ESTRATÉGIA DE MULTI-CANAIS: UM ESTUDO EM EMPRESAS INDUSTRIAIS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO EDUARDO ESPÍNDOLA HALPERN ORIENTADORA: PROFESSORA ÂNGELA DA ROCHA ii UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS – CCJE COPPEAD – Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração ESTRATÉGIA DE MULTI-CANAIS: UM ESTUDO EM EMPRESAS INDUSTRIAIS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO EDUARDO ESPÍNDOLA HALPERN Mestrado em Administração Orientadora: Professora Ângela da Rocha Rio de Janeiro, RJ – Brasil Março de 2001 iii ESTRATÉGIA DE MULTI-CANAIS: UM ESTUDO EM EMPRESAS INDUSTRIAIS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Eduardo Espíndola Halpern TESE SUBMETIDA AO CORPO DOSCENTE DO INSTITUTO DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO, COPPEAD, COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS (M. Sc.). APROVADA POR: ______________________________________ PROFA. ÂNGELA DA ROCHA COPPEAD/UFRJ PRESIDENTE DA BANCA ______________________________________ KLÉBER FIGUEIREDO COPPEAD/UFRJ ______________________________________ ANDRÉ LACOMBE PUC-RIO RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL MARÇO DE 2002 iv Halpern, Eduardo Espíndola Estratégia de Multi-canais: um estudo em empresas industriais do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: COPPEAD/UFRJ, 2002. 142 p. Tese de Mestrado – Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPEAD. 1. Canais de Distribuição. 2. Marketing. 3. Tese (Mestrado – COPPEAD/UFRJ). I. Título v À minha esposa Roberta, pelo seu amor e amizade. Aos meus pais, pela sua amizade e apoio. vi AGRADECIMENTOS À Roberta, minha esposa, que com muita paciência me estimulou a perseguir meus objetivos. Aos meus pais, Cynthia e Maurício, que sempre me apoiaram de forma incondicional em todos os momentos de minha vida. Aos colegas, professores e funcionários do COPPEAD, pela enriquecedora convivência ao longo do curso. À professora Ângela, cuja orientação segura e carinhosa me deu confiança e estímulo para concluir esta dissertação. vii RESUMO Esta pesquisa teve como objetivo estudar a utilização de canais de distribuição por empresas do setor industrial brasileiro. Através dela, procurou-se identificar como as características das empresas e de seus mercados de atuação influenciam a escolha de estratégias de distribuição, a seleção de canais de distribuição, o gerenciamento destes canais e a existência de conflitos entre eles. Para que estes objetivos fossem alcançados, foi realizada uma pesquisa de campo, através do envio de questionários pelos correios, respondidos por executivos das áreas de marketing ou comercial de 63 empresas localizadas no Estado do Rio de Janeiro. O teste de hipóteses foi realizado através de análise discriminante direta simples e passo a passo. O estudo permitiu comprovar a existência de diferenças significativas entre as empresas que utilizam estratégias de distribuição intensivas e exclusivas, bem como entre as empresas que utilizam e as que não utilizam os seguintes canais de distribuição: telemarketing, catálogos, mala-direta, atacadistas, varejistas, franquias, supermercados e lojas especializadas. O número de clientes e a estratégia de cobertura de mercado das empresas, bem como a necessidade de crédito e a quantidade comprada pelo consumidor final foram algumas das características mais observadas como tendo maior poder discriminante entre os diferentes grupos de empresas. O estudo também verificou a ampla utilização de estratégias de multi-canais entre as empresas pesquisadas, identificando o número de estados atendidos e a estratégia de cobertura de mercado como as variáveis que melhor explicam a sua adoção. Não foi possível identificar qualquer associação estatisticamente significativa entre as características das empresas e de seus mercados de atuação com a existência de conflitos entre os canais. viii ABSTRACT This study aimed to investigate the use of distribution channels by Brazilian industrial firms. It examined how firm and market characteristics are associated with distribution strategy, channel selection, channel management and channel conflict. A mail survey was designed to achieve the research objectives, with a total of 63 questionnaires returned by top executives responsible for marketing and sales functions from firms located in the state of Rio de Janeiro. The hypothesis test was conducted, with the use of linear discriminant analysis. The results suggest the existence of statistically significant differences between firms that use exclusive and intensive distribution strategies, as well as between firms that use and those that do not use the following distribution channels: telemarketing, catalogs, wholesalers, retailers, franchises, supermarkets and specialty stores. The number of customers served, the firms’ distribution strategy, the customers’ need for credit and the customers’ order size were the variables most observed among those with best discriminating power. The research also verified a rapid adoption of multi-channel distribution strategies by Brazilian firms, influenced by the number of states served by the company and by it’s distribution strategy. The existence of channel conflict was not associated with any of the firms’ and markets’ characteristics. SUMÁRIO 1. Objetivos e Importância do Estudo ........................................................................2 1.1. Objetivo.........................................................................................................2 1.2. Relevância do Estudo.....................................................................................2 1.3. Organização do Estudo ..................................................................................6 2. Revisão Bibliográfica ............................................................................................7 2.1. Conceito de Canal..........................................................................................7 2.2. Atividades e Funções do Canal ......................................................................9 2.3. Cadeia de Valor ...........................................................................................14 2.4. Estratégia de Canais.....................................................................................17 2.5. Desenho de canais........................................................................................24 2.6. Gerenciamento de canais..............................................................................32 2.7. Intermediários..............................................................................................39 2.8. Estratégia de Multi-canais............................................................................52 3. Metodologia ........................................................................................................63 3.1. Esquema Conceitual do Estudo ....................................................................63 3.2. Tipo de Pesquisa..........................................................................................65 3.3. Hipóteses e Testes........................................................................................66 3.4. Variáveis Operacionais ................................................................................67 3.5. População e Amostra ...................................................................................70 3.6. Coleta de Dados...........................................................................................70 3.7. Análise dos Dados .......................................................................................72 3.8. Limitações do Método .................................................................................75 4. Análise dos Resultados........................................................................................78 4.1. Análise Descritiva........................................................................................78 4.2. Teste de Hipóteses ..................................................................................... 104 5. Conclusões ........................................................................................................ 135 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................... 139 Coppead / UFRJ Dissertação: Estratégia de Multi-canais Eduardo Espíndola Halpern Orientadora: Professora Ângela da Rocha 1 1. OBJETIVOS E IMPORTÂNCIA DO ESTUDO 1.1. Objetivo O objetivo desta dissertação é contribuir para a melhor compreensão da utilização de canais de distribuição em empresas do setor industrial brasileiro. A pesquisa pretende identificar como as características do mercado e das próprias empresas influenciam a escolha de estratégias de distribuição, a seleção dos canais e a existência de conflitos entre estes. Para que este objetivo fosse alcançado, o estudo foi dividido em duas partes. Primeiramente realizou-se uma revisão da literatura sobre canais de distribuição que permitisse identificar: o conceito de canal de distribuição e as suas principais funções e atividades; as principais decisões relacionadas à formulação de estratégias de distribuição, bem como ao desenho e ao gerenciamento de canais de distribuição; as principais contribuições desenvolvidas a respeito das estratégias de multi-canais. A seguir foi desenvolvida pesquisa de campo, através de envio de questionários para empresas do setor industrial brasileiro, localizadas no Estado do Rio de Janeiro, onde se procurou identificar as principais variáveis que influenciam a escolha de estratégias de distribuição, a escolha de canais de distribuição diretos e de intermediários, a adoção de estratégias de multi-canais e a ocorrência de conflitos de canais. 1.2. Relevância do Estudo A adoção de estratégias de multi-canais vem ganhando alguma atenção do meio acadêmico e empresarial por representar oportunidade para a ampliação da cobertura de 2 mercado através do atendimento a segmentos de clientes que não eram atendidos satisfatoriamente pelos canais tradicionais das empresas e, também, para reduzir os custos de distribuição das empresas, graças à introdução de canais mais eficientes na execução de determinadas atividades de distribuição. No entanto, tal arranjo traz consigo maior complexidade gerencial, que oferece margem para o surgimento de diversos conflitos que podem acabar por enfraquecer o contato da empresa com seus consumidores finais. O canal de distribuição é tradicionalmente o elemento do composto de marketing que tem recebido a menor atenção por parte da direção das empresas e da pesquisa acadêmica, conforme admitido por autores como Day (1990), Kotler (1986) e Rosenbloom (1998). Apenas recentemente começou a ocorrer um deslocamento das atenções para este tópico, talvez em função de alguns fatores como a necessidade de redução de custos de distribuição, o crescente poder de barganha do varejo e a maior dificuldade que as empresas têm encontrado em conquistar vantagens competitivas sustentáveis através dos outros três elementos do composto de marketing: preço, produto e promoção. Tradicionalmente as empresas assumiam, e talvez ainda o façam, uma postura passiva em relação à administração dos seus canais de distribuição ou de marketing. Kotler (1993, p. 592) admite que “... existe uma poderosa tendência inercial na organização de canais”. Já Day (1990, p. 242) afirma que “por razões de inércia, tradição, práticas da indústria e ausência de alternativas viáveis, a gerência tendia a permanecer com seus canais existentes”. Porter (1989, p. 47) diz que “os elos verticais, como os elos dentro de uma cadeia de valores de uma empresa, são freqüentemente 3 negligenciados”. Finalmente Rosenbloom (1998, p. 04) reconhece que “enquanto ferramenta estratégica de marketing, o campo dos canais de marketing ficou, por muitos anos, em segundo plano em relação aos outros três elementos do composto de marketing: produto, preço e promoção”. Talvez esta desatenção tenha sido o fruto de um ambiente onde as pressões competitivas exercidas pelos compradores não fossem tão intensas, exigindo poucos esforços por parte das empresas no aprimoramento do nível de serviço oferecido aos seus clientes bem como na redução dos seus custos. As prioridades dos executivos da área de marketing encontravam-se associadas aos demais componentes do composto de marketing. Assim, o gerenciamento dos canais vem sendo percebido como grande oportunidade para o apoio às estratégias das empresas, possivelmente por ser um campo de batalha onde ainda existem relativamente poucas ferramentas desenvolvidas. Segundo Porter (1989), os elos entre atividades da cadeia de valor das empresas e dos seus canais podem ser fontes de vantagem competitiva tanto quanto as atividades propriamente ditas. Rosenbloom (1998) afirma que há um deslocamento das atenções para o gerenciamento dos canais em função da maior dificuldade em atingir vantagens competitivas sustentáveis, do crescente poder dos distribuidores e varejistas no canal, da necessidade de reduzir custos de distribuição, da dificuldade em obter crescimento em mercados maduros e do ritmo acelerado de inovações tecnológicas. 4 Stern, El-Ansary e Coughlan (1996) dizem que as companhias estão buscando novos canais de distribuição em função da necessidade de atender de forma mais precisa e eficaz as necessidades de diferentes segmentos de clientes. É possível que algumas das dificuldades que as empresas fabricantes atualmente enfrentam no gerenciamento dos canais de distribuição sejam justamente resultantes da falta de atenção dada aos mesmos no passado. Uma das questões mais perceptíveis é o grande poder de barganha do qual as redes de atacado e varejo desfrutam no seu relacionamento com a indústria. Elas ocuparam com eficiência uma lacuna deixada em aberto pela indústria que, gradualmente, distanciou-se de seus consumidores e tornou-se mais dependente do varejo que, por sua vez, passou a ditar as regras do relacionamento. O desenvolvimento de marcas próprias pelo varejo e o gerenciamento de categorias1 são duas tendências bastante ilustrativas deste deslocamento de poder. A busca por reduções nos custos também tem levado muitas empresas a procurar reduzir o número de atacadistas e varejistas que trabalham com suas linhas de produtos. Trabalhando com poucos intermediários, elas conseguiram otimizar suas próprias equipes de vendas e simplificar suas operações logísticas. No entanto, a contrapartida é a de uma forte dependência de um número muito mais reduzido de clientes com um poder muito maior de barganha. 1 Arranjo no qual um fabricante de um determinado produto é selecionado pelo varejista para gerenciar as vendas nas lojas de toda a categoria a qual pertence, inclusive de seus concorrentes. 5 1.3. Organização do Estudo A dissertação foi dividida em cinco capítulos. No primeiro capítulo foram apresentados os objetivos e a relevância do estudo. O segundo capítulo é constituído por levantamento bibliográfico cujo objetivo é identificar os principais conceitos relacionados aos canais de distribuição, auxiliando a formulação das hipóteses da pesquisa. Neste capítulo são discutidos: conceito de canais de distribuição, atividades e funções dos canais, estratégia, desenho e gerenciamento de canais, papel dos intermediários e estratégia de multi-canais. O terceiro capítulo apresenta a metodologia de pesquisa utilizada. Apresenta-se o esquema conceitual do estudo, desenvolvido a partir das conclusões atingidas no levantamento bibliográfico, o tipo de pesquisa realizada, as hipóteses da pesquisa, as variáveis operacionais da pesquisa, o processo de amostragem da população pesquisada, as ferramentas de coleta e análise dos dados e as limitações do método de pesquisa. No quarto capítulo são apresentados os resultados da pesquisa. A análise estatística descritiva da amostra é seguida pelos testes de hipóteses. Por fim, no quinto capítulo são apresentadas as principais conclusões do estudo e sugestões para pesquisas futuras. 