O COTIDIANO: ESPAÇO DE ALIENAÇÃO E MATERIALIZAÇÃO DO PROJETO ÉTICO POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL 1 1 Simone Cristina Nascimento Discente do Curso de Pós-Graduação em Gestão de Políticas Sociais com ênfase no Trabalho Social com Famílias do Centro Universitário de Lins - Unilins, Lins-SP, Brasil [email protected] 2 2 Matsuel Martins Silva (orientador); Docente do Curso de Pós-Graduação em Gestão de Políticas Sociais com ênfase no Trabalho Social com Famílias do Centro Universitário de Lins - Unilins, Lins-SP, Brasil [email protected]; Resumo O presente artigo tem como objetivo suscitar a discussão do Serviço Social na divisão social e técnica do trabalho. Como trabalhador o profissional se aliena no contexto institucional, uma vez que, às instituições empregadoras imprime em seu trabalho cotidiano uma relativa autonomia. A fonte de pesquisa utilizada para a fundamentação teórica foi bibliográfica. O texto foi dividido em dois tópicos, sendo o primeiro um breve histórico do Serviço Social no Brasil; o segundo é o Serviço Social no cotidiano institucional. No curso da discussão foi utilizada a pesquisa CFESS, para retratar o perfil dos profissionais em território nacional e em quais espaços ocupacionais estamos materializando nosso trabalho, bem como, realizar análise dos dispositivos legais que regulamentam a profissão nas atribuições privativas e competências profissionais. Objetiva pensar estratégia de enfrentamento para conter possível alienação no cotidiano, diante das contradições que são inerentes às relações sociais. Palavras chaves – Alienação; Trabalho; Serviço Social na Divisão Sócio- Técnica do Trabalho. Abstract This article aims to raise the discussion of Social Services in the social technical division of labor. As the professional worker is alienated in the institutional context, since the institutions employing print in their daily work relative autonomy. The source used for divided into two topics, the first being a brief history of social work in Brazil, the second is the Social Services the institutional routine. In the course of discussion CFESS research was used to depict the profile of professionals in domestic and occupational spaces which are materializing our work, as well as perform analysis of legal provisions that regulate the profession in the exclusive competence and professional skills. Objective thinking coping strategy to contain possible alienation in daily life, on the contradictions that they are inherent in social relations Keywords – Sale; Work; Social Service in the Social Technical division of labor. 1 Introdução O Estado tem gestado as Políticas Públicas numa tentativa de diminuir as expressões da questão social e com isso tem ampliado nosso leque de atuação profissional. Na contemporaneidade os Assistentes Sociais atuam como gestor e executor de políticas públicas em instituições estatais, privadas, organizações não governamentais, filantrópico e em variados espaços sócioocupacionais para garantia de direitos. Não limitando suas ações no campo da execução de políticas terminais, mas em sua elaboração, implantação e avaliação. 1 O Serviço Social enquanto categoria profissional, ao longo de sua trajetória histórica vem construindo um projeto profissional articulado ao projeto societário das classes trabalhadoras, em busca de equidade e justiça social. O exercício profissional no cotidiano é permeado por contradições e determinantes históricos, que fogem ao controle do Assistente Social e impõe limites a materialização de seu projeto profissional. No curso de nossa análise, iremos desvendar que o complicador parece residir na identificação de quem são nossos empregadores e como o Serviço Social materializa seu projeto profissional diante das contradições que são inerentes nas relações sociais na sociedade capitalista. As inúmeras expressões da questão social, advinda deste modelo que produção é mascarada no cotidiano, através de políticas públicas pontuais, que não resolvem a contradição, mas atenuam o pauperismo e garantem a reprodução do capital. Diante desse cenário o Assistente Social cotidianamente enfrenta as mesmas violações de direitos, que sofre a maioria dos usuários da rede de proteção social, uma vez que as relações de produção e consumo seguem a ótica da economia capitalista globalizada. O profissional vive tensionado em garantir o estatuto de assalariado que consiste em defender as suas necessidades vitais, ora em defender um projeto profissional vinculado à luta da classe trabalhadora, para transformações societárias. O que fazer para sair dessa armadilha? Iremos conceitualizar o significado do trabalho na sociedade contemporânea e entender como se constitui a alienação e como o Serviço Social se organizam e se articula nas redes de serviços sócioassistenciais para prestar serviços técnicos com qualidade, numa perspectiva de ruptura com o processo alienado e alienante que no cotidiano institucional é proposto pela ótica do mercado. No segundo momento, faremos um breve histórico do surgimento do Serviço Social como profissão, seus embates na correlação de forças para formação de uma identidade profissional crítica. O profissional de Serviço Social no cotidiano dispõe de uma formação acadêmico-profissional especializada, com referencial teórico e metodológico crítico, que o permite fazer uma leitura apurada da realidade. Além do mais, dispõe de dispositivos legais e normativos, que lhe assegura o exercício profissional nos múltiplos espaços ocupacionais. Diante desse cenário nosso estudo consiste em analisar possíveis formas de enfrentamento para combater o processo de alienação que poderá interferir na prática cotidiana profissional. Repensar a práxis para manter vivo o projeto ético-político se torna uma das inquietações fundamentais engendradas dentro da profissão para a transformação da sociedade. 