda revolução,
toda a nossa imagem científica do mundo só é percebido, também
pelo cientista, quando um "outsider" como Dãniken avança "noções"
antigamente dogmáticas, científicas, como, por exemplo, o
cruzamento de espécies com cromossomos diferentes.
Dãniken sabe ainda da genética clássica que o cruzamento do
homem com o animal "não é possível, segundo o progresso atual da
Biologia". Acontece, porém, que a biologia molecular, a teoria de
repressão (encobrindo determinados trechos nos genes por assim
chamados repressores, evitando a transmissão caótica do código
encerrado nos genes, a favor da transmissão dos trechos úteis do
código genético) bem como o conceito da validade universal do
código genético para todos os seres vivos, o conceito, do ponto de
vista da biologia molecular, de nosso parentesco com a vergôntea
ser bem mais estreito do que pensamos, permitem apenas a seguinte
formulação das leis válidas, segundo o progresso atual da Biologia:
"Tudo é possível".
Vamos dar um exemplo: de muitos vírus conhece-se a qualidade de
provocarem outras células a se fundirem entre si. Determinados
vírus conservam esta qualidade, mesmo após sua destruição;
ademais, foram empregados para provocar, em culturas de tecidos
vivos de células de ratos, coelhos e outros, esta fusão com células
humanas. Nas células bastardas, que se reproduzem por cissiparidade em centenas de gerações, os dois núcleos celulares diferentes
se fundiram em um só; nos cromossomos dessas células bastardas
encontram-se simultaneamente cromossomos de rato e
de homem. Hoje em dia, já se conseguem tais abastardamentos sem
o auxílio de vírus.
Decerto, o caminho é longo daqui para o centauro, o mino-tauro ou
o descendente de Leda gerado em cópula com o cisne. Contudo,
nem este caminho quer nos parecer impossível, em princípio,
considerando nossos conhecimentos biotécnicos e em vista de uma
possível futura (ou, segundo Dániken, pré-histórica) manipulação
do código genético.
***
Literatura
Pauwels, L. e Bergier, J., Aufbruch ins dritte Jahrtausend, Scherz,
Berna-Muni-que 1962
Pauwels, L. e Bergier, J., Der Planet der unmöglichen
Möglichkeiten*, Scherz,
Berna-Munique 1968 Charroux, R., Verratene Geheimnisse, Herbig,
Munique-Berlim 1966 Charroux, R., Verratene Geheimnisse, Herbig,
Munique-Berlim 1967 Hayakawa, S. I., Semantik — Sprache im
Denken und Handeln, Verlag Darmstädter Blätter, Darmstadt 1967
Vester, F., Bausteine der Zukunft, Fischer Bücherei, FrancfortHamburgo 1968
* Tradução em português: O Planeia das Possibilidades Impossíveis, Edições
Melhoramentos.
CAPÍTULO VII
Pensamentos sobre a Possibilidade do Vôo
Espacial Interestelar*
Por Harry O. Ruppe, Munique
Nos SEUS DOIS LIVROS, Erich von Dãniken avançou as seguintes teses:
1) Nas épocas de pré-história e história primitiva da evolução do
homem, o planeta Terra recebeu, por repetidas vezes, a visita de
seres racionais extraterrestres.
2) Esses seres racionais extraterrestres usaram formas de vida terrena e moldaram o homem segundo sua própria imagem; deram ao
homem regras de conduta e outros meios auxiliares.
3) É possível encontrar provas diversas em apoio das teses apresentadas nos itens 1) e 2).
Os habitantes de mundos estranhos vieram em naves espaciais.
Visto que (conforme podemos afirmar hoje com certeza) em nosso
sistema solar existe vida inteligente apenas na Terra, os visitantes
deveriam ter vindo de distâncias interestelares, ou seja, de outros
sistemas solares. Naturalmente, Dãniken não sabe precisar com
certeza como eram aquelas naves espaciais; para tanto, há dados
espalhados no texto das obras. Pela boa ordem, serão reunidos, a
seguir, em um quadro objetivo:
De "ERAM OS DEUSES ASTRONAUTAS?":
peso de lançamento . . 100.000 t
carga útil ..............
200 t
impulso ................ radiação provinda de fusão nuclear, ou foguete
de fótons, com freqüente emprego de motores de foguete
* O manuscrito original foi revisto e condensado para melhor enquadrar-se no
contexto estilístico desta obra. N. de E. v. K.
velocidade ............ dilatação do tempo, segundo a teoria relativista especial
fonte de energia . . . . material desintegrável (urânio) recolhido pela
tripulação no local de pouso
De "DE VOLTA ÀS ESTRELAS":
O vôo interestelar torna-se possível mediante:
a) prolongamento da vida, hibernação e conseqüente retardamento
das funções vitais, ou
b) velocidade relativista, que seja quase a da luz. O perigoso efeito
recíproco causado no Cosmo por partículas à nave desenvolvendo
velocidade tão elevada é anulado pelo uso de dispositivo protetor
eletromagnético.
c) Partículas mais velozes do que a luz poderiam permitir a realização de um impulso por táquions atingindo-se velocidades
múltiplas das da luz.
Tamanho e forma da nave espacial: forma esférica, diâmetro de 500
m; a forma esférica simplifica em muito os problemas da correção
de posição.
Cabe aqui a observação de que o ponto de vista da correção de
curso não levaria, forçosamente, à forma esférica. E eu iria esperar
que os seres racionais extraterrestres iriam orbitar um corpo celeste,
para eles estranho, na nave-mãe, lançando apenas parte da tripulação em módulos espaciais (que dificilmente seriam de forma
esférica) para o pouso na superfície. Por conseguinte, os habitantes
da Terra nem chegariam a ver a nave cósmica, proveniente das
imensidades do espaço.
Aliás, se eu pensar no comportamento do homem no Cosmo, reparo
no grande número de objetos depositados por nós na superfície de
outras estrelas, tais como dispositivos não tripulados deixados por
nossos astronautas na Lua e em Marte, instrumentos e peças de
equipamento deixados na Lua. Por que os "outros" seriam tão
diferentes? Por que nossos antepassados jamais encontraram e
conservaram coisa alguma? Se é — como Dãniken escreve — que
tanto culto mereceram os visitantes de fora, decerto as coisas por
eles deixadas teriam sido veneradas como preciosidades sem-par,
como verdadeiras relíquias. Tais provas — bastaria uma só —
convenceriam mais do que muitas especulações de natureza
diferente.
Com o progresso atual, como poderia ser realizado tal vôo espacial
interestelar?
Em primeiro lugar: não se pode empreender uma viagem cósmica
sem destino certo. É preciso colher dados sobre o destino a ser escolhido. Deve haver motivação bastante para empreendimento de tal
envergadura e com tamanhas dificuldades a serem vencidas. Portanto, antes de mais nada, seria preciso saber se há planetas ao redor da estrela-destino. Será possível que um deles seja portador de
vida inteligente? No caso de ser necessário prover-se de combustível para a volta (conforme Dãniken escreve em "DE VOLTA ÀS
ESTRELAS") será que a estrela-destino oferece condições para
tanto? Até agora tal possibilidade deixou de entrar nas cogitações
referentes aos projetos de expedições tripuladas para os planetas
Marte e Vénus.
Surge a pergunta: Como poderiam ser obtidas tais informações? por
métodos ópticos? Pelos métodos da astronomia clássica foi possível
determinar que corpos semelhantes a planetas estão orbitando
alguns sóis mais próximos. Ainda não se conseguiu observar esses
corpos diretamente, mas apenas a influência de sua gravitação nos
respectivos sóis; todavia, os resultados são inequívocos e
convencem. Em nossa alegria com resultado tão bonito e importante
não devemos esquecer que esse método para sóis estáveis mostra
apenas planetas gigantes, sem, em princípio, fornecer muitos dados
sobre o planeta propriamente dito; apenas atesta sua existência,
indica distância e o tamanho de sua massa. (Essencialmente, isto
vale também para a descoberta radioastronômica de planetas em
pulsares, mesmo que neste caso as observações não se restrinjam a
planetas gigantes.) Contudo, deixam de oferecer qualquer esperança
as observações ópticas, diretas, empreendidas do solo terrestre. No
entanto, não seria possível instalar um telescópio no espaço?
Segundo o trabalho ainda inédito de G. Woodcock há pouca coisa a
esperar de tal telescópio; a potência de resolução do telescópio
diminui progressivamente com o aumento dos contrastes de
luminosidade entre um sol e seus planetas.
De que ordem seria o contraste de luminosidade a ser esperado?
Consideramos inicialmente as condições de nosso sistema solar;
entre o Sol e a Terra o contraste é de 24 escalas de grandeza. E com
isto, pelas pesquisas de Woodcock, a potência de resolução de um
telescópio ficaria diminuída em umas cem vezes, em relação à simples teoria.
Querendo-se distinguir a Terra de uma distância de apenas 10 anosluz, seria preciso usar um telescópio com objetiva de 37,5 m de
diâmetro (fixando-se a distância da curvatura Terra—Sol em uns 0,3
segundos). Decerto tal telescópio não será construído em futuro
previsível, mas, mesmo que fosse, seu alcance (só para 10 anos-luz)
e sua potência de resolução seriam insuficientes, pois não chegaria a
mostrar detalhes do próprio planeta. Para o fim expresso de
distinguir detalhes de superfície, as exigências aumentariam em
mais quatro escalas de grandeza. E nem com isto ficariam atendidos
outros fatores, tais como a estabilidade, a estrutura quantitativa da
luz, a rotação própria do planeta; realmente, eu não vejo aí qualquer
caminho viável.
Assim sendo, resta apenas a possibilidade da comunicação eletromagnética, a troca de notícias entre civilizações no Cosmo, a
transmissão e recepção de radiossinais. A esta altura, este método
parece-me o único praticável para o fim de tomar contacto com uma
civilização extraterrena. As dificuldades são enormes (pouca
intensidade dos sinais, freqüência desconhecida, codificação,
horário das transmissões, direção, prazos muito extensos). Todavia,
essas dificuldades não seriam intransponíveis — supondo-se que
haja um parceiro a emitir sinais.
Contudo, será que elementos não tripulados poderiam obter esses
dados necessários? Aí os problemas residem no tempo de espera de
duração excessiva e na dificuldade de transmissão de notícias.
Aliás, já se fez a sugestão de empreender buscas no nosso sistema
solar, procurando nele os "espiões" e as sondas de civilizações extraterrestres.
Hoje em dia, quais seriam os limites de capacidade de instrumentos
especiais de construção previsível? Comecemos com os foguetes
acionados por agentes químicos: com peso de lançamento da ordem
de IO7 kp, carga útil (inclusive o comando) de IO3 kp, podemos
contar com um fator crescimento de IO7 : IO3 = 104. Com um foguete
em quatro estágios isto daria um impulso ideal de aproximadamente 43 km/seg. Se tal nave fosse lançada da órbita terrestre,
seria lícito adicionar mais 10km/seg, obtendo-se assim 53km/seg.
Visando à capacidade máxima, poder-se-ia usar um foguete de nove
estágios, que daria então 55 km/seg.
A fim de interpretar corretamente os 55 km/seg é preciso lembrar
que a capacidade máxima conseguida até agora está ao redor de 19
km/seg; isto daria para um vôo de ida e volta da superfície terrestre
para a superfície lunar, conforme se fez, pela primeira vez, na
grandiosa missão Apolo 11. Naquela missão, o peso de lançamento
do possante foguete Saturno V era de 2,7 X 10' kp*, na superfície da
Terra. Acho que esses fatos deveriam dar uma idéia aproximada da
dificuldade de se conseguirem 55 km/seg.
* kp = kilopond. Pond é o peso da unidade de massa lg no local da velocidade
normal de queda (980,665 cm/s2). Um p = 980,665 dina». (N. da E.).
Um "foguete nuclear convencional" (reator atômico, queimando
hidrogênio) permitiria, no máximo, dobrar — se é que se possa
chegar a tanto — o valor químico de velocidade, obtendo-se 100
km/seg. Em base otimista, poder-se-ia considerar o dobro para valor
efetivo de um foguete a iônio, ou seja, 200 km/seg. O reator de fases
a gás ou impulso nuclear deveria ser de idêntica escala de grandeza.
Isto seria então mais ou menos um fator 10 acima dos instrumentos
hoje realizáveis. Todavia, a fim de contradizer a crítica (em minha
opinião, injustificada) dos algarismos supra serem muito
conservadores, admitiria como atual limite de capacidade sistemas
previsíveis da ordem de 400 km/seg, ou seja, vinte vezes a potência
do Saturno V. Com isto, todo o nosso sistema solar seria de fácil
acesso — mas, o que se oferece a respeito de vencer distâncias
interestelares?
Se deixarmos o sistema solar com impulso-de-manobra-3 ideal
(valeria a pena, enquanto a potência de impulso ficar abaixo de uns
5.000 km/seg), a velocidade residual, a grande distância do Sol,
permanece em torno de 755 km/seg, representando mais ou menos a
quarta parte de um centésimo da velocidade da luz. Essa manobra
ideal de lançamento poderia levar 20 anos; nesse caso todo o tempo
de viagem para um destino distante de E anos-luz seria Tx = 20 + 400
E anos = 400 E anos. No entanto, todo o combustível ter-se-ia gasto
com o lançamento e a nave passaria pelo destino sem impulso.
Desejando pousar no sistema de destino, a manobra de lançamento
deveria consumir apenas metade da força propulsora; a outra
metade deveria ficar para a manobra de diminuição de velocidade
e, neste caso, a viagem mais ou menos T2600 E anos.
Um vôo tripulado deveria prevenir-se também para a volta. Supondo que a expedição voltasse da Terra, através de nosso sistema
solar, haveria para cada manobra principal (lançamento do sistema
solar, pouso em sistema extraterrestre, decolagem do sistema
extraterrestre) uma terça parte da potência de impulso. Com isto, a
missão (vôo de ida e volta) levaria T31500 E anos. Por conseguinte, a
viagem para um sistema distante de dez anos-luz levaria:
com simples passagem pelo destino ......... 4.000 anos
com pouso no sistema de destino ......... 6.000 "
com vôo de ida e volta ............................ 15.000
É preciso tornar mais vivos os números supra, lembrando que
Abraão viveu há 4.000 anos atrás; há 6.000 anos, os sumérios
começaram a erguer seu império; e há 15.000 anos estava nosso
planeta nas épocas finais da antiga era da pedra. Esses números
tornam-se mais dramáticos ainda, ou seja, aumentam pelo fator 100,
considerando-se que a distância média entre civilizações deve ser
avaliada em 1.000 anos-luz. Isto só seria concebível para engenhos
não tripulados, a não ser que se consiga prolongar a duração de
vida da tripulação, ou a nave cósmica seja ampla bastante para ser
"habitada" por gerações. Desta maneira, os visitantes de fora, dos
quais Dãniken fala, não poderiam ter chegado à Terra; os intervalos
de tempo com visitas repetidas teriam sido grandes demais.
***
Tratemos, pois, do vôo relativista, da viagem com engenhos que
desenvolvam velocidade quase igual à da luz. Neste caso, seriam
possíveis excursões, cuja duração calculada na Terra seria de 5 + 2 E
anos, ao passo que no interior da nave se passariam apenas dez
anos. Isto pressuporia o chamado foguete de fótons, conforme
sugerido por Eugen Sánger; decerto um enorme pulo para a frente.
No foguete de fótons a matéria e antimatéria são postos em
contacto; a radiação resultante é dirigida em sentido paralelo e
fornece o raio de impulso. Também aqui as dificuldades físicas e
técnicas são imprevisíveis. Há uma antimatéria estável? Como pode
ser produzida? Como deve ser conservada? Como se transforma a
energia em radiação útil de fótons? Como se dispõem esses raios
para ficarem em sentido paralelo? Como se deve proceder para que
a transição do calor para o refletor móvel seja a mínima possível?
O potencial exigido é enorme; por exemplo, para um foguete de
fótons com aceleração de 1 g (g = aceleração de gravidade na superfície terrestre), com 10 t de carga útil, sistema de propulsão pesando
10 t, peso de lançamento de 200 t (isto é, proporção da massa, 10;
atinge 98% da velocidade-luz em 2 X 3 anos, no interior da nave), é
preciso uma potência de 600 X IO8 MW, gerada por uma usina de
força, pesando 6 t. Isto representa mais ou menos mil vezes toda a
atual produção energética da Terra. Acho que, hoje em dia, nada
podemos opinar ainda a respeito da eventual construção de
engenhos dessa ordem.
Além do princípio de foguete, poder-se-ia pensar ainda em outras
possibilidades de propulsão inicial; talvez entrasse em cogitação o
impulso por raio de retenção interestelar, usando o gás interestelar
como agente acionante e fornecedor de energia. Uma pesquisa
otimista, realizada por Fishbach, revelou que, por motivos de ordem física, tal engenho não poderia alcançar velocidades relativistas
com a aceleração de 1 g. A aceleração em constante declínio não
conduz a uma solução relativista praticável.
Uma nave viajando à velocidade da luz deve ser protegida contra o
impacto de poeira cósmica e outros. Determinados campos — conforme sugeridos em "DE VOLTA ÀS ESTRELAS" — não se conseguem criar facilmente; e nem agem sobre partículas elétricas e
magnéticas, neutras. Talvez não haja aqui um obstáculo essencial;
todavia, trata-se de um efeito extremamente contrário, que não
deveria ser subestimado. Outrossim, a direção e o controle de
engenhos tão velozes viriam a oferecer novos problemas, ainda não
considerados.
Decerto, há ainda outras possibilidades que representariam um
meio-termo, tais como foguetes nucleares aperfeiçoados com um
reator de gás, supridos de energia por fusão nuclear controlada, ou
tipos menos potentes do foguete de fótons. Tais engenhos não
chegariam a desenvolver a velocidade da luz, mas não deixariam de
proporcionar grande vantagem sobre tudo até agora previsto. Em
base dos nossos conhecimentos físico-tecnológicos atuais, é
impossível predizer se tais engenhos chegariam ou não a
concretizar-se, no futuro.
E só poderiam ser foguetes? A. C. Clarke descreveu em seu romance
"Sunjammer" uma vela solar, aproveitando a pressão da luz.
Todavia, todos os argumentos referentes à longa duração de viagem
continuam de pé. J. H. Bloomer oferece sugestões visando ao
melhor aproveitamento da energia solar, que permitiria atingir uns
25% da velocidade-luz. Contudo, admitem-se efeitos em grau tão
pouco realista para a transformação de energia e dimensões
igualmente não-realistas para os sistemas técnicos, ao ponto de ser
impossível a fabricação do engenho no âmbito de um progresso
tecnológico previsível. Para tanto, precisar-se-ia contar com o
seguinte: um espelho de 100 km de diâmetro, instalado em órbita
terrestre, aceleração de quase 1.000 g e um raio laser de 5 X X 106
MW, requisitos para tal engenho não-tripulado. E tudo isto apenas
para o lançamento do nosso sistema solarl
Aliás, um corpo celeste orbitando outro corpo celeste teria condições para acelerar uma nave espacial. Sob condições ideais e com
o auxílio de estrelas duplas, poder-se-ia chegar assim a velocidades
de até 3.000 km/seg. A grande vantagem estaria no fato de, mesmo
com a nave em extrema aceleração, em seu interior não surgiriam
forças de monta, pois a aceleração de gravitação influi de maneira
uniforme em todos os produtos da massa. Todavia, para aproveitarse tal aceleração é preciso, primeiro, alcançar tal estrela dupla, o que
significa que distâncias interestelares já teriam sido vencidas.
Por fim, há sugestões bastante "exóticas"; por exemplo, R. L.
Forward expõe possibilidades de pesquisa sobre a essência da força
de gravidade, em conseqüência da teoria geral de relatividade.
Ainda está para ser esclarecido se esses caminhos levariam a resul-
tados práticos, permitindo a travessia física de distâncias interestelares.
Quanto à densidade de energia de campos eletromagnéticos no
Cosmo, é muito pouca, por isso não tem condições de proporcionar
um impulso prático.
F. Zwicky levantou a hipótese extravagante de que chegará, talvez,
dia em que o homem conseguirá influir no Sol, ao ponto de todo o
nosso sistema solar empreender uma viagem interestelar.
Esta possibilidade também não parece realizável em futuro previsível.
Hiperespaços, des- e rematerialização, antiforça de gravidade,
táquions (partículas hipotéticas, mais velozes do que a luz; pelas
últimas pesquisas, não são realizadas na Natureza) e outros meios
de viagem são sonhos sem base física.
O resultado global negativo deste nosso balanço parece ser válido
também para as hipóteses dos OVNIs extraterrestres; além do mais,
o material em observação não comporta exame crítico.
***
Em resumo, limitando-se ao âmbito da tecnologia previsível, não
vejo caminho autêntico para a realização de vôos interestelares tripulados, conforme sugeridos por Dãniken. Decerto, pode alegar-se
a imperfeição dos nossos conhecimentos atuais, pode contar-se com
novas evoluções e descobertas a modificarem todos os aspectos da
situação hodierna. No entanto, não se deveria tentar encobrir o
caráter puramente especulativo de tais hipóteses.
Literatura
Anônimo, Blick ins All, Bayer. Volkssternwarte München, fevereiro
de 1970, pág. 6
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por R. L.
Forward (230 publicações, até cerca de 1966) — Comunicação
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Palo Alto, Calif.),
The Alpha Centauri Probe, cerca de 1966 A. C. Clarke, Sunjammer
(Romance futurista), Boys' Life Magazin, 1964
F.
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Research
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Esnault-Pelterie, Astronautik und Relativitätstheorie, Die Rakete,
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G. Feinberg, Particles that Go Faster than Light, Scientific American,
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S. M. Rytov, What an Astronaut Will See and Encounter when
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C. Sagan, Direct Contact Among Galactic Civilizations by
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F. Zwicky, Morphological Astronomy, Springer Verlag, Berlim, 1957
F. Zwicky, Morphology of Justice in the Space Age, Astronáutica
Acta (Journal), outubro de 1969
CAPÍTTTT.O VIII
Ensaios Filosóficos sobre a Relatividade do
Tempo
Por Peter von der Osten-Sacken, Lübeck
N Ão SE PODE EXCLUIR A possibilidade de, em qualquer parte das
imensidades do espaço, existirem habitantes de um mundo
estranho, cuja capacidade tecnológica supere a nossa. Suas naves
espaciais poderiam locomover-se quase à velocidade da luz.
Decerto, seriam construções fundamentalmente diversas das usadas
ou projetadas para construção futura, na Terra.
A pressuposição de maior importância para a construção de foguetes ultravelozes é uma elevadíssima velocidade das partículas
emitidas e que deverão produzir o necessário recuo. Todavia, também com engenhos acionados por fusão nuclear de hidrogênio,
liberando hélio, ou difusão da matéria, as partículas materiais do
raio do foguete jamais poderão alcançar a velocidade da luz (vide
"ERAM OS DEUSES ASTRONAUTAS?", pág. 20). Apenas os fótons
chegam a vencer a barreira da luz. Eles são partículas de luz. Uma
fonte de luz comum, como, por exemplo, um simples farolete,
constitui, em princípio, um foguete de fótons, no qual os fótons
emitidos provocam um recuo que, neste caso, não pode ser medido
praticamente. Todavia, um farolete flutuando no espaço aos poucos
chegaria a mover-se em direção oposta ao raio de luz. É fácil compreender que a velocidade produzida pelo recuo jamais pode ultrapassar a velocidade das partículas de raios emitidas. Em se considerando esses fatos, somente o foguete de fótons poderia alcançar
velocidades aproximadas da luz. Infelizmente, nas previsões de
construção, condicionadas pelo atual progresso tecnológico, a força
de recuo e, conseqüentemente, a aceleração do foguete de fótons
ainda é pouca para acionar uma nave espacial, interestelar.
***
Apesar de todos os argumentos de ordem técnica em contrário,
vamos acompanhar, em um ensaio filosófico, o vôo com um superfoguete imaginário, percorrendo o espaço a uma velocidade equivalente a 90% a da luz. Provavelmente, o foguete já consumiu a
maior parte do seu combustível, mas ainda dispõe de determinada
carga útil. Só seria possível imaginar essa carga útil como sendo
uma reserva de combustível, possibilitando outra aceleração da
velocidade desenvolvida pelo foguete e permitindo-lhe alcançar
99% da velocidade-luz. Desta maneira podemos prosseguir em
nossas especulações, deixando que o foguete se acelere ainda mais,
ao ponto de chegar a desenvolver uma velocidade de uma e meia
vez a da luz. Por que tal meta seria irrealizável, ao menos em teoria?
Esta especulação esbarra com uma lei conhecida e bem fundamentada — conseqüente da teoria especial de relatividade de Einstein — segundo a qual não há velocidade que ultrapasse a da luz.
Onde estaria o erro?
Por surpreendente que seja, não houve erro em nossas especulações.
A contradição aparente se desfaz, considerando-se os fatos sob o
ângulo relativista. No raciocínio do habitante terrestre, que ficou em
seu planeta natal e que apelidamos de A, de fato é impossível
acelerar a velocidade de viagem da nave espacial acima da velocidade-luz. Pelos seus cálculos, A concluiria que com aceleração
muito elevada, aumentaria também a massa do objeto em
movimento, ou seja, a nave espacial. A fim de acelerar ainda mais a
massa, também a energia necessária para tanto deveria ser
aumentada gigantescamente e, alcançando-se a velocidade-luz,
deveria assumir proporções quase infinitas. Assim sendo, há um
limite-teto para a velocidade da nave espacial.
De que forma o passageiro no interior da nave espacial, e que
apelidamos de B, suportaria esse aumento de massa? Será que seu
corpo se tornaria mais gordo, mais pesado? Sofreria distúrbios cardíacos, digestivos? Nada disto. Para ele nada mudou. Se não comer
demais, B conservará seu peso normal, ou melhor, sua massa original. Se isto for o caso, deveria ser possível para ele acelerar ainda
mais a sua nave espacial para, enfim, ultrapassar a velocidade da
luz? Realmente, ele conseguiria acelerar a velocidade sem dificuldade alguma; só que B negaria estar se locomovendo a velocidades
de ultraluz. Toda indicação de velocidade é relativa, quer dizer,
deve haver um sistema de referência para se medir a velocidade. O
mesmo direito que assiste a A de falar de uma nave espacial em
movimento ultraveloz, assiste a B de falar de uma Terra em
movimento ultraveloz. Aliás, B ainda pode inverter as coisas e
afirmar que, com a elevada velocidade desenvolvida, a Terra e seus
habitantes aumentaram em massa. Como se sabe, a velocidade
costuma ser medida dividindo-se o fator trecho percorrido pelo
fator tempo necessário para percorrê-lo. O surpreendente é que os
dados referentes ao trecho percorrido e ao tempo do seu percurso
são diferentes para o piloto espacial e o habitante que ficou na
Terra. No caso de a velocidade relativa modificar-se, modificam-se
igualmente os outros valores, ao ponto de ambos os observadores
acharem que a velocidade do outro jamais alcança a da luz.
Essa dependência notável do fator tempo do fator estado de movimento desempenha no julgamento das possibilidades dos vôos
espaciais interestelares papel tão importante que vale a pena estudá-la de perto. Vamos até tentar encontrar uma fórmula matemática
para a chamada dilatação do tempo. Caminhos diversos podem
levar a uma solução; no entanto, muitos são tão complexos que
ficam excluídos, em nosso caso. Todavia, o caminho a seguir exige
raciocínio relativamente simples e uma reformulação matemática
que, provavelmente, não venha a oferecer dificuldades à maioria
dos leitores.
Vamos imaginar um lago no qual se encontram dois barcos, com
um observador em cada um. Apelidaremos os observadores de A e
B. Continuamos imaginando que A bate n'água com sua bengala,
em ritmo determinado e contínuo, fazendo ondas na superfície
calma. Dali a alguma distância, B observa como as ondas batem na
parte externa do barco. Se, por exemplo, A bate n'água duas vezes
por segundo, produzindo a freqüência de f = 2, compreende-se que
B registre duas batidas de onda por segundo.
***
O que observa B quando se locomover em direção a A? É lógico que
registra as batidas em intervalos mais curtos e, por conseguinte,
com freqüência maior. É relativamente fácil calcular a freqüência
recebida, à qual daremos o símbolo f1. Vamos dispensar o processo
matemático para logo mais chegarmos à solução. Designando com v
a velocidade do barco relativo a A, ou, o que significa a mesma
Coisa, à superficie d’água e com c a velocidade com a qual as ondas
se espalham, obtemos:
(1)
Quando B se locomover com uma velocidade correspondente à
metade da em que as ondas se espalham, obteremos:
E em nosso exemplo, com f=2, temos:
B observaentão como três ondas por segundo batem na parte
Externa do barco.
O que acontece, no entanto, quando o papel se inverte, com B
ficando parado, A se dirigindo em direção a B e assim provocando
as ondas? Também neste caso é fácil calcular a frequência recebida.
Eis a solução:
Por conseguinte, em nosso exemplo:
Portanto, registra-se freqüência maior em ambos os casos, notan-dose a seguinte diferença: se o movimento não for em direção ao outro
barco, mas afastando-se dele, a freqüência recebida diminui,
conforme pode ser facilmente calculado. O físico conhece a mudança de freqüência, em conseqüência de um movimento, com o
"efeito de Doppler", que surge em toda parte onde se tratar de
movimentos de ondas, inclusive sonoras e eletromagnéticas. Em
nossas subseqüentes considerações, os efeitos produzidos na luz
pelo fenômeno do "efeito de Doppler" desempenham papel de relevância especial. As freqüências da luz manifestam-se em escala
cromática. Quando uma fonte de luz, talvez uma estrela, dirigir-se
em nossa direção, recebemos freqüência mais elevada e, assim, uma
mudança da luz para a parte azul do aspectro; em se distanciando
de nós, muda para a parte vermelha. Desta forma, a Astronomia
consegue determinar a velocidade relativa dos corpos celestes em
relação à Terra, a chamada velocidade radial.
A esta altura, uma cogitação decisiva entra em nossas considerações: o cálculo de freqüência deu diferença entre o caso do transmissor e o caso do receptor em movimento. Como bem conhecemos
as freqüências emitidas pelas estrelas e também que as velocidades
radiais podem ser calculadas, freqüentemente, por métodos vários,
seria de determinar-se se a estrela se move em nossa direção, ou se
nós nos locomovemos em direção à estrela. Isto significa que, desta
maneira, seria possível distinguir tanto o movimento relativo como
o absoluto. A indicação do movimento absoluto só tem sentido
quando se dispõe de um sistema de referência em relação ao qual
o movimento é executado. No exemplo com os barcos, o sistema
de referência é representado pela água, no caso do som, pelo ar.
No entanto, qual o sistema de referência no caso da luz? Ao se falar
no caso do som, de uma velocidade de propagação da ordem de
330m/seg, significa isto que as ondas se movem com essa velocidade em relação ao sistema de referência, representado pelo ar.
Conhecemos igualmente a velocidade da luz, a 300.000 km/seg.
Mas, qual seria o sistema de referência para esta especificação? qual
o meio pelo qual se propagam essas ondas?
Antigamente, os físicos admitiram uma matéria, enchendo todo o
Cosmo e propagando as ondas de luz, que denominaram éter
universal. Entrementes, as pesquisas e medições mais recentes provaram a inexistência de tal matéria. Portanto, a indicação de
movimento ou velocidade absoluta não tem sentido. Da mesma
forma que nós nos consideramos parados e achamos que outro
corpo celeste ou nave espacial estaria em movimento, o comandante
de uma nave espacial pode considerar-se parado e achar que a Terra
se move em sua direção, ou que esteja se afastando dele.
Aparentemente, aí há uma contradição com nossas ponderações
anteriores e os resultados matemáticos do efeito de Doppler; de um
lado, os espectros das estrelas nos deveriam possibilitar a determinação de um movimento em relação a um sistema de refe-
rência absoluta, de outro lado, tal sistema seria inexistente? Onde
está o erro?
Vamos tentar localizá-lo. Antes de mais nada, não devemos esperar
do efeito de Doppler que nos indique algo a respeito do movimento
absoluto. Portanto, os valores supra-indicados para as freqüências
observadas em ambos os casos, ou seja, para o movimento tanto do
transmissor como do receptor, deveriam ser equivalentes. Por
conseguinte, seria válida a fórmula:
que, no entanto, evidentemente está errada.
Há uma só possibilidade para salvar a validez de nossas considerações, a saber: um dos valores mencionados nas fórmulas deve ser
computado de uma maneira quando diz respeito à parte parada e
de outra quando se refere ao movimento. Obviamente, nosso erro
originou-se ao admitirmos um sistema de referência absoluto e, com
isto, um movimento absoluto inexistente.
Este erro poderia ser sanado, fazendo preceder um dos valores
referentes à parte em movimento de um fator de correção, K. Primeiramente, modificaremos um pouco as duas fórmulas para: m
freqüência / indica o número de vibrações N, no intervalo de tempo
í, durante o qual N foi observado; por conseguinte:
Adotando esta modificação nas fórmulas primitivas, obtemos:
Qual desses valores deveria ser corrigido? N é um número "puro", o
número de vibrações observadas. A fração v : c indica a relação das
duas velocidades. Aplicar-se-ia a correção das velocidades tanto em
v como em c e, portanto, o valor da fração em nada ficaria alterado.
O único valor no qual teria sentido aplicar o fator de correção K
seria o tempo, í. Portanto, a unidade de tempo em que se fizerem as
medições, talvez o segundo, deveria ser outra no sistema parado do
que no sistema em movimento. Então, se, no sistema em
movimento, o fator de correção K for aplicado no tempo t, as
equações ficarão acertadas e, com esta modificação, fornecerão
resultado idêntico, quer dizer, tornar-se-ão independentes de um
sistema de referência absoluto.
Seguir-se-ia:
(3)
N
é referente à parte parada e
Como
à parte em
movimento e
(4)
pois
neste
caso
refere-se à parte em movimento,
multiplicamos a fórmula (4) por K e obtemos
Aplicando este valor à fórmula (3) chegamos ao seguinte resultado:
Dividindo-se os dois termos por N e multiplicándose por t, resulta:
e com ligeiras transformações:
Por conseguinte, no sistema parado, o tempo no qual se faz a
observação, ou seja, um segundo, não é igual ao tempo de um
segundo no sistema em movimento. O tempo do sistema em movimento parece dilatado pelo fator K. Do ponto de vista do observador parado, neste último sistema, cada segundo demora mais e
diminui o número das unidades de tempo medido pelo observador
em movimento. Observação semelhante poderia ser feita por quem
medir determinado trecho com um metro de borracha, que seria
esticado ao tomar-se a medida. As distâncias nas marcações de centímetros aumentariam, enquanto diminuiria o número de centimetros a ser registrado. Por conseguinte, no sistema em movimento,
o número das unidades de tempo deve ser multiplicado com o fator
K, para chegar-se ao número de unidades de tempo no sistema
parado Tr:
(6)
Cumpre salientar que aí não se trata de um sentido de tempo
diferente, de falha no dispositivo, ou de relógio marcando hora
errada. O tempo real, objetivo, é diferente. Também os cronómetros
mais perfeitos e da mais alta precisão marcariam uma diferença de
horas correspondente ao fator calculado.
A seguir, daremos um exemplo matemático que ilustra as conseqüências da dilatação do tempo em um vôo espacial.