6 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Neste capítulo são apresentados os principais conceitos e definições identificados na literatura sobre canais de distribuição. A discussão do conceito de canal de distribuição e das atividades e funções executadas pelo canal foi complementada pela discussão do conceito de cadeia de valor de Porter (1989). Tais definições permitiram identificar de forma mais clara as principais decisões relacionadas à formulação de estratégias de distribuição, ao desenho dos canais e ao gerenciamento dos mesmos. O estudo dos principais formatos de intermediários, bem como as vantagens e restrições associadas ao uso de cada um deles, auxiliou a compreensão das estratégias de multicanais. 2.1. Conceito de Canal Kotler (1993, p. 592) utiliza a definição de Stern, El-Ansary e Coughlan (1996, p. 01) segundo a qual “os canais de marketing podem ser vistos como conjuntos de organizações interdependentes envolvidas no processo de tornar produtos ou serviços disponíveis para uso ou consumo”. Rosenbloom (1998, p. 09), por sua vez, o define como “a organização fora dos limites da empresa que a gerência opera para atingir seus objetivos de distribuição”, enquanto Alderson (apud Clewett, 1954, p. 30) o classifica como “uma frágil coalizão engajada na exploração de uma oportunidade comum no mercado”. Day (1990, p. 243) afirma que “um canal existe para desempenhar uma série de atividades, essenciais e inevitáveis, destinados a levar um produto ou serviço até o mercado”. Rocha e Christensen (1987, p. 154) definem que “para que se caracterize a 7 existência de um canal é importante que a propriedade ou o controle do produto ou serviço passe do fabricante, pelo canal, para o consumidor ou usuário”. É possível ver que há concordância entre estes autores quanto ao objetivo do canal de distribuição (também chamado de canal de marketing), que seria o de garantir o fluxo de bens ou serviços do fornecedor para o consumidor final. A definição de Stern, El-Ansary e Coughlan (1996), no entanto, enfatiza a questão da presença de organizações interdependentes. Tal definição deixa de levar em conta que as atividades de transferência dos produtos ou serviços podem ser realizadas pelos seus próprios fabricantes. A definição de Corey (apud Kotler, 1993, p. 593), ao dizer que “um sistema de distribuição (...) é um recurso externo importante”, parece confirmar esta crença por parte de alguns autores. Rocha e Christensen (1987, p. 157) admitem, no entanto, que “muitas vezes os fabricantes utilizam a distribuição direta, procurando alcançar o cliente final sem intermediários, ou criando seus próprios intermediários”. Já Day (1990, p. 243) afirma que “essas atividades podem ser parte integrante da cadeia de valor da empresa ou serem consideradas como um elo separado de um sistema de cadeias de valor relacionadas entre si”. O próprio Kotler (1993, p. 596) admite a distribuição direta como um canal de distribuição ao afirmar que “um canal de nível zero consiste em o fabricante vender diretamente aos consumidores”. Rosenbloom (1998) admite que as confusões existentes sobre as definições do conceito de canal de distribuição derivam, em grande parte, das perspectivas distintas oferecidas pelos diferentes pontos de vista através dos quais ele é analisado. Analistas situados em diferentes estágios do fluxo de atividades de valor tendem a perceber o 8 canal de forma diferente. O autor enfatiza que a sua definição reflete o ponto de vista adequado para o gerenciamento de marketing de firmas envolvidas em atividades de fabricação de bens. 2.2. Atividades e Funções do Canal O objetivo primordial de um canal de distribuição é o de garantir o fluxo de bens e serviços até os consumidores finais. Kotler (1993, p. 594) enumera as atividades desempenhadas pelo canal de distribuição da seguinte forma: ! Informação => Coleta e disseminação de informação, de pesquisa de marketing sobre os consumidores atuais e potenciais, concorrentes e outros agentes e forças que atuam no ambiente de marketing. ! Promoção => Desenvolvimento e disseminação de mensagens persuasivas sobre a oferta projetada para atrair consumidores. ! Negociação => Tentativa de busca de um acordo final sobre preço e outros termos relativos à oferta, a fim de que se possa efetuar a transferência de propriedade ou posse. ! Pedido => Comunicação de intenções de compra dos membros do canal para o fabricante. ! Financiamento => Aquisição e alocação de fundos requeridos para financiar os níveis de estoque do canal. ! Risco => Aceitação de riscos juntamente com a execução da tarefa do canal. ! Posse física => Armazenamento contínuo e movimentação de produtos até o consumidor final. ! Pagamento => Os compradores pagam suas faturas aos vendedores através de bancos ou outras instituições financeiras. 9 ! Propriedade => Transferência de propriedade de uma instituição de marketing para a outra. Segundo Day (1990, p. 244), as atividades desempenhadas pelo canal são cinco: Comunicação e negociação => incluem o uso de veículos de comunicação ou de vendedores para aumentar a conscientização e transmitir mensagens persuasivas, acompanhadas por tentativas para chegar a um acordo a respeito de preços ou condições de venda. Transação => inclui a comunicação, para trás, do pedido ao fornecedor; a provisão de crédito ou ajuda financeira ao comprador; e a absorção dos riscos, para o comprador, de perdas e obsolescência do estoque. Armazenagem e transferência => Incluem a armazenagem intermediária em depósitos, o transporte até o comprador e a classificação e embalagem em formas vendáveis. Facilitação => Inclui o processamento de pagamentos e da papelada pertinente, necessário à transferência de propriedade, o aconselhamento aos clientes, a respeito de como utilizar e manter o item comprado, e o fornecimento de informações a respeito da transação às outras partes na seqüência da cadeia de valor. Instalação e assistência técnica => Inclui a assistência ao início de funcionamento, administração da garantia, reparos, treinamento, fornecimento de peças e ajustes no produto. Ao discutir o desenvolvimento e gerência de canais, Rocha e Christensen (1987) também enumeram as responsabilidades assumidas pelo canal de distribuição, tanto quando ele é liderado pelo fabricante como pelo varejista. Quando o canal é liderado pelo fabricante, estas funções seriam: ! Controlar o atendimento e o serviço fornecidos ao cliente pelo intermediário. 10 ! Controlar a área do varejista dedicada ao produto ou serviço do fabricante. ! Controlar as vendas e o estoque do varejista. ! Controlar o esforço promocional agregado. ! Controlar os preços pelos quais o produto é vendido. Quando a liderança encontra-se nas mãos do varejista, este assumiria as seguintes funções: ! Controlar a produção, os estoques e o prazo de entrega dos fabricantes. ! Controlar a qualidade e as especificações do produto. ! Controlar o esforço promocional do canal. ! Gerar e transmitir informações de mercado, em tempo real, diretamente para os fornecedores. Stern, El-Ansary e Coughlan (1996, p. 10) afirmam que os seguintes fluxos ocorrem nos canais: ! Físico ! Propriedade ! Promoção ! Negociação ! Financiamento ! Risco ! Pedido 11 ! Pagamento Segundo Porter (1989, p. 47), “os canais executam atividades como vendas, publicidade e exposição que podem substituir ou complementar as atividades da empresa”. Stern, El-Ansary e Coughlan (1996) afirmam que os canais existem para executar uma ou mais das seguintes tarefas: manutenção de estoque, estímulo de consumo e venda, distribuição física, serviços de pós-venda e fornecimento de crédito. Rosenbloom (1998) enumera como funções do canal a movimentação física dos produtos, as funções de negociação, a transferência de propriedade, a transmissão de informação e as atividades de promoção. Este autor faz a ressalva de que os membros do canal são somente aqueles envolvidos nas funções de negociação e de transferência de propriedade e reforça a sua afirmação ao utilizar o exemplo de uma firma de transporte que não faria parte do canal, caso estivesse envolvida apenas na movimentação física dos produtos. Neste caso, dificilmente haveria a necessidade da participação de algum gerente da área de marketing no seu gerenciamento. Stern, El-Ansary e Coughlan (1996) dizem que as funções ou atividades do canal de distribuição precisam ser executadas para que os produtos e serviços possam chegar até os consumidores. No entanto, os membros do canal podem ser eliminados ou substituídos sem que as atividades deixem de ser executadas. Neste caso, haverá integração para frente ou para trás de algum outro membro da cadeia. 12 Fabricante Agentes Atacadistas Alocação das Tarefas de Distribuição Varejistas Consumidores Figura 2.2.1 Alocação de Atividade de Distribuição Fonte: Kotler (2001) Porter (1986), aliás, considera a possibilidade de integração para frente ou para trás como um dos fatores que afetam o poder de negociação tanto de fornecedores quanto de compradores em uma indústria. Quanto maior for esta ameaça, menor seria a atratividade da indústria em questão, uma vez que poderia haver grandes possibilidades das empresas virem a sofrer a concorrência e até de serem substituídas por fornecedores e compradores na realização de várias atividades tendo, portanto, suas margens corroídas. Corey, Cespedes e Rangan (1989) dividem as tarefas dos canais em cinco categorias. As tarefas de vendas se dividem em geração de demanda (promoções e propaganda) e negociação de preços e condições. As de distribuição física envolvem tomada de pedidos, armazenagem e entrega. Tarefas de modificação e manutenção dos produtos incluem empacotamento, customização e serviços de pós-venda. As funções de transferência de risco são a manutenção de estoques, o fornecimento de crédito e a operação de ativos dedicados. As funções de suporte, tipicamente realizadas pelos 13 fabricantes ou representantes exclusivos, dizem respeito ao recrutamento, treinamento e controle dos intermediários. Os autores analisados assumem, assim, que determinadas funções podem ser executadas por mais de um membro do canal. Isto pode levar a um aumento do custo, mas pode ser necessário caso aumente o nível de serviço. Na maioria dos casos estas duplicidades são redundantes, em função da falta de atenção, já mencionada, ao que Porter (1989) chama de otimização e coordenação dos elos com os canais. A discussão anterior parece mostrar que a visão dos vários autores a respeito das atividades e funções desempenhadas pelos canais de distribuição é bastante convergente. As diferenças existentes resumem-se à forma pela qual estas atividades são agrupadas para fins didáticos. Da mesma forma, a maioria dos autores parece concordar que os canais podem ser configurados, de modo que estas atividades sejam realizadas tanto por intermediários independentes, quanto pelos próprios fabricantes e, até mesmo pelos consumidores. A discussão sobre o conceito de cadeia de valor de Porter (1989) pode, por este motivo, ser bastante útil para a compreensão do conceito e das funções dos canais de distribuição. 2.3. Cadeia de Valor A ferramenta de análise desenvolvida por Porter (1989) parte do pressuposto de que as vantagens competitivas de uma empresa derivam das diversas atividades por ela executadas. Estas atividades são separadas e evidenciadas através do seu modelo, de 14 modo a tornar possível a compreensão do comportamento dos custos e das fontes de diferenciação da empresa analisada. M ar ge m Tecnologia Compras Logística Interna Operações Logística Marketing Serviços e Externa Vendas M ar ge m Atividades Primárias Atividades Secundárias Infra-Estrutura Recursos Humanos Atividades primárias Figura 2.3.1 Cadeia Genérica de Valor Fonte: Porter (1989) Cada atividade é distinta em termos físicos e tecnológicos e através delas a empresa cria produtos que tem valor para os seus clientes. Estes produtos percorrem um caminho até chegar ao seu consumidor final, que também possui uma cadeia de valores que é afetada pelo impacto destes. Este percurso inclui a cadeia de valor dos canais de distribuição, cujas atividades também podem afetar o valor do produto para o consumidor. Porter (1989) divide a cadeia de valor em atividades de apoio e primárias. As primeiras são a infra-estrutura da empresa, a gerência de recursos humanos, o desenvolvimento de tecnologia e as atividades de aquisição. As segundas são logística interna, operações, logística externa, marketing e vendas e serviços. Estas últimas são 15 diretamente relacionadas com a criação de valor pela empresa. São as atividades-fim do negócio. Ele define a logística externa como “atividades associadas à coleta, armazenamento e distribuição física do produto para compradores, como armazenagem de produtos acabados, manuseio de materiais, operação de veículos de entrega, processamento de pedidos e programação” (Porter, 1989, p. 37). A sua definição de marketing e vendas é de “atividades associadas a oferecer um meio pelo qual compradores possam comprar o produto e a induzi-los a fazer isto, como propaganda, promoção, força de vendas, cotação, seleção de canal, relações com canais e fixação de preços” (Porter, 1989, p. 37). Por fim, ele define serviços como sendo “atividades associadas ao fornecimento de serviço para intensificar ou manter o valor do produto, como instalação, conserto, treinamento, fornecimento de peças e ajuste do produto” (Porter, 1989, p. 37). Quando comparamos estas definições com as que foram vistas anteriormente, sobre os canais de distribuição, vemos que as funções dos canais descritas podem ser encaixadas no modelo de cadeia de valor, cujo conceito, aliás, parece permear os estudos citados. Assim, o foco da gerência preocupada em conquistar vantagens competitivas sustentáveis é o de identificar quais são as atividades valorizadas pelos seus clientes que podem ser melhoradas e até reconfiguradas, de modo a reduzir custos ou aumentar a diferenciação. A utilização de definições arbitrárias e fronteiras rígidas para definir as responsabilidades e atribuições dos canais de distribuição e dos seus gerentes podem 16 levar as empresas a deixar de perceber oportunidades e ameaças existentes em seus negócios. Porter (1989) alerta que é justamente nos elos entre as atividades de valor das empresas que surgem boas oportunidades para a conquista de vantagens sustentáveis, sejam estas atividades referentes ou não àquelas usualmente classificadas como de canais de distribuição. 2.4. Estratégia de Canais A compreensão do modelo de cadeia de valor de Porter (1989) torna-se, então, um importante passo na elaboração da estratégia de distribuição das firmas. A identificação das atividades capazes de criar valor para os clientes permite a criação de uma estratégia capaz de gerar vantagens competitivas sustentáveis para a empresa. No entanto, Anderson, Day e Rangan (1997) argumentam que a maioria das decisões de canais é tomada dentro de uma perspectiva oportunística, reativa e de curto prazo e que estas decisões, no longo prazo, tornam-se engessadas pela dificuldade em promover mudanças em uma estrutura complexa, que envolve relacionamentos com os demais membros do canal. Estes autores defendem que a abordagem adotada na elaboração de estratégias de canais deve ser modificada em função de fatores como o maior grau de exigência dos consumidores, as mudanças na estrutura de poder nos canais e as mudanças nas prioridades estratégicas das próprias firmas, que buscam concentrar-se na execução de atividades que possam reforçar suas posições competitivas, através da obtenção de economias de escala e de escopo. 