2 Referencial Teórico 2.1 - O Serviço Social na divisão social e técnica do trabalho Os dilemas da alienação são indissociáveis do trabalho assalariado e incidem no exercício profissional do assistente social de diferentes modos, dependendo de quem são seus empregadores e como as contradições das relações sociais são discutidas e avaliadas nestes espaços pelos próprios profissionais. Salientamos que, o Estado, as Organizações não governamentais, as entidades filantrópicas, as empresas privadas, os organismos de representação política e de organização e gestão dos processos de trabalho nos múltiplos espaços sócio-ocupacionais, se constituem como espaços de nossa prática profissional. Para aprofundar essa discussão se torna crucial a compreensão do trabalho nas relações sociais de produção, como essas relações alienam o trabalhador e como o Serviço Social se caracteriza na divisão social e técnica do trabalho na contemporaneidade. Para contextualização de conceitos foi utilizada pesquisa bibliográfica. Os 2 autores, em sua grande maioria, recorreram aos clássicos da literatura, em especial as teorias marxistas. A alienação refere-se a uma situação resultante de fatores materiais dominantes da sociedade caracterizada por ele, sobretudo no sistema capitalista, em que o trabalho humano se processa de modo a produzir coisa que imediatamente são separadas dos interesses e do alcance de quem a produziu,para se transformarem, indistintamente, em mercadorias (Marx apud, Santos, 1982, p.35-42). A condição essencial para as relações de produção capitalista é a mercadoria. O trabalhador assalariado tem sua força de trabalho transformada em mercadoria. No cotidiano o exercício de sua atividade produtiva se realiza de forma automática, sem possibilitar fazer conexões e análise crítica quanto ao processo de exploração e quanto aos seus impactos na vida social. O objetivo essencial no exercício de seu trabalho cotidiano é garantir suas necessidades vitais. Marx situa o homem na raiz da história - o homem concreto -, que define no trabalho sua relação com seus semelhantes e com a natureza. De acordo com Marx, no processo de alienação o ser genérico do homem expresso pelo trabalho converte-se em instrumento para sua sobrevivência, o que ocorre primeiro, na realização produtos com o produto e, em seguida, na relação do produtor com os consumidores do produto. A alienação transforma o operário em escravo do seu objeto, mas o processo não se detém aí, já que a força de trabalho é mercadoria que produz bens de consumo para outrem. Na verdade, ocorre a alienação do homem perante o próprio homem: ao produzir um bem que não lhe pertence, ao homem propicia o jugo daquele que não produz sobre a produção e o produto, deixando assim que o outro, alheio à produção, se aproprie dela. Dá-se assim reificação ou coisificação social, ou seja, a conversão de todas as relações sociais em formas de mercadoria, que abrangeriam o próprio de outro lado, pela superação entre homem, desse modo já submerso na relação entre as coisas. Sintetizando-se o problema a alienação seria ocasionada pela divisão de trabalho e, o trabalho e o produto de resultante (Marx apud, Santos, 1982, p.37-38). O trabalhador se nega enquanto sujeito e protagonista de sua história quando se isola na sua individualidade, e se desconecta do coletivo, sendo este o único campo possível para vencer alienação. Sem compreender o seu papel, reproduz mais capital e garante suas necessidades vitais, porém não se apropria da riqueza socialmente produzida, vivendo à margem da luta de classes. Míngua dessa forma a possibilidade de romper com o processo de alienação e exploração. Sendo o profissional um trabalhar assalariado, vende sua força de trabalho especializado aos seus empregadores, em troca de um equivalente expresso na forma monetária. É preciso lembrar que, no circuito do valor, o produto que todo assalariado produz para si e equivalente aos seus meios de vida: o valor de troca de sua força de trabalho em valores monetários permitindo dessa maneira o seu intercâmbio 3 (Iamamoto, 2012, p. 429431). As considerações até o momento pontuadas remetem-nos, a pensar que o Serviço Social vive na tensão entre defender o seu projeto ético-político profissional ou defender os interesses de seus empregadores para garantir através de seu salário suas necessidades básicas sem questionar as normas institucionais vigentes. No trabalho executado por esta categoria profissional assume duas dimensões muito distintas. Enquanto útil atende a necessidades sociais e que justificam a reprodução da própria profissão e efetiva-se através de relações com outros homens, incorporando o legado material e intelectual de gerações passadas, ao tempo em que se beneficia das conquistas atuais das ciências sociais e humana; mas só pode atender as necessidades sociais se o seu trabalho pode ser igualado a qualquer outro trabalho abstrato. É necessário pontuarmos que o Assistente Social é proprietário de uma força de trabalho especializado e complexo e essa mercadoria força de trabalho que só se transforma em atividade de trabalho quando aliada aos meios necessários á sua realização, grande parte dos quais se encontra monopolizado pelas instituições que os empregada como: recursos financeiros, materiais e humanos necessários à realização de trabalho concreto, que supõe programas, projetos e atendimentos diretos previstos pelas políticas institucionais (Iamamoto, 2012, p.420-421). Para entendermos a dimensão desse trabalho social coletivo é necessário resgatarmos a trajetória histórica, política e ideológica do Serviço Social e identificar os elementos, e as ferramentas que legitimaram e continuam dando legitimidade à prática profissional nos dias atuais. 