Resumo Expandido _João Marc

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Anais do XIX Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178
Anais do IV Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420
23 e 24 de setembro de 2014
A EXPERIÊNCIA FÁTICA DA VIDA COMO FUNDAMENTO PARA
COMPREENSÃO DA CONEXÃO ENTRE HOMEM E DEUS NO
PENSAMENTO DE MAX SCHELER
Maiara Rúbia Miguel
Prof. Dr. Renato Kirchner
Faculdade de Filosofia
Ética, Epistemologia e Religião
CCHSA
CCHSA – Faculdade de Filosofia
[email protected]
[email protected]
Resumo: A partir do método fenomenológico desenvolvido primeiramente por Edmund Husserl, o
filósofo alemão Martin Heidegger descreve fenômenos religiosos concretos, tomando por base as epístolas paulinas, sendo de fundamental importância
para cumprir seus objetivos fenomenológicos. Max
Scheler, pelo livro Do eterno no homem, cuja primeira edição foi publicada em 1921, descreve uma
“renovação religiosa”, tornando-se uma das maiores
influências para os estudiosos do fenômeno religioso. Diante disso, a presente pesquisa procura fazer
uma interpretação filosófica de textos fundamentais
dos filósofos Heidegger e Scheler. Em perspectiva
fenomenológica, de um lado, a pesquisa tem como
meta compreender como Heidegger compreende a
“experiência fática da vida” e, de outro, a maneira
como Scheler tematiza os conceitos de “religião”,
“homem”, “Deus” e “metafísica”.
desemprego e pessoas na miséria. Logo, é natural
concluir que os espíritos dessas pessoas precisam
ser reanimados, e justamente nesse contexto que o
filosófo alemão Max Scheler se viu na missão de
trazer esse objeto de sentido através da filosofia.
Por isso, a partir de seus conhecimentos da filosofia
de Santo Agostinho e de sua leitura da obra de Rudolf Otto intitulada O Sagrado, ele empreenderá
uma renovação religiosa. Enquanto isso, outro pensador, muito importante chamado Martin Heidegger,
estava preocupado com a existência, e assim, iniciou um estudo sobre a fenomenologia da religião e
analisou a experiência de vida fática do apóstolo
Paulo, bem como, a experiência de Santo Agostinho.
Palavras-chave: Religião, Homem, Deus, Experiência fática da vida.
Área do Conhecimento: Fenômeno Religioso:
Dimensões Epistemológicas – Ética, Epistemologia
e Religião – FAPIC/Reitoria.
1. INTRODUÇÃO
Quando se pensa nas consequências de uma guerra, o que vem em mente são os números de pessoas mortas, mulheres viúvas, crianças órfãs, fome,
Nesse sentido, esta pesquisa é pautada em uma
interpretação filosófica, de modo que possa ser vista
a possibilidade da expressão “experiência fática da
vida” heideggeriana como fundamento para entender a experiência religiosa de acordo com Max Scheler, portanto, essa interpretação parte da leitura
das obras Fenomenologia da vida religiosa, que é
um conjunto de preleções do semestre de inverno
de 1920/1921, que fazem parte da introdução à
fenomenologia religiosa idealizada pelo filósofo Martin Heidegger, e da obra Do eterno no homem do
filósofo Max Scheler, publicado primeiramente em
1921. Em suma, esta interpretação é uma tentativa
de explicitar se é possível a contribuição da expressão “experiência fática da vida”, para as conclusões
e as considerações de Scheler acerca do “homem”
e “Deus” em sua obra Do eterno no homem, em
específico, analisar a possibilidade da “experiência
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fática da vida” ser o fundamento para a compreensão do “homem” e “Deus” segundo Max Scheler.
2. QUEM FOI MAX SCHELER?
Max Scheler nasceu na Alemanha em 1874. Desde
pequeno confrontou a religiosidade, tendo em vista
que sua mãe era judia, contudo em sua adolescência tomou conhecimento de preceitos da Igreja Católica fazendo com que, posteriormente, por um
bom tempo ele professasse essa crença. Scheler se
formou em filosofia e ciências naturais. Foi aluno de
Eucken. Discípulo de Husserl. Frequentou o círculo
dos jovens fenomenólogos de Göttingen. Além disso, mesmo não possuindo formação em sociologia,
ocupou a cátedra de sociologia por muito tempo na
Universidade de Colônia, e foi nomeado diretor do
Instituto de Estudos Sociológicos da mesma cidade.
