IV Congresso de Pesquisa e Extensão da FSG AS CORPORAÇÕES

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IV Congresso de Pesquisa e Extensão da FSG
II Salão de Extensão
http://ojs.fsg.br/index.php/pesquisaextensao
ISSN 2318-8014
AS CORPORAÇÕES PRIVADAS COMO AGENTES DO SISTEMA
INTERNACIONAL Uma análise das imagens publicitárias da campanha Unhate
Benetton através da perspectiva das Relações Internacionais
Fausto Alfredo Passaiaª*, Luísa Simon Covolanª*.
a)
Centro Universitário FSG
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Palavras-chave:
Benneton. Construtivismo. Empresas
Transnacionais. Religião. UNHATE.
Resumo
O presente artigo objetiva analisar a repercussão da
Campanha UNHATE para as Relações Internacionais,
explorando a influência das empresas transnacionais no
Sistema Internacional. A pesquisa é relevante já que utiliza
um meio de comunicação social com imagens impactantes
relacionadas a conflitos históricos. Tendo como base a Teoria
Construtivista e a influência de uma corporação privada no
sistema internacional, contextualiza-se, portanto, conflitos
envolvendo o Cristianismo, o Islamismo, o Estado de Israel e
a Palestina. Com este artigo apresentamos o embasamento e
os argumentos que confirmam a hipótese de que corporações
privadas, como a Benetton, influenciam no sistema
internacional de maneira significativa; e que a campanha
UNHATE, criada pela marca, apresentou impactos para as
Relações Internacionais durante sua repercussão. Contanto é
refutável a hipótese de que a campanha promovida por esta
empresa não impactou no Sistema Internacional, assim como
não atingiu seus objetivos
1 INTRODUÇÃO
O presente artigo objetiva analisar a repercussão da campanha UNHATE - Benetton
para as Relações Internacionais, além de explorar a influência das empresas transnacionais no
Sistema Internacional. Será desenvolvido a partir da seguinte problemática: Qual o impacto da
campanha UNHATE, idealizada em uma corporação privada, no Sistema Internacional?
Por consequência, os desdobramentos do tema nos levam a analisar o papel das
corporações dentro do mesmo e os motivos que impulsionam suas ações. O trabalho foi
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desenvolvido com base nas hipóteses de que as empresas transnacionais, tendo como
embasamento a corrente teórica construtivista, são agentes do SI; e que a campanha
UNHATE apresentou impacto relevante no âmbito das Relações Internacionais durante sua
repercussão.
O estudo possui duas esferas de análise: em um primeiro momento serão inseridas e
caracterizadas empresas e corporações privadas como agentes do sistema internacional, assim
como serão explorados os fenômenos relacionados a eles nas relações com os demais agentes.
Em um segundo momento, buscamos desconstruir especificamente a campanha UNHATE Benneton, de maneira a entender os mecanismos utilizados pela empresa para alcançar os
objetivos propostos a nível internacional, O trabalho apresenta relevância já que analisa a
estratégia promovida pela marca mundialmente através da utilização de publicidade de caráter
humanitário. Expõe-se a influência das corporações como formadoras de opinião na pauta
global, assim como seu importante papel no conjunto de agentes que constituem o sistema
internacional.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Em consequência da juventude do campo de estudo das Relações Internacionais, bem
como de seu caráter multidisciplinar, esta ciência social desenvolveu ao longo dos anos
diversas teorias construídas por meio de um debate que vem acontecendo desde 1919 entre
estudiosos da área. Elas definem e explicam o mundo a partir de diferentes definições,
revelando perspectivas. Não existe um consenso sobre o que define as teorias na disciplina.
Elas buscam, em geral, explicar e refletir acerca da realidade no mundo. Para cada uma dessas
tentativas vemos visões bastante distintas, nossa tarefa é entender e refletir sobre a realidade e
o objeto a ser estudado e não tentar explicá-lo. (CASTRO, 2010)
Partiremos da premissa de que toda teoria em Relações Internacionais dá ênfase a um
nível de análise específico. O nível individual de análise coloca a natureza humana como foco
de explicação da atuação dos atores dentro do sistema, por exemplo. Segundo Gilberto Safarti
em Teoria das Relações Internacionais: ”Não devemos confundir “nível de análise” com
“análise dos atores”. O primeiro explicita o foco de explicação, ao passo que os atores são os
protagonistas das Relações Internacionais”.
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Caracterizam-se, neste estudo, os organismos que compõem o sistema internacional
como “agentes”, seguindo alguns teóricos construtivistas.
