Dentes provocam confusão Hal A. Huggins Não é porque são usadas há tantos anos pelos dentistas que as obturações de prata e mercúrio, assim como de outros metais tóxicos, são seguras. Após 160 anos de complacência, precisamos reavaliar supostas verdades. O Dr. Weston Price, antigo diretor de Pesquisas da Associação Odontológica Americana, passou 35 anos pesquisando doenças do coração, dos rins, do útero, do sistema nervoso e do sistema endócrino causadas pela infiltração de toxinas provenientes de canais obturados. Certas pessoas são sensíveis às toxinas produzidas dentro desses dentes mortos. O Dr. Price encontrou muitos fatos que até hoje temos dificuldade de aceitar, porque somos condicionados pela máxima "mas nós sempre fizemos assim". Ele pesquisou 24 formas de tratamento de canal e descobriu falhas em todas. Conceitos muito antigos foram questionados pelo Dr. Price: que o exame de raios X indica a presença de infecção; que infecções aparecem como absorção óssea; que um tipo de infecção dentária aparece de forma semelhante em todos os indivíduos; que sair pus de um dente é muito perigoso para o paciente; que a ausência de dor local e a eficácia do tratamento comprovam o sucesso da intervenção. O que convenceu Price de que certos indivíduos não toleram o tratamento de canal? Primeiro ele observou que, ao arrancar dentes com canais obturados, os doentes com problemas nos rins e no coração costumavam melhorar. Tentando estabelecer uma relaçãoentre o dente e a doença, ele inseriu os dentes arrancados sob a pele de coelhos. Os coelhos têm um sistema imunológico semelhante ao do ser humano. Um dente humano normal, saudável, pode ficar por mais de um ano sob a pele do coelho, sem que haja reação. Uma fina película é formada sobre o dente, mas o exame microscópico não revela células de rejeição. Quando ele implantava um dente com canal obturado sob a pele do coelho, este morria em menos de dois dias, às vezes em 12 horas. Price, então, inseriu um pequeno fragmento do dente sob a pele de um coelho. Em duas semanas, o animal perdia mais de 20% do peso e morria do coração ou de doença renal — conforme a doença de que sofria o doador do dente. Para comprovar a observação, Price removeu o fragmento e transferiu-o para outro coelho. Em duas semanas, o resultado repetiu-se. Por mais óbvias que fossem as conseqüências, os dentistas continuavam a obturar canais. Isso, é claro, causou acirrada discussão entre dentistas e um ensaio no "Journal of the National Dental Association", rejeitando as descobertas de Price. Price pesquisou os métodos de esterilização dos canais e descobriu que os dentes mantinham a esterilidade por, no máximo, dois dias. A maioria a perdia em menos de 24 horas. Por quê? Onde se escondiam essas bactérias? O dente é formado de esmalte, dentina e a cavidade central da polpa. Essa polpa pode ser esterilizada, removendo-se o conteúdo — nervos sangüíneos. A dentina, porém, é composta de milhares de minúsculos "túbulos". Embora microscópicos, esses túbulos podem abrigar bilhões de bactérias. Se colocássemos os túbulos de um dente frontal alinhados, alcançariam cinco quilômetros. Mas, de onde vêm essas bactérias? Elas habitam a boca. Quando um dente começa a cariar, elas invadem o dente e começam a matar o tecido dentário. Quando chegam à polpa, também penetram nos túbulos da dentina. Ao limpar a cavidade da polpa, o dentista elimina todas as bactérias da cavidade, mas não remove aquelas que penetraram nos túbulos. Fechado o dente, começa um novo processo. Em ambiente "anaeróbio", ou seja, sem oxigênio, os estreptococos passam por ligeira modificação do metabolismo para adaptarem-se ao novo ambiente. Depois, em vez de produzirem dejetos pouco prejudiciais, começam a produzir uma toxina poderosa. As células do nosso sistema imunológico não conseguem penetrar nos minúsculos orifícios na raiz do dente para destruir as bactérias. A toxina consegue vazare fluídos com nutrientes conseguem penetrar. As bactérias confinadas continuam