AVALIAÇÃO CITOLÓGICA DO CONDUTO AUDITIVO EXTERNO DE CÃES ATENDIDOS JUNTO A CLÍNICA ESCOLA VETERINÁRIA - CEVET, DO DEPARTAMENTO DE MEDICINA VETERINÁRIA, DA UNICENTRO Rafael Lavezzo (IC Voluntária), Jyan Lucas Benevenute (bolsista Fundação Araucária Ações Afirmativas), Camila Debastiani (IC voluntária), Marceli Yumi Mendes Momma (IC voluntária), Meire Christina Seki (Docente), Adriano de Oliveira Torres Carrasco (Orientador). e-mail: [email protected] Universidade Estadual do Centro-Oeste, Setor de Ciências Agrarias e Ambientais, Departamento de Medicina Veterinária, Guarapuava, Paraná. Palavras-chave: Bactérias, Citologia, Fungos, Malassezia sp, Otite Resumo: O presente trabalho teve o objetivo de determinar a causa de otite externa em 50 cães atendidos no CEVET-UNICENTRO. Foram observados em 88% das amostras citológicas, a presença de infecção fúngica, enquanto que em 14%, foram observadas infecção bacteriana. Assim, este trabalho demonstra uma maior ocorrência de otite fúngica nos cães amostrados e a importância da determinação da etiologia para o tratamento adequado. Introdução A otite externa é o processo inflamatório/infeccioso do conduto auditivo, afetando 10 a 20% dos cães atendidos pelos veterinários (BABA et al., 1981, ROSYCHUK e LUTTGEN, 1996). O sucesso do tratamento clínico desta inflamação está estritamente ligado no diagnóstico da causa, para que assim possa ser utilizado o fármaco mais apropriado (ANGUS, 2004). Segundo Scott et al (1995), podemos dividir as causas de otite externa em cães como primárias ou secundárias. Dentre as causas primárias temos a atopia, hipersensibilidade alimentar, distúrbios da queratinização e parasitas. Essas causas podem ocorrer após autotraumas ou secundário a alergias. Já os distúrbios de queratinização ocorrem devido a secreção excessiva de cerúmem pela conduto auditivo do cão, secundário a seborreia idiopática ou a problemas hormonais (SCOTT et al., 1995). Dentre as causas secundárias temos as infecções bacterianas e fúngicas. Os principais microrganismos isolados são Staphylococcus sp, Bacillus sp e Malassezia pachydermatis, como parte da microbiota normal do conduto auditivo externo (AUGUST, 1993). Em cães otopatas, a principal bactéria isolada é o cocos Staphylococcus intermedius, já entre os bacilos não fermentadores, Pseudomonas sp são as mais comums (NOBRE et al., 2001). Infecções bacterianas mistas também podem ocorrer sendo observada em 49% dos casos num estudo realizado por Oliveira et al (2006), sendo Staphylococcus coagulase positivo as bactérias mais frequentemente isoladas, seguidos por Anais da XVII Semana de Iniciação Científica da UNICENTRO 11 a 13 de setembro de 2012 - ISSN – XXXX-XXXX Pseudomonas aeruginosa. Em menor quantidade foram observada bactérias Staphylococcus coagulase negativo. Dentre as otites fúngicas, temos como principal representante a levedura Malassezia pachydermatis, que é um microrganismo comensal da pele e de formato oval, o qual produz brotos simples ligados por uma base larga. Raramente são encontrados Candida sp e Aspergillus sp. (SCOTT et al., 1995). O diagnóstico da otite externa é feito através da citoscopia do exsudato otológico, que revela a presença de bactérias cocos (especialmente Staphylococcus e Streptococcus), bastonetes (especialmente Pseudomonas e Proteus), leveduras em brotamento (Malassezia e Candida) e infecções mistas (TAYLOR, 2000). A presença de leucócitos, bem como fagocitose de bactérias, indica que o corpo está respondendo á infecção e que o tratamento da infecção é necessário (SCOTT et al.,1995). O objetivo do presente trabalho foi identificar qual a ocorrência e quais as possíveis causas da otite externa em cães, utilizando como recurso diagnóstico a citoscopia do exsudato otológico. Material e Métodos Foram avaliados 50 cães, sendo 27 machos e 23 fêmeas de todas as idades, provenientes da rotina de atendimentos junto ao serviço de Clínica Médica da CEVET Clínica Escola da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade do Centro-Oeste (UNICENTRO). Após a avaliação clínica dos animais, foi realizado o exame