17 Corey, Cespedes e Rangan (1989) também questionam os atuais padrões de elaboração das estratégias de distribuição, criticando a postura reativa das firmas que se limitam a uma visão de curto prazo em relação aos seus canais, em resposta às solicitações do mercado. Cespedes (1988) reforça a necessidade de mudanças na forma pela qual as estratégias de canais são elaboradas, em função de fatores como o incremento dos custos da força de vendas próprias, o impacto da adoção de técnicas como o just-in-time sobre o papel dos intermediários, a concentração das estruturas dos canais de várias indústrias, o maior poder de barganha do varejo, o desenvolvimento de novas tecnologias e o surgimento de novas estruturas de canais. O autor critica a abordagem normalmente adotada pelas empresas, na qual a estrutura de distribuição é subordinada à estratégia de um produto ou de uma linha de produtos. Conforme esta visão, dever-se-ia montar estratégias de distribuição intensiva para produtos de compra freqüente, de distribuição seletiva para produtos em que há busca ativa dos compradores por determinadas marcas, ou de distribuição exclusiva para produtos de alto valor em termos de preço ou imagem, ou que exijam prestação de serviço mais intensiva. Outra variante desta abordagem baseia-se na utilização do conceito do ciclo de vida do produto para elaborar as estratégias de distribuição das firmas. Kotler (2001) propõe um esquema conceitual no qual a canais especializados devem ser utilizados no estágio de introdução do produto no mercado. No estágio de crescimento as empresas devem buscar canais de maior volume com serviços mais restritos. Ao atingir a 18 maturidade, o produto deve ser distribuído através de canais de custo mais reduzido, ou seja, comerciantes de massa. O advento do declínio do produto traria a necessidade de usar canais com custos ainda mais reduzidos, como as vendas por catálogos ou em lojas de descontos. Lele (1992) realizou estudos de casos sobre vendas de computadores pessoais e roupas de grife, onde acompanhou os canais de distribuição utilizados por estes produtos ao longo dos diferentes estágios do ciclo de vida. Quadro 2.4.1 – Uso de Canais ao Longo do Ciclo de Vida do Produto Valor Agregado pelo Canal Baixa Taxa de Crescimento do Mercado Alta Alto Baixo Introdução: PC´s: Lojas de Novidades Roupas de Grife: Butiques Crescimento PC´s: Varejistas Especializados Roupas de Grife: Lojas de Departamentos Declínio PC´s: Venda pelo Correio Roupas de Grife: Lojas de Desconto Maturidade PC´s: Comerciantes de Massa Roupas de Grife: Comerciantes de Massa Fonte: Kotler (2001) Segundo Cespedes (1988), embora esta abordagem não seja necessariamente errada, ela falha por não levar em consideração outros elementos além da linha de produtos ao elaborar a estratégia de canais. As empresas que adotam esta postura muitas vezes falham por não contar com responsabilidades claramente definidas sobre as decisões de canais, principalmente quando diferentes linhas de produto compartilham o mesmo canal. Rosenbloom (1998) define a estratégia de canais como sendo o princípio geral através do qual as firmas esperam atingir seus objetivos de distribuição no mercado ou mercados-alvo. Ele levanta algumas questões que devem ser levadas em consideração 19 pela empresa ao montar uma estratégia de canais que a auxilie a atingir seus objetivos de distribuição. Primeiramente, a empresa deve procurar entender o papel assumido pela distribuição para o cumprimento dos objetivos gerais da empresa e como a estratégia de canais se adequa aos demais componentes do seu composto de marketing. Assim, a empresa daria mais ênfase à estratégia de canais quando o mercadoalvo valorizasse a forma pela qual os produtos são disponibilizados para o consumo, quando houvesse dificuldade em estabelecer vantagens competitivas sustentáveis através dos demais elementos do composto de marketing, ou quando a estratégia de canais da concorrência fosse vulnerável. O próximo passo da montagem da estratégia é o desenho dos canais e a seleção de seus membros. Rosenbloom (1998) defende que o desenho do canal deve refletir a busca da empresa por um diferencial competitivo, estabelecendo arranjos que ofereçam um valor superior tanto para seus clientes quanto para os próprios membros do canal. Ainda segundo Rosenbloom (1998), as decisões sobre a forma pela qual os canais são gerenciados devem refletir a busca pelo envolvimento e a cooperação dos seus membros no cumprimento dos objetivos de distribuição. A última etapa deste processo, a avaliação do desempenho dos membros do canal, é fundamental para que a empresa possa detectar as falhas ocorridas na montagem e implantação da estratégia de canais da empresa. Quadro 2.4.2 20 Etapas da Formulação da Estratégia de Canais de Distribuição Definição do papel da distribuição nos objetivos e estratégias gerais da 1ª Etapa empresa 2ª Etapa Definição do papel da distribuição no composto de marketing da empresa 3ª Etapa Desenho do canal de distribuição 4ª Etapa Seleção dos membros do canal de distribuição 5ª Etapa Gerenciamento do canal de distribuição 6ª Etapa Avaliação do desempenho do canal de distribuição Fonte: Rosenbloom (1998) Stern, El-Ansary e Coughlan (1996) alertam para o fato de que o planejamento da estrutura do sistema de distribuição deve ter como objetivo tornar a empresa mais apta para atender às necessidades dos seus clientes. Para que isso ocorra, a empresa deve descobrir quais os serviços valorizados pelos seus clientes finais, quais atividades de marketing e de logística devem ser desempenhadas pelo canal de modo a satisfazêlos e quais as organizações em melhores condições para desempenhá-las. Segundo estes autores, a empresa deveria perseguir dois objetivos, de modo a oferecer valor superior para os seus clientes através da estratégia de canais: “intimidade” com seus consumidores e excelência operacional. Atingindo tais objetivos, a empresa conseguiria garantir a entrega de seus produtos e serviços de forma conveniente, segundo as reais necessidades de seus clientes. Segundo Novich (1990), um passo fundamental a ser considerado pela empresa na elaboração de sua estratégia é a definição do mercado a ser atendido pelo canal. O tamanho e a densidade deste mercado podem conferir à empresa vantagens de custos decorrentes de escala geográfica, tornando o atendimento aos clientes mais eficiente e sua estratégia mais rentável. 21 Esta definição do mercado, de acordo com Novich (1990), é afetada por questões como o valor relativo ao peso da carga, o prazo de validade dos produtos e o nível de serviço exigido pelos clientes. Ele sugere, então, a identificação das necessidades dos clientes, a sua segmentação em grupos homogêneos e a identificação dos condutores de custos associados ao atendimento dos mesmos como etapas necessárias para a identificação do mercado relevante. Corey, Cespedes e Rangan (1989) citam quatro fatores que influenciam a elaboração da estratégia de distribuição das firmas em geral, que são a natureza do produto, a segmentação do mercado, o comportamento do consumidor e os custos de distribuição. Além disso, haveria um quinto elemento que afetaria as decisões de firmas do ponto de vista individual, que seria o ambiente de negócio da mesma. Segundo os autores, quando a firma desenvolve a sua estratégia de distribuição, ela se depara com cinco decisões que dizem respeito ao equilíbrio entre as vendas diretas e indiretas, aos tipos de intermediários a serem utilizados, à intensidade de distribuição desejada, à alocação de tarefas entre os membros do canal e aos termos que regem a relação com o canal. Assim, as duas primeiras decisões seriam influenciadas pelo grau de concentração e pelo valor agregado das compras e pelas necessidades do mercado em termos de assistência técnica, customização dos produtos, sortimento e disponibilidade. A intensidade da distribuição dependeria do nível de investimentos exigidos pelo negócio, dos padrões de compra (conveniência e disponibilidade x atendimento customizado) e do potencial de vendas existente no mercado. 22 A alocação das tarefas entre os membros do canal se daria em função dos custos associados a cada tarefa, das oportunidades de incremento de vendas, das possibilidades de otimizar o uso de ativos especializados e minimizar riscos, dos padrões de compra dos consumidores e da necessidade de conseguir melhor acesso a informações relevantes de mercado. A negociação dos termos da relação teria como objetivos garantir a presença da linha de produtos do fabricante no canal, garantir a satisfação dos consumidores em termos da oferta de produtos e dos serviços prestados, evitar conflitos entre os canais, estabelecer barreiras à entrada de competidores no canal e garantir a realização das receitas e margens desejadas pelo fabricante. Day (1990) divide o desenvolvimento da estratégia de canais em cindo etapas. Na primeira, se deve analisar a situação atual dos canais. Em seguida, a empresa deve pesquisar canais alternativos capazes de atender às necessidades dos consumidores. O terceiro passo reside na comparação entre os resultados esperados para cada alternativa. A firma deve, então, testar a viabilidade destas alternativas e, por fim, implementar o programa estratégico. No segundo passo desta metodologia, é importante que se tenha uma visão que parta das expectativas e necessidades dos clientes em termos dos serviços oferecidos pelos canais (tamanho de lote, acessibilidade, velocidade de resposta, variedade de produtos, qualidade e apoio de serviços etc.). Na realidade, a definição da estratégia de distribuição das empresas parece ser uma questão a respeito da qual ainda existem poucas conclusões significativas que possam ser aproveitadas pela indústria em geral. Os autores indicam as etapas que 23 deveriam ser seguidas pelas empresas na montagem de uma estratégia de distribuição como se as mesmas estivessem “partindo do zero” em suas atividades. Pouco se fala sobre como devem se comportar as empresas que sentem a necessidade de reconfigurar suas atuais estruturas e sobre a falta de alternativas estratégicas para acessar o mercado com que as firmas em início de atividade se deparam. 2.5. Desenho de canais A forma pela qual os canais de distribuição da empresa são desenhados tem profundo impacto sobre a maneira pela qual o mercado será atendido. Uma estrutura inadequada pode resultar em atividades redundantes e, conseqüentemente, custos excessivos, em atendimento inadequado aos clientes e em conflitos entre os membros do canal. No entanto, o que se verifica é que raros são os casos de estruturas de canais desenhadas, desde o início, através de planejamento consciente por parte da empresa. O que, em geral, se verifica é uma montagem que não é suportada por nenhuma estratégia explícita, ocorrendo através de acréscimos à estrutura existente, em reação às necessidades ou oportunidades surgidas. McVey (1960) argumenta que muitas estruturas de canais surgem de forma espontânea, sem a intenção ou o controle por parte de seus membros. Rosenbloom (1998), por sinal, enfatiza que o desenho de canais se dá quando a empresa assume uma atitude pró-ativa na tarefa de desenvolvimento de novos arranjos de canais ou na reconfiguração dos arranjos já existentes, alocando as tarefas de distribuição em busca de uma estrutura mais eficiente de distribuição. Ele afirma que, 24 na prática, as decisões de reconfiguração de canais tendem a ocorrer com maior freqüência que as decisões de desenvolvimento de novos canais. O grande problema enfrentado pela empresa é o de que as estruturas de canais não são facilmente reconfiguráveis, por envolverem redes de relacionamentos construídos, muitas vezes, ao longo de vários anos e difíceis de serem rompidos. Este componente relacional existente nos canais de distribuição pode tanto se constituir em enorme fonte de vantagens competitivas quanto em poderoso entrave para mudanças necessárias. E é justamente por este motivo que é importante uma grande atenção da empresa ao processo de desenho dos seus canais. Segundo Stern, El-Ansary e Coughlan (1996), a década de 90 foi marcada pela busca de melhorias no serviço aos clientes através de programas como ECR, Quick Response e Just-In-Time. Estes autores dizem que tal busca foi impulsionada, ainda, por fatores como o crescimento do poder dos intermediários, as mudanças na tecnologia de informação, a necessidade de tornar as atividades de distribuição mais eficientes e eficazes e a ênfase, cada vez maior, na busca de criação de valor para os consumidores. Assim, as empresas têm procurado redirecionar suas estratégias de distribuição, visando torná-las mais sensíveis às necessidades de seus clientes. Stern, El-Ansary e Coughlan (1996) sugerem que tal processo deve se iniciar pela avaliação da estrutura de distribuição existente, decompondo-a em função das atividades desempenhadas ao longo dos fluxos existentes rumo ao consumidor final. Tal tarefa permite a identificação de custos e margens associadas ao processo e deve ser acompanhada da análise das estruturas dos competidores. O processo de comparação 25 pode trazer luz para a empresa sobre suas próprias vulnerabilidades e sobre oportunidades existentes. O momento seguinte deste processo envolve a identificação das necessidades dos consumidores finais do produto comercializado. Segundo os autores, existem quatro critérios básicos através dos quais o serviço prestado seria analisado pelos clientes: tamanho do lote, concentração geográfica da oferta, disponibilidade e confiabilidade da entrega e variedade e sortimentos. Day (1990) identifica cinco decisões que devem ser tomadas pela firma na montagem do seu canal de distribuição. A primeira se constitui na definição das atividades e serviços que serão desempenhados pela estrutura do canal. Em seguida vem a escolha do grau de integração vertical desejada pela empresa. Segundo o autor, o uso de intermediários independentes se torna atraente quando a compra é freqüente, o mercado é amplo e disperso, as margens são pequenas e o produto é padronizado. O relaxamento destas condições tornaria a venda direta mais interessante para a empresa. Ainda segundo Day (1990), a firma deve decidir sobre a variedade de canais a serem utilizados. A próxima decisão a ser tomada diz respeito à intensidade de cobertura oferecida em cada nível do canal. Segundo o autor, a firma pode optar por uma distribuição exclusiva, quando estiver comercializando produtos nos estágios iniciais do ciclo de vida, ou por uma distribuição extensiva, para produtos mais maduros. Por fim, a empresa deve decidir sobre os mecanismos de controle a serem utilizados. Este controle pode ser frouxo, com a empresa regulando suas relações com os intermediários através de sua política de preços, ou rígido, quando as relações são 26 regidas por cláusulas contratuais. Entre estes dois pólos pode haver uma relação baseada na liderança exercida pelo fabricante ou pelos intermediários. Meinberg (s/d) propõe um modelo para a tomada de decisão sobre o comprimento dos canais de distribuição utilizados pela empresa baseado nas características do mercado, do produto, da empresa e dos intermediários: Quadro 2.5.1 – Critérios Utilizados para o Desenho de Canais de Distribuição Critérios de Avaliação Canal Curto Canal Longo Clientes Potenciais Poucos Muitos Características do Mercado Concentração Geográfica Alta Baixa Complexidade Alta Baixa Características Padronização Baixa Alta do Produto Tamanho do Lote Grande Pequeno Recursos Financeiros Altos Baixos Características Força de Vendas Forte Fraca da Empresa Desejo de Controle Alto Baixo Qualidade Baixa Alta Características dos Disponibilidade Restrita Ampla Intermediários Funções Executadas Poucas Muitas Fonte: Meinberg (s/d) Cobra (1994) propõe uma escala para a avaliação do tipo/comprimento do canal a ser utilizado baseada em critérios semelhantes: Quadro 2.5.2 – Critérios Utilizados para o Desenho de Canais de Distribuição Critérios de Decisão Canal Curto / Venda Direta Canal Longo / Venda Indireta Preço Unitário Alto Baixo Freqüência de Compra Baixa Alta Significado da Compra Alto Baixo Tamanho do Pedido Grande Pequeno Concentração do Mercado Alta Baixa Distância em Relação ao Pequena Grande Mercado Principal Quantidade de Clientes Pequena Grande Quantidade de Concorrentes Pequena Grande Negociação Necessária Desnecessária Produto Fabricação por Pedido Estocado Padronização Não Sim Tecnologia do Produto Alta Baixa 27 Tecnologia e Especialização da Força de Vendas Expedição Recursos Financeiros Instalações Serviços de Vendas Requeridos Preferência de Compra do Cliente Focos do Esforço de Marketing Fonte: Cobra (1994) Alta Baixa Retardada Altos Especiais Imediata Baixos Rotineiras Muitos Poucos Direta Revendedor Local Usuário Revendedor Rangan (1994) defende a necessidade de uma equipe multifuncional para a tarefa de desenho dos canais de distribuição. Segundo este autor, o ponto de partida do desenho da estrutura de distribuição da firma deve ser a identificação das necessidades do cliente, mapeando os diferentes segmentos existentes. Ele adverte, no entanto, que a empresa não deve confundir os clientes com os intermediários. O foco desta análise deve estar no usuário final do produto. Uma vez que os clientes tenham sido identificados a empresa deve identificar e classificar suas necessidades em termos dos serviços oferecidos pelos canais. Rangan (1994) ressalta que estes serviços devem ser imaginados pela empresa como blocos de construção, atividades que podem ser arrumadas de modo a garantir um maior nível de satisfação aos clientes. Rangan (1994) apresenta uma série de atividades que os canais podem desempenhar para atender às necessidades dos clientes: ! Informações sobre produtos; 28 ! Customização dos produtos; ! Garantia de qualidade; ! Tamanho do lote; ! Sortimento; ! Disponibilidade; ! Serviços de pós-venda; ! Atividades logísticas. O próximo passo para o desenho do canal seria a auditoria dos canais atualmente utilizados pela empresa e pelos concorrentes visando uma análise dos pontos fortes e fracos da empresa no que diz respeito à sua estrutura de distribuição. A partir dessa análise a empresa passaria a avaliar alternativas para o atendimento dos diferentes segmentos existentes no mercado. Nesta etapa, segundo Rangan (1994), a empresa poderia identificar a possibilidade de um arranjo no qual cada canal desempenhasse tarefas distintas no atendimento a um mesmo segmento de clientes ou de outro onde cada canal se especializasse no atendimento a um segmento de clientes. Por fim, Rangan (1994) preconiza a necessidade de avaliações sistemáticas dos benefícios e custos associados a cada alternativa de arranjo. Deveriam ser avaliadas as receitas, custos, cobertura de mercado, conflitos, entre outros para identificar sinergias e sobreposições existentes para, então, avaliar a necessidade de redesenho dos canais. É interessante notar, que o autor não menciona a necessidade de avaliação da satisfação dos clientes da empresa com o atendimento do canal, que é o ponto de partida de todo o processo. 