O CURSO DE PEDAGOGIA NA MODALIDADE EAD: A PERSPECTIVA DOS PROFESSORES MARTINS, Luís Antônio 1 Indicação do eixo temático: Eixo 5 – Educação Superior. Indicação da categoria: Comunicação oral. Resumo: O acesso a cursos de nível superior tem se beneficiado da modalidade de ensino a distância. De modo que os questionamentos e dúvidas acerca da EAD crescem tão rápido quanto a procura por cursos de formação nesta modalidade. Nesse sentido, o presente trabalho propõe um recorte na tese de doutorado “Os Saberes e Fazeres que Constituem a Identidade do Professor do Curso de Pedagogia na Modalidade EAD (educação a Distância)” buscando analisar as crenças e experiências dos profissionais envolvidos no ensino a distância e, ainda, observar de que modo se constituem seus saberes e fazeres enquanto docentes atuantes na EAD. Será apresentado um breve histórico da modalidade de ensino a distância, seguida por algumas concepções sobre crenças e por fim, destacamos certas experiências que foram fundamentais na construção dos saberes dos professores atuantes no curso de pedagogia na modalidade EAD. Palavras-chave: Professor; Pedagogia; EaD. Introdução As TICS (Tecnologias de Informação e Comunicação) e as NTICS (Novas Tecnologias de Informação e Comunicação) fazem parte de um cenário presente nas mais diversas áreas sociais, ou seja, o acesso à Rede Mundial de Computadores – internet – e a vivência no mundo virtual está cada dia mais popularizado. Segundo Dias e Leite (2010) “o computador e a internet reconfiguraram a sociedade, já que atualmente tempo e espaço possuem outra dimensão, já que as pessoas podem se comunicar estando em 1 Professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Grande Dourados. 2 lugares e horários diferentes.”. Assim, a partir do advento da internet, o compartilhar de informações e conhecimento ganhou velocidade, dinamismo e eficácia refletindo, sobretudo, no meio educacional. Nesse contexto observa-se o aumento de cursos, graduações, entre outros níveis de ensino sendo ofertados na modalidade a distância. A EAD tornou-se grande aliada no processo de democratização do ensino possibilitando o ingresso a cursos de formação superior em lugares de difícil acesso e, ainda, a participação massiva de pessoas de diversas classes sociais. O ensino a distância tem atraído à atenção de pesquisadores posto que suas características exijam determinadas competências que, às vezes, passam despercebidas na modalidade presencial. Com vista a contribuir com as pesquisas sobre a EAD, bem como elucidar algumas duvidas a respeito da atuação docente nesta modalidade desenvolvemos no doutorado a tese: “Os Saberes e Fazeres que Constituem a Identidade do Professor do Curso de Pedagogia na Modalidade EAD (educação a Distância)”, cujo objeto de pesquisa voltou-se para minha própria formação e atuação docente dentro da modalidade. Os questionamentos sobre o papel do professor do curso de pedagogia na modalidade a distância reportaram-me as experiências vivenciadas desde o início da caminhada acadêmica até o envolvimento com coordenação e a docência dentro da EAD. Dessa maneira, pode-se compreender que as experiências pessoais estão intrinsecamente ligadas as competências de cada profissional, uma vez que os saberes e fazeres docentes são formados, transformados, modificados a partir das interações nos diversos ambientes em que cada indivíduo se insere. Assim, por meio de dados coletados na tese que fundamenta esse trabalho, destacam-se os depoimentos de docentes atuantes na formação de professores na EAD. Analisar as experiências dos professores de Pedagogia na modalidade EAD no que diz respeito a sua formação, bem como o caminho que os conduziram ao envolvimento com a modalidade a distância nos permite identificar as crenças que orientam o agir desse profissional. O conceito de crença tem sido discutido no âmbito educacional considerando as reflexões necessárias para que o mesmo alcance seus propósitos, da mesma forma, os estudos específicos da modalidade a distância carecem de reflexões e pesquisas visto que sua particularidade nos coloca diante de problemáticas como a capacidade do 3 professor em lidar com as NTICS; a relação estabelecida entre professor e aluno; as divergências entre EAD e presencial; o perfil do aluno da EAD; as mudanças necessárias para a atuação na modalidade entre outras. Nesse contexto, pressupõe que o docente atuante na EAD reflita sobre suas competências, expectativas e anseios e, ainda, permita o autoquestionamento sobre suas crenças concernentes à modalidade a distância. A compreensão de