Suponhamos que estivéssemos empreendendo uma expedição a
Tau Ceti, estrela semelhante ao nosso Sol e que teria em sua órbita
um sistema planetário parecido com o nosso. A distância para essa
estrela seria de 12 anos-luz. Suponhamos ainda que a tecnologia
conseguiu construir um foguete apto a desenvolver a velocidade
incrível de 240.000 km/seg, que são quatro quintos da velocidadeluz, ou seja, 0,8 c. Deixamos de considerar todas as respectivas fases
de aceleração e diminuição de velocidade, por não dizerem respeito
às nossas ponderações. Um observador terrestre, A, pode facilmente
calcular que o comandante da nave espacial, B, levará para a viagem
de ida: 12 : 0,8 = 15 anos. Concedendo a B um período de pouso de 2
anos no planeta distante e calculando em mais 15 anos a viagem de
volta, ele pisará o solo terrestre 32 anos após tê-lo deixado.
Todavia, B calcula o tempo do seu vôo de maneira diferente. Em
nosso exemplo, o fator K é igual a
O tempo calculado por B para o vôo de ida é de
= 9 anos.
O mesmo tempo é válido para o vôo de volta. Então, B estará de
volta à Terra depois de 9 + 9 + 2 = 20 "anos". Portanto, inclusive sob
o aspecto biológico, B ficou 12 anos mais moço do que os habitantes
da Terra, originalmente, de sua idade. Se, durante o vôo, os relógios
de A e B marcassem hora rigorosamente certa e se os dois se
comunicassem por televisão, logo mais perceberiam que o relógio
do outro está "errado". Na opinião dos observadores, os relógios
estariam marcando hora errada, considerando-se também a modificação no percurso da luz durante o movimento. Ao distanciar-se a
nave espacial da Terra, tanto A como B observariam que o relógio
do outro está atrasando em relação ao seu próprio; ao mesmo
tempo, a voz no amplificador estaria adquirindo tonalidade mais
grave, a fala ficaria mais lenta, como se um disco de 78 r.p.m. fosse
tocado a 33 r.p.m.; o indicador verde do relógio seria de cor vermelha, devido à mudança de freqüência provocada pelo efeito de
Doppler e a dilatação do tempo. Cada qual envelheceria mais devagar, no julgamento do outro. Na viagem de volta da nave espacial,
tanto A como B verificariam que o relógio do outro está adiantando
em relação ao seu próprio, sua voz estaria mais alta, o indicador do
relógio ficaria de cor azul; cada qual envelheceria mais depressa.
Seriam igualmente interessantes as verificações feitas por B pouco
antes de diminuir a velocidade para a manobra de pouso em Tau
Ceti. Segundo seus cálculos, durante os nove anos de vôo, os habitantes da Terra não teriam envelhecido 15 e nem 9 anos, mas 9
Apenas
= 5,4 anos, porque, durante o vôo, a Terra se
deslocou à velocidade extrema de uma nave espacial, ou seja, a 0,8
c, em relação ao seu sistema de referência. A distância entre Tau
Ceti e a Terra deve parecer errada para B, pois, com uma velocidade
de 0,8 c ele chega a calculá-la em apenas 7,2 anos-luz.
Todavia, depois da manobra de diminuição de velocidade, B teria
de revisar seus cálculos anteriores: a essa altura ele se encontraria
dentro de um sistema relativamente parado com relação à Terra, e
seus respectivos cálculos confeririam com os dos astrônomos
terrestres. A distância passaria de 7,2 para 12 anos-luz e B poderia
verificar pelos seus cálculos que a duração da sua viagem era de 15
anos. Surpreso, constataria pelo seu cronômetro que o tempo
decorrido fora apenas 9 anos e, simultaneamente, certifi-car-se-ia de
ter envelhecido, biologicamente, em 9 anos apenas. Da mesma
forma é surpreendente o fato de, nesses 9 anos, B ter percorrido
uma distância de 12 anos-luz e, portanto — considerando em
retrospectiva — sua nave espacial deveria ter vencido a barreira da
luz.
Com mais outra aceleração de velocidade, até quase o limite da
velocidade-luz, é possível conseguir, teoricamente, valores opcionais e ainda bem maiores para o fator K, nos quais um ano de vôo
no espaço corresponderia a uns 100 ou até 1.000 anos terrestres.
O fato de a dilatação do tempo não representar mera utopia vem
sendo provado, entre outras, pelas pesquisas da radiação cósmica;
ela se compõe principalmente de prótons, provenientes das imensidades do Cosmo e que se aproximam da atmosfera terrestre com
extraordinária velocidade. Em seu percurso provocam diversas
transformações nucleares, liberando partículas de vida muito curta,
mésons. É fácil de calcular que, apesar de sua elevadíssima velocidade, os mésons não teriam condições de alcançar a superfície
terrestre, pois se descomporiam muito antes de lá chegarem.
Contudo, de fato, podem ser registrados daqui. Pelo que acabamos
de expor, a explicação é simples: em virtude de sua elevadíssima
velocidade, os mésons "envelhecem" menos — a exemplo dos cosmonautas — e "vivem" o bastante para chegar à Terra.
Em resumo, pode-se dizer que a dilatação do tempo representaria
argumento forte a favor da hipótese da visita de seres extraterrenos
à Terra, se — e é este o ponto decisivo — fosse possível chegar a
velocidades tão elevadas. Por enquanto achamos impossível alcançá-las.
***
De importância bem mais relevante para o nosso problema parecenos ser a relatividade do sentido do tempo. Para a melhor compreensão das exposições a seguir, cumpre salientar, primeiro, a
relatividade das medições espaciais. Costumamos dizer: o Sol é
grande, as bactérias são pequenas e com isto levamos as dimensões
desses corpos em relação ao nosso ambiente imediato e às proporções do nosso próprio corpo. No entanto, não deveríamos esquecer
que, em princípio, inexiste limite para o maior e o menor. Ao falarmos da infinidade do mundo e, com isto, de sua grandeza, ou das
partículas atômicas como sendo os menores entre todos os elementos de construção do Universo, admitimos limites fixados apenas sob o nosso prisma físico. Em um ensaio filosófico, os átomos
até chegaram a ser considerados como corpos celestes de um Cosmo
menor; e as estrelas como representando os átomos de um supermundo, infinitamente maior. Esses ensaios podem prosseguir
em ambas as direções. E mesmo quando, sob o ângulo dos nossos
conhecimentos atuais, recusarmos especulações dessa ordem, não
deixariam de ser possíveis, em princípio. Não é preciso, em absoluto, que exista uma unidade menor e uma unidade maior.
Condições semelhantes oferecem-se ao tratarmos do tempo. O que é
rápido? O que é devagar? Que intervalo de tempo é breve? Qual é
prolongado? Também isto é relativo. É só observar a rapidez da
reação de certos animais, por exemplo, as formigas; correm de lá
pra cá, entram em contacto corporal e fazem tudo isto com uma
velocidade que achamos incrível. Em termos de unidades de tempo,
a formiga é capaz de atuar com muito mais dados do que o homem.
Ela preenche sua vida de maneira completamente diferente da
nossa. No que se refere à soma de dados, reações, sentimentos e
decisões, o dia da formiga corresponde talvez a uma semana ou até
a um mês do homem. Do ponto de vista da formiga, o homem se
locomove em ritmo de câmara lenta. Contudo, existem diferenças,
também entre os homens. Talvez esteja certo que o latino reage mais
depressa do que o filho do hemisfério norte. No homem, o sentido
do tempo varia também de acordo com sua idade; na juventude, a
reação é mais imediata, aproveita-se melhor o tempo, o dia que
passa.
Portanto, mesmo aí há uma relatividade do tempo, não do tempo
absoluto, mas do subjetivo que, para nossas ponderações, é de
importância igualmente grande.
Pode haver indivíduos com sentido de tempo extraordinariamente
rápido. Em teoria, não há limites; da mesma maneira inexistem
limites para o outro extremo. Por que não existiriam seres vivos cujo
ambiente dispense qualquer reação rápida e que, portanto são
muito vagarosos em todas as suas funções? Para eles, um dia do
homem corresponderia a horas ou minutos. Presumivelmente,
teriam- vida mais longa do que nós.
Se tais seres fossem em viagem espacial, poderiam permanecer nela
durante séculos, pois seria possível que surgisse um fenômeno
semelhante ao da dilatação do tempo.
Contudo, há uma diferença fundamental, a saber: ao passo que, com
a dilatação do tempo, até o homem teria condições de sobreviver em
distâncias enormes, para tal tarefa os indivíduos de "vida retardada"
deveriam ser de natureza diferente.
No entanto, em suas teses Dãniken pressupõe que os deuses sejam
parecidos com o homem, o que contradiz nossas ponderações.
Todavia, também aqui se poderia encontrar uma solução; seria
concebível que, com uma tecnologia altamente evoluída e o
correspondente progresso nos campos da Medicina e Biologia, fosse
possível transformar o homem normal em homem de "vida
retardada". Seria o caso de manter os astronautas em estado de
sonolência, durante o qual todas as funções vitais estariam
retardadas. A respiração, a atividade cardíaca, a digestão e outras
funções ficariam retardadas por uma respectiva medicamentação ou
por aparelhos que, parcialmente, desempenhariam as funções
orgânicas, ao ponto de, em efeito final, o processo de
envelhecimento ficar grandemente impedido. Já foram realizadas
pesquisas semelhantes, nas quais o organismo ficou em hibernação.
Outro passo nessa direção seria uma espécie de congelamento, a
exemplo da conservação no refrigerador. Dessa maneira, seria
viável o vôo tripulado para grandes distâncias no espaço.
Um último pensamento, que também seria argumento a favor da
possibilidade, em princípio, do vôo espacial interestelar; estamos
acostumados a encarar a morte como conseqüência normal e inevitável da vida. Do ponto de vista biológico, tal conseqüência não é
absolutamente necessária. A duração de vida de um ser unicelular,
que se reproduz pela divisão de sua célula, é limitada apenas pelas
condições ambientais desfavoráveis. No sentido biológico, o
unicelular poderia ser eterno.
Quem sabe também os "deuses" de Dãniken, graças às suas faculdades especiais, conseguiram a imortalidade, ou quase imortalidade, conforme compete às divindades? Apenas resta saber por
que não legaram ao homem a qualidade de manter-se eternamente
jovem.
Talvez foi Mefisto quem não admitiu qualquer intervenção em seus
assuntos particulares.
CAPÍTULO IX
"Kyborgs" em Viagem pelo Espaço
Por Herbert W. Franke, Munique
SE É QUE EXISTE inteligência extraterrestre no Cosmo, deveria ser
procurada fora do nosso sistema solar. Toda tentativa imediata de
estabelecer contacto entre os. extraterrenos e o homem da Terra, não
obstante quando teria sido realizada ou quando deveria ser realizada, deve vencer o obstáculo do abismo no grande vazio do
Cosmo. Pelo que se sabe da vida até agora, ela possui a faculdade
de adaptação; todo ser vivo pertence a determinado ambiente, ao
qual está condicionado, ligado, e fora do qual não consegue sobreviver. O vôo espacial não é concebível sem uma tecnologia extremamente complexa. Mesmo com a questão do sistema impulsor em
primeiro plano, são maiores ainda os requisitos para o equipamento
e a instalação de uma nave espacial, a servir de refúgio e oferecendo
condições normais de vida. Isto não significa apenas provimento de
ar, água e mantimentos — ou aquilo que vier a substituí-los — mas,
igualmente, dispositivos de proteção contra meteoritos e radiação.
Outra dificuldade de natureza bem diversa é a da duração do
tempo. Mesmo que fosse possível fazer a nave espacial alcançar
quase a velocidade da luz — pelas leis da Física são impossíveis ve-
locidades superiores — levaria décadas e até séculos para chegai aos
sistemas solares mais próximos. Este fato muda essencialmente os
aspectos do vôo espacial, pois significa que não pode haver tráfego
turístico ou troca de mercadorias, no sentido ao qual estamos
acostumados. Barreira idêntica ergue-se também para a transmissão
de notícias. Inexiste qualquer possibilidade de transmitir noticiário,
seja qual for o portador, com velocidade superior à da luz. Não só a
viagem, mas também a comunicação verbal levaria séculos. Por
exemplo, se uma geração dirigisse uma pergunta pelo rádio à
tripulação da nave espacial, na melhor das hipóteses a resposta
chegaria para a próxima geração.
Apesar disto, os dados obtidos seriam o resultado máximo, «f»
prêmio mais valioso a ser conseguido pelo nosso contacto com inteligências estranhas.
Os conceitos científicos de inteligências altamente evoluídas, seus
meios e métodos tecnológicos ultrapassariam em importância todo
progresso terrestre, tudo o que se fez até agora com descobrimentos
e invenções. A intervenção em nosso desenvolvimento seria tão decisiva que suas conseqüências seriam praticamente inimagináveis.
Todavia, tal meta justificaria um vôo espacial, mesmo que durasse a
vida toda, de várias gerações. O estabelecimento de contacto direto
com inteligências estranhas constituiria uma aventura científica que
viria a superar de longe todo o nosso progresso anterior, desde a
construção da bomba atômica até as missões Apolo.
É lícito considerar o problema do vôo cósmico primeiramente do
ponto de vista do homem. Em se considerando a possibilidade de
combinações das partículas elementares em unidades maiores, conforme se manifestam, no âmbito terrestre, pela agregação em átomos, moléculas e, enfim, organismos capazes de sobreviver, cabe a
pergunta se essas unidades, com condições de extrema reação, não
seriam capazes também de entrar ainda em outras combinações.
Quer dizer, não se poderia excluir o pensamento de, em outros
pontos do Universo e sob circunstâncias diversas, existirem sistemas ativos de natureza completamente diferente daquela das criaturas na Terra.
Em se considerando quais as capacidades fundamentais que transformam um sistema qualquer em um sistema ativo, depara-se com
princípios, tais como o da reação, ou seja, a ação recíproca entre
seus segmentos. Alguns pesquisadores chamam de verdadeiro
início dos fenômenos da vida o em que se realizar a reação entre as
moléculas. É este o princípio em que se fundam, por exemplo, as
capacidades do crescimento organizado, do domínio do ambiente,
da resolução decisiva.
Querendo saber-se, de maneira concreta, qual seria a aparência da
vida inorgânica, dever-se-iam procurar unidades físicas que se
prestariam para a constituição de sistemas em reação. O nosso progresso tecnológico, mediante elementos eletrônicos de ligação,
prova que, no mínimo, há mais uma segunda espécie. Contudo, não
se podem excluir ainda outras possibilidades, passíveis de serem
rea lizadas pela natureza. Bem poderia ser que se revelasse como
engano a hipótese de a vida limitar-se àqueles âmbitos restritos de
temperatura, pressão, oxigênio, etc, conforme, casualmente, se
encontram na Terra lambem nas proximidades do zero absoluto
seria concebível que cristais se combinassem para uma unidade,
capaz de ação reciproca. Sabemos que com temperaturas extremamente baixas costumam surgir os chamados fenômenos do zero
absoluto, tais como, por exemplo, a corrente elétrica pode fluir sem
encontrar resistência, a fricção mecânica deixa de existir. No
entanto, isso significa que nesse âmbito do campo energético mais
baixo, pode haver uma diversidade de reações de cujas formas de
manifestação quase nada sabemos, até agora.
Contudo, voltemos à nossa pergunta: em âmbitos do Cosmo que,
segundo os ditames atuais da ciência, devem ser considerados totalmente adversos à vida, também poderiam existir fenômenos, demonstrando certa analogia com o desenvolvimento de formas orgâ-
nicas? É questão de definição, se tal forma de fenômeno ainda deve
ser chamada de vida. Decerto, não se trata de vida orgânica e, muito
provavelmente, nem a reconheceríamos como tal. Talvez um
astronauta que pisasse com sua bota na areia da superfície de um
planeta poderia destruí-la com um só passo.
Este exemplo demonstra como devemos tomar cuidado ao julgar se
e onde a vida pode originar-se e brotar. Jamais pode ser excluída de
todo, nem no âmbito gelado do Cosmo, nem sob o calor de milhões
de graus. Provavelmente, chegaríamos a perceber sua existência só
quando devêssemos registrar ocorrências, inexplicáveis pela Física.
***
Todavia, em nossas ponderações fica relegada a segundo plano a
questão da vida inorgânica. O que se reveste de interesse muito
maior para nós, como seres humanos, é saber de que maneira se
poderia estabelecer contacto com formas de vida semelhantes às
nossas, pelo menos ao ponto de permitir uma troca de idéias. E aqui
cabe a pergunta se uma vida evoluída sob condições semelhantes às
existentes na Terra seria também uma vida orgânica.
u» em termos mais precisos, se, sob essas condições, seria possível a
evolução de seres parecidos com o homem.
Conforme a Natureza demonstra em muitos exemplos, além de a
vida adaptar-se perfeitamente ao seu meio ambiente, ainda produz
formas similares, mesmo partindo de posições totalmente diversas.
Certas espécies de euforbiáceas e cactos quase não se distinguem
em sua aparência externa, apesar de sua descendência
absolutamente diversa. E, da mesma forma, pela sua aparência, as
baleias seriam consideradas como peixes, se o exame detalhado não
revelasse que se trata de mamíferos. Portanto, não seria impossível
que ambientes semelhantes também produzissem seres vivos de
constituição e forma comparáveis. Desta maneira, seria admissível
supor seres vivos semelhantes ao homem em um planeta
semelhante à Terra. No entanto, dificilmente se poderia pensar em
parentesco. Nem pode haver cruzamento entre euforbiáceas e
cactos, entre a baleia e o peixe, apesar de, em sua fase primitiva,
descenderem de antepassados comuns. Portanto, a possibilidade de
cruzamento do homem com seres semelhantes a ele, habitando
planetas distantes, parece-nos altamente improvável. Mas, este não
é o problema crucial para o estabelecimento de contacto, pois no
caso não interessam dados genéticos; o que interessa são os dados
tecnológicos.
Há outro ponto relevante: se é que em qualquer parte do Cosmo
chegaram a evoluir seres semelhantes ao homem, seria lícito supor
que, ao iniciarem suas atividades astronáuticas, teriam encontrado
as mesmas dificuldades agora experimentadas por nós. Entram,
então, em foco as ponderações a serem feitas sobre as possibilidades
de o homem realizar vôos espaciais no Cosmo, ou sobre eventuais
visitas à Terra de inteligências estranhas do Cosmo, em épocas
históricas ou pré-históricas. A fim de avaliar os meios empregados
por essas inteligências em suas viagens cósmicas, seria lícito considerar as previsões feitas para futuras missões cósmicas do homem.
Como critério a ser adotado nessas ponderações, menos valeria a
concordância dos métodos sugeridos com o atual progresso científico, do que sua conformidade com as leis da Física e Biologia.
Conforme mencionado no início deste trabalho, o vôo cósmico que
tenha por meta sistemas solares vizinhos ao nosso apresenta dificuldades inexistentes nos "trechos curtos", para a Lua e os planetas.
Supondo que seres parecidos com o homem, provenientes de
sistemas solares distantes, teriam logrado chegar à Terra, então
deveriam ter-se servido de métodos que o homem ainda considera
utópicos. Tal viagem cósmica a imensas distâncias pressupõe eledíssimo progresso tecnológico, decerto muito mais elevado do que o
que existe atualmente na Terra.
Seria de pensar que os cosmonautas levassem em sua cosmonave
algo o do seu ambiente costumeiro. É este o método tradicional,
Em cima: O deus
celta do cervo,
com
anel
e
serpente,
relevo
na
famosa
caldeira de prata
de Gundestrup
Ao lado: e em
relevo de pedra,
no
Museu
de
Reims, França.
O desenho feito pouco depois de 1700, mostra um xamano tungú -sio com
tamborim; os chifres de cervo fazem parte dos adornos cerimoniai!
Coleção de adiados de lâinp»1
das, usadas pelo homem no
Per íodo
Glaciário. Queimam
gordura animal, servindo de
pavio uma tripa anima. As
experiências feitas com
essas
lâmpadas provaram que não
pietejavam; à
sua
luz,
o
feiticeiro pintava nas paredes da
caverna de culto aos animais a
serem caçados.
Lâmpada de 22 cm. encontrada em Lascaux. perto de Montignac, na Dordonha,
França. A caverna de lascaux c a mais notável das 120 cavernas nas quas, até
agora, foram encontradas pinturas rupestres do Período Glaciário. O teste pelo
rádio-carbônio de restos dr fogo da caverna de Lascaux indicou sua idade,
aproximada, de 16.000 anos.
Escada de acesso de 7 degraus, para uma plataforma de observação astronômica,
em Medsamor. Os degraus foram cortados na rocha, uns 4 500 anos atrás.
Homem com cabeça de pássaro; o “deus pássaro” dos habitantes da Ilha de
Páscoa.
prateado peia homem, desde que abandonou aquelas regiões
paradisíacas, onde se locomoveu despido e sem qualquer meio
auxiliar. Cada peça de roupa e, muito mais, a casa servem única e
exclusivamente para conservar as condições oferecidas pelo clima
favorável, no qual nos é dado viver. Isto é tanto mais o caso quando
o homem começa a avançar nas zonas do subsolo, debaixo d'água
ou nas alturas da atmosfera. Para as cavernas ele leva a luz, dentro
d'água necessita de ar e as cápsulas espaciais nada mais são do que
instalações automáticas para atender a todas as necessidades do
organismo humano.
Agora, seria perfeitamente concebível o emprego desses métodos
em extensas viagens cósmicas. Aliás, é também este o método apli-
cado na maioria das utopias: a nave cósmica nada mais é do que um
prédio enorme, talvez até uma aldeia, oferecendo condições
normais de vida. Os astronautas agem tal como na Terra, sua liberdade de movimentos é restringida somente pela circunstância de se
moverem dentro da nave cósmica. E não são apenas as necessidades
físicas a serem atendidas; eles vivem inclusive em ambiente
psíquico normal, podem ocupar sua mente, comunicar-se, desempenhar atividades de trabalho e outras. Pressupondo-se um nível
técnico muito elevado, pareceria até lícito suprimir as dúvidas da
exequibilidade de tal projeto.
O desenvolvimento tecnológico, entretanto, também está sujeito ao
princípio de seleção e prova de resistência; assim sendo, resta saber
se é possível provocar uma evolução dirigida para que o cosmonauta leve sua casa no interior da nave em viagem cósmica.
Toda uma geração de cientistas e técnicos, ainda desacostumados
com esta solução, mas que, apesar disto, deseja estudar de perto a
idéia do vôo cósmico, ver-se-á na contingência de ir em busca de
possibilidades totalmente diferentes. Com isto, deve ser indicado o
caminho a seguir para progressos futuros, abrindo-se novas pistas e
abandonando outras já existentes.
A cargo de tal geração de cientistas ficaria resolver de que maneira
se poderia preparar o lançamento de uma missão cósmica, em
grande escala, sem a necessidade de a tripulação levar consigo seu
meio ambiente. Ao trabalharem na solução deste problema os
cientistas, decerto, orientar-se-iam pelo conceito de uma missão de
tal envergadura não servir ao transporte de passageiros, nem à troca
de mercadorias, mas única e exclusivamente à obtenção de dados.
Se for possível assimilar o saber de inteligências estranhas, a missão
será cumprida no momento em que notícias a esse respeito
chegarem a ser transmitidas à Terra. Este pensamento leva forçosamente à sugestão já oferecida por repetidas vezes de enviar, em
viagem cósmica, não o homem, mas um autômato. Também à Lua
tais autômatos chegaram antes do homem e vieram a demonstrar
como o robô, com seus instrumentos de medição — os órgãos sensitivos — pode colher dados do seu ambiente e transmiti-los para a
Terra. Certamente, de maneira alguma tais robôs se comparam ao
homem; suas possibilidades são limitadas e colhem apenas os dados
para os quais são programados. Entretanto, poder-se-ia pensar em
autômatos superevoluídos, com uma programação geral, capazes
até de distinguir entre dados relevantes e dados banais. Para tanto,
seria preciso um progresso tecnológico na construção de autômatos
que ultrapassasse em muito tudo o que se fez até hoje.
***
Contudo, enquanto sujeitos a uma situação idêntica à nossa,
cientistas e técnicos poderiam procurar possibilidades para servir-se
do computador mais potente que se conhece, o cérebro humano,
sem ter de prover para um corpo que só consegue viver em
ambiente terrestre. Com isto, entra em cogitação a "reformulação
das funções" do homem.
A idéia é fascinante: se for impossível adaptar o ambiente ao
homem, então por que não adaptar o homem ao ambiente? Este
problema já surgiu em relação à vida humana debaixo d'água. Seria
possível criar homens com branquias e barbatanas? Tal idéia parece
absurda. No entanto, os resultados de algumas experiências práticas
dão o que pensar; experimentou-se com água bastante enriquecida
de oxigênio, com a qual a pessoa submetida ao teste encheu os
pulmões, e aconteceu o incrível: essa água era respirável.
Pressupondo a possibilidade, em princípio, de uma modificação
funcional de astronautas segundo as exigências de uma viagem
Cósmica prolongada, surge a pergunta: Qual seria a aparência
desses astronautas? Por exemplo, as pernas seriam supérfluas e,
com isto, já se pensou em criar astronautas sem pernas. Todavia,
esta solução dificilmente pode ser levada a sério. Mesmo
desconside-rando-se o lado ético, seria ela insatisfatória. A criatura
dentro da cosmonave ainda continuaria a ser humana, condicionada
por seu ambiente terrestre, e a perda das pernas apenas a deixaria
aleijada. Assim sendo, seria o caso de pensar-se em outra e melhor
modalidade de adaptação à vida no interior da nave cósmica.
De fato, uma viagem cósmica exigiria muito pouco daquilo que é a
constituição normal do corpo humano. Além dos membros, seriam
supérfluos, também, os órgãos sensitivos. O espaço cósmico é
silencioso e escuro. Quase não existem impressões periféricas, variáveis, como costumamos recebê-las aqui na Terra. De outro lado,
ressentimo-nos da falta de órgãos que ali seriam de importância
vital, como, por exemplo, um receptor para a tomada de radiação.
É uma evolução tecnológica completamente diversa que aí poderia
oferecer uma solução, a saber: o desenvolvimento moderno cias
próteses. A ciência está empenhada em proporcionar substitutivos
sempre mais aprimorados aos acidentados que perderam um braço,
uma perna ou outra parte do corpo. Neste intuito cabe papel
progressivamente mais importante às próteses dirigíveis, como, por
exemplo, à bio-mão, a ser posta em movimento por um impulso
mental. Mediante eletrodos, captam-se as correntes musculares
existentes nas partes perfeitas do corpo, que são conduzidas via
amplificadores para motores, os quais então executam os movimentos. Da mesma forma, procura-se compensar a perda dos
órgãos sensitivos; por exemplo, imagens visuais são transformadas
em padrões de ruídos, para que o ouvido possa recebê-los e
transmitir à mente a imagem da conformação física do ambiente.
Esse desenvolvimento ainda poderia ser ampliado; por exemplo,
nos músculos que fornecem as correntes para o manejo das próteses
poder-se-iam afixar mecanismos totalmente diversos dos membros
normais do corpo humano, talvez as pás de uma draga ou um
micromanipulador para intervenções na substância celular. Aliás,
nem precisavam ser as impressões de luz, visíveis, e os sons audí
veis a serem transmitidos por outros órgãos sensitivos — da mesma
forma, um sistema de radar ou um detector de raios ou um sistema
de transformadores poderia ser ligado a canais sensitivos opcionais.
O ser assim criado seria então híbrido entre a máquina e o homem
um chamado "Kyborg" (abreviação para organismo cibernético)
Seus membros mecânicos obedeceriam à vontade de um homem
normal, a exemplo dos braços e pernas e, mediante seus receptores
poderia ingressar em ambientes do nosso mundo, fechados à nossa
percepção.
O "Kyborg", o sistema homem-máquina, talvez oferecesse a solução
para o problema de prolongadas viagens cósmicas e prometeria as
melhores chances de sua concretização, sob o ângulo do progresso
tecnológico atual. Em princípio, o "homem" ligado à máquina nem
precisaria levar parte alguma do corpo humano, com exceção do
cérebro.
A ciência realizou algumas pesquisas para esclarecer a pergunta
sobre a viabilidade de um cérebro isolado, dentro de um autômato,
ser despachado em viagem cósmica. Por exemplo, conseguiu-se
manter vivo, durante algumas horas, um cérebro preparado de
macaco, instalado em uma máquina de coração-pulmão; esse
cérebro demonstrou a atividade característica das correntes
cerebrais, nas quais se esboçam até reações para estímulos acústicos.
Da parte da ciência e, desconsiderando-se, de propósito, o lado ético
do problema, não há argumento contra a possibilidade de, no
futuro, conseguir-se a preparação de cérebros humanos e de mantêlos vivos por intervalos de tempo mais extensos. Os nervos que
entram no cérebro poderiam então ser ligados aos receptores de
maior importância para a sobrevivência no Cosmo — seriam
principalmente aqueles em condições de captarem raios de diversas
naturezas — e os nervos que saem do cérebro poderiam ser levados
por amplificadores para os órgãos executivos. E há ainda outra
possibilidade singular: tal cérebro poderia colaborar diretamente
com o computador central da nave cósmica. Naquelas faculdades
em que o computador supera o homem, como, por exemplo, na
rapidez de deduções lógicas, ou em precisão, o "Kyborg" seria
superior a todo e qualquer homem, mesmo se ele dispusesse de
uma máquina de calcular universal (com a qual, no entanto, só
entraria em contacto "fora de linha").
E, para levar este pensamento ainda mais longe: tal ser mecâ-nicohumano teria melhores condições de adaptação física durante a
longa estada no Cosmo. Como sabemos, os nossos impulsos partem
dos hormônios e funcionam de acordo com as exigências de
existência em ambiente normal. Todavia, para um cérebro tendo
sensações tais como fome, amor, agressão e outras ficariam
altamente excluídas. Aí então os psicólogos defrontar-se-iam com
'"tarefa difícil de elaborar um padrão de impulsos para um ser a
'arrecado de cumprir missões extremamente impossíveis, do to de
vista do homem. As fases de atividade do cérebro viriam então a ser
programadas e dirigidas por esse padrão. Talvez, uma intervenção
dessas na psique do homem possa parecer desumana. Contudo,
independentemente do problema de se poder ou não assumir a
responsabilidade ética por tal procedimento, não resta dúvida ser
necessário dar também este último passo - se é que se chegue a tal
ponto. Desumano seria isolar um cérebro e deixá-lo sujeito às
necessidades normais do homem, que então não poderiam mais ser
atendidas.
De onde se poderia obter um cérebro para um "Kyborg", destinado
a empreender uma viagem cósmica? Talvez fosse possível recorrer a
voluntários, ou vítimas de acidentes. Todavia, a Biologia ensina que,
em organismos adultos, já existem programas de comportamento há
muito formados, para o uso dos membros sadios do corpo e a
conduta dentro de um meio ambiente normal. A reeducação é
muito difícil, conforme se verifica nos casos de acidentados que
devem aprender a escrever com a mão esquerda. Tal reeducação
seria muito mais difícil, se não de todo impossível, em uma
reorientação da envergadura exigida pela adaptação a um dispositivo mecânico.
Seria o caso de supor-se que o cérebro dispusesse de possibilidades
funcionais em número bastante superior ao demandado pelas
exigências da vida em ambiente terrestre. O homem é capaz de
aprender e, conforme mostraram diversas pesquisas, pode adaptarse as mais variáveis condições, inclusive paradoxais; pode evoluir
para padrões de comportamento em meio ambiente que seja o mais
estranho imaginável, enquanto esse ambiente possa ser compreendido pelo raciocínio lógico e não exigir demais da capacidade
de tratamento de dados por parte do cérebro. No decorrer da
evolução humana, a começar pelo nascimento, ainda em estado
embrional, até a fase adulta, ocorre um processo contínuo de
ormaçao de padrões de comportamento, imaginações, expectativas
e outros que, em última análise, determinam toda a persona1 a e do indivíduo. Considerando essa evolução, chegamos à conclusão lógica de que um cérebro adulto não funcionaria em um
"Kyborg", no interior de uma nave cósmica; para tanto, dever-se-ia
cogitar do cérebro de um jovem, preferivelmente de um embrião.
Tal cérebro, ligado ao dispositivo mecânico desde o início desenvolveria todas as suas reações em dependência da máquina na qual
estivesse instalado. Aquilo que, inicialmente, nos parece tão
objetável no "Kyborg", ou seja, a subjugação do cérebro humano a
condições estranhas à vida comum, nem seria sentido por tal ser,
pois ele estaria em perfeita harmonia consigo mesmo e seu meio
ambiente e ultrapassaria em eficiência nós, homens. Em particular,
adaptar-se-ia muito melhor a uma viagem cósmica do que qualquer
criatura humana. Nesse caso, seria desnecessário levar parte do seu
ambiente normal; sobretudo as condições psíquicas especiais da
vida humana poderiam ser desconsideradas. Após sua chegada a
um planeta estranho, em ambiente extraterrestre, tal ser poderia
agir de forma bem mais ativa do que o homem que, na melhor das
hipóteses, se arrastaria penosamente em seus trajes espaciais.
Um cérebro com as fases de atividade dirigidas automaticamente
deixaria de ressentir-se ao menos de um dos problemas que tanto
aflige o astronauta humano: o tédio. A ocupação com os acontecimentos em seu ambiente, o tratamento de impressões periféricas, a
comunicação com outros seres são necessidades inadiáveis do homem normal; em prolongadas viagens cósmicas reverteriam em
problemas insolúveis. A este respeito, sugeriu-se o vôo de gerações
que, de fato, ofereceria possibilidades para vencer tanto os extensos
períodos de tempo como o tédio. Uma coletividade de homens, em
número não muito pequeno, passaria a vida toda, durante gerações,
no interior de uma nave cósmica, com a tarefa única e exclusiva de
alcançar outro planeta e estabelecer contacto com inteligências
estranhas.
Por fascinante que seja tal propósito, exige ele despesas enormes.
Por conseguinte, procuram-se outros meios de resolver o problema
dos longos períodos de tempo, de maneira não-convencional. Aí
caberia então manter em estado de sono ou hibernação, durante o
vôo, as pessoas a empreenderem tal viagem cósmica. Se ficar resolvido trabalhar com astronautas humanos ou "Kyborgs", parece que,
sem a paralisação do sistema orgânico, nem se poderia pensar em
viagens cósmicas para estrelas distantes. Também aqui existem possibilidades, conforme ficou revelado pelas respectivas pesquisas:
dispomos de meios adequados e suficientes para manter o homem
em estado de sono; só que ainda não se sabe se tal método funcionaria em uma viagem cósmica, pois, mesmo que durante o sono o
metabolismo seja mais lento, em absoluto fica parado por completo.
A hibernação ofereceria chances melhores. Conforme demonstraram experiências de laboratório com anfíbios e peixes, os animais
passam por determinados períodos em estado de hibernação sem
sofrer quaisquer danos. Com seres superiores ainda continuam
vigorando dois efeitos, em especial, que impedem o método de
congelamento, pois, congelando-se parte do líquido celular, a concentração de sal sobe a um nível intolerável e, além do mais, as paredes das células podem chegar a ser destruídas pelas pontas de
gelo formadas durante o processo. Todavia, ambos esses fenômenos
desfavoráveis poderiam ser eliminados e, para tanto, já se está trabalhando; se esses trabalhos forem bem sucedidos, nada mais haveria contra o uso da hibernação em viagens cósmicas.
Como essas ponderações são válidas não só para o homem terrestre,
mas para todos os seres inteligentes, seria de supor-se que naves
cósmicas, em vôo nas imensidades do espaço, seriam tripuladas por
astronautas, a serem conservados ou pelo método de hibernação ou
por outro que viesse a paralisar suas funções vitais. Só ao chegar às
proximidades do seu destino, seriam acordados e colocados em
condições de cumprir suas tarefas.