Assim definem-se através do
entendimento de que estes estão em constante interação no meio. Não existem agentes
irrelevantes no sistema internacional, pois todos estão em constante interação, assim como,
um não existe sem o outro. Como “meio”, entendemos o cenário ou ambiente em que está
toda a estrutura do sistema e seus agentes. Portanto, não existe estrutura sem os agentes e seu
relacionamento contínuo. As relações contínuas entre os agentes formam a estrutura do
Sistema, do contrário, sem esse relacionamento contínuo, este não existiria.
Portanto, não pode-se considerar a existência de “agentes isolados” ou “protagonistas”
dentro do sistema internacional, como defendem as correntes clássicas da área, mas sim a
existência de uma hierarquia e de um mecanismo de “seleção natural”. Como “seleção
natural” no SI, entende-se a constante busca dos agentes por perpetuar sua existência e
consequentemente seus ideais. Por exemplo: uma empresa que não inova ou investe em
tecnologia, acaba perdendo espaço de influência e consequentemente desaparecendo. Essa
seleção permite que os agentes que melhor se adaptarem as transformações constantes do
meio, sobrevivam.
2.1 A corrente construtivista
A escola construtivista tem sido reverenciada como paradigma de expressiva
influência interdisciplinar, abrindo novos caminhos para questões prementes da política entre
os Estados e demais agentes. Trata-se de uma corrente multidisciplinar revelando a
necessidade de construção mútua dos pilares do saber e do agir internacionais (SAFARTI,
2005).
Segundo Thales Castro em seu livro Teoria das Relações Internacionais, enquanto
outras escolas na disciplina se estruturam em um âmbito metodológico, o construtivismo se
apresenta como linha ontológica, ou seja, representa a síntese das abordagens sobre a teoria
do “ser” ou como os objetos se apresentam a realidade existente e preexistente, com suas
capacidades decisórias e interlocutores. Para o construtivismo, as ideias e os valores possuem
força maior do que as estruturas materiais. Crenças representam canais por onde os fluxos de
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relacionamento internacional passam. Portanto a formação de ideias e de ideais fazem parte
da construção dos interiores, das identidades e da consciência dos agentes internacionais
(CASTRO, 2012). Embora a cultura seja conservadora pode ocorrer uma mudança de
estrutura em razão da contestação por parte de seus portadores, isto é seus agentes. Estas
contestações podem advir de contradições entres as normas da cultura; do fato de agentes não
serem completamente socializados; consequências intencionais de crenças compartilhadas;
choques exógenos, como guerras; e criatividade, invenção de novas ideias dentro da cultura
(WENDT, 1999).
Como agentes internacionais, essa corrente teórica define, os organismos ativos e
formadores da estrutura do sistema internacional, o objeto de estudo do campo a ser
compreendido. Os protagonistas das relações que se dão nessa estrutura são os Estados. O
Estado é meio e fim, agente e paciente dos objetos complexos do ambiente interno e externo a
ele. Portanto, para entender tanto a estrutura quanto as relações que se dão no sistema
internacional é preciso entender os Estados e isso acarreta em um estudo multidisciplinar que
envolve inúmeros agentes e níveis de análise dentro do campo (CASTRO, 2012). Os
construtivistas analisam as relações internacionais como se elas ocorressem dentro de uma
sociedade cujas normas e agentes se influenciam mutuamente. As preferências dos agentes
são formadas neste processo (RAMALHO DA ROCHA, 2002).
3 EMPRESAS TRANSNACIONAIS: SEU PAPEL NO SISTEMA INTERNACIONAL
EM UM MUNDO GLOBALIZADO
Deve-se observar, antes de tudo, que existem inúmeras denominações para empresas
originárias e sediadas em um país. Dentre elas podemos citar: internacionais, multinacionais,
supranacionais, conacionais, plurinacionais e transnacionais. É importante salientarmos que
como ETN (Empresa Transacional) não necessariamente devemos designar apenas grandes
empresas. Também utiliza-se o termo Corporações Transnacionais, muitas vezes citado neste
estudo, como forma de designar empresas como a Benneton, que atuam em forma conjunta
com organizações
ou outras empresas criadas para fins específicos, com administração
separada, mas que servem e respondem direta e exclusivamente aos interesses de uma
empresa protagonista ou de um conselho administrativo.
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As empresas transnacionais são agentes de grande importância nas relações
internacionais, aumentando de maneira significativa seu papel a partir do final da Guerra Fria.
Isso se deve ao seu poder econômico, tecnológico e consequentemente político. Sua força
está na internacionalização da economia contemporânea por meio da produção e
comercialização de diversos bens e serviços em diferentes países de forma dinâmica e
integrada. Inevitavelmente, a força dessas empresas gera forte impacto, e interage com os
Estados. O poder e capital de algumas empresas multinacionais é, por vezes, maior do que
muitos Estados periféricos, segundo Thomas Picketty em O Capital do Século XXI.
