Físico-Química Experimental FQE001 Exp. 11 Adsorção 1. Introdução A importância industrial da atividade catalítica de sólidos finamente divididos de Pt, Pd, e Ni resulta da adsorção de gases nestas superfícies. O sólido sobre cuja superfície ocorre a adsorção é denominado adsorvente. A espécie adsorvida é o adsorvato. A adsorção ocorre na interface sólido-gás e é diferente da absorção, em que o gás penetra através da fase sólida. Uma complicação nos estudos da interface gás – sólido é que as superfícies dos sólidos são rugosas, e é difícil determinar realmente a área superficial de um sólido. Nos estudos de adsorção, a quantidade de gás adsorvido em uma dada temperatura é medida em função da pressão, P, do gás em equilíbrio com o sólido. O recipiente mantendo o adsorvente está em um banho termostático, separado por uma torneira do gás de adsorção. O número de mols, n, do gás adsorvido por uma amostra sólida pode ser calculado (usando a Lei do Gás Ideal) a partir da variação da pressão do gás observada quando a amostra é exposta ao gás. Repetindo o experimento com diferentes pressões iniciais, obtém-se uma série de valores do número de mols adsorvidos, n, em função da pressão, P, do gás em equilíbrio, para uma temperatura constante do adsorvente. Se m é a massa do adsorvente, um gráfico de n/m em função de P, a T constante é uma isoterma de adsorção. A Figura 1 mostra duas isotermas típicas. Figura 1: (a) isoterma de adsorção de O2 sobre carvão ativo a 90K. (b) Isoterma de adsorção de N2 sobre sílica gel a 77K. A quantidade de gás adsorvida está expressa em termos do volume, v, de gás (corrigido a 0 oC e 1 atm) por grama de adsorvente. v é diretamente proporcional a n/m. Para O2, sobre carvão ativo a 90K (Fig. 1a), a quantidade adsorvida aumenta com P até que um valor limite é atingido. Isotermas deste formato são chamadas de isotermas do Tipo I, e sua interpretação é que, no limite da adsorção, a superfície sólida está recoberta por uma monocamada de moléculas de O2, além de nenhum O2 ser adsorvido posteriormente. As isotermas do Tipo I são típicas da adsorção química. A isoterma da Fig. 1b é do Tipo II. Neste caso, depois que a formação de uma monocamada de gás adsorvido está substancialmente completa, um posterior aumento na pressão do gás provoca a formação de uma segunda camada de moléculas adsorvidas, a seguir uma terceira, etc. Um processo conhecido como adsorção em multicamadas. As isotermas do Tipo II são típicas de adsorção física. Físico-Química Experimental FQE001 Exp. 11 1.1 Isotermas de Langmuir Em 1918, Langmuir aplicou um modelo simples de uma superfície sólida para deduzir uma equação de uma isoterma. Ele admitiu que o sólido tem uma superfície uniforme, que as moléculas adsorvidas não interagem entre si, que as moléculas adsorvidas estão localizadas em sítios específicos e que somente uma monocamada pode ser adsorvida. No equilíbrio, as velocidades de adsorção e dessorção das moléculas a partir da superfície são iguais. Por este modelo, a velocidade da adsorção é proporcional à velocidade (frequência) de colisões das moléculas de gás com os sítios de adsorção não ocupados, pois somente uma monocamada pode ser formada. A velocidade de colisões das moléculas de gás com a superfície é proporcional à pressão, P, do gás e do número de sítios não ocupados. Por outro lado, a velocidade de dessorção é proporcional ao número de moléculas adsorvidas. Chamando N o número de sítios de adsorção sobre a superfície vazia do sólido e a fração de sítios de adsorção ocupados pelo adsorvato em equilíbrio, a velocidade de dessorção, vd, (proporcional ao número de sítios adsorvidos) é dada por: 𝑣𝑑 = 𝑘𝑑 𝜃𝑁 (1) onde kd é uma constante à temperatura fixa. Da mesma forma, a velocidade de adsorção, va, (proporcional à pressão e ao número de sítios não ocupados), pode ser escrita como: 𝑣𝑎 = 𝑘𝑎 𝑃(1 − 𝜃)𝑁 (2) onde ka é uma constante à temperatura fixa. Igualando as velocidades de adsorção e dessorção e resolvendo para obter 𝜃, temos: 𝑘𝑎 