crenças nos remete a ações e comportamentos que, na maioria das vezes, são adquiridos por meio das circunstâncias ao longo da vida. Contudo as crenças não são apenas um conceito imutável, ao contrário, elas se legitimam nas mudanças e transformações a cada nova interação e nas mais diversas situações. Dessa forma os docentes formam suas crenças e as modificam a partir de sua trajetória na formação, na interação com seus alunos, nos desafios ao longo da carreira. Como afirma Barcelos, “as crenças não são somente um conceito cognitivo, mas também social, porque nascem de nossas experiências e problemas, de nossa interação com o contexto e da nossa capacidade de refletir e pensar sobre o que nos cerca” (BARCELOS, apud GONÇALVES e MARCHESAN, 2013, p. 3). Diante disso, este trabalho propõe uma breve síntese sobre o histórico da EAD, além de uma análise acerca do curso de pedagogia na modalidade a distância com base nos depoimentos das docentes participantes da pesquisa e, por fim, a compreensão de alguns conceitos sobre crença e a identificação das crenças presentes no agir do professor de pedagogia na modalidade a distância. EAD: Breve histórico da modalidade A educação a distância representa um marco dentre as modalidades de ensino, tendo em vista o grande avanço no campo tecnológico de informação e comunicação – as TICs – e, sobretudo, sua evolução por meio das Novas tecnologias da informação e comunicação. Observa-se que as NTICs estão presentes nos diversos espaços de interação social, logo, pode-se afirmar que a sociedade vive em plena era digital e, essas mudanças e transformações trazem benefícios à sociedade como um todo. No âmbito educacional temos o ensino a distância proporcionando o acesso a diferentes níveis de escolaridade, graduações e especializações, sobretudo, em lugares onde as instituições de Ensino Presencial ainda são limitadas. 4 Nesse contexto, surgem dúvidas sobre a definição da EAD, além de questionamentos e incertezas sobre sua funcionalidade, o que por sua vez, legitima a relevância desse estudo. Quando se fala em Educação à Distância pode-se pensar, a princípio, em uma forma de ensino em que o tempo de produção difere do tempo de uso, ou seja, as reações dos alunos não teriam respostas imediatas por parte dos professores. Contudo, a evolução tecnológica alarga o entendimento do ensino a distancia como afirma Barreto, Pinto, Martins (1999): [...] a terminologia ‘educação a distância’ define uma série de tecnologias alternativas sofisticadas com a utilização de ferramentas tais como e-mail, Broadcast Bulletin Systems – BBB’s, Internet, audioconferência por telefone, videoconferências com um ou dois caminhos de vídeo e dois caminhos de áudio. (BARRETO; PINTO; MARTINS, 1999, p. 28). Deste modo, conforme as ferramentas utilizadas, o espaço físico e o tempo amplia-se o conceito de modalidade de ensino a distância. Para que se entenda o processo de ensino-aprendizado na modalidade EAD faz-se necessário levantar dados específicos do ensino a distância, tais como sua trajetória e evolução no Brasil. Estudos apontam para o início da EAD por meio dos cursos de correspondência muito utilizados na Europa na segunda metade do século XIX, e em nosso território, no começo do século passado. A evolução da modalidade se deu a partir de 1923, por meio de programas educativos via radio. O ensino a distância progrediu sendo veiculado pela Televisão na década de 1950, considerando que a primeira experiência tenha sido em circuito fechado pela Universidade de Santa Maria (RS) em 1958, dois anos após, a Universidade de Brasília desenvolveu a primeira experiência televisiva em circuito aberto, com objetivo de formar docentes que atuariam na instituição. O percurso prossegue com a criação da Fundação Centro Brasileiro de Televisão Educativa, em 1967 e, a criação do Sistema Avançado de Tecnologias Educacionais (SATE), em 1969, cujo objetivo era fixar diretrizes acerca de uma política para aplicação de novas tecnologias educacionais no país, tais como rádio, televisão entre outros. Nesse contexto, recebem destaques os projetos direcionados ao supletivo pelo Ministério da Educação (MEC), como o projeto Minerva e, ainda, os projetos de telecurso para Primeiro e Segundo Graus, além dos projetos de melhoria docente, como 5 o “Projeto Saci”, os da “Funtêve” e “Logos”. Os projetos pioneiros refletiam uma expectativa de incluir a população jovem e adulta ao mercado de trabalho por meio de cursos de baixo custo. A partir disso, surgiu também o Programa Nacional de Teleducação – Prontel – em 1972, vinculado ao MEC e, que