Entretanto, em diversos contextos a atuação das multinacionais é benéfica devido ao seu
poder de gerar empregos, produzir e difundir tecnologia, movimentar a economia com
dinamismo e produzir bens e serviços importantes para a sociedade como um todo.
No geral, consideram-se, três forças principais, que motivam os agentes-empresas a
atuar no sistema internacional, são elas: sobrevivência, lucro e crescimento. Caracterizam-se a
partir do nível de análise individual, ou seja, das motivações geradas pelo individuo ou grupo
de indivíduos que controlam a organização (empresa), utilizando de sua estrutura hierárquica
e poder para difundir seus desejos pessoais. Destaca-se que estas três forças motrizes também
interagem entre si, fortalecendo-se mutuamente. Por exemplo, em busca de lucro e
crescimento a corporação utiliza da publicidade de caráter humanitário, como é o caso da
campanha UNHATE, que explora a polêmica e a quebra de paradigmas, envolvendo figuras
com extrema representatividade e influência global, para trazer atenção para a marca e
fidelizar uma parcela de consumidores preocupada com questões sociais. Sabe-se, contudo,
que existem finalidades e motivações ocultas nas ações de qualquer agente no sistema
internacional, garantir a sobrevivência, é a prioridade. Em um sistema competitivo, quem
não se adapta ao meio, acaba perdendo espaço e consequentemente desaparecendo.
A internacionalização das empresas maximiza sua influência como agentes do sistema
internacional (visto que quando em esfera nacional, estas também exercem influência sobre os
demais agentes, portanto também estão inseridas no sistema). Nesse espaço de atuação, elas
podem agir como ferramentas de poder nacional, em um contexto imperialista; Como
elementos de desenvolvimento na perspectiva da realização de investimentos externos; Como
agentes diplomáticos que se estabelecem num espaço de interlocução entre seu Estado de
origem e o Estado anfitrião; E também como formadores de opinião, expandindo questões
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culturais, ideológicas e até de direitos humanos através de uma influente rede globalizada. A
empresa como materialização do capital (investido numa determinada atividade e numa
localidade geográfica definida) estabelece com o Estado uma relação direta que pode, e deve
ser analisada em sua amplitude como relações de poder sociais, políticas e econômicas.
Destacamos nesse cenário contemporâneo também a crescente multilateralidade das
relações no sistema internacional permitindo com que a hierarquização da pauta internacional
seja reformulada a partir da atuação de diferentes agentes. Essa alteração amplia o espaço para
a atuação deles, onde incorporam novos temas a pauta tradicional do debate internacional.
Gradualmente o Estado passa a dialogar com diferentes agentes e consequentemente as
próprias relações internacionais deixam de ter exclusivamente os Estados como protagonistas.
Abre-se assim um extenso debate entre os tradicionalistas partidários do estadocentrismo e os
pluralistas que enfatizam a emergência de diversos e diferentes tipos de atores. Podemos
utilizar como exemplo o caso da United Fruit Company1. Seus interesses comerciais
abrangeram grandes extensões na América Central e no Caribe, este exemplo é muito
abordado na obra As Veias Abertas da América Latina de Eduardo Galeano.
Na história das relações internacionais há vários exemplos de relações estreitas entre
empresas multinacionais e seus Estados de origem. Essas relações significam que os Estados
usam essas empresas como instrumento de influência econômica para que venha alcançar
objetivos políticos (GALEANO, 2009).
As empresas, por sua vez, usam o Estado como instrumento político, inclusive militar,
para atingir determinados interesses econômicos como o controle das fontes de matéria prima.
Dessa forma, o Estado usa um instrumento privado para alcançar um objetivo de interesse
público, enquanto a empresa transnacional usa um instrumento público para atingir um
interesse privado, caracterizando uma relação que pode ser denominada de “simbiose” 2.
Ressalta-se portanto que a relação entre empresa transnacional e Estado não se restringe a
produtos estratégicos e de interesse público, como observado anteriormente.
1
Detinha muito poder nos países centro-americanos já que, com a colaboração do governo dos EUA, ajudava na
derrubada de governos democráticos e a implantação de ditaduras repressoras nos países que hostilizavam sua
atuação empresarial. Dando lugar para que esses países e seus governos fossem chamados "república das
bananas” já que a empresa estabeleceu líderes locais para favorecer seus interesses econômicos.
2
Termo extraído do campo da biologia que caracteriza uma relação mutuamente vantajosa entre dois ou mais
organismos vivos de espécies diferentes.
