Anotações

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A Tentação de Jesus
Marcos 1
9​
Naqueles dias, veio Jesus de Nazaré da Galiléia e por João foi batizado no rio Jordão.
10​
Logo ao sair da água, viu os céus rasgarem-se e o Espírito descendo como pomba sobre ele.
11​
Então, foi ouvida uma voz dos céus: Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo.
Mateus 4
1​
A seguir, foi Jesus levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo.
2​
E, depois de jejuar quarenta dias e quarenta noites, teve fome.
3
Então, o tentador, aproximando-se, lhe disse: Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem
em pães.
4
Jesus, porém, respondeu: Está escrito: Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da
boca de Deus.
5
Então, o diabo o levou à Cidade Santa, colocou-o sobre o pináculo do templo 6​ e lhe disse: Se és Filho de
Deus, atira-te abaixo, porque está escrito:
“‘Ele dará ordens a seus anjos a seu respeito,
e com as mãos eles o segurarão,
para que você não tropece em alguma pedra’”.
7​
Respondeu-lhe Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor, teu Deus.
8​
Levou-o ainda o diabo a um monte muito alto, mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a glória deles
9​
e lhe disse: Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares.
10
Então, Jesus lhe ordenou: Retira-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a ele
darás culto.
11​
Com isto, o deixou o diabo, e eis que vieram anjos e o serviram.
INTRODUÇÃO
Jesus está no início de sua jornada terrena. Acaba de passar pelas águas do batismo e, como Israel após
cruzar o mar vermelho, agora tem que enfrentar nos próximos 40 dias as tentações que Israel enfrentou por 40
anos no deserto.
No entanto, enquanto Israel repetidamente falha diante das tentações, Jesus vence. Eis aqui um verdadeiro
israelita - é o que Mateus está dizendo. Ele se torna representante fiel de tudo quanto Deus planejou que Israel
fosse: aquele
​ que traria ​luz ao mundo (v.16). Cf. 1Co 10:1-11
Satanás apresenta a Jesus três tipos de tentações que caracterizam aquele que ​não procede de Deus, mas
do mundo. ​1 João 2:15 ​Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o
amor do Pai não está nele; 16​
​ porque
​
tudo que há no mundo, (1) a concupiscência da carne [Se
​ és Filho de Deus, manda
que estas pedras se transformem em pães]​
[o Adversário (...) mostrou-lhe todos os reinos do mundo em toda a sua glória, e
, ​(2) ​a concupiscência dos olhos ​
lhe disse: "Se você se ajoelhar e me adorar, eu lhe darei tudo isto]
​
​e (3) a soberba da vida [o
​ diabo o transportou a cidade santa, Jerusalém, o colocou sobre o
pináculo do Templo, e disse-lhe: "Se você é o Filho de Deus" disse, "pule!"]​
, não procede do Pai, mas procede do mundo.
​
1ª TENTAÇÃO: PEDRAS EM PÃES
3
Então, o tentador, aproximando-se, lhe disse: Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se
transformem em pães.
4
Jesus, porém, respondeu: Está escrito: Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede
da boca de Deus.
Jesus teve fome (v.2). Esta necessidade essencial do ser humano foi o ponto de partida para a sugestão do
tentador. ​“Use seus poderes divinos para suprir suas próprias necessidades”. No deserto Israel também
enfrentou situação semelhante. O episódio encontra-se em ​Êxodo 16 ​e ​Números 11​. ​O povo teve fome e
reclamou: ​Quem dera a mão do SENHOR nos tivesse matado no Egito! Lá nos sentávamos ao redor das
panelas e carne e comíamos pão à vontade, mas vocês nos trouxeram a este deserto para fazer morrer de
fome toda esta multidão!” (vv.3-4). Moisés corretamente
​
interpreta a queixa do povo: ​“Vocês não estão
​ reclamando de nós, mas do SENHOR” (v.8).
O deus-faraó nos escravizava, mas nos dava comida! É exatamente isto que eles disseram a Moisés. Este
Deus-Eu-Sou nos leva para morrer no deserto. A resposta de Deus é o Maná: alimento para atender
diariamente a necessidade do corpo - cuidado diário e constante. Novamente, porém, o povo cede à tentação.
Este maná não tem gosto de nada (Nm 11:4). Lá no Egito o deus-faraó nos dava carne! Deus responde de
forma dura: ​Números 11:19 ​Vocês não comerão carne apenas
​ um dia, ou dois, ou cinco, ou dez ou vinte, 20
mas um mês inteiro, até que lhes saia carne pelo nariz e vocês tenham nojo dela, porque rejeitaram o
Senhor, que está no meio de vocês, e se queixaram a ele, dizendo: ‘Por que saímos do Egito?’"