Em 1928, publica a obra A posição do homem no
cosmos e, querendo ou não, marca a disciplina da
antropologia filosófica, contudo, depois de alguns
meses ocorre seu falecimento.
3. FENOMENOLOGIA ESSENCIAL DA RELIGIÃO
As orientações mentais consideradas problemáticas
são: Positivismo e o Panteísmo. Quando se pensa
no positivismo na filosofia, tem se em mente que
essa direção mental dedicava toda a veneração do
homem – que anteriormente era dedicada a Deus –
à humanidade. Segundo Scheler, Deus foi o primeiro pensamento, a razão o segundo, e o homem o
último (SCHELER, 2007, p. 37), portanto, a preocupação dos positivistas é em aplicar leis da natureza
para ordenar a sociedade. Enquanto que, a outra
orientação mental conhecida como panteísmo, que
é considerada problemática para a humanidade, se
funda em uma equação Deus = mundo.
No entanto, na visão do filósofo Scheler, o positivismo é um equívoco, pois não são a partir das leis
da natureza ou a necessidade do homem em dominar a natureza e a si mesmo que será possível observar uma ordem do bom e do justo, pelo contrário,
é necessário o clamor por uma renovação religiosa
mediante a aceitação de Deus, que é o grande passo para o domínio de si mesmo. E o modo de con-
cepção de mundo do panteísmo também é um erro,
porque é supostamente provado que há uma multiplicidade de forças que rodeiam os homens e constituem o mundo, e Deus não é igual ao mundo, e
sim superior a ele, já que é seu criador, pois o mundo é mundo, e o mundo é um mundo somente e
porque é o mundo de Deus (SCHELER, 2007, p.
41).
O ponto de partida para a renovação religiosa consiste em reconhecer que tanto o positivismo quanto
o panteísmo não são capazes de dar nenhuma resposta, pelo contrário, trazem caos.
Com a missão de trazer os preceitos da fé cristã
para uma renovação religiosa, é visto a importância
dos fundamentos essenciais da religião, que conjuntamente auxiliam a investigação do absolutamente
santo e divino, já que o estudo e a investigação
essencial do divino, da teoria das formas de revelação e dos atos religiosos, pelo qual o homem se
prepara para a recepção do conteúdo da revelação
e o apreende na fé são partes importantes da fenomenologia essencial da religião.
A investigação de Max Scheler limita-se, no essencial, ao que ele considera como ato religioso, pois é
nele e em suas leis de sentido que resultará de modo claro como se chega a uma evidência da fé religiosa, bem como, a experiência religiosa.
É somente pelo ato religioso que se apreende o
ente finito e contingente como criatura dependente
do divino e, além disso, somente este ato se dá na
dependência do mundo. Por assim dizer, percebese a criaturalidade da criatura como uma nota fenomenal já que os conteúdos das vivências religiosas são vividas e não pensadas. Além do mais, são
simbólicas, ou seja, a constatação de que o homem
é criatura de Deus dá-se por meio das vivências
religiosas simbólicas e fenomênicas. É pelo ato
religioso que o homem infere o mundo e essa relação está ligada à própria essência do homem, pois
é mediante esse ato que se pode conhecer e pensar
o mundo, tendo em vista a realidade dada como
divina, uma vez que Deus manifesta-se no mundo e
em sua estrutura.
