O CURSO DE PEDAGOGIA NA MODALIDADE EAD

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O CURSO DE PEDAGOGIA NA MODALIDADE EAD: A PERSPECTIVA DOS
PROFESSORES
MARTINS, Luís Antônio 1
Indicação do eixo temático: Eixo 5 – Educação Superior.
Indicação da categoria: Comunicação oral.
Resumo:
O acesso a cursos de nível superior tem se beneficiado da modalidade de ensino a distância. De
modo que os questionamentos e dúvidas acerca da EAD crescem tão rápido quanto a procura
por cursos de formação nesta modalidade. Nesse sentido, o presente trabalho propõe um recorte
na tese de doutorado “Os Saberes e Fazeres que Constituem a Identidade do Professor do
Curso de Pedagogia na Modalidade EAD (educação a Distância)” buscando analisar as
crenças e experiências dos profissionais envolvidos no ensino a distância e, ainda, observar de
que modo se constituem seus saberes e fazeres enquanto docentes atuantes na EAD. Será
apresentado um breve histórico da modalidade de ensino a distância, seguida por algumas
concepções sobre crenças e por fim, destacamos certas experiências que foram fundamentais na
construção dos saberes dos professores atuantes no curso de pedagogia na modalidade EAD.
Palavras-chave: Professor; Pedagogia; EaD.
Introdução
As TICS (Tecnologias de Informação e Comunicação) e as NTICS (Novas
Tecnologias de Informação e Comunicação) fazem parte de um cenário presente nas
mais diversas áreas sociais, ou seja, o acesso à Rede Mundial de Computadores –
internet – e a vivência no mundo virtual está cada dia mais popularizado. Segundo Dias
e Leite (2010) “o computador e a internet reconfiguraram a sociedade, já que atualmente
tempo e espaço possuem outra dimensão, já que as pessoas podem se comunicar estando em
1
Professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Grande Dourados.
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lugares e horários diferentes.”. Assim, a partir do advento da internet, o compartilhar de
informações e conhecimento ganhou velocidade, dinamismo e eficácia refletindo,
sobretudo, no meio educacional.
Nesse contexto observa-se o aumento de cursos, graduações, entre outros
níveis de ensino sendo ofertados na modalidade a distância. A EAD tornou-se grande
aliada no processo de democratização do ensino possibilitando o ingresso a cursos de
formação superior em lugares de difícil acesso e, ainda, a participação massiva de
pessoas de diversas classes sociais.
O ensino a distância tem atraído à atenção de pesquisadores posto que suas
características exijam determinadas competências que, às vezes, passam despercebidas
na modalidade presencial. Com vista a contribuir com as pesquisas sobre a EAD, bem
como elucidar algumas duvidas a respeito da atuação docente nesta modalidade
desenvolvemos no doutorado a tese: “Os Saberes e Fazeres que Constituem a
Identidade do Professor do Curso de Pedagogia na Modalidade EAD (educação a
Distância)”, cujo objeto de pesquisa voltou-se para minha própria formação e atuação
docente dentro da modalidade. Os questionamentos sobre o papel do professor do curso
de pedagogia na modalidade a distância reportaram-me as experiências vivenciadas
desde o início da caminhada acadêmica até o envolvimento com coordenação e a
docência dentro da EAD.
Dessa maneira, pode-se compreender que as experiências pessoais estão
intrinsecamente ligadas as competências de cada profissional, uma vez que os saberes e
fazeres docentes são formados, transformados, modificados a partir das interações nos
diversos ambientes em que cada indivíduo se insere. Assim, por meio de dados
coletados na tese que fundamenta esse trabalho, destacam-se os depoimentos de
docentes atuantes na formação de professores na EAD. Analisar as experiências dos
professores de Pedagogia na modalidade EAD no que diz respeito a sua formação, bem
como o caminho que os conduziram ao envolvimento com a modalidade a distância nos
permite identificar as crenças que orientam o agir desse profissional.