buscava estabelecer diretrizes para a Ead via televisão. Assim, a trajetória da Educação a Distância segue com a criação de outras iniciativas nacionais como o Programa “Um salto para o Futuro” e “TV Escola” em 1995. Destaca-se também o Programa de Apoio Tecnológico (PAT) que disponibilizou a todas as escolas públicas com mais de 250 alunos, um ‘Kit Tecnológico’ composto por um aparelho de televisão, um videocassete, e fitas VHS. Os avanços tecnológicos foram fortalecendo a modalidade a distância que se beneficiou ainda mais, após a aprovação da Lei nº 5.692/1971. Conforme Gatti (2008), a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), Lei n. 9.394/1996, fomentou ainda mais a expansão do ensino a distância, uma vez que a Lei prevê o incentivo do poder público em cursos de aprimoramento e educação continuada. De modo que, percebe-se a importância de pesquisas e estudos que acompanhem a evolução não apenas das NTCIS, como também da própria procura por cursos à distância. O Curso de pedagogia na modalidade a distância: desafios e expectativas . Os cursos de formação de professores compreendem teorias e conhecimentos científicos que, muitas vezes, se distanciam da realidade do professor, considerando as ações necessárias à sua prática docente, bem como os saberes que são formados e as diversas experiências advindas da interação com o aluno, do preparo do material a ser utilizado em aula entre outras situações. Nesse contexto, o docente enquanto mediador do conhecimento se encontra diante de um grande desafio, esta constatação reflete uma série de questionamentos sobre o ‘ser professor’. A evolução tecnológica, responsável por inúmeras transformações sociais, possibilitou ao processo de ensino-aprendizagem novas abordagens e novas modalidades de ensino. É impossível pensar em Educação hoje sem os recursos que quebram as barreiras de tempo e espaço. De modo que a modalidade de Ensino a 6 Distância tem se propagado a cada dia mais, permitindo a sociedade o acesso a cursos em vários níveis. No que diz respeito ao curso de formação de professores, houve uma gama enorme de instituições ofertando cursos de Licenciatura, sobretudo Pedagogia, na modalidade EAD por meio da legalização da modalidade a distância expressa na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – art. 80 da Lei 9.394/1996. Nesse sentido, não apenas cresceu o número de cursos ofertados, como também as dúvidas e incertezas relacionadas à modalidade. Sabe-se que os questionamentos nos cursos de formação de professores são constantes, uma vez que as evoluções e transformações que ocorrem na sociedade influenciam direta e indiretamente no processo Educacional. Sendo assim, as teorias e metodologias preestabelecidas que constituem os cursos de formação docente são confrontadas com a realidade em que o professor se insere, gerando outros saberes e fazeres em sua prática de ensino. O curso de Pedagogia, que prepara o docente tanto para gestão escolar quanto para a atuação em sala de aula da Educação Infantil, pressupõe uma formação dinâmica, crítica-reflexiva com vista a formar um docente apto ao trabalho com o público infantil em seus primeiros passos na vida escolar. Nesse sentido, o professor em formação encontra-se diante de muitos desafios, pois, as práticas pedagógicas e as abordagens metodológicas estão condicionadas as particularidades dos alunos, a faixa-etária, a fase de alfabetização, entre outras coisas. Dessa maneira, os questionamentos sobre o curso de formação em Pedagogia são recorrentes, o que por sua vez, justifica a necessidade de pesquisas, estudos e reflexões sobre o tema. Nos dias atuais, os cursos de formação docente tem buscado um profissional que atenda a toda complexidade da Educação Básica infantil, com subsídios teóricos que compreendam a trajetória pedagógica do Brasil, que acompanhe a evolução tecnológica com suas transformações e mudanças. As NTICs como ferramentas para o desenvolvimento do curso de Pedagogia representam uma geração que se comunica de forma instantânea, criando relações que ultrapassam a barreira do espaço e do tempo. A Educação, de um modo geral, usufrui das novas tecnologias se abrindo para um novo caminho, possibilitando maior acesso ao conhecimento. No que diz respeito à modalidade a distância, observa-se que as NTICs reforçam as interações e o 7 desenvolvimento acadêmico no curso de formação docente, ou seja, contribui para o crescimento da oferta de curso pela modalidade. Assim, constata-se que a EAD marcou seu espaço, sendo um divisor de águas no âmbito educacional e, tem crescido a cada