3 A trajetória histórico do Serviço Social O Serviço Social emerge como profissão na sociedade quando o capitalismo assume seu estágio monopolista. A profissão nasce sob a ideologia burguesa conservadora, para atender as necessidades de reprodução do capital, uma vez que necessita da mão de obra excludente para continuar sua reprodução. Os conflitos sociais gerados entre os que detêm os meios de consumo e aos que não possuem acesso às riquezas socialmente produzidas exigem que o Estado assuma uma característica intervencionista de regulador das relações sociais, institui as políticas públicas para defender aos interesses dos menos favorecidos, ao mesmo tempo de forma contraditória garante a reprodução do capital. A idéia de Estado de bem estar social ( Kenesiano), regulador das tensões sociais, não é algo recente na história da humanidade. As lutas sociais que desencadearam para este posicionamento estão associadas à reconstrução da política econômica e social dos países envolvidos no pós-guerra. Se a política social foi um elemento importante na economia política do pósguerra, orientada pelo intervencionismo kenesiano, generalizandose pelo mundo do capital, sua condição não é a mesma na onda longa de estagnação que se abre a partir dos anos 1970, quando fazem parte à reação burguesa, em busca da retomada da taxa de lucro, iniciativas como a flexibilização das relações de trabalho e dos direitos sociais conquistados no período anterior. Dentro disso a política real é a de redirecionar ( e atenção, 4 não diminuir), o fundo público como um pressuposto geral das condições de produção e reprodução do capital, diminuindo sua alocação e impacto junto às demandas do trabalho, ainda que isso implique em desproteção e barbarização da vida social, considerando que este é um mundo onde não há empregos para todos, donde decorre a perversa associação entre perda de direitos e criminalização da pobreza( BOSCHETTI, et al, 2009, p.46). A intencionalidade da sua criação não resolve a questão social gerada pelo modo de produção capitalista, contudo cria mecanismos de controle social, para manter a ideologia da reprodução e exploração do capital. Cabe ressaltar que a citação acima nos remete ao passado e realiza um paralelo com o presente. Voltaremos ao passado para entender mais precisamente no Brasil o surgimento das políticas sociais e do Serviço Social. No início das duas primeiras décadas do século passado as políticas sociais foram suscitadas através de mobilizações e reivindicações das classes operárias, porém assumem características contraditórias, de ampliação de direitos e de controle social, já pontuadas no texto acima. Na década de trinta surgem no Brasil às primeiras escolas de Serviço Social, introduzidas predominantemente com a ideologia católica e com a presença do Estado. A assistência era prestada de forma caritativa e com víeis político do Estado para controle social; sem elaboração crítica dos fatores conjuntural geradores dos conflitos de classe, os marginalizados eram vistos como desajustados socialmente. Imperava o referencial teórico positivista e o instrumental técnico importado das escolas de Serviço Social Norte Americanas. O Serviço Social se caracteriza, assim, por ser um movimento ao qual se dedicam mulheres de famílias abastada, reunidas a partir de seu relacionamento e militância no meio católico. A partir dessa base social, da origem de classe dos núcleos pioneiros do Serviço Social, se pode deduzir que seu modo de ver o mundo e de agirem relação às populações clientes não tem a ver apenas com a influência européia. Esse comportamento faz parte da própria ideologia das classes dominantes, pela origem, fortuna familiar ou capital cultural, lhes confere uma superioridade natural em relação às populações pobres e legitimas a forma paternalista e autoritária de sua intervenção. O discurso dessas pioneiras demonstra a certeza de estarem investidas de uma missão de apostolado, de sua origem de classe. Elementos que legitimam sua autoridade num empreendimento de levantamento moral de uma população que vegeta no pauperismo e no rebaixamento moral (Iamamoto; Carvalho, 1996, p.223). Os profissionais assumiam como tarefa inadiável, como missão evangelizadora, a unificação da nação brasileira em torno do cristianismo e, no interior deste, o fortalecimento da família operária na fé cristã. Dessa forma o Serviço Social era impregnado do sentimento da missão em socorrer os desvalidos que se encontravam em curso. Era essa a causa que envolvia todos os grupos e movimentos católicos. A intenção era de promover aceitação ampla do regime capitalista estrategicamente exorcizando-o de seu antagonismo mais evidente e de suas injustiças mais gritantes. 5 O fetiche da prática, fortemente impregnado na estrutura da sociedade, se apossou dos assistentes sociais, insuflando-lhes um sentido de urgência e uma prontidão para a ação que roubavam qualquer possibilidade de reflexão crítica (Martinelli, 1989, p.114). Nessa concepção os profissionais desenvolviam uma prática sempre alienada e alienante. Tanto que os benefícios e os serviços eram executados de forma imediata sem reflexão. Nossa identidade profissional foi atribuída pelas classes dominantes, como meros executores de políticas sociais, no próprio processo de formação, a ideologia da racionalização da assistência, a burocratização dos serviços, negava ao profissional se apropriar da sua identidade e negava a historicidade da luta de classe para ampliação de direitos (MARTINELLI, 2007). A década de sessenta foi considerada como marco histórico à profissão. O movimento de reconceituação veio romper