O conceito de crença tem sido discutido no âmbito educacional considerando
as reflexões necessárias para que o mesmo alcance seus propósitos, da mesma forma, os
estudos específicos da modalidade a distância carecem de reflexões e pesquisas visto
que sua particularidade nos coloca diante de problemáticas como a capacidade do
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professor em lidar com as NTICS; a relação estabelecida entre professor e aluno; as
divergências entre EAD e presencial; o perfil do aluno da EAD; as mudanças
necessárias para a atuação na modalidade entre outras. Nesse contexto, pressupõe que o
docente atuante na EAD reflita sobre suas competências, expectativas e anseios e, ainda,
permita o autoquestionamento sobre suas crenças concernentes à modalidade a
distância.
A compreensão de crenças nos remete a ações e comportamentos que, na
maioria das vezes, são adquiridos por meio das circunstâncias ao longo da vida.
Contudo as crenças não são apenas um conceito imutável, ao contrário, elas se
legitimam nas mudanças e transformações a cada nova interação e nas mais diversas
situações. Dessa forma os docentes formam suas crenças e as modificam a partir de sua
trajetória na formação, na interação com seus alunos, nos desafios ao longo da carreira.
Como afirma Barcelos, “as crenças não são somente um conceito cognitivo, mas
também social, porque nascem de nossas experiências e problemas, de nossa interação
com o contexto e da nossa capacidade de refletir e pensar sobre o que nos cerca”
(BARCELOS, apud GONÇALVES e MARCHESAN, 2013, p. 3).
Diante disso, este trabalho propõe uma breve síntese sobre o histórico da EAD,
além de uma análise acerca do curso de pedagogia na modalidade a distância com base
nos depoimentos das docentes participantes da pesquisa e, por fim, a compreensão de
alguns conceitos sobre crença e a identificação das crenças presentes no agir do
professor de pedagogia na modalidade a distância.
EAD: Breve histórico da modalidade
A educação a distância representa um marco dentre as modalidades de ensino,
tendo em vista o grande avanço no campo tecnológico de informação e comunicação –
as TICs – e, sobretudo, sua evolução por meio das Novas tecnologias da informação e
comunicação. Observa-se que as NTICs estão presentes nos diversos espaços de
interação social, logo, pode-se afirmar que a sociedade vive em plena era digital e, essas
mudanças e transformações trazem benefícios à sociedade como um todo. No âmbito
educacional temos o ensino a distância proporcionando o acesso a diferentes níveis de
escolaridade, graduações e especializações, sobretudo, em lugares onde as instituições
de Ensino Presencial ainda são limitadas.
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Nesse contexto, surgem dúvidas sobre a definição da EAD, além de
questionamentos e incertezas sobre sua funcionalidade, o que por sua vez, legitima a
relevância desse estudo. Quando se fala em Educação à Distância pode-se pensar, a
princípio, em uma forma de ensino em que o tempo de produção difere do tempo de
uso, ou seja, as reações dos alunos não teriam respostas imediatas por parte dos
professores. Contudo, a evolução tecnológica alarga o entendimento do ensino a
distancia como afirma Barreto, Pinto, Martins (1999):
[...] a terminologia ‘educação a distância’ define uma série de tecnologias
alternativas sofisticadas com a utilização de ferramentas tais como e-mail,
Broadcast Bulletin Systems – BBB’s, Internet, audioconferência por telefone,
videoconferências com um ou dois caminhos de vídeo e dois caminhos de
áudio. (BARRETO; PINTO; MARTINS, 1999, p. 28).
Deste modo, conforme as ferramentas utilizadas, o espaço físico e o tempo
amplia-se o conceito de modalidade de ensino a distância. Para que se entenda o
processo de ensino-aprendizado na modalidade EAD faz-se necessário levantar dados
específicos do ensino a distância, tais como sua trajetória e evolução no Brasil. Estudos
apontam para o início da EAD por meio dos cursos de correspondência muito utilizados
na Europa na segunda metade do século XIX, e em nosso território, no começo do
século passado. A evolução da modalidade se deu a partir de 1923, por meio de
programas educativos via radio.