29 Rosenbloom (1998) apresenta um modelo para o processo de desenho de canais composto por sete etapas: o reconhecimento da necessidade de desenho de canais, o estabelecimento e a coordenação de metas de distribuição, a especificação de tarefas de distribuição, o desenvolvimento de estruturas alternativas de distribuição, a avaliação das variáveis que afetam as estruturas, a seleção da estrutura mais adequada e a seleção dos componentes do canal. Na quarta etapa do processo proposto por Rosenbloom (1998), as empresas devem decidir como alocar as tarefas de distribuição ao longo do canal. Segundo o autor, esta etapa envolve decisões sobre o comprimento (ou o número de níveis) do canal, a intensidade de distribuição em cada nível e os tipos de intermediários utilizados em cada nível. Rosenbloom (1998) afirma que tais decisões são influenciadas por fatores como práticas da indústria, natureza e tamanho do mercado e disponibilidade de intermediários, no caso do comprimento do canal, a natureza do produto, no caso da intensidade de distribuição, e a capacidade de diferentes empresas para realizar tarefas de distribuição durante a seleção dos intermediários. Ao avaliar as variáveis que afetam a estrutura dos canais, Rosenbloom (1998) destaca a necessidade de prevenção contra critérios simplistas de tomada de decisão. Ele lembra que vários fatores atuam de forma conjunta para influenciar a decisão de qual estrutura de distribuição utilizar em determinado mercado e que, portanto, nenhuma variável pode, individualmente, estar associada a uma prescrição única de desenho de canal. O autor cita como exemplo o grau de complexidade técnica do produto, que está geralmente associado à decisão de utilizar canais de distribuição diretos. Rosenbloom 30 (1998) acredita que tal prescrição deve ser observada com cautela em função de outras variáveis que podem afetar a decisão de canal. Rosenbloom (1998) cita seis variáveis que podem afetar a estrutura de distribuição das empresas, que são as características do mercado, do produto, da empresa, dos intermediários, do ambiente e as comportamentais. Estas características Intermediários Empresa Produto Mercado são apresentadas no quadro 2.5.3. Quadro 2.5.3 – Critérios Utilizados para o Desenho de Canais de Distribuição Critérios de Avaliação Impacto sobre Estrutura Distâncias longas entre fabricantes e mercados estimulam uso de Geografia intermediários Tamanho Grande quantidade de clientes estimula uso de intermediários Densidade Mercados com baixa densidade estimulam uso de intermediários Volume Pequeno volume de compras estimula uso de intermediários Freqüência Alta freqüência de compras estimula uso de intermediários Comportamento Local Busca por conveniência de compras estimula maior intensidade do Consumidor Mercados de bens de consumo associados ao uso de Comprador intermediários; mercados industriais à venda direta Tamanho e Peso do Lote Lotes maiores estimulam uso de canais diretos Perecibilidade/Obsolescência Necessidade de fluxos rápidos ao longo do canal Valor do Lote Baixos valores unitários estimulam uso de intermediários Flexibilidade na Produção Baixa flexibilidade estimula uso de intermediários Produtos com baixa complexidade estimulam uso de Complexidade Técnica intermediários Produtos inovadores estimulam uso de canais diretos e com Inovação baixa intensidade Tamanho Grandes empresas podem exercer mais poder sobre o canal Empresas com capacidade financeira podem estar mais aptas a Capacidade Financeira executar distribuição direta Empresas com capacidade gerencial podem estar mais aptas a Capacidade Gerencial executar distribuição direta Necessidade de maior controle sobre execução das atividades Objetivos e Estratégias pode estimular uso de canais diretos Disponibilidade de intermediários limita capacidade das Disponibilidade empresas em desenvolver estruturas desejadas Custos de distribuição podem influenciar seleção de Custos intermediários Serviços Serviços oferecidos podem influenciar seleção de intermediários 31 Ambiente Comportamentais Necessidade de observação das variáveis ambientais Necessidade de observação do comportamento dos membros do canal Fonte: Rosenbloom (1998) 2.6. Gerenciamento de canais Rosenbloom (1998) define o gerenciamento dos canais de distribuição como uma atividade que visa garantir a cooperação dos seus membros para atingir os objetivos de distribuição. A dificuldade em garantir tal cooperação reside no fato de que o canal é formado, na maior parte das vezes, por empresas independentes com seus próprios objetivos. Kotler (2001) lista como atividades de gerenciamento do canal a seleção, o treinamento, a motivação e a avaliação dos canais. Segundo o autor, é necessário que as empresas estabeleçam critérios para escolher os intermediários com quem pretende trabalhar. Estes critérios podem ser baseados na experiência e na capacidade financeira do intermediário, nas outras linhas de produtos por ele comercializadas, na sua capacidade de cooperação e na sua reputação.Eles também precisam ser treinados para garantir que seu posicionamento perante os consumidores seja coerente com o desejado pela empresa. Além disso, a empresa precisa identificar as necessidades de seus intermediários de modo a garantir o máximo de cooperação destes. Finalmente, as empresas devem avaliar periodicamente o desempenho destes intermediários em relação aos padrões estabelecidos de modo a identificar eventuais necessidades de modificações no arranjo de seus canais. 32 Cespedes (1989) lembra que o motivo primordial que leva indústrias e intermediário a estabelecerem algum tipo de relacionamento é a expectativa de que um possa oferecer algo de valioso para o outro e vice-versa. No entanto, mesmo em uma relação contratualmente estabelecida, é muito difícil antever todas as circunstâncias que podem afetar os objetivos particulares e, conseqüentemente, o relacionamento de ambos. Deste modo, a relação entre a indústria e seus intermediários tende a ser caracterizada por uma autêntica “queda-de-braço”, com ambas as partes disputando as maiores parcelas das margens sobre as vendas bem como o controle sobre as decisões estratégicas. Esta é uma visão bastante coerente com o conceito de concorrência ampliada desenvolvido por Porter (1986), no qual as empresas concorrem não apenas com seus concorrentes diretos na indústria, mas também com seus fornecedores, com novos entrantes, com produtos substitutos e com seus clientes. Cespedes (1989) ainda lembra que o duplo papel de representantes dos seus fornecedores perante os consumidores e vice-versa desempenhado pelos intermediários pode acabar por estimular ainda mais o potencial de conflito com seus fornecedores. Na maioria das vezes o intermediário terá um empenho maior em atender às necessidades de seus clientes em detrimento das de seus fornecedores. McVey (1960) já enfatizava a dificuldade em se alcançar um gerenciamento integrado das ações ao longo do canal, argumentando que os intermediários constituem muito mais um mercado independente do que um elo de ligação de uma cadeia de distribuição. Este autor argumentou que os intermediários possuem seus próprios 33 objetivos e procuram atuar mais como agentes de seus clientes do que de seus fornecedores, tornando difícil a cooperação. Rosenbloom (1998) afirma que para que a empresa consiga motivar o canal para o cumprimento dos seus objetivos ela deve compreender as necessidades e problemas dos seus componentes, fornecer-lhes o suporte necessário para o desempenho adequado de suas atividades e praticar uma liderança com o uso efetivo de seu poder. Ele lembra, no entanto, que a maioria das empresas não possui vias formais de comunicação que possibilitem a identificação das necessidades dos intermediários. Além disso, o suporte oferecido aos intermediários é, na maioria das vezes, reativo, ou seja, realizado sem planejamento prévio, ocorrendo à medida que problemas surjam no canal. Quando as atividades de suporte são efetivamente planejadas, elas o são sem a participação dos intermediários, o que as torna menos eficazes. Por fim, poucas empresas exercem liderança efetiva sobre o canal, ditando rumos e ações estratégicas, até pela falta de atenção que a estratégia de distribuição normalmente recebe delas. Segundo Rocha e Christensen (1987), o gerenciamento dos canais pode ser entendido como a administração da cooperação e do conflito entre seus membros. Estes autores lembram que a gerência do canal pode ser exercida tanto pelos fabricantes quanto pelos intermediários, dependendo do poder de barganha de cada um. Rocha e Christensen (1987) afirmam que a busca pela cooperação surge da percepção da existência de objetivos comuns aos seus componentes e possibilita redução de custos, maior eficiência das ações de marketing e logística e maior rapidez de resposta a mudanças no ambiente. 34 Stern, El-Ansary e Coughlan (1996) também identificam a complexidade do gerenciamento dos canais resultante do seu caráter tipicamente interorganizacional, em que cada membro pode possuir objetivos próprios, divergentes dos demais. No entanto, eles alertam para a necessidade da percepção por parte dos componentes do canal de um objetivo comum de oferecer a máxima satisfação para os consumidores finais. O gerenciamento do canal busca, então, segundo estes autores, alcançar a convergência entre os objetivos dos seus diferentes membros. Para tal, é necessário para a coordenação e o controle das atividades desempenhadas, conseguidas através de comunicação clara, de efetiva liderança e da motivação dos membros para que eles adotem uma postura cooperativa. Stern, El-Ansary e Coughlan (1996) dividem o gerenciamento dos canais em três estágios: reunir os recursos necessários, identificar potenciais e atuais conflitos e resolver e gerenciar os conflitos. A primeira engloba a seleção dos membros do canal e a montagem de programas de treinamento, de sistemas de informação, de sistemas de recompensa e de programas de vendas. A segunda etapa envolve a identificação de situações onde um membro do canal esteja impedindo outro de atingir seus objetivos e a medição da intensidade, da freqüência e da importância destes conflitos. A terceira etapa envolve a elaboração antecipada de linhas de ação a serem adotadas diante do surgimento de conflitos. Na maioria das vezes, as empresas resolvem os conflitos de forma reativa e insatisfatória por não possuírem tais linhas já desenvolvidas. Rosenbloom (1998) enfatiza que os conflitos surgem quando algum membro do canal percebe que as ações de outro o impedem de atingir seus próprios objetivos. Ele faz uma distinção entre competição e conflito. Embora em ambos os casos os 35 componentes do canal possuam objetivos incompatíveis, no conflito as partes envolvidas procuram interferir de forma direta, bloqueando as ações de seus adversários. O autor cita o caso de lançamento de produtos com marcas próprias pelos varejistas americanos como um exemplo de competição entre varejistas e fabricantes de bens de consumo. Como exemplo de conflito, Rosenbloom (1998) menciona a “guerra dos cupons”, quando os varejistas americanos passaram a aceitar de forma indiscriminada os cupons de desconto apresentados pelos consumidores, contrariando orientação da indústria. Kotler (2000) estabelece uma distinção entre conflitos verticais e horizontais. Os conflitos verticais seriam aqueles que ocorrem entre membros de diferentes níveis do canal, como por exemplo, entre fabricantes e varejistas. Os conflitos horizontais seriam aqueles que ocorrem entre membro do mesmo nível de canal, como por exemplo, uma disputa entre varejistas de uma mesma marca de produtos pelos mesmos clientes. Entre as causas para o surgimento de conflitos entre canais, citadas por Rosenbloom (1998), podemos destacar a escassez de recursos (inclusive de clientes) e a falta de concordância sobre os papéis e objetivos dos canais. Ele lembra, no entanto, que nem sempre a existência de conflitos é prejudicial para a eficiência do canal. Uma certa intensidade de conflitos pode funcionar como estímulo para que os membros do canal não se tornem acomodados (fig 2.6.2). Na medida em que a intensidade dos conflitos cresce, os esforços de distribuição podem ser desperdiçados, principalmente quando diferentes componentes do canal disputam os mesmos clientes. 36 Eficiência do Canal Conflito x Eficiência nos Canais C1 C2 Intensidade de Conflito Figura 2.6.2 – Eficiência x Conflitos nos Canais de Distribuição Fonte: Rosenbloom (1998) Rosembloom (1998) apresenta algumas sugestões para a resolução de conflitos entre os membros dos canais. Entre elas podemos citar a criação de comitês com a participação de todos os membros para avaliações periódicas de conflitos e arbitragem, o estabelecimento conjunto de metas e a disseminação de informações de forma mais intensa entre os membros do canal. Day (1990) identifica quatro mecanismos para a resolução de conflitos surgidos nos canais. O primeiro é o estabelecimento de um canal de comunicação mais aberto entre fabricante e intermediários em substituição aos padrões vigentes de negociação. O segundo é a participação dos intermediários nos processos de desenvolvimento de produtos e serviços. Em seguida, ele sugere o estabelecimento de padrões de desempenho para intermediários e fabricantes. Por fim, todos os membros do canal deveriam estar envolvidos no processo de planejamento de longo prazo. 