Com efeito, o mundo é idealizado pelo filósofo alemão Scheler como um ser independente da existên-
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cia do ato espiritual do homem, pois entre a espiritualidade de Deus e o mundo não há nenhuma conexão direta, senão somente uma conexão pela
constituição essencial objetiva do mundo, uma vez
que o mundo está em relação essencial com as
formas fundamentais do espírito humano. Por isso,
a expressão de Deus é vista e observada nos acontecimentos da natureza. Não há uma regularidade
da causa do mundo e Deus e, justamente por isso,
não é possível afirmar nada sobre o que é, de fato,
a causa do mundo. Contudo, pode ser compreendida como a relação do artista com a obra de arte,
isto é, um artista como Van Gogh é a causa de uma
obra de arte como é o caso do famoso quadro A
noite estrelada. Além disso, existe nesta obra fenomenalmente algo da essência espiritual individual
de Van Gogh. Assim, também pode ser entendida a
manifestação de Deus no mundo, estando a presença de Deus na criatura do mesmo modo como a
essência de Van Gogh está contida na sua obra de
arte. Com efeito, a presença de Deus só pode ser
compreendida mediante o ato religioso, uma vez
que só compreendemos Deus em Deus.
O saber religioso deve ser caracterizado, então,
pela origem e sentido, uma vez que a origem e sentido mesmo de Deus no mundo se dá por meio do
espírito. Assim, o espírito é algo que o homem, pela
experiência, só encontra dentro do mundo e na parte do mundo que ele mesmo é. Fica claro, assim,
que a espiritualidade de Deus só pode ser acessada
pelo homem se ele estiver compenetrado em si
mesmo e no mundo exterior. Contudo, além disso, é
primordial o homem viver seu núcleo, isto é, o mundo que ele mesmo é, de modo que seja dada importância ao seu centro de atos espirituais, isto é, à
potência de seu ato e ao modo como o homem dá a
si mesmo.
Pelo ato religioso chega-se a conclusões que possuem significado religioso em absoluto, pois esse
ato funciona melhor conforme as conexões essenciais construídas pelo homem com o ser de Deus, de
maneira que permite a conclusão geral da ideia da
criação.
4. FILOSOFIA, EXPERIÊNCIA FÁTICA DA VIDA E
FENOMENOLOGIA DA RELIGIÃO
A obra Fenomenologia da vida religiosa é uma preleção do semestre de inverno de 1920/1921, onde
se vê a preocupação de Heidegger com a existência
humana e, particularmente, com a fenomenologia
da religião. Quando Heidegger pensa a existência
humana, leva em conta a faticidade, além de conceber o mundo como o universo de significação que
afirma o existir de cada indivíduo. Portanto, a faticidade é primordial para a compreensão de uma fenomenologia da religião, bem como a concepção de
experiência fática da vida. Assim, Heidegger empreende uma introdução metodológica no intuito de
compreender tais conceitos e visualizá-los numa
interpretação das epístolas paulinas. Neste caso, o
filósofo seleciona as epístolas aos gálatas e as duas
epístolas aos tessalonicenses é imprescindível para
compreender o existir.
Na visão do pensador, experiência possui duas
designações, sendo elas: ocupação que experimenta e o que é experimentado através dela
(HEIDEGGER, 2010, p. 14). Contudo, o essencial a
ser compreendido é que o “experimentar” não faz
menção a uma simples tomada de conhecimento,
mas está muito mais voltada ao confrontar-se, o
afirmar-se das formas experimentadas. A conceituação do que é “fático” também é uma preocupação
heideggeriana, afirmando que este conceito não
significa uma realidade natural, determinação causal
ou concreta, uma vez que deve ser entendido pelo
conceito de “histórico” (HEIDEGGER, 2010, p. 14).
A motivação da filosofia fenomenológica é um tanto
quanto peculiar e está concentrada no esforço constante em determinar seu conceito próprio. Todavia,
o importante é que o ponto de partida desta motivação é a experiência fática da vida, pois é nela que
se realiza a virada que conduz à filosofia. Assim, a
experiência fática da vida é um conceito fundamental, pois, se nela o homem é conduzido à filosofia,
onde tudo é referido a ele mesmo, isto significa uma
tendência à concepção de mundo e a plena colocação ativa e passiva no mundo. Por isso, experiência
designa propriamente: a ocupação que experimenta
e o que é experimentado através dela e este “experimentar” está voltado ao confrontar-se com, en-
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quanto que o “experimentado” é o afirmar-se das
formas experimentadas (HEIDEGGER, 2010, p. 14).