***
Em se relacionando as possibilidades do vôo cósmico com o
homem, fica evidente que são menos os fatores físicos do que os
biológicos que deixam parecer tais projetos improváveis, se não
suspeitos. No entanto, de gravidade ainda maior reveste-se a intervenção na integridade do homem, inevitável, não obstante o lado
em que o problema seja atacado. Todavia, acontece que principalmente no campo ético são imprevisíveis as normas que chegaram a
ser adotadas por inteligências estranhas, razão pela qual esse
aspecto pode ficar fora de nossas cogitações. Tudo o que acabamos
de expor aqui sobre a criação de seres, especialmente adaptados
para viagens cósmicas, bem como a construção de um "Kyborg",
poderia ser realizado, sem restrições, por qualquer coletividade de
seres vivos.
E, conforme parece, esses métodos seriam inevitáveis, quando
pensarmos em visitas de seres, enviados por coletividades de nível
tecnológico mais ou menos semelhante ao nosso. Isto significa também que, se uma nave espacial, proveniente de enormes distâncias
no Cosmo, lograr pousar na Terra, seus tripulantes não precisariam,
necessariamente, aparecer na forma em que vivem em seu planeta
natal. Muito mais provável seria então travarmos conhecimento
com robôs, criaturas que tivessem suas funções vitais reformuladas,
ou com "Kyborgs".
CAPÍTULO X
O Que Diz a Medicina,
Especialmente, a Psicologia Médica?
Por Hermann Dobbelstein
QUEM LER COM ATENÇÃO Eram os Deuses Astronautas? e De Volta às
Estrelas não deverá tardar em verificar as seguintes contradições: de
um lado, os livros encerram apreciável quantidade de perguntas,
tratando da "terra primitiva do homem", inclusive e especialmente
no sentido filosófico; de outro lado é justamente a este respeito que
há acentuada falta de pontos de referência, tanto de ordem médica
como psicológica, que permitiriam responder clara e precisamente
às perguntas levantadas pelo autor, o qual, aliás, é dotado de muita
fantasia; ademais, há ainda algumas teses a serem desmentidas.
Todavia, são essencialmente aqueles problemas psicológicos que,
para muitos leitores, constituem o grande atrativo das obras em
apreço.
Todos aqueles fatos e dados que nos são apresentados como
enigmas a serem decifrados, estimulam nossa curiosidade, principalmente porque gostaríamos de saber mais alguma coisa sobre de
onde, afinal, provém o homem e para onde irá após o término dos
seus dias terrestres. A este respeito, nunca nos cansamos de esperar
noções sempre mais novas e profundas e como Erich von Dãniken
tem respostas prontas — em parte surpreendentes — logo captou a
atenção de um grande público leitor. No entanto, ao longo dessas
exposições demonstraremos como o autor nos desiludiu a este
respeito. Outrossim, vamos conceder-lhe que até indivíduos de
fantasia monomaníaca e, sem dúvida, Dániken é um deles, são
capazes de produzir algo de positivo.
***
Vamos começar com aquelas afirmações de ordem biológica que
interessam especialmente ao médico. Aí se trata, de início, daquelas
opiniões surpreendentes externadas por Dàniken em relação a
corpos mumificados (1, pág. 100*). Com isto Dãniken toca em
assunto altamente atual. Hoje em dia, largos círculos da população
têm uma fé tão implícita nas possibilidades ditas ilimitadas da
Medicina que, muitas vezes, chega a ser explorada comercialmente.
Assim sendo, diz-se que nos E.U.A. já se teria chegado a congelar
cadáveres. Tais pessoas, em sua vida, eram de opinião que, quando
congeladas, poderiam reviver no dia em que a Medicina teria
condições de descongelá-las e restituir-lhes a saúde, com os meios
então disponíveis.
É claro que, em vista de tais fatos, a pessoa leiga em Medicina deve
achar que, da conservação do, digamos, sangue humano, ou dos
ossos e talvez até do esperma, até a manutenção permanente, o
caminho deve ser bem difícil, mas, apesar disto, possível. Em verda* I = ERAM OS DEUSES ASTRONAUTAS?; II = DE VOLTA ÀS ESTRELAS; os
números são das páginas das traduções em português, onde os temas são
descritos. (N. da E.)
de, tal progresso é totalmente impossível; é pura utopia. A fixação e
conservação de tecidos vivos, pelo congelamento, só é possível
quando se trata de células apropriadas para tal processo. Sabe-se
que, com temperatura negativa, a água se transforma em cristais de
gelo. Ao ser congelado, o líquido celular, contendo água, do
organismo humano, passaria por transformações que proibiriam
toda e qualquer tentativa de restauração; fala-se em transformações
irreversíveis, provocando a destruição definitiva, que não poderia
ser evitada, nem adicionando glicerina.
O homem congelado é inapelavelmente morto. Se ele mandar iniciar
o processo de congelamento ainda em vida, a fim de ressuscitar em
um dia longínquo sua existência terrena se extingue no momento
em que seu organismo ficar congelado. Cumpre não nos
esquecermos do cérebro, cujas células ganglionares ultra-sensíveis
agüentam determinado grau de congelamento, permitindo o estado
de hibernação, durante o qual todas as funções orgânicas ficam
retardadas e o paciente pode ser submetido a intervenções
cirúrgicas, no entanto, a maneira e a duração desse processo não
devem ultrapassar determinados limites. Também a vita mínima
sempre depende de uma certa função celular, da respiração das
células e da necessária alimentação dos tecidos. São especialmente
as células ganglionares do cérebro que reagem de forma ultrasensível contra toda interferência no fluxo normal de sangue, pois,
com a mera diminuição da pressão sangüínea, o indivíduo chega a
desmaiar. Ou, seria o caso de pensarmos no enfarte cerebral,
paralisando o organismo, porque determinada parte do cérebro —
mesmo se for por um lapso de tempo curtíssimo — deixou de
receber o fluxo sangüíneo normal.
Neste contexto cabe citar também as especulações referentes à
manipulação do esperma humano. Em virtude de, em teoria, ser
possível conservar grupos simples de células, não obstante quão
diferentes sejam, durante um tempo praticamente ilimitado, deveria
ser possível — sempre em teoria — construir um processo genético
pelo qual um homem dos nossos dias se tornaria o pai de uma
criança a nascer em décadas, se não séculos vindouros. Segundo
este exemplo, se tal processo tivesse sido conhecido na Roma antiga,
Júlio César bem poderia ser o pai de uma criança nascida hoje e cuja
mãe teria ficado grávida por fecundação artificial, com aquele
esperma antiquíssimo, conservado através dos tempos. Visto ser
possível retirar uma célula ovular madura do óvulo feminino, por
intervenção cirúrgica, em teoria seria concebível ainda outro caso, a
saber: uma mulher dos nossos dias seria a mãe de uma criança que
iria viver em séculos futuros, gerada no ventre de uma "mãe
adotiva". Poder-se-ia cogitar de tais casos se a natureza concordasse
e se todas as demais implicações fossem menosprezadas. O fato é
que, hoje em dia, ainda não se sabe se uma célula espermática ou
ovular é passível de conservação, durante períodos prolongados,
sem causar profundas modificações genéticas e danos ao nascituro.
Quanto ao aspecto legal de tais possibilidades teóricas, não cabe
aqui tocar no assunto.
E nem Dâniken escreve alguma coisa a respeito; ele apenas esboça
as possibilidades, em sua opinião praticamente ilimitadas, da
Biologia e da Medicina. O fato de se mencionarem aqui essas teorias
amplas, prende-se ao intuito de expor ao leitor, esclarecen-do-o,
aquilo de que a Medicina — por enquanto só em teoria — realmente
é capaz. Quem achar que não seriam totalmente impossíveis tais
coisas, virtualmente incríveis, deveria com esta sua opinião merecer,
junto ao leitor, o crédito talvez indispensável para desmentir de
forma aceitável as especulações de Dãniken. Esse autor escreveu: "É
preciso ler duas vezes o que se segue, para tomar consciência de
todas as implicações fantásticas que envolvem os resultados da
pesquisa científica que vamos mencionar. Biólogos da Universidade
de Oklahoma constataram, em março de 1963, que as células
epidérmicas da princesa egípcia Mene continuam dotadas de
capacidade vital! E a princesa Mene está morta há vários milhares
de anos!" (I, pág. 101).
Neste caso o médico só pode julgar que Dãniken cometeu um
engano. Se é que os cientistas da universidade norte-americana
verificaram vida na região das células da epiderme, então só se
pode tratar de vida alienígena — de bactérias que lá proliferaram.
***
No início deste trabalho qualifiquei Dãniken como indivíduo
dotado de fantasia monomaníaca; para deixar bem claro o que se
deve entender com isto, citarei o seguinte exemplo: Quando um
pintor cria um quadro bem natural, talvez um retrato bastante
expressivo, as pessoas que o vêem observam: 'O quadro tem vida'.
Da mesma forma exprime-se Dãniken, quando escreve de múmias:
'completamente conservadas e intactas' e, simultaneamente, afirma
a existência de vida verdadeira em células mumificadas, as quais,
para ele, 'parecem vivas'; contudo, neste caso, ele refere-se ao corpo
completamente conservado. Aliás, ele ainda reforça sua afirmação,
falando nas 'múmias em geleiras, que perduram pelos tempos', sem
fazer qualquer tentativa de provar, ou, ao menos, tornar plausível
sua tese de 'terem vitalidade teórica". É esta uma seqüência de
pensamentos inadmissível pela ciência, pois, segundo o exemplo
citado, equipara a expressão vida natural de, digamos, um retrato, à
vida real. A ciência considera fantasioso o indivíduo que proceder
desta maneira.
Os motivos pelos quais o autor modifica os fatos dados, adulteralhes o conceito e manobra-os da maneira mencionada têm sua
explicação, considerando-se o fim visado. O autor persegue determinado objetivo: ele quer tornar críveis suas afirmações, custe o que
custar. E, no intuito de alcançar essa meta, ele abandona o âmbito
das realidades e manipula sua comprovação, conforme julgar
conveniente para seus fins. Como o leitor deve ser de boa-fé — em
alguns trechos do texto nota-se o propósito de entabular conversa
com a ciência, para, por assim dizer, estimulá-la e acordá-la — deve
tratar-se de pessoa que perdeu a objetividade em defesa da causa.
Fica assim patente o quadro clínico da fantasia monomaníaca.
Os cães que apareceram na televisão russa, decerto e fora de
qualquer dúvida, ficaram em estado de congelados, durante uma
semana (I, pág. 101). Constitui pergunta notória e pública aquilo
que Dãniken talvez confundiu na ocasião: cientistas russos procederam ao enxerto de uma segunda cabeça em um dos cães e para tal
intervenção cirúrgica, de extrema delicadeza, foi preciso deixar o
cão em estado de hibernação artificial. Todavia, o cão de duas
cabeças sobreviveu por algum tempo e isto, talvez, explicaria o engano de Dãniken. Bem entendido, sua respectiva afirmação é uma
fábula médica. Em ERAM OS DEUSES ASTRONAUTAS? Dãniken
prossegue então: "Os americanos, também isto não é segredo, no
âmbito de seu amplo programa de cosmonáutica, ocupam-se
vivamente com o problema de como se poderão congelar
astronautas do futuro para suas longas viagens a estrelas remotas..."
(I, págs. 101-102). Desta maneira e pelo que acabamos de expor, o
assunto dispensa comentários, em virtude da maneira como está
sendo formulado. Ninguém discute que cientistas, tratando de problemas do vôo espacial, chegassem a debater, em teoria, também a
possibilidade do congelamento de astronautas. Outrossim, é justamente esta a tarefa da ciência, detectar, em teoria, todas as possibilidades
imagináveis, a fim de examiná-las para saber se são passíveis de realização.
Quanto a isto, em princípio, não há limite para a livre fantasia; pelo
contrário, quanto mais fantasia houver, maior o número de
possibilidades a serem debatidas. No entanto, daqui para o
'tratamento sério do problema' o passo é muito largo.
Dániken se preocupa com a pergunta "pela pátria primitiva da
humanidade". Com isso ele expressa uma necessidade metafísica
inata no homem. Num dos trechos do seu livro ele escreve bem
claro a respeito: "Talvez faça algum bem dizer algumas palavras
sobre a 'verdade'. O adepto incondicional de uma religião está convicto de que ele possui a 'verdade'. Isso é válido não só para o
cristão, mas também para os membros de outras comunidades religiosas, grandes ou pequenas. Teosofistas, teólogos e filósofos meditaram sobre sua doutrina, sobre seu mestre e seus ensinamentos;
estão convencidos de haver encontrado a 'verdade' ". E, continuando: "As provas da 'verdade' sempre partem do centro da própria
religião. O resultado é uma forma fechada de pensar que fomos
induzidos a aceitar desde a infância. Não obstante, muitas gerações
viveram e vivem na convicção de estar de posse da 'verdade'" (I,
pág. 71).
Essas observações são acertadas. Talvez seja um sinal da época o
nosso contemporâneo ter reconhecido esta verdade e levar a sério a
pergunta de Pilatos: 'O que é a verdade?'. A revolução teológica,
manifesta em toda parte, resulta justamente do fato de ninguém,
nem teólogo algum, continuar a considerar verdadeiros os ensinamentos convencionais, só pelo fato de serem tradicionais. Assim
sendo, concordamos com Dãniken quando ele conclui seus pensamentos supracitados da seguinte maneira: "De modo mais humilde,
opinamos ser impossível ter a verdade. Na melhor das hipóteses,
pode-se crer na verdade. Quem, de fato, buscar a verdade não pode,
nem deve, procurá-la sob os signos e no âmbito da própria religião.
Não seria então o caso de a desonestidade agir como madrinha de
uma causa de supremo direito? O que, afinal, é o fim e o destino da
vida?"
E em seguida, algumas linhas abaixo, o autor explica aquilo que ele
próprio jamais considerou e que, decerto, constitui o maior motivo
de sua reprovação à ciência especializada, tantas vezes duramente
atacada por ele: "Quem, portanto, procurar realmente a 'verdade',
não pode rejeitar aspectos novos e audaciosos, embora ainda não
comprovados, apenas porque não se enquadram em seu esquema
de pensamento (ou fé)" (I, pág. 72).
Mas é justamente isto o que o próprio Dãniken faz e de maneira
abusiva. E não é só isto. Ele adultera os fatos de sua maneira, até
combinarem com sua idéia preconcebida, a saber: os deuses da
Antiguidade eram astronautas, que visitaram a Terra, aqui deixaram seus ensinamentos, partiram para as distâncias imensas do
espaço, para de lá voltarem um dia.
Neste trabalho já tive ocasião de expor que múmias são mortas e
para sempre o permanecerão. Devemos conformar-nos com o fato
de seres com inteligência e organismo humanos, quando congelados, morrerem em definitivo. No entanto, Dãniken, que poderia terse informado corretamente com qualquer fisiólogo, qualquer
médico, constrói suas teses que, segundo suas próprias palavras, se
baseiam em "aspectos a enquadrar-se em um esquema de pensamentos". Com isto liquida-se, por si só, aquilo que, em outra parte,
ele expõe com tanta fantasia e lógica aparentemente surpreendente:
"Já falamos na idade fisicamente impossível dos reis sumérios ou
dos personagens bíblicos. Formulamos a pergunta, se, com esses
personagens, ter-se-ia tratado de astronautas que apenas tivessem
do tempo em vôos interestelares, a velocidades pouco abaixo da
luz".
Como deixam de ser dadas as pressuposições biológicas e jamais
podem ser, no sentido imaginado, pois nunca se conseguiu qualquer progresso técnico contrário às leis da Natureza, as conclusões
de Dániken ficam destituídas de substância:
"Será talvez possível encontrar alguma pista com relação à idade
incrível das pessoas mencionadas nas escrituras, se concordarmos
em que essas pessoas tivessem sido mumificadas ou congeladas? Se
seguirmos essa teoria, então os astronautas cósmicos teriam congelado personalidades de escol da Antiguidade — tê-las-iam mergulhado em sono profundo artificial, como relatam lendas — e por
ocasião de visitas posteriores, cada vez as teriam retirado da gaveta
e descongelado para uma conversa com elas. No fim de cada visita
teria sido tarefa da casta dos sacerdotes, instruída e instituída pelos
cosmonautas, preparar novamente os mortos-vivos e zelar de novo
por eles em templos gigantescos, até que um dia os 'deuses' voltassem" (I, págs. 103-104).
Por falta de espaço devo abreviar minhas exposições e, portanto,
vou tratar agora de outro trecho das obras de Dániken, referente à
transmissão de pensamentos. Aí ele cita um exemplo fantástico, um
modelo do futuro, que, segundo ele, teria solução técnica desde já.
O próprio autor chama-o de "idéia terrível".
"...Em Nova York, um computador-monstro é alimentado com
todos os dados da Física, conhecidos até hoje. Fosse quando fosse e
de onde quer que partisse a consulta, o computador daria suas
respostas em frações de segundos. Outro cérebro eletrônico está em
Zurique: nele está armazenado todo o saber da Medicina. Um
computador em Moscou está repleto de todas as indicações da Biologia, outro, no Cairo, não apresenta lacuna alguma nos conhecimentos da Astronomia; para ser breve: em diversos centros do mundo, todo o saber universal, coordenado em seus diversos ramos,
encontra-se depositado em computadores. Em ligação recíproca,
sem fio, o computador no Cairo, consultado quanto a uma informação médica, em centésimos de segundo transmitirá as perguntas
ao computador em Zurique" (I, págs. 161/162).
Antes de mais nada, hoje em dia a técnica de computador vem
sendo aplicada tanto na Medicina como em qualquer outra especialidade científica. Decerto, essa técnica ficará progressivamente
mais expressiva. Considerando a necessidade de, a qualquer instante, termos disponíveis conhecimentos acumulados — o cientista
individual quase está sem condições de dominar todo o saber em
sua especialidade — podemos avaliar o que isto significa. Todavia,
não se compreende bem a razão pela qual Dániken coloca os diversos computadores, com os dados completos das diversas especialidades, em pontos tão distantes, conforme reza seu exemplo. Um
exemplo deve ter o mérito de ser ilustrativo; o cientista acostumado
a pensar de maneira simples e reta fica irritado ao ver diante dos
olhos um dispositivo que seria de fácil solução técnica e só é
apresentado de forma complexa, a fim de elucidar pensamentos
confusos.
Por outra, Dãniken descreve, com riqueza de detalhes, o caso de um
menino camponês de Kentucky, chamado Edgar Cayce, que se
menciona a título de exemplo para a telepatia (o termo provém do
grego e significa sensibilidade à distância). Acontece que essa faculdade rara pertence ao campo da Parapsicologia. Realmente, há
pessoas capazes de perceber, a grandes distâncias, pensamentos e
sensações experimentados por terceiros, independentemente do
auxílio dos sentidos orgânicos normais. Caberia mencionar aqui que
a Universidade de Freiburg, República Federal da Alemanha, conta
com uma cadeira de Parapsicologia. Há 'médiuns' com dons
telepáticos, pessoas intermediárias que recebem os pensamentos de
distâncias longínquas. Também a experiência citada por Dániken,
ou seja, despachar determinado pensamento, em hora determinada,
por grande número de pessoas, ao redor do mundo, já foi realizada
pelos jesuítas, alguns anos atrás. Os resultados da recepção por
telepatia deram um mínimo de possibilidade calculada para ela. Na
atual época de transmissão radiofônica e, ainda mais, quando a
Medicina costuma detectar fenômenos patológicos nos impulsos
elétricos normalmente emitidos pelo cérebro humano — no encefalograma — a razão de ser de tais experiências é pouco compreensível.
Outrossim, é surpreendente o que já foi conseguido a este respeito
por pessoas inescrupulosas, mediante truques, os mais ousados.
Nem vamos nos deter com malandragens desse tipo, mas, a título
de curiosidade, seja mencionado que artistas de teatros de revistas
fizeram enorme sucesso com seu público usando microfones na
laringe e fones minúsculos, discretamente instalados no dueto
auditivo, bem como, de maneira idêntica, larápios conseguiram
apoderar-se de somas vultosas nas apostas de corridas de cavalos.
Contudo, voltemos ao já citado exemplo de Edgar Cayce que, em
estado de transe, teria dado duas consultas médicas por dia. Dãniken escreve a respeito: "Quando perguntado por membros da
comissão (junta médica controladora) como chegou a fazer seus
diagnósticos, Edgar alegou que teria condições de comunicar-se
com
qualquer cérebro e dele tirar as informações necessárias ao seu
diagnóstico. Como, no entanto, também o cérebro do paciente conhece o mal que aflige seu corpo, a situação seria bem mais fácil,
pois bastaria perguntar ao cérebro do doente e em seguida procurar, no mundo, o cérebro capaz de dizer o que deveria fazer.
Ele próprio — assim teria falado Edgar — nada mais seria do que
uma parte de todos os cérebros ".
Ao leitor interessado no assunto poder-se-ia recomendar a leitura
do livro "CÉREBRO E ALMA" do psiquiatra Fl. Laubenthal, que
explica de maneira bastante acessível e demonstrativa o que o
médico pode dizer a respeito do problema corpo/alma. Lamentavelmente, não cabe aqui tratar desses problemas com maiores
detalhes, no entanto, deve salientar-se o seguinte ponto: infelizmente, o cérebro humano não conhece o mal que aflige o corpo. Se o
conhecesse, para que serviriam então os aparelhos complexos,
instrumentos de raios X, exames de sangue e tudo o mais que se usa
para, em trabalho penoso, diagnosticar as perturbações no
organismo? Talvez Dániken pense de maneira mais complicada do
que ficou acima exposto, conforme demonstrado pelo seu exemplo
dos computadores. Possivelmente, ele se refere apenas ao subconsciente do indivíduo, separa-o do consciente e especula que imaginações inconscientes poderiam ser captadas e percebidas de fora, mediante uma consulta ao cérebro.
Seria o caso de considerarmos essa teoria, a fim de ir ao encontro do
raciocínio de Dániken. Por exemplo, ele nem precisava saber que
doenças mentais não são doenças cerebrais, pois a alma humana
não reside no cérebro. No entanto, talvez Dániken chegou a saber
que, freqüentemente, a psique humana, por sua natureza, adultera
estados patológicos, pois não são raras as vezes em que, das
profundidades do inconsciente, surge a euforia, uma sensação de
alegria sem motivo, justamente na hora de o indivíduo sofrer fortes
dores orgânicas. Se, nessa fase, o doente desenvolve planos
extensos, vislumbrando a construção de uma casa nova ou
projetando uma viagem longa, fala-se em recaída e piora o
prognóstico, a previsão para o seu futuro.
Antes de terminar, daremos mais uma vez a palavra a Dániken.
Subseqüentemente à sua idéia de instalar computadores em centros
bem distantes um do outro, ele expõe esses pensamentos: "Registrese aqui uma audaciosa especulação: o que seria se todos (ou mesmo
apenas alguns) cérebros humanos, altamente evoluídos,
dispusessem de ignotas formas de energia e possuíssem a
capacidade de entrar em contacto com todos os seres vivos?
Assustadoramente pouco se conhece sobre as funções e
possibilidades do cérebro humano; é sabido que no cérebro do
homem sadio só um décimo do córtex trabalha. O que fazem os
restantes nove décimos? Conhecido e cientificamente documentado
é o fato de que criaturas humanas se livraram de moléstias
incuráveis pela sua vontade e por nada mais. Talvez porque, por
uma 'ligação' desconhecida de nós, um ou dois décimos do córtex
trabalharam adicionalmente?" (I, pág. 162).
Nessas esperanças, infelizmente, nada há que seja passível de
realização. Dániken esboça um quadro da atividade cerebral, condizente com o progresso médico do século passado, quando a Medicina ainda achava possível elaborar uma classificação bem definida dos distúrbios cerebrais, especificando, por exemplo, todas as
doenças cerebrais por eles causados, mais ou menos conforme
Lineu logrou a classificação da flora. É certo que ainda sabemos
muito pouco a respeito do cérebro e suas funções. Todavia, é isto o
que sabemos: nosso cérebro é uma unidade orgânica, unidade
conforme representada pelo indivíduo, indivisível e inseparável
como personalidade, com o corpo e a psique. Segundo Dániken,
devemos idealizar a função do cérebro como o trabalho exercido
por mais ou menos uma décima parte do córtex. O 'trabalho adicional de um ou dois décimos a mais' do córtex deveria então
desempenhar a função terapêutica. A realidade é bem outra!
Aquelas doenças supostamente incuráveis que chegaram a ser
curadas pela vontade do doente — e, bem entendido, por nenhum
outro meio — antes de mais nada, correspondem ao quadro acima
exposto da unidade física e psíquica do indivíduo. Toda doença
orgânica é relacionada com a psique — e vice-versa. Tratei do
assunto de maneira facilmente acessível à mentalidade do público
leitor em outra obra (AUS DER SPRECHSTUNDE EINES
PSYCHIATERS — Einsicht und Hilfe bei seelischen Schwierigkeiten — Do Consultório de um Psiquiatra — Compreensão e auxílio
para problemas psíquicos, 1970, Herder Bücherei) e gostaria de
resumir aqui apenas os distúrbios psíquicos passíveis de cura pela
vontade do doente.
De maneira simplificada podemos dizer que, quando a vontade do
indivíduo não corresponde às suas obrigações, não é nada raro que
ele adoeça. Surgem todos os sintomas possíveis e imagináveis. Se,
de propósito, a pessoa demonstrar seu sofrimento, o médico fala em
distúrbios histéricos, tais como, eventualmente, paralisia histérica.
No caso de aquilo que acaba de ser exposto acontecer de maneira
inconsciente, trata-se de um sintoma neurótico, de uma fuga para a
doença. Todavia, em ambos os casos, a psique desempenha papel
decisivo. A vontade do indivíduo enveredou por caminhos errados.
Só há um remédio a ser aplicado: tentar uma correção no âmbito da
vontade; se a personalidade do doente for passível de
reestruturação, isto talvez se consiga com a psicoterapia.
Portanto, Dãniken está com a razão ao dizer que certas pessoas
podem ser curadas somente pela força de sua própria vontade. Mas
ele devia saber que as doenças supostamente incuráveis, por ele
relacionadas, antes de mais nada são distúrbios psíquicos que, precisamente, pertencem ao âmbito da vontade.
No que se refere às curas ocasionais de, inclusive, doenças orgânicas
graves, mediante impulsos psíquicos (lembramos: Vai, tua fé te
curoul), tais experiências surpreendentes em absoluto levam para as
falhas interpretações mecanísticas de Dãniken, mas sim para
aqueles fenômenos inconcebíveis, com os quais o cientista, no caso o
médico, se defronta diariamente.
***
Em vista da improcedência dos seus argumentos científicos perante
a medicina e a psicologia médica, qual seria então o mérito de
Dãniken? Bem, para começar: ele focalizou especialidades importantes da ciência, que só podem ganhar com uma publicidade
adicional, que as torne assunto de conversa. Certa vez, o grande
físico Max Planck falou: "O homem não pode tomar conhecimento
direto do mundo objetivo, real, mas apenas adquirir noção mediata
a seu respeito, pelo seu sensório e a reflexão mental de suas percepções. Em última análise, todo progresso tecnológico no caminho
do conhecimento científico só serve para aprimorar e melhor
aproveitar os instrumentos com os quais a natureza dotou o nosso
sensório. Com isto ficam também demarcados os limites das possibilidades do conhecimento científico. Desde que foi possível transformar a matéria em sua estrutura primitiva, atômica, as noções
da 'concepção clássica' do mundo ficaram superadas".
É mais ou menos nesse sentido que Dãniken procura modificar a
nossa concepção do mundo, ampliando-a com as possibilidades do
vôo espacial. Cheio de fantasia, ele desenvolve as suas teses; e como
bem sabia que a ciência iria recusá-las, ele resolveu atacá-la com
todo seu ímpeto — aliás, uma boa maneira de defender-se. Toda
tentativa de modificar o statu quo, mesmo com resultado negativo,
constitui um incentivo. Contudo, o físico Max Planck circunscreveu
o limite do explicável com uma frase de "Maximen und Reflexion"
(Máximas e Reflexão) de Goethe, dizendo: "E quem colaborar na
evolução das ciências exatas, encontrará sua felicidade íntima
justamente na consciência de ter pesquisado o pesquisável e
venerado serenamente o impesquisável".
CAPITULO XI
Argumentos para o Possível, Tirados
de Fatos da Astronomia e de Textos Antigos
Por Winfried Petri, Munique
EM SUA QUALIDADE DE "pesquisador domingueiro", Erich Von
Dãniken assume atitude contraditória perante o cientista especializado. De um lado, mostra-se mordaz, às vezes até cáustico,
quando com seus "argumentos para o impossível" arrisca
afirmações (o que acontece com freqüência) que nem podem ser
debatidas concretamente pelo pesquisador sério, o qual somente
pode admitir argumentos para o possível. É fácil impressionar o
leigo com especulações audaciosas, pois ele deixa de perceber sua
improcedência, ou, ao menos, a ausência de base, devido à falta das
respectivas pesquisas. De outro lado, o cientista, por sua vez,
considera como sua tarefa aumentar e aprofundar os resultados de
suas pesquisas, ao invés de debater opiniões divorciadas de fatos e
noções inequívocos e comprováveis, ao ponto de deixarem aparecer
pouco proveitoso tal debate, antes mesmo de ser iniciado. Não se
pode entabular debate científico com frases tais como: "seria bom
s e o u
"porque não há de s e r a í , Dãniken procura virar as
tábuas e fala em "killer-phrases" (I, pág. 44).
Outrossim, Dãniken parece ultra-satisfeito quando pode travar
diálogo com cientistas de renome, o qual depois reproduz de maneira correta e a demonstrar que, em caso algum, conseguiu qualquer coisa além do reconhecimento simples e puro da existência de
problemas a serem resolvidos (aliás, uma verdade bastante banal),
conforme aconteceu com Wernher von Braun, Josif Shklovsky,
Esther Solomon.
De maneira puramente formal, torna-se difícil tratar das teses
levantadas por Dãniken, devido à sua atitude de pouco caso e, às
vezes, indicação deficiente das fontes, conforme ficou comprovado,
em detalhes, por Gerhard Gadow, em "ERINNERUNGEN
AN DIE WIRKLICHKEIT" (Lembretes à Realidade), Berlim, 1969.
Todavia, em certos casos basta o nome do referido para caracterizar
a referência como duvidosa; por exemplo: E. Veli-kovsky já deixou
de ser discutido em círculos especializados, aliás, jamais o foi. H.
Blavatsky era uma aventureira que dificilmente pode ser tomada a
sério, apesar de sua qualidade de fundadora da Sociedade
Teosófica, pois seus "Escritos de Revelação" já foram superados há
muito, desde a divulgação progressiva de antigos textos originais
hindus e budistas, desconhecidos na época.
Em geral, pode-se dizer que a história da religião e das eras
primitivas dispõe de um inventário tão rico que é fácil estabelecer
paralelos em escala mundial, entre elementos tais como divindades
da luz, coroas de chifres, ou casamentos mistos mitológicos. Por sua
própria natureza, esses elementos são destituídos de toda força
comprovadora. O pesquisador deve considerar a riqueza desses
fenômenos em seu contexto geral, não sob um aspecto arbitrário,
sem nexo com a totalidade. Cabe mencionar aqui, a título de
simples exemplo, que, além de viagens para o céu, freqüentemente,
se fala em viagens para o mundo das trevas. Agora, se fosse o caso
de argumentar como Dãniken argumenta, deveriam ter acontecido
também encontros com criaturas abissais, provenientes dos abismos
subterrâneos, da mesma forma como ele o alega para seres racionais
extraterrestres. De fato, por exemplo, na cosmografia antiga dos
jainas, o local reservado ao homem, a superfície terrestre, encontrase simetricamente disposto no meio, entre os ambientes de vários
andares, representando o céu e o mundo das trevas. Segundo as
imagens mitológicas e mágicas do jainismo, bem como do
hinduísmo, do budismo maaiana e do xamanismo, existiu e existe
contacto entre ambos os lados. Por conseguinte, a interpretação
puramente racional desses dados, à maneira de Dãniken, postularia
ainda, além de astronautas, habitantes do abismo das trevas,
monstros nos fundos dos oceanos, anões nas cavernas subterrâneas
e outros tantos parceiros de diálogo.
***
Todavia, em alguns pontos é possível encontrar argumentos
concisos para o possível. Como primeiro exemplo podemos tomar os
números precisos e altos citados por Dãniken, a favor da existência
na Terra, em épocas muito primitivas, de conhecimentos
astronômicos e matemáticos que, evidentemente, o homem teria
adquirido de seres racionais extraterrenos. Acontece, porém, que
esses números extraordinários se baseiam no sistema sexagesimal,
antiquíssimo, em uso na Mesopotâmia, no qual o 60 desempenha
papel igual ao nosso 10; calculando-se em potências, logo então se
alcançam cifras elevadíssimas. Todavia, no que se refere às eras
primitivas dos sumérios, os textos originais nada mencionam sobre
Matemática e Astronomia. Conforme escreve O. Neugebauer, um
dos melhores peritos na matéria: "Nada sabemos, em absoluto,
sobre a evolução primitiva, presumivelmente suméria".
O que se oferece, então, a respeito do número com quinze zeros? (I,
pág. 39). Nada mais representa do que a sétima potência de 60,
multiplicada por 70 (60? = 2.799.360.000.000) X 70 =
195.955.200.000.000. Os habitantes da Babilônia consideraram o
número 60 como "o grande um". O assim chamado 'douto' sistema
sexagesimal de Babilônia usou símbolos especiais para 10 vezes as
potências de 60. O número 7 é largamente conhecido como "número
sagrado". Todavia, o número bonito, indicado por Dãniken,
dificilmente pode ser relacionado com cálculos astronômicos.
Os números enormes da mitologia hindu são um pouco mais
concretos. Na astronomia hindu costumava-se multiplicar entre si
os períodos de órbitas planetárias, expressos em dias, a fim de se
obterem indicações de tempo, em números integrais para a repetição de determinadas constelações especialmente as da Grande Conjunção, quando todos os planetas estão reunidos no início do
zodíaco. Este espaço de tempo era então considerado como uma era
mundial. O poema didático hindu Aryabhatiya, datado de fins do
século V d. C, indica o espaço de 4.320.000 anos, como intervalo
mais breve para uma era. De costume, adiciona-se ainda o fator
1.000. Designando-se este intervalo como dia de Brama e calculandose a noite em separado, bem como o "ano" com 360 dias, simplificação muito usada na Antiguidade hindu, obtém-se um número
correspondente aos anos de Brama, citado por Dãniken em DE
VOLTA ÀS ESTRELAS, ou seja:
4.320.000.000 x 360 x 2 - 3.110.400.000.000, que é o número de dias
mais as noites; conseqüentemente, multiplicado por 100, obtém-se o
número de Dãniken, ou seja, 311.040.000.000.000. Uma eventual
confusão do dia com o ano pode muito bem ter ocorrido no trabalho
de Dãniken. Na mitologia hindu há diversas contradições avulsas,
nas quais, qualitativamente caberia também a indicação de Dãniken,
anotada do Maabarata, dando 1.200 anos dos deuses como sendo
iguais a 360.000 anos dos homens.