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4 GRUPO BENETTON E A FUNDAÇÃO UNHATE
O grupo Benetton caracteriza-se como um agente internacional, representando uma
empresa transnacional italiana do ramo de moda. Segundo seu site institucional, uma das
estratégias de sucesso da marca é sua forma universal de comunicação3 que tornou-se um
fenômeno a partir dos anos 90 por agregar debates culturais, consequentemente a Benetton
age como uma formadora de opinião.
A publicidade produzida pela marca não divulga seus produtos, aborda questões
sociais e políticas. O grupo Benetton justifica esta atitude acreditando que a moda é uma
forma de expressão que tem o poder de superar fronteiras políticas, ideológicas e culturais.
Para desenvolver estas campanhas, a marca criou a fundação UNHATE, que visa constituir
uma cultura contra o ódio, já que a Benetton acredita que o ódio é um dos fatores que retarda
o desenvolvimento econômico e social da humanidade.4
Através das campanhas da fundação, a Benetton busca promover os direitos humanos
e a diversidade, lutar contra a discriminação, divulgar o impacto social da arte e
principalmente trabalhar com questões delicadas do cenário mundial.
“A fundação UNHATE é mais um passo importante na estratégia de
responsabilidade corporativa do Grupo Benetton: uma contribuição que tem
impacto real na comunidade internacional, envolvendo uma grande variedade de
interessados: as novas gerações, instituições, organizações internacionais e ONGs,
sociedade civil e do público em geral.” (UNHATE, 2015, online)
O presente artigo refere-se a análise específica de uma da campanha que denominou a
fundação: campanha UNHATE. Esta campanha foi lançada em 2011 e retrata beijos (como
símbolo mundial do amor) entre líderes políticos e religiosos, com o objetivo de promover
uma reconciliação entre “inimigos” globais e provocar reflexão a cerca de conflitos no cenário
internacional.5 Neste artigo, serão analisadas as imagens que retratam o presidente palestino
Mahmoud Abbas e o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu e o papa Bento XVI e
o Imã da mesquita Al-Azhar do Cairo Ahmed Mohammed el Gammal.
3
Sítio eletrônico “Company Vision” <http://www.benettongroup.com/the-group/profile/company-vision/>.
Acesso em 2 de Abril de 2016.
4
Sítio eletrônico “About the Unhate Foudation” <http://unhate.benetton.com/foundation/>. Acesso em 2 de
Abril de 2016.
5
Sítio eletrônico “Unhate” <http://www.fabrica.it/unhate/>. Acesso em 2 de Abril de 2016.
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5 CONTEXTUALIZAÇÕES DE IMAGENS DA CAMPANHA UNHATE
5.1 Considerações sobre as relações entre o Cristianismo e o Islamisno na história das
Relações Internacionais
5.1.1 Islamismo
A palavra islã significa submissão, um dos principais dogmas desta religião que
originou-se na Arábia através da revelação de Deus ao profeta Maomé, originalmente
considerado integrante da comunidade judaico-cristã.
A religião Islâmica compreende a esfera espiritual e todos os aspectos da vida humana
e social de seus devotos, “no islã não há distinção entre a religião e a política, tampouco entre
a fé e a moral” (Gaarder, Hellern, Notaker, 2000).
Deus se revelou ao profeta Maomé durante um de seus retiros espirituais na cidade de
Meca, após esta revelação Maomé passou a pregar e se proclamou mensageiro de Deus.
Entretanto, em Meca Maomé sofreu com a oposição de suas ideias por parte da população. O
profeta mudou-se então para a cidade de Medina, onde conquistou seguidores e logo se tornou
líder religioso e político.
Maomé tomou, através de meios militares e diplomáticos, a cidade de Meca e com
isto, fez um país unido, onde a religião tornou-se mais importante que laços familiares, assim
como a luta pela causa de Alá tornou-se prioridade sobre todos os demais interesses, bem
como tradições, conceitos morais e religiosos. Em decorrência disto, o Islamismo se
disseminou rapidamente através de conquistadores árabes lutando pela causa.
Após a morte do profeta o Islamismo segmentou-se em duas vertentes: a facção xiita
6
e a facção sunita, onde a primeira acreditava que quem deveria liderar seria um descendente
direto de Maomé, enquanto a segunda acreditava que o líder seria o indivíduo que controlava
o poder.
6
Na facção xiita, ao contrário da sunita, acredita-se que os imãs (líderes) podem dar novas interpretações as leis
baseados em sua compreensão pessoal.
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Segundo o Relatório The Future of World Religions7 feito pelo Pew Center no ano de
2015, em 2010 a população muçulmana contemplava 23,2% da população mundial, já em
2050 a previsão é de contemplar 29,7%.
5.1.2 Cristianismo
“O cristianismo é a filosofia de vida que mais fortemente caracteriza a sociedade ocidental.