O ensino a distância progrediu sendo veiculado pela Televisão na década de
1950, considerando que a primeira experiência tenha sido em circuito fechado pela
Universidade de Santa Maria (RS) em 1958, dois anos após, a Universidade de Brasília
desenvolveu a primeira experiência televisiva em circuito aberto, com objetivo de
formar docentes que atuariam na instituição. O percurso prossegue com a criação da
Fundação Centro Brasileiro de Televisão Educativa, em 1967 e, a criação do Sistema
Avançado de Tecnologias Educacionais (SATE), em 1969, cujo objetivo era fixar
diretrizes acerca de uma política para aplicação de novas tecnologias educacionais no
país, tais como rádio, televisão entre outros.
Nesse contexto, recebem destaques os projetos direcionados ao supletivo pelo
Ministério da Educação (MEC), como o projeto Minerva e, ainda, os projetos de
telecurso para Primeiro e Segundo Graus, além dos projetos de melhoria docente, como
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o “Projeto Saci”, os da “Funtêve” e “Logos”. Os projetos pioneiros refletiam uma
expectativa de incluir a população jovem e adulta ao mercado de trabalho por meio de
cursos de baixo custo.
A partir disso, surgiu também o Programa Nacional de Teleducação – Prontel –
em 1972, vinculado ao MEC e, que buscava estabelecer diretrizes para a Ead via
televisão. Assim, a trajetória da Educação a Distância segue com a criação de outras
iniciativas nacionais como o Programa “Um salto para o Futuro” e “TV Escola” em
1995. Destaca-se também o Programa de Apoio Tecnológico (PAT) que disponibilizou
a todas as escolas públicas com mais de 250 alunos, um ‘Kit Tecnológico’ composto
por um aparelho de televisão, um videocassete, e fitas VHS.
Os avanços tecnológicos foram fortalecendo a modalidade a distância que se
beneficiou ainda mais, após a aprovação da Lei nº 5.692/1971. Conforme Gatti (2008), a
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), Lei n. 9.394/1996, fomentou
ainda mais a expansão do ensino a distância, uma vez que a Lei prevê o incentivo do
poder público em cursos de aprimoramento e educação continuada. De modo que,
percebe-se a importância de pesquisas e estudos que acompanhem a evolução não
apenas das NTCIS, como também da própria procura por cursos à distância.
O Curso de pedagogia na modalidade a distância: desafios e expectativas .
Os cursos de formação de professores compreendem teorias e conhecimentos
científicos que, muitas vezes, se distanciam da realidade do professor, considerando as
ações necessárias à sua prática docente, bem como os saberes que são formados e as
diversas experiências advindas da interação com o aluno, do preparo do material a ser
utilizado em aula entre outras situações. Nesse contexto, o docente enquanto mediador
do conhecimento se encontra diante de um grande desafio, esta constatação reflete uma
série de questionamentos sobre o ‘ser professor’.
A evolução tecnológica, responsável por inúmeras transformações sociais,
possibilitou ao processo de ensino-aprendizagem novas abordagens e novas
modalidades de ensino. É impossível pensar em Educação hoje sem os recursos que
quebram as barreiras de tempo e espaço. De modo que a modalidade de Ensino a
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Distância tem se propagado a cada dia mais, permitindo a sociedade o acesso a cursos
em vários níveis.
No que diz respeito ao curso de formação de professores, houve uma gama
enorme de instituições ofertando cursos de Licenciatura, sobretudo Pedagogia, na
modalidade EAD por meio da legalização da modalidade a distância expressa na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional – art. 80 da Lei 9.394/1996. Nesse sentido,
não apenas cresceu o número de cursos ofertados, como também as dúvidas e incertezas
relacionadas à modalidade.