𝑃(1 − 𝜃)𝑁 = 𝑘𝑑 𝜃𝑁 (3) 𝑘 ( 𝑎) 𝑃 𝑘𝑎 𝑃 𝑏𝑃 𝑘𝑎 𝑘𝑑 𝜃= = = ;𝑏 ≡ 𝑘 𝑘𝑑 + 𝑘𝑎 𝑃 1 + ( 𝑎 ) 𝑃 1 + 𝑏𝑃 𝑘𝑑 𝑘𝑑 (4) A fração de sítio ocupados à pressão P é igual a 𝑣 , 𝑣𝑚𝑜𝑛 onde v é o volume adsorvido e vmon é o volume adsorvido no limite de alta pressão, quando uma monocamada recobre a superfície inteira. A Equação 4 se transforma em: 𝑣= 𝑣𝑚𝑜𝑛 𝑏𝑃 (5) 1 + 𝑏𝑃 A forma da isoterma de Langmuir lembra a Fig. 1a. No limite de baixa P, bP pode ser desprezado e aumenta linearmente com P, de acordo com 𝜃 ≈ 𝑏𝑃. No limite de alta P, 1, e todos os sítios estão ocupados, formando uma monocamada. Para testar se a Equação 5 se ajusta aos dados experimentais, faz-se a inversão de cada um dos lados da equação, obtendo. 1 1 1 = + 𝑣 𝑣𝑚𝑜𝑛 𝑏𝑃 𝑣𝑚𝑜𝑛 (6) Físico-Química Experimental 1 FQE001 Exp. 11 1 Um gráfico de 𝑣 em função de 𝑃 dá uma linha reta se a isoterma de Langmuir é obedecida. Verifica-se que a isoterma de Langmuir funciona razoavelmente bem para muitos (mas não para todos) casos de adsorção química. 1.2 Isoterma de Freundlich A maioria das suposições de Langmuir é falsa. As superfícies da maioria dos sólidos não são uniformes e a velocidade de dessorção depende da localização da molécula adsorvida. A força entre as moléculas adjacentes é significativa, como é visto pelas variações de calor de adsorção com o aumento de . Existem evidências que moléculas adsorvidas podem se deslocar sobre a superfície, sendo que essa mobilidade é muito maior para adsorções físicas que químicas, e aumenta com a temperatura. Assim, a dedução de Langmuir (Eq. 5) não pode ser considerada todos os casos. A isoterma de Freundlich foi sugerida empiricamente no século XIX como: 𝑣 = 𝑘𝑃𝑎 (7) onde k e a são constantes (com 0 < a < 1). Aplicando-se a função logaritmo nos dois lados da Equação 7 obtem-se a equação de uma reta: log 𝑣 = log 𝑘 + 𝑎 log 𝑃 (8) ou seja, os coeficientes linear e angular de um gráfico de log v em função de log P permitem obter k e a. A isoterma de Freundlich pode ser obtida modificando-se as hipóteses de Langmuir para permitir vários tipos de sítios de adsorção sobre o sólido, cada tipo com um calor de adsorção diferente. 1.3 Isoterma BET As isotermas de Langmuir e de Freundlich se classificam somente como isotermas do Tipo I. Em 1938, Brunauer, Emmett e Teller modificaram as hipóteses de Langmuir de modo a obter uma isoterma pela adsorção física em multicamadas (Tipo II). Seu resultado é: 𝑃 1 𝑐−1 𝑃 = + − 𝑃) 𝑣𝑚𝑜𝑛 𝑐 𝑣𝑚𝑜𝑛 𝑐 𝑃∗ (9) 𝑣(𝑃∗ no qual v foi definido anteriormente, vmon é o v correspondente a uma monocamada, c é uma constante a T fixa e P* é a pressão de vapor do adsorvato na temperatura do experimento. As constantes c e vmon podem ser obtidas dos coeficientes angular e linear de um gráfico de 𝑃 𝑃 em função de 𝑃∗ . A isoterma Brunauer – Emmett – Teller (conhecida como isoterma BET) 𝑣(𝑃∗ −𝑃) se ajusta a muitas isotermas do Tipo II, especialmente para pressões intermediárias. Uma vez que vmon seja obtido a partir da isoterma BET, o número de moléculas necessárias para formar uma monocamada é conhecido e a área superficial do adsorvente sólido pode ser calculada pelo uso do valor estimado da área superficial ocupada por uma molécula adsorvida. Físico-Química Experimental FQE001 Exp. 11 2. Objetivos Estudar a adsorção do ácido acético pelo carvão em função da concentração do ácido Determinar as constantes de adsorção da isoterma de Freundlich. 3. Metodologia A adsorção em solução é importante em muitas situações práticas, como aquelas em que a modificação da superfície sólida é o objetivo principal (por exemplo, o emprego de materiais liofílicos na estabilização de dispersões), e aquelas que envolvem a remoção da solução de materiais indesejáveis (por exemplo, a purificação de soluções de açúcar com carvão ativo). Em alguns casos, é possível utilizar adsorção em solução para a determinação da superfície específica de sólidos na forma de pó (área superficial das partículas em m2.g-1). A isoterma de Freudlich é frequentemente aplicada à adsorção de solutos sobre