Há 2 mil anos permeia a história, a literatura, a filosofia, a arte e a arquitetura da Europa”
(Gaarder, Hellern, Notaker, 2000).
Inicialmente não havia grande disparidade entre o cristianismo e o judaísmo, de modo
que a primeira congregação cristã foi constituída por judeus. O cristianismo nasce com um
judeu, Jesus de Nazaré, que tornou-se um profeta de ideias baseadas nas escrituras judaicas,
mas que originaram uma doutrina independente, os evangelhos.
Os primeiros cristãos então passaram a proclamar os evangelhos de Jesus e disseminar
a cultura cristã, ainda formalizaram a mensagem de Jesus através do Novo Testamento e
obtiveram maior repercussão entre os pobres, entretanto foi nas epístolas8 do fariseu Paulo
que o cristianismo passou a ser referido como uma religião independente das demais, e com o
passar dos anos transformou-se em uma religião mundial e a mais difundida dentre todas.
Segundo o Relatório The Future of World Religions9 feito pelo Pew Center e publicado em
2015, no ano de 2010 a população cristã contemplava 31,4% da população mundial, valor que
permanece estável na previsão de 2050.
Atualmente o cristianismo divide-se em inúmeras comunidades eclesiásticas e a Igreja
dividiu-se em dois segmentos, Igreja católica romana e Igreja ortodoxa. A igreja católica
romana representa a maior parte dos cristãos, sua hierarquia é composta pelo papa, bispos e
padres, respectivamente. Nesta hierarquia, o papa10 representa o líder de todos os fiéis.
7
Sítio eletrônico “The Future of World Religions”<http://www.pewforum.org/2015/04/02/religious-projections2010-2050/> Acesso em 8 de Abril de 2016.
8
Em suas epístolas Paulo estabeleceu os pilares da teologia cristã.
9
Sítio eletrônico “The Future of World Religions”<http://www.pewforum.org/2015/04/02/religiousprojections-2010-2050/> Acesso em 8 de Abril de 2016.
10
“No decorrer da história já houve muitos conflitos agudos entre a Igreja e o Estado. O papa continua sendo o
chefe de um pequeno Estado, o Vaticano, que tem sua própria moeda, polícia, estação de rádio, seu próprio
correio e corpo diplomático.” (Gaarder, Hellern, Notaker, 2000)
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5.1.3 Conflitos
Desde o princípio a religião islâmica representou uma população militante e missionária, a
religião se disseminou rapidamente através da expansão islâmica por intermédio da guerra
santa. Durante essa disseminação o cristianismo sofreu com o enfraquecimento, ou
aniquilação, já que passou a perder fiéis para o islã.
A partir de então, uma série de conflitos gerou uma rivalidade histórica, um dos
marcos desta rivalidade entre as religiões foram as Cruzadas (1096-1291), movimentos
militares cristãos em direção a Palestina (Terra Santa), com o intuito de dominá-la e mantê-la
sob domínio cristão. As Cruzadas estimularam ressentimento entre o povo muçulmano e
cristão que perdura até hoje, ademais, o conflito representou a expansão da fé católica,
enquanto para os muçulmanos representou um ataque.
Outro conflito que supriu este ressentimento foi a tomada de Constantinopla por
muçulmanos, em 1453, fazendo com que a Igreja católica sofresse perdas novamente.
Durante a Reconquista, a Inquisição Espanhola (1478) a Igreja católica puniu os
hereges11, especialmente muçulmanos convertidos ao catolicismo, que por sua vez foram
acusados de conversão falsa. Nesta ocasião também foram expulsos todos os muçulmanos que
não aceitassem o batismo.
Entre os séculos XIX e XX o colonialismo fez com que as regiões islâmicas do
Oriente ficassem sob domínio de Estados europeus, provocando ainda mais a animosidade
islâmica com os cristãos, o que se acentuou com a criação do Estado de Israel em 1948 e
conflitos que decorreram nos últimos anos, como as ações militares norte-americanas no
Afeganistão, os ataques terroristas aos EUA e a Paris e demais conflagrações.
Esta hostilidade perdura entre ambas religiões e é permanentemente manifestada. Em
2011 veículos de imprensa divulgaram a crítica do líder islâmico Ahmed Mohammed el
Gammal a Bento XVI. O imã acusou o apelo do papa para dirigentes mundiais protegerem os
cristãos. Ahmed ainda o questionou sobre o motivo de não pedir proteção aos muçulmanos
11
Praticantes de heresias, que eram opções religiosas distintas da doutrina católica.
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também.12 Em consequência das declarações dos líderes, mais manifestações de intolerância
religiosa foram desencadeadas pelos fiéis.