Sabe-se que os questionamentos nos cursos de formação de professores são
constantes, uma vez que as evoluções e transformações que ocorrem na sociedade
influenciam direta e indiretamente no processo Educacional. Sendo assim, as teorias e
metodologias preestabelecidas que constituem os cursos de formação docente são
confrontadas com a realidade em que o professor se insere, gerando outros saberes e
fazeres em sua prática de ensino.
O curso de Pedagogia, que prepara o docente tanto para gestão escolar quanto
para a atuação em sala de aula da Educação Infantil, pressupõe uma formação dinâmica,
crítica-reflexiva com vista a formar um docente apto ao trabalho com o público infantil
em seus primeiros passos na vida escolar. Nesse sentido, o professor em formação
encontra-se diante de muitos desafios, pois, as práticas pedagógicas e as abordagens
metodológicas estão condicionadas as particularidades dos alunos, a faixa-etária, a fase
de alfabetização, entre outras coisas.
Dessa maneira, os questionamentos sobre o curso de formação em Pedagogia são
recorrentes, o que por sua vez, justifica a necessidade de pesquisas, estudos e reflexões
sobre o tema. Nos dias atuais, os cursos de formação docente tem buscado um
profissional que atenda a toda complexidade da Educação Básica infantil, com subsídios
teóricos que compreendam a trajetória pedagógica do Brasil, que acompanhe a evolução
tecnológica com suas transformações e mudanças. As NTICs como ferramentas para o
desenvolvimento do curso de Pedagogia representam uma geração que se comunica de
forma instantânea, criando relações que ultrapassam a barreira do espaço e do tempo.
A Educação, de um modo geral, usufrui das novas tecnologias se abrindo para um
novo caminho, possibilitando maior acesso ao conhecimento. No que diz respeito à
modalidade a distância, observa-se que as NTICs reforçam as interações e o
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desenvolvimento acadêmico no curso de formação docente, ou seja, contribui para o
crescimento da oferta de curso pela modalidade. Assim, constata-se que a EAD marcou
seu espaço, sendo um divisor de águas no âmbito educacional e, tem crescido a cada
dia. Conforme ressalta Martins (2012, p132) “A inclusão tecnológica nas instituições de
ensino superior contribuiu para a inserção de alguns professores na modalidade EAD,
uma vez que a própria instituição deu início à mudança”.
Dentre as dificuldades encontradas pelos professores no Curso de Pedagogia EAD
destacam-se as competências e saberes necessários para a atuação na modalidade à
distância. Segundo afirmam Amaral e Coelho (2008, p. 82):
O trabalho do professor, no processo de aprendizagem a distância,
viabilizado pelas novas tecnologias, continua imprescindível. Enquanto
mediador pedagógico, caberá a ele estabelecer limites temporais, e estes não
poderão ser um controle muito sutil, pois enquanto não tivermos alunos
preparados para uma aprendizagem autônoma, necessitaremos da limitação
de tempo, como a marcação de prazo para conclusão de determinadas tarefas.
(AMARAL & COELHO, 2008).
Os saberes docentes em nada são substituídos pelos recursos tecnológicos, ou
seja, o professor continua sendo mediador do conhecimento, além de criar um vínculo
com o aluno por meio das atividades interativas. Como se observa no depoimento das
docentes participantes da pesquisa em que se baseia esse artigo:
Para ser sincera considero que foi a experiência que foi nos formando,
mostrando o jeito de lidar com o aluno, com os recursos da plataforma [...]