Bem no fim da peregrinação de Israel pelo deserto Moisés faz uma retrospectiva dos 40 anos de
peregrinação e este episódio é lembrado em Deuteronômio 8. É precisamente este texto que Jesus usa para
rejeitar a tentação de satanás: ​Deuteronômio 8:2 Lembre-se de como o Senhor, o seu Deus, os conduziu
por todo o caminho no deserto, durante estes quarenta anos, para humilhá-los e pô-los à prova, a fim de
conhecer suas intenções,
​ ​ se iriam obedecer aos seus mandamentos ou não. 3Assim, ele os humilhou e os
deixou passar fome. Mas depois os sustentou com maná, que nem vocês nem os seus antepassados
conheciam, para mostrar-lhe que nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da
boca do Senhor. Moisés poderia ter dito: Deus irá sempre mandar o maná pra vocês… mas ele diz: nem só de
pão viverá o homem...
Jesus poderia ter transformado as pedras em pães. Neste caso estaria se entregando ao deus-fome ou
deus-necessidade. ​Ele preferiu ouvir a profecia de Amós: ​Eis que vêm dias, diz o SENHOR Deus, em que
enviarei fome sobre a terra, não de pão, nem sede de água, mas de ouvir as palavras do SENHOR (Am
8:11). ​Onde Israel falha, Jesus vence.
2ª TENTAÇÃO: O FILHO DE DEUS ESTÁ PROTEGIDO DE TUDO
5
Então, o diabo o levou à Cidade Santa, colocou-o sobre o pináculo do templo 6​ e lhe disse: Se és Filho de
Deus, atira-te abaixo, porque está escrito:
“‘Ele dará ordens a seus anjos a seu respeito,
e com as mãos eles o segurarão,
para que você não tropece em alguma pedra’”.
7​
Respondeu-lhe Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor, teu Deus.
Nesta segunda tentação ​o inimigo cita o ​Salmo 91:11,12. ​Jesus refuta o inimigo citando ​Deuteronômio
6:16​: ​“Não tentarás o Senhor, teu Deus”. Neste capítulo de Deuteronômio Moisés recorda o episódio das
Águas de Massá.
Este episódio da peregrinação
​
de Israel é narrado em ​Êxodo 17​. v.2 ​“Dê-nos água para beber”. Mais uma
vez a tentação parte de uma necessidade básica: ​sede. E novamente o povo falha. O deus-Nilo nos dava o
que beber → ​“Por que você nos tirou do Egito? Foi para matar de sede a nós, aos nossos filhos e aos
nossos rebanhos?” (v.3). Mais uma vez ​Moisés interpreta de forma correta a queixa do povo e a traduz da
seguinte forma:​ ​“O SENHOR está entre nós, ou não?” (v.7).
A geração do Êxodo exigiu uma prova de que Deus estava mesmo entre eles. Deus respondeu:
ordenou que Moisés usasse a mesma vara que transformou as águas do deus-Nilo em sangue para bater na
rocha do monte Horebe e imediatamente a sede do povo foi satisfeita.
Quando satanás sugere a Jesus que se jogue do pináculo do templo está basicamente dizendo: ​você
acredita mesmo que Deus está preocupado com você? Exija uma prova. Jesus mostra que para viver uma
vida de compromisso com Deus não é necessário exigir de Deus nenhum tipo de prova. Sua convicção está
firmada na fé (Habacuque
​ 2:4 ​Eis o soberbo! Sua alma não é reta nele; mas o justo viverá pela sua fé.).
Jesus está inteiramente comprometido com o ​Salmo 91​:9 ​Se você fizer do Altíssimo o seu abrigo, do
SENHOR o seu refúgio, 10 nenhum mal o atingirá, desgraça alguma chegará à sua tenda. Outra vez onde
Israel falha, Jesus vence.
3ª TENTAÇÃO: OUTROS CAMINHOS PARA A MISSÃO
8
Levou-o ainda o diabo a um monte muito alto, mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a glória deles 9​ e lhe
disse: Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares.
10
Então, Jesus lhe ordenou: Retira-te, Satanás, porque está escrito: ​Ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a ele
darás culto.
Para compreender a correspondência entre a terceira tentação de Jesus e a peregrinação de Israel no
deserto é preciso voltar a ​Deuteronômio 6 e 10.​ Deuteronômio é um livro que narra de modo retrospectivo a
jornada de Israel no deserto.