37 Cespedes (1989) estabelece uma relação entre o número de intermediários utilizados pela firma, o controle que ela deseja exercer sobre as atividades do canal e a sua disponibilidade de recursos financeiros e gerenciais. Quando a empresa trabalha com um número limitado de intermediários, ela pode exercer maior controle sobre as atividades dos mesmos. No entanto, torna-se necessário que ela disponha de maior quantidade de recursos gerenciais e financeiros uma vez que ela terá que oferecer maior assistência e suporte aos intermediários com os quais irá trabalhar e, até mesmo, que desempenhar algumas tarefas de distribuição. Caso a firma opte por trabalhar com mais intermediários, ela poderá incrementar a cobertura e o nível de serviço oferecido ao mercado, além de comprometer uma quantidade menor de recursos. No entanto, ela acabará por ver reduzida a sua capacidade de ditar políticas de distribuição e, principalmente, os preços praticados para os consumidores finais. Segundo este autor, a necessidade de controle sobre os canais pela firma é dada por fatores como a natureza do produto (produtos tecnicamente mais sofisticados podem exigir maior assistência por parte do fabricante), a necessidade de garantia de um fluxo adequado de informações ao longo da cadeia de suprimentos e a importância do produto dentro do processo produtivo do cliente. 38 Quadro 2.6.1 – Influência da Necessidade de Controle e da Disponibilidade de Recursos sobre o Desenho de Canais de Distribuição Disponibilidade de Recursos Baixa Alta Controle como fator determinante no desenho do Necessidade de canal => Distribuição Direta Controle sobre Controle como fator Eficiência financeira como fator Atividades Baixa subordinado no desenho do determinante no desenho do canal => Distribuição Múltipla canal Alta Recursos como fator limitante no desenho do canal Fonte: Cespedes (1989) 2.7. Intermediários Rosenbloom (1998) divide o canal de distribuição em três categorias básicas que são: produtores, intermediários e consumidores finais. Esta divisão leva em consideração a sua definição, que considera como membros ou participantes do canal apenas as entidades envolvidas nas funções de negociação. Segundo ele, os intermediários entram em ação na economia porque os produtores carecem da qualificação e da economia de escala necessárias à realização das atividades de distribuição. Segundo Rocha e Christensen (1987), o intermediário surge como facilitador na relação entre fornecedores e clientes, reduzindo a quantidade de transações necessárias para que o produto chegue até o mercado. 39 F á b ric a C lie n te F á b ric a C lie n te F á b ric a C lie n te F á b ric a C lie n te F á b ric a C lie n te F á b ric a C lie n te F á b ric a C lie n te F á b ric a C lie n te In te rm e d iá r io 1 6 T ra n s a ç õ e s 8 T ra n s a ç õ e s Figura 2.7.1 Como o intermediário reduz esforço de distribuição Fonte: Kotler (2001) Kotler (1993) ainda acrescenta que os intermediários possuem contatos e experiência, conseguindo maior disponibilidade e acesso aos mercados-alvo para os bens do produtor do que este poderia conseguir por conta própria. Stern, El-Ansary e Coughlan (1996) listam quatro razões de ordem econômica que explicam a relevância dos intermediários. A primeira é a possibilidade de tornar o processo de troca de bens mais eficiente. A segunda é a de realizar o processo de ajuste dos sortimentos de produtos oferecidos pelos produtores com os desejados pelos consumidores. Em seguida há a necessidade de padronizar e rotinizar as transações. Por fim, os intermediários facilitam o processo de procura pelos consumidores. Alderson (apud Kotler, 1993, p. 593) resume estes argumentos ao afirmar que: “O objetivo de marketing é a combinação da oferta e da demanda.” A introdução de intermediários pode reduzir os custos de transação, uma vez que possibilita a redução no número de contatos no processo de negociação. 40 2.7.1. Atacado Os atacadistas são definidos por Rosenbloom (1998) como empresas que realizam a venda de bens para a revenda ou para consumidores institucionais. Eles realizam compras de grandes volumes de produção junto aos produtores e os revendem em lotes menores para os seus clientes. Para isso, podem contar com uma estrutura especializada que inclui força de vendas e depósitos para o atendimento do mercado. A manutenção de tal estrutura é, geralmente, antieconômica para os fabricantes. O autor divide as atividades desenvolvidas pelo atacado em duas categorias: as realizadas para os fabricantes e as realizadas para os seus clientes. Na primeira categoria, as funções desempenhadas seriam a cobertura de mercado, os contatos de vendas, a estocagem dos produtos, a tomada de pedidos, a coleta de informações de mercado e assistência aos clientes. Na segunda, estariam a disponibilização de produtos, a assistência, o fornecimento de crédito e auxílio financeiro, a oferta de sortimentos adequados, a adequação do tamanho dos lotes e o suporte e aconselhamento técnico. Rocha e Christensen (1987) compartilham desta percepção sobre o duplo papel desempenhado pelo atacadista e enumeram como sendo suas funções básicas a formação de estoques e sortimento, o financiamento, a venda, o transporte e o armazenamento. Kotler (1993) lista como funções desempenhadas pelos atacadistas as atividades de vendas e promoção, compra e formação de sortimentos, quebra de lote, 41 armazenamento, transporte, financiamento, absorção de riscos, coleta de informações de mercado e serviços de administração e consultoria para o varejo. Entre os motivos por ele citados para explicar o crescimento na importância dos atacadistas na economia temos a concentração da produção em grandes fábricas geograficamente distantes dos usuários e a proliferação de fabricantes e varejistas, que torna mais difícil e importante a tarefa de adequação dos produtos às necessidades dos clientes em termos de quantidade, embalagem e forma. Stern, El-Ansary e Coughlan (1996), no entanto, levantam a questão da perda de competitividade do mercado atacadista que vem ocorrendo em função do surgimento de canais alternativos no cenário competitivo. Estas alternativas são representadas principalmente por negociações diretas entre a indústria e as novas categorias de varejo como as lojas de desconto, os clubes de compras, as grandes cadeias de varejo etc. 2.7.2. Varejo A definição dada por Rosenbloom (1998) sobre os varejistas é a de empresas que realizam a venda de bens para o consumo final pessoal ou domiciliar. Kotler (1993) usa a mesma definição sobre varejo usada por Stern, El-Ansary e Coughlan (1996) que definem como varejo todas as atividades envolvidas na venda de bens ou serviços diretamente aos consumidores finais para uso pessoal. Stern, El-Ansary e Coughlan (1996) lembram que muitas organizações podem estar simultaneamente envolvidas em atividades de varejo e de atacado, dependendo do tipo de cliente atendido. Os autores utilizam o exemplo da empresa CompUSA, que realiza a venda de computadores pessoais tanto para uso doméstico quanto para o uso de 42 empresas. Tais companhias devem, segundo eles, ter enorme cuidado em garantir que as necessidades de cada tipo de cliente estejam sendo efetivamente atendidas. Segundo eles, uma estratégia de varejo inclui um conjunto de decisões de âmbito externo, que visa atender as expectativas dos consumidores relacionadas com questões de conveniência de tempo e espaço, atmosfera e ambiente da loja, sortimento, preço, informação e interação dos funcionários e serviço. Rocha e Christensen (1987) apresentam vários formatos de varejo existentes no mercado, dividindo-os em quatro categorias básicas: varejistas de mercadorias em geral, varejistas de linha limitada, varejistas alimentares e outros formatos. Esta diversidade parece ser o resultado da segmentação cada vez mais nítida dos consumidores em função dos seus hábitos de compra e reforça a necessidade de atenção maior pelas empresas às suas estratégias de distribuição. Segundo Kotler (1993) as atividades de varejo podem ser desenvolvidas por todo o tipo de organização: fabricantes, atacadistas ou varejistas. Tal percepção é compatível com a conclusão de Stern, El-Ansary e Coughlan (1996) anteriormente citada. Kotler (1993) divide o comércio varejista em três categorias: lojas de varejo, varejo sem loja e organizações de varejo. As lojas de varejo incluem supermercados, lanchonetes, drogarias, lojas de conveniência, postos de gasolina e butiques de roupas entre muitas outras. Segundo Kotler (1993), elas podem adotar quatro tipos de estratégias no que diz respeito ao nível de serviço e, conseqüentemente, dos seus custos operacionais. A primeira seria a das lojas de auto-serviço, onde o próprio cliente realiza o processo de 43 localização, comparação e seleção dos bens. A segunda seria a das lojas com autoseleção, onde há funcionários da loja para auxiliar os clientes na execução de tais tarefas. A terceira envolveria as lojas com serviço limitado, nas quais haveria maior assistência ao cliente, inclusive com fornecimento de crédito e possibilidade de devolução das mercadorias. Por fim viriam as lojas de serviço pleno, onde os funcionários estariam aptos a orientar os clientes em cada etapa do processo de compra. Ele argumenta que estes diferentes níveis de serviço podem ser combinados com diferentes níveis de sortimento para formar o posicionamento estratégico da loja de varejo. Ele identifica quatro posicionamentos possíveis para uma loja de varejo, citando a Bloomingdale’s como uma loja com sortimento e serviços amplos. A K-Mart seria um exemplo de loja com sortimento amplo, mas serviços restritos. A loja Tiffany teria um sortimento restrito com alto nível de serviços. Finalmente, a Kinney Shoe seria um exemplo de loja com sortimento e serviços restritos. Cada escolha de posicionamento terá um impacto sobre o volume de vendas, sobre o custo e sobre as margens com as quais a loja irá operar. Quadro 2.7.2 – Posicionamento Estratégico no Varejo Sortimento Serviço Amplo Restrito Amplo Bloomingdale’s Tiffany Restrito K-Mart Kinney Shoe Fonte: Kotler (1993) As vendas através do varejo sem loja são divididas por ele nas categorias de vendas diretas, vendas por máquinas e serviços de compras. 44 A primeira incluiria as vendas de porta em porta e as reuniões domésticas, e se apoiaria fortemente no uso intensivo de mão de obra abundante. Kotler (1993) cita o exemplo da Avon, que chegou a dispor de cerca de um milhão de vendedoras em todo o mundo. Este método teria no custo uma desvantagem em função de comissões altas, custos de treinamento, contratação, administração e motivação. A vendas por máquinas teriam como vantagem, que justificaria os seus custos mais elevados, a conveniência de compra. Disponíveis 24 horas por dia e, geralmente, carregando produtos de compra por impulso com alto valor de conveniência (cigarros, lanches, doces e jornais), elas ainda oferecem a vantagem de operar em sistema de autoserviço, dispensando equipes de atendimento aos consumidores. Por outro lado, elas exigem uma operação mais cuidadosa de manutenção e reparos e de reposição de estoques. Uma modalidade de vendas por máquinas que tem conquistado grande importância é a dos caixas-eletrônicos que permitem a realização de uma série de operações financeiras fora das agências bancárias. Os serviços de compras seriam organizações através das quais os seus filiados poderiam obter condições vantajosas para as compras realizadas em redes conveniadas em troca de uma taxa de adesão. Por fim, Kotler (1993) define as organizações de varejo como sendo uma categoria distinta das lojas de varejo. Estas se caracterizariam por pertencer a redes com vários estabelecimentos funcionando de forma integrada. Elas não teriam, portanto, a autonomia gerencial das lojas de varejo. Ele as divide em cinco categorias: redes corporativas, cooperativas de varejo, cooperativas de consumidores, organizações de franchising e conglomerados de comercialização. 45 As redes corporativas seriam teriam dois ou mais estabelecimentos de propriedade e controle comuns, que vendem linhas similares de produtos, com compras e promoções de ponto de venda centralizadas e que usam padrões de comunicação visual semelhantes (Gist apud Kotler, 1993, p.624). Estariam incluídas nesta categoria as redes de lojas de departamentos, de variedades, drogarias etc. As cooperativas de varejo seriam redes voluntárias compostas por varejistas independentes e, muitas vezes, patrocinadas por atacadistas para fazer frente às redes corporativas. Elas também podem se reunir para estabelecer uma organização central própria para realizar as compras e as estratégias promocionais. As cooperativas de consumidores representam empresas montadas pelos próprios consumidores para atender necessidades não satisfeitas pelo varejo local. As organizações de franchising constituem uma organização contratual entre um fabricante, atacadista ou empresa de prestação de serviços e pessoas independentes que adquirem o direito de posse e operação de uma ou mais unidades do sistema. Por fim, os conglomerados de comercialização ocorrem quando várias modalidades de varejo são reunidas sob a mesma estrutura hierárquica, visando a obtenção de economias de escala que os tornem mais competitivos frente a concorrência. O crescimento do porte e, conseqüentemente, do poder de barganha das organizações de varejo tem-lhes permitido substituir o comércio atacadista na realização de algumas importantes funções de suas cadeias de valor. As grandes redes de lojas têm conseguido negociar, em condições vantajosas, diretamente com os fabricantes, a 46 compra de grandes volumes, que são armazenados e distribuídos para as lojas em seus próprios armazéns. 2.7.3. Marketing Direto O marketing direto tem sido uma ferramenta de negócios em rápida expansão no mundo. Rosenberg e Hirschman (1980) já estimavam que, no início da década de 1980, as vendas diretas cresciam em um ritmo de três a cinco vezes mais rápido do que as feitas através dos formatos tradicionais de varejo. Segundo os autores, tal tendência seria o fruto do desejo dos consumidores por acesso a maior sortimento de bens para sua escolha e por maior disponibilidade de tempo para a execução de outras atividades, que tornam a freqüência a lojas cada vez menos conveniente para os consumidores. No entanto, Rosenberg e Hirschman (1980) destacam que esta tendência não significa necessariamente uma sentença de morte para as vendas através de lojas, uma vez que em diferentes momentos haverá consumidores interessados na utilização de uma ou outra forma de realizar suas compras. A Associação de Marketing Direto Americana (apud Roberts e Berger, 1989) define o marketing direto como uma forma de comunicação onde dados são utilizados de forma sistemática para atingir objetivos de marketing mensuráveis e onde o contato direto é feito entre a empresa e seus clientes atuais ou potenciais. Roberts e Berger (1989) procuram ampliar esta definição para dizer que o marketing direto é qualquer forma de comunicação face a face com clientes potenciais, com o objetivo de efetivar vendas e de manter um canal de diálogo que auxilie na construção de um relacionamento de longo prazo. 