Primo pelo planejamento [...] não dilato o prazo para entrega de atividades
em atraso, mas motivo o aluno a se organizar e entregar as que estão no
prazo, isso para que não tenha uma ideia de que a educação a distância é um
curso vago. (P1)
[...] eu vejo assim que, os saberes para docentes tanto na EAD como na
presencial, eles devem ser de fato, seguindo as dez competências de
Perrenoud como aquele professor pesquisador, trabalhador em equipe, que
busca interação, as leituras, e uma das coisas que eu percebo na EAD, é que é
satisfatório dessa capacitação que é passada no início. (P9)
Como eu já tenho contato com a internet por conta que tenho participado de
chat, bate-papo, é... Eu percebi assim que seria fácil essa forma de eu me
comunicar, e eu gosto muito mais dessa/ da questão de responder o quadro de
aviso, do que, por exemplo, participar de outro evento. Gosto do chat né (P3)
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Os depoimentos expostos refletem um profissional consciente de suas
necessidades de aperfeiçoamento e das competências indispensáveis para a atuação na
modalidade a distância. Essa postura do docente pesquisador, que busca novos saberes e
novas formas de interagir com o aluno e com as ferramentas específicas da modalidade
nos remete a idéia de um professor que age de forma crítica e reflexiva, que repensa sua
atuação e reavalia suas práticas pedagógicas, como confirma Ganga (2009, p. 33) alerta:
“[...] não existe um modelo único de docência, seja no ensino presencial ou online. Uma
atividade pedagógica deve começar com uma análise bem detalhada das possibilidades
que cada tecnologia oferece quando inserida nos processos educativos”.
Por conseguinte, percebe-se que os questionamentos e pesquisas concernentes ao
curso de Pedagogia na modalidade EAD contribuem para o crescimento da modalidade,
além da capacitação do profissional e legitimidade dos cursos de formação de
professores, o que por sua vez, corrobora com a idéia de democratização e qualidade de
ensino tendo em vista que um docente bem formado coopera para a formação de outros
profissionais.
As crenças presentes no agir do docente de Pedagogia na EAD.
A trajetória percorrida pelo ensino a distância até os dias atuais foi marcada por
momentos de progressos e estagnação, considerando o período que vai dos cursos por
correspondência até as transformações tecnológicas, além dos incentivos legais
expressos na LDBEN. Nesse contexto, percebe-se que parte da problemática surge
devido à falta de compreensão a respeito das especificidades da EAD e, ainda, um
prejulgamento acerca da funcionalidade e eficácia dos cursos de formação de
professores na modalidade a distância
Diante disso, é válido analisar as crenças presentes na atuação dos docentes de
Pedagogia na EAD, partindo do princípio que a prática docente seja um conjunto de
saberes adquiridos em formação e, também, saberes e aprendizados advindos das
experiências pessoais de cada profissional. Os cursos de formação de professores
apresentam-se como um espaço propício para a discussão do tema, uma vez que, as
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teorias e abordagens compartilhadas nesse espaço ajudam na formação de novas crenças
ou na transformação de crenças preestabelecidas.
Dessa maneira, entende-se a importância de estudos sobre ‘crenças’ a fim de
contribuir para a formação de professores aptos a lidar com as particularidades da EAD,
com a diversidade de recursos e, sobretudo, com as muitas crenças presentes nos alunos
e demais colaboradores da modalidade. Como ressalta Barcelos, “Isso faz parte de
formar professores críticos, reflexivos e questionadores do mundo a sua volta (não somente
da sua prática)” (BARCELOS apud GONÇALVES & MARCHESAN, 2013, p. 6).
A identidade docente, seu comportamento e agir são construídos diariamente
por meio das relações que são estabelecidas em caráter profissional e, sobretudo,
pessoal. Dentro dessa idéia, pode-se inferir que a identidade do professor refletem suas
crenças que, por sua vez, direcionam o seu agir.
O termo ‘crença’ tem surgido em diversos estudos e pesquisa, contudo, sua
definição não é tão simples, tendo em vista que as crenças podem ser constituídas de
diferentes formas. Dentre vários autores, Gonçalves e Marchesan (2013) retomam
Barcelos (2004) na afirmação que: “as crenças não são somente um conceito cognitivo,
mas também social, porque nascem de nossas experiências e problemas, de nossa
interação com o contexto e da nossa capacidade de refletir e pensar sobre o que nos
cerca” (BARCELOS apud GONÇALVES & MARCHESAN, 2013, p. 6). No que tange
a Educação, ou mais especificamente, ao profissional educador, observa-se que as
crenças são oriundas das inter (ações) com alunos, com outros professores, com o tipo
de material pedagógico e, ainda, com o espaço onde o processo de ensino-aprendizagem
ocorre.