com conservadorismo histórico do Serviço Social. A conjuntura política e econômica da época foi marcada como a era da efervescência dos movimentos sociais, de organização de grupos de intelectuais, dos movimentos estudantis, do avanço do campo das ciências sociais. Os profissionais entram em crise e travam uma luta ideológica para construção de sua identidade profissional. Por toda a America latina surgem questionamento quanto ao processo de exploração e a necessidade de romper o Serviço Social tradicional. Emerge a necessidade de proporem uma nova forma de atuação, cresce vertiginosamente a busca por um embasamento crítico teórico que vislumbrasse uma prática profissional que suprisse os anseios da população carente Latino-Americana. Cabe ressaltar, que o movimento de reconceituação teve seus reflexos críticos nos países de língua hispânica, avançando no terreno teórico-crítico e ideológico, enquanto que no Brasil foi permeada pelo conservadorismo. O movimento foi desmobilizado pela própria falta de consciência crítica e fragilidade de identidade profissional. Dentro do mundo acadêmico surgiu à negação do trabalho profissional no campo institucional. Sem propor algo concreto, o movimento sucumbiu por conta da ditadura militar e da forte repressão política. A ditadura militar foi um período histórico marcado por violência política que permitiu ao regime militar construir um Estado sem limites repressivos. Muitos morreram em defesa da liberdade e da justiça social. O Brasil entre 1969 – 1973 viveu um período de desenvolvimento econômico surpreendente, o chamado “milagre econômico”. Também vivenciou um período de pobreza exacerbada e de desigualdade social, e com a concentração de riquezas nas mãos de poucos. Os profissionais exerciam nas instituições empregadoras uma prática tecnoburocratizada, para manutenção da ordem. A profissão, porém inicia seu questionamento a quem de fato representa, entra em cheque a identidade profissional e a necessidade de base teórica para intervir na prática profissional. A principal conquista da Reconceituação, porém, parece localizar-se num plano preciso: o da recusa do profissional de Serviço Social de situar-se como agente técnico puramente executivo (quase sempre um executor terminal de políticas sociais). Reivindicando atividade de planejamento para além dos níveis de intervenção microssocial, valorizando nas funções profissionais o estatuto intelectual do assistente social ( abrindo, pois, a via para inserção da pesquisa como atributo também do Serviço Social),a reconceituação assentou as bases para requalificação profissional, rechaçando a subalternidade expressa na 6 até então vigente aceitação da divisão consagrada de trabalho entre cientistas sociais ( os técnico) e assistentes sociais ( os profissionais “ da prática”) (NETTO, 2005, p.16). Em 1979 ocorreu o Congresso da Virada, que foi marcado pelo posicionamento crítico profissional, em defesa da luta da classe trabalhadora para ampliação de direitos em ruptura com o conservadorismo da prática até então preponderante. Inicia-se a partir de então a construção do projeto ético político comprometido com a luta da classe em defesa dos direitos sociais para transformações societárias. Com o fim da ditadura, na década de oitenta avança a luta pelo crescimento profissional. Principalmente no campo da pesquisa e da construção teórica despertando no profissional o ideário da profissão, em especial pela organização da luta sindical. Abriram novas perspectivas para o assistente social romper com o tradicionalismo. E estes assistentes sociais investiram fortemente em dois planos: na organização da categoria profissional e na formação acadêmica. Algumas conquistas históricas merecem destaque e necessitam ser pontuadas como: a promulgação da Constituição Federal de 1988; a Assistência Social regulamentada pela primeira vez na história brasileira como Política Pública não contributiva e cabendo ao Estado garantir o direito a todos os cidadãos que dela necessitarem. Na seqüência a Lei Orgânica da Assistência Social é criada no início da década de noventa, estabelecendo os objetivos, princípios e diretrizes das ações. Após inúmeras discussões em 2005 é aprovada o Sistema Único de Assistência Social, porém o (SUAS) só veio a ser efetivado 2012. Cabe ressaltar, ainda a revisão código de ética profissional antes vinculava (1986), rompe com a visão tradicional e conservadora da prática e em especial com o profissional meramente executor de políticas terminais. A partir de 1993 estabelece-se o princípio ético da liberdade como valor central profissional, que norteia para um agir crítico profissional prepositivo. A Lei 8.662 de 1993 dispõe e assegura competências e atribuições privativas do profissional e garante a disciplina e defesa do exercício da profissão de assistência social. No final da década de noventa em oito de novembro de 1996 é normatizada a Lei de diretrizes curriculares e o processo de formação profissional. É reorganizada a grade curricular que sofre a influência de escritores mais revolucionários como: Marx, Hengel, luckac e tantos outros, mas comprometidos com a luta de classe e o projeto de transformação da sociedade. No tocante a lei de diretrizes curriculares a autora Iamamoto discursa que, O atual debate brasileiro acerca da questão social relacionada ao Serviço Social foi impulsionado no processo coletivo de construção das diretrizes curriculares para o ensino superior na área, que teve nas duas últimas décadas. Ele buscava conjugar rigor teórico-metodológico e acompanhamento dinâmico societário, que permitissem atribuir um estatuto teórico e éticopolítico ao exercício profissional capaz de responder aos desafios da história presente. Reafirmar a importância de