Esses números fantasiosos fundam-se concretamente, de um lado,
nas combinações das potências sexagesimais e decimais, comprovadas da época babilónica e, de outro lado, nos fatos objetivos
de um mês contar cerca de 30 dias e um ano cerca de 360 dias, ou 12
meses. Para os habitantes lunares hipotéticos, um "dia" realmente
dura um mês sinódico, ou seja: uma "lunação" = 29,53 dias, o tempo
que passa até a volta da mesma fase lunar; isto quer dizer que, após
uns 30 dias, o Sol completou uma — aparente — órbita lunar, bem
como em 24 horas, uma — aparente — órbita terrestre. Como, pela
crença hindu e tibetana, a Lua é o lugar das almas dos mortos, para
eles um "dia" equivale a 30 dias (terrestres, do homem). Outrossim,
era óbvio que o intervalo de tempo natural de grandeza mais
próxima, ou seja, o ano solar, contando 360 dias, fosse considerado
como o "dia" das divindades. Essa escala ainda foi dilatada para
baixo pelo fator 1/60 no sistema budista setentrional, no Kalacakra
('roda do tempo', conhecida também no Tibete como dus-kyi "k"or-lo
e na Mongólia, como cay-un kürdün, para seres de corpo delgado, e
para cima por outras potências de 60). No compêndio astronômico
"Espelho de Berilo Branco" (Vaidurya dkar-po'i me-lon), conservado
apenas em tibetano, chega-se com este cálculo a 167.961.600.000
anos. Não há outras realidades para os números gigantes, além das
que acabam de ser expostas. Se é que nessas escalas mitológicas do
tempo Dãniken pensou nos efeitos relativistas da dilatação do
tempo no interior da nave espacial, em relação ao tempo inerte, o
especialista só poderia considerar tal coisa como uma piada mal
contada.
Evidentemente, Dãniken procura seus argumentos lá onde os encontra e conforme lhe convenha na hora. A fim de dramatizar ao
máximo o número gigante "sumério", Dãniken continua escrevendo:
"os ancestrais repetidamente citados e pesquisados da nossa cultura
ocidental, os antigos e sábios gregos, não conseguiram ultrapassar o
número 10.000, nem na época do apogeu do seu saber. Tudo o que
passou desse número simplesmente foi designado como
'infinito' " (I, pág. 39). O fato é que a designação numérica grega
para 10.000, miríade, indicava tanto este algarismo como um número infinitamente grande. Isto vale também para o correspondente
termo armênio bjur que, também, pode significar 'obscurecimento'.
No "apogeu do seu saber" os gregos estavam perfeitamente familiarizados com o conceito de algarismos muito maiores. Em seu
célebre "cálculo na areia" (psammites) Arquimedes introduziu um
sistema de "oitavas", cuja unidade menor é IO8 = 100.000.000; essas
"oitavas" ele tornou a reunir em períodos e assim chegou, afinal, a
um número que, como número 'um', seria expresso em 80.000
bilhões de zeros. No cálculo prático, Arquimedes contentou-se com
a terceira potência da miríade, o que, todavia, representa um
trilhão:
10.0003 = (IO4)3 = 1012 - 1.000.000.000.000.
Ao lado dos números gigantes de Arquimedes empalidecem as altas
potências decimais da aritmética especulativa hindu, que, a partir
de 10B, progride na nomenclatura pelo fator 100 e, também na
versão tibetana, prossegue, comprovadamente, até 1059, no mínimo.
O fato de terem os gregos operado com números altos também após
o "apogeu do seu saber", ficou comprovado de maneira indireta mas
segura por fontes da antiga Armênia. Anania Shirakazi, que, no
século VII, estudou Matemática e Astronomia com Tychikos, em
Trapezunt, trata em suas tabelas de cálculo potências de miríades
com certo ar de elegância displicente. Neste empenho ele foi
auxiliado pelo alfabeto armênio que, com suas 36 letras, exprime
fácil e imediatamente todos os números até 9.999 (para cada grupo
de 1 - 9, 10 - 90, + 100 - 900 e 1.000 - 9.000 há, respectivamente, nove
letras), de modo que para 10.000 só se usa a primeira letra com
barra ou ganchinho divisório, p. ex., A = 1, para chegar até (IO4)2— 1
= 99.999.999 e assim por diante.
Pessoa alguma ligeiramente familiarizada com a história da Matemática na Antiguidade e no Oriente, encontrará motivo para
aceitar, em qualquer parte, a respectiva argumentação de Dãniken
'para o (muito bem dito) impossível'. Todos os números gigantes
gregos e hindus compreendem-se perfeitamente pela evolução constante dentro dessas esferas culturais e sem qualquer intervenção ou
estímulo de fora. Não é nada difícil impressionar o leigo com indicações isoladas, sem nexo.
Da mesma forma são superficiais as exposições de Dãniken a
respeito dos veículos celestes da mitologia hindu. (Ao usar o termo
vimãna na forma feminina, ele incorre em erro, aliás, bem comum
em autores que desconhecem o sánscrito e dependem das traduções
para o inglês, língua que não distingue entre as formas gramaticais
masculina e feminina.) Em primeiro lugar, vimãna significa a ação
de medir ou de atravessar uma área; em segundo, designa algo de
extenso, em especial um palácio de deuses ou reis, ou algo que se
move no espaço, como um carro, um veículo aéreo ou uma nave.
Essas qualidades podem ser idealizadas como entrando em combinação, por conseguinte, a palavra vimãna, em geral, sugere um
palácio (muitas vezes de vários andares) que, miraculosamente, voa
pelos ares.
Na esfera cultural hindu, alguns palácios grandes e também
templos são concebidos como imitação de montanhas 'sagradas'.
Para tanto, os exemplos mais conhecidos são o Pótala, em Lhasa, a
fortaleza de rocha, Sigiriya, no Ceilão, e o Borobudur, em Java.
Outrossim, é uma concepção mitológica bastante comum que, antigamente, as montanhas tiveram asas e se locomoveram nos ares.
Disto resulta a idéia dos palácios voadores. É difícil imaginar onde,
nessa seqüência de idéias de fábulas folclóricas, facilmente com-
preensíveis, caberia o fato histórico do encontro com existências
extraterrenas, alegado por Dãniken.
Todavia, procede a afirmação de Dãniken de que os hindus ao
menos cogitaram de uma espécie de guerra aérea — nessa formulação genérica —, (I, pág. 76); no entanto, como ocorre com tanta
freqüência, também a este respeito eles se perderam no reino da
fantasia. Existem, porém, algumas fontes de referência, nos textos
antigos, que nos permitem chegar mais perto da realidade. No sistema Kalacakra supramencionado há alguns versos, em sánscrito, tibetano e mongol, tratando da construção e utilização de implementos de guerra, bem como de construções de ostentação, balanças
giratórias e artifícios de água com os quais um rei pode celebrar
suas vitórias. No que se refere às construções suntuarias, trata-se
especialmente do palácio (vimãna) dos imortais. Antes disto, entre
as máquinas de guerra, mencionam-se, além de armas de arremesso
de pedras, barcas chatas, fojos, facas rotantes e outros, armas incendiárias, "máquinas de vento", despejando óleo ardente sobre a fortaleza do inimigo e que são postas em movimento mediante cordames. Evidentemente, trata-se de uma espécie de papagaio incendiário e logo se pensa em influência chinesa. Considerando ainda a
grande maestria dos chineses na pirotécnica, é fácil imaginar como a
fantasia hindu chegou a idealizar armas milagrosas voadoras, sem
qualquer contacto extraterrestre.
***
Fenômenos naturais, fora do comum que, desde sempre, amedrontaram o homem e geraram as mais extravagantes convicções
são: cometas, estrelas cadentes e a queda de meteoritos — sem falar
nos fenômenos "terrestres", tais como raios, ciclones, erupções vulcânicas e terremotos. Certamente, não há motivo de considerar
"fogo, fumaça, estremecer do solo, raio, trovejar, vento" e alguns
fenômenos de luz, como acompanhando o surgimento de seres
extraterrestres,
ou
como
ações
por
eles
provocadas
voluntariamente. O que sempre impressionou eram os cometas; e há
alguns casos relatados no Antigo Testamento que podem ser
considerados como indicando o aparecimento periódico do cometa
de Halley. Em seguida, daremos o extrato de um relatório
publicado pelo autor, em 1964, na revista "Sterne und Weltraum"
(Estrelas e Espaço Cósmico). Isoladamente, trata-se de observações
feitas na época de Abraão, do rei Davi e do profeta Jeremias. O
astrônomo polonês M. Kamienski calculou as passagens pelo
periélio (ponto da órbita de um planeta, especialmente da Terra,
que fica mais próximo do Sol e no qual a passagem do cometa é
mais visível, devido à evolução de sua cauda, ativada pelo Sol). O
texto hebraico da Bíblia é reproduzido em tradução própria, fiel:
No Livro de Gênese, capítulo 15, versículos 17/18 se lê: "O Sol
desceu e havia completa escuridão. E havia um forno fumegando e
uma tocha ardendo, passando entre as partes cortadas (isto é, as
metades dos animais de sacrifício). Nesse dia Jeová celebrou seu
pacto com Abraão". A respectiva passagem pelo periélio deveria ter
acontecido ao redor de 1781 a. C.
Há dois relatos sobre o aparecimento do cometa na época de Davi.
O mais resumido encontra-se no II Livro de Samuel, capítulo 24,
versículos 16/17: "O anjo estendeu sua mão em direção de
Jerusalém, para arruiná-la .... Quando Davi viu o anjo castigando o
povo, ele falou para Jeová..." (Neste texto usa-se para 'castigar' o
mesmo termo empregado, entre outros, para o 'queimar' do Sol e da
Lua (Salmo 121, 6) e 'bater' da chuva de granizo (Êx. 9, 25). O relato
mais extenso diz: I Livro de Crônicas, capítulo 21, versículo 16:
"Então Davi levantou os olhos e viu o anjo de Jeová postado entre a
terra e o céu; em sua mão (estava) uma espada desembainhada,
estendida contra Jerusalém. Davi e os mais idosos caíram por
terra...." Aqui trata-se provavelmente do fenômeno da passagem
pelo periélio verificado em 1011 a. C.
Em Jeremias se lê (Jer., capítulo 1, versículos 13/14): "Então a
palavra de Jeová veio a mim pela segunda vez: 'O que vedes'? Eu
respondi: "Vejo um pote (de ferro), (debaixo do qual o fogo está
sendo) soprado; sua abertura dirige-se para o norte" (isto é, ou "vem
do norte", ou, com ligeira modificação do texto, "em direção norte".
Em todo caso, o "pote" encontra-se ao norte do profeta. O fato de
tratar-se de uma parábola cósmica fica revelado pela menção da
direção do céu, coisa pouco comum em relação a um simples
utensílio de cozinha). "E Jeová falou para mim: "Do Norte o mal será
solto (?) contra todos os habitantes do país." (A palavra 'solto' talvez
deveria ser modificada, usando-se a mesma raiz filológica da
palavra 'pote' e que descreve o ato de acender fogo, mediante o
sopro. Por conseguinte, o mal viria como um raio de fogo. Esta
interpretação baseia-se na antiga tradução grega, dos Setenta.) A
passagem pelo periélio em apreço deveria ter acontecido em 622 a.
C.
Em todos os casos trata-se, principalmente, de fenômenos visuais,
para cuja descrição a língua carece de palavras. Fogo, fumaça,
vapor, mas também uma espada desembainhada, são imagens
costumeiras para o aparecimento de um grande cometa. Na India e
no Tibete também se usa, especialmente, o adjetivo 'fumegante' para
descrever um cometa. Há uma realidade física detrás da ação de
soprar ou acender. Conforme sabemos pelas pesquisas de L.
Biermann, confirmadas pelas medições efetuadas por sondas interestelares, é decisivo o papel desempenhado na evolução da cauda
do cometa pelo chamado 'vento de Sol', ou seja, a rápida radiação
emitida pelo Sol de partículas carregadas de eletricidade.
Ao ler com imparcialidade e sem qualquer prevenção os relatos
aqui reproduzidos sobre aparecimentos de cometas, razoavelmente
comprovados do ponto de vista histórico e astronômico, e ao
compará-los com passagens semelhantes do Antigo Testamento e
da literatura da Mesopotâmia, não se pode deixar de sentir que
nada houve de extraordinário com os fenômenos atribuídos por
Dániken a astronautas alienígenas. A facilidade com que, ainda em
nossos tempos, hipóteses sensacionalistas são levantadas a respeito
de acontecimentos incomuns, como a queda de um grande corpo
interestelar planetário, ficou atestada pelo chamado meteorito de
Tunguska, do ano de 1908, que Dániken gostaria de interpretar
como a queda de uma estranha nave espacial atômica (I, pág. 146 e
segs.). A realidade é bem menos emocionante. G. I. Pokrowsky,
pesquisador soviético de renome nos campos da dinâmica do gás e
balística, cuja especialidade é o efeito de corpos meteóricos na
atmosfera, resumiu o progresso atual de nossos conhecimentos
sobre a catástrofe de Tunguska, em um recente livro sobre a
hidrodinâmica de altas velocidades.
A literatura especializada conta com umas 360 obras a respeito; a
essas juntam-se ainda mais de 500 publicações de caráter científicopopular, lançadas nos últimos 58 anos, que são poesias, romances,
reportagens e até um filme soviético, a ser tomado a sério.
Pokrowskij mostra que, em essência, o fenômeno pode ser explicado
como a queda mecânica de um corpo meteórico. O fato surpreendente de, praticamente, não terem sido achados destroços, explicase facilmente, pois o 'meteorito' era, essencialmente, o núcleo constituído de um conglomerado de gelo de um pequeno cometa. Com
isto ficariam eliminadas todas as hipóteses extravagantes sobre o
assunto — que, em absoluto, foram inventadas por Dániken.
Outra tese audaciosa, que muito deu para falar por certo tempo, é a
levantada, em primeira mão, pelo radioastrônomo soviético
Shklovsky, dizendo que as luas de Marte, Fobos e Deimos, seriam
formações artificiais. Dániken não deixou passar a ocasião e escreveu (I, pág. 152): "Hoje em dia, as teorias fantásticas de Sagan e
Shklovsky são tomadas muito a sério". Isto não é o caso. Essas
suposições jamais passaram de uma curiosidade, não obstante terem base de natureza absolutamente séria. O aproveitamento com-
parativo de observações feitas até o último terço do século passado,
com outras mais recentes, dos anos de 1939 a 1941, deu o resultado
que, especialmente Fobos, em órbita mais próxima de Marte, revela
uma aceleração em sua velocidade orbital de desvios de até 2-1/2
graus. Se esse efeito devia ser explicado com traços de atmosfera do
planeta em altitude de quase 1Ü.000 km acima de sua superfície,
resultaria uma densidade média do satélite tão incrivelmente leve
que nem poderia ser encontrada em qualquer outro corpo celeste,
mas apenas em um balão, ou uma esfera oca, delgada. Assim sendo,
é óbvio o pensamento de as luas de Marte e, principalmente, a
interna, Fobos, serem usadas como plataformas intermediárias para
missões astronáuticas para Marte, de maneira semelhante às
projetadas estações espaciais para a Terra e a Lua da Ferra. Ao se
considerarem ambos esses aspectos, não deixa de ser discutível a
idéia de tratar-se Fobos de um produto de técnica espacial
extraterrestre — todavia, esta idéia seria bem mais discutível do que
muitas outras avançadas por Dániken.
Contudo, é um princípio científico, sadio e comprovado, somente
recorrer a hipóteses extravagantes, admitidas exclusivamente para
contingências fora do comum, depois de as explicações mais óbvias
terem deixado de produzir resultado. E nc nosso caso há explicações
de sobra. Primeiro, as alterações na velocidade orbital podem ter
ocorrido de repente, em conseqüência de um choque com um
pequeno corpo interplanetar. De fato, há milhares de planetoides ao
redor do Sol, na região entre Marte e Júpiter; e não seria nada
surpreendente se as duas luas de Marte, a exemplo de algumas
inexpressivas luas de Júpiter, chegassem a revelar-se como planetoides. Aliás, já ficaram comprovadas colisões entre planetoides.
Outra explicação natural da aceleração da velocidade orbital vem
sendo oferecida pela teoria das marés. Conforme existe reação
recíproca, de ordem mecânico-celeste, entre a Terra e a Lua, também
Marte deve exercer forte influência nas luas Fobos e Deimos, muito
próximas a ele, em virtude de a força de gravidade depender do
quadrado da distância do corpo central; assim sendo, por exemplo,
uma lua à metade da distância sofreria atração quatro vezes maior.
O problema de saber-se se, no caso Marte-Fobos, as marés agem no
sentido esperado, poderá ser resolvido somente quando, nos
próximos anos, as sondas automáticas trouxerem dados exatos
sobre as dimensões e a massa verdadeiras de Fobos, a distribuição
de massa e as condições no interior de Marte. Por enquanto, os
especialistas mantêm-se reservados, pois, as observações básicas
não parecem bastante seguras.
Ainda hoje as luas de Marte, descobertas em 1877 com um novo e
possante telescópio, continuam sendo objeto de observação dificílima, por serem muito pequenas e ofuscadas pelo planeta. De fato,
é notável que o escritor inglês, satírico-utopista, Jonathan Swift, em
1726, tenha previsto, praticamente, a existência de duas pequenas
luas de Marte, em órbita bem próxima do planeta. Dãniken está com
a razão ao escrever: "Não sabemos de onde auferiu Swift seus
conhecimentos" (I, pág. 151). Naturalmente, houve muita
especulação a respeito. A expectativa por duas luas prende-se à
ilação por analogia, pois já havia Terra — uma Lua, Júpiter —
quatro luas (conhecidas na época). Aliás, foi até aqui que também
Kepler chegou, em seu tempo. Em 1752, no seu conto fantástico
"Micrômegas", Voltaire seguiu os caminhos trilhados por Kepler e
Swift (de cujo livro provavelmente tinha conhecimento). Por outra,
Fontenelle negou qualquer lua a Marte em sua obra "Conversações
sobre a Pluralidade dos Mundos", publicada em 1686, ou seja, muito
antes de Swift. Parece pouco provável que Swift tenha conhecido as
hipóteses de Kepler; e, mui provavelmente, as duas luas de Marte
eram produto de sua própria fantasia. Aliás não é nada
surpreendente Swift indicar os períodos orbitais das luas como, de
fato, deveriam ser, em base das distâncias do planeta, pois, sem
dúvida, ele conhecia a terceira lei de Kepler, estipulando que os
períodos orbitais se encontram em relação recíproca com as
potências de dois terços dos grandes meio-eixos das elipses da
órbita. Como naquela época as luas de Marte ainda não haviam sido
descobertas pelo telescópio, ainda não eram passíveis de observação
técnica e Swift devia admitir que fossem, como de fato são,
pequenas e bem próximas do corpo central. Em todo caso, Swift
revelou-se um autor de ficção científica de primeira classe.
***
Enquanto Dãniken, no caso de Swift, não adianta suposições mais
detalhadas e deixa ao leitor imaginar que informantes extraterrestres poderiam ter entrado em cena, suas afirmações no caso do
Mappa Mundi de Piri Reis são bem mais audaciosas. Há conceitos
bastante contraditórios sobre a procedência desse documento singular. Todavia, a nós interessam somente as exposições apodícticas
de Dãniken: "Por outro lado, é evidente que foram desenhados com
o auxílio da mais moderna aparelhagem técnica, posta em ação
acima da estratosfera" (I, pág. 30). Pouco depois, Dãniken admite
que "são apenas cópias de cópias de outras cópias". "Quem quer que
os tenha feito deve ter sido capaz de voar muito alto e de tirar
fotografias excelentes!" (I, pág. 30).
Pois bem; em todo caso, os milênios são um exagero. Mas é
redondamente errada a opinião de serem imprescindíveis a observação real e também a fotografia de grandes altitudes para a confecção de um mapa do mundo de projeção azimutal, de eixo oblíquo, conforme esse em apreço. Aliás, inexiste qualquer ponto que
permita a visão de mais da metade da superfície terrestre. Um mapa
do mundo como o encontrado nas proximidades do Cairo e
confeccionado pela Força Aérea dos E.U.A., reproduzido por
Dãniken para melhor ilustração do mapa de Piri Reis, nada mais é
do que um produto puramente artificial, arquitetado com os
elementos matemáticos da cartografia. O que é preciso para tanto
são mapas de áreas relativamente pequenas e uma rede bastante
densa de coordenadas geográficas, apta a coordenar estreitamente
os mapas individuais.
A forma esférica da Terra já era conhecida na Antiguidade. Para
tanto, Aristóteles mencionou várias provas procedentes, tais como a
forma arredondada da sombra da Terra em eclipses da Lua, a
curvatura da superfície do oceano, provocada pelo abatimento do
horizonte, as mudanças no céu estrelado, observadas em viagens do
norte para o sul. No século III a. C, Eratóstenes de Cirene
determinou a circunferência do globo com notável precisão, ao
medir o arco de um grau de meridiano. Na Idade Média, os
astrônomos árabes chegaram a desenvolver a trigonometria esférica
ao ponto de atender todas as exigências da prática de navegação da
época. A obrigação para o moslim crente de inclinar o corpo em
direção de Meca, nas orações rituais, era válida em toda parte e
levou a que, essa direção, designada pelo termo árabe qibla, chegasse a ser arquitetonicamente adotada nas mesquitas. Essa realização arquitetônica pressupunha notáveis conhecimentos matemáticos, além do conhecimento das coordenadas (meridianos e
latitude) de todos os locais onde se erguiam as mesquitas. Antigos
manuscritos conservam tais registros e lugares. Ademais, em 1025
d. C. o doutíssimo Al-Biruni concluiu sua extensa obra didática
"Kitab tahdid al-amakin litashih masajat al-masakin" (Livro da Determinação das Coordenadas de Locais, para a correção das distâncias
entre as cidades), a qual, recentemente, foi republicada, também em
tradução inglesa. Portanto, não faltaram elementos para a confecção
de mapas geográficos do mundo eqüidistantes-azimu-tais.
Exemplos práticos para a aplicação de diversos pontos de referência
em projetos cartográficos da Idade Média, até a época moderna são
encontrados nos astrolábios, conservados em muitos museus e
coleções particulares. A parte frontal desses antigos planisferios
celestes consiste em um mapa móvel de estrelas, permitindo regulálo a qualquer tempo, para a observação do céu, dentro de
determinada latitude geográfica. Com isto o instrumento serviu
simultaneamente como uma espécie de calculador análogo para a
transformação de coordenadas esféricas. Mormente entre os astrolábios persas há alguns em condições de por em relação mais do que
duas redes esféricas. Em todo caso, não constituiu problema
selecionar qualquer ponto na Terra como centro de um vasto projeto
cartográfico.
***
O leitor desprevenido dos livros de Dãniken deve ficar com a
impressão de seres supremos (tais como "anjos", "deuses", etc.)
terem viajado de preferência com aparelhos voadores, acionados
por impulso de recuo, usando também asas e rodas e, vez por outra,
talvez até uma utópica força antigravidade. Cabe aqui lembrar que
veículos de rodas são conhecidos desde o período Uruk dos
sumérios (aproximadamente 3.500 anos antes de Cristo) e que, a
partir do terceiro milênio, era uso proteger contra o desgaste as
rodas, então feitas de madeira, batendo nelas pregos de cabeça
redonda. Por exemplo, há discos de rodas, encontrados em Susa,
munidos de fileiras espessas de pregos de bronze, de uns 5 cm de
comprimento. Não teria sido uma construção dessas que estava na
mente do profeta Ezequiel ao escrever: "Tinham também estas rodas
uma altura horrível; todo o corpo das quatro rodas estava cheio de
olhos ao redor"? (I, pág. 55; Ezequiel, capítulo 1, versículo 18). Os
pregos de cabeça redonda bem poderiam sugerir olhos. E, no que se
refere às asas na visão do veículo por Ezequiel, poderiam prenderse à impressão óptica de um carro com foices (um carro de guerra,
cujas rodas seriam munidas de foices, ou sabres curvos salientes),
conforme os gregos ainda chegaram a conhecer no Oriente.
Ademais, isto não se deu somente na índia, mas em época bem
remota também na Mesopotâmia, onde, além de carros de guerra, se
usavam carros de culto, para o transporte de estátuas de deuses. Tal
evolução estava no progresso tecnológico da época e em absoluto
necessitava de um modelo, mediante a demonstração de meios de
transporte extra-terrestres, conforme Dániken quer fazer crer ao seu
público leitor. Mesmo quando Erich von Dãniken recorre aos mitos
de muitos povos, em busca de confirmação de suas teses, conforme
já mencionado, nessas citações ele subtrai os "contactos com o
mundo das trevas" e, ainda mais, demonstra bastante parcialidade
ao ignorar as numerosas lendas que não mencionam quaisquer
veículos usados pelas criaturas celestes. Ao passo que só se fala em
rodas nos lugares onde já eram conhecidas, nas regiões da Ásia
Central fala-se de preferência em escadas e cordas como meios
técnicos para "o tráfego de passageiros" entre a Terra e o Céu.
Helmut Hoffmann, especialista nas pesquisas das religiões do
Tibete, reuniu algumas fontes de referência a este respeito. Tais
fontes chamam o primeiro rei lendário do Tibete de neto dos deuses
"Lha" e Dmu. Ele desceu dos céus por uma corda ou escada
miraculosa ele e seus seis sucessores imediatos também voltam por
essa corda para sua pátria celeste e desaparecem sem deixar
cadáver, como "desaparece o arco-íris". Isto só mudou com o oitavo
rei, Gri-gum bcan-po, o qual se deixou iludir por seu traiçoeiro
ministro, que o induziu a praticar toda sorte de artes mágicas,
inclusive passar com a espada por sobre a cabeça, de olhos
vendados. Com isto ele próprio cortou a corda milagrosa que o
prendia à sua procedência divina. Então foi fácil para seu ministro
matá-lo e seu cadáver ficou na Terra.
A não ser que, à maneira de Dãniken, se tomar como base da lenda
uma corda descida por um helicóptero invisível, ou uma ligação
telefônica extraterrestre, só resta admitir que esses mitos operaram
tranqüilamente com os requisitos técnicos do ambiente cotidiano
dos seus crentes. Isto talvez fica mais claro ainda com os Altaios,
quando o xamano simboliza sua ascensão ao Céu, colocando seu pé,
seguidamente, em nove entalhes feitos no tronco de uma bétula,
representando as nove camadas do céu.
São justamente o xamanismo e práticas extáticas semelhantes de
alguns povos "primitivos" que oferecem muitos exemplos de como
acontecimentos subjetivos, que Dãniken folga em interpretar como
memórias de contactos históricos com seres racionais
extraterrestres, se enquadram perfeitamente no conjunto de uma
evolução cultural fortemente marcada por fatores ambientais.
Assim, acontece que as formações proclamadas por Dãniken como
capacetes munidos de antenas, muitas vezes aparecem como coroas
de chifres. As vestimentas dos xamanos (paletó, peitilho, chapéu,
luvas e botas) em absoluto imitam um astronauta imaginário, mas,
inequivocamente, representam determinadas espécies animais,
particularmente pássaros, ou animais cornudos (rangífer, veado,
alce). É pouco provável que os representantes de uma tecnologia
muito superior à nossa usassem uma espécie de antenas,
correspondente à usada por nós, em meados do século XX. Já os
astronautas da missão Apolo deixaram de usar na Lua antenas
sobressalentes, em forma de chifre, e nem por isto as comunicações
verbais deixaram de ser excelentes.
O fato de "luz", "céu", "em cima" e conceitos semelhantes facilmente
combinarem com tudo que é divino, perfeito e onipotente ficou
amplamente provado na história religiosa. Ao concluir, daremos
ainda um exemplo, tirado da religião tibetana, Bon, que mostra
quanta discrição e cautela requer a interpretação de lendas das
épocas primitivas. Fala-se ali de um homem branco, envolto em um
halo, o qual, para a humanidade, se torna um mestre sábio e o
motivo de tudo que é bom. Decerto, Erich Von Dãniken não teria
perdido tempo em tirar dali outra "prova" para as suas afirmações.
No entanto, este caso oferece elementos bastantes para uma prova
em contrário. Acontece, pois, que o homem branco tem uma figura
de contraste, o homem preto, causador de todo o mal no mundo.
Conforme reconheceu o pesquisador italiano Tucci, especialista na
cultura tibetana, este mito, apesar de fazer parte da religião Bon,
antigamente considerada como religião primitiva do Tibete, se
prende a influências iranianas, encontradas, entre outros, também
nos ensinos dualísticos do maniqueísmo. No caso mencionado
temos condições que permitem a perfeita e nítida compreensão dos
nexos históricos. Aí não há margem para qualquer ação proveniente
do espaço cósmico; os argumentos para o possível são mais fortes.
Indicações de Leitura
(Somente livros em língua alemã)
Sobre a matemática dos babilônios: Kurt Vogel, Vorgriechische
Mathematik, 2.a parte, Hannover e Paderborn 1959. Sobre
matemática grega em especial: Kurt Vogel, Beiträge zur
griechischen Logistik, Munique 1936
Sobre a astronomia dos primitivos babilônios: B. L. van der
Waerden, Die Anfänge der Astronomie, Groningen 1965. Estou
preparando uma tradução do Aryabhatiya. Meu trabalho sobre a
astronomia indotibetana (Kalacakra) estará brevemente impresso,
bem como as traduções das fontes matemáticas dos primitivos
armênios. Sobre a mitologia hindu existem numerosos livros.
Lembrados sejam os autores Willibald Kirfel, Helmuth von
Glasenapp e Jan Gonda.
Meu artigo sobre o cometa de Halley no Velho Testamento foi
publicado em "Sterne und Weltraum" (Estrelas e Espaço Sideral) n.°
3 (1964), pág. 14 e seguinte. A investigação sobre as máquinas de
guerra hindus ainda não foi publicada.
Com relação aos satélites de Marte, Fobo e Deimos: H.-J. Felber e H.
Oleak, em "Die Sterne" (As Estrelas), n.° 36 (1960), página 188 e
seguintes, bem como W. Heintz, Die Welt der Planeten (O Mundo
dos Planetas), Munique 1969. Sobre o estado atual da Astronomia
fui informado pelo que há de mais recente: Meyers Handbuch über
das Weltall (Manual Meyer sobre o Universo), (editor, K. Schaifers),
Mannhein — 4.a edição
Sobre a religião Bon e o xamanismo. Helmut Hoffmann, Quellen
zur Geschichte der tibetischen Bon-Religion (Fontes para a História
da Religião Bon Tibetana), Wiesbaden 1950, e, do mesmo autor,
Symbolik der tibetischen Religion und des Schamanismus
(Simbolismo da Religião Tibetana e do Xamanismo), Stuttgart 1967
CAPITULO XII
Documentos Bíblicos e a Teoria Cósmica dos
Astronautas
Por Gunnar von Schlippe, Hamburgo
“Os NOVOS CAMINHOS DO saber vão sendo visionados, mas não
comprovados por conceitos. Eles próprios se revelam como viáveis,
quando permitem a visão racional das coisas em nova coordenação." Essas palavras foram escritas por Edgar Dacqué, há mais de 40
anos atrás, em sua obra "Mundo Primitivo, Lenda e Humanidade".
Amparado na idéia direcional da "magia primitiva" e na significação
do tempo, o autor procurou chegar a interpretar os problemas
enigmáticos das eras primitivas. Na época, a originalidade dessa
interpretação do nosso passado pré-histórico chamou a atenção
geral; no entanto, hoje em dia, já quase caiu no esquecimento.
Todavia, a Arqueologia ainda considera válida a maneira pela qual
Dacqué demonstrou que problemas a serem resolvidos nos campos
da história natural e cultural podem ser encaminhados para uma
interpretação racional, por uma idéia direcional, "em nova
coordenação".
Foi justamente o que Erich von Dãniken tentou fazer. Em base de
observações notáveis, ele "visionou" nexos que deveriam existir
entre as coisas e que, até agora, deixaram de ser suficientemente
interpretados no âmbito das respectivas especialidades científicas.
Embora nessa tentativa Dãniken freqüentemente tenha pecado por
insuficiência de controle, sem dúvida ele logrou indicar de maneira
compreensível as combinações possíveis e que lhe pareceram adequadas como base para a idéia direcional da eventual e repetida
intervenção de seres extraterrenos, semelhantes ao homem, nos destinos da humanidade.
Em princípio, aqui não interessa debater o mérito dessa idéia
direcional ou das hipóteses levantadas por Dãniken. (Decerto, os
campos da arqueologia e da futurologia estão abertos para interpretações que variam de acordo com o ponto de vista do observador.
Oferecem também ensejo para especulações, nas quais se refletem
nossos anseios e esperanças.) Interessa o tratamento objetivo de
idéias pertencentes aos campos especializados dos teólogos e
peritos no Antigo Testamento.
Também na filologia e história primitiva há determinados dados e
padrões que já não se sujeitam mais a um debate em princípio e
nem podem ser ignorados por quem apresentar alguma hipótese.
Até o teólogo é obrigado a recorrer aos métodos científicos vigentes
em suas pesquisas histórico-críticas de textos antigos. Por conseguinte, da mesma maneira, as teses levantadas por Dãniken devem
ser examinadas à luz desses métodos. Em seguida, cumpre perguntar até que ponto contrariam as noções científicas individuais. Como
não é possível tratar de todos os argumentos e detalhes levantados
por Dãniken, limitar-nos-emos a cogitar apenas das seqüências de
idéias e "indicação de provas" tiradas da Bíblia, para depois falar de
como Dãniken compreende a religião e a fé.
***
Como obra, a Bíblia constitui uma coletânea de documentos,
redigidos em épocas diferentes, no desenrolar de um milênio e
meio, no máximo, por diversos autores, em situações especiais
vividas pelo povo de Israel, a fim de servir de memória e guia. O
material usado para as respectivas revelações (especialmente no
caso das histórias dos cinco livros de Moisés, Josué, Juízes, Rute e,
em parte, dos de Samuel) remonta a tempos ainda mais antigos e
procede também de fontes não-israelenses. Aí trata-se, principalmente, de lendas folclóricas e de culto, no relato das quais o autor
não se mostrava interessado no curso da própria história, em si, mas
antes na revelação que estava para fazer.
Assim sendo, e ao contrário do que acontece com o historiógrafo, o
teólogo considera de importância menor a descrição de fatos extra e
pré-bíblicos, para concentrar-se naquilo que o autor bíblico queria
revelar quando estava elaborando a matéria. Desta maneira, a
história funciona como pano de fundo para os assuntos da fé.
Por sua vez, Dãniken gostaria de desfazer este propósito bíblico
original, a fim de chegar mais perto do conteúdo primitivo da
história. Infelizmente, tal tentativa é extremamente complicada e,
além da análise especializada da língua e dos conceitos, requer
ainda profundos conhecimentos da situação cultural na época.
Quem se guiar pelo critério subjetivo de "acho que deve ser assim",
arrisca-se a adulterar os textos originais com suas próprias idéias
arbitrárias. Todavia, vamos examinar as "provas" de Dãniken,
tiradas da Bíblia.
O primeiro problema com Dãniken, que salta aos olhos, é sua
maneira de datar os trechos bíblicos. Como o mito não tem data,
algumas passagens mitológicas nem permitem qualquer indicação
de data. No entanto, quando Dãniken cita determinados trechos,
eles se situam em épocas tão diferentes ao ponto de criar a impressão de que, desde os primórdios até os tempos históricos, teria
existido contacto quase contínuo com "outras inteligências". O ano
8.000 antes de Cristo, data marcante escolhida por Dãniken, não é
suficientemente expressivo para esclarecer todas as várias e diferentes evoluções culturais.
O dilúvio deve ter ocorrido centenas de milênios atrás, a julgar
pelas camadas de lama que datam da era do mesozóico. De forma
análoga, os textos de Sodoma e Gomorra remontam a épocas préhistóricas, ao passo que os períodos dos profetas são passíveis das
seguintes datações: Moisés, aproximadamente, 1.300 a. C, Elias, ao
redor de 800 a. C. e Ezequiel, mais ou menos 580 a. C. A margem
para a datação aumenta ainda, quando se cogita de outras culturas e
seus antecessores, tais como os egípcios, hindus, chineses, astecas e
primitivos habitantes da América do Sul — não se devendo esquecer das culturas megalíticas, em fins da idade da pedra.
