DESCORTINANDO A FORMAO DO PROFESSOR DE HISTRIA E

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DESCORTINANDO A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE
HISTÓRIA E GEOGRAFIA EM SERGIPE: UMA ANÁLISE DAS
DISCIPLINAS DO CURSO DE DIDÁTICA NO ANO DE 19541
João Paulo Gama Oliveira/Universidade Federal de Sergipe
[email protected]
Palavras-Chave: História das Disciplinas, Ensino Superior Sergipano, Formação
Docente.
Introdução
A Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe, criada em setembro de 1950, pela
Sociedade Sergipana de Cultura sua entidade mantenedora, começou a funcionar em
março de 1951, no prédio do Colégio Nossa Senhora de Lourdes, à Rua Itabaianinha,
número 586, local cedido para o funcionamento noturno da Faculdade pela
Congregação das Irmãs Sacramentinas.
As pioneiras a se interessarem pelos cursos da Faculdade, a saber, Matemática,
Filosofia e História e Geografia, foram: Maria Clara Vieira de Faro Passos, Elisete
Oliveira Andrade, Gildete Santos Lisboa, Josefina Sampaio Leite, Beatriz Sampaio,
Elisete Batista Nogueira e Magnória de Nazareth Magno do curso de Geografia e
História. Nalda Xavier de Oliveira, Olga Batista Andrade, Mariadyr Cardoso Soares e
Manuel Santiago Meneses do Curso de Matemática e Acirema Mangueira Marques,
Elysa Sílvia Leite, Joana Vital de Souza Joviniano de Ferreira Filho e Maria Umbelina
S. Mendonça do curso de Filosofia.
O primeiro corpo docente do curso de Geografia e História da faculdade foi
composto por: Gonçalo Rollemberg Leite lecionando História Antiga e da Antiguidade,
João Perez Garcia Moreno professor de Antropologia, Felte Bezerra ministrante de
Geografia Humana e a professora Maria Thétis Nunes com a disciplina de Geografia
Física.
No curso de Filosofia, o Padre Luciano José Cabral Duarte lecionava Psicologia
Racional, Padre Euvaldo Andrade, Introdução a Filosofia, Manuel Cabral Machado,
História da Filosofia e Padre Artur Moura Pereira a disciplina Lógica. No curso de
Matemática temos José Barreto Fontes com Física Geral e Experimental, Lauro Barreto
Fontes Geometria Analítica e Petru Stefan com Análise Matemática. Esses foram os
primeiros alunos, professores e disciplinas que construíram as bases para as demais
turmas.
Diante da observação da história das disciplinas como um campo da História da
Educação que tem adquirido adeptos e relevo dentro dos campos que buscam lançar luz
sobre as práticas educativas do passado, dessa forma utilizamos aqui alguns teóricos e
autores que trabalham com esse tema, como Chervel (1990), Bittencourt (2004),
Oliveira e Ranzi (2003), para podermos entender um pouco mais do universo da história
do ensino acadêmico em Sergipe no início da década de cinqüenta do século XX pelo
viés de uma disciplina2. Pois, segundo Chervel, a história das disciplinas:
[...] expõe à plena luz a liberdade de manobra que tem a escola na escolha de
sua pedagogia. Ela depõe contra a longa tradição que, não querendo vê nas
disciplinas ensinadas senão as finalidades que são efetivamente a regra
imposta, faz da escola o santuário não somente da rotina mas da sujeição, e do
mestre, o agente imponente de uma didática que é imposta pelo exterior
(CHERVEL, 1990, p. 193).
Como aqui se trabalha com o ensino superior, também chama atenção as
definições da estudiosa Bittencourt, quando esta autora nos diz que: “a disciplina
acadêmica visa formar um profissional: cientista, professor, administrador, técnico, etc.
A disciplina ou matéria escolar visa formar um cidadão comum que tem necessidade de
ferramentas intelectuais variadas para situar-se na sociedade e compreender mundo
físico e social em que vive” (BITTENCOURT, 2004, p. 47).