A análise das crenças dos professores envolvidos na EAD colabora para o
entendimento de pontos relevantes sobre a modalidade, tais como, a relação
estabelecida entre docente e discente, as adaptações a recursos tecnológicos, o perfil do
professor do ensino a distância, entre outras. Nesse sentido, optou-se por ilustrar as
crenças presentes no dia-a-dia dos docentes do curso de Pedagogia na modalidade EAD
a partir de seus respectivos depoimentos concernentes ao desafio de ser um professor
habilitado para o ensino a distância. Como se observa a seguir:
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No que diz respeito aos recursos tecnológicos, alguns docentes demonstraram
certo receio ao trabalhar com a máquina inicialmente e, citaram as estratégias utilizadas
para a prática docente.
[...] Era uma novidade, era uma coisa interessante pra mim né? Embora eu
não domine a máquina; eu tenho muita dificuldade, fui autodidata no
computador, tenho até hoje dificuldade, digito tudo com um dedo só. Fui,
assim tentando... Dominar a máquina e o curso que eu fiz, foi aquele que a
IESPa4 nos forneceu num determinado momento, poucas horas, foi aquilo
que eu assimilei, e tentei fazer. (P3)
Aprendi muito, principalmente a mexer com a máquina né? Usar a
plataforma, você vê, quando que eu ia imaginar depois de 30 anos de
profissão que eu ia trabalhar com Educação à Distância? [...] tudo pelo
computador, os vídeos, as aulas, então a gente aprendeu muito também;
aprendi muito também com a Educação à Distância e eu acho assim, não sei
se a gente acostuma... Mas, eu acho normal. (P5)
Utilizo bem as ferramentas sociais da internet, procuro sempre responder aos
questionamentos do aluno independentemente do dia ou do horário. (P7)
A partir dos depoimentos expostos, pode-se inferir que os docentes se
empenharam na adaptação aos recursos tecnológicos, contudo, sem menosprezar suas
próprias habilidades, o que, por conseguinte, refuta a idéia de que o recurso tecnológico
suplantaria o agir docente, considerando que esse pensamento seja uma crença negativa
relacionada à EAD. Identificar as possíveis crenças relacionadas a modalidade resulta
numa busca por melhoria no agir docente, bem como uma reflexão sobre os saberes e
fazeres necessários para a atuação no ensino a distância.
No que tange as relações estabelecidas na EAD, observa-se que os pontos de
vista se contradizem, ou seja, uns sustentam a ideia de que a comunicação entre
professor e aluno flui melhor na EAD, enquanto outros acreditam que uma relação
eficaz entre aluno e professor só ocorre na modalidade presencial.
Segundo Gonçalves e Marchesan (2013) , as pesquisas que abordam o assunto
‘crenças e EAD’ tem aumentado consideravelmente, de modo que as autoras destacam
os estudos do autor Marcelo (2011), dos quais foram identificadas algumas crenças, tais
como: “O aluno presencial participa e interage mais ativamente, com os seus professores e
colegas, dos momentos de ensino e aprendizagem do que o aluno virtual.”; ‘Na EaD há
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menos embates diretos com os estudantes.”; “O aluno presencial é mais freqüente e
participativo do que o aluno virtual.”; “Na modalidade de educação presencial, não há
trabalho em equipe, enquanto, na EAD, a formação de equipes é requisito fundamental.”.
As crenças sobre o ensino na modalidade EAD refletem os desafios e, também, as
compensações vivenciadas pelos docentes, como se observa nos depoimentos a seguir:
[...] é claro que se estabelecem vínculos, a gente não pode dizer que não.