sólidos a partir de soluções líquidas. Neste caso, a concentração do soluto, c, substitui P, e a massa adsorvida por unidade de massa de adsorvente substitui v: 𝑚 = 𝑘𝑐 𝑎 ; ou log 𝑚 = log 𝑘 + 𝑎 log 𝑐 (10) (11) A partir das equações 10 e 11, os coeficientes angulares e lineares do gráfico log m versus log c (Freundlich) fornecem os valores das constantes k e a. Nesta experiência será estudada a adsorção, em solução, de ácido acético sobre carvão através da construção de isotermas de adsorção. Os resultados permitirão calcular a área superficial do carvão. Para isso, massas definidas de carvão ativado são colocadas em contato com uma serie de soluções de várias concentrações de ácido acético. Depois de estabelecido o equilíbrio, as soluções são filtradas e os líquidos obtidos são analisados para se determinar o grau de adsorção. A quantidade adsorvida em cada caso é calculada a partir das quantidades do soluto nas soluções inicial e final. 4. Experimental Materiais 6 tubos de ensaio com tampa Chapa de aquecimento 1 béquer de 500 mL 1 bureta de 25 mL Funil Papel de filtro Proveta de 50 mL Solução de ácido acético 0,4 mol/L Solução de NaOH 0,05 mol/L Carvão ativo Fenolftaleína Água destilada Pipetas Procedimento Numere cada tubo de ensaio de 1 a 6 e adicione a cada um deles 5g de carvão ativado. Adicione água e ácido acético (HAc) em cada tubo respeitando os volumes indicados na Tabela 1. Feche os frascos e coloque num banho aquecido a 30 oC por cerca de 30 min, agitandoos frequentemente. Físico-Química Experimental FQE001 Exp. 11 Filtre as soluções de cada tubo. Retire uma alíquota de 10 mL do filtrado do frasco de número 1 e titule com hidróxido de sódio, usando fenolftaleina como indicador. Repita o procedimento para as demais amostras. Tabela 1: Composição de cada frasco utilizado para o estudo da adsorção do ácido acético em carvão ativado. Frasco Ácido Acético (HAc) / mL Água / mL 1 50,0 0 2 35,0 15,0 3 25,0 25,0 4 15,0 35,0 5 10,0 40,0 6 8,0 42,0 5. Discussão dos Resultados Através de titulação, obtém-se as concentrações das soluções obtidas após a filtração, depois de atingido o equilíbrio. A partir dos valores das concentrações inicial e final em 50 mL de solução de ácido acético, calcule o número de mols presente na amostra antes e depois da adsorção e obtenha o número de mols adsorvidos por diferença. Calcule o número de moles de ácido adsorvido por grama de carvão e, em seguida, a massa de ácido acético por grama de carvão (m). Com os valores de m e as concentrações de equilíbrio do ácido acético, c, constroem-se os gráficos, m versus c, e log versus log c. No primeiro traça-se a curva de adsorção e, com o segundo, calculam-se as constantes k e a. Físico-Química Experimental FQE001 Exp. 11 Adsorção Resultados Experimentais Nome: Tabela 1: Resultados experimentais nos testes de adsorção do ácido acético (HAc) em carvão ativado. Frasco mcarvão/ g VNaOH/mL [HAc]/mol.L-1 nHAc/mol nHAc(adsorvido)/mol (nf – ni) 1 2 3 4 5 6 [HAc]inicial =__________________ nHAc inicial; ni = ________________ [NaOH] = _________________ Observações: mHAc adsorvido /g 𝑚= 𝑚𝐻𝐴𝐶 𝑚𝑐𝑎𝑟𝑣ã𝑜 Físico-Química Experimental FQE001 Exp. 11 Utilize esta folha e mais quantas forem necessárias para apresentar os cálculos efetuados para responder os dados na Tabela 1. Físico-Química Experimental FQE001 Exp. 11 Aproximação de Freundlich: • Construa o gráfico, m versus c, para traçar a curva de adsorção • Obtenha um gráfico log m versus log c • Calcule as constantes de Freundlich, k e a; • Discuta a adequação do processo descrito no experimento à equação de Freundlich; Assumindo que a área de adsorção da molécula de ácido acético é 2,1x105 pm2, calcule a área superficial desta amostra de carvão em m2.g-1. Físico-Química Experimental FQE001 Exp. 11 Adsorção Pré-Laboratório Nome: 1. Defina os seguintes termos: a. Adsorção b. Dessorção c. Adsorção física d. Adsorção química 2. Mostre que para << 1, a isoterma de Langmuir se reduz à isoterma de Freundlich com a = 1.