47 Katzenstein e Sachs (1992) definem o marketing direto como sendo uma comunicação paga em mídia que visa estimular respostas diretas e mensuráveis, seja uma encomenda, uma solicitação de maiores informações ou uma visita a lojas ou showrooms. Kotler (1993) também enfatiza a ampliação do foco do marketing direto, que deixa de ser apenas ferramenta geradora de respostas mensuráveis para se tornar poderosa arma na criação de relacionamentos das empresas com seus consumidores. Rosenbloom (1998) diferencia o conceito de marketing direto do de venda direta. Ele utiliza-se da definição da Associação de Vendas Diretas Americana, que diz que a venda direta é um método de distribuição de bens de consumo através de vendas pessoais (ou face a face). Estas vendas são feitas, ainda segundo a definição, sem a utilização de pontos de vendas fixos. O autor utiliza-se também da definição de marketing direto elaborada pela Associação de Marketing Direto americana. Fica claro pelas definições vistas que o marketing direto oferece às firmas que o utilizam maior possibilidade de direcionar suas ações para segmentos específicos de forma mais eficiente, através do uso de bancos de dados bem estruturados e da mensuração da eficácia de suas ações, obtendo maior controle sobre suas operações e diminuindo o seu grau de dependência em relação aos intermediários. Além disso, o marketing direto oferece às empresas a oportunidade de estabelecer um canal de diálogo com seus consumidores, permitindo a melhor compreensão das suas necessidades e desejos. Rosenbloom (1998) lembra que o marketing direto deve ser visto como uma das alternativas disponíveis para que a firma possa atingir seus objetivos de distribuição. Ele 48 considera o uso do marketing direto mais vantajoso em situações em que o mercado a ser atingido seja altamente especializado ou quando o produto a ser comercializado possua características únicas que tornem a sua disponibilidade no varejo tradicional mais escassa. Da mesma forma, ele considera que o marketing direto pode ser uma importante alternativa estratégica para firmas de menor porte sem os recursos necessários para montar uma estrutura de distribuição tradicional ou para firmas que desejem possuir maior grau de controle sobre a distribuição de seus produtos, já que a presença de intermediários será reduzida. Por fim, Rosenbloom (1998) considera que questões do ambiente sócio-econômico e cultural, como a menor disponibilidade de tempo para consumo, também podem motivar a opção pelo marketing direto. Diversas mídias têm sido utilizadas para realizar este contato direto entre o fabricante e o consumidor final. Roberts e Berger (1989) citam o telefone, a televisão e o rádio, os anúncios em jornais e revistas e as malas-diretas e os catálogos de vendas como algumas das principais ferramentas do marketing direto. Kotler (1986) e Katzenstein e Sachs (1992) incluem o comércio eletrônico como uma das modalidades de marketing direto. As ferramentas de marketing direto parecem estar surgindo como importante alternativa estratégica para os fabricantes de bens e serviços que desejam diminuir sua dependência em relação aos canais tradicionais de varejo. No entanto, caso a indústria repita a postura passiva já adotada no passado em relação à estratégia de canais, é possível que novas estruturas de intermediários venham a dominar o cenário ou que as próprias redes de varejo tradicional venham a dominar a utilização destas ferramentas, 49 deixando a indústria mais uma vez em posição desvantajosa de acesso aos mercados consumidores. 2.7.4. Comércio Eletrônico Segundo Schneider (1994), o advento do comércio eletrônico está trazendo mudanças profundas na estrutura do varejo. Se antes os investimentos em mão de obra nos pontos de vendas representavam fontes de vantagem competitiva, agora a tecnologia da informação torna-se vital para o sucesso do negócio. Com menor necessidade de investimentos de capital, as barreiras à entrada de novos concorrentes no varejo estão se tornando menores e as estratégias de atendimentos de nichos estão se viabilizando. Lopes (1998) comprova o extraordinário crescimento do comércio eletrônico citado dados segundo os quais 400 mil empresas no mundo já dispõem de endereços eletrônicos para a venda de produtos e serviços ou para divulgação institucional, gerando um movimento próximo a 22 bilhões de dólares. Segundo a mesma fonte, tal número deve atingir a cifra de 349 bilhões já no ano de 2002. O autor enumera, como vantagens oferecidas pelo comércio eletrônico em relação ao varejo tradicional, a maior conveniência de compra, o sortimento mais amplo, menores custos de operação e, conseqüentemente, menores preços, melhor prestação de serviços, maior nível de fidelidade dos consumidores e, finalmente, o fim dos atravessadores. Kalokota e Whinston (1996) consideram que a Internet oferece aos fabricantes a chance de reconquistar o espaço perdido para o varejo no contato com os consumidores finais. Desde a introdução da leitura ótica nos pontos de venda, a hegemonia alcançada 50 pelo varejo parecia difícil de ser revertida. No entanto, os próprios autores reconhecem que tanto a indústria quanto o varejo ainda carecem de uma estratégia clara de atuação na rede. Rosenbloom (1998) define o comércio eletrônico como a forma pela qual produtos e serviços são disponibilizados para seus mercados-alvo através do uso da Internet. Segundo o autor, o surgimento do comércio eletrônico vem levantando questionamentos sobre o papel futuro dos intermediários na economia. O autor discute três tópicos para melhor compreender tal questão. Primeiramente, ele discute a questão da intermediação, argumentando que, ao contrário do que tradicionalmente se supõe, os negócios via Internet mais bem sucedidos tendem a adicionar intermediários ao canal de distribuição. Ele cita os exemplos da Amazon.com, da Auto-By-Tel Corp. e da Peapod Inc. como empresas que possuem mais um nível de intermediários no negócio do que seus rivais tradicionais. Em segundo lugar, Rosenbloom (1998) lembra que os canais eletrônicos não são capazes de promover os fluxos dos produtos por si sós, embora possam promover os demais fluxos de negociação, de posse, de informação e de promoção, sendo ainda, portanto, estruturas de canais incompletas. Por fim, o autor questiona a capacidade que o comércio eletrônico terá de suprir as necessidades dos consumidores no que diz respeito à existência de um ponto de venda fisicamente tangível. Schneider (1994) reforça este argumento ao dizer que há três motivos pelos quais os consumidores vão às lojas: para repor seus estoques domiciliares com itens de consumo freqüente, para decidir sobre a compra de produtos de consumo ocasional e 51 para satisfazer suas necessidades de convívio social. O autor considera que o comércio eletrônico tenha maiores dificuldades em prover a satisfação do último destes fatores. 2.8. Estratégia de Multi-canais A estratégia de multi-canais ainda é muito pouco citada na literatura existente sobre os canais de distribuição. Lewis (1968) utiliza o termo distribuição dual para se referir à utilização de canais paralelos na venda da mesma linha de produtos. Ele defende o uso de tal sistema como forma para se atingir diferentes segmentos de consumidores ou quando a empresa desejar trabalhar com mais de uma marca para a mesma categoria de produtos. Kotler (1999) também chama este arranjo de distribuição dual. Ele considera esta estratégia como sendo delicada, em função do potencial de geração de conflitos entre os membros do canal. Ele lembra, no entanto, que os elevados custos associados à venda direta estimulam a adoção de estruturas nas quais novos e mais eficientes canais possam substituir os tradicionais integralmente ou nas tarefas de custo mais elevado. Kotler (1993) lembra que a proliferação de segmentos e alternativas de canais tem levado as empresas a adotar a distribuição através de múltiplos canais. Ele cita a definição de Weigand (apud Kotler, 1993, p.612), que diz que “eles ocorrem quando uma única empresa estabelece dois ou mais canais para atingir um ou mais segmentos de consumidores”. Kotler (2000) lembra que as empresas podem conquistar três importantes benefícios ao utilizar estratégias de multi-canais. Maior cobertura de mercado, graças ao atendimento a novos segmentos de consumidores, redução nos custos de distribuição, 52 através da adoção de canais com custos mais reduzidos, e atendimento mais personalizado, através do uso de canais que se adaptem melhor às necessidades dos clientes. No entanto, ele lembra que a utilização de mais canais pode trazer problemas de conflitos, com os canais disputando os mesmos clientes, e controle, já que a proliferação de canais pode tornar mais difícil a busca por objetivos comuns. Cespedes (1989) enfatiza a importância adquirida pela estratégia de multi-canais lembrando que, já na década de 80, mais de 75% das indústrias americanas já haviam acrescentado intermediários à sua estrutura de distribuição, antes composta apenas pela força de vendas própria. Ele cita quatro fatores que têm influenciado a adoção de uma estratégia de multicanais: aumento nos custos de vendas, implantação de técnicas de gerenciamento de estoques just-in-time, concentração de mercado e informatização. O aumento dos custos de vendas, especialmente das vendas diretas, estimula as empresas a acrescentar intermediários à sua estrutura de distribuição buscando ganhos de escala. A pressão por redução dos níveis de estoque aliada à demanda dos consumidores pelo atendimento adequado de seus pedidos também contribui para a utilização de intermediários. A concentração de intermediários traz, por sua vez, maior poder de barganha frente aos fornecedores e ganhos de escopo e escala que permitem o atendimento mais eficiente ao mercado. Por fim, o processo de automação comercial empreendido pelo varejo trouxe maior eficiência em termos de custos e conhecimento dos consumidores. Todos estes fatores tornam a utilização de intermediários pela indústria praticamente obrigatória. 53 Kotler (1993) utiliza os exemplos fornecidos por aquele autor a respeito do uso desta estratégia, citando empresas como a General Eletric, que vende utensílios domésticos tanto através de varejistas independentes quanto diretamente, através de firmas de construção. Ele cita também as empresas de seguros que vendem apólices através de corretores autônomos, de corretores exclusivos e dos seus sistemas próprios de telemarketing e mala direta. A IBM vende seus computadores pessoais através de lojas especializadas, de grandes lojas de departamento, de representantes de materiais de escritório e também diretamente para, por exemplo, universidades. Esta estratégia traz consigo o risco de conflitos da empresa com os seus canais já estabelecidos, que enxergam na sua adoção a ameaça de perda de vendas para os novos canais. Kotler (1993) lembra que eles podem ver na adoção de tal estratégia uma concorrência desonesta por parte de seu fornecedor. O autor lembra que, algumas vezes, os diferentes canais podem ser de propriedade do fabricante, eliminando o risco de conflito. Em tal caso a empresa possuiria um “conglomerado de canais” que, segundo a definição de Tillman (apud Kotler, 1993, p. 612) por ele reproduzida, seria “um império multilinear de comercialização sob direção centralizada, que geralmente combina vários estilos de varejo com integração oculta de algumas funções de distribuição e de administração”. Ele cita o exemplo da J. C. Penney, que opera lojas de departamentos, de atacado e de especialidades. Por fim, Kotler (1993) reproduz um estudo do The MAC Group, que defende a adoção da estratégia de multi-canais, argumentando que as empresas que insistem em utilizar um único canal para o atendimento de consumidores variados tornam-se 54 vulneráveis. Este argumento é sustentado através da construção de uma matriz como a seguinte: Complexidade do Produto Valor acrescentado pelo canal Alto Sob encomenda Commodities Fundos de Pensão Merril Linch Mercado de Opções Mercado de Ações Fundos Mútuos Aplicações Financeiras Schwab Trade-Plus Baixo Figura 2.8.1 – Varejo Multicanal Fonte: Kotler (1993) Nesta matriz, o eixo vertical representaria o valor acrescentado pelo canal e o horizontal a complexidade do produto. Uma empresa que trabalhasse com o mesmo canal para produtos de diferentes complexidades estaria deixando uma oportunidade para o uso de canais alternativos que fossem mais adequados para cada tipo de produto. Ele apresenta como exemplo a Merril Lynch, que utiliza serviços de corretagem de alto valor tanto para a operação em mercados de opções quanto para aplicações financeiras mais simples, agregando custos significativos às últimas. Agindo assim, a empresa permitiu o crescimento de concorrentes como a Charles Schwab, que oferece serviços de corretagem com desconto, inclusive por via telefônica. 55 Bowersox e Closs (1996) argumentam que a fragmentação dos segmentos de consumo e a maior diferenciação dos produtos obrigam as empresas a utilizar múltiplos canais de distribuição para atingir os mercados-alvo. Stern, El-Ansary e Coughlan (1996) lembram que em função da heterogeneidade do mercado não há como atender às necessidades dos diferentes clientes potenciais da empresa através de um único canal de distribuição. Por esse motivo, as empresas são levadas a desenhar sistemas de canais híbridos ou multi-canais. Os autores lembram que, historicamente, as empresas atingiam seus clientes através de apenas um canal de distribuição, geralmente uma força de vendas própria. Por outro lado citam o argumento de Moriarty (1990), de que o aumento dos custos necessários para a manutenção de tal estrutura obrigou as empresas a implantar sistemas como o telemarketing tanto para exercer a função de um novo canal de vendas, quanto para a realização de funções de apoio. Tal arranjo envolveria o uso simultâneo de canais diretos e indiretos de distribuição. Assim, diferentes atividades de vendas, logísticas e de crédito, entre outras, poderiam ser assumidas por diferentes canais, de forma complementar, em função dos custos associados aos mesmos. Eles também admitem, no entanto, que tal arranjo aumenta a probabilidade de ocorrência de conflitos na medida em que os diferentes canais venham a competir pelos mesmos clientes. Moriarty e Moran (1990), no artigo da Harvard Business Review em que analisam o gerenciamento dos chamados canais híbridos de marketing, lembram que, em anos recentes, os gerentes foram obrigados a buscar a utilização de vários canais de 56 distribuição de forma simultânea para conseguir aumento na cobertura de mercado e redução nos seus custos. Estes autores reconhecem a dificuldade em se gerenciar tais arranjos, que levantam problemas de conflito e controle dentro do canal. O conflito ocorre porque os canais podem vir a disputar os mesmos clientes e receitas. Os problemas de controle podem surgir porque os canais indiretos estariam menos sujeitos à autoridade da empresa que desenha tal arranjo. Apesar destes problemas, os autores sustentam que uma estratégia de multicanais pode trazer grandes benefícios para a empresa através da possibilidade de redução dos custos de distribuição resultante da otimização das tarefas executadas por cada integrante do canal, da ampliação da cobertura de mercado e do atendimento customizado de acordo com as necessidades dos segmentos atingidos por cada canal. Um grande problema da estratégia de multi-canais, ainda segundo Moriarty e Moran (1990), é que poucas empresas se dedicam à tarefa de planejar uma estrutura de canais adequada para o atendimento do mercado. Ao invés disso, elas tendem a assumir uma postura reativa, adicionando canais à sua estrutura a medida que sentem a necessidade de aumentar a cobertura de mercado ou de reduzir custos. Esta postura resulta em risco bem maior de surgimento de problemas de conflito com os canais já existentes, bem como de problemas com os consumidores, insatisfeitos por verem diferentes ofertas do mesmo produto, muitas vezes mais vantajosas do que as que lhes foram oferecidas, surgindo nos novos canais. 57 Os autores lembram, entretanto, que algum nível de conflito entre os canais pode ser desejável. Isto porque uma completa ausência de conflitos poderia ser um sinal de que a cobertura de mercado oferecida pelos canais estivesse aquém da desejada. Eles sugerem que o conflito pode se tornar prejudicial à empresa quando ele envolve um percentual superior ao patamar que vai de 10% a 30% das receitas. Eles propõem, além da divisão de tarefas de vendas, o estabelecimento de três tipos de fronteiras entre os membros do canal como forma de minimizar os conflitos entre os canais: fronteiras em função dos tipos de clientes, dos tipos de produtos ou geográficas. Moriarty e Moran (1990) defendem que, para se desenhar e gerenciar um arranjo de canais deve-se ter em mente que as atividades de marketing, e não os canais propriamente ditos, são os “blocos” de construção do sistema de marketing da empresa. Essa visão é compatível com o conceito de cadeia de valor desenvolvido por Porter (1986). Assim, a empresa deveria mapear e desagregar as atividades de geração de pedido para as alocar aos canais mais adequados em termos de custos e de eficiência e eficácia no atendimento às necessidades dos clientes potenciais. 