Carvalho Neto, C. Z. Terra: um só lugar no Universo Como tudo

Carvalho Neto, C. Z.
Terra: um só lugar no Universo
Por Cassiano Zeferino de Carvalho Neto
Uma rua movimentada, no centro de uma Megalópole, trânsito congestionado, às
12h00. Há 150 quilômetros dali uma vistosa carroça, puxada por dois corcéis de pelos brancos
e negros, transporta um casal para fazer um almoço no campo. Um jovem, ao computador em
uma biblioteca pública, acessa a Internet em busca de informações sobre as condições
climáticas no próximo final de semana e uma criança acaba de nascer, em Fortaleza, enquanto
outra chora pedindo mamadeira em São Paulo. Uma queimada criminosa irrompe em meio à
mata na região do centro-oeste, sem que praticamente nada se possa fazer para contê-la. Num
cartório, em Brasília, mais um termo de posse é lavrado enquanto uma senhora paga as
compras em um supermercado da Rua Oito, às 12h00.
Incontáveis eventos ocorrem numa pequena fração de tempo, por todo o planeta. A
complexidade e o emaranhado das relações humanas e estas com o meio ambiente cresce
exponencialmente, em fase com o crescimento da população mundial dentro de alguns anos
estimada para 9 bilhões de pessoas.
Tudo parece normal e paradoxalmente aberrante, violência em busca de alguma paz,
quem sabe dinâmica e fugidia, ainda que circunstancialmente possível para esta, assim
chamada, humanidade.
Como tudo começou?
A teoria hoje mais bem aceita pela comunidade científica a respeito da origem de
tudo, isto é, do Universo, é a do Big Bang – a Grande Explosão. Há aproximadamente 15
bilhões de anos atrás um evento singular apresenta-se, proporcionando as condições iniciais
Carvalho Neto, C. Z.
que levaria à formação das galáxias, a morada das estrelas. Posteriormente ocorreria a
formação dos planetas (não só os do relativamente minúsculo Sistema Solar ao qual pertence
uma pérola azul chamada Terra), bem como de todos os outros objetos conhecidos. Sobre os
desconhecidos se pode citar a chamada Massa Escura responsável por 90% de todo o universo
e para a qual os cientistas não têm nenhuma explicação plausível, ainda: simplesmente não se
sabe nada a respeito dela!
O Sol mais próximo da Terra é uma Estrela de proporções acanhadas quando
comparada a outras dentre as mais de 100 bilhões de estrelas da Via Láctea, uma dentre
outras 100 bilhões de galáxias que compõem o Universo. A estrela mais próxima do Sistema
Solar é chamada Estrela - Alfa da constelação do Centauro e sua luz leva mais de quatro anos
e meio para até aqui chegar. Isso implica que quando se olha para as estrelas, de fato o que se
vê é o passado do Universo e não o seu presente. Se as estrelas são aparentemente diferentes
do Sol é unicamente por uma questão de distâncias relativas e de como são percebidas pela
visão.
Claro que muito se avançou em termos da Cosmologia, a ciência que estuda o
Universo, mas questões fundamentais se apresentam como mistérios ainda insondáveis,
objetos de pesquisa e indagações. Isto significa que conhecimento foi produzido, bem como
tecnologias, no entanto prevalece mistério ainda insondável.
Onde “estamos”?
É provável que as pessoas “saibam” que a Terra está associada a um Sistema Solar, que
o Sol ocupa o centro deste sistema e que existam mais alguns planetas e luas em órbita. No
entanto menos pessoas saberiam explicar, razoavelmente, como se dá o fenômeno dos dias e
das noites ou sequer desconfiaria que neste exato momento toda a humanidade está presa à
superfície do planeta, por ação da força gravitacional, deslocando-se à velocidade aproximada
de 110 mil quilômetros por hora! Não se “sente” esta elevada velocidade porque ela é
Carvalho Neto, C. Z.
praticamente constante; se variasse bruscamente, por pouco que fosse tudo, incluindo a água
dos oceanos, você e eu, seriam lançados para o espaço sideral à velocidade de mais de 100 mil
quilômetros por hora.
Felizmente a Terra já faz seu trajeto num harmonioso balé ao redor do Sol há mais de
4,6 bilhões de voltas, e uma volta significa o mesmo que um ano. Portanto o planeta Terra
teve sua gênese há aproximadamente 4,6 bilhões de anos.
Os primeiros hominídeos, ao que tudo indica, surgiram a aproximadamente um milhão
de anos atrás, ou seja, a Terra é 4,6 milhões de vezes, mais antiga que o homem. Apesar de
toda esta diferença, em poucos séculos a humanidade vem causando um impacto ambiental
crescente e comprometedor, a ponto de hoje haver um conjunto de movimentos e iniciativas
que não só alertam para as nefastas conseqüências às quais estará submetido o planeta, nas
próximas décadas, como para o fato de que o modelo social-econômico planetário é, ao que
tudo indica, potencialmente suicida.