dia. Conforme ressalta Martins (2012, p132) “A inclusão tecnológica nas instituições de ensino superior contribuiu para a inserção de alguns professores na modalidade EAD, uma vez que a própria instituição deu início à mudança”. Dentre as dificuldades encontradas pelos professores no Curso de Pedagogia EAD destacam-se as competências e saberes necessários para a atuação na modalidade à distância. Segundo afirmam Amaral e Coelho (2008, p. 82): O trabalho do professor, no processo de aprendizagem a distância, viabilizado pelas novas tecnologias, continua imprescindível. Enquanto mediador pedagógico, caberá a ele estabelecer limites temporais, e estes não poderão ser um controle muito sutil, pois enquanto não tivermos alunos preparados para uma aprendizagem autônoma, necessitaremos da limitação de tempo, como a marcação de prazo para conclusão de determinadas tarefas. (AMARAL & COELHO, 2008). Os saberes docentes em nada são substituídos pelos recursos tecnológicos, ou seja, o professor continua sendo mediador do conhecimento, além de criar um vínculo com o aluno por meio das atividades interativas. Como se observa no depoimento das docentes participantes da pesquisa em que se baseia esse artigo: Para ser sincera considero que foi a experiência que foi nos formando, mostrando o jeito de lidar com o aluno, com os recursos da plataforma [...] Primo pelo planejamento [...] não dilato o prazo para entrega de atividades em atraso, mas motivo o aluno a se organizar e entregar as que estão no prazo, isso para que não tenha uma ideia de que a educação a distância é um curso vago. (P1) [...] eu vejo assim que, os saberes para docentes tanto na EAD como na presencial, eles devem ser de fato, seguindo as dez competências de Perrenoud como aquele professor pesquisador, trabalhador em equipe, que busca interação, as leituras, e uma das coisas que eu percebo na EAD, é que é satisfatório dessa capacitação que é passada no início. (P9) Como eu já tenho contato com a internet por conta que tenho participado de chat, bate-papo, é... Eu percebi assim que seria fácil essa forma de eu me comunicar, e eu gosto muito mais dessa/ da questão de responder o quadro de aviso, do que, por exemplo, participar de outro evento. Gosto do chat né (P3) 8 Os depoimentos expostos refletem um profissional consciente de suas necessidades de aperfeiçoamento e das competências indispensáveis para a atuação na modalidade a distância. Essa postura do docente pesquisador, que busca novos saberes e novas formas de interagir com o aluno e com as ferramentas específicas da modalidade nos remete a idéia de um professor que age de forma crítica e reflexiva, que repensa sua atuação e reavalia suas práticas pedagógicas, como confirma Ganga (2009, p. 33) alerta: “[...] não existe um modelo único de docência, seja no ensino presencial ou online. Uma atividade pedagógica deve começar com uma análise bem detalhada das possibilidades que cada tecnologia oferece quando inserida nos processos educativos”. Por conseguinte, percebe-se que os questionamentos e pesquisas concernentes ao curso de Pedagogia na modalidade EAD contribuem para o crescimento da modalidade, além da capacitação do profissional e legitimidade dos cursos de formação de professores, o que por sua vez, corrobora com a idéia de democratização e qualidade de ensino tendo em vista que um docente bem formado coopera para a formação de outros profissionais. As crenças presentes no agir do docente de Pedagogia na EAD. A trajetória percorrida pelo ensino a distância até os dias atuais foi marcada por momentos de progressos e estagnação, considerando o período que vai dos cursos por correspondência até as transformações tecnológicas, além dos incentivos legais expressos na LDBEN. Nesse contexto, percebe-se que parte da problemática surge devido à falta de compreensão a respeito das especificidades da EAD e, ainda, um prejulgamento acerca da funcionalidade e eficácia dos cursos de formação de professores na modalidade a distância Diante disso, é válido analisar as crenças presentes na atuação dos docentes de Pedagogia na EAD, partindo do princípio que a prática docente seja um conjunto de saberes adquiridos em formação e, também, saberes e aprendizados advindos das experiências pessoais de cada profissional. Os cursos de formação de professores apresentam-se como um espaço propício para a discussão do tema, uma vez que, as 9 teorias e abordagens compartilhadas nesse espaço ajudam na formação de novas crenças ou na transformação de crenças preestabelecidas. Dessa maneira, entende-se a importância de estudos sobre ‘crenças’ a fim de contribuir para a formação de professores aptos a lidar com as particularidades da EAD, com a diversidade de recursos e, sobretudo, com as muitas crenças presentes nos alunos e demais colaboradores da modalidade. Como ressalta Barcelos, “Isso faz parte de formar professores críticos, reflexivos e questionadores do mundo a sua volta (não somente da sua prática)” (BARCELOS apud GONÇALVES & MARCHESAN, 2013, p. 6). A identidade docente, seu comportamento e agir são construídos diariamente por meio das relações que são estabelecidas em caráter profissional e, sobretudo, pessoal. Dentro dessa idéia, pode-se inferir que a identidade do professor refletem suas crenças que, por sua vez, direcionam o seu agir. O termo ‘crença’ tem surgido em diversos estudos e pesquisa, contudo, sua definição não é tão simples, tendo em vista que as crenças podem ser constituídas de diferentes formas. Dentre vários autores, Gonçalves e Marchesan (2013) retomam Barcelos (2004) na afirmação que: “as crenças não são somente um conceito cognitivo, mas também social, porque nascem de nossas experiências e problemas, de nossa interação com o contexto e da nossa capacidade de refletir e pensar sobre o que nos cerca” (BARCELOS apud GONÇALVES & MARCHESAN, 2013, p. 6). No que tange a Educação, ou mais especificamente, ao profissional educador, observa-se que as crenças são oriundas das inter (ações) com alunos, com outros professores, com o tipo de material pedagógico e, ainda, com o espaço onde o processo de ensino-aprendizagem ocorre. A análise das crenças dos professores envolvidos na EAD colabora para o entendimento de pontos relevantes sobre a modalidade, tais como, a relação estabelecida entre docente e discente, as adaptações a recursos tecnológicos, o perfil do professor do ensino a distância, entre outras. Nesse sentido, optou-se por ilustrar as crenças presentes no dia-a-dia dos docentes do curso de Pedagogia na modalidade EAD a partir de seus respectivos depoimentos concernentes ao desafio de ser um professor habilitado para o ensino a distância. Como se observa a seguir: 10 No que diz respeito aos recursos tecnológicos, alguns docentes demonstraram certo receio ao trabalhar com a máquina inicialmente e, citaram as estratégias utilizadas para a prática docente. [...] Era uma novidade, era uma coisa interessante pra mim né? Embora eu não domine a máquina; eu tenho muita dificuldade, fui autodidata no computador, tenho até hoje dificuldade, digito tudo com um dedo só. Fui, assim tentando... Dominar a máquina e o curso que eu fiz, foi aquele que a IESPa4 nos forneceu num determinado momento, poucas horas, foi aquilo que eu assimilei, e tentei fazer. (P3) Aprendi muito, principalmente a mexer com a máquina né? Usar a plataforma, você vê, quando que eu ia imaginar depois de 30 anos de profissão que eu ia trabalhar com Educação à Distância? [...] tudo pelo computador, os vídeos, as aulas, então a gente aprendeu muito também; aprendi muito também com a Educação à Distância e eu acho assim, não sei se a gente acostuma... Mas, eu acho normal. (P5) Utilizo bem as ferramentas sociais da internet, procuro sempre responder aos questionamentos do aluno independentemente do dia ou do horário. (P7) A partir dos depoimentos expostos, pode-se inferir que os docentes se empenharam na adaptação aos recursos tecnológicos, contudo, sem menosprezar suas próprias habilidades, o que, por conseguinte, refuta a idéia de que o recurso tecnológico suplantaria o agir docente, considerando que esse pensamento seja uma crença negativa relacionada à EAD. Identificar as possíveis crenças relacionadas a modalidade resulta numa busca por melhoria no agir docente, bem como uma reflexão sobre os saberes e fazeres necessários para a atuação no ensino a distância. No que tange as relações estabelecidas na EAD, observa-se que os pontos de vista se contradizem, ou seja, uns sustentam a ideia de que a comunicação entre professor e aluno flui melhor na EAD, enquanto outros acreditam que uma relação eficaz entre aluno e professor só ocorre na modalidade presencial. Segundo Gonçalves e Marchesan (2013) , as pesquisas que abordam o assunto ‘crenças e EAD’ tem aumentado consideravelmente, de modo que as autoras destacam os estudos do autor Marcelo (2011), dos quais foram identificadas algumas crenças, tais como: “O aluno presencial participa e interage mais ativamente, com os seus professores e colegas, dos momentos de ensino e aprendizagem do que o aluno virtual.”; ‘Na EaD há 11 menos embates diretos com os estudantes.”; “O aluno presencial é mais freqüente e participativo do que o aluno virtual.”; “Na modalidade de educação presencial, não há trabalho em equipe, enquanto, na EAD, a formação de equipes é requisito fundamental.”