Se, naqueles tempos remotos, de fato se tivessem registrado encontros a intervalos breves, deveriam ter deixado uma lembrança bem
definida, mesmo considerando as possibilidades limitadas da época.
Assim sendo, parece mais provável a suposição de que, em vez de
encontros materiais externos, acontecimentos emocionais internos é
que chegaram a ser relatados. E isto coincide também com a
essência do mito, que procura explicar fatos internos com circunstâncias externas, de interpretação religiosa, primitiva, histórica.
Ao se tratar de textos bíblicos devemos partir também do princípio
de descreverem eles tais acontecimentos internos e, em parte,
transcreverem material histórico e mítico, sob determinados pontos
de vista. Por conseguinte, é impossível a reconstrução simples e
pura de memórias pré-históricas. Em todo caso, fica excluído o
testemunho ocular de personagens históricos, como, por exemplo,
do profeta Ezequiel, pois o vocabulário daquela época teria sido
suficiente para descrever e interpretar um encontro com outras
inteligências cósmicas de maneira diferente do que realmente teria
acontecido.
Dãniken parte da pergunta realmente fascinante de como foi
possível a origem repentina da inteligência. Ele acha compreensível
essa inteligência ter chegado a nós de mundos distantes. Pode ser
que esta interpretação seja mais acessível à mentalidade moderna
do que a tentativa tradicional de fazer compreender este magno
problema como um ato de criação divina, ou um processo
evolutivo. No entanto, com isto, o problema só fica transferido para
outros mundos e, talvez, ganhamos um pouco de "tempo", coisa
aparentemente dispensável, pois, também com Dániken, o espaço
de tempo da evolução da inteligência é bem mais amplo do que
antigamente se julgava, conforme acabamos de expor. Outrossim, a
teoria da evolução, em suas diversas variações, parece oferecer
melhores possibilidades de interpretação para a origem da inteligência do que a de uma intervenção cósmica.
De igual interesse ao surgimento da inteligência é sua relativamente
rápida degeneração e fixação em diversas esferas de cultura,
fenômeno tratado por Oswald Spengler em sua obra "Der Untergang des Abendlandes" (A Decadência do Ocidente), no qual baseou sua notável hipótese dos períodos culturais. Este estado de
coisas contradiz também toda teoria otimista de evolução. Se, apesar disto, for arriscada a hipótese de a inteligência ter sido originada
pelo sistema de seleção, antes se poderia tratar de uma seleção no
âmbito de determinadas estruturas biológicas e sociológicas, do que
de uma intervenção de fora.
Por conseguinte, não acho nada provável a hipótese de Dániken de
Eva ter surgido da costela do homem (servindo de caldo de
cultura). O texto bíblico do século IX descreve a relação entre os
sexos naquela esfera cultural, à guisa de lenda interpretativa dos
nomes, sem oferecer qualquer ponto de referência para outra interpretação além da mitológica. Da mesma maneira, no trecho que fala
da geração e do nascimento de Isaac — pelo menos segundo os
textos bíblicos — não se trata de seleção, mas sim do milagre da
promessa, realizado com o prenúncio do nascimento.
O conceito de o homem ter sido criado segundo a "imagem de
Deus" não indica — conforme afirma Dániken — determinada
semelhança, mas, pelo conceito hebraico, uma relação de correspondência, que talvez possa ser definida conforme o motivo básico
da Bíblia: ser considerado justo perante Deus. Assim sendo, as
"ovelhas pretas" não são indivíduos portadores de doenças congênitas, biológicas, mas os que agiram contra as leis divinas e assim
propagaram o pecado original.
No Antigo Testamento, jamais o pecado original é posto em relação
com uma ofensa sexual. Também no caso de Sodoma, o texto
menciona, inequivocamente, outra culpa, ou seja, a opressão dos
mais fracos. A passagem que diz "Deus ouviu a queixa" exprime o
termo jurídico especializado, pela queixa dos explorados e
socialmente oprimidos. O pecado como ofensa de ordem sexual só é
mencionado em relação à idolatria, perturbando a pureza do culto,
mas não a pureza biológica. Por isto é que as leis racistas judaicas
devem ser interpretadas como leis de culto. Em todo caso, pelo
testemunho da Bíblia, a moralidade sexual não é tratada sob o ponto
de vista da seleção biológica.
***
Da mesma forma, na motivação do dilúvio não predomina a ofensa
sexual. A passagem interessante, dizendo que os filhos de deuses
vieram do céu para se unirem com os homens, ainda está para ser
devidamente avaliada. No entanto, ao contrário do que opina
Dãniken, o fruto dessa união é apreciado de forma negativa, pois os
gigantes assim gerados são apresentados como entes perversos,
condenados por Deus a morrerem afogados no dilúvio (segundo o
raciocínio de Dãniken, isto significaria que foram condenados por
seus pais, as inteligências de outras estrelas).
Analogamente ao que acontece na mitologia grega, em todo o
Antigo Testamento os chamados "gigantes" são apresentados com
qualidades negativas. Hoje em dia não se pode mais determinar se
este termo se refere a individues desproporcionadamente grandes, a
raças humanas ou mutações individuais, ou se correspondeu unicamente a monstros e seres mitológicos. O papel que desempenharam só pode ser descrito em formulação mitológica. Todavia, é
notável que, além de sua maldade, sempre se salientou sua pouca
inteligência — tanto na passagem de Golias com os enaquins,
quanto nos contos de fada.
Seria de supor-se que Dãniken considera manipulada por seres
cósmicos não apenas a inteligência propriamente dita, mas ainda o
seu conteúdo. Decerto não se pode negar a possibilidade de que,
especialmente nas formas primitivas da vida, os genes (portadores
moleculares dos fatores hereditários) podem ser transmitidos mediante uma intervenção. Contudo, até agora, continua sendo muito
incerto se tal intervenção lograria êxito, quando feita no homem. É
indiscutível o fato de determinados fatores hereditários passarem
de uma geração para outra; no entanto, ainda está para ser provado
se tal fato proporcionaria uma consciência coletiva, acumulando
dados para o futuro, a serem fornecidos na hora em que fossem
solicitados. Todavia, seria aceitável um princípio, estabelecendo
que, no fundo da própria alma, o homem leva toda a essência dos
fatores hereditários atuais. Contudo, outra interpretação seria a de
todos esses elementos pertencerem à faculdade ampla da
imaginação do homem.
A fantasia humana não tem limites, conseqüentemente, não podemos usá-la como padrão para avaliar o que é possível. Ela constitui um incentivo para continuarmos a raciocinar; se é que chega a
ser realizável e até que ponto pode ser realizada, isto só pode ser
determinado de caso em caso. A fantasia não precisa, necessariamente, ser a expressão de determinada experiência programada; no
entanto, ela pode ser a expressão da faculdade de combinação e dos
anseios do homem. Foi mormente na Antiguidade, que o homem
viu comoções internas simbolizadas por imagens fantasiosas, cujos
contornos estavam bastante fora de dimensões. Apesar disto, é
concebível que — conforme aconteceu com os profetas — apareceram idéias e noções que surgiram de profundidades bem maiores,
do que das da própria experiência. (Todavia, é pouco compreensível
a razão pela qual, para tanto, os profetas deviam comer "cartões
perfurados"; parece que fatores tais como revelações ou intenção
ofereceriam explicação mais conveniente.)
Dãniken recorre à nossa atual experiência tecnológica para explicar
acontecimentos misteriosos da Antiguidade. No que se refere à
destruição de Sodoma e Gomorra, de fato, a comparação com os
efeitos conhecidos de uma bomba atômica é bastante óbvia. Em
base dos fatos geológicos, seria de pensar-se antes em terremoto ou
catástrofe natural, provocados pelo rebaixamento do vale que, aliás,
chega a estender-se até a África. Nas demais explicações
tecnológicas e racionalizantes, sugeridas por Dãniken, a referência à
tecnologia moderna parece ainda menos admissível. Até agora não
chegou a ser provado que o material de construção da arca da
aliança permitiria desenvolver um dispositivo de voltagem elétrica.
O profeta Ezequiel – ilustrações do Livro do Profeta Ezequiel, na Bíblia de Lutero,
ano de 1590
A arca da aliança foi idealizada como receptáculo e simbolizava o
trono de Deus. Inexiste testemunho bíblico de ter sido usada como
microfone. Da mesma forma não se compreende por que deveria ter
sido dotada de alta freqüência e se, para tanto, os materiais
especificados eram, realmente, necessários.
Com Ezequiel trata-se de idéias imaginárias, em uso nas esferas
culturais da Mesopotâmia e dos parses, ao redor de 580 a. C. Isto
nada tem a ver com naves espaciais e coisas semelhantes. Se de fato
tivesse surgido um "veículo celeste", Ezequiel não teria sido o único
a observá-lo. Na época também teria sido possível descrevê-lo com
maior riqueza de detalhes. Ao contrário do que alega Dániken,
Ezequiel não fornece instruções para uma civilização tecnológica,
mas ele fala de Julgamento e Novo Começo — um novo começo
para os judeus no cativeiro. Dániken desconsidera tanto a situação
geral na época, quanto os propósitos do profeta. A revisão de datas,
sugerida por Dãniken, é inaceitável, pois já se trata de tempos
históricos, com elementos inequívocos.
Evidentemente, Moisés não foi o autor dos cinco livros que levam
seu nome. Assim sendo, certas especulações ficam superadas. A
suposição de Dániken de que os deuses precisariam de moedas com
liga metálica específica, não encontra confirmação na Bíblia.
Donativos em dinheiro e ouro, bem como todo o provento das
oferendas, sempre se destinaram à construção do templo e aos
sacerdotes.
Da mesma forma é difícil interpretar a passagem do Monte Sinai
como o relato da aterrissagem de uma nave espacial. Qual a razão
de tal aterrissagem ter ocorrido justamente em uma cordilheira, com
terreno rochoso, cheio de fendas? Terremotos e erupções vulcânicas,
comprovados para aquela época, ofereceriam explicação mais
condizente para os acontecimentos no Sinai, do que a hipótese dos
astronautas. Para o povo de Israel, catástrofes naturais sempre
significaram a voz e as manifestações do seu Deus; a passagem pelo
Mar Vermelho, o maná que caiu do céu, Sodoma e Gomorra e a
ocorrência contínua de terremotos — sem falar de cometas e
obscurecimentos do Sol e da Lua.
Nos quarenta anos de exílio no deserto, não se trata da impureza
sexual do povo, mas de sua desobediência na situação surgida com
a perda de fé em Deus. Lamentavelmente, o espaço exíguo deste
trabalho não permite a especificação exata de dados históricos e
culturais nas épocas em apreço, a fim de demonstrar a total
inviabilidade de se coordenarem as intenções da Bíblia com os
acontecimentos supostos por Dãniken. Todavia, cabe mencionar
que, hoje em dia, existem elementos bastantes para uma elucidação
razoavelmente boa daquelas épocas.
Se Dániken ficou surpreso com o progresso da época em problemas
de doenças e higiene, cumpre levantar a pergunta: Por que não
poderia ter acontecido que experiências sociológicas, ou simplesmente humanas tenham levado o homem a proteger-se contra
doenças e fenômenos fatais à sua existência? Para tanto, precisavase de informações cósmicas? Será que Dániken considera o homem
tão pouco capaz?
Totalmente problemática parece-me a tentativa de Dániken de
verter toda a essência religiosa para termos tecnológicos. O que
seria de anjos-robôs, ou dispositivos de controle, em lugar dos
assim chamados deuses, quando, pelo testemunho da Bíblia, Deus
nunca está ausente, mas sempre e em toda parte se encontra
igualmente próximo de cada ser e nem pode ser representado por
anjos ou outros personagens (vide, por exemplo, Salmo 139). Deus
age historicamente; e Dãniken passa por esta experiência religiosa
fundamental, sem percebê-la. Acontece que não se pode oferecer
uma "explicação" técnica para tudo o que for representado por pronunciamentos míticos ou em cores apocalípticas. Isto vale também
para os textos que relatam a ascensão ao céu de Elias ou Enoc.
***
Em resumo, as interpretações dos textos bíblicos, tentadas por
Dãniken, revelam um conceito de religião e de Deus que em
absoluto se compatibiliza com o propósito desses textos. Dániken
parte do conceito de que, na realidade, não pode haver tal coisa
como a experiência religiosa, mas que isso seria apenas a interpretação errônea de outras experiências, mormente de caráter tecnológico. No entanto, a religião constitui um fenômeno interno e uma
relação de dependência que não encontra explicação tecnológica. As
posteriores experiências cristãs estão por completo além de toda
interpretação puramente racional; no entanto, Dániken foge ao
assunto, deixando-o de lado.
Igualmente errada é a polêmica de Dãniken em torno do nosso atual
conceito de Deus. Ele é incapaz de imaginar que, em épocas
diferentes, Deus teria se manifestado de maneiras diferentes e que
sempre se falou em Deus à maneira do homem (Deus vai de carro,
Deus anda e assim por diante). O conceito de Deus defendido por
Dániken é dogmático-medieval e filosófico. Outras idéias e imagens
bíblicas de Deus, Dániken procura transformar, dentro de sua
mentalidade, em deuses astronautas, cósmicos.
Na Bíblia, Deus fala: "Façamos o homem". Dãniken opina que o
pronome "nós" teria indicado uma pluralidade de pessoas. No
entanto, o texto original hebraico usa a palavra Elohim para Deus, o
plural gramatical que, em tempos pré-israelitas, de fato significava
os deuses. Em nossos textos, Elohim é apenas uma sigla para Jeová, o
nome próprio de Deus único e uno, cujo nome o povo não ousava
pronunciar.
A diversidade dos pronunciamentos bíblicos sobre Deus constitui o
resultado das múltiplas experiências com Ele. Trata-se de profundas
comoções religiosas e revelações de fé, expressas em diferenciações
históricas e pessoais da língua. Já se mencionou que algumas
matérias na Bíblia provêm de mitos mais antigos, sem que
chegassem a determinar implicitamente a essência reveladora do
pronunciamento bíblico. O teólogo não pode dizer se tais matérias
originais contêm experiências passíveis de interpretação, no sentido
de Dániken. Em todo caso, os conceitos bíblicos não permitem tal
interpretação.
Do ponto de vista da Teologia, a pergunta levantada por Dãniken só
adquiriria substância se lograsse substituir a experiência interna
religiosa, a fé, com uma explicação tecnológica, racionalizante.
Conforme ficou demonstrado, as suposições de Dániken não se
compatibilizam com os pronunciamentos bíblicos, segundo os
nossos conhecimentos especializados. A idéia direcional de Dãniken, ou seja, as visitas de seres cósmicos, não convence e carece de
prova suficientemente segura, à luz do material até agora apresentado.
A tese defendida por Dãniken procura interpretar a realidade do
nosso mundo. Devemos levá-la a sério, outrossim, cumpre examinála criteriosamente, pois ela deve fazer coro com as demais interpretações. Ainda não me parece ser o caso de a tese de Dãniken
contradizer a fé bíblica, corretamente interpretada, suposto que se
corrijam as pressuposições ideológicas erradas nas quais implica.
A fé cristã sempre disputa com as diversas outras idéias e ideologias
a interpretação da realidade. No entanto, em nossa opinião, a
realidade não significa apenas fenômenos tecnicamente racionais,
mas também a dimensão mais profunda de nossa existência, o
próprio ser do homem. Na disputa da interpretação da realidade
cabe à Teologia salientar que ele é um ser perante Deus.
Antiga pintura rupestre de Hokai no Japão; um rei com coroa de três pontas, sob
o céu estrelado. As “bolas” também foram interpretadas como “discos voadores”,
considerando-se a cena como de recepção a cosmonautas, vindos do espaço.
Faca egípcia de pedra de fogo
(quarto a terceiro milênio antes
de Cristo).
Sarcófago egípcio
Mapa astronômico ou aeroporto pré histórico? A vista aérea mostra os desenhos
geométricos na planície de Nazca, Peru, parecidos com pistas de aterrissagem de
um aeroporto.
As figuras espalhadas – o macaco de uns 80 m de altura, é um só exemplo entre
muitas figuras de animais – poderiam ser interpretadas como representando
constelações.
CAPÍTULO XIII
A Respeito da Demonstrabilidade da
Viagem Espacial Pré-Histórica, em Mitos e
Contos de Fadas*
Por Irene R. A. E. Sánger-Bredt, Stuttgart
O PROGRESSO ATUAL DO nosso saber a respeito de eventuais contactos pré-históricos de seres racionais extraterrestres com o homem
na Terra, ou somente com a Terra, pode ser resumido em duas
frases:
1. Em princípio, tal contacto è possível.
2. Até agora não chegou a ser suficientemente comprovado.
A historiografia primitiva e pré-histórica parece constituir atração
quase mágica para muitas pessoas e não apenas no âmbito da
língua germânica. E isto ocorre tanto mais, na medida em que se
relacionar com os métodos da tecnologia avançada ou com
resultados da futurologia. Este fato ficou provado pelos numerosos
"best-sellers" dos últimos vinte anos, tais como "Deuses, Túmulos e
Sábios" (1949), por Ceram, "E a Bíblia tinha Razão..." (1955), por
Werner Keller, "Aku-Aku" (1957), por Heyderdahl, "Passado
Fantástico" (1966) e "Segredos Traídos" (1967), por Charroux,
"Deuses ou Astronautas" (1965), por Drake, "Antes dos Tempos
Conhecidos" (1969), por Kolosimo, "Eram os Deuses Astronautas?"
Extrato da obra "Spuren unserer dunklen Brueder?" (Vestígios dos nossos Irmãos
Obscuros?), a ser publicada dentro em breve na Alemanha (N. da E.),
(1968) e "De Volta às Estrelas" (1969), por Dàniken. Ao mesmo
tempo parece tornar-se sempre menos satisfatória, mesmo para o
leigo, a teoria clássica da evolução de Darwin, Spencer e Haeckel,
admitindo um desenvolvimento contínuo da vida na Terra,
brotando de uma só origem, deixando aberto assim campo propício
para todos aqueles autores nos quais a fantasia desenfreada —
consciente ou inconscientemente — supera o raciocínio crítico. O
surgimento notável, esporádico, das culturas primitivas no terceiro
e segundo milênio antes de Cristo, numerosos achados
arqueológicos, ainda a serem interpretados, bem como a existência
de enigmas de toda sorte nos campos da etimologia, antropologia,
biogenética, mitologia e ainda os hieróglifos, oferecem ensejo para
indagar e procurar, de molde a incentivar, além de puras
especulações, também a pesquisa rigorosamente científica.
Animados com as atuais facilidades de divulgação de noticiário,
distribuindo informações para todos, bem como com as possibilidades oferecidas pelos métodos e pela organização aprimorada da
pesquisa mais avançada, foi fascinante, para muitos pesquisadores,
o ressurgimento súbito de campos de estudos já esgotados. Parece
ter amadurecido o tempo não somente para as ciências do futuro
tomarem novo ímpeto, mas, igualmente, para a intensificação
acentuada das ciências pré-históricas. Pode ser que com isto — do
ponto de vista psicológico — se abra uma válvula de escape para o
homem hodierno, excessivamente absorto na implícita sobriedade e
na falta generalizada de nexos em nossos dias, uma válvula pela
qual poderá extravasar todos seus anseios de ver-se razoavelmente
bem colocado entre a origem da Terra e o futuro mais distante, toda
sua saudade de modernos contos de fadas e de milagres.
Decerto, a pergunta se em outra parte, em outros tempos, já teriam
existido outros a tentarem coisa semelhante com bom êxito, exerce
grande atração para os tecnólogos, cuja meta é fazer com que a
humanidade consiga sair do seu planeta natal e a ele voltar,
livremente. Conhece-se bem a influência exercida na mente dos
pioneiros dos foguetes da primeira e segunda geração pelo romance
de viagem espacial "Em Dois Planetas", publicado peio autor silesiano Kurd Lasswitz, em 1897. O verdadeiro herói desse romance, o
astrônomo Eli, é apresentado como descendente de um astronauta
naufragado em Marte e uma mulher da Terra.
Desde então, a tentativa de ligar alguns mistérios da pré-história
terrestre com as possibilidades de um contacto interplanetário infeccionou, qual um vírus, os cérebros de engenheiros e cientistas,
embora a maioria deles prefira pronunciar-se a respeito de maneira
não oficial, nem oficiosa e "fora do serviço", ou até recorrer às
esferas da poesia, à ficção científica, para externar seus sonhos
salvaguardando seu renome científico, já um tanto comprometido
com seus trabalhos em projetos espaciais.
Assim aconteceu, por exemplo, que Friedrich Hecht, conhecido
microquímico na Universidade de Viena, editor, por muitos anos,
da "Astronáutica Acta" e secretário da Sociedade Austríaca para
Pesquisas Espaciais, publicou em 1951, sob o pseudônimo de
Manfred Langrenus, o romance "Reino na Lua". Esse romance
descreve a humanidade como produto de criação biológica, descendente de astronautas pré-históricos, cujo planeta natal, Atlan, entrementes chegou a ser destruído por uma catástrofe cósmica (incêndio
atômico).
Já uma geração antes, talvez na década que precedeu a publicação de suas teorias de tecnologia de foguetes e viagem espacial —
o genial russo Konstantin E. Ziolkowski escreveu alguns contos,
cujos títulos falam por si: "Na Lua — uma Viagem Fantástica"
(1893), "Devaneios sobre o Céu e a Terra — Efeitos da Força de
Gravidade no Universo" (1895) e "Poderá a Terra dar Testemunho a Outros Planetas de Ser Habitada por Seres Racionais"?
(1896). Ziolkowski opina: "Todas as fases evolutivas da vida podem ser encontradas nos diversos planetas
Existiram homens
na Terra, desde alguns milênios e chegarão a ser extintos daqui a
alguns milênios? .... O mesmo processo pode ter ocorrido também
em outros planetas
Hermann Oberth, em cujas idéias se baseia essencialmente a técnica
aplicada na conquista da Lua e cujo interesse nas possibilidades de
contactos extraterrestres é bem conhecido, esboça em seu livro
"Homens no Cosmo" (1954) um projeto de W. Noordung, datado de
1930, prevendo uma nave espacial, superdimensional, acionada por
energia atômica, do tamanho de uma pequena província terrestre.
Segundo esses planos, os habitantes da "unidade habitacional"
descrita teriam condições de viajar pelo Cosmo, em circunstâncias
normais de vida, durante muitas gerações, a fim de chegar a outros
planetas habitados. Oberth comenta a respeito: "Para que tudo isto?
A quem ignorar o anseio de Fausto não se pode responder a esta
pergunta, e quem o conhecer dispensa resposta, por já conhecê-la. A
ele é natural pesquisar tudo que seja passível de pesquisa, de
descobrir tudo o que pode ser descoberto, de entrar em contacto
com os habitantes de outros mundos. Pois é esta a meta: conquistar
para a vida todo lugar no qual se possa existir e evoluir; povoar
todo mundo desabitado e conferir sentido a todo mundo vivo".
Depois de os resultados obtidos no campo das modernas ciências
naturais terem chegado a por em dúvida sempre maior o dogma
predominante durante mais de dois milênios, atribuindo à Terra
uma posição privilegiada no Cosmo, nestas últimas décadas pesquisadores de renome estão avaliando a probabilidade da existência de
outros planetas habitados, fora do nosso sistema solar. Admitin-dose uma estrutura homogênea do Cosmo e leis uniformes para a
evolução da vida, o número de planetas habitáveis, dentro da ViaLáctea, chegou a ser avaliado entre IO4 e IO10. Ao mesmo tempo,
verificou-se que os sistemas solares nos quais se poderia cogitar a
existência de tais planetas se encontram a distâncias enormes da
Terra, as quais, com o atual progresso tecnológico, não podem ser
vencidas, seja com veículos tripulados ou não. Portanto, resta
cogitar-se do problema se, em qualquer tempo, civilizações
avançadas de outros planetas teriam logrado visitar a Terra.
Estudos críticos, efetuados por ordem da Força Aérea dos E.U.A.,
em relação a todos os dados recebidos sobre veículos espaciais de
inteligências alienígenas, supostamente avistados, deixaram de fornecer qualquer elemento que comprove a procedência de tais afirmações, conforme o relatório final da comissão de peritos. Da
mesma forma, tentativas sistemáticas de instituições de pesquisas
norte-americanas, visando a captar sinais de rádio emitidos de
planetas distantes, não chegaram a dar qualquer resultado positivo.
Enfim, tais tentativas foram encerradas, pois ficou comprovado que
os aparelhos de recepção, atualmente disponíveis, se revelaram
insuficientes para empresas de tal envergadura.
***
Na conjuntura atual, parece que a probabilidade de um contacto
com seres vivos extraterrestres não deve ser considerada nula, mas
muito pouco viável. Se é que não se queira jogar todas as esperanças
e especulações em um futuro incerto, então o próximo passo a
tomar seria o de rever o passado milenário da evolução humana, a
fim de verificar se o "grande acontecimento", com sua pouca, mas
ainda apreciável probabilidade, já não teria tido lugar na Terra, em
outras épocas.
Se tal teria sido o caso e, para nós, além de interessante fosse ainda
comprovável, em princípio, não poderia ter ocorrido antes do
surgimento na Terra dos primeiros seres parecidos com o homem,
nem depois do início da tradição por escrito da história do homem,
da historiografia, ou seja, da era de troca de notícias entre os povos.
Ao se propor a busca de vestígios de astronautas em épocas
passadas, dever-se-ia pesquisar o espaço de tempo entre 1 000.000 e
3.000 anos antes de Cristo, concentrando-se os estudos
essencialmente no período dos anos 40.000 a 3.000 a. C. Em seguida,
serão expostos os meios e o caminho para tais buscas científicas.
***
O "acontecimento" em apreço dificilmente pode chegar a ser
comprovado, reunindo-se indiscriminadamente fatos estranhos e
rumores duvidosos de toda sorte e de todas as épocas, para misturálos e distorcê-los ao ponto de poderem ser relacionados com o vôo
cósmico. Desta forma talvez se consiga um livro de modernas
estórias de fadas, que não deixa de ter seus atrativos, mas passará
para futuras épocas culturais como mais um enigma do passado,
oferecendo campo propício às mais diversas especulações, como o
oferecem, por exemplo, as estórias da Atlântida, contadas por
Platão. É realmente surpreendente a maneira ingênua e espontânea
com que certas pessoas arriscam a interpretação de altos-relevos,
esculturas, pinturas rupestres e desenhos riscados na pedra. Isto até
lembra um pouco a "sensação da semana"; quem achar a solução
mais estrambótica será premiado.
Bem provavelmente, os artistas plásticos das antigas culturas
primitivas nem sabiam, eles próprios, qual o significado verdadeiro
dos motivos e símbolos representados. Eles apenas recriaram
figuras tradicionais, ao exemplo de, como até hoje, em vastas áreas
da Terra, a população rural continua usando velhos padrões folclóricos, sem pensar em sua origem, nem em seu significado original.
Esta suspeita é tanto mais válida, quanto mais estilizado for o
motivo representado. Tais obras de arte só podem ser interpretadas
com certa segurança quando se conhecem a mentalidade, as idéias,
os costumes e a tradição do artista, ou quando são passíveis de
coordenação dentro de uma ordem conhecida de evolução artística.
Certamente, interpretações intuitivas podem ter seus atrativos e até
podem ser acertadas; no entanto, não oferecem base para provas.
Assim sendo poderia acontecer, facilmente, que, por exemplo, fosse
interpretado como "antenas" um adorno de cabeça representado em
antigos desenhos rupestres e que nada mais significa do que chifres
de boi, simbolizando a força ou a fecundidade, de acordo com as
idéias dos pensamentos mágicos da época. Não são apenas as
figuras mitológicas como Moisés que vêm sendo representadas
cornudas, mas também personagens inequivocamente históricos,
como Alexandre Magno, cuja efígie em moedas o mostra com dois
cornos na cabeça. Outro exemplo pertinente: sistemas complexos de
tubulações em construções pré-históricas não precisam,
necessariamente, ser interpretados como "valas com cabos
condutores instalados", enquanto ainda existirem explicações mais
simples. Por exemplo, nos casos que não permitem a suposição de
sistemas de irrigação artificial, poder-se-ia pensar, entre outros, na
preferência e técnica das culturas antigas no que se refere a artefatos
acústicos (sistemas acústicos de condução e reflexão), repetidamente
encontrados em antigas construções de culto. Enfim, não é
admissível que todo objeto suspenso representado em antigos relevos possa ser interpretado somente como nave aérea ou espacial.
Muitas vezes, trata-se apenas do símbolo de uma escrita pictorial,
arbitrariamente inserido em um espaço vago.
Quem não procurar apenas uma sensação passageira, mas, de fato,
deseje ir em busca de vestígios verdadeiros dos nossos irmãos desconhecidos na grande família da humanidade, deveria observar
também determinadas regras de jogo, consideradas óbvias pelo pesquisador experimentado. Por exemplo, os elementos abaixo relacionados não são válidos como provas para determinada tese:
1) todas as estórias que se conhecem apenas do falar e do ouvir,
bem como relatos e afirmações de pessoas desconhecidas a respeito
de achados e ocorrências, visando a deixar parecer como provados
os contactos extraterrestres;
2) peças achadas que não possam ser examinadas, no seu original,
nem tiverem sua legitimidade e suas qualidades examinadas por
peritos;
3) fenômenos cuja periodicidade fica a ser esclarecida, tais como
visões, sonhos ou aparições;
4) fatos individuais, tirados do seu contexto natural e que, apresentados isoladamente, induzem a conclusões errôneas;
5) estados equívocos de coisas, a não ser que venham a complementar provas inequívocas.
***
Cabe agora perguntar: Quais os âmbitos passíveis de buscas de
indícios válidos de contactos anteriores com seres inteligentes extraterrenos, ou de provas para a inexistência de tais contactos?
Para tanto, não se prestam apenas a Antropologia e a Arqueologia,
como também achados concretos de fósseis, utensílios, peças de
culto, obras das artes plásticas, escrituras e todos os elementos
produzidos pela transformação artificial da natureza, em condições
de fornecerem vestígios indiretos. De igual utilidade são os estudos
de característicos antropogênicos da origem e evolução da língua,
de métodos de escrita, medição e cálculo, enfim, da regularidade e
das causas subjacentes aos padrões mentais do homem. Além do
mais, servem pesquisas críticas do progresso e da diferenciação das
ciências e da tecnologia no desenrolar da história, de dados fornecidos pela historiografia oficial e, não por último, o estudo crítico
daquilo que exprimem os mitos, em especial, os mitos da criação, os
símbolos, costumes de culto e contos de fadas, permitindo conclusões a respeito do desenvolvimento da humanidade e uma
eventual intervenção no seu curso por parte de forças extraterrestres.
A tendência de tais estudos deveria ser dirigida tanto para descobrir
eventuais espontaneidades nesse desenvolvimento nos campos
supracitados e as causas para tais "saltos" evolutivos, quanto para
detectar e esclarecer aparentes contradições, pronunciamentos sem
motivos, objetos misteriosos ou nexos obscuros. Outrossim, feitos
extraordinários, ultrapassando o nível geral da época e prenunciando progressos futuros, poderiam, igualmente, servir de pontos de
referência para tais pesquisas, a exemplo do repentino e inexplicável "esquecimento" ou da "perda de costume" de práticas anteriormente conhecidas.
No que se refere à interpretação correta de estados de coisas e
nexos, são decisivos os conhecimentos no campo da ciência que
poderia ser denominada de psicologia da cultura e que trata das
idéias e padrões mentais do homem nas diversas fases culturais. Os
meios auxiliares dessa ciência continuam sendo o estudo dos parees
mentais e da vida emotiva de povos primitivos ainda sobreviventes,
devendo ser controlada, de caso em caso, a procedência de
conclusões por analogia. Da mesma maneira são passíveis de
estudos as formas e a regularidade de comunicações entre os
homens, tais como sinais, línguas, textos e símbolos ideológicos, que
valeriam pela expressão imediata do pensamento humano.
Parece ser mais antiga do que a própria humanidade a comunicação
por sinais, abrangendo toda a escala, desde os sinais de tanta e
fumaça dos povos primitivos até os sinais de radar das nações
altamente industrializadas. Sinais convencionais servem de comunicação não apenas para mamíferos altamente evoluídos, como os
golfinhos, mas igualmente para insetos, que se organizam em regimes estatais, como as formigas e abelhas. Experiências animais provaram que, por exemplo, as formigas se comunicam por batidas de
suas antenas de contacto, os coelhos por batidas ritmadas, as gralhas por gritos diferenciados, os golfinhos por sons ultra-sonoros, as
abelhas por danças em forma de círculo, foice ou agitando a parte
traseira, cujo significado concreto deveria ser estudado em seus
pormenores.
De data mais recente do que os sinais sonoros, luminosos, estáticos
e dinâmicos, em uso para a comunicação entre seres vivos, parece
ser a representação gráfica de determinados sinais simbólicos de
culto, exprimindo tabus, magia pictorial ou evocações, relacionados
com as necessidades elementares e os temores da humanidade e,
portanto, girando em torno dos conceitos de alimentação,
fertilidade, cura de doenças e sobrevivência. Como já pressupõem
certa percepção de nexos e faculdade de pensamento, os símbolos
mais antigos, encontrados nos desenhos deixados por todos os
povos, tais como a roda do Sol, a cobra do raio e do céu, a árvore da
vida ou do mundo, a cruz indicando as direções geográficas, a
espiral do desenvolvimento ou do tempo, a ave dos deuses, o botão
de lótus ou da origem, o olho, a flecha, a onda de água, o homem
ereto como expressão da vida, ou o homem caído como símbolo da
morte, e assim por diante, poderiam esclarecer as coisas e os motivos que mais e originariamente comoveram a humanidade na
época do seu despertar.
As transições de sinais e símbolos objetivos para a escrita em si são
bastante fluidas, suposto que se admitem como fase preparatória ou
forma primitiva da escrita a colocação de pedras, a quebra de
galhos, os entalhes em bastões-mensagens, as marcas de ferro em
brasa na pele (em uso com os mankas) ou os nós em cordões.
No que se refere à escrita em si, achamos que foi introduzida, 6 000
anos atrás, pelos sumérios, e se originou de uma escrita "íctorial ou
ideal, mediante progressiva análise e abstração, passando pelos
hieróglifos, letras cuneiformes, palavras e sílabas, evoluiu para a
atual forma, impressa, com a moderna taquigrafia revertendo para
as formas mais antigas, pelo fato de seu sistema reunir em
determinados símbolos subgrupos da escrita falada. Os sinais
Morse exprimem letras; no entanto, a exemplo de como os antigos
maias operaram com seus números, são representados por traços e
pontos.
Quanto à língua, supõe-se que sua origem de sons primitivos,
animais, coincide com o dealbar da humanidade*. Já faz tempo que
a filologia comparativa estudou e acompanhou a transformação e
evolução das raízes de determinados vocábulos, através dos
séculos. Analogias lingüísticas podem também revelar relações passadas entre povos de origem diferente, ou indicar caminhos de
migração enveredados por diversos grupos étnicos que, de outra
maneira, chegariam a permanecer incógnitos.
É duvidoso, no entanto, se os restos lingüísticos de culturas passadas bastam para detectar a língua humana até a sua primeira
origem. Todavia, talvez jamais ficará esclarecido se houve uma
língua primitiva uniforme, de acordo com o que relatam alguns
mitos da criação.