58 Quadro 2.8.1 – Blocos de Construção da Estratégia de Multi-canais Gerência de Conta Serviços PósVenda Fechamento Pré-Venda Qualificação Indicações Tarefas de Geração de Demanda Gerência de Conta Nacional Canais e Métodos de Marketing Venda Direta Telemarketing Mala Direta Lojas de Varejo Distribuidores Intermediários de Valor Agregado Propaganda Fonte: Kotler (2001) Anderson, Day e Rangan (1997) dizem que a estratégia de multi-canais deve refletir a oferta de diferentes níveis de serviços aos consumidores finais no momento de compra de um mesmo produto em função dos seus hábitos de consumo. Eles argumentam que, com o encurtamento do ciclo de vida e a proliferação de produtos e 59 com a maior fragmentação dos segmentos de consumidores, o acesso ao mercado através de multi-canais se tornará a única alternativa viável para se obter a cobertura de mercado desejada (1997, p.64). Eles identificam duas formas de utilização do arranjo de multi-canais em função do grau de maturidade do mercado. Em mercados mais maduros ou de maturação lenta, a estratégia de multi-canais só seria útil quando houvesse diferença significativa nos padrões de consumo dos segmentos. Cada canal seria desenhado para atender as necessidades específicas de cada um destes segmentos. Em mercados de rápido crescimento a firma deveria buscar várias alternativas de canais como forma de se proteger contra mudanças abruptas no comportamento de compra dos consumidores, até que houvesse uma estabilização do ambiente. Anderson, Day e Rangan (1997) argumentam que as firmas deveriam estabelecer fronteiras entre os diferentes canais através da sua linha de produtos, minimizando, desta forma, os possíveis conflitos entre eles. Na prática, dizem eles, as diferentes linhas de produtos oferecidas pelas firmas não são significativamente diferentes e os canais tendem a competir em função dos serviços oferecidos. Cespedes e Corey (1990) também defendem o uso da estratégia de multi-canais para atender a segmentos distintos de forma mais eficiente e eficaz. Eles argumentam que as empresas têm procurado utilizar intermediários, paralelamente às suas próprias forças de vendas. Estes autores distinguem duas estratégias de multi-canais distintas adotadas pela indústria, que eles denominam arranjos pluralistas e arranjos monolíticos. No primeiro caso, a empresa utiliza diferentes canais, que realizam todas as tarefas de distribuição e 60 vendas, para atingir clientes pertencentes a segmentos distintos. No segundo, monta-se um sistema integrado para atingir todos os segmentos, no qual cada componente do canal se especializa na realização de tarefas específicas. Arranjo Pluralista Canal 1 Tarefa 1 Canal 1 Tarefa 2 Canal 1 Tarefa 3 Canal 1 Tarefa 4 Segmento A Canal 2 Tarefa 1 Canal 2 Tarefa 2 Canal 2 Tarefa 3 Canal 2 Tarefa 4 Segmento B Canal 2 Tarefa 4 Mercado Arranjo Monolítico Canal 1 Tarefa 1 Canal 1 Tarefa 2 Canal 2 Tarefa 3 Figura 2.8.2 – Estratégias de Multi-canais Cespedes e Corey (1990) identificam três tarefas que são executadas pelos canais de distribuição: prospeção e geração de demanda, distribuição e serviços de pósvenda. Caberia à gerência decidir sobre quais dessas funções deveriam ser desempenhadas pela própria empresa e quais deveriam ser transferidas para os intermediários. A organização, monolítica ou pluralista, escolhida pela empresa para atingir o mercado seria influenciada por cinco elementos: custos de marketing, coordenação entre 61 a empresa e os canais, capacidade de diferenciação na prestação de serviços, flexibilidade dos padrões de compra dos consumidores e capacidade em vendas. Assim, a empresa que optasse pela organização pluralista acabaria por incorrer em maiores custos de marketing, em função da necessidade de um staff mais numeroso para coordenar as atividades dos vários canais. Por outro lado, este arranjo requer uma capacidade menor de coordenação entre a empresa e os canais, uma vez que há relativa independência entre as atividades desempenhadas por cada elemento do sistema. O arranjo pluralista teria maior capacidade de se diferenciar através da prestação de serviços, na medida em que cada canal estaria se especializando no atendimento a um segmento específico. No entanto, por ter apenas um canal atendendo a um segmento, o arranjo pluralista teria menor flexibilidade para lidar com mudanças nos padrões de compra dos consumidores. Ele não seria capaz de atender a consumidores que se utilizem de diferentes canais em função do volume desejado, da urgência da compra ou do nível de serviço desejado, por exemplo. Por fim, os autores defendem que o arranjo pluralista traria maior aprendizado das habilidades de vendas exigidas por cada mercado. É importante ressaltar que a estratégia de multi-canais ainda é de uso recente entre as empresas e teve o seu papel discutido até agora de forma tímida na literatura existente sobre os canais de distribuição. No entanto, tal discussão se faz necessária na medida em que mais empresas se dispõem a adotá-la. Segundo Moriarty e Moran (1990), 53% das empresas por eles pesquisadas se mostravam dispostas a adotar tal estratégia. Por esse motivo é importante que se desenvolvam teorias através das quais elas possam se guiar na sua implementação e gerenciamento. 62 3. METODOLOGIA 3.1. Esquema Conceitual do Estudo A literatura sobre canais de distribuição é, por vezes, confusa e contraditória no que diz respeito a algumas definições e termos, o que dificulta a compreensão de alguns fenômenos relacionados com o tema. A própria definição do conceito de canal de distribuição reflete tal controvérsia, especialmente no que diz respeito à necessidade da presença de organizações externas para que o mesmo possa ser caracterizado. Todos os demais temas relacionados à estratégia e ao gerenciamento dos canais, especialmente quando as empresas utilizam estratégias de multi-canais, parecem ter a sua compreensão dificultada por este primeiro obstáculo conceitual. Os autores freqüentemente utilizam termos como canais, membros dos canais, atividades dos canais e intermediários para se referir aos mesmos objetos de estudo, tornando o debate confuso. Para efeitos deste estudo, serão considerados: ! Canais Diretos: o Força de Vendas Própria o Internet o Telemarketing o Catálogo o Mala-Direta Kotler (1993), Rocha e Christensen (1987) e Day (1990) admitem a existência dos canais diretos quando as empresas vendem diretamente para os consumidores finais, gerenciando por sua própria conta as atividades de distribuição. 63 ! Intermediários: o Atacadistas o Varejistas o Franquias o Supermercados o Representantes Independentes o Lojas Especializadas Os intermediários participam do canal de distribuição de forma isolada ou em diferentes arranjos com os canais diretos dos fabricantes e/ou com outros intermediários. Estes intermediários podem estar situados no mesmo nível ou em diferentes níveis do canal de distribuição. ! Estratégias de Multi-canais: Considera-se que as empresas adotam estratégias de multi-canais quando fazem uso simultâneo de mais de um arranjo de canais para atingir seus consumidores finais. Assim, neste trabalho não foram consideradas como estratégias de multi-canais os seguintes arranjos: o Apenas um intermediário ou apenas um canal direto o Força de vendas própria + um intermediário o Representante independente + um intermediário o Força de vendas própria + atacadista + um intermediário o Representante independente + atacadista + um intermediário o Força de vendas própria + Representante independente 64 Em tais casos, considerou-se que os canais diretos ou intermediários estariam atuando em diferentes níveis de um mesmo arranjo de canal, e não como estruturas paralelas de distribuição. 3.2. Tipo de Pesquisa A estratégia de multi-canais constitui fato recente e que, portanto, recebeu pouca atenção por parte de pesquisadores e estudiosos de marketing. Os poucos estudos encontrados a respeito do tema (Moriarty e Moran, 1990 e Cespedes e Corey, 1990) realizaram pesquisas exploratórias, através de estudos de casos, em que procuram descrever os processos de implantação e gerenciamento dos arranjos de multi-canais por algumas empresas, discutindo as suas motivações, os benefícios atingidos e as dificuldades surgidas ao longo da implantação dos mesmos. A presente pesquisa é de natureza descritiva. O seu objetivo é fornecer uma perspectiva mais ampla da implementação de estratégias de distribuição e do gerenciamento de canais de distribuição no setor industrial brasileiro. Além disso, ela procura verificar a validade de algumas hipóteses e proposições levantadas em pesquisas anteriores no que diz respeito à existência de relações entre as características das empresas e dos seus mercados de atuação com a implementação destas estratégias. A pesquisa de natureza descritiva é definida por Pinsonneault e Kraemer (apud Freitas, Oliveira, Saccol e Moscarola, 1999) como aquela que possui o propósito de identificar situações, eventos, atitudes ou opiniões manifestas em uma população. Gil (1995) acrescenta a esses objetivos o estabelecimento de relações entre variáveis. Ele afirma que estas pesquisas, embora definidas como descritivas a partir de seus objetivos, 65 podem proporcionar uma nova visão do problema, o que as aproxima das pesquisas exploratórias. O método de pesquisa escolhido para este trabalho foi o survey. Tal método foi utilizado para estudar a utilização de estratégias de multi-canais entre empresas do setor industrial, buscando compreender de que forma as características ambientais e das próprias empresas influenciam tal utilização. A pesquisa survey pode se apresentar como ferramenta adequada para pesquisas de natureza descritiva. Tanur (apud Pinsonneault e Kraemer,1993) a descreve como a obtenção de dados ou informações sobre características, ações ou opiniões de determinado grupo de pessoas, indicado como representante de uma população-alvo, por meio de um instrumento de pesquisa, normalmente um questionário. O foco do seu interesse, segundo Freitas, Oliveira, Saccol e Moscarola (1999), é sobre “o que está acontecendo” ou “como e por que isso está acontecendo”. A primeira etapa do estudo foi o levantamento bibliográfico, cujo propósito foi contribuir para o processo de formulação de hipóteses e para um conhecimento mais amplo sobre o tema em questão. A identificação, através da leitura de casos já desenvolvidos sobre estratégia de multi-canais, das motivações para a sua adoção e dos problemas encontrados na sua implementação e gerenciamento auxiliou a identificar as questões de pesquisa e a formular as hipóteses. 3.3. Hipóteses e Testes As hipóteses formuladas foram enunciadas como se segue: 66 H1. As políticas de distribuição adotadas por empresas brasileiras localizadas no Estado do Rio de Janeiro estão associadas a determinadas características das próprias empresas e de seus mercados de atuação. H2. O uso de canais diretos por empresas brasileiras localizadas no Estado do Rio de Janeiro está associado a determinadas características das próprias empresas e de seus mercados de atuação. H3. O uso de intermediários por empresas brasileiras localizadas no Estado do Rio de Janeiro está associado a determinadas características das próprias empresas e de seus mercados de atuação. H4. O uso de estratégias de multi-canais por empresas brasileiras localizadas no Estado do Rio de Janeiro está associado a determinadas características das próprias empresas e de seus mercados de atuação. H5. A intensidade percebida dos conflitos entre os canais de distribuição está associada a determinadas características das próprias empresas, de seus mercados de atuação e de suas políticas de distribuição. 3.4. Variáveis Operacionais A escolha das variáveis operacionais utilizadas neste estudo reflete a preocupação em detectar características das próprias empresas e de seus mercados de atuação que podem influenciar diversos aspectos relacionados à estratégia e ao gerenciamento dos canais de distribuição. As variáveis foram escolhidas com base nas informações coletadas na revisão da literatura e nos testes do questionário. Quadro 3.3.1 – Variáveis Operacionais 67 Características da Empresa Operacionalização Ano de fundação Número de empregados Número de clientes ativos Número de Estados em que atua Número de itens comercializados Características do Mercado Variáveis Operacionalização Demanda em declínio Crescimento de até 3% ao ano Taxa de crescimento do mercado Crescimento de 3,1% a 5% ao ano Crescimento superior a 5% ao ano Produto novo ou pouco familiar Produto com aceitação crescente Estágio do ciclo de vida do produto Produto familiar Redução no número de consumidores Quantidade comprada Escala de cinco pontos, onde 1 = pequeno e 5 = grande Freqüência de compra Escala de cinco pontos, onde 1 = baixa e 5 = alta Forma de compra Escala de cinco pontos, onde 1 = impulso e 5 = planejada Necessidade de crédito Escala de cinco pontos, onde 1 = baixa e 5 = alta Necessidade de assistência técnica Escala de cinco pontos, onde 1 = baixa e 5 = alta Características da Estratégia de Distribuição Variáveis Operacionalização Exclusiva Estratégia de cobertura de mercado Seletiva Intensiva Canal de distribuição utilizado Não utilizado (atacadista, varejista, força de vendas Pequena participação no faturamento da empresa própria, franquia, supermercado, representantes independentes, loja Média participação no faturamento da empresa especializada, internet, telemarketing, Grande participação no faturamento da empresa Variáveis Tempo de existência Tamanho da empresa Base de clientes Dispersão geográfica Amplitude da linha de produtos catálogo, mala-direta e outros) Canal abandonado Motivo para a desistência do canal 68 Atacadista Varejista Força de vendas própria Franquia Supermercado Representantes independentes Loja especializada Internet Telemarketing Catálogo Mala-direta Outros Busca por redução de custos Novo canal Motivo para adicionar canal Critério de divisão de mercado Similaridade entre políticas de preços para cada canal Similaridade entre políticas de promoções para cada canal Conflitos entre os canais Insatisfação com serviços oferecidos pelo canal Busca por redução de conflitos entre canais Mudança no comportamento do consumidor Iniciativa do próprio intermediário Outros Atacadista Varejista Força de vendas própria Franquia Supermercado Representantes independentes Loja especializada Internet Telemarketing Catálogo Mala-direta Outros Atendimento a novos segmentos de consumidores Atendimento a novos consumidores dos segmentos já atendidos pela empresa Atendimento a novas regiões geográficas Redução da dependência em relação aos canais tradicionais Busca por redução de custos Busca por maior nível de serviço ou por novos serviços Reação a movimento da concorrência Mudança no comportamento de compra do consumidor Solicitação/iniciativa do próprio intermediário Outros Inexistente Região geográfica Tipo de cliente Tipo de produto Tarefas executadas Outros Escala de cinco pontos, onde 1 = similares e 5 = diferenciadas Escala de cinco pontos, onde 1 = similares e 5 = diferenciadas Intensos Medianos Inexistentes 69 3.5. População e Amostra Perrien, Chéron e Zins (1984) descrevem o processo de amostragem como sendo composto pelas etapas de definição da população-alvo, do contexto da amostragem, da unidade de amostragem, do método de amostragem, do tamanho da amostra, da seleção da amostra e da execução do processo de amostragem. No caso em questão, a população-alvo da pesquisa é composta pelas empresas do setor industrial brasileiro, sediadas no Estado do Rio de Janeiro, sendo as empresas a unidade utilizada para a amostragem. Os respondentes qualificados, nas empresas, para responder o questionário foram os principais executivos dos departamentos de marketing ou de vendas, responsáveis pelo gerenciamento dos canais de distribuição. Para a seleção das empresas a serem pesquisadas foi utilizado um arquivo de dados obtido junto à empresa DMS (Database Marketing Solutions), contendo o cadastro de 1200 empresas dos setores primário, secundário e terciário no Estado do Rio de Janeiro. Foram selecionadas, dentre as empresas listadas, aquelas que atuavam no setor industrial e tinham mais de 50 empregados, obtendo-se um total de 550 empresas. Os questionários foram enviados para todas as 550 empresas que compuseram a população do estudo 3.6. Coleta de Dados O questionário enviado pelo correio é um dos principais instrumentos para a coleta de dados na pesquisa survey. O envio pelo correio garante a possibilidade de acesso a uma amostra ampla e geograficamente dispersa, trazendo conveniência em termos de custos e tempo consumidos (Mattar, 1998; Aaker, Kumar e Day, 2001). 