Por esse caminho segue o cerne do trabalho que consiste em analisar as
disciplinas de Didática Geral, Didática Especial da Geografia e Didática Especial da
História da Civilização, que pertenciam ao chamado curso de Didática, sendo que este
fazia parte do quarto ano de todos os cursos das Faculdades de Filosofia, no modelo que
se espalhou pelo país conhecido como três mais um. Ou seja, três anos com disciplinas
voltadas para a teoria de determinada área e um ano com um curso voltado para a
prática da vida docente.
Dessa forma analisaram-se aqui quais os conteúdos dados no ano de 1954 nas
citadas disciplinas, considerando as colocações de Chervel quando este nos diz que: “a
descrição de uma disciplina não deveria então se limitar à apresentação dos conteúdos
de ensino, os quais são apenas instrumentos utilizados para alcançar um fim. Permanece
o fato de que o estudo dos ensinos efetivamente dispensado é a tarefa essencial do
historiador das disciplinas” (CHERVEL, 1990, p. 192). Ainda dentro deste âmbito,
Dominique Julia fala que a história das disciplinas:
Tenta identificar, tanto através das práticas de ensino utilizadas na sala de aula
como através dos grandes objetivos que presidiram a constituição das
disciplinas, o núcleo duro que pode construir uma história renovada da
educação (JULIA apud FONSECA, 2006, p. 20).
Nesse sentido procuramos analisar para além dos conteúdos localizados nas
cadernetas da disciplina em foco, mas também perceber o conjunto de interesses e
relações que envolviam o curso e o ensino naquela época, como também atentar para
analisar o perfil intelectual doa professores responsáveis pela transmissão de
conhecimentos da mesma. Concordando com a idéia de que “a ação docente não é um
ato individual, mesmo que aparentemente o professor possa ficar isolado na sala de aula
com seus alunos. Sua ação é também coletiva, e talvez aí resida seu maior poder”
(BITTENCOURT, 2004, p. 56).
Sendo assim o texto está construído em duas partes, primeiramente trabalhamos
com alguns elementos da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe e os aspectos que
configuraram o curso de Didática no ano de 1954, curso que apesar de ter atendido a
todos os cursos da Faculdade, possuía algumas disciplinas específicas para cada um
deles. Numa segunda etapa abordaremos mais enfaticamente as disciplinas de Didática
Geral, Didática Especial da História da Civilização e Didática Especial da Geografia,
como também quem forma os regentes das mesmas.
O curso de Didática em 1954 e suas contribuições para os cursos da
Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe
Em março de 1951 começa a funcionar em terras sergipanas a Faculdade
Católica de Filosofia de Sergipe, fruto de um movimento que congregou uma série de
intelectuais da sociedade da época. A citada faculdade vai perdurar por mais de uma
década, fechando suas portas somente, quando esta passa a integrar a Universidade
Federal de Sergipe no final dos anos sessenta.
Dos três primeiros cursos, somente Geografia e História não vai enfrentar
problemas a ponto de deixar de funcionar, o que ocorrem com Matemática e Filosofia
em 1957. Vale ressaltar ainda o ingresso de outros cursos na Faculdade Católica de
Filosofia de Sergipe, ou FAFI, como era carinhosamente conhecida, ainda no início da
década de cinqüenta como é o caso de Letras Latinas e Letras Anglo-Germânicas.