5.1.4 Imagem e repercussão
Figura 1: UNHATE: Pope - Imam of Al-Azhar mosque.
Fonte: G1 Globo.
Esta imagem construída através de ferramentas publicitárias retrata o representante
supremo da Igreja Católica Apostólica Romana em 2011, Papa Bento XVI beijando o Imã da
Mesquita do Cairo, representante islâmico, Ahmed Mohammed el Gammal. A escolha destes
representantes para a campanha foi em decorrência do desentendimento público que ambos
tiveram onde Mohammed acusou Bento XVI de ingerência, entretanto sua representatividade
é muito mais abrangente. A figura reproduz décadas de desentendimentos entre ambas
religiões, e consequentemente expõe a hostilidade ainda presente entre estes povos.
A fotomontagem também retrata uma questão delicada em termos religiosos, o beijo
entre dois homens. A homossexualidade é vista na religião como algo nocivo, já que não
permite a procriação. Para a Igreja Católica os atos de homossexualidade são contrários a lei
12
Sítio eletrônico “Egito: grande imame de Al-Azhar acusa Papa de ingerência”
<http://g1.globo.com/mundo/noticia/2011/01/egito-grande-imame-de-al-azhar-acusa-papa-de-ingerencia.html>
Acesso em: 8 de Abril de 2016
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da natural e considerados depravações graves13, enquanto no islamismo não há nenhuma
menção no Alcorão ou nas Hadiths sobre relações afetivas entre seres do mesmo sexo,
entretanto o Estado Islâmico executa brutalmente homossexuais.14
A Benetton propôs com esta imagem uma reconciliação entre estes líderes religiosos,
através do beijo. Além disto, tratando-se de religiosidade, os devotos buscam seguir o
exemplo de seus líderes. Por exemplo, após a repercussão do desentendimento entre estes
representantes em 2011, uma série de conflitos entre cristãos a muçulmanos foram
desencadeados, inclusive um ataque ao carro do próprio imã, ou seja, ao propor um
entendimento entre eles publicamente a campanha procurou atingir principalmente os fiéis,
que ao visualizar este exemplo iriam procurar segui-lo, superando esta desarmonia histórica.
Além da aproximação proposta entre as religiões, o beijo homossexual pode ser
analisado como progresso, representando término de uma cultura preconceituosa e celebrando
o amor sem distinções.
Entretanto a imagem não foi aceita pela Santa Sé
15
. Medidas legais contra a
reprodução da fotomontagem foram tomadas16, o Vaticano ganhou judicialmente a causa
declarando que a imagem era "prejudicial não só à dignidade do papa e da Igreja Católica,
mas também aos sentimentos dos fiéis" e consequentemente o grupo Benetton removeu a
imagem da Campanha UNHATE17. Esta censura também pode ser interpretada como um
13
Sítio
eletrônico
“Catecismo
da
Igreja
Católica,
§
2357.”
<http://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/p3s2cap2_2196-2557_po.html> Acesso em: 20 de
Maio de 2016.
14
Sítio eletrônico “EI executa gays jogando-os de prédios” <http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/07/eiexecuta-gays-jogando-os-de-predios.html> Acesso em: 20 de Maio de 2016.
15
“Sob a denominação de Sé Apostólica ou Santa Sé, neste Código, vem não-só o Romano Pontífice, mas
também, a não ser que pela natureza da coisa ou pelo contexto das palavras se depreenda o contrário, a Secretaria
de Estado, o Conselho para os Negócios Públicos da Igreja e os demais organismos da Cúria Romana.”
(CÓDIGO de Direito Canônico (CIC). Tradução em língua portuguesa da Conferência Nacional do Brasil, São
Paulo: Loyola, 1983. ) Ou seja, a Santa Sé designa a função do Pontífice, seu titular em exercício, além de ser
um sujeito jurídico de cunho internacional e atuante diplomaticamente na Comunidade das Nações Unidas. Sítio
eletrônico “A Santa Sé e o Estado da cidade do Vaticano.: distinção e complementariedade.” Disponível em:
<http://www.revistas.usp.br/rfdusp/article/viewFile/67675/70283> Acesso em: 20 de Maio de 2016.
16
Sítio eletrônico “Vaticano tomará medidas legais contra imagem que exibe beijo de Bento XVI”
<http://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,vaticano-tomara-medidas-legais-contra-imagem-que-exibebeijo-de-bento-xvi,799606> Acesso em: 20 de Maio de 2016.
17
Sítio eletrônico “Vaticano ganha batalha contra Benetton por uso de foto do Papa”
<http://g1.globo.com/mundo/noticia/2012/05/vaticano-ganha-batalha-contra-benetton-por-uso-sem-permissaode-foto-do-papa.html> Acesso em 20 de Maio de 2016.