otológico detalhado. A colheita do material foi realizada introduzindo um suabe estéril o mais profundamente possível no canal auditivo vertical de cada ouvido. Após este procedimento, com a colheita de exsudato e/ou cerúmen, foram confeccionados esfregaços, que foram coradas com panótico (Instant-Prov®, Newprov, Pinhais, PR, Brasil) e observadas em microscópio óptico no aumento de 100X. Os achados citológicos (tipo de microrganismo e o tipo celular presente), foram classificados em uma escala de 0 a 4 (0, nenhuma célula ou microrganismo presente, 1- uma a dez células ou microrganismos presente, 2- onze a vinte dez células ou microrganismos presente, 3, vinte e uma a trinta células ou microrganismos presente e 4, mais que 31 células ou microrganismos presente). Resultados e Discussão Dos 50 animais, 88% (44/50) apresentaram infecção fúngica, sendo 59% (26/44) dos animais com infecção na orelha direita e 41% (18/44) na orelha esquerda, como observado na figura 1. Estes dados estão de acordo com Leite et al (2003), onde foram examinados 50 cães com sinais clínicos de otite externa, sendo a M. pachydermatis isolada em 78% (39/50) por microscopia e 88% (44/50) por meio de cultura. Esses números demonstram que é comum encontrar infecções fúngica nos condutos auditivos dos cães. Anais da XVII Semana de Iniciação Científica da UNICENTRO 11 a 13 de setembro de 2012 - ISSN – XXXX-XXXX Figura 1 – Levantamento através do exame citológico das causas de otite em cães atendidos na CEVET-DEVET-UNICENTRO. Todavia, Pazian et al (2002) detectou uma maior ocorrência de infecções bacteriana, onde em 68 casos de otite externa, 29,4% (20/68) eram bacteriana, um número maior quando comparada a infecção fúngica que afetou 11,7% (8/68) dos animais. Quanto a ocorrência de animais com infecção bacteriana, foi observada no presente estudo, a presença deste microrganismo em 14% (7/50) das amostras, sendo que seis animais (85%) apresentaram algum tipo de bactérias na orelha direita e sete (100%) na orelha esquerda (Figura 1). Estas dados corroboram com o estudo realizado por Oliveira et al (2006) que em um grupo amostral de animais com otite bacteriana, demonstrou o isolamento de Bacillus sp e de S. intermedius em 26,9% e 21,7% das amostras, respectivamente. Contudo, em um estudo realizado com 96 cães, apresentando otite externa crônica, em 59,3% (57/96) dos animais, foi observado Staphylococcus sp (SILVA, 2001) . Infecção mista por fungos e bactérias foram observados em 10% (5/50) das citoscopia, corroborando com Leite et al. (2003) que observaram uma íntima relação entre a associação de fungos com bactérias em otites externas ceruminosas, onde 16% (8/50) apresentaram a associação das duas infecções. No trabalho em tela, um animal apresentou distúrbio de queratinização, onde foi observada na citoscopia uma grande quantidade de células queratinizadas (Figura 1). Esse baixo índice de animais com células queratinizadas possivelmente se deve ao fato de que neste estudo os animais estudados foram aleatoriamente, ou seja, não sendo atendidos apenas animais com otite prévia. Anais da XVII Semana de Iniciação Científica da UNICENTRO 11 a 13 de setembro de 2012 - ISSN – XXXX-XXXX Conclusões Assim, este trabalho confirma uma maior ocorrência de infecções fúngica no aparelho auditivo dos cães quando comparadas com infecções bacterianas, demonstrando a importância da determinação da etiologia para a seleção do tratamento clínico mais eficiente. Agradecimentos Aos médicos veterinários do CEVET pelo auxílio na colheita das amostras. Referências Angus, J.C. Otic cytology in health and disease. Vet. Clin. North Am Small Anim Pract. 2004, 34, 414-424. August, J.R. Enfermedades del oído. Clin. Vet. North Am.: Pract. Clin. Peq. Anim. 1993, 18, 1-274. Baba e Fukata; Incidence of otitis externa in dogs and cats in Japan. Vet. Rec., 1981, 108, 393-395. Leite, C.A.L.; Abreu, V.L.V.; Costa, G.M. Freqüência de Malassezia pachydermatis em otite externa de cães. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec. 2003, 55, 102-104. 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