Todos os cursos que nasceram em 1951, chegaram ao ano de 1954 com o
propósito de formar os seus professores do ensino secundário, para tal fim ministrou-se
uma série de disciplinas e conteúdos. Conforme a Ata Geral para reconhecimento do
curso de Didática de 1954, as disciplinas que comporiam o curso seriam Didática Geral,
Fundamentos
Sociológicos
da
Educação,
Administração
Escolar,
Psicologia
Educacional, Fundamentos Biológicos da Educação, Didática Especial de História da
Civilização, Didática Especial da Geografia, Didática Especial da Filosofia e Didática
Especial da Matemática. Conforme as cadernetas da FAFI, os professores e as
disciplinas ficaram distribuídas segundo quadro abaixo:
Quadro I - Curso de Didática da FAFI - 1954
Docentes
Gonçalo Rollemberg Leite
Disciplinas
Didática
Especial
da
História
da
Civilização
Felte Bezerra
Didática Especial da Geografia
José Silvério Leite Fontes
Didática Especial da Filosofia
José Rollemberg Leite
Didática Especial da Matemática
Cleone Menezes
Psicologia Educacional
Garcia Moreno
Fundamentos Biológicos da Educação
Manoel Cabral Machado
Fundamentos Sociológicos da Educação
José Silvério Leite Fontes
Didática Geral
Maria Thétis Nunes
Administração Escolar
Fonte: Quadro elaborado com base nas cadernetas do curso de Geografia e História da FAFI
Este foi o corpo docente que formou a primeira turma de professores da
Faculdade. Nessa turma estavam matriculadas Acirema Mangueira Marques, Elysa
Silvia Leite, Joana Vital de Souza, Lucy Oliveira Cunha, Maria Carmelita Alves, Nalda
Xavier de Oliveira, Olga Batista de Andrade, Josefina Santos Lisboa, Josefina Sampaio
Leite, Magnória de Nazareth Magno e Maria Clara Vieira Passos.
Em se tratando dos professores da Faculdade de Filosofia visualiza-se uma série
de anúncios na imprensa que exaltavam suas qualidades, assim como nos próprios
relatórios dessa instituição de ensino superior.
O corpo docente da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe é constituído
em sua totalidade por professores do magistério secundário e superior de
Aracaju, sendo todos conhecidos na cidade por seu conceito de preparo e
dedicação de ensino.
Esta sua tradição, que é um dos pontos altos em [que] se baseia o nome e a
eficiência da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe tem sido plenamente
continuada na atividade dos referidos mestres na mencionada Faculdade.
(Relatório do primeiro período do ano letivo de 1951, na Faculdade Católica de
Filosofia de Sergipe).
Em concordância com a idéia de que “o professor é quem transforma o saber a
ser ensinado em saber aprendido, ação fundamental no processo de produção do
conhecimento” (BITTENCOURT, 2004, p. 50), observa-se o papel crucial que exerce
um docente na transmissão de seus ensinamentos para seus alunos e nesse caso,
discentes que se tornariam futuros professores.
Nesse sentido, Chervel sublinha que: “[...] a função maior da ‘formação dos
mestres’ é a de lhes entregar as disciplinas completamente elaboradas, perfeitamente
acabadas, as quais funcionarão sem incidentes e sem surpresas por meio que eles
respeitem o seu modo de usar” (CHERVEL, 1990, p. 191). Com a FAFI possuía uma
finalidade clara de formar docentes que fica evidente no próprio regimento desta
instituição que tem por fim:
1.
2.
3.
Promover o desenvolvimento da cultura do espírito,
como meio de formação integral dos homens e da
elevação moral da sociedade;
Estimular a investigação científica;
Preparar candidatos ao magistério de ensino
secundário e normal; (Regimento da Faculdade
Católica de Filosofia de Sergipe – 1951).
Dentro de uma instituição cujo um dos focos centrais seria a formação de
mestres entende-se o curso de Didática que se volta exclusivamente para esse fim como
um objeto de significativa relevância para se entender a formação acadêmica docente
em meados do século passado. Tendo em mente que examinar todas as disciplinas e
todos os professores do curso seria uma tarefa que exige um maior debate e espaço para
discussões, centramos nossas análises nesse trabalho em três disciplinas do curso e num
esboço do perfil de seus professores.
Conforme as cadernetas do 1º semestre de 1954 da disciplina Didática Especial
da Geografia, os assuntos ministrados foram: Conceito de natureza da Geografia; A
Geografia como ciência natural e social; A Geografia na Idade Antiga; Entre os
orientais, os gregos – romanos; A evolução da Geografia – Idade Média; A Geografia
Moderna; Atitude e posição do professor na classe secundária; Histórico e crítica do
programa do curso secundário; Material Didático do Ensino de Geografia e Introdução
ao estudo do plano de curso.