O experimentado também pode ser entendido como
mundo, mas o mundo não é um simples objeto, pois
em objetos não se vive, mas sim um mundo onde se
pode viver constituído pelo mundo circundante,
sendo aquilo que vem no encontro (materiais, ideias, ciências, artes, objetualidades e etc.), pelo mundo compartilhado, que no caso seriam outros homens numa característica fática determinada e o
pelo mundo próprio, o eu mesmo.
Existe caráter de significância em tudo aquilo que a
experiência fática da vida permite experimentar, e o
que é fático não possui objetos, mas caráter de
significância se assumido pelo conhecimento. Por
isso, o conhecer fático é um tomar nota. A faticidade
é o ponto de partida da filosofia e caráter que existe
como puro fato do ser-aí aberto ao mundo
(HEIDEGGER, 2012, p. 37), enquanto que a vida
fática faz menção ao sujeito que pode e conhece o
objeto. E, caso se tome a vida como um modo de
ser, então, “vida fática” quer dizer: nosso próprio
ser-aí (Dasein) enquanto “aí” (Da) em qualquer expressão aberta no tocante a seu ser (Sein), ou seja,
em seu caráter ontológico (HEIDEGGER, 2012, p.
39).
5. A EXPERIÊNCIA FÁTICA DA VIDA E A
FENOMENOLOGIA DE MAX SCHELER
Partindo do pressuposto de que pela experiência
fática da vida, do modo como Heidegger concebe, é
possível existir vendo significância em tudo o que é
experimentado, e conduz o homem à filosofia. E,
tendo em mente, que aos olhos de Max Scheler, o
homem estando no mundo consegue se conectar a
Deus, será que a experiência fática da vida não
poderia ser o fundamento para o homem conhecer
Deus? Este questionamento levantou a hipótese da
interpretação da experiência fática da vida como
fundamento para compreensão da conexão entre
homem e Deus no pensamento de Max Scheler,
porém, o desenvolvimento reflexivo dado por Scheler, e o que é apresentado por Heidegger não permite a confirmação de tal hipótese.
Heidegger também pertenceu ao ciclo fenomenológico e teve contato com o pai da fenomenologia
Edmund Husserl. No entanto, seu modo de entender e desenvolver o método fenomenológico é distinto de Scheler. O que o faz Scheler parecer ser um
fenomenólogo é á atenção dada a problemas específicos, especialmente problemas humanos tais
como religião, simpatia, amor, ódio, emoções e valores morais (SOKOLOWSKI, 2012, p. 230), enquanto que Heidegger está muito mais preocupado
com as questões do ser (SOKOLOWSKI, 2012, p.
227).
Scheler trabalha diante de uma visão personalista e
também traz consigo características da fenomenologia husserliana como os atos intencionais. A intencionalidade é um conceito fenomenológico que
se aplica primeiramente à teoria do conhecimento e,
a partir disso, estatui que cada ato de consciência é
essencialmente consciência “de” algo ou outrem
(SOKOLOWSKI, 2012, p. 18). A intenção faz menção à relação de consciência que o homem possui
de um objeto determinado. Contrastando esta influência, Heidegger toma este conceito da intencionalidade como problemático, uma vez que preza pela
possibilidade da pessoa apenas existir no exercício
de atos intencionais e, portanto, a pessoa não é um
objeto em sua essência mesma, de modo que esta
visão toma toda objetivação psíquica e a apreensão
de um ato como algo meramente psíquico, fazendo
com que este ato seja equivalente a uma despersonalização.
Quando se trata especificamente da obra Do eterno
no homem fica claro que existem dois modos distintos de alcançar um conhecimento religioso, sendo
que um modo parte da metafísica e outro da religião, onde basicamente a diferença se dá pelo fato de
que a religião parte do absolutamente santo que
permite a salvação, o summum bonum (o objeto
intencional do ato religioso), enquanto que a metafísica parte de operações lógicas em vista de um fim
– se há de existir algum. Por isso, o ato religioso
admite um ente que se manifesta em si mesmo e o
ato metafísico vai ao encontro espontâneo mediante
operações lógicas.