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distanciamento entre as religiões, já que somente a imagem do papa foi considerada, e todo o
contexto de reconciliação ignorado.
5.2 Considerações sobre o conflito Palestino-Israelense: histórico e prospecções
A região da Palestina, entre o rio Jordão e o mar Mediterrâneo, considerada sagrada
para muçulmanos, judeus e católicos, foi dominada durante séculos por diferentes impérios.
Desde os romanos até os otomanos, o território concentra um caldeirão de diferentes culturas,
etnias e religiões.
Na segunda metade do século XIX, iniciou-se uma forte imigração judaica para a
região, motivada pelo nascente movimento sionista. Naquele tempo o território
correspondente aos israelitas era ocupado, principalmente, por muçulmanos e outras
comunidades árabes sob domínio do Império Turco-otomano. Após sua desintegração na
Primeira Guerra Mundial, o Reino Unido recebeu um mandato da Liga das Nações para
administrar o território da Palestina. Antes e durante a guerra, o governo britânico fez
inúmeras promessas para árabes e judeus que não se cumpririam, entre outros motivos, porque
eles já haviam partilhado o Oriente Médio com a França. Isso provocou um ambiente de
tensão entre árabes e sionistas que acabou em conflitos armados entre grupos paramilitares
judeus e árabes (SCHMIDT, 2005).
Após o Holocausto, aumentou-se a pressão pelo estabelecimento de um Estado judeu.
O plano original previu a partilha do território controlado pelos britânicos entre judeus e
palestinos. A fundação de Israel, em 1948, fez a tensão deixar de ser local para se tornar uma
questão global. No dia seguinte após a proclamação de independência de Israel, uma coalizão
formada pelo Egito, Jordânia, Síria e Iraque invadiram o território. Foi a primeira guerra
árabe-israelense, também conhecida pelos judeus como a guerra de independência ou de
libertação. Depois da guerra, o território originalmente planejado pela Organização das
Nações Unidas para um Estado árabe foi reduzido pela metade (SCHMIDT, 2005).
A demora na criação de um Estado palestino independente, a construção de
assentamentos israelenses na Cisjordânia e o muro construído por Israel (condenada pelo
Tribunal Internacional de Haia) complicam o andamento de um processo paz. Mas estes não
são os únicos obstáculos. Israel, por exemplo, reivindica soberania sobre a cidade inteira de
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Jerusalém (sagrada para judeus, muçulmanos e cristãos) e afirma que a cidade é sua capital
“eterna e indivisível”, após ocupar Jerusalém Oriental em 1967. A reivindicação não é
reconhecida internacionalmente. Os palestinos querem Jerusalém Oriental como sua capital.
Para que houvesse uma paz duradoura, israelenses teriam de aceitar a criação de um
Estado soberano para os palestinos, o fim do bloqueio à Faixa de Gaza e o término das
restrições à circulação de pessoas e mercadorias nas três áreas que formariam o Estado
palestino: Cisjordânia, Jerusalém Oriental e Faixa de Gaza; enquanto grupos palestinos
deveriam renunciar à violência e reconhecer o Estado de Israel. Um pacto definitivo não será
fácil sem que se solucionem estes pontos.
5.2.1 Imagem e repercussão
Figura 2: President of the Palestinian National Authority – Prime Minister of Israel.
Fonte: Gallery Unhate Benetton.
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Nesta imagem publicitária, o ex-representante da autoridade Palestina, Mahmoud
Habbas e o ex-primeiro ministro do Estado de Israel, Benjamin Netanyahu, se beijam. A
figura claramente se trata de uma montagem a partir de recortes de imagens originais.
A intenção, anteriormente exposta, é de unir em um ato de intimidade ou manifestação
de amor a dois importantes indivíduos que exerciam papel decisivo na liderança de agentes do
sistema internacional, profundamente envolvidos em um histórico de conflitos severos. Por
um lado, o Estado de Israel, com sua soberania reconhecida amplamente, do outro a
Autoridade Palestina, uma espécie de governo quase simbólico dos palestinos, que
reivindicam até hoje a sua soberania materializada em um Estado árabe independente de Israel
e não sob seu domínio.
É fato que a relação entre palestinos e israelenses é extremamente conturbada.
Atualmente palestinos vivem isolados em áreas específicas, como por exemplo, a Faixa de
Gaza, e requerem de autorização para circular fora desses territórios. A imagem da campanha
chama para uma reflexão a respeito do ódio e demostra que um pequeno gesto pode fazer
muita diferença. A publicidade clama para que, não só líderes, mas, todos os envolvidos no
contexto tentem superar suas diferenças e seu passado com a ajuda do amor, aqui podendo ser
interpretado e desconstruído como sentimento de compaixão, humanidade, fraternidade e
respeito, em prol de alcançar soluções comuns que permitam o convívio pacífico e a liberdade
fundamental a todo ser humano.