Pelos conteúdos percebe-se uma valorização dos aspectos históricos dentro da
disciplina de Geografia, como também um seguimento da divisão tradicional da
História, sendo aqui trabalhada as Idades: Antiga, Média, Moderna e Contemporânea.
Observa-se também, ao menos teoricamente, um estudo que fugia ao mundo somente
europeu ao tratar de História Antiga, pois vemos aqui um estudo da Geografia Antiga
entre os Orientais. Podemos vislumbrar ainda alguns assuntos ligados diretamente a
prática da sala de aula com uma tentativa de situar o então aluno na realidade com a
qual este viria a se deparar quando docente no ensino secundário, além de mostrar
alguns dos materiais didáticos da disciplina como também trabalhar com elaborações de
planejamentos de curso.
O professor desta disciplina foi o dentista Felte Bezerra. Conforme homenagem
publicada no Jornal “A Cruzada” em 1952, Felte nasceu em 1909, filho do professor
Abdias Bezerra e de Esmeralda Araújo Bezerra, cursou o ensino primário e secundário
no Colégio Tobias Barreto. Antes de cursar Odontologia foi escriturário no Banco de
Sergipe, mas concluiu seu ensino superior em 1933.
Segundo estudos de Nunes (1992), o professor Felte Bezerra faleceu em 1990,
além de docente, foi também diretor do Atheneu Sergipense, como também Presidente
do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe 1951-1953, Membro da Sociedade de
Cultura Artística de Sergipe e pertenceu a Academia Sergipana de Letras, segundo o
Relatório do Primeiro Período Letivo da Faculdade de Filosofia, o professor Felte
ministrava a Disciplina de Geografia Humana no 1º ano conforme Relatório do 1º
período letivo da FAFI.
Além de lecionar Etnologia no 2º ano e Etnografia do Brasil no 3º ano, conforme
matéria publicada no jornal “A Cruzada” de 1952, como já citada anteriormente e
Didática Especial da Geografia no último ano do curso. Como o professor Felte
Ingressou como professor catedrático de Geografia no Atheneu Sergipense em 1938,
este possuía mais de uma década de atuação em sala de aula podendo assim ajudar seus
alunos na didática do ensino de Geografia.
Conforme entrevista concedida ao Jornal “A Cruzada”, ao ser questionado sobre
os motivos que presidiram a escolha da sua linha de investigação o professor Felte
Bezerra diz que:
- Adquirir conhecimentos no campo das ciências naturais, minha especialidade
(geografia física e astronômica), senti-me, pouco a pouco, seduzido pela
geografia humana, cujo conhecimentos procurei alargar, mesmo por dever
profissional. Dai, a natural atração do estudo do homem em relação com o
meio cultural (no triplice conceito de Taine), e principalmente da espécie
humana. Vi-me, portanto, insensivelmente mergulhado no estudo das raças
humanas. Da antropologia física, é facil passar para a etnologia (antropologia
cultural), terreno em que me vou fixando de modo definitivo ao que tudo
indica. Assunto vasto, complexo, em pleno desenvolvimento, há nele largo
campo para investigações, estudos, pésquizas que exigem - técnica de trabalho,
no que procurei me habilitar do melhor modo que me foi possível. (Jornal “A
Cruzada”, 25 de Dezembro de 1952)
Na mesma entrevista o professor Felte fala da dedicação a Faculdade de
Filosofia, das pesquisas dos seus alunos de Etnologia, “segundoanistas” que efetuavam
trabalhos de campo que poderiam até frutificar um livro sobre Antropologia Cultural.
Percebemos aqui que a disciplina Etnologia extrapolava os muros da sala de aula e
levava as alunas do curso ao contato com um mundo muitas vezes distinto daquele em
que elas viviam, como também uma aproximação com a pesquisa.