Algumas Implicações decorrentes das interações entre os seres humanos e o meio
ambiente
O chamado efeito estufa, nas proporções que vem atingindo nas últimas décadas,
além de um sem número de impactos ambientais devastadores mais ou menos intensos, alerta
dramaticamente para uma revisão da própria humanização, entendendo-a não somente como
o conjunto de relações entre os seres humanos, mas destes com todo o planeta. No entanto,
afirmar isso pode parecer algo distante do cotidiano imediato, mas não é e o que se pretende
ao longo deste ensaio é proporcionar uma revisão ética e conceitual possível de fazer alguma
diferença, quando somadas ou multiplicadas a outras tantas ações locais, regionais ou globais.
Carvalho Neto, C. Z.
Estudos sistemáticos vêm apontando para mudanças em parâmetros ambientais
decorrentes, freqüentemente, do modo com que os seres humanos interagem,
intencionalmente, com o meio ambiente. A contaminação acelerada de mananciais hídricos,
verdadeiras agressões contra nascentes, o problema do lixo urbano, a falta de saneamento
básico, queimadas impróprias com fins à criação de pastos ou obtenção de superfície para
finalidades outras além da devastação ambiental geral, produzida por um sem número de
resíduos tóxicos são verdadeiras ameaças ao equilíbrio vital do Planeta.
Até quando assuntos graves como estes serão tratados pontualmente? Por quanto
tempo ainda governos e dirigentes colocarão vendas nos olhos e tampões nos ouvidos? O que
fazer para o surgimento de uma consciência crítica e um engajamento político capaz de fazer
valer o chamado “voto verde”? O que será cabível cada um realizar, a seu turno, de modo que
ações individuais não venham a se perder no grito abafado das minorias que alertam e
denunciam a demência desses tempos?
Ninguém sabe ao certo se haverá um “momento de virada” quando ações impróprias e
inadequadas, que desencadeiam os impactos ambientais nefastos a toda a Natureza, serão
proporcionalmente menores que aquelas que buscarão primar pela auto-sustentabilidade,
com respeito à complexa teia da vida sobre a Terra. Mas de uma coisa se pode estar certo: se
os desmandos e agressões ao meio ambiente continuarem no ritmo em que estão hoje, dentro
de 50 anos talvez o Planeta Terra seja inviável para abrigar a todas as formas de vida, incluindo
a chamada Humanidade.
Quando se compara o início do Universo, o surgimento das primeiras estrelas que
formam as galáxias e os planetas a uma escala de tempo compreensível (já que 15 bilhões de
anos é um tempo incompreensível), se pode perceber melhor o que está se passando neste
momento. Assim, se o início de tudo, com o Big Bang tivesse tido origem à zero hora do
primeiro dia de janeiro de um ano, as estrelas teriam surgido por volta do mês de maio e os
planetas lá por setembro. No entanto o homo sapiens – homo demens – teria aparecido sobre
a face da Terra somente às 23 horas e 59 minutos! Ou seja: a Humanidade Pré-Histórica e
Histórica é um evento muito recente se comparado ao tempo de existência do Universo.
Apesar disso, como se salientou antes, aquilo que a Natureza levou literalmente bilhões de
Carvalho Neto, C. Z.
anos para compor, como um fino e delicado cetim
- cenário para a própria origem e
manutenção da vida – está se desfazendo em segundos cósmicos, muito poucos anos enfim.
Assim, ainda que hoje em dia tudo pareça ser uma grande máquina do tempo em
movimento, não passa de uma quimera dependente do alcance de percepção do ser humano.
Parece que tudo que acontece “aqui em baixo”, sobre a superfície da Terra, está totalmente
descolado das dimensões e vínculos cósmicos que, muito brevemente, se procurou aqui
dimensionar. Ledo engano, ilusão de óptica. De fato, não há para onde ir! A Terra é oicos, a
casa, isolada-ligada à vastíssima imensidão do Cosmos, distante de qualquer outro planeta
habitável, um só lugar no Universo.
Talvez haverá tempo em que o tempo parecerá não mais existir, às 12h00.
SUGESTÕES DE LEITURA
BETO, Frei. A obra do artista. Uma visão holística do Universo. São Paulo: Ática, 1995.
CAPRA, Fritjof. O ponto de mutação. A Ciência, a Sociedade e a Cultura Emergente. São Paulo:
Cultrix, 1982.
SAGAN, Carl. Cosmos. Rio de Janeiro: Francisco Alves Editora, 1992.
Cassiano Zeferino de Carvalho Neto tem Pós-doutorado em andamento no Instituto Tecnológico de Aeronáutica
(ITA); Doutorado em Engenharia e Gestão do Conhecimento (EGC/UFSC); Mestrado em Educação Científica e
Tecnológica (ECT/UFSC); Especialidade em Qualidade na Educação Básica (INEAM/OEA/USA) e Licenciatura em
Pedagogia, com complementação em Física (PUCSP). Fundador da Laborciencia Editora, do Instituto para a
Formação Continuada em Educação (IFCE) e do Instituto Galileo Galilei para a Educação (IGGE).
Artigo originalmente publicado na Revista Direcional Educador, dezembro/2007.