. As crenças sobre o ensino na modalidade EAD refletem os desafios e, também, as compensações vivenciadas pelos docentes, como se observa nos depoimentos a seguir: [...] é claro que se estabelecem vínculos, a gente não pode dizer que não. Mas, eles também tem assim, muita preocupação do cumprimento das tarefas; é sempre aquela lógica da data de postagem, de fechar o ambiente, ou ele vai conseguir ou ele não vai conseguir fazer. (P2) Eu trabalharia muito mais prazerosamente se eu tivesse tempo e eu não tenho esse tempo; então, até o vínculo com o professor ele fica prejudicado porque você tem que fazer uma escolha, ou você faz a mediação do conteúdo ou trabalha de uma forma mais leve, mais lúdica, mais prazerosa pra eles. (P2) Você acaba mantendo um vínculo com seu aluno afetivo. Mesmo por meio da ferramenta, você consegue – quando você – por exemplo, é visualizado por meio de vídeos, eles te assistem, o próprio e-mail, às vezes eles falam com a gente por telefone. (P8) [...] eu procurei manter a mesma qualidade do presencial, procurar estar próxima do aluno... Tem os cursos de formação, mas o principal é o feedback emitido pelo aluno, quando o aluno se posiciona, envia sua opinião, o importante é a devolutiva do aluno [...] nesse momento você tem uma boa devolutiva do seu trabalho, do que está dando certo... ou errado. (P7) Eu acho que o aluno à distância me dá um retorno melhor [...] Ele se envolve mais ele é mais dedicado. (P3) [...] algumas turmas da EaD eu percebo que o aluno se envolveu mais, que ele pesquisa mais, talvez pelo fato de estar em frente ao computador e conectado a internet, já o aluno do curso presencial... a maioria trabalha... Ele se prende mais a explicação do professor, ele não se prepara para ir à aula. (P7) 12 A partir disso, constata-se que a identificação das crenças presentes no agir docente possibilita uma autoavaliação das práticas de ensino, das metodologias e abordagens, além de uma ressignificação sobre o ser professor. Metodologia Pesquisa bibliográfica, balizada na revisão da literatura e Análise do Conteúdo - Bardin (2009). Resultados e discussão A prática docente e o perfil pedagógico do professor envolvido na EAD abarca uma série de saberes constituídos a partir de suas experiências pessoais e dos conhecimentos adquiridos em sua formação. De modo que, a identidade docente é fruto de um trabalho diário podendo ser transformada a cada nova experiência vivenciada. O espaço em que se desenvolvem as atividades específicas da modalidade a distância permite a construção de novos conceitos, considerando que a mediação por meio de recursos tecnológicos requer outros aprendizados, diferentes dos que são trabalhados presencialmente. Nesse sentido, compreende-se que as NTCIS fazem parte de uma realidade irreversível no âmbito educacional, uma vez que um retrocesso da utilização tecnológica nas práticas docentes privaria muitos desse tipo de conhecimento, ou seja, a EAD que precisa da boa manutenção de recursos tecnológicos, se apresenta como um ótimo instrumento de acesso ao processo de ensino-aprendizado. O percurso da modalidade de Ensino a Distância ao longo dos anos, marcado por altos e baixos, legitimam o desenvolvimento de pesquisas sobre a EAD com vista a elucidar as dúvidas e dificuldades concernentes ao comportamento dos alunos, a plataforma de aprendizado, entre outras carências. O crescimento da modalidade a distância é visto em todas as áreas e, portanto, faz-se necessário considerar as crenças negativas e positivas acerca do processo de ensino-aprendizagem desenvolvido no 13 ambiente virtual de aprendizado a fim de que sejam alcançados os propósitos da Educação à Distância em sua oferta de ensino de qualidade e formação profissional. Por conseguinte, a busca por adaptações tecnológicas e, ainda, abordagens pedagógicas específicas da modalidade são uma constante na vida do profissional inserido no curso de formação de professores. E, assim, é possível reafirmar a crença de que a educação seja EAD ou Presencial se faz de forma coletiva, crítica e reflexiva buscando sempre proporcionar a liberdade de aquisição de conhecimento. Referências AMARAL, A.L; COELHO, M.L. Os professores universitários e os desagios dos ambientes virtuais de aprendizagem. Extra-classe Revista de Trabalho e Educação, Belo Horizonte/MG, nº 1, v. 1, p. 74-84, jan./jul. 2008. BARDAN, L. 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