Quais teriam sido as primeiras palavras do homem? Será que foram
expressões sonoras, iguais ao ruído de "toe" causado com o bater da
pedra de fogo, conforme alegam alguns pesquisadores, que, em
seguida, passou para a língua dos maias, exprimindo "pedra de
fogo" e no grego como "tucas", que quer dizer "martelo"? Onde e
quem falou a primeira língua? Será que o berço dessa língua
primitiva realmente se encontrava na Mongólia, conforme
acreditam ter descoberto o lingüista Morris Swadesh e seus discípulos?
Quanto mais longe para trás acompanharmos uma língua, tanto
mais pobre se torna seu vocabulário e tanto mais perto ficamos dos
arquétipos, dos elementos fundamentais das idéias e faculdades de
pensamento dos povos, sem o conhecimento dos quais permanece
fragmentário todo esforço no campo da psicologia cultural. Quem
* Fez-se a tentativa de .relacionar a faculdade de falar com a existência de uma
pequena ossificação na parte inerna da sínfise, da chamada “ Spina Mentalis” essa
“spina”inexiste no macaco, é bem reconhecível no sinanthropus e meganthropus
e quase impercebível no australipihecus.
ou o que infundiu em nós a vocação para esses quadros típicos
essas associações e seqüências de idéias, decisivos para os nossos
sonhos, religiões, lendas, estórias e nossa vida intuitiva? Será que
obedecem a um padrão uniforme para toda a humanidade? Será
que já foram prefixados em um primeiro ato de criação da Natureza, para todos os tempos de evolução? Ou será que representam
uma forma de "memórias" da consciência coletiva da espécie, dos
acontecimentos há muito ocorridos? Talvez também de contactos
pré-históricos com culturas extraterrenas?
***
Somente quem chegar a perceber os padrões mentais dos povos
primitivos pode arriscar conclusões das mais interessantes fontes de
referência à disposição da pesquisa pré-histórica, dos desenhos
milenares, mitos da criação, lendas e estórias. Com isto o pesquisador não chegará apenas a saber de uma série de "novidades"
surpreendentes sobre o seu próprio passado, mas, com humildade
progressiva, perceberá que, no passado, os conhecimentos e as práticas usadas em absoluto eram inferiores aos da época atual e que,
muitas vezes, "caíram no esquecimento", por azar nosso e que, em
diversos casos, valeria a pena reconquistá-los.
Estórias e mitos! São fluidos os limites entre essas duas formas de
tradição oral. Em alguns casos uma se distingue da outra apenas
pelo fato de o assunto tratado na estória ser de categoria aparentemente inferior ao tratado no mito, pois, sem fazer referência a
"deuses" e "origem", a estória se restringe a fatos ocasionais do
ambiente da vida cotidiana. Ambas as formas representam mistura
de uma primitiva historiografia e descrição da natureza, de uma
época na qual ainda inexistia uma divisão concreta entre raciocínio
analítico, intuição e vida emotiva. Portanto, em absoluto, as estórias
representam apenas "contos de mentiras", conforme se costuma
julgar, de preferência. Ao mesmo tempo, as estórias interpretam os
anseios do seu autor. Assim sendo, além do aspecto pré-
historiográfico, apresentam também um aspecto psicológico, que
poderia revelar algo a respeito da origem da humanidade.
Wolfgang Cordan, o tradutor benemérito do Popol Vuh, o livro
dos índios quichés, diz em algum trecho de suas observa-sagrado ^
^ atitudes a serem assumidas perante o mito, a saber: ÇÕCA e acreditar
nele, literalmente; pode ser interpretado símbolo ou misticamente;
pode ser analisado de maneira racional". Queira ou não queira, a
pesquisa deve escolher a terceira atitude.
Nas estórias distinguem-se, de modo genérico, os seguintes componentes:
1) Representações simbólicas de ocorrências naturais de primeira
grandeza, tais como a alvorada, a noite polar, as fases da Lua, a
queda de uma estrela, a erupção de um vulcão, um terremoto, um
dilúvio ... (Exemplos: a Bela Adormecida, dragões soltando fogo e
assim por diante.)
2) Contos das esferas de idéias mágico-associativas, nos quais são
diluídos os limites entre o indivíduo humano e seu ambiente vivo
ou morto... (A essa categoria pertencem, por exemplo, todos os
contos do grupo "nagual" ou "totem", todos os relatos de
transformações animais, de homens petrificados, de pedras e
utensílios adquirindo formas vivas, bem como todos os contos "pars
pro toto", tais como a equiparação da saliva com a força vital, da gota
de sangue com o homem, da espada com o cavalheiro e assim por
diante.)
3) Contos que exprimem e extravasam os instintos primitivos do
homem, tais como o instinto do poder, o sexual, o do jogo, da
automanutenção, da curiosidade ... (Nesta categoria incluem-se
tanto as epopéias exageradas e ingênuas de "heróis", como os contos
de mentira, divertidos e propositais, de épocas posteriores.)
4) Contos cujo assunto real ficou adulterado por ocasião de determinado acontecimento, ou por uma imaginação exagerada ... (Tais
ocasiões podem provocar o gosto pela descrição enfeitada ou
exagerada dos fatos, para se fazer de importante, como também
podem implicar em medo, confusão, influência de drogas, êxtases
de fundo cúbico ou patológico, idéias forçadas pelo ambiente, tais
como dogmas, doutrinas religiosas e outros elevados diálogos;
pertencem a esta categoria igualmente as falhas humanas
características na transmissão de rumores ou observações, conforme
continuam a ser verificadas em nossos ias na prestação de
depoimentos e, enfim, também a incapacidade de distinguir entre o
acontecimento sonhado, as idéias de anseio e a realidade.)
5) Contos de caráter moralizante, didático, educativo ou visando à
formação de uma coletividade, portanto, objetivando determinado
fim ... (Aqui se inclui a maioria das fábulas de animais, a moral
típica dos contos de fadas, compensando-se o "bem" e castigando-se
o "mal".)
6) Estórias de conteúdo "científico natural", nas quais se transmitem, com freqüência, as explicações, tentadas pelo homem no
passado, de fenômenos astronômicos, geológicos e biológicos e seus
contextos ambientais ... (Pertencem a esta categoria contos tais
como: "Por que a Água do Mar é Salgada", "De Onde Provêm as
Geadas", "Como se Fizeram as Montanhas" e outros.)
7) Tradições legítimas ou reminiscências da memória coletiva da
espécie humana, lembrando acontecimentos da história da evolução
do homem, que tanto podem ser transmitidas em forma de simples
relatos, como na seqüência de quadros típicos, exprimindo os
anseios individuais do autor... (Esta categoria abrange as estórias do
dilúvio, relatos da migração dos povos, de grandes guerras,
catástrofes naturais, reinos e culturas perdidos, etc.)
***
As linhas divisórias entre os grupos supramencionados são pouco
nítidas; pode acontecer que, no desenrolar da estória, se passe de
uma categoria para outra, que trechos de uma só estória fossem de
categorias diversas e que um só motivo, tratado em duas estórias
distintas, pertença a categorias diferentes. Uma coordenação inequívoca deverá esclarecer, por vezes, perguntas tão misteriosas
como a da origem dos instintos humanos, dos limites separando a
memória coletiva da humanidade de sua pura força de imaginação... Somente quando, um dia, o psicólogo ou biólogo lograr o
conhecimento da essência e origem dos chamados "pensamentos
elementares" do homem ou dos arquétipos nele agindo, chegarão as
estórias a serem "compreendidas" de verdade e poder-se-á saber se
esta ou aquela idéia nos foi inculcada por um criador inconcebível,
se chegou a ser formada por acaso, pela mutação, ou se constitui
uma memória meio esquecida de "fatos", como, por exemplo, a
visita de cosmonautas.
De outro lado, interpretações cautelosas de pronunciamentos
parciais de determinados mitos e estórias poderiam levar para
novos conhecimentos nos campos da psicologia e psiquegenia,
provocando a fecundação mútua de diversas disciplinas científicas
em colaboração dirigida. Na análise de estórias, sempre se revela de
bom auxílio a existência de diversas variações de um só assunto, nas
tradições de diversos povos.
Ao pesquisador da pré-História interessa mormente a última das
categorias relacionadas: todavia, podem interessar ainda a penúltima e a primeira. No entanto, ele deve ser prático em todas as
categorias, para ter condições de distingui-las ao elaborar suas conclusões finais.
Enfim, na análise de mitos e estórias não se deve esquecer que
carecem de data fixa de origem, que podem perfeitamente remontar
aos tempos dos quais contam, mas, ao serem transmitidos por
milhões de pessoas, através de espaço e tempo até sua fixação por
escrito, passaram por contínuas transformações, sofreram adições e
cortes que agora se sobrepõem às suas imagens originais.
Outrossim, os elementos portadores de estórias e mitos pouco
sabiam da cronologia moderna. A exemplo de quadros antigos
mostrando acontecimentos ocorridos em ordem cronológica em
posição de um ao lado do outro, nas estórias as ocorrências de
épocas diversas ou estão projetadas em um só intervalo de tempo,
ou dispostas em ordem cronológica irregular.
Há três motivos de estórias que sempre se repetem, reaparecem e
valeria a pena estudar, a saber:
1) os relatos de mestres divinos, provenientes do céu, para onde
voltam após o término de sua missão terrestre, os chamados
"salvadores";
2) a idéia da existência de mediadores alados (anjos — mensageiros) entre os deuses e o homem;
3) o empenho de potentados terrestres de derivar sua origem dos
deuses, ou mestres divinos, o que significa, entre outros, os mitos de
cópula dos deuses com os homens da Terra.
***
Em 1954 escrevi o seguinte a respeito deste complexo de assuntos
que, desde o início da década dos 60, repetidamente atraiu toda
uma série de autores:
"O que foi, em todo o mundo, que levou a humanidade a imaginar
anjos ou valquírias como seres alados, descendo dos ares? O que foi
que a levou a imaginar a residência dos deuses, de preferência,
acima das nuvens e, em casos fora do comum, a derivar sua própria
origem desses seres? Por que chegou o homem a constituir o
conceito do semideus? Foi só por vaidade humana? Por que, em
grande parte, os seres divinos imaginados pelo homem não são
imortais? Por que, anteriormente a esses deuses, existiam outros,
mais sinistros, evidentemente encarnando as próprias forças da
Natureza? O que levou os nossos antepassados a pensar que os
homens bons, os guerreiros bravos teriam como recompensa o céu,
depois de terminados seus dias na Terra, distinguindo-se assim da
grande massa anônima, ou — mais tarde — dos "homens maus"?
Por que nossos antepassados acreditaram que seres extraordinários
(como as Plêiades, ou "Castor e Pólux") seriam transformados em
estrelas, no Cosmo? Será que só porque uma série de fenômenos
imponentes da Natureza, como o brilho do Sol, as tempestades, a
chuva, aparentemente, se passam 'no céu' .... "?
Faz dezesseis anos que escrevi essas passagens e, não obstante o
grande número de pessoas que, entrementes, tratou do assunto,
ainda estamos bem longe de registrar o mais leve indício de progresso em nosso saber a respeito e, mais longe ainda, de lograr uma
resposta satisfatória para nossas perguntas. Todavia, a pesquisa
detalhada de numerosos mitos da criação, estórias e inscrições, em
especial das lendas de salvação, não deixou de fornecer alguns indícios de possíveis contactos interplanetários; no entanto, todos
esses casos são passíveis de ainda outras explicações, de modo que
não se pode falar em "provas". Parece que também as célebres inscrições na "Lista dos Reis da Antiga Babilônia, Weld-Blundell 444"
não constituem prova suficiente para a descendência divina dos reis
terrestres. Tomando-se essas inscrições ao pé da letra, só dizem que
o "reino", ou seja, a instituição é proveniente do céu, mas não dizem
isto da pessoa do rei. Contudo, pronunciamento tão inexpressivo não
responde à pergunta.
Campo mais propício para a prova de encontros extraterrestres do
que o reino vindo do céu, poderia talvez ser oferecido pela análise
dos anseios da humanidade, extravasados nos contos de fadas.
Ao lado dos anseios de ordem puramente primitiva e material,
visando a alimentação farta, riquezas e poder, conforme se manifestam em muitas estórias infantis, os contos de fadas de vários
povos repetem determinados padrões de desejos, que fazem surgir
a pergunta: Como é que o homem chegou a desejar tal coisa? O que
foi que, desde os tempos mais primitivos, fez com que o homem
ficasse fascinado com a idéia de voar, quando seu nível cultural
ainda estava bem longe de torná-la uma necessidade prática e, de
maneira alguma, se podia cogitar da realização técnica de tais
sonhos? Por que o homem não se contentou com os fatos dados pela
criação, pelos quais seu elemento de vida era e continua sendo a
terra firme, a exemplo dos mamíferos, e como a água é dos peixes e
o ar dos pássaros? Será que está nas leis da evolução da vida recuar
toda limitação? Por que será que, mesmo obedecendo a modulações
raciais, o sonho de voar pelos ares é comum a toda a humanidade?
***
Desde os tempos mais remotos, todos eles voam em seus sonhos;
seja montado na águia, como o rei babilónico Etana, ou — segundo
a lenda — Alexandre Magno; seja como o ferreiro teutónico
Wieland e o herói grego Ícaro, com o auxílio das asas de pássaros
dos indo-germanos, sempre prontos para novas façanhas; seja como
os russos de espírito inventivo, com o auxílio de uma águia de madeira desmontável, igualando um planador; seja no tapete voador
dos orientais, comodistas, tirado dos contos de "Mil e uma Noites";
seja como o mandarim Wan-Hoo, no carro-foguete dos chineses inteligentes; seja no invólucro seguro da sacola de voar (et en pir —
sacola de voar) feita de madeira, usada pelos tímidos micronésios
Naneken; ou apenas na cadeira de Mrile, o negro simplório, que
queria alcançar a Lua e do qual a própria história conta que não
atingiu grandes altitudes. Até a vassoura das bruxas medievais
ainda podia ser tomada como pálido reflexo do anseio outrora
acalentado pelos grandes e poderosos da Terra.
Será que esse anseio de vencer o espaço realmente constitui um
instinto primitivo que permite só uma interpretação metafísico-religiosa, ou será que em determinada época o homem já conheceu esse
acontecimento magno e dele conservou vaga lembrança? .... a exemplo do príncipe encantado, que só precisa virar seu anel, a fim de
deslocar-se para onde quiser e que perde esta faculdade por sua
própria culpa, para então ir em busca do país de fadas perdido,
vagueando por caminhos dificílimos, durante muitos e muitos anos
cheios de penúria, lágrimas e saudades. Será que conosco acontece a
mesma coisa?
Atualmente estamos empenhados em provar — em base de uma
teoria de relatividade, idealizada e transmitida algumas décadas
atrás por um homem genial — que, por exemplo, o astronauta
voando no espaço a 87% da velocidade-luz e que acredita ter viajado durante cinco anos, encontrará a humanidade envelhecida
cerca de 10 anos, quando voltar à Terra. Na lenda do "Monge de
Heisterbach", nos contos da mulher que passa algum tempo com os
"Anões Heilings" e da boa empregada doméstica que fica com o
"Gênio da Floresta" e em outros tantos, nossos antepassados já nos
deixaram um pronunciamento correspondente às noções científicas
atuais: uma pessoa sai do ambiente vital do homem terrestre para
ingressar, por pouco tempo, em um mundo alienígena (o reino dos
anões, uma montanha oca, uma floresta impenetrável, etc.) e ao
voltar encontra seus contemporâneos ou falecidos, ou envelhecidos
em muitos anos.
E de novo cabe a pergunta: Esses contos foram provocados por
conhecimentos meio esquecidos, ou pelo anseio de vencer o tempo,
anseio infundido em nossa alma por forças de fora? A segunda
interpretação, ainda mais emocionante e enigmática do que a
primeira, pois, forçosamente nos levaria a continuar perguntando:
Quem ou o que nos infundiu tal anseio e por quê?
Todavia, no desenrolar de sua história tradicional, a humanidade
logra progredir na concretização de seus anseios de vencer o espaço
e o tempo, embora esse progresso seja modesto. Quais as
perspectivas que se abririam se fosse lícito pensarmos que esses
nossos sonhos primitivos poderiam servir para levar-nos mais perto
de sua realização? Será que os velhos contos de fadas poderiam
revelar nossas metas?
Será que chegará o dia em que o terceiro sonho contado nas antigas
estórias, o sonho de vencermos a matéria, nos presenteará com uma
variação moderna do antigo boné mágico que torna invisível o seu
portador, ou, como fase preparatória para tanto, o impulso por
fótons? O espaço, o tempo e a matéria são algemas com as quais a
criação prende toda vida. Por que foi em época tão precoce que a
humanidade reconheceu essas algemas e delas ficou ciente? Por que
ela faz tudo para livrar-se desses grilhões, tanto em suas lendas,
quanto em seus projetos técnicos mais audaciosos? Quem foi que
infundiu em nossa alma os sonhos e a vontade insaciável de vê-los
concretizados? Teria sido um deus? Se é que em qualquer época
houve nesta Terra astronautas alienígenas, com quem eles
adquiriram o seu saber? Quem é Deus???
"Nado metchtati" dizem os cosmonautas soviéticos e seus pioneiros:
o homem deve saber sonharl
***
Apesar de todo o aborrecimento causado por afirmações levianas e
representações falhas, seria o caso de agradecermos aos autores,
empenhados em comprovar, com meios adequados, a existência de
contactos pré-históricos com seres inteligentes extraterrenos; pois,
seu clamor provoca um impulso que poderá levar pesquisadores
competentes a tratar intensa e objetivamente dos problemas ainda a
serem resolvidos na história da evolução do homem. Mesmo se com
essas pesquisas deixarem de encontrar vestígios dos nossos irmãos
obscuros, em estrelas distantes, a descoberta do nosso próprio
passado e de nossa própria origem representa uma aventura tão
fascinante e um enriquecimento tão amplo do nosso saber que
justificaria todo esforço possível e imaginável.
Certo é que nessas pesquisas chegaremos a aprender uma grande
verdade: os "antigos" viajaram muito mais por este globo e conheceram muito mais desta nossa Terra do que nos permitimos supor
por nosso julgamento presunçoso e nossa vaidade egocêntrica.
CAPÍTULO XIV
Däniken e a Pré-História
Por Herbert Kühn, Mainz
“O MILAGRE É o FILHO predileto da fé" — palavras de Goethe que tão
nitidamente definem a qualidade humana.
A Idade Média foi dominada pelo milagre. Ao nosso tempo o
milagre escapou.
Toda filosofia científica opera com fatos, acontecimentos, realidades. Nos padrões mentais de nossa época não cabe o rompimento
dessa realidade por parte de forças extraterrenas. São inconcebíveis
para nós as palavras de Josué (Josué, capítulo 10, versículo 12): "Sol,
detém-te em Gibeom, e tu, Lua, no vale de Aijalom". Sabemos que o
Sol não pode parar com a ordem do homem, nem a Lua.
Conhecemos as leis da Natureza, o movimento do Sol e da Lua,
temos condições de prever os obscurecimentos do Sol. O milagre
perdeu sua força. Os milagres do Novo Testamento vêm sendo
interpretados como alucinações. As curas, mormente as de ordem
física, vêm sendo consideradas como normais e aconteceu, de fato,
que, em suas epístolas, Paulo deixou de invocar o milagre.
Contudo, o milagre é o filho predileto da fé. Faz tanta falta a tantos
homens dos nossos tempos! Eles adoram o milagre e o aguardam
ansiosamente. Acham lamentável a suposta perda do milagre. Para
eles o nosso mundo ficou insípido e vazio.
É neste ponto onde Erich von Dániken pega. Ele opera com este
anseio. Ele se dirige às pessoas de tendências místicas e se apresenta
sob o manto da ciência. Todo indivíduo, inclusive o de pensamentos
lógicos, conserva no seu íntimo o desejo de algo mágico,
incalculável. Também os votos de Ano Bom e o diário Bom Dia,
nossa Boa tarde, apresentamos nossos votos de felicidade e achamos
ruim deixar de fazê-lo. Isto só serve de exemplo. A nossa vida
cotidiana está cheia de elementos absurdos; este absurdo dentro de
cada um de nós, é inato, congênito, desde milênios.
No fundo da alma levamos, primeiro, uma camada mágica depois
uma mítica, encerrando aquelas eras de acontecimentos mentais,
atravessadas pela humanidade nos tempos pré-históricos.
As imagens rupestres, criadas em sua maioria antes da história
escrita, fornecem a explicação lógica dessas duas camadas mais
antigas. Também a psicologia de profundidade conhece essas
camadas e toda criança passa por elas com sua fé em milagres, como
nos contos da Bela Adormecida e de Branca de Neve. No entanto
superada essa fase, a terceira camada, a lógica, começa a fazer valer
o seu efeito. Aí os contos de fadas perdem o seu conteúdo, empalidecem e eventualmente deixam saudades. Achamos que, afinal
das contas, é pena não serem verdadeiras as estórias da Branca de
Neve, da Bela Adormecida e nem de Papai Noel.
É este o pano de fundo mental da obra de Dániken. Ele faz ressurgir
o conto de fadas, o milagre. Todas as pessoas que ficaram
desiludidas quando sua fé de criança se desfez, encontram grande
satisfação íntima com essa obra. Dániken lhes devolve o conto de
fadas perdido; ele o faz de acordo com o gosto do nosso tempo, sob
o manto da ciência.
Acontece, porém, que a ciência não oferece base para as suas
fantasias. Por conseguinte, os cientistas são atacados, duramente insultados e depois coloca-se uma auréola nas teses levantadas. É este
o caminho seguido por Dániken.
***
Está errado o que ele diz, lamentavelmente para alguns; no entanto,
não deixa de ser assim. Acontece o que está acontecendo com o
Barão de Münchhausen: é tão bonito ler como o barão consegue sair
do brejo, no qual havia caído, puxando-se pela própria trança; que
beleza; pena que não seja verdade.
Os seres inteligentes, os homens sábios, os deuses — assim fala
Dániken — vieram de outras estrelas. Vieram para trazer a
inteligência, a sabedoria ao homem da Terra, então em condições
muito míseras e pobres. Na Terra primitiva, os astronautas uniram
em amor com as moças e mulheres terrestres, quando, de repente
surgiram a inteligência e a sabedoria. Simples, não é?
E agora , os cientistas maus, que sempre erraram, dizem que aquilo
não é verdade. Eles destroem a linda estória e isto é uma crueldade.
Erich Von Dãniken não é cientista. Ele não fez estudos. Sua
faculdade de percepção não encontra dificuldades em enfrentar
pesquisas penosas. "Os cientistas comportam-se como gansos
gordos, que não querem digerir mais nada. Idéias novas são
simplesmente recusadas por eles, como sem sentido" (I, pág. 146).
Há diversos caminhos que levam para a noção de que foram
astronautas alienígenas que nos trouxeram a cultura. Em primeiro
lugar, os antigos mitos populares; em segundo, as imagens
rupestres das épocas pré-históricas. Nos antiquíssimos textos da
humanidade aparecem os contos dos veículos celestes com rodas,
dos carros lançando fogo. No entanto, os cientistas não acreditam na
verdade dos veículos celestes cuspindo fogo. Também o deus
nórdico Tor, ou Donar, cujo nome ficou conservado na designação
alemã de um dia da semana (Donnerstag — quinta-feira), andou de
carro, portanto, constituiria lembrança dos astronautas de outras
estrelas. Todavia, para quem possuir "olhos espaciais", é fácil
distinguir nos mitos astronautas de outras estrelas; e Dãniken
possui "olhos espaciais".
A minha especialidade de estudos são as imagens rupestres da préHistória e são essas imagens que Dãniken usa como segundo
elemento de prova para viagens de foguetes de astronautas préhistóricos, provenientes de estrelas distantes.
Se essas imagens mostrarem círculos (II, il. entre págs. 96 e 97) estão
sendo interpretadas como foguetes em forma de bola. Se mostrarem
deuses com seus símbolos, como, por exemplo, o deus celta
Kernunnos, com os chifres de cervo, estes são antenas (II, Pag- 103).
Se as divindades forem representadas com grinaldas radiantes,
circulando a cabeça, são astronautas (II, il. Entre págs 128 e 129). Se
os raisos lhes cobrirem a cabeça, são figuras iguais aos nosssos
astronautas das missões Apolo (II, il. Entre págs. 96 e 97). Se o
simbolo da água for gravado acima do corpo da divindade, não é
um simbolo divino, mas sim tecnológico (II, il. Entre págs 48 e 49).
Se for representado um homem em posição quase divindade forem
horizontal, tratando-se evidentemente de um nadador, então está
envergando trajes espaciais, colados ao corpo, com instrumentos de
comando e varetas de antena presos no capacete (II, il. entre págs.
16 e 17). Se houver uma máscara preta, é um visitante cósmico com
saliências parecidas com antenas; seu capacete tem fendas para os
olhos, o nariz e a boca (II, il. entre págs. 96 e 97). Na planície de
Nazca, no Peru, há um centro espacial de astronautas pré-históricos;
"a mim transmitem, sem dúvida alguma, a impressão de sinalização
de aeroporto próximo" (II, pág. 118).
E assim por diante. Todavia, Dãniken escreve: "Tratamos de fatos
científicos".
São três os cientistas cujas obras sobre pesquisas de imagens
rupestres Dániken usa e cita, tanto no texto, como na referência de
fontes dos seus dois livros. Primeiro: Herbert Kühn, "Wenn Steine
reden" (Quando as Pedras Falam, Verlag Brockhaus, Wiesbaden,
1966); segundo: H. Lhote, "Die Felsbilder der Sahara" (As Imagens
Rupestres do Saara, Verlag Zettner, Würzburg, 1958); terceiro:
Maria Reiche, "Geheimnis der Wüste" (Mistério do Deserto, editado
pela autora).
Todavia, Dãniken nem toma conhecimento do texto das obras
citadas; ele apenas olha para as ilustrações e nelas encontra astronautas. Ele também ignora por completo a datação das imagens
reproduzidas, pois, em todo caso, acha impossível datá-las. Por
tanto, escreve sem mais nem menos: "A Arqueologia existe, na
qualidade de disciplina científica, há 200 anos apenas. Desde então
seus representantes colecionam, com uma meticulosidade digna de
admiração, moedas, plaquinhas de argila, fragmentos de utensílios,
cacos de recipientes, figuras, desenhos, ossos, e tudo que a terra
colocar em cima de uma pá. Coordenam nitidamente os achados
dentro de um sistema que, no entanto, só tem validade relativa para
3.500 anos, aproximadamente. O que for mais remoto, esconde-se
atrás de um véu de enigma e suposições. Ninguém o sabe e
ninguém é capaz de imaginar o que capacitou nossos antepassados
à produção de obras-primas técnicas e arquitetônicas" (II, pág. 55).
É assim que fala Dãniken. Como representante da especialidade em
apreço, tenho a impressão de ser enganado pelos próprios olhos ao
ler essa passagem, pois quer dizer que além de 1.500 anos a. C.
ninguém sabe de nada. Temos em nosso meio especialistas que
tratam particularmente do período dos anos de 40.000 a 10.000 a. C;
eu também faço parte desse grupo. Assim sendo, não se pode dizer
que ninguém sabe de nada; mas, pelo contrário, sabemos bastante a
respeito.
***
As figuras encontradas por Maria Reiche no Peru foram esgaravatadas nas camadas de terra, sobrepostas à rocha. Em sua obra,
Maria Reiche indica a respectiva datação. Tendo por base a maneira
como são traçadas as linhas dos desenhos, segundo pontos de
referência do Sol, para algumas o intervalo de tempo foi calculado
entre 350 e 950 d. C. e para outras, entre 800 e 1.400 d. C. Para um
fragmento de madeira, retirado de uma camada de terra, o teste do
carbônio deu a data de 525 d. C. A cultura Nazca, a cuja esfera as
figuras pertencem, floresceu entre 300 a. C. e 900 d. C. Tudo isto
confere; trata-se, pois, de figuras criadas até o ano 1.400 d. C, em
plena Idade Média européia — no entanto, isto pouco importa a
Dániken.
Dãniken fixa a data de 10.000 a. C. para a presença de seus
astronautas na Terra. Isto não quer dizer nada. "Para mim transmitem (as figuras do Peru) sem dúvida alguma" — é o termo que
ele usa — "a impressão de sinalização de aeroporto próximo" (II,
pág. 118).
Mas aquela diferença de tempo, de 10.000 anos, não quer dizer
nada, em absoluto.
E o autor continua escrevendo sem os menores escrúpulos (I, pág.
68): "A nós parece que o método clássico da pesquisa pré-histórica é
por demais bitolado e por isso não pode chegar a conclusões
inatacáveis". Mas Dãniken tem as condições de conseguir aquilo que
milhares de cientistas, em todos os países do globo, não conseguem.
Eles se atolaram, estão impossibilitados de chegar aos resultados
certos; mas Dãniken, sim, Dãniken vai trazê-los. O que nos resta
fazer? — dar uma boa gargalhada.
Depois, recorre a Henri Lhote, pesquisador de renome em pinturas
rupestres encontradas nas regiões centrais da África do Norte, no
Tassili; ele vive em Paris. As obras de Dániken reproduzem grande
número dessas figuras. Em toda parte Dániken vislumbra
astronautas vindos do espaço; em uma das gravuras descobre até
uma astronave de escotilha aberta (II, pág. 96). Acontece, porém,
que as imagens mais antigas na região do Tassili datam da época de
8.000 a 6.000 a. C, depois continuaram a ser criadas nos milênios
seguintes, até o presente. E de novo cabe a pergunta: O que se dá
com o período dos anos 10.000 a. C, no qual os astronautas teriam
chegado à Terra? É justamente esta a época que Dãniken supõe
fosse desconhecida pelos especialistas; e é nesta era que ele situa o
seu milagre.
Azar dele, pois é justamente este período que conhecemos muito
bem. Graças a 4.000 pinturas do homem do Período Glaciário e
4.000 obras de arte escavadas, mais outros 6.000 locais de escavação
do Período Glaciário cuidadosamente examinados, correspondentes
apenas ao período de 40.000 a 10.000 anos antes de Cristo, estamos
muito bem familiarizados com a época em apreço. Os respectivos
resultados não sofrem solução de continuidade, em parte alguma. A
evolução cultural dessa época foi revelada em sua totalidade.
Mas, o que diz Dãniken? "Tudo o que for anterior a 3.500 anos (ou
seja, 1.500 a. C.) esconde-se atrás de um véu de enigma e suposições." Assim pode ser para Dãniken; para nós não o é. Há uma
palavra que se chama atenção. Dãniken parece ignorá-la.
E Dãniken continua escrevendo (I, pág. 108): "Que fique claro: aqui
não se põe em dúvida a História dos últimos dois mil anos! Falamos
só e exclusivamente da Antiguidade mais obscura, das trevas mais
profundas dos tempos, que, mediante novas colocações de questões,
nos esforçamos por clarear. Também não podemos indicar números
e datas quanto à época da visita de inteligências procedentes do
espaço cósmico, que começaram a influenciar nossa própria
inteligência, ainda jovem. Ousamos, porém, duvidar das datações
até hoje atribuídas à obscura Antiguidade. Suspeitamos ter razões
suficientemente boas para supor que o acontecimento que nos
importa ocorreu no período neopaleolítico, portanto, entre 10.000 e
40.000 anos antes de Cristo". Seguem-se depois algumas
observações gratuitas sobre o método de datação pelo carbono 14.
Este método fornece resultados exatos; no entanto, como Dãniken
não tem comentários a respeito, ele prefere ficar nos lugarescomuns.
Foi precisamente o Período Glaciário que me fascinou e que
predominou em meus trabalhos, durante toda minha vida. Publiquei uma série de obras a respeito. Se é que Dãniken quer atacar
neste ponto, então ele deve revelar conhecimentos exatos da
matéria.
Das 120 cavernas conhecidas e que apresentam pinturas rupestres
do Período Glaciario, Dãniken menciona uma só, a caverna de
Lascaux, perto de Montignac, na Dordonha, França, descoberta em
1940, com muitas pinturas e desenhos riscados, daquela época. E ao
mencioná-la, Dãniken faz duas perguntas que impressionam como
sendo feitas por uma criança. A respectiva passagem diz (I, pág.
107): "Nas cavernas de Lascaux, na França meridional, foram
achadas, em 1940, as mais grandiosas pinturas da Idade da Pedra.
Essa galeria de quadros se apresenta vívida, intacta e com tanta
plasticidade que parece obra de nossos dias. Duas perguntas se impõem inevitavelmente: Como essa caverna era iluminada para o
árduo trabalho do artista da Idade da Pedra, e por que as paredes
da caverna foram ornadas com essas pinturas surpreendentes?".
Tais perguntas revelam de pronto a completa ignorância do autor a
respeito do trabalho científico de mais de um século, efetuado no
campo da arte do Período Glaciario. No entanto, o método de
Dãniken é o ataque e, assim sendo, ele continua (I, pág. 107): "As
pessoas que julgam estúpidas essas perguntas, que nos expliquem
então as contradições: se os habitantes das cavernas da Idade da
Pedra eram primitivos e selvagens, então não poderiam produzir
pinturas tão admiráveis nas paredes das cavernas. Fosse o
selvagem, no entanto, capaz de produzir essa pintura, por que não
estava ele em condições de construir cabanas para seu abrigo? As
mais altas autoridades admitem que o animal, há milhões de anos,
tinha capacidade para construir ninhos e tocas. Obviamente, porém,
parece não se enquadrar no presente sistema mental conceder a
mesma habilidade ao Homo sapiens pré-histórico".
Nessa passagem está tudo errado. Se Dãniken se tivesse dado ao
trabalho mínimo de pegar qualquer obra sobre a arte no Período
Glaciario para apenas folheá-la, sem lê-la, teria chegado a saber que
se conhecem uns cem tipos de lâmpadas daquela era. Uma dessas
lâmpadas, de rara beleza, foi justamente encontrada na caverna de
Lascaux, citada por Dániken. Reproduzi-a no meu livro
"Vorgeschichte der Menschheit" (Pré-História da Humanidade)
volume I, pág. 104, reprodução 92, Colônia, 1962. Na mesma obra
ele teria encontrado ainda outra lâmpada, a de La Mouthe, Dordonha, descoberta em 1898.
A outra pergunta: "Por que as paredes da caverna foram cobertas
com essas pinturas extraordinárias?" já foi respondida em 1903, por
S. Reinach, a saber: Por causa do culto da caça, da magia da caça.
No entanto, Dániken também ignora tudo sobre os numerosos
achados de habitações do homem do Período Glaciario. São conhecidas há uns cem anos e muitas foram escavadas de forma
exemplar. Na Alemanha há o abrigo habitacional de Ahrensburg,
perto de Hamburgo, exposto no Museu do Castelo Gottorp, na
Silesia. Tal abrigo foi até retratado por um homem do Período
Glaciario nas paredes da caverna de La Mouthe, perto de Les
Eyzies, na Dordo-nha, descoberta em 1898.
Se Dániken se tivesse dado ao trabalho de olhar minha obra
"Erwachen und Aufstieg der Menschheit" (Despertar e Progresso da
Humanidade), publicada em 1966 e amplamente divulgada, em
forma de livro de bolso, pela Livraria Fischer, sob o n.° 717, poderia
ter encontrado todos os detalhes sobre as habitações do homem do
Período Glaciario, na página 117.
***
Deveríamos, nós, os cientistas, aceitar as teses de Dániken sem
qualquer comentário? Não seria esta uma atitude que levaria o
público a pensar que, talvez, Dãniken esteja com a razão, pois os
cientistas deixam de pronunciar-se a respeito? Pessoalmente, faltame o gosto pelo ataque, mas aquilo que Dániken arrisca vai longe
demais, mormente porque menciona o meu nome no texto (I, pág.
85).