tematizar a relação entre profissão e realidade, sob a ótica da produção e reprodução das relações sociais, no cenário das transformações decorrentes da ofensiva do grande capital na produção, na fragilização da organização dos trabalhadores e de seu 7 patrimônio sociopolítico. Essa ofensiva é adensada pela “reforma” do Estado e ação do bloco do poder nos anos 90 ( Iamamoto, 2012, p.181-182). É precisamente esse Serviço Social crítico que vem redimensionando radicalmente a imagem da profissão. Hoje é reconhecida no plano acadêmico como área de produção e conhecimento, interagindo paritariamente com as ciências sociais e agindo ativamente no plano da formulação de políticas públicas. A partir de então, entramos em um período de maturidade acadêmica, segundo escritora Iamamoto (2004), após realizar uma análise dos desafios colocados ao Serviço Social nos dias atuais para prática cotidiana, aponta que três dimensões que devem ser de domínio do Assistente Social: *Competência ético-política – o Assistente Social não é um profissional neutro. Sua prática se realiza no marco das relações de poder e de forças sociais da sociedade capitalista - relações essas contraditórias. Assim, é fundamental que o profissional tenha posicionamento político frente às questões que aparecem na realidade social, para que possa ter clareza de qual é a direção social de sua prática; *Competência teórico-metodologica - o profissional deve ser qualificado para conhecer a realidade social, política, econômica e cultural com a qual trabalha. Para isso, faz-se necessário um intenso rigor teórico e metodológico, que lhe permita enxergar a dinâmica da sociedade para além dos fenômenos aparentes, buscando apreender sua essencial, seu movimento e as possibilidades de construção de novas possibilidades profissionais; *Competência técnico-operativa – o profissional deve conhecer, se apropriar, e, sobretudo, criar um conjunto de habilidades técnicas que permitam ao mesmo desenvolver as ações profissionais junto à população usuária e às instituições contratantes (Estado, empresa, Organizações Não-governamentais, fundações, autarquias etc.), garantindo assim uma inserção qualificada no mercado de trabalho, que responda as demandas colocadas tanto pelos empregadores, quanto pelos objetivos estabelecidos pelos profissionais e pela dinâmica da realidade social (SOUSA, 2008). Essas três dimensões de competências nunca podem ser desenvolvidas separadamente – caso contrário, cairemos nas armadilhas da fragmentação e da despolitização, tão presente no passado histórico do Serviço Social. 4 O Cotidiano Institucional Até o presente momento, tentamos de forma sucinta, contextualizar um breve histórico do Serviço Social e todo o processo de luta que o acompanhou, para construção de sua identidade profissional e sua especificidade técnica-profissional. Entretanto vivemos em um novo cenário de transformação societária onde a questão social adquire novas configurações ideológicas, político-econômica e social em razão da mundialização da economia. Recorda-se que a crise do petróleo na década de setenta atingiu especialmente os países mais desenvolvidos do globo, em especial Estados Unidos da America. A partir daí foram construídas novas estratégias de enfrentamento para superar a crise do excesso da produção no mundo da economia para reprodução do capital financeiro. O efeito mais devastador da nova política neoliberal atingiu na década de noventa os países latinos americanos em especial o Brasil. O Estado que até então equilibrava as tensões sociais através das políticas públicas regulando as relações de produção capitalista frente às desigualdades sociais advindas do modelo de produção, se retirar do cenário econômico para deixar o mercado livre para sua reprodução. Iniciou-se na década corrente uma corrida desenfreada pela privatização da economia e ao incentivo ao capitalismo especulativo e exploratório o qual não gera emprego, e que hoje já se instalou no mundo do trabalho e das relações 8 sociais a flexibilização, seja das leis trabalhistas e do acesso aos direitos sociais. No momento estamos vivemos um período de desmobilização coletiva, perdas e retrocessos de direitos assegurados na constituição Federal de 1988. As múltiplas manifestações da questão social, sob a órbita do capital, tornam-se objeto de ações filantrópicas e benemerência e de programas focalizados de combate á pobreza, que acompanham a mais ampla privatização de políticas públicas, cujas implementações passam a ser delegado a organismos privados da sociedade civil, o chamado terceiro setor. Ao mesmo tempo, expandem-se a compra e venda de bens e serviços alvos de investimentos empresariais que avançam no campo da política pública. As considerações até o momento pontuadas são relevantes para compreendermos como realizamos a nossa prática no cotidiano. A profissão historicamente foi regulamentada como profissão liberal. Porém o seu exercício se encontra institucionalizado, vive tensionado pelas contradições que atravessam as classes sociais na sociedade do capital e pela condição do trabalhador assalariado, cuja atividade é submetida a normas próprias que regulam as relações de trabalho. Como descaracterizar o processo de alienação nesse universo da divisão social e técnica do trabalho? Verifica-se, pois, uma tensão entre o trabalho controlado e submetido ao poder do empregador, as demandas dos sujeitos de direito e a relativa autonomia do profissional para perfilar o seu trabalho. Assim, o trabalho do Assistente Social encontrase sujeito a um conjunto de determinantes histórico, que fogem ao seu controle e impõem limites, socialmente objetivos, à consecução de um projeto profissional coletivo no cotidiano do mercado de trabalho. Alargar as