Portanto, o ato religioso é o meio pelo qual o homem infere o mundo e essa relação está ligada à
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própria essência do homem. É mediante este ato
religioso que se pode conhecer e pensar o mundo,
tendo em vista a realidade dada como divina, uma
vez que Deus se manifesta no mundo e em sua
estrutura, e não pela experiência fática da vida do
modo como Heidegger elucida, pois, para ele, o
mundo não é dado necessariamente como divino, e
o que a experiência fática da vida promove é uma
“vivência histórica”, e não uma experiência tida pelo
tipo de ato intencional ou qualquer objetivação psíquica.
próprio, e o modo de ser da significância que determina o caráter do experimentar mesmo, pois o homem experimenta todas suas situações fáticas da
vida e fica claro quando ele se pergunta como ele
mesmo se experimenta na experiência fática da
vida. Além disso, Heidegger deixa claro que, ao que
concerne aos conceitos como “psíquico”, “conjunto
de atos”, ou até mesmo problemas relacionados ao
conjunto “corpo e alma”, não representa nada significativo para a compreensão do ponto de partida, a
saber, a experiência fática da vida.
Scheler vê o mundo como um ser independente da
existência do ato espiritual do homem, além disso,
entre a espiritualidade de Deus e o mundo não há
nenhuma conexão direta, senão somente uma conexão pela mediação do conhecimento essencial do
espírito humano e de sua conexão com a constituição essencial objetiva do mundo, uma vez que o
mundo está em relação essencial com as formas
fundamentais do espírito humano. O homem vive
em seu centro espiritual de atos. O saber metafísico
permite conhecer a verdade de que o fundamento
do mundo é de índole espiritual sem a condição de
viver em espírito, de modo que é negada a vivência
em seu centro espiritual, tendo em vista que este
centro é “composto” de forças impulsivas e espirituais. Então, se, por um momento, analisarmos a experiência fática da vida da maneira como é defendida por Heidegger, enquanto fundamento desta conexão entre homem e Deus, ela será responsável
pela negativação do centro espiritual humano e,
consequentemente, o saber que poderia ser obtido
mediante a vida fática não teria significado algum
em absoluto no sentido religioso, no sentido da obtenção de um saber religioso que possibilita a evidência de fé.
O ato religioso assegura o conhecimento religioso
absoluto mediante a liberdade de o homem viver
seu centro espiritual e ser o senhor e controlador de
seus atos impulsivos e orientadores, pois se ele vive
no espírito, compreende pelo ato religioso. É pelo
ato religioso que é possível apreender o ente contingente como criatura do divino, ou seja, só pode
ser afirmado que o homem é criatura de Deus mediante o ato religioso. O ser humano é o reflexo do
criador, e a revelação natural mais elevada, e vive
no ato religioso. O espírito humano vive e é este
ato. Por isso, o ato religioso é o único modo de o
homem compreender Deus e se conectar a ele, pois
este ato leva em consideração a experiência do
homem mediante atos psíquicos e os objetos intencionais da religião mesma, a saber, a salvação, e
sabendo que só se compreende Deus em Deus, só
se compreende Deus no ato religioso, e só infere o
mundo mediante o ato religioso.
O que a experiência fática da vida visa é apenas
possibilitar percorrer o caminho que alcança o princípio para a compreensão da própria filosofia, pois
ela reside totalmente no conteúdo que possui todas
as mudanças da vida. Contudo, ela não surge de
forma alguma em pensamentos como se não pudessem tornar acessíveis, mas ela se expande sobre tudo. Portanto, a experiência fática da vida carrega o caráter de significância e sentido no mundo
circundante, no mundo compartilhado e no mundo
Contudo, Heidegger faz duas afirmações muito importantes sobre Max Scheler. Uma delas faz menção ao que Scheler desenvolveu como fenomenologia da religião, já que a experiência religiosa e o
modo como concebê-la, segundo Heidegger, não
passa de uma influência da escolástica medieval, só
que
mais
enfeitada
com
fenomenologia
(HEIDEGGER, 2010, p. 146). No entanto, não são
somente críticas que Scheler recebe de Heidegger,
pois ao que concerne à compreensão das epístolas
paulinas, mais especificamente a explicação fenomenológica da Primeira Epístola aos Tessalonicenses, é apontada uma dificuldade metodológica, que,
com auxílio de Scheler, poderia ser sanada parcialmente, a saber, a questão da empatia, pois se não é
possível saber exatamente a situação de Paulo,
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ainda mais por não termos conhecimento de seu
mundo, é possível, porém, entender o entorno de
Paulo, sua personalidade para a compreensão do
que é relevante, enfim, qual é seu “mundo circundante” (HEIDEGGER, 2010, p. 79).