Há um relato também dos contatos epistolares com estudiosos fora do Estado,
como Emilio Willems, Donald Pierson e Oracy Nogueira, todos da Faculdade de
Sociologia de São Paulo. O professor chega a citar que se sentiu estimulado a publicar
seu livro “Etnias Sergipanas” após os comentários do Prof. Gilberto Freyre.
Demonstrando assim um intenso contato com os maiores nomes da área da pesquisa
desse momento.
Na fala do amigo Manuel Cabral Machado (2007)3 este nos diz que o professor
Felte era formado em Odontologia, mas muito fez pelo ensino e pela pesquisa em
Sergipe. Entre suas principais obras estão, “Etnias Sergipanas” (1950), “Investigações
Históricas e Geográficas de Sergipe” (1952), além de uma série de artigos publicados
em revistas especializadas. Com relação ao Ensino Superior, Nunes assinala que: “À
Faculdade Católica de Filosofia, um de seus fundadores, prestou relevante contribuição
sobretudo despertando nos alunos o interesse pela pesquisa no campo da Etnologia”
(NUNES, 1992, p 199/200).
A disciplina Didática Geral contou com a regência de Professor José Silvério
Leite Fontes, e para sabermos um pouco mais da vida desse professor fomos auxiliados
por Menezes (1998). Segundo o autor, Silvério Fontes nasceu em 06 de abril de 1924,
filho de José Silvério da Silveira Fontes e de Iracema Leite Fontes. Fez seus estudos
iniciais no colégio Tobias Barreto e o 1º ano complementar no Atheneu Sergipense,
depois partiu para continuar seus estudos na Bahia.
Ainda conforme o mesmo, entre os anos de 1942 e 1946, cursou a Faculdade de
Direito da Bahia. Como professor da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe
lecionou Didática Geral, História do Brasil e História da Filosofia. Também lecionou na
Faculdade de Direito e na Universidade Federal de Sergipe.
No período de 1965-1966 fez seu doutorado em Direito em Pernambuco, a partir
de então teve início seu projeto de levantamento de Fontes Primárias da História do
Estado de Sergipe, fato que culminou com a criação do Programa de Documentação e
Pesquisa Histórica (PDPH), órgão que durante décadas tem indubitavelmente
contribuído para a preservação e construção da História de Sergipe.
Conforme as cadernetas da disciplina Didática Geral no 1º semestre de 1954 esta
abordou: Conceito de Educação; O processo educativo; Fim da educação; Filosofia;
Pedagogia; Educação em duas aulas; A educação e o ensino na Idade Medi;, Os
Humanistas; Os Didáticos; O século XVII e a ilustração; O racionalismo e o
romantismo; A Escola Nova e o individualismo; O Socialismo e a Escola Nova; O
positivismo e o pragmatismo pedagógico; As tendências espiritualistas; Os sistemas
educativos; Os objetivos gerais e espécies do ensino secundário; Trabalhos práticos; A
organização do curso secundário; A matéria; A aprendizagem; A Escola Nova
Princípios Fundamentais da Escola Nova. Um vasto programa ministrado apenas em um
semestre de aulas. Várias correntes de pensamento, muitos séculos de história vistos no
primeiro semestre da disciplina.
Como professor da disciplina História Antiga e da Idade Média do 1º ano, ou
História da Civilização, que provavelmente foi subdividida em três longos períodos ao
longo três primeiros anos do curso, a Faculdade contou com o Bacharel em Ciências
Jurídicas e Sociais, Gonçalo Rollemberg Leite.
O professor Gonçalo, como era conhecido, também foi o diretor da Faculdade
de Direito nos seus primeiros anos de funcionamento, tendo uma participação efetiva
com diversas publicações na revista da própria Faculdade. Um dos homenageados no
ato da formatura, naquela instituição de ensino superior, Gonçalo Rollemberg era o
dono da cadeira de Direito Civil.