Mas, eles também tem assim, muita preocupação do cumprimento das
tarefas; é sempre aquela lógica da data de postagem, de fechar o ambiente, ou
ele vai conseguir ou ele não vai conseguir fazer. (P2)
Eu trabalharia muito mais prazerosamente se eu tivesse tempo e eu não tenho
esse tempo; então, até o vínculo com o professor ele fica prejudicado porque
você tem que fazer uma escolha, ou você faz a mediação do conteúdo ou
trabalha de uma forma mais leve, mais lúdica, mais prazerosa pra eles. (P2)
Você acaba mantendo um vínculo com seu aluno afetivo. Mesmo por meio
da ferramenta, você consegue – quando você – por exemplo, é visualizado
por meio de vídeos, eles te assistem, o próprio e-mail, às vezes eles falam
com a gente por telefone. (P8)
[...] eu procurei manter a mesma qualidade do presencial, procurar estar
próxima do aluno... Tem os cursos de formação, mas o principal é o feedback
emitido pelo aluno, quando o aluno se posiciona, envia sua opinião, o
importante é a devolutiva do aluno [...] nesse momento você tem uma boa
devolutiva do seu trabalho, do que está dando certo... ou errado. (P7)
Eu acho que o aluno à distância me dá um retorno melhor [...] Ele se envolve
mais ele é mais dedicado. (P3)
[...] algumas turmas da EaD eu percebo que o aluno se envolveu mais, que
ele pesquisa mais, talvez pelo fato de estar em frente ao computador e
conectado a internet, já o aluno do curso presencial... a maioria trabalha... Ele
se prende mais a explicação do professor, ele não se prepara para ir à aula.
(P7)
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A partir disso, constata-se que a identificação das crenças presentes no agir
docente possibilita uma autoavaliação das práticas de ensino, das metodologias e
abordagens, além de uma ressignificação sobre o ser professor.
Metodologia
Pesquisa bibliográfica, balizada na revisão da literatura e Análise do Conteúdo - Bardin
(2009).
Resultados e discussão
A prática docente e o perfil pedagógico do professor envolvido na EAD abarca
uma série de saberes constituídos a partir de suas experiências pessoais e dos
conhecimentos adquiridos em sua formação. De modo que, a identidade docente é fruto
de um trabalho diário podendo ser transformada a cada nova experiência vivenciada. O
espaço em que se desenvolvem as atividades específicas da modalidade a distância
permite a construção de novos conceitos, considerando que a mediação por meio de
recursos tecnológicos requer outros aprendizados, diferentes dos que são trabalhados
presencialmente.
Nesse sentido, compreende-se que as NTCIS fazem parte de uma realidade
irreversível no âmbito educacional, uma vez que um retrocesso da utilização tecnológica
nas práticas docentes privaria muitos desse tipo de conhecimento, ou seja, a EAD que
precisa da boa manutenção de recursos tecnológicos, se apresenta como um ótimo
instrumento de acesso ao processo de ensino-aprendizado.
O percurso da modalidade de Ensino a Distância ao longo dos anos, marcado
por altos e baixos, legitimam o desenvolvimento de pesquisas sobre a EAD com vista a
elucidar as dúvidas e dificuldades concernentes ao comportamento dos alunos, a
plataforma de aprendizado, entre outras carências. O crescimento da modalidade a
distância é visto em todas as áreas e, portanto, faz-se necessário considerar as crenças
negativas e positivas acerca do processo de ensino-aprendizagem desenvolvido no
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ambiente virtual de aprendizado a fim de que sejam alcançados os propósitos da
Educação à Distância em sua oferta de ensino de qualidade e formação profissional.
Por conseguinte, a busca por adaptações tecnológicas e, ainda, abordagens
pedagógicas específicas da modalidade são uma constante na vida do profissional
inserido no curso de formação de professores. E, assim, é possível reafirmar a crença de
que a educação seja EAD ou Presencial se faz de forma coletiva, crítica e reflexiva
buscando sempre proporcionar a liberdade de aquisição de conhecimento.
Referências
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Crenças e Educação a Distância: pontos a considerar. 2013.
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(Doutorado em Educação) – UFMS (UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO
GROSSO DO SUL), Campo Grande/MS, 2012.
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