Talvez a única semelhança entre os dois filósofos
alemães seja o amor ao conhecimento, mas de fato
a experiência fática da vida não é o fundamento
para a compreensão da conexão entre homem e
Deus no pensamento de Max Scheler, senão somente o ato religioso.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Assegurar que tanto Heidegger quanto Scheler tinham o mesmo propósito simplesmente por possuírem conhecimento do método fenomenológico não é
muito apropriado. Contudo, afirmar que, apesar de
ambos terem conhecimento deste método, cada
qual a partir das questões filosóficas que lhes eram
peculiares, e por terem personalidades diferentes,
desenvolveram suas indagações de modo que trouxeram ideias que até hoje nos debruçamos na tentativa de compreendê-las.
Se Scheler preocupou-se com os ânimos dos espíritos dos alemães após a Primeira Guerra, Heidegger
ocupou-se com as questões sobre o método de
investigação do fenômeno religioso e o modo como
se vê nas experiências de vida do apóstolo Paulo.
Pelo desenvolvimento da pesquisa, ficou claro que a
fundamentação da conexão entre homem e Deus
não coincide com a experiência fática da vida, pois
a peculiaridade do tratado filosófico de Scheler traz
características muito diferentes com as quais Heidegger se ocupa, a saber, a intencionalidade e atos
psíquicos. Apesar disso, porém, os trabalhos destes
filósofos não devem ser desmerecidos, mas reconhecidos o mérito e o objetivo de cada um deles. A
diferença de pensamento não é algo ruim, mas a
demonstração de que a filosofia se faz com diferentes homens, com diferentes questões e modos de
concepção de mundo, fazendo com que o estudo e
a busca pelo conhecimento sejam insaciáveis ao
espírito daqueles que amam a filosofia.
7. AGRADECIMENTOS
Agradeço à Pontifícia Universidade Católica Campinas por proporcionar oportunidade de realização da
Iniciação Científica. Agradeço ao meu orientador
Prof. Dr. Renato Kirchner, por sua disposição, auxílio e toda orientação, pois com ele aprendi e cresci
intelectualmente, e essa pesquisa só obteve tal
resultado por conta de sua presença, participação
ativa e confiança dada para o estudo destes dois
filósofos. Agradeço a FAPIC/ Reitoria por fomentar a
presente pesquisa, pois com esse incentivo foi possível adquirir livros importantes, e participar de eventos, como XVII Encontro de Pesquisa na Graduação em Filosofia, realizado na USP, São Paulo;
como também, 27º Congresso Internacional da
SOTER, realizado na PUC-Minas, Belo Horizonte,
Minas Gerais.
8. REFERÊNCIAS
[1] HEIDEGGER, Martin. Fenomenologia da vida
religiosa. Tradução de Enio Paulo Gianchini, Jairo
Ferrandin, Renato Kirchner. Petrópolis: Vozes,
2010.
[2] __________. Ontologia (hermenêutica da faticidade). Tradução de Renato Kirchner. Petrópolis:
Vozes, 2012.
[3] SCHELER, Max. De lo eterno en el hombre. Tradução de Julián Marías e Javier Olmo. Madri: Encuentro, 2007.
[4] SOKOLOWSKI, Robert. Introdução à fenomenologia. Tradução de Alfredo de Oliveira Moraes. São
Paulo: Loyola, 2012.
[5] TEOFILO URDANOZ, O.P. Historia de la filosofia
VI. Madri: Biblioteca de Autores Cristianos, 1978.
[6] VEGAS, Jose Maria. Introduccion al pensamento
de Max Scheler. Madri: Instituto Emmanuel Mounier,
1992.
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