Lá diz: "O Professor Kühn defende a opinião de que a palavra
martelo (Hammer) significa "pedra", originando-se da Idade da
Pedra: só mais tarde foi aplicada ao instrumento de bronze ou de
ferro". Dessas palavras Dániken conclui que o deus nórdico Tor e
seu símbolo, o martelo, fossem muito antigos, provavelmente
remontariam à Idade da Pedra .... O Tor nórdico, deus dos deuses, é
o senhor dos Wanen teutónicos, cujo elemento vital é o espaço aéreo.
Como é que se podem distorcer as palavras desta forma, dando-lhes
um sentido completamente diferente?
Dãniken não se cansa de atacar os cientistas, dos quais diz que "são
impedidos pela teimosia e pelos preconceitos"; e ainda (I, pág. 77):
"Mediante um novo esquema de pensamento, isto é, aquele
desenvolvido pelos conhecimentos técnicos da nossa era, é preciso
que abramos clareiras no matagal que esconde o nosso passado".
Dispensamos tal aclaração por parte de Erich von Dãniken e
devemos deixar bem clara e definida esta nossa renúncia, em face
de todas as acusações tolas que nos são dirigidas por Dãniken,
pessoa sem quaisquer noções de pré-história, mas dotada de forte
agressividade.
Ele usa ilustrações de minha obra "Wenn Steine reden" (Quando as
Pedras Falam), as quais explica como mostrando astronautas. Ele
deixou de ler naquele livro que se trata de imagens que datam de
após o Período Glaciario. As reproduções da América poderiam
datar do nosso milênio; a imagem de uma figura divina (II, il. entre
págs. 128 e 129) já pertence ao período histórico.
As gravuras de Val Camonica, do Norte da Itália, representam uma
divindade que ostenta chifres de cervo. As mãos do deus estão
erguidas e uma cobra lhe envolve um dos braços. Influências celtas,
bem como etruscas, fazem-se notar na composição dessa imagem,
encontrando sua expressão nas armas e peças de adorno. Essa
figura pertence à obra criada sob influência celta e data dos anos de
500 a 250 a. C., época da cultura greco-romana, que registrou todos
os acontecimentos importantes do seu tempo. Conhecemos até o
nome celta do deus: ele chamou-se Kernunnos. O cervo é seu
animal-símbolo. A caldeira de prata de Gunestrup, Departamento
Aalborg, Dinamarca, descoberta em 1891, traz igualmente a efígie
de Kernunnos, com os chifres de cervo na cabeça e, também aí,
ligado a uma cobra. A caldeira de prata, agora exposta no Museu de
Copenhague, remonta ao primeiro século a. C, portanto, à era do
Imperador Augusto, podendo até ter sido criada no primeiro século
d. C.
E o que faz Dãniken dessa imagem rupestre de uma época histórica
bem conhecida? A legenda sob a reprodução (II, pág. 103) diz
textualmente: "Figura de um deus, em Val Camonica, no Norte da
Itália. O enfeite da cabeça nos faz pensar num par de antenas.
Também um cosmonauta"?
De modo tão irresponsável e leviano adulteram-se aí os fatos. A
figura data de uma época histórica, mas deveria ilustrar a visita de
um astronauta. Nas fantasias de Dãniken, os astronautas extraterrestres teriam visitado a Terra nos anos de 40.000 a 10.000 a. C.
No entanto, não é só com pinturas rupestres que Dãniken ataca a
pesquisa pré-histórica; no caso do Egito ele diz (I, pág. 93) que o
país não possui "pré-história reconhecível". Nada mais errado do
que isto. A pré-história do Egito é muito difundida e relatada em
grande número de obras. Dãniken ignora a existência de todas elas.
Também as pinturas rupestres de Carschenna, no Cantão de
Graubünden, na Suíça, mencionadas por Dãniken, pertencem à
época do ano de 500 até o nascimento de Cristo, conforme o prova a
figura eqüestre (Relatório Anual da Sociedade de História Antiga,
de Graubünden, 1967, pág. 7). E, novamente, trata-se de épocas
históricas.
***
Rindo, a gente desabafa. Quem conseguir dar uma risada franca,
sincera, é quem melhor poderá digerir as duas obras de Dãniken.
Contudo, dificilmente se compreende como um número tão grande
de leitores, contando em centenas de milhares, animou-se a comprar
esses livros. E, pesquisando a eventual causa desse fenômeno, bem
poderia ser, conforme mencionado acima: "Tratamos de fatos
científicos". £ o manto da ciência que atrai e é ainda a idéia do
milagre envolto nesse manto.
O que resta?
Não é preciso que se levem a sério esses livros. Dom Quixote é uma
piada; Eulenspiegel é uma piada; e Münchhausen também o é. Da
mesma forma é piada a anedota do estudante Jobs que, ao prestar
exame, recebeu perguntas e deu respostas que invariavelmente
eram piadas. E isto também vale para os dois livros em apreço.
Acontece com eles o que está acontecendo com a "Jobsía-da", de
Karl Kortum, composta em 1784, ou com a de Wilhelm Busch, o
grande humorista, de 1874:
"As respostas de Jobs, que ao exame se candidata,
são recebidas com balançar de cabeça pela bancada".
E Wilhelm Busch continua:
"Começaram então a votar e sem muito disputar,
passou a sentença o Tribunal Religioso:
'o Sr. Jerônimo nada fez de proveitoso'".
Mudemos um pouco essa narrativa anedótica:
"Passou a sentença o Tribunal da Ciência: O Sr. von Dãniken nada
fez de proveitoso".
CAPÍTULO XV
Os Antigos Egípcios e Dãniken
Por Hellmut Muellcr-Feldmann, Bad Neuenahr
O SOLO SECO E ARENOSO do Egito, o "país sem chuva", deu-nos —
muito mais do que qualquer outro solo no mundo inteiro — uma
riqueza enorme de documentos históricos e pré-históricos, em grande parte bastante bem conservados. Isto é devido, entre outros motivos, à crença dos habitantes do Nilo da época, na continuação da
vida após a morte, que os levou a deixar-nos numerosas reconstruções de objetos de uso cotidiano. Em seus túmulos, nas "casas da
Eternidade", eles nos transmitiram tudo aquilo com que estavam
cercados no desenrolar da sua vida terrestre, pois acharam que,
assim, poderiam gozar desses mesmos objetos costumeiros também
na vida eterna, no Além. Ademais, deixaram-nos grande número de
manifestações pictoriais em pedra, madeira e papiro.
A partir de 1945 e em escala nunca vista, ao lado de jornalistas,
técnicos e representantes das ciências naturais, pesquisadores especializados intensificaram seus esforços pela solução dos problemas
arqueológicos remanescentes. Muitos aspectos que continuavam
enigmáticos para o leigo chegaram a ser finalmente solucionados,
ou, pelo menos, receberam explicação satisfatória. Assim sendo, por
exemplo, chegamos a fazer uma idéia inequívoca da construção das
pirâmides, mormente da de Quéops, obra-prima da Antiguidade e o
maior desses túmulos reais.
Entrementes, chegamos a saber que para a construção dessas obras,
ou seja, a colocação daqueles enormes blocos de pedras estruturais,
rampas feitas de pedras de refugo foram instaladas, ao redor das
pirâmides. Por essas rampas subiram os gigantescos blocos, às
vezes com peso de até 2,5 t, puxados pela força muscular, sobre
madeiras redondas. Em seguida foram colocados, mediante
alavancas de madeira ou aqueles "trenós basculantes" que, posteriormente, foram encontrados em pequenas miniaturas de madeira,
como oferendas fúnebres e que foram reproduzidos pelo já faleeido
arqueólogo inglês Flinders Petrie em sua obra "Tools and Weapons"
(Ferramentas e Armas), na parte das ferramentas de construção.
Nos trenós basculantes trata-se de um disco de madeira, em forma
de meio círculo, com plataformas amplas para receber a carga, nas
quais os blocos de pedra foram carregados e amarrados. Madeiras
redondas uniram as duas plataformas e ainda deixavam lugar para
meter a alavanca, a fim de movimentar o trenó para cima e para
baixo, nas operações de carga e descarga dos blocos de pedra.
Tudo o mais a respeito da técnica de construção das pirâmides foi
exposto por L. Sprague de Camp em sua obra "Engenheiros na
Antiguidade", de maneira tão explícita e tecnicamente tão bem
fundamentada, que dispensa repetição. Todavia, cabe aqui breve
resumo das conjeturas potenciais e psicológicas, de grandeza singular, que orientam as obras colossais da pirâmide de Quéops.
No início da quarta dinastia faraônica, o império egípcio reuniu na
figura do Faraó Quéops poder e potencial de magnitude jamais
conhecida. Os documentos de sua posse do trono constituem relatos
interessantíssimos a respeito; contam da morte prematura de seus
irmãos maiores, destinados a assumir o poder. Escritores da Antiguidade descreveram o reinado de Quéops, de somente 23 anos (ao
redor do ano 2551 a 2528 a. C), como um período de tirania e
opressão que, presumivelmente, ficou encerrado com a coroação do
seu filho e sucessor, Dedefre. Além de uma miniatura em marfim,
exposta no Museu de Cairo, inexiste — e isto é significativo —
qualquer efígie deste que foi o maior construtor de pirâmides. É bem
provável que seu sucessor tivesse mandado destruir todas suas
imagens, bem como os monumentos por ele erguidos, menos a
pirâmide indestrutível.
Naquela época, o faraó era equiparado a deus. Ele e sua família
possuíam todas as terras e todas as matérias-primas do país, das
quais podiam dispor à sua inteira vontade, por meio de um funcionalismo rigidamente organizado, o primeiro no mundo antigo. O
faraó cuidava de garantir a alimentação dos seus súditos, na maioria
camponeses, não ultrapassando de 5 a 6 milhões, e de providenciar
reservas alimentícias para as épocas da seca. Por conseguinte,
naquela época, o vale do Nilo não contava com os 50 milhões de
almas, conforme opina Erich von Dãniken, nem era preciso
preocupar-se com a alimentação do povo, inclusive os operários
Pedreiros egípcios com suas ferramentas, na era primitiva.
trabalhando nas obras das pirâmides. Diariamente, os "candangos"
recebiam sua ração de pão, cerveja e cebola, ficando a seu cargo
variar o cardápio por seus próprios meios. Os impostos eram recolhidos "in natura", produtos da terra e gado, igual ao dízimo
cobrado da população na Idade Média.
Desde sempre, o Egito era pobre em madeiras, mesmo que existissem em quantidade e qualidade maiores do que Dàniken supõe.
Não é que lá só cresçam palmeiras. Usou-se, e muito, a madeira de
acácias, tamarindos e sicómoros, sendo que estes últimos dão uma
madeira bastante durável. As coníferas, como os cedros do Líbano,
já haviam sido introduzidas em inícios dos tempos históricos, antes
do reinado de Quéops; seus troncos compridos eram necessários à
confecção de mastros de navios e à construção de resistentes navios
de transporte, para os enormes monolitos (tais como obeliscos,
estátuas, etc).
Os feitos dos antigos egípcios da era faraônica merecem apreciação
toda especial, pois, já naquela época, haviam desenvolvido as
ferramentas essenciais, que até hoje estão em uso geral. Os construtores das pirâmides conheciam, entre outros, o fio de prumo e,
mais tarde, diversos tipos de instrumentos de prumo.
As ferramentas mais antigas, feitas de cobre, eram temperadas
batendo-as; no entanto, o cobre, metal mole, às vezes continha
também arsénio e, adicionando mais arsénio à sua liga, chegou-se a
duas vezes e meia o grau de dureza. Tais ferramentas serviam
apenas para trabalhar pedras moles e madeira; granito e outras
pedras duras foram trabalhados com pedras redondas de dolomito
e acabados em bruto com pedras especiais de polimento, adicionando-se ainda uma mistura de pó de quartzo com água. Ademais,
usavam-se os cinzéis pontudos e de madeira, até hoje em uso, que,
primeiramente, foram feitos de bronze e depois de ferro.
Todos esses trabalhos exigiram bastante tempo e paciência. Ambos
esses fatores existiam em abundância. E os mecenas do Antigo
Egito, tanto os faraós, como os príncipes regionais e, posteriormente, os sacerdotes dos grandes templos, cumularam os
artistas com encomendas para serviços fúnebres e de culto,
promovendo os melhores para a qualidade de cidadãos ricos e
prestigiados.
Nos tempos das obras da pirâmide de Quéops, havia mais um
motivo para colaboração incomum de grande parte da população: o
trabalho no monumento comemorativo para o faraó-deus e filho do
deus do Sol, era considerado como uma espécie de serviço prestado
à divindade, ao qual cada servente, de todas as categorias, dedicou
o melhor dos seus esforços, o melhor do seu saber. Foi também este
um dos elementos contribuintes para a concretização dessa obra
singular, a pirâmide de Quéops, em época tão precoce da história
egípcia. Foi uma época na qual o indivíduo ainda estava imbuído
da idéia mágica, quase inconsciente, de sua condição de membro de
uma coletividade sagrada — igual ao que continua acontecendo em
nossos tempos, quando a vocação de certas pessoas as leva a
dedicar toda sua vida aos serviços da comunidade religiosa, pelo
louvor de Deus, ao qual se sentem unidas tanto na vida, como na
morte.
Também no livro de L. Sprague de Camp, "Lugares Misteriosos da
História", se fala da construção da pirâmide de Quéops, bem como
de construções de pirâmides empreendidas por seus sucessores,
perto de Gizé. Completando os dados supra-indicados, menciona-se
ainda o seguinte: as obras da pirâmide de Quéops foram erguidas
em base de rocha existente, que se encheu com materiais de construção, provenientes das imediações. Outras pedras para o acabamento interno vieram de pedreiras próximas, nas montanhas de
Mokattam, ainda hoje lavradas. As melhores lajes de pedra calcária
vieram de Tura, na margem oposta do Nilo, e atravessaram o rio em
barcos de carga; o subseqüente transporte terrestre foi feito em
varais de trenó, conforme a tradição conta da estátua colossal do
príncipe regional, Djehuti-Hotep, puxada por 170 homens pelas
areias do deserto, molhadas com água.
O granito cor-de-rosa ou preto costumava vir da região de Assuã,
no baixo Nilo, das grandes pedreiras nas proximidades da capital
e das pedreiras menores nas Ilhas Elefantina e Sehel. Ademais,
houve numerosas pedreiras de granito em outras regiões do Egito,
no deserto oriental, entre Kene e Kuseir, na Península do Sinai, e
algumas menores, no deserto ocidental.
Todavia, nem sempre, durante o ano todo, houve disponibilidade
ilimitada de mão-de-obra para as construções das pirâmides, apesar
da existência de um funcionalismo bastante numeroso e bem
distribuído em todo o território nacional, encarregado do
"recrutamento". A população rural, perfazendo 70% a 80% do povo
egípcio, só forneceu mão-de-obra adicional para as pirâmides nas
semanas e nos meses das cheias do Nilo, quando não era possível
lavrar a terra. Também quando as ondas do Nilo alcançavam a beira
da área elevada, onde se construíram as pirâmides, os blocos de
pedra eram levados até o canteiro das obras, registrados no templo
situado no vale e transportados sobre rolos até o local do seu
assentamento. Tais rolos, madeiras de pontas arredondadas, foram
encontrados entre o material de refugo da pirâmide de Lahun.
Divergem as opiniões sobre a maneira de como blocos grandes ou
monolitos ainda maiores, como os empregados em estátuas
colossais de até 20 m de altura, ou em obeliscos, chegaram a ser
lavrados na pedreira. A tese de terem sido cavados buracos e neles
introduzidas cunhas de madeira, as quais, depois de molhadas,
Este desenho de um relevo no túmulo de Djehuti- Hotep II ( aprox. 1870 a.C)
ilustra o transporte de uma estátua de 21 pés de altura.
vieram a expandir-se e assim permitiram o desprendimento fácil
das pedras, não é geralmente aceita. Aliás, nunca foram encontradas
cunhas de cobre, nem molas que pudessem ser relacionadas com
tais processos de trabalho. Outrossim, tais métodos teriam
implicado em grandes riscos. É aqui onde começam os verdadeiros
enigmas e é neste ponto que ainda não se chegou a acordo.
Outros mistérios encerra o enorme obelisco, abandonado na pedreira principal de Assuã. O tratado do ex-inspetor geral do Depto.
de Antiguidades do Museu do Cairo, o inglês R. Engelhard, sobre o
Obelisco de Assuã oferece toda uma série de comentários e cálculos
desconhecidos, a respeito dos processos de trabalho empregados no
corte desses colossos de pedra. Engelhard calculou que se precisava
da força muscular de mais de 5.000 homens para virar para o lado e
amarrar com cordas de fibra de palmeiras aquele monólito de 41,75
m de altura, pesando 1.168 t inglesas, que já estava solto em sua
parte baixa, a fim de levantá-lo do local onde se encontrava. Em
seguida, precisar-se-ia da força muscular de mais outros 3.000
homens para retirá-lo da pedreira e prepará-lo para o transporte. A
respeito do obelisco da rainha Hatchepsut, medindo "apenas" 29,5
m de altura e que até hoje se encontra nos vastíssimos templos de
Carnaque (ao norte da atual Luxor), sabemos que levaram sete
meses as operações de trabalho, desde as obras na pedreira, o
acabamento com inscrições até a colocação final no lugar do destino.
A grande expedição, despachada para a região de Wadi Hammat
(entre Kene e Kuseir) e encarregada de trazer pedras monumentais
para o Faraó Ramsés IV, contava, ao todo, com 8.362 membros. A
expedição foi chefiada por um sacerdote, de ordem superior, de
Amon, o deus do reino, e teve a participação de nove funcionários
civis, de alta categoria, bem como de 362 oficiais do exército, de
várias patentes; o número dos soldados de infantaria foi indicado
como 5.000 e o de "escravos", como 2.000. Ademais, houve 800
homens de Ayan, uma região vizinha do vale rochoso. A expedição
contou ainda com dez técnicos e artistas, bem como com 130
canteiros especializados em trabalhos de pedreira. Cinqüenta
guardas eram encarregados de manter a ordem. É interessante notar
que, quase um milênio e meio após a construção das pirâmides, se
fala também em soldados e "escravos", evidentemente prisioneiros
de guerra ou criminosos, que foram chamados para prestar serviços
naqueles trabalhos perigosos no deserto, pois a lista dos acidentes
da expedição indica 900 mortes, o que representa mais de 10% dos
participantes.
Estamos muito bem informados sobre as obras técnicas e plásticas
do Antigo Egito. Já foram os egípcios da era paleolítica que usaram
pederneira para a confecção de armas, para defender-se contra os
animais ferozes do deserto e seus vizinhos guerreiros. Aquilo que,
de início, foi feito por puro instinto de sobrevivência, se tornou uma
técnica consciente na era mesolítica, ou seja, entre os anos de 10.000
e 5.000 antes de Cristo. Com o período neolítico e a época do
bronze, estendendo-se por mais de dois milênios, dealbou então
aquela era feliz, criadora, na qual os egípcios realizaram os seus
mais belos e perfeitos objetos de pederneira; foram encontrados nas
escavações arqueológicas efetuadas na região do Lago de Faium,
bem como em Merimde-Benisalame, na orla ocidental do delta e
ainda em Tasa e Mostagedda, no alto Nilo.
No fim dessa era, ao redor do ano 3.000 a. C, foram feitas facas de
pederneira; de tamanhos sempre maiores. Às vezes, a lâmina
chegou a medir até 50 cm de comprimento e, mediante métodos
sempre mais aprimorados, sua espessura diminuiu para uns milímetros, apenas. Supõe-se que isto não se conseguiu somente
batendo a lâmina, mas, ainda, achatando-a com uma parte óssea,
muito elástica, talvez a costela de um porco. Presumivelmente, foi a
areia contendo quartzo do deserto egípcio que serviu de esmeril.
Com o simples bater de uma pedra contra outra, às vezes, já se
fizeram utensílios meio acabados que receberam sua forma e seu
acabamento final mediante esmerilhamento lento e cuidadoso.
Também pedras de cascalho, de tamanho médio, foram cavadas,
por esmerilhamento, a fim de serem usadas como recipientes para
líquidos preciosos, principalmente cosméticos.
Enfim, surgiu a idéia genial de construir um mecanismo que
permitisse a cavação mais fácil e uniforme de recipientes de pedra;
construiu-se um dispositivo de barras, em cujo topo se instalou uma
manivela saliente, geralmente curva; debaixo dessa manivela foram
colocadas, como peso, duas pedras de forma oval, presas nas barras
com correias de couro; quando postas em movimento, facilitaram a
operação de cavar. Desta maneira, conseguiu-se tornar ocas até
pedras mais duras, como o basalto e o diorito. Evidentemente, já se
usou também um disco de movimento, semelhante ao usado pelo
oleiro.
As experiências feitas pelos canteiros egípcios das eras precoces,
com a confecção de recipientes de pedras, mais tarde vieram a valer-lhes em suas obras de arte plástica. Já no fim da era precoce,
após o primeiro século dos tempos históricos e da tradição por
escrito, tiveram condições de criar estátuas de tamanho natural,
como a do Faraó Chasechem, datando do fim da segunda dinastia.
Na época imponente da quarta dinastia, sob os faraós Quéops,
Um colosso de pedra está sendo trabalhado no antigo Egito
Quéfren e Miquerinos, cujos túmulos são as pirâmides possantes de
Gizé, as artes plásticas começaram a empregar também pedras duras, como o diorJto e o granito. A partir de então, foram criadas as
figuras e os grupos superdimensionais.
Entre os múltiplos monumentos de todos os tempos — desde a PréHistória e ao longo dos quase 3.000 anos de história do Antigo
Egito, até agora, inexiste qualquer ponto de referência que indique
influência de serçs extraterrenos na criação artística dos habitantes
das terras do Nil0. Se fosse assim, também lá, como em outras
plagas, toda invenção genial registrada na Terra deveria ser atribuída à influência de seres cósmicos. Em todo caso, os antigos
egípcios da época, do ano 5.000 a. C., quando estavam empenhados
no duro trabalho de acabar recipientes de basalto, certamente
teriam ficado satisfeitos com o aparecimento de um gênio interestelar, cujos ensinamentos lhes teriam poupado os dois milênios
seguintes, que necessitaram para, em contínuo labor penoso, chegar
a confeccionar os recipientes de pedra dura, que hoje evocam
admiração em todo o mundo.
E nem nos mitos egípcios há indício algum de uma visita de
astronautas de planetas distantes, a nossa Terra. O trânsito no Egito
sempre se fez e continua sendo feito, em grande parte, pelo Nilo;
portanto, não é nada surpreendente que, nas idéias dos egípcios, o
deus do Sol use uma barca para empreender seu percurso diário
através do céu e sua viagem noturna sobre o Nilo subterrâneo.
Outrossim, deveria constituir surpresa quando o falcão, que sempre
acompanha os nômades, foi equiparado ao deus do Sol e, na
imaginação dos antigos egípcios, assumiu a forma do Sol alado,
elevando-se assim acima dos homens terrestres?
Por fim, cabe ainda um comentário a respeito da Ilha de Elefantina.
Segundo Dániken, o nome sugere que, na época dos faraós, os
egípcios teriam conhecido essa ilha em visão aérea. Todavia, nas
cartas geográficas essa ilha, situada no Sul do Egito, tem mais
semelhança com um peixe ou um embrião de rã, do que com um
elefante. Aliás, algumas rochas de basalto, lixadas pelas águas, revelam formas que lembram a imagem desse gigante da fauna africana. Outrossim, o nome Elefantina provém do grego e só chegou a
ser comprovado no primeiro milênio a. C. Os egípcios mais antigos
chamavam a ilha de Abu, o que significa tanto elefante como
marfim. Provavelmente, essa denominação prende-se ao fato de
que, por essa antiga praça comercial no Sul do país, entraram os
produtos das regiões centrais da África e lá foram comercializados,
tanto o ouro e o ébano, como as presas do elefante, sempre em
grande demanda no mercado.
***
Em resumo: o nosso catálogo dos enigmas a desvendar não confere
com o de Dániken. Aquilo que Dániken, em sua primeira investida
no mundo infinitamente rico e multiforme dos tempos faraônicos,
acha enigmático, já foi esclarecido, em grande parte, embora nem
todos os problemas chegassem a sê-lo.
CAPITULO XVI
Comentário sobre Nazca
Por Maria Reiche, Nazca, Pent
APÓS VINTE ANOS DE estudos intensos dos gigantescos desenhos
gravados no solo de Nazca, muita coisa ainda continua enigmática
para mim. Alguns desenhos revelam direções que partem para o
Sol, como, por exemplo, a figura de uma ave, cujo bico está voltado
para determinada direção do Sol, ou de um animal parecido com
gato, de rabo de peixe, cujos contornos continuam em um trecho
reto e que em sua posição também é orientado para o solstício.
Muitas linhas parecem orientadas pelas estrelas, com as duas mais
largas correspondentes a Sírius e Canopus, as estrelas fixas mais
claras.
Em absoluto posso concordar com a opinião de Erich von Dániken,
de que os grandes quadriláteros e triângulos teriam sido campos de
aterrissagem para astronaves. Naves espaciais, bem como táxis
espaciais, dispensam pistas de pouso. Além do mais, o terreno é o
menos apropriado possível, pois, ao invés de calçá-lo, as pedras
foram cuidadosamente removidas da superfície, o que faria
veículos, mesmo automóveis pequenos e leves, atolar na terra mole.
Outrossim, aparelhos de vôo em manobras de aterrissagem levantariam uma espessa nuvem de poeira que, como uma fina camada
de pó, encobriria os desenhos circundantes e assim chegaria a
obliterá-los. Seria o mesmo que se um quadro-negro, no qual se
escreveu, recebesse uma camada branca de pó de giz.
Dániken usa o termo "coordenadas" para as linhas retas e compridas, que cobrem o pampa em forma de rede. Esse termo designa
um conceito usado pela ciência ocidental. No entanto, nas pesquisas
de Nazca cumpre eliminar do subconsciente todo e qualquer conceito ocidental; representa isto uma noção que adquiri nas fases
mais recentes das pesquisas naquele local. Há até quem considere a
harmonia das formas das figuras de Nazca como resultado da aplicação propositada do Corte de Ouro.
O conteúdo do documento, representando os desenhos de Nazca,
deve estar relacionado com a ciência do calendário. As aerofotos de
quadriláteros e triângulos, tiradas de helicóptero, revelam abaixo de
suas linhas e beiradas nada menos de cinco direções de solstício,
entre outros, um triângulo estreito em forma de flecha, um lado do
qual marca o nascer do Sol em 21 de junho, enquanto o outro é
orientado para o por do Sol, em 21 de dezembro. Uma só linha teria
sido o bastante para ambas as datas, quando em oeste e leste o
horizonte tivesse altitude igual. Aqui o ângulo de abertura do
triângulo estreito corresponde matemática e precisamente à deslocação horizontal do Sol, quando nasce por detrás dos Andes.
Em todo o mundo, a posição do Sol no horizonte nessas duas datas
serviu de signo calendário marcante. Em toda parte o Sol era
venerado; sacerdotes e reis autodeterminaram-se "filhos do Sol". As
figuras encontradas nas faldas íngremes perto de Nazca, com
grinaldas de raios circundando a cabeça, evidentemente são imagens do deus do Sol.
Um dos elementos que se deve ter em mente ao tentar explicar os
monumentos e manuscritos pré-históricos e pesquisar os fenômenos
de Nazca é o do encobrimento propositado. Cumpre lembrar que
dados vitais, obtidos por uns poucos indivíduos de capacidade
mental bem acima da média, foram mantidos em sigilo perante o
Desenho do peixe de formas estranhas, no pampa, em Nazca.
povo e serviram como meio para o exercício do poder. Desde a
invenção da agricultura, a ciência calendária é justamente a informação mais importante e vital. Nos antigos povos germânicos
estava em mãos das mulheres.
Us conhecimentos relativos às estações do ano, às épocas de
semeadura e colheita, a fixação de datas para os festejos a elas
ligados, obtidos em observações do Sol, estavam em mãos daqueles
que por nada queriam revelar a fonte do seu saber e que fizeram
passar sua observação do Sol por uma veneração do Sol. üram esses os
grandes heróis, ainda mais poderosos do que o próprio Sol, pois
estava em suas mãos "amarrar" ou "soltar" o astro magno, como
castigo pela insubordinação do povo, quando previam um obscurecimento do Sol.
É. preciso considerar tudo isto ao tentar uma interpretação para
Nazca. Pelos meus estudos anteriores da planície, parece que esta
ciência oculta é constituída por figuras e desenhos geométricos. A
leitura desses documentos gigantescos requer o prévio registro e a
classificação detalhada de todos esses elementos.
Evidentemente, as direções em que as linhas eram traçadas, bem
como suas medidas, tinham significado especial. Parece que os desenhos foram feitos de modo a permitir a decifração da mensagem
neles contida, medindo-se as dimensões esboçadas. Desta maneira,
para o uso de gerações futuras, fixou-se um determinado dado,
obtido em observações de muitos anos das estrelas e sua relação,
considerada casual, com as condições meteorológicas e os terremotos. Somente quem possuir a chave dessa ciência oculta será capaz
de decifrá-la. Certa vez acreditei ter achado essa chave, em forma de
uma unidade de medição válida para todos os casos e que esclareceria os intervalos de tempo., representados por determinados
comprimentos. No entanto, na fase atual de minhas pesquisas fiquei
certa da existência de uma unidade que varia de ligura em figura,
talvez porque nem podia haver um padrão fixo de medição, ou
talvez porque o significado dos desenhos devia ser mantido em
segredo — a exemplo do que acontece na China, onde o padrão de
medição sofre alteração toda vez em que um novo potentado
assumir o poder.
Ao examinar em cada figura de animais o método aplicado em sua
construção, logo se notará seu elevado nível técnico. Por exemplo, o
macaco, constituído exclusivamente de curvas, foi esboçado de
maneira a deixar para a posteridade o seu processo de construção.
As curvas representam uma seqüência de arcos circulares, cujos
centros são marcados por pedras especiais que até hoje continuam
no lugar exato, onde foram depositadas na época. Isto vale também
para as curvas menores, como as que formam os calcanhares ou as
pontas dos dedos. Uma vara fina de madeira de alga-roba,
duríssima, deve ter servido como ponto de apoio para a corda do
compasso. Após o acabamento da figura e remoção das varas, nem
seria preciso marcar os centros de maneira especial, se a construção
não devesse ser fixada no solo para gerações posteriores. Em
hipótese alguma, tais esforços eram destinados a observadores
extraterrestres.
***
Cabe ainda um comentário a respeito do "candelabro de Paracas".
Dãniken afirma que não poderia ter servido de marco costeiro
destinado à navegação; no entanto, fica bem visível para os navios
em passagem de Lima para o Chile. Os capitães dos barcos bem o
conhecem e ainda o mostram aos passageiros, conforme pude
observá-lo pessoalmente. "Além de um deserto de areia não há
nada, mas absolutamente nada que possa atrair os marinheiros para
lá", afirma Dãniken enfaticamente. O fato é que aquela região era o
centro da primeira cultura, altamente evoluída, do Peru, cuja base
econômica era a caça à baleia. Na opinião dos arqueólogos, a cultura
de Paracas representa um salto na evolução cultural, a invasão
repentina por elementos novos de um povo primitivo de caçadores
e pescadores. Mais para o sul, nas proximidades de Ica, foi
encontrado na areia o modelo de uma balsa, em escala menor.
Presumivelmente, foram pescadores de baleia que, em busca dos
locais de desova desses cetáceos e de leões marinhos, vieram a
descobrir e colonizar a Baía de Paracas. Ainda há uns 15 anos atrás,
umas 10.000 baleias por ano foram lá pescadas e industrializadas.
Hoje em dia estão praticamente extintas; talvez se consiga uma por
ano. Aliás, por vezes o "Tridente de Paracas", na Baía de Pisco, vem
sendo interpretado como instrumento semelhante a um arpão.
Presumivelmente, a cultura estendeu-se de Paracas até Nazca. Em
um dos vales ao pé da região dos desenhos na planície, ao lado de
um túmulo violado por buscadores de tesouros, vi a cabeça de um
homem de raça caucasiana: cabeça alongada, rosto oval, queixo bem
acentuado e cabelo louro, comprido e liso. A julgar pelos objetos
dispostos ao seu redor, tecidos de tricôs, assim como penas
multicores e ainda pelas dimensões do túmulo, deveria ter-se
tratado de personagem de categoria elevada, talvez de um rei. Teria
sido um náufrago que, em viagem para o Oriente, veio a parar
naquelas plagas? Ou talvez fosse pessoa de alta linhagem,
seqüestrada e destinada a um potentado oriental, que viajava em
um navio de escravos naufragado? Em todo caso, fica sempre mais
evidente que, em tempos remotos, os peruanos navegaram em altos
mares. Os artistas que criaram os desenhos de Nacza tiveram
relações com o mar, conforme o atestam os numerosos restos de
conchas encontrados nas "áreas de camping" pré-históricas da
planície.
Uns seis quilômetros ao norte de Nazca encontrei a figura de uma
baleia, de quase 60 m de comprimento, que, aparentemente, foi
morta por um arpão no olho. A direção da linha comprida, de quase
6 m de largura, atravessando a figura, corresponde a uma data
pouco antes do solstício de dezembro. Até uns poucos anos atrás,
uma costela de baleia serviu de flecha indicadora para um desvio da
Rodovia Pan-Americana, logo após uma plantação de algodão
(Achaco), situada ao sopé da área onde se encontra a figura da
baleia. O osso enorme deve ter sido encontrado nas imediações e os
círculos nele riscados deixam supor sua data anterior à invasão
espanhola.
Seria de esperar-se que os numerosos testemunhos misteriosos de
culturas antigas, evocados por Dãniken, encontrem sua explicação
definitiva. Todavia, Dãniken considera tudo de um só ponto de
vista; muitos dos assim chamados trajes espaciais bem poderiam ser
máscaras ou capacetes usados contra arremessadores de pesos.
Quem conhece o povo peruano, em grande parte constituído por
descendentes empobrecidos de uma população indígena outrora
altamente evoluída, sabe que, até hoje, a sua força continua sendo a
vocação especial para o trabalho coletivo. Em muitas aldeias dos
Andes todos colaboram quando se constrói uma casa e o progresso
das obras vem sendo festejado (mesmo de maneira bem modesta)
com comes e bebes. Da mesma forma, as estradas são construídas
em trabalho coletivo. Ao ver a ponte de fibras vegetais atravessando
abismos, é fácil imaginar que as grandes massas humanas, habitando o país então populoso, em rigoroso regime de organização
vigente na época, tiveram amplas condições para erguer construções colossais. Isto vale igualmente para os desenhos e disposições
de pedras, encontrados no Norte da China. Freqüentemente, trabalharam com métodos por nós ignorados e ainda hoje o povo dispõe
de conhecimentos que faz questão de manter em segredo absoluto.
***
Seria doutrinário situar no reino da fantasia pura as idéias de
Dániken a respeito de visões de astronautas e gigantes e, em
especial, aquilo que resulta de sua interpretação textual de documentos antigos. Talvez chegará o dia em que seja possível provar
inequivocamente a visita de seres extraterrenos, nos primórdios dos
tempos. Todavia, não consigo considerar como mensagens de tais
seres os desenhos no solo, mesmo se for esta a impressão que transmitirem. Já foram adiantadas especulações várias de como seria
possível levar uma mensagem sem palavras para outros planetas
habitados, entrando nessas cogitações também o teorema de Pitágoras em um desenho superdimensional. Para tanto, os desenhos de
Nazca não servem, pois são melhor visíveis de uma altura de 100 a
200 metros, conforme pode ser verificado, sobrevoando-os com um
helicóptero. Portanto, talvez seria de se supor que os desenhistas
misteriosos eram capazes de ficar suspensos no ar, a essa altura, a
fim de observar, em visão geral, os quadros construídos em trabalho
tão penoso e cuidadoso. Até isto já seria algo de notável.