Nas palavras do colega de corpo docente Manuel Cabral Machado (2007), ao
falar de um outro colega de profissão o amigo diz: “O Gonçalo era bacharel em Direito,
formado pela Faculdade de Direito de Minas Gerais”4, Machado também nos diz que
Gonçalo Rollemberg representava a área de História do curso, juntamente com a
professora Maria Thétis Nunes.
Tal professor lecionou a disciplina de História da Civilização nos três anos do
curso e Didática Especial da História da Civilização no curso de Didática de 1954. Na
caderneta referente ao primeiro semestre letivo dessa disciplina constam os seguintes
assuntos: O Humanismo e a História; A Importância da História; Evolução do conceito
de História; O ensino da História consciência; Causalidade e certeza histórica; Ciências
auxiliares da História em duas aulas; Fontes Históricas e no último mês do semestre o
professor ministrou duas aulas uma sobre Crítica Histórica e outra sobre Interpretação e
Síntese. Ficando assim este docente com a responsabilidade por boa parte dos
conhecimentos históricos transmitidos no curso.
Por fim, podemos afirmar que as três disciplinas aqui analisadas contribuíram
decididamente para a formação do professor de Geografia e História. Denota-se certa
valorização do sentido linear da História, como também o trabalho com os conteúdos ao
longo de vastos períodos históricos. Destacando que conteúdos estritamente teóricos
também se fazem presente mesmo nas disciplinas que deveriam está permeadas pela
prática.
Sendo assim, as disciplinas de Didática Geral, Didática Especial da História da
Civilização e Didática da Especial da Geografia, dentro do curso de Didática da FAFI
de 1954, configuram-se como fundamentais componentes capazes de nos ajudar a
descortinar a formação dos professores, em nível superior, de Geografia e História em
meados do século XX em terras sergipanas. Há ainda um vasto caminho nessa área para
se percorrer, todavia já traçamos alguns pontos cruciais para compreendermos um
pouco mais da formação desses docentes, como também da história do ensino superior
sergipano.
Referências Bibliográficas
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BITTENCOURT, Circe Fernandes. Ensino de História: fundamentos e métodos. São
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FONSECA, Thais Nivia de Lima e. História & Ensino de História. 2ª ed. 1ª reimp.
Belo Horizonte: Autêntica, 2006.
LE GOFF, Jacques. A História Nova. 4ª ed. São Paulo. Martins Fontes, 1998.
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OLIVEIRA, Marcus Aurélio de, RANZI, Serlei Maria Fischer (org.). História das
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RODRIGUES, Simone Paixão. Por uma educação católica: um estudo sobre a
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VIDAL, Diana Gonçalves; FARIA FILHO, Luciano Mendes de. As lentes da história:
estudos da história e historiografia da educação no Brasil. Campinas, SP: Autores
Associados, 2005.
Fontes Escritas
Caderneta do primeiro semestre de 1954 da disciplina Didática Geral
Caderneta do primeiro semestre de 1954 da disciplina Didática Especial da Geografia
Caderneta do primeiro semestre de 1954 da disciplina Didática Especial da História da
Civilização
Jornal A Cruzada 25 de Dezembro de 1952, ano XVIII, nº 781
Regimento da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe – 1951
Relatório da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe para o reconhecimento do curso
de Didática – 1954
Fontes Orais
MACHADO, Manuel Cabral. Entrevista concedida ao autor em 15/08/2007. Aracaju –
SE.
1
O presente trabalho faz parte de uma pesquisa mais ampla, denominada “O curso de Geografia e
História da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe: entre docentes, alunas e disciplinas - uma história
(1951-1954)” que se destina a ser Monografia de Conclusão de curso em História Licenciatura na
Universidade Federal de Sergipe do presente autor.
2
Em Sergipe o campo da história das disciplinas, apesar de recente conta com alguns trabalhos
concluídos e muitos em desenvolvimento. Entre os trabalhos já terminados cabe destacar os estudos de
Alves (2005) e Rodrigues (2008).
3
MACHADO, Manuel Cabral. Entrevista concedida ao autor em 15/08/2007. Aracaju – SE.
4
Idem ibidem.
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