possibilidades de condução do trabalho no horizonte daquele projeto exige estratégias políticoprofissionais que ampliem bases de apoio no interior do espaço ocupacional e somem forças com segmentos organizados da sociedade civil que se movem pelos meios éticos e políticos (Iamamoto, 2012, p.424). São os empregadores que fornecem instrumentos e meios para o desenvolvimento das tarefas profissionais. As instituições empregadoras que têm o poder de definir as demandas e as condições em que se deve ser exercidas a atividade profissional: o contrato de trabalho, a jornada, o salário, o publico alvo para um dado projeto, as metas de produtividade. Esses organismos empregadores, estatais, ou privados, definem também a matéria sobre qual recai a ação profissional, ou seja, as dimensões, expressões, ou recortes da questão social a serem trabalhadas, as funções e atribuições profissionais, além de oferecerem o suporte material para o desenvolvimento do trabalho, os recursos humanos, técnicos, institucionais e financeiros, decorrendo daí tanto as possibilidades como os limites e materialização do projeto profissional. Os demais meios de trabalho são os conhecimentos e habilidades profissionais que são de propriedade dos assistentes sociais, mas que no cotidiano são condicionadas a outros determinantes que não são externos, mas que representam para o sujeito vivo que realiza a atividade superar traços de subalternidade da profissão, 9 sua herança cultural católica (Raichelis, 2011). Ao mesmo tempo em que necessitamos considerar dimensões objetivas para dar vida e materialidade ao nosso trabalho, é necessário considerarmos também as questões subjetivas, que se incorporam na consciência, o significado do fazer profissional, as representações que fazemos da profissão e as justificativas que elaboramos para legitimar nossas atividades. O trabalho do assistente social é, nesses termos, expressão de um movimento que articula conhecimento e luta por espaços no mercado de trabalho; competências e atribuições privativas que têm um reconhecimento legal nos seus estatutos, normativos e reguladores. A Lei de Regulamentação profissional, o Código de Ética, as Diretrizes Curriculares se subordinam às normas e enquadramentos institucionais, mas também se organizam e se mobilizam no interior de um movimento dinâmico e dialético de trabalhadores que repensam a si mesmos e a sua intervenção no campo da ação profissional (RAICHELIS, 2011). O debruçar constante sobre o referencial teórico e metodológico do Serviço Social irá possibilitar ao profissional, não sucumbir no cotidiano pelas visões ora fatalistas e messiânicas de sua prática. Não podemos deixar de pontuar a necessidade de identificar os limites institucionais, considerando as correlações de forças, porém o profissional dispõe de especificidade técnica para superação, agregar parcerias se torna fundamental no espaço institucional. A articulação constante entre os conselhos populares e suas representações políticas faz com que a materialização do projeto ético político da profissão permaneça consolidada, em tempos de perdas de conquistas democráticas, fora do universo institucional. Sua repercussão será, porém impactante no contexto institucional. Transformações estruturais são possíveis no campo da universalização e na organização política de classe. Sem isso não há mudanças macrossociais que rebata nas instituições. Como já foi suscitado no texto, não podemos dissociar de nossa prática cotidiana as três dimensões que devem ser de domínio do Assistente social, as Competências: éticopolítica, teórico metolodológica e técnicaoperativa. Em 2005, o Conselho Federal de Serviço Social em parceria com os Conselhos Regionais de Serviço Social em todo território nacional realizou uma pesquisa. Ela traçou o perfil dos profissionais quanto ao: sexo; idade; quais espaços ocupacionais atuam, quanto à faixa salarial; carga horária. Embora os dados estejam bastante defasados revelam uma inquietação em especial: a falta de apropriação de um conhecimento que é a matéria do Serviço Social que é a questão social, e a falta de compreensão política quanto à construção sócio-histórica do projeto profissional. Outro ponto relevante que apontou a pesquisa foi à falta de compreensão em relação à normatização legal, quanto às atribuições privativas e competências profissionais o seu exercício profissional nos espaços ocupacionais diversos, considerando às políticas sociais diversas frente às novas configurações da expressão da questão social. No tocante à lei 8.662/1993, que dispõe sobre a profissão de Assistência Social o artigo 4º constituem competências do Assistente Social: I-elaborar, implementar, executar e avaliar políticas sociais junto a órgão da administração pública, direta ou indireta, empresas, entidades e organizações populares; II-elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos que sejam do âmbito de atuação do Serviço Social com participação da sociedade civil; III-encaminhar providências, e prestar orientação social a indiví duos, grupos e à população; IV-(VETADO); V- orientar indivíduos e grupos de diferentes segmentos sociais no 10 sentido de identificar recursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e na defesa de seus direitos; VI-planejar, organizar e administrar benefícios e Serviços Sociais; VII- planejar, executar e avalizar pesquisa que possam contribuir para análise da realidade e para subsidiar ações profissionais; VIII- prestar assessoria e consultoria a órgão da administração pública direta e indireta, empresa privada e outras entidades, com relação ás matérias relacionadas aos incisos II deste artigo; IX- prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em matéria relacionada às políticas