6 METODOLOGIA
O presente artigo teve como objeto de estudo as empresas privadas como agentes do
sistema internacional. Foi desenvolvido utilizando o método hermenêutico a partir de
pesquisa bibliográfica com ênfase no Livro das Religiões de Jostein Gaarder, Victor Hellern e
Henry Notaker (2000) e o livro Teoria das Relações Internacionais de Thales Castro, também
utilizou, afim de sustentar a análise das imagens publicitárias da campanha Unhate Benetton,
artigos científicos, notícias e material institucional disponível no site da marca italiana
Benetton.
7 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
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É comum na disciplina de Relações Internacionais, por ser uma área de estudo
consideravelmente jovem, encontrarmos (assim como em muitas das ciências sociais),
convergências e conflitos no que diz respeito ao método de análise e os embasamentos
teóricos. Nesta disciplina, cujo objeto de estudo é o Sistema Internacional, existe um consenso
inconsciente que leva grande parte dos estudiosos da área a crer no pluralismo teórico.
As diferentes teorias em relações internacionais buscam de modos distintos entender, e
não explicar, os fenômenos e a relação entre sujeito e objeto de estudo. Não existe um
consenso sobre qual está correta, mas sim qual melhor auxilia na compreensão e explicação
das problemáticas relacionadas ao objeto em determinado cenário, assim como na previsão e
prevenção dos fenômenos ligados a ele.
Nesta pesquisa, a teoria construtivista das Relações Internacionais possibilitou
embasamento para melhor compreender as problemáticas da abordagem, beneficiando-nos de
seu caráter multidisciplinar.
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com este artigo entende-se, através de explicações e demonstrações que,
diferentemente do que defendem as teorias tradicionais do campo de estudo das Relações
Internacionais, como o realismo e o liberalismo, existem agentes de extrema relevância no
sistema internacional. Acredita-se e consequentemente constata-se que sua relevância é
tamanha a ponto de desacreditar a hipótese de que: “os Estados são os únicos protagonistas
das Relações Internacionais”. A dinâmica internacional atual permite evidenciar a
participação ativa e relevante, tanto na estrutura como na fenomenologia das relações no
sistema global, de grupos lobistas e empresas transnacionais de capital privado ou estatal;
também podem ser citados grupos organizados da sociedade civil e religiões de caráter
institucionalizado.
É evidente a influência da moral e da ética internacional nas ações de Estados no
sistema global. Elas são oriundas de uma construção social. Ela parte do indivíduo em seu
caráter profissional, cidadão ou consumidor, por exemplo, e se estende em um emaranhado
que envolve desde grupos organizados da sociedade civil, redes sociais e ONGs até pequenas
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e grandes empresas, governos e estruturas estatais. Afirmar que os Estados são os únicos
protagonistas das relações no sistema internacional é desconsiderar o papel de todos os
agentes citados anteriormente, dos quais muitas vezes trabalham de forma independente do
Estado; Também é negar o fato de que muitos deles detêm poder e estrutura igual ou maior a
eles.
Com base no viés teórico Construtivista, constata-se que corporações privadas, como a
Benetton, atuam como agentes internacionais influentes no Sistema Internacional. Além disto,
a hipótese de que “a campanha UNHATE não apresentou impactos para as Relações
Internacionais durante sua repercussão” é refutada, tendo em vista que a campanha
movimentou o cenário internacional quando vinculada - e continua movimentando-, isto
porque a UNHATE apresentou embasamento histórico, expôs as figuras de representantes
importantes para as Relações Internacionais de maneira impactante e estimulou a reflexão do
público atingido sobre questões sociais abrangentes e atuais; O ódio atuando como agente de
retardo do desenvolvimento humano, por exemplo. O que permitiu influenciar desde a
sociedade civil até os Estados, representado pelos seus líderes, no juízo de moral e de valor
em prol da reconciliação, promovendo o debate e a reflexão.
Através da análise das duas imagens selecionadas da Campanha UNHATE (as
reconciliações entre Mahmoud Abbas e o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu e
o papa Bento XVI e o Imã da mesquita Al-Azhar do Cairo Ahmed Mohammed el Gammal.)
ainda foi possível estabelecer um paralelo: ambas fotomontagens retratam, acima de questões
religiosas, questões políticas e diplomáticas. Isso deu ênfase ao impacto da campanha
UNHATE, idealizada em uma corporação privada, para a sociedade internacional.
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