multiplicando-se. Se o organismo inicia uma grande batalha contra as toxinas, formase pus ao redor do dente. A sabedoria convencional afirma que pus é prejudicial ao paciente e que ele precisa tomar antibióticos para combatê-lo. Price verificou que o pus é quase estéril e, embora desagradável, mostra que o organismo está confinando as toxinas com sucesso. Com certeza, essa era uma nova idéia, dificilmente aceita. Outro fato inquietante levantado por Price indica que, com freqüência, os raios X deixam de detectar abcessos localizados na parte anterior ou posterior do dente. Cerca de 30% dos dentes possuem canais adicionais que podem sair em qualquer altura do dente, do meio até a ponta, que é o lugar mais comum. Podem sair pela frente, por trás ou pelos lados do dente. São os abscessos formados nesses "outros" canais que não são detectados pelos raios X. Se o sistema imunológico do paciente está comprometido, a ação ao redor do dente obturado é mínima. Certas enzimas podem estimular o osso a formar o tecido ósseo mais pesado ao redor do dente e pode até fundir o osso com o dente. Na chapa de raios X isso parece uma regeneração perfeita. O dente não apresenta dor ou pus, mas as toxinas que vazam entram na circulação. Encontrando pouca interferência do sistema imunológico, procuram um órgão para atacar. Price já havia demonstrado esse fato transferindo fragmentos de dentes com raiz obturada de animal para animal, gerando a mesma doença a cada transferência. Muitas pessoas têm canais obturados que não provocam problemas. Como podemos distinguir indivíduos sensíveis dos não sensíveis? Price analisou 140 mil fatores em 1.200 pacientes para chegar a uma resposta. Em primeiro lugar, temos o fator hereditário. Se nas duas gerações anteriores — incluindo irmãos e irmãs de seus avós — a maioria foi resistente a doenças degenerativas, você tem boa origem e provavelmente não vai ser afetado por um tratamento de canal. Se, por outro lado, houver alta incidência de diabetes e problemas cardíacos, renais, do sistema reprodutor etc., você pode ser suscetível a uma "sobrecarga". A maioria sabe que o abuso de álcool, drogas e cafeína provoca stress em nosso organismo. Price verificou que existem outros tipos de stress igualmente prejudiciais. Pela exposição a eles, as pessoas ultrapassam o limite de resistência e os canais obturados tornam-se uma ameaça. Ele descobriu que os maiores tipos de stress são gravidez e gripe. Nessas condições, as toxinas dos dentes com canal obturado são mais propensas a provocar uma doença local suscetível. Outros tipos de stress que afetam os dentes com canal tratado são mágoa, ansiedade, friagem, fome intensa, infecção aguda ou crônica. E se você tiver um canal obturado e quiser tirá-lo? É só arrancar o dente? Não, isso pode causar mais problemas. Quando esses dentes são extraídos, é preciso remover também, com a broca, a ligação do dente com o osso, chamada ligamento periodontal. Isso irrita o osso existente e estimula o crescimento de novo osso. Examinamos as biópsias dos ossos sob os dentes com canal obturado que tínhamos extraído. Encontramos linfócitos no osso até a profundidade de um milímetro, às vezes mais. É preciso remover tudo isso para que o osso possa regenerar-se. Dr. Price certamente deu-nos uma nova percepção, que para muitos de nós, dentistas, é motivo de grande preocupação. Precisamos ouvir seus conselhos e deixar de lado nossos preconceitos para estudar suas pesquisas. Afinal, estamos preocupados com a qualidade de vida e não apenas com o dente. _____ Fonte: Raum & Zeit, volume 2, nº 1, 1990. O Dr. Hal A. Huggins apresentou mais de 1.000 palestras para leigos e profissionais, deu mais de 600 entrevistas para os meios de comunicação, publicou mais de 50 artigos, editou uma revista de ortodontia e escreveu dois livros. Seus estudos na Universidade do Colorado confirmaram a teoria européia (Issels, Graf) de que muitas pessoas sofrem de imunodeficiência devido a obturações e tratamento de canal.