sociais, no exercício e na defesa dos direitos civis, políticos e sociais da coletividade. X-planejamento, organização e administração de Serviço Social e de Unidade de Serviço Social; XIrealizar estudos socioeconômicos com os usu á rios para fins de benefícios e serviços sociais junto a órgão da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades. Quanto ao artigo 5º constituem atribuições privativas do Assistente Social: I- coordenar, elaborar, executar, supervisionar e avaliar estudos, pesquisa, planos, programas e projetos na área de Serviço Social; II-planejar, organizar e administrar programas e projetos em Unidade de Serviço Social; III-assessoria e consultoria e órgão da administração Pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades, em matéria de Serviço Social; IV-realizar vistorias, perícias técnicas, laudos periciais, informações e pareceres sobre a matéria de Serviço Social; V-assumir no magistério de Serviço Social tanto em graduação como pósgraduação,disciplinas e funções que exijam conhecimentos próprios e adquiridos em curso de formação regular; IV-treinamento, avaliação e supervisão direta de estagiários de Serviço Social; VII- dirigir e coordenar Unidades de ensino e Cursos de Serviço Social, de graduação e pósgraduação; VIII-dirigir, coordenar associações, núcleos, centro de estudos e de pesquisa em Serviço Social; IX-elaborar provas, presidir e compor bancas de exames e comissões julgadoras de concursos ou outras formas de seleção para Assistentes Sociais, ou onde sejaaferido conhecimentos inerentes ao Serviço Social; X-coordenar seminários, encontros, congressos e eventos assemelhados sobre assuntos de Serviço Social; XI-fiscalizar o exercício profissional através dos Conselhos Federal e Regional; XII-dirigir serviços técnicos de Serviço Social em entidades públicas ou privadas; XIII-ocupar cargos e funções de direção e fiscalização da gestão financeira em órgãos e entidades representativas da categoria profissional (CFESS, 1993). No sentido etimológico, a competência diz respeito à capacidade de 11 apreciar, decidir ou fazer alguma coisa, enquanto a atribuição é uma prerrogativa, privilegio, direito e poder de realizar algo. Diante do exposto, afirmo que as atribuições privativas do profissional são superiores as suas competências. Essas ferramentas que imprimem, no trabalho do assistente social cotidianamente seu projeto profissional. Em 2012 o CFESS publicou uma reedição ampliada do artigo da professora Marilda Iamamoto, intitulado Projeto Profissional, Espaços Ocupacionais e Trabalho do (a) Assistente Social na Atualidade, e uma nova apresentação, que recupera debates e conteúdos significativos referentes às atribuições profissionais. Observa-se a crescente preocupação dos órgãos de representação profissional na proposição de debates, encontros, para discussão em torno da prática cotidiana, e as contradições que são inerentes a profissão frente ao mercado, que cada vez mais emprega os profissionais. A releitura do documento se faz necessária, uma vez que vivemos na contramão da história. Pensar as atribuições e competências profissionais e prepararmonos para o enfrentamento de um novo cenário político, onde no texto já foi pontuado inúmeras vezes. Assim, para pensar as competências e atribuições do assistente social é necessário lançar o olhar para este momento particular de mudança no padrão de acumulação e regulamentação social, nos marcos da chamada globalização da produção dos mercados e dos bens culturais, que vêm provocando profundas alterações na produção de bens e serviços, nas formas de organização e gestão do trabalho nos organismos empregadores, com marcantes alterações nas maneiras como os deveres profissionais de serviços se articulam no interior dessa entidade (Iamamoto, 2012, p.38-39). Os profissionais passam a atuar em projetos mais amplos, de caráter indisciplinar, não apenas de natureza executiva, mas situados nos níveis de assessoria e consultoria interna, planejamento coordenação e representação. E freqüentemente tendem a não reconhecer seus objetivos de trabalho e as funções exercidas como matéria e atribuição do assistente social, resvalando para um discurso desprofissionalizante; que pode desdobrar-se em um esvaziamento da reflexão profissional a uma crise de identidade quanto à profissão. É comum os profissionais se identificarem com os cargos nomeados pelas organizações, por exemplo, analistas de recursos humanos, assessores internos, coordenador de programas, projetos, confundindo cargo ou função com profissão. Ou não é a função atribuída pelo empregador que define a qualificação profissional as competências e atribuições que lhe são inerentes. A profissão depende da formação universitária que atribui o grau de assistente social e do conselho profissional, que dispõe de poder legal para autorizar e fiscalizar o exercício, a partir das atribuições e competências das identificações históricas e reguladas por leis (Iamamoto, 2012, p.63.) As informações acima citadas nos remetem a seguinte avaliação: os profissionais de serviço social em sua grande maioria, não se apropriaram das competências: ético-política, o referencial, 12 teórico e metodológico e técnico- operativa que ao longo da história a profissão foi construindo, para nortear uma prática propositiva, na busca da justiça social e assegurar direitos já garantidos na constituição 1988. 