Aquilo que qualifica o livro de Dániken em matéria de bibliografia é
a indicação de medidas exatas, trazidas dos lugares por ele
visitados. Para mim, constituem dados de interesse especial as
medidas de um nicho, perto de Sacsayhuama, a saber: 0,83 m X 2,16
m X 3,40 m, ou seja, uma relação de grandeza de 1,94 : 5,04 : : 7,94,
que se situa dentro de uma escala de precisão de 2,5 cm, com a
proporção de 2 : 5 : 8 multiplicada por 0,427 cm. A meu ver, medida
análoga deve ter sido aplicada em muitos outros desenhos de
Nazca, nos quais corresponde a meio comprimento de corte. Se
Dániken continuar trabalhando nessas linhas e trouxer dados
exatos, suas pesquisas chegarão a ter verdadeiro valor científico.
Onde Fui Mal Interpretado Por Meus Críticos
Por Erich vori Dániken, Davos, Suiça
A QUESTÃO PRIMARIA levantada em minhas obras não é a de quem
está com a razão, pois jamais tive a menor dúvida de que, segundo o
critério científico, eu ainda não podia estar com a razão, em base do
material apresentado. Minha pergunta foi formulada da seguinte
maneira: Poderia ter sido assim?
Estou sendo censurado por trabalhar de maneira "anticientífica", de
expor seqüências de idéias "proibidas pela ciência". Em minha
defesa gostaria de salientar que meus livros não constituem tratados
científicos especializados, nem sou cientista. Jamais pretendi isto.
De um cientista espera-se que seja especializado. Outrossim, um
cientista de capacidade fora do comum pode até dominar três ou
quatro especialidades diferentes; no entanto, ninguém pode esperar
que um cientista fosse versado em Física, Biologia, Arqueologia,
Teologia, Matemática, Geologia, Antropologia, Filosofia, Filologia,
Medicina, Etnologia e Astronomia. Então — por que isto se espera
de mim? Aliás, está errada a opinião largamente difundida de os
cientistas se exprimirem de maneira cautelosa e deixarem de dar
publicidade a meras especulações. Peço que me seja poupado o
trabalho de enumerar os "fatos" publicados na literatura especializada, com os quais capacidades das mais diversas
especialidades ficaram completamente desacreditadas.
Quando resolvi escrever "Eram os Deuses Astronautas?" e "De Volta
às Estrelas" (um terceiro volume está sendo preparado), era meu
intuito primário esquentar um pouco o interesse bastante desanimado a respeito de uma visita extraterrena à nossa Terra. E,
para tanto, sabia perfeitamente que de nada adiantaria um seco
tratado científico. Era minha intenção proporcionar elementos
quentes, capazes de gerar seqüências de idéias, reunir argumentos
que dessem motivo a debates acalorados; e esse intuito também
implicou em desferir ataques. Contudo, ainda falta muito para
esgotar todos os "argumentos para o impossível". De outro lado,
não procede a acusação de eu ter distorcido tudo e todos os
elementos, para adaptá-los à minha teoria do espaço cósmico. Para
tanto, peço reler o respectivo trecho na página 85 de "ERAM OS
DEUSES ASTRONAUTAS?":
"Numa discussão sobre os aspectos completamente inéditos que
estamos introduzindo na pesquisa do passado, pode surgir a
objeção de que não seria possível reunir toda e qualquer coisa que
na tradição indicasse fenômenos celestes, numa seqüência de provas
a favor de uma astronáutica pré-histórica! Nem é isso que estamos
fazendo. Estamos apenas indicando passagens em remotíssimos
escritos que, nos moldes do pensamento em vigor até o presente,
não encontram lugar. Verrumamos com nossas perguntas naqueles
pontos, evidentemente desagradáveis, onde nem escribas, nem tradutores, nem copistas, poderiam ter tido qualquer idéia das ciências
e dos produtos que dela resultam. Estaríamos prontos, imediatamente, a tomar as traduções como falsas, e as cópias como pouco
exatas — se, ao mesmo tempo, essa herança falsa e imaginosamente
enfeitada não fosse plenamente acolhida assim que se encaixasse no
arcabouço de qualquer religião. É indigno de um pesquisador negar
o que perturba sua forma de pensar e aceitar tudo quanto apoia
suas próprias teses. Com que forma e vigor se apresentaria minha
hipótese se aparecessem novas traduções feitas com 'olhos espaciais'!".
Há um mal-entendido fundamental passando como um fio vermelho por todas as críticas. Explicam ser impossível o acasalamento
de astronautas com os filhos da Terra, em virtude dos números diferentes de cromossomos. Além disto, argumentam — e com razão —
que, teoricamente, é quase nula a probabilidade de os astronautas
serem de espécie semelhante à do homem. Dizem que minha especulação é pura fantasia, que eu vejo as coisas de maneira diferente.
Todavia, também eu faço parte das pessoas que acreditam no acaso
incrível da existência de uma evolução em paralelo em um sistema
solar distante. Evidentemente, em minhas obras deixei de frisar este
ponto com clareza suficiente. Ou será que Dãniken é de digestão tão
difícil?
Pois nem se trata da questão se os astronautas alienígenas que
visitaram a Terra milênios atrás eram ou não semelhantes ao
homem terrestre. Nós homens — e é este o ponto essencial — somos
criados semelhantes aos "deuses".
A Bíblia diz que Deus criou o homem "segundo a sua própria
imagem". Assim sendo, os astronautas alienígenas não são
parecidos com o homem, mas sim, o homem parece-se com os
astronautas; e isto não é a mesma coisa. Aceito este ponto, outra
contradição desfaz-se por si só: dizem que não tem sentido insinuar
que os deuses estranhos teriam usado trajes espaciais, como estão
sendo usados pelo homem do século XX. Dizem que, igualmente,
não tem sentido afirmar que os visitantes lendários teriam possuído
capacetes e antenas, conforme os conhecemos hoje em dia. Todavia,
tudo isto não é nem absurdo, nem devido ao acaso. Partindo da
hipótese de ser o homem "parecido com Deus", é apenas lógico que
hoje em dia se comporte como os deuses se comportaram em
tempos idos. Um recém-nascido, seja filhote de animal, ou filho de
homem, sempre evolui para um adulto de sua própria espécie. De
maneira análoga, o homem evolui gradativamente em direção dos
"deuses espaciais" adultos. Em ERAM OS DEUSES ASTRONAUTAS? opinei a respeito: "Em conjunto com a hipótese da visita de
seres inteligentes estranhos, do Cosmo a nossa Terra, podemos
supor que hoje somos de espécie semelhante àquela dos estranhos
seres lendários" (I, pág. 60). E em DE VOLTA ÀS ESTRELAS
precisei: "Nós todos vivemos, desde tempos remotos, numa espiral
de evolução, que nos conduz incessantemente para o futuro, a um
futuro que — como estou convencido — já foi uma vez passado; um
passado que não é da humanidade, mas dos 'deuses', que age em
nós e que, um dia, será outra vez presente" (II, pág. 69).
Para tanto, jamais era preciso o acasalamento no sentido do ato
sexual. Pois o que conta não é o número diferente de cromossomos
apresentado por seres extraterrestres e terrestres, mas sim os conhecimentos genéticos dos astronautas desconhecidos. A substância,
estranhamente formada, os aglomerados que chamamos de cromossomos, nada mais representa do que milhares e mais outros milhares de genes. Apesar de muitos prognósticos em contrrio, em fins
de 1969 conseguiu-se isolar um só gene e, em maio de 1970, a
imprensa mundial noticiou a produção sintética de um gene por
Har Gobind Khorana, Prêmio Nobel. O colega de pesquisas de
Khorana, Salvador E. Luria, emitiu o seguinte comentário a respeito:
"Ao menos em princípio, o homem feito sob medida tornou-se uma
possibilidade antes do que pensávamos".
O gene é o portador dos fatores hereditários. No entanto, os dados
genéticos fundamentais já estão encerrados na macro-mo-lécula ADN
(ácido desoxirribonucléico). Por conseguinte, muda-se a seqüência
básica dentro de uma molécula ADN e, mediante mutação artificial,
cria-se um novo ser. Estou plenamente cônscio das dificuldades
extraordinárias, quase intransponíveis, que tal criação implicaria.
As possibilidades de variação são enormes. Contudo, se eu seguir a
linha direcional de minha hipótese, posso partir da suposição de
astronautas alienígenas, capazes de vencer espaços interestelares,
também terem tido os conhecimentos extraordinários no campo da
biologia molecular, necessários para criar um ser inteligente,
segundo a sua própria imagem, transformando assim o hominídeo
primitivo que encontravam na Terra.
No que se refere à descendência do homem, estou plenamente de
acordo com os teóricos da evolução. Para tanto, peço reler a respectiva passagem em DE VOLTA ÀS ESTRELAS: "Contudo, podemos retraçar perfeitamente, através de milhões de anos, a marcha
evolutiva que levou do hominídeo ao Homo sapiens". Evidentemente, esta passagem não chegou a ser notada, pois fez-se a pergunta: "Como é que Dãniken entende a evolução? Toda vez em que
o termo "mutação" aparece em suas exposições, não pode ter o
significado que lhe é dado pelo biólogo". E em outro trecho: "o
autor... avança a idéia de a antropologia, em seu progresso, até
agora considerar a transição do hominídeo para o homem devida a
uma só mutação. Nenhum antropólogo ou biólogo a ser tomado a
sério jamais considerou a transição do hominídeo para o homem
como devida a uma só mutação". Ignoro a razão pela qual Dáni-ken
seria de tão difícil leitura, pois, em DE VOLTA ÀS ESTRELAS
(págs. 26/27) escrevi claramente: "Centenas de milhões de anos
tiveram de passar para que o primata sofresse as mutações naturais
que o transformariam em antropóide". Por conseguinte, sou da
mesma opinião dos representantes da ciência.
A minha pergunta não foi assim formulada: Como foi que o homem
se originou? Estamos, pois, de acordo quanto à história da origem e
descendência. O que eu perguntei foi: Quando, como e por que
meios o homem se tornou inteligente? Um ser parecido com o
homem, capaz de confeccionar ferramentas segundo um sistema
racional, ainda fica longe de ser um homem inteligente. Conforme
comunicação de Leaky, diretor do Centro Nacional de Pesquisas
Pré-Históricas e Paleontológicas em Nairobi, os achados feitos em
Fort Teman comprovam inequivocamente que o kenyapithecus
wickeri confeccionou ferramentas angulosas e o homo habilis, de
Olduvai, usou ferramentas simples, dois milhões de anos atrás. Na
primeira edição de "Abbottempo", de 1970, Leaky informou que
Jane Goddall visitou chimpanzés selvagens em seu habitat natural e
lá verificou que esse primo mais longínquo do homem confeccionou
e usou regularmente grande variedade de ferramentas simples.
Portanto, faz muito tempo que existem seres parecidos com o homem,
confeccionando e usando ferramentas, mas faz pouco tempo que
existem seres parecidos com o homem que veneram divindades,
pintam paredes de cavernas, cantam canções, conhecem o conceito
de vergonha, cultivam a amizade; esses seres existem apenas há
pouco. E é a isto que se prende minha pergunta; e é aqui que coloquei minha "mutação artificial".
Alguns autores calcularam com precisão o porquê de ainda não
termos condições para atingir sistemas vizinhos de estrelas fixas.
Eles estão com a razão. Eu me limitei apenas a perguntar: Por
quanto tempo ainda? Em minhas obras não falo de naves espaciais
tipo 1970, segundo o calendário terrestre; falo de naves utópicas, do
futuro, como as que os "deuses" astronautas deveriam ter usado no
passado. Nessas especulações são de pouca importância os cálculos
de quantos milhares dc anos levaria uma viagem espacial para a
estrela fixa mais próxima da Terra, pois ser racional algum levantaria vôo para as imensidões do Cosmo com os mecanismos de propulsão atualmente ao nosso dispor. Portanto, carecem de valor
cálculos de massa, peso de partida, combustível e carga útil, visto
que uma só invenção decisiva — por exemplo, a eliminação da gravidade — invalidaria esses cálculos todos.
Quanto a meus "argumentos para o impossível", dizem meus críticos: "Mil exemplos para a probabilidade, de 1:1.000, de uma solução em nada alteram sua improbabilidade, ou tornam mais provável a solução, do que teria sido com a apresentação de um só caso
concreto. São essas as leis da Matemática e, ao mesmo tempo, os
dogmas filosóficos de nossa razão, que não admitem discussão".
Este ponto é discutível e muito. Pois um só indício não possui a
força de expressão de dez indícios. Eu não apresento provas de
minha teoria, mas apenas enumero indícios e faço perguntas. (Em
ERAM OS DEUSES ASTRONAUTAS? faço um total de 323
perguntas!) Será que foi lido este trecho de ERAM OS DEUSES
ASTRONAUTAS?: "Admitamos que essa especulação ainda se
ressente de muitas lacunas. 'Faltam as provas', dir-nos-ão. O futuro
mostrará quantas dessas lacunas podem ser preenchidas. Este livro
apresenta uma hipótese feita de muitas especulações; de modo
algum é preciso que, por isso, seja 'real'. Comparando-a, porém, às
teorias de que vivem, incontestavelmente, várias religiões, sob a
proteção de seus tabus, desejamos atribuir também à nossa hipótese
uma percentagem mínima de probabilidade" (I, págs. 70-71).
Para os apologistas do Antigo Testamento tudo é comprovado. Em
estudo mais detalhado, para mim é sempre menos aquilo que me
parece comprovado. Quem conhece os textos sumérios sabe que o
Antigo Testamento se serviu de modelos sumérios. Gilgamés, o
sumério, é idêntico ao Noé da Bíblia; só que Gilgamés é, comprovadamente, bem mais antigo. A estória de Moisés, abandonado na
cestinha e encontrado pela filha do faraó, já se encontra com Sargão
I; ademais, tem paralelos inequívocos no Maabarata, a epopéia
hindu. De onde provém então o material usado nos cinco livros de
Moisés? Na escrita cuneiforme dos sumérios, o caráter para
'costela' é 'ti' e significa também "força vital". Por conseguinte,
agora, na época espacial, não seria o caso de a tradução moderna da
Bíblia dizer: "E Deus retirou de Adão a força vital"? A força vital, ou
seja, toda a vida, tem sua sede na célula e é justamente aí onde
chegamos atualmente no campo da biologia molecular. Assim
sendo, eu repito: uma nova tradução dos textos antigos, vistos sob
ângulos modernos, poderia revelar conhecimentos surpreendentes.
Quem nos garante que o profeta Ezequiel deu um relato de
testemunha ocular e não copiou uma tradição mais antiga, transcrevendo-a em forma de pronome pessoal da primeira pessoa, conforme aconteceu com certa freqüência no Antigo Testamento? Em
sua obra especializada "Near Eastern Texts relating to the Old
Testament" (Textos do Oriente Próximo relativos ao Velho Testamento), publicada nos E.U.A., em 1950, James Pichard revelou
algumas fontes originárias do "Livro dos Livros". O mesmo foi feito
por S. N. Kramer, em "A História Começa com os Sumérios", de
1959, e no meu "Eram os Deuses Astronautas?" salientei notáveis
concordâncias literais existentes entre textos sumerianos e antigos
hindus, de um lado, e o Antigo Testamento do outro lado. Com isto
quero dizer que a datação exata da época de vida de um profeta
proporciona poucos dados exatos a respeito de um acontecimento por
ele descrito.
Perguntam a mim: "O que seria de anjos-robôs ou dispositivos de
controle em lugar dos assim chamados deuses, quando, pelo testemunho da Bíblia, Deus nunca está ausente, mas sempre e em toda
parte se encontra equitativamente próximo de cada ser?"... Por que
— pergunto de volta — tais "anjos-robôs" e "dispositivos de
controle" aparecem desde os textos sumerianos? (II, pág. 160 e
segs.). E por que Deus, o onipotente e "sempre presente" viaja de
veículos e aparelhos voadores, provocando barulho infernal, assustando seus filhos prediletos e, ao que parece, jamais está "sempre
presente" quando dele se necessita? De fato, é o caso de ser crente,
de verdade. Nem estou transpondo para o campo da tecnologia
"todo o ser religioso". Contudo, em minha opinião, nada em absoluto têm a ver com o deus indefinível aqueles seres que surgiram
na Antiguidade e foram confundidos com Deus.
Espero com ansiedade a publicação da obra anunciada de Irene
Sãnger-Bredt (a ser editada brevemente pela Econ Verlag), pois ura
moderno desvendamento de mitos promete novas descobertas.
Também chamaram minha atenção para o fato de não apenas
personagens mitológicos, como, por exemplo, Moisés, mas também
históricos, como Alexandre Magno, terem sido retratados de cornos
na cabeça. É aqui onde gostaria de pegar: E por quê, então? Em
minha opinião, os imperadores, reis, faraós ou papas com seus
adornos de cabeça nada mais fizeram do que copiar uma tradição
antiquíssima. As figuras de cornos e de auréola já são encontradas
nas pinturas rupestres. Evidentemente, trata-se de exprimir atributos bem tradicionais, tais como a supremacia, a força, a primazia
ou a liderança. Assim sendo, não é nada surpreendente que, no
desenrolar dos milênios, tais adornos de cabeça tenham evoluído
para coroas e tiaras. Naturalmente, o arqueólogo argumentará que
os seres cornudos nas paredes das cavernas nada têm a ver com
"antenas", por tratar-se simplesmente da representação de chifres de
animais. Contudo, esta é também apenas uma suposição, pois, na
era da pedra, decerto, houve símbolos mais óbvios para a força e o
poder do que cornos e chifres. De um povo primitivo em sua fase de
despertar, eu esperaria antes pinturas acentuando, digamos, as
partes genitais, ou mostrando braços exageradamente musculosos,
mas "auréolas" — isto nunca!
Por quanto tempo ainda a Arqueologia, esta "ciência das suposições", — como ela se autodenominou — continuará ajeitando na
camisa de força da religião ou da magia tudo e todos os elementos
que não consegue interpretar? Pelo menos a mim, em muitos casos
— são até demais — deixam de convencer as interpretações arqueológicas dos desenhos pré-históricos.
E às censuras dos meus críticos, reprovando-me por ver com meus
"olhos espaciais" invariavelmente antenas, onde há auréolas ou
cornos e naves cósmicas onde há espirais e bolas, gostaria de
replicar: Quando o especialista em pré-História vê auréolas ou
cornos, para ele, trata-se invariavelmente de chifres ou símbolos
mágicos e quando descobre desenhos de espirais ou bolas, então,
sempre acha que devem ser relacionados com um rito ou um culto.
No entanto, pergunto a mim mesmo, por que é que essas "auréolas"
se encontram em toda parte do globo? Por que razão os artistas das
cavernas, separados por oceanos, tiveram a mesma mania? Por que
o símbolo de cornos ou auréolas ressurge em tempos mais
adiantados como coroa e por que as bolas adquirem asas, na me-
dida em que nos aproximarmos de construções históricas (sumários
e egípcios)? Ademais, permitam-me falar aqui com toda a franqueza
que eu observo desenhos pré-históricos de um ponto de vista menos
parcial do que o perito na matéria. Eu me encontro diante dessas
obras de arte como uma criança, como uma criança que leu com
surpresa antiquíssimos textos sagrados, que sempre falaram em
"naves celestes", "pérolas nos céus", "armas dos deuses". Essas tradições, aliadas aos achados pré-históricos, deram-me o que pensar.
Todavia, um elemento sem o outro não teria sido o suficiente para
tanto.
Acho desaconselhável sentir-se tão seguro assim no que diz respeito
à datação de desenhos pré-históricos, pois cada novo desenho
descoberto vem sendo enquadrado numa hipótese de trabalho
adiantada em uma época qualquer. As pressuposições para tal
hipótese poderiam estar erradas. Até agora inexistem datações científicas, exatas, para desenhos rupestres e os restos de ossos ou carvão
vegetal, por acaso encontrados dentro da caverna, em absoluto atestam com segurança se pertencem ou não à época em que viveu o
artista. As datações dos peritos em pré-História baseiam-se em suposições. Quem, no entanto, pode garantir que estejam certas?
Segue-se, a título de exemplo, uma ocorrência de data recentíssima:
os arqueólogos costumam operar com termos tais como "era do
cobre" e "era do bronze", que, respectivamente, designam períodos
bem extensos. Assim aconteceu que achados feitos no Cáucaso, de
uns 5.000 anos atrás, foram classificados como pertencentes à "era
do cobre". O Laboratório do Instituto de História e Academia das
Ciências de Azerbaidjan, em Baku, ao fazer o teste pela análise
espectral, verificou que esses "achados de cobre" realmente eram de
bronze; não de bronze com liga de zinco, mas sim com liga de
arsénio (o cobre apresentou até 14% de teor de arsénio). Os
arqueólogos deviam admitir então que erraram ao classificar as
peças achadas como pertencentes à era do cobre. Neste caso, a
análise espectral deu dados exatos sobre achados que já haviam
ocupado seu lugar definitivo, mas errado, dentro do padrão mental
dos arqueólogos. E é justamente isto o que reprovo à Arqueologia:
ela deveria colaborar de maneira mais intensa e estreita com outras
disciplinas e deixar de basear sua evolução nas "noções" antigas,
preestabelecidas. Aliás, no caso, o resultado da análise espectral
levanta toda uma série de perguntas novas.
De onde o homem daquela época conheceu o arsénio? Por 3.000
anos antes da era cristã, usou-se arsénio no Cáucaso ' invés de
outros minerais mais comuns, como, por exemplo &Q chumbo? Na
revista da BASF (Sigla de Bayerische Anilin- und Soda-Fabrik =
Fábrica Bayer de Anilina e Soda), de abril de 1970 o Prof. I. R.
Selimchanov comenta a respeito: Não se pode partir da hipótese de
que os fundidores da Antiguidade tivessem descoberto o arsénio no
Cáucaso e, muito menos ainda, de que teria sido usado na liga do
cobre.
Desde a publicação do meu livro "Eram os Deuses Astronautas?"
estou sendo inundado com cartas procedentes do Egito. Mandamme ilustrações de relevos, mostrando operários egípcios da época
de Ramsés I, erguendo colossos com suas ferramentas rudimentares. Recebo livros "comprovando" de que maneira os antigos
egípcios recortaram seus enormes blocos de pedra. Transcrevem-se
citações de egiptólogos de renome, para "provar" que os faraós
transportaram seus obeliscos em navios e trenós. Pois bem, jamais,
em trecho algum de minhas obras, aleguei que os astronautas teriam erguido as construções históricas. Outrossim, no volume I, pág.
98, levantei a pergunta se foi o Faraó Quéops quem inspirou e
encomendou as obras da grande pirâmide que leva seu nome. E isto
eu fiz com boas razões, pois na Biblioteca Bodleyana, em Oxford, há
um manuscrito do escrivão copta Mas-Udi, afirmando que o rei
egípcio Surid teria mandado erguer a grande pirâmide. Acontece
que Surid viveu antes do grande dilúvio no Egito, conforme
confirma Heródoto no segundo livro de suas "Histórias" (capítulos
142 e 143), no qual informa que, em visita a Tebas, os sacerdotes lhe
mostraram 341 figuras colossais, representando as gerações de
sacerdotes ao longo de 11.340 anos. De maneira notável Heródoto
conta ainda como soube pelos sacerdotes que, anteriormente a essas
341 gerações de sacerdotes, os deuses conviveram com os homens
na Terra. Há uma referência a respeito no meu livro "Eram os
Deuses Astronautas?" (pág. 99). Eu duvido da datação das
construções monumentais mais antigas e misteriosas do Egito. Salta
aos olhos a localização da grande pirâmide, pois encontra-se
exatamente em um determinado ponto estratégico do globo; para
mim, ela revela "acasos" matemáticos demasiados. Como há tantos
elementos em franca contradição com as explicações padrão para a
escolha desse local, permito-me perguntar talvez aqui também os
"deuses" estariam metidos e, se estivesse apenas pela mediação dos
sacerdotes? (I, pág. 96).
O que podem provar os relevos que mostram os dispositivos de
levantar pedras e os andaimes usados nas obras dos antigos
egípcios? Ramsés era um faraó do Novo Reino e não vejo o que
documentos pictoriais de um potentado desse reino possam elucidar a respeito dos métodos de construção em uso nos tempos das
primeiras dinastias, pois há um intervalo de mais de um milênio
entre as duas épocas. E isto, certamente, é muito tempo. Da mesma
maneira, um arqueólogo do futuro poderia julgar a foto de um
palácio de vidro, pré-fabricado, em fase de montagem, de nossa era
e asseverar: "Enfim, chegamos a saber como os homens da Idade
Média ergueram as suas catedrais".
E minha pergunta continua sendo: Quem (ou o quê) deu o impulso
na Antiguidade egípcia? Por que a grande pirâmide se encontra lá
onde está? Será mesmo obra de Quéops, cujo reinado foi de apenas
23 anos? Decerto, há entre os obsoletos materiais de construção
"madeiras arredondadas" e "cunhas de cobre, recortadas". Sem
dúvida, houve um tempo em que se usaram tais elementos. No
entanto, eu fico aguardando a divulgação de dados exatos e precisos
a respeito de quando determinado pedaço de madeira foi empregado
em determinada obra de construção. Hoje em dia, os testes físicos
poderiam fornecer tais dados. A mim deixam de convencer as
especulações sobre como a grande pirâmide deve ter sido construída
(plano inclinado, pistas de areia, andaimes, rampas, colocação de
pedras, rolos de madeira), em vista da quantidade de pedras a serem
trabalhadas com as ferramentas, cujo uso se concede ao ano de 2500
a. C.
Maria Reiche, a única conhecedora profunda da planície de Nazca,
em absoluto pode concordar com minha hipótese de os quadriláteros
e triângulos terem sido pistas de aterrissagem para naves cósmicas.
Ela alega que naves espaciais ou táxis espaciais dispensam pistas de
pouso e, ademais, o terreno seria o menos apropriado possível.
"Outrossim, aparelhos de vôo em manobras de aterrissagem
levantariam uma espessa nuvem de poeira, que, como fina camada
de pó, encobriria os desenhos circundantes e assim chegaria a
obliterá-los."
Tenho profundo respeito pelos trabalhos de Maria Reiche, pois sei
das dificuldades dos seus estudos penosos, sob o sol escaldante da
planície, praticamente sem auxílio financeiro de monta. Apesar
disto, gostaria de referir-me à minha hipótese, levantada em "De
Volta às Estrelas" (págs. 120, 121), partindo de pressuposições total
mente diferentes: "Na proximidade da atual cidadezinha de Nazca
em alguma época, desceram sobre a planície despovoada
inteligências alienígenas e instalaram um campo de pouso
improvisado para suas naves espaciais, que deviam operar perto da
Terra. No terreno ideal, instalaram duas pistas. Ou marcaram eles
as pistas de aterrissagem mediante uma substância desconhecida
por nós? Os cosmonautas desempenharam-se — mais uma vez —
das suas tarefas, e voaram de volta ao seu planeta.
"As tribos pré-incaicas, porém, que haviam observado os seres
estranhos, que tão profunda e imponente impressão lhes causaram,
em seu trabalho, desejavam ardentemente o regresso desses
'deuses'. Esperaram anos, e como seu desejo não fosse satisfeito,
começaram — assim como o haviam visto fazerem os 'deuses' — a
construir novas linhas na planície. Assim formaram-se os
complementos das duas pistas primitivas.
"Os 'deuses', porém, ainda não apareciam. O que teriam feito de
errado as tribos? Com o que haviam aborrecido os 'celestiais'? Um
sacerdote lembrou-se de que os 'deuses' haviam vindo das estrelas e
deu o conselho de orientar as linhas de chamada em direção às
estrelas. O trabalho recomeçou. Formaram-se as pistas orientadas
segundo os astros.
"Os 'deuses', porém, permaneceram ausentes.
"Gerações haviam nascido e novamente morrido, no intervalo. As
pistas originais, as genuínas, das inteligências extraterrestres, de há
muito que haviam caído em ruína. As posteriores gerações de
índios somente através de relatos orais sabiam a respeito dos
'deuses' que um dia, no passado, haviam descido do céu. Os sacerdotes transformaram os relatos de fatos reais em tradições sagradas
e exigiram que cada vez mais se providenciassem novos sinais para
os 'deuses', a fim de que algum dia voltassem.
"Como não haviam logrado êxito com o traçar de linhas, começaram
a sulcar grandes figuras de animais. Primeiro representaram
pássaros de todas as espécies, pássaros que deveriam simbolizar o
vôo. Mais tarde, a imaginação lhes emprestou os contornos aranhas,
macacos e peixes".
Portanto, para mim não se trata de quadrângulos, nem de
triângulos, nem todas as linhas. Em seu pequeno livro "Enigmas
do Deserto", Maria Reiche mencionou que os desenhos na planície
je Nazca foram, comprovadamente, criados ao longo de um inter-alo
de tempo extenso, sendo que as figuras de animais são de data mais
recente que os sistemas lineares geométricos. Por conseguinte,
aterrissagem por mim admitida não teria encoberto os desenhos
com "uma camada de pó branco", pois ainda nem existiam quando
os "deuses" vieram a pousar naquelas pistas. No que se refere à
terra mole, a mim parece bastante dura nos lugares onde se encontram as linhas mais largas. Ademais, posso muito bem imaginar
um veículo que necessita de pista de aterrissagem, mas dispensa a
base de concreto para seu pouso ou sua decolagem, pois, eventualmente, poderia funcionar segundo o princípio do travesseiro de ar.
Outrossim, seria o caso de aguardar-se a análise química dos rastos.
As pistas poderiam ter sido feitas de uma substância sintética, ou de
grades metálicas; ambas estão condenadas a decompor-se ao longo
dos milênios. E o que resta é justamente aquilo que, hoje em dia,
encontramos na planície de Nazca!
Vamos citar mais um ou outro dos pontos levantados por meus
críticos. "O homem congelado é inapelavelmente morto", é o que
leio em certa passagem; outra passagem diz: "Congelando-se parte
do líquido celular, a concentração do sal sobe a um nível intolerável
e, além do mais, as paredes das células podem chegar a ser
destruídas pelas pontas de gelo formadas durante o processo. Todavia, ambos esses fenômenos desfavoráveis poderiam ser eliminados — e, para tanto, já se está trabalhando; se esses trabalhos forem
bem sucedidos, nada mais haveria contra o uso da hibernação em
viagens cósmicas". Pergunto eu, então: a opinião de qual desses dois
peritos deve prevalecer?
Tirei meus conhecimentos do livro "The Prospect of Immor-tality"
(A Perspectiva de Imortalidade), por Robert C. W. Ettinger,
professor de Física no Highland Park College, em Michigan. A respeito do congelamento do homem gostaria de mencionar ainda mie,
em 12 de janeiro de 1966, o corpo de James M. Bedford foi
submetido ao processo de congelamento por médicos de um posto
sanitário em Glendale, Califórnia, e que, desde janeiro de 1966, mais
de mil pessoas requereram seu registro na "Life Extension
ciety" (Sociedade para a Extensão da Vida) em Washington, para o
congelamento do seu corpo. (Se eu puder arcar com as despesas,
providenciarei também o meu registro.)
Asseguraram que a explosão na Taiga da Sibéria, ocorrida em 1908,
"em essência, pode ser explicada como a queda mecânica de um
corpo meteórico". Quando, em maio de 1968, passei uma semana
em Moscou, telefonei, entre outros, ao geofísico Prof. Solotov, o
qual, em 1963, chefiou uma expedição para a Tunguska, por ordem
da Academia Soviética de Ciências. Eu perguntei: "Foi uma
explosão atômica — sim ou não"? Inequivocamente respondeu
Solotov: "Foi uma explosão atômica".
No que se refere aos mapas de Piri Reis, dizem: "Portanto, não
faltam elementos para a confecção de mapas geográficos equidistantes, azimutais". Pode ser; todavia, não se compreende por que
tais mapas foram confeccionados de regiões desconhecidas no
Oriente (América do Sul e a Antártida). Acho que dificilmente
haverá quem arrisque a afirmação de que nossos antepassados, com
seus olhos de raios X, teriam cartografado as linhas litorâneas da
Antártida, através da espessa camada de gelo para, em seguida —
por sua alta recreação — pintá-las em um mapa equidistante,
azimutal!
Reprovam-me por não ter lido o bastante. De onde e como se sabe
quanto li? A minha bibliografia indica apenas os títulos imediatamente relacionados com a matéria. Não sou do tipo daqueles
que mencionam todo e qualquer livro visto e lido em qualquer
época e qualquer parte, fazendo constá-lo em sua bibliografia, pela
maior glória de sua vasta cultura. Ademais, não concordo com
muitas das obras consultadas, para que então enumerá-las? Algumas foram de proveito, mas, apesar disto, suas conclusões auto-suficientes constituíram para mim tanto motivo de zanga, como, evidentemente, os meus livros constituíram para meus críticos.
Aliás, a citação: "Os cientistas comportam-se como gansos gordos,
que não querem digerir mais nada. Idéias novas são simplesmente
recusadas por eles, como sem sentido!", não é de minha autoria,
mas, justamente, de um cientista com diploma em várias especialidades, do "pai do vôo espacial", do Prof. Hermann Oberth.
Assim — e de nenhuma outra maneira — pode-se ler esta passagem
em "Eram os Deuses Astronautas?" (pág. 146).
Ao terminar, gostaria de consignar meus agradecimentos a todos os
que participaram do debate, em especial a Ernst von Khuon, pela
sua Introdução. Gostaria de ter respondido a cada uma das
contribuições em separado. Um contra (quase) todos. Por falta de
espaço não podia fazê-lo. Assim sendo, limitei-me a salientar
apenas um ou outro mal-entendido. Aliás, diversas perguntas
levantadas em minhas obras deixaram de ser consideradas. Quem,
por exemplo, tiver assistido ao filme "Eram os Deuses Astronautas?"
deixará de afirmar que a figura no sarcófago de Palenque representa
um "índio nu", no "altar de sacrifícios", que seu adorno de cabeça é
um "penacho" e as linhas por mim interpretadas como chamas,
saindo do sistema de escape, são "fios de barba, estilizados, do deus
do tempo". Isto me faz rir! Terei a minha vingança quando, nos
próximos anos, poderei demonstrar minha hipótese com provas
irrefutáveis, cientificamente fundamentadas. Só que, então, já terá
perdido sua qualidade de hipótese!*
* hipólese (termo grego = suposição), desde Platão a pressuposição (condição);
desde Newton a suposição (causa ficta) admissível para explicar fenômenos, mas
ainda não aceita como a única possível e válida explicação para determinado
estado de coisas. As hipóteses são indispensáveis em sua qualidade de hipótese
de trabalho. Indicam o caminho a ser seguido pela pesquisa e, por exemplo,
levam-na a empreender experiências decisivas. Em muitos casos, as hipóteses
revelam a força e fantasia criadora do pesquisador. A maioria das teorias eram
hipóteses antes de passar para o inventário seguro da ciência (a teoria do átomo,
a teoria de Copérnico, a teoria dos quanta), outras chegaram a ser superadas por
teorias acertadas (flogisto*, éter*'). (Der Grosse Brockhaus, XVI Edição, volume
V, pág. 606).
_________
* flogisto: teoria que considerava o fogo como sendo matéria (N. da T.).
** éter- fluido hipotético com que se explicavam os fenômenos do calor e da luz
(N. da T.).
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