A Palavra de Deus precisa estar no coração: ​Em Deuteronômio ​6 ele lembra o povo sobre a importância
de guardar a Palavra de Deus no coração (v.6-9) e conclui: ​Temam o Senhor, o seu Deus e só a ele prestem
culto e jurem somente pelo seu nome (v.13).
A Palavra nos lembra da paciência de Deus: ​No capítulo ​10 Moisés lembra o episódio do bezerro de
ouro. Após 40 dias no monte Sinai Moisés traz as tábuas da lei com os 10 mandamentos. O povo havia feito
um bezerro de ouro. Após Moisés rogar ao Deus, Ele decide não destruir o povo e ordena que Moisés retorne
ao monte por mais 40 dias (que estranha coincidência!). Duas novas tábuas da lei são confeccionadas. Nesta
narrativa Moisés pede ao povo: ​deixem de ser obstinados [cabeça-dura] (v.16). A narrativa do bezerro de ouro
conclui: ​Temam o SENHOR, o seu Deus, e sirvam-no. Apeguem-se a ele façam os seus juramentos
somente em nome dele (v.20).
​
O povo está prestes a entrar na terra prometida. Moisés, no entanto, não entrará com eles. Por que?
A explicação encontra-se em ​Número 20​. Já no final dos 40 anos, prestes a entrar na terra prometida, o
povo teve sede. E, novamente, o povo sente saudade do deus-Nilo. Moisés, desta vez, decide não seguir
orientação de Deus. Afinal, se da primeira vez bastou golpear a rocha com a vara, desta vez bastaria fazer o
mesmo. A água vem. Deus, porém diz à Moisés: ​“Como vocês não confiaram em mim para honrar minha
santidade à vista dos israelitas, vocês não conduzirão esta comunidade para a terra que dou a vocês”
(v.12)​.
Por que Moisés não entrou na terra prometida?
Uma explicação bastante interessante produzida por um estudioso medieval diz que Moisés errou ao dizer
aos israelitas: ​“Escutem, rebeldes, será que teremos que tirar água desta rocha para dar a vocês? (v.10)​”
porque estas palavras dão a entender que fora Moisés - e não Deus - quem realizara o primeiro milagre de tirar
água de uma simples pedra. Qualquer um - especialmente um líder espiritual - que leva as glórias por um feito
sobrenatural está usurpando o lugar do SENHOR.
A autora israelense Dorothy Zeligs nos oferece uma explicação alternativa: Moisés se refere várias vezes a
Deus como um rochedo (Dt 32:4). Esta autora sugere que quando Moisés bate no rochedo em vez de lhe falar,
não é com as pessoas que ele está zangado. Não é nas pessoas que está descarregando sua frustração. Está
zangado com Deus, o Deus que impôs sobre ele este fardo impossível, o Deus cujas exigências o separaram
do seu irmão e o privaram de ter uma vida familiar normal. Quando Deus repreende Moisés dizendo: ​“Porque
não tivestes confiança em Mim e não glorificastes a Minha santidade aos olhos dos filhos de Israel” Ele está
dizendo: ​Moisés, você deixou que os teus problemas comigo, a tua decepção e raiva contra mim, me
impedissem de realizar o milagre que Eu tinha em mente, um milagre mais delicado e mais impressionante do
que o que acabaste de fazer.
Na terceira tentação de Jesus, Satanás oferece um atalho para Sua missão. Como Messias, em última
análise Ele deve tornar-se o governante do mundo. Mas não existem atalhos para a vontade de Deus. Se
desejamos participar da glória, devemos participar antes do sofrimento (1 Pe 5:10). Que tentação era esta - a
de ganhar o mundo inteiro sem ir até a cruz! ​Afinal vez onde Israel falha - incluindo seu representante máximo,
Moisés - Jesus vence.
Recusar o caminho do tentador significa abraçar o caminho da cruz. ​Os sussurros do tentador foram
projetados para desviar Jesus da sua vocação central, um caminho que tem no batismo seu ponto inicial,
passando por uma vida de serviço que acabaria por levá-lo ao sofrimento e a morte.
Nossas tentações podem ser bem diferentes das de Jesus, mas tem exatamente o mesmo objetivo. Elas
não estão simplesmente atiçando o pecado. Estão também nos desviando da nossa missão que também tem
no batismo seu ponto inicial.​ O inimigo fará todo possível para nos distrair e desviar deste caminho.
Como filhos de Deus somos incitados a usar a mesma defesa que o Filho de Deus. Guardar as Escrituras
no coração e aprender a usá-las. Manter os olhos em Deus e confiar nele em toda situação. Lembre-se: Deus
nos chamou para trazer ​luz a este mundo.
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