6 Conclusão Não existe uma formula mágica que dê conta de superar a contradição que ocorre no cotidiano entre o capital e o trabalho. O processo de alienação em algum momento será a entrave de nossa ação, já que está intrínseca nas relações de trabalho dos meios de produção capitalista. Porém a leitura realizada nos aponta para um caminhar. Como foi pontuado em nossa análise, o Serviço Social na divisão social e técnica de trabalho também vivencia esse mesmo processo tão comumente enfrentado pelos trabalhadores que diariamente vendem sua força de trabalho para garantir a sobrevivência de suas famílias, enfrentando flexibilização dos contratos de trabalho, exploração e baixa remuneração salarial. Os profissionais, além de enfrentarem todas essas mazelas que são frutos do modelo de produção, travam lutas diárias para garantir a consolidação do projeto ético-político profissional, idealizado e construído ao longo de sua trajetória histórica. O discurso apontado acima nos remete a duas questões, bastante relevantes que já foram levantadas no texto que os profissionais necessitam superarem: a visão ora fatalista, ora messiânica usualmente identificada na prática. Decifrar a realidade e os limites institucionais, a gestão, como se constituem a relação de poder e como agregar parceiros é de fundamental importância no cotidiano. Como já foi mencionado no texto, o profissional no cotidiano terá que ter domínio de suas competências: ético-política, teóricametodológica e técnico-operativo para fazer frente às contradições encontradas nos inúmeros espaços sócio ocupacionais para garantia de direitos. Quando falamos em políticas públicas, e conquistas por direitos sociais, precisamos nos remeter a história, porque elas só foram possíveis através de organizações políticas, fortalecimentos coletivos da categoria, discussões e principalmente o referencial teórico crítico que norteou a prática para desvendar a realidade. Dissociar o trabalho da alienação na contemporaneidade é algo inaceitável. Porém é no cotidiano que podemos decifrar o real, ampliar direitos e fazer os empates necessários para correlação de forças e ter clareza nos momentos que se deve avançar e fazer os recuos necessários para garantia e ampliação direitos, estes constituídos e assegurados na Constituição Federal de 1988, e massacrados pela sociedade de consumo do mundo globalizado. A pobreza é banalizada e as políticas públicas são focalizadas para atender determinados grupos marginalizados, sem provocar mudanças estruturais significativas. Outro conflito, que no texto foi abordado é a nossa relativa autonomia. Embora nosso código de ética profissional nos caracterize como profissionais liberais, nossa prática se encontra atrelada às instituições. Nossos empregadores seguem a ótica do mercado, ditam as regras para controle e acesso às políticas públicas, os instrumentais técnicos como: as fichas, os relatórios, gráficos estimativos de desempenho traduzem em números quem irá receber aquele ou este benefício, focalizando e fragmentando os usuários da assistência. No texto foi mencionada a pesquisa realizada em 2005 pelo Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), em parceria com os Conselhos Regionais de Serviço Social (CRESSs). A pesquisa revelou o perfil dos profissionais que atuam em todo território nacional. Chama-nos atenção à falta de conhecimento sobre as legislações pertinentes a categoria, compreensão bastante limitado quanto à materialização do projeto ético político profissional, falta de apropriação e execução adequada das atribuições e competências profissionais. No curso da redação, pontuamos também a reedição do livro da professora 13 Marilda Iamamoto, onde ela realiza reflexões a cerca das atribuições privativas do Serviço Social na divisão social e técnica do trabalho, e nos múltiplos espaços sócio-ocupacionais, considerando as diversas políticas sociais. É a preocupação de não sucumbir o projeto profissional em detrimento ao mercado, que dita regras e desarticula os movimentos para mudanças estruturais significativas. Ter dimensão teórica do fazer profissional, o que de fato é matéria do Serviço Social, suas atribuições que lhe são inerentes e sem perder de vista o projeto profissional que vem sendo construído ao longo desses trinta anos. Algumas estratégias os autores pesquisados nos apontaram como socializar as informações, ter clareza quanto às leis que regulamentam a profissão, quanto à competência técnica e atribuições privativas do Serviço Social, se dispor a permanente educação continuada e romper com o conservadorismo, pelo contrário buscar referencial teórico para formação critica para transformação da sociedade vigente, participar do campo de pesquisa para compreender a realidade social, ter diálogo permanente entre os órgãos representantes e fiscalizadores da profissão CFESS, CREESS, ABEPSS, nos parece como alternativas reais e concretas para essa superação. A articulação entre política e referencial teórico possibilita fazer uma releitura adequada da realidade de forma crítica. Necessita fazer parte do cotidiano profissional e, quanto aos usuários, precisamos principalmente despertá-los para a consciência política e crítica, para que saiam da subalternidade e se reconheçam como protagonistas de sua própria história. É através de pequenos gestos que iremos alcançar mudanças macrossociais. 7 REFERÊENCIAS BOSCHETTI, et al. Políticas Sociais no Capitalismo : Tendências Contemporâneas. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2009, p.19-41. CFESS/CRESS/UFAL. Assistentes Sociais no Brasil. Elementos para o estudo do perfil profissional. Brasília, 2005. Disponível em: www.cfess.org.br. Acesso em: 12 de julho de 2013. CFESS. Atribuições Privativas do /a Assistente Social em Questão. 1ª edição ampliada. 2012. _______. Lei nº 8.662 de 7 de junho 1993. Dispõe sobre a profissão de Assistência Social e dá providências. Diário Oficial da União. Brasília (DF), 8 de junho de 1993 . BOSCHETTI, et al. Políticas Sociais no Capitalismo : Tendências Contemporâneas. 2. ed. 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