70 Tal abordagem também pode se mostrar interessante na medida em que, por tratar-se de questionário auto-administrado, reduza as dificuldades que poderiam ser encontradas no que diz respeito à marcação de entrevistas com executivos das áreas de marketing ou de vendas das empresas pesquisadas. O pré-teste foi conduzido, através de entrevistas pessoais, junto a três empresas durante o mês de janeiro de 2001 para a verificação da compreensão do sentido das perguntas, da facilidade de obtenção dos dados necessários para o fornecimento de respostas e para uma estimativa do tempo de duração do seu preenchimento. O pré-teste permitiu a identificação de uma questão não explorada durante a pesquisa bibliográfica a respeito do abandono de canais de distribuição. Duas das empresas pesquisadas mencionaram o fato de terem reduzido o número de canais de distribuição utilizados em função de mudanças no ambiente de mercado, especialmente nos hábitos de compra dos consumidores finais, e da necessidade de redução de custos. O questionário final foi enviado em abril de 2001 para as 532 empresas que compunham a lista original da população pesquisada, acompanhado de carta explicando os objetivos do estudo. Obteve-se um retorno de 63 questionários, equivalendo a 11,5% dos questionários enviados. Em pesquisas dessa natureza no Brasil, um retorno superior a 20% é considerado adequado. Entre 20% e 10%, é considerado fraco. Comparando-se a distribuição dos questionários enviados com os questionários recebidos, no que se refere a tamanho, ou seja, número de funcionários, obtém-se a seguinte distribuição: 71 Quadro 3.5.1 – Questionários Enviados e Recebidos Nº de Funcionários Questionários Recebidos Freqüência Até 99 100 a 199 200 a 299 300 a 499 500 a 999 1000 a 4500 NR Total 17 12 07 09 08 09 01 63 Freqüência Relativa 27,0% 19,0% 11,1% 14,3% 12,7% 14,3% 1,6% 100,0% Questionários Enviados Freqüência 139 143 80 72 58 40 532 Freqüência Relativa 26,1% 26,9% 15,0% 13,5% 10,9% 7,7% 100,0% A comparação entre a distribuição da amostra da pesquisa e a lista da população mostra a existência de diferenças entre as empresas que possuem de 100 a 199 funcionários e as empresas que possuem acima de 1000 funcionários. 3.7. Análise dos Dados 3.7.1. Preparação dos Dados Os dados do questionário foram codificados em planilha eletrônica Microsoft Excel. Inicialmente realizou-se uma análise descritiva, com propósito exploratório, utilizando freqüências para verificar a consistência dos dados e elaborar um quadro geral dos resultados obtidos. Em seguida, utilizando-se o programa SPSS (Statistical Package for the Social Sciences), foram realizados os testes de hipóteses. 72 3.7.2. Teste de Hipóteses Para o teste de hipóteses utilizou-se a análise linear de discriminantes, método direto. Para Aaker, Kumar e Day (2001), a análise discriminante é utilizada para classificar objetos em um, dois ou mais grupos alternativos, como base de um conjunto de mensurações, assim como para identificar quais variáveis contribuem para tal classificação. Segundo os autores, a análise discriminante possui quatro objetivos principais (p. 551): " “Determinar combinações lineares das variáveis previsoras para separar os grupos por meio da maximização da variação entre os grupos em relação à variação dentro dos grupos (objetos em diferentes grupos são maximamente separados)”; " “Desenvolver procedimentos para designar novos objetos, empresas ou indivíduos, cujos perfis, e não a identidade grupal, sejam conhecidos, para um dos dois grupos”; " “Testar se existem diferenças significantes entre os grupos, com base nos centróides desses grupos”; " “Determinar quais as variáveis mais relevantes para a explicação das diferenças intergrupais”. No presente estudo, a análise discriminante foi utilizada para testar se as diferenças entre os grupos eram significativas (objetivo 3) e verificar quais as variáveis 73 que melhor explicavam essas diferenças (objetivo 4). Não foi testado o poder preditivo das equações discriminantes (objetivos 1 e 2). Hair et alii (1992, p.94) admitem as duas utilizações da análise discriminante, ao afirmar que “a análise discriminante, portanto, pode ser considerada quer como um tipo de análise de perfil, quer como uma técnica preditiva analítica”. A análise discriminante envolve a combinação linear de diversas variáveis independentes que discriminam dois ou mais grupos definidos a priori. A variável dependente, na análise discriminante, é do tipo categórico, o que justifica o uso desta análise no estudo realizado. A análise discriminante pode ser feita utilizando-se dois métodos: direto e passoa-passo. O método direto é usado quando se deseja incluir todas as variáveis na análise. O método passo-a-passo é utilizado quando há um número muito grande de variáveis e quando o propósito não é traçar um perfil dos grupos. Na análise passo-a-passo, é selecionado um grupo reduzido de variáveis, do conjunto total de variáveis, que melhor discrimina os grupos. Hair et alii (1992) afirmam que o conjunto final reduzido de variáveis utilizadas no método passo-a-passo é quase tão bom, e eventualmente melhor, do que o uso de todas as variáveis. No caso específico do presente estudo, o método direto foi adotado por ser o mais adequado aos objetivos estabelecidos, desejando-se analisar o perfil das empresas usuárias de diferentes estratégias, e por se trabalhar com um conjunto relativamente pequeno de variáveis. Os coeficientes da função discriminante, em seu valor absoluto, indicam o peso relativo que cada variável tem na discriminação entre os dois grupos. Dessa forma, 74 quanto maior for o coeficiente, independentemente de sinal, maior o poder daquela variável em discriminar entre os dois grupos. Adotou-se, nesse estudo, o nível de significância de 0,05 para rejeição da hipótese nula. Esse nível é considerado adequado pela maioria dos estudiosos (Hair et alii, 1992). 3.8. Limitações do Método Algumas limitações associadas a este método de pesquisa devem ser mencionadas. Gil (1995) observa que o método de pesquisa survey apresenta uma limitação no que diz respeito à percepção dos fatos ocorridos pelos entrevistados. Os levantamentos identificam percepções e opiniões dos respondentes com relação a fatos, o que pode trazer distorções em relação à realidade. Mattar (1999) faz uma comparação entre diferentes métodos de coleta de dados primários. Alguns dos critérios são apresentados no quadro a seguir: Quadro 3.7.1 – Comparação entre Métodos de Coleta de Dados Entrevista Questionário Entrevista Características por AutoPessoal Telefone Preenchido Versatilidade Alta Média Baixa Custo Alto Médio Baixo Tempo de aplicação Alto Baixo Médio Controle amostral Alto Médio Baixo Quantidade de dados Alta Média Média Qualidade de dados Vide quadro 3.7.2 Garantia de anonimato Baixa Baixa Média Habilidade exigida para aplicação Alta Alta Baixa Uniformidade na mensuração Baixa Média Alta Índice de resposta Alto Alto Baixo Nível educacional exigido dos respondentes Baixo Baixo Alto 75 Possibilidade de verificação da sinceridade das respostas Tamanho da amostra Alta Baixa Baixa Pequena Grande Grande Fonte: Mattar (1999) Quadro 3.7.2 – Ocorrência de vieses em Diferentes Métodos de Coleta de Dados Entrevista Questionário Entrevista Fonte de Viés por AutoPessoal Telefone Preenchido Garantia de anonimato Alto Médio Baixo Questões de entendimento difícil Baixo Médio Alto Uniformidade das mensurações Alto Médio Baixo Conhecer todas as questões antes de Baixo Baixo Alto responder Fraude do entrevistador Alto Baixo Baixo Dificuldade de supervisão e controle Alto Médio Baixo Controle sobre quem responde Baixo Alto Alto Influência do entrevistador Alto Alto Baixo Insinceridade das respostas Baixo Alto Alto Fonte: Mattar (1999) Pode-se observar, então que as principais limitações do questionário remetido por correio dizem respeito à sua baixa versatilidade, ao baixo controle amostral, ao baixo índice de respostas e ao alto nível educacional exigido dos respondentes. Uma das estratégias adotada para garantir um percentual aceitável de respostas foi o contato telefônico prévio com os respondentes. Este contato teve a finalidade de confirmar algumas informações contidas na base de dados, bem como de buscar o comprometimento dos executivos das empresas com o retorno dos questionários. A limitação relacionada ao baixo controle amostral foi superada uma vez que a composição dos respondentes, com relação ao número de funcionários das empresas, é bastante similar à da população pesquisada. No entanto, não é possível afirmar que as 76 demais limitações tenham sido superadas em função da dificuldade de verificação da qualidade das respostas obtidas. 77 4. ANÁLISE DOS RESULTADOS 4.1. Análise Descritiva Este capítulo apresenta os resultados obtidos na pesquisa realizada junto a 63 empresas de setor industrial do Estado do Rio de Janeiro. 4.1.1. Ano de Fundação das Empresas Quadro 3.4.1.1 - Ano de Fundação das Empresas Ano de Fundação Freqüência Antes de 1950 1950 a 1959 1960 a 1969 1970 a 1979 1980 a 1989 1990 a 1999 NR Total 14 09 15 13 06 05 01 63 Freqüência Relativa 22,2% 14,3% 23,8% 20,6% 9,5% 7,9% 1,6% 100,0% A distribuição da amostra indica uma pequena participação de respondentes entre as empresas fundadas nas décadas de 1980 e 1990 (17,4%). As décadas de 1980 e 1990 foram marcadas por tímido crescimento econômico, especialmente na indústria, o que pode explicar a fraca presença de empresas fundadas neste período. Ano de Fundação das Empresas 15 14 13 9 6 5 1 Antes 1950 a de 1950 1959 78 1960 a 1969 1970 a 1979 1980 a 1989 1990 a 1999 NR 4.1.2. Número de Funcionários das Empresas Quadro 3.4.1.2 - Número de Funcionários das Empresas Nº de Funcionários Freqüência Até 99 100 a 199 200 a 299 300 a 499 500 a 999 1000 a 4500 NR Total 17 12 07 09 08 09 01 63 Freqüência Relativa 27,0% 19,0% 11,1% 14,3% 12,7% 14,3% 1,6% 100,0% A amostra pesquisada apresenta quantidade elevada de empresas de pequeno porte. As empresas com até 199 funcionários representam 46% da amostra. Número de Funcionários das Empresas 17 12 7 9 8 9 1 Até 99 100 a 199 200 a 299 300 a 499 500 a 999 1000 a 4500 NR 79 4.1.3. Número de Clientes Ativos das Empresas Quadro 4.1.1 - Número de Clientes Ativos das Empresas Nº de Clientes Ativos Até 100 100 a 999 1000 a 2999 3000 a 5999 6000 a 49999 50000 a 200000 NR Total Freqüência 16 14 16 07 05 02 03 63 Freqüência Relativa 25,4% 22,2% 25,4% 11,1% 7,9% 3,2% 4,8% 100,0% A amostra analisada apresenta pequena quantidade de empresas com mais de 3000 clientes ativos. Uma base extensa de clientes pode estar associada à necessidade de utilização de quantidade maior de canais diretos e intermediários (Rosenbloom, 1998; Cobra, 1994). Número de Clientes Ativos das Empresas 16 14 16 7 5 2 Até 100 80 100 a 999 1000 a 2999 3000 a 5999 6000 a 50000 a 49999 200000 3 NR 4.1.4. Número de Estados Atendidos pelas Empresas Quadro 4.1.2 - Número de Estados Atendidos pelas Empresas Nº de Estados Atendidos Até 10 10 a 19 20 a 26 27 NR Total Freqüência Freqüência Relativa 16 14 12 20 01 63 25,4% 22,2% 19,0% 31,7% 1,6% 100,0% Uma parcela bastante expressiva da amostra (31,7%) tem clientes ativos em todos os Estados do Brasil. Apenas um respondente afirmou ter clientes em apenas um Estado. Espera-se que empresas com ampla cobertura geográfica façam uso de variedade maior de canais diretos e intermediários, já que nem todas as regiões possuem o mesmo tipo de infraestrutura comercial e logística (Rosenbloom, 1998; Cobra, 1994). Número de Estados Atendidos pelas Empresas 20 16 14 12 1 Até 10 10 a 19 20 a 26 27 NR 81 4.1.5. Número de Itens Comercializados pelas Empresas Quadro 4.1.3 - Número de Itens Comercializados pelas Empresas Nº de Itens Comercializados Até 100 100 a 499 500 a 999 1000 a 2999 3000 a 17499 18500 a 20000 NR Total Freqüência Freqüência Relativa 26 14 04 09 04 02 04 63 41,3% 22,2% 6,3% 14,3% 6,3% 3,2% 6,3% 100,0% Uma linha de produtos ampla e diversificada, que atenda às necessidades de diferentes segmentos de consumidores finais, pode exigir da empresa a utilização de canais diretos e intermediários variados. A grande maioria dos respondentes (63,5%) possui linhas com até 499 itens, que podem ser consideradas como linhas amplas. Número de Itens Comercializados pelas Empresas 26 14 9 4 Até 100 82 100 a 499 500 a 999 4 2 1000 a 3000 a 18500 a 2999 17499 20000 4 NR 4.1.6. Taxa de Crescimento no Mercado de Atuação Quadro 4.1.4 - Taxa de Crescimento no Mercado de Atuação Taxa de Crescimento do Mercado Em Declínio Até 3% 3,1% a 5,0% Maior que 5% Total Freqüência Freqüência Relativa 07 24 16 16 63 11,1% 38,1% 25,4% 25,4% 100,0% A amostra apresenta grande quantidade de empresas situadas em mercados de baixo crescimento (até 5% ao ano). Em mercados com baixo crescimento ou redução do volume, tende a ocorrer uma busca por canais diretos e intermediários com custos mais reduzidos (Kotler, 2001; Day, 1990). Quando o mercado se encontra em crescimento, por outro lado, tende a ocorrer uma busca por novos canais diretos e intermediários, de modo a aumentar a cobertura de mercado das empresas. Comportamento da Demanda no Mercado de Atuação Maior que 5% (25%) 3,1% a 5,0% (25%) Em Declínio (11%) Até 3% (39%) 83 4.1.7. Ciclo de Vida do Produto no Mercado de Atuação Quadro 4.1.5 - Ciclo de Vida do Produto no Mercado de Atuação Ciclo de Vida do Produto Freqüência Produto novo / pouco familiar Produto com rápida aceitação Produto familiar Produto em fase de retirada Total Freqüência Relativa 0 13 42 08 63 0,0% 20,6% 66,7% 12,7% 100,0% A grande maioria dos respondentes (66,7%) identificou seus produtos como familiares para os consumidores. Esta informação é consistente com a informação relativa à taxa de crescimento do mercado. É interessante destacar que nenhum respondente indicou trabalhar com produtos recém-lançados. Ciclo de Vida do Produto no Mercado de Atuação Produto em faseProduto novo / de retirada pouco familiar (0%) (13%) Produto familiar (66%) 84 Produto com rápida aceitação (21%) 4.1.8. Quantidade Comprada pelo Consumidor Final Quadro 4.1.6 - Quantidade Comprada pelo Consumidor Final Quantidade Comprada Freqüência Pequena = 1 2 3 4 Grande = 5 NR Total Freqüência Relativa 11 19 17 04 09 03 63 17,5% 30,2% 27,0% 6,3% 14,3% 4,8% 100,0% A quantidade comprada pelo consumidor final pode influenciar a estratégia de distribuição das empresas. Quando este consumidor compra grandes volumes, a empresa pode ter a possibilidade de realizar suas vendas diretamente, sem a necessidade de intermediários. Quanto menor for a quantidade comprada pelo consumidor, maior tenderá a ser a necessidade de intermediários para garantir escala na distribuição (Rosenbloom, 1998; Cobra, 1994). A amostra pesquisada apresenta grande quantidade de empresas cujos consumidores realizam compras de pequeno a médio volume (74,7%). Quantidade Comprada pelo Consumidor Final 19 17 11 9 4 1 2 3 4 3 5 NR 85 4.1.9. Freqüência de Compra do Consumidor Final Quadro 4.1.7 - Freqüência de Compra do Consumidor Final Freqüência de Compra Baixa = 1 2 3 4 Alta = 5 NR Total Freqüência Freqüência Relativa 08 15 18 08 11 03 63 12,7% 23,8% 28,6% 12,7% 17,5% 4,8% 100,0% Consumidores que realizam compras freqüentes de um produto tendem a necessitar de níveis mais elevados de serviço, principalmente no que diz respeito à disponibilidade de estoque. Tal postura pode favorecer a presença de número mais elevado de intermediários de modo a intensificar a cobertura de mercado (Rosenbloom, 1998; Cobra, 1994). A amostra pesquisada apresenta distribuição equilibrada neste item, com uma concentração um pouco maior de consumidores finais realizando compras com pequena freqüência. Freqüência de Compra do Consumidor Final 18 15 11 8 8 3 1 86 2 3 4 5 NR 4.1.10. Forma de Compra do Consumidor Final Quadro 4.1.8 - Forma de Compra do Consumidor Final Forma de Compra Freqüência Relativa 9,5% 7,9% 9,5% 20,6% 46,0% 6,3% 100,0% Freqüência Impulso = 1 2 3 4 Planejada = 5 NR Total 06 05 06 13 29 04 63 Uma parcela significativa dos respondentes (66,6%) indicou que seus consumidores finais realizam suas compras de forma planejada. Tal comportamento reduziria a necessidade de uma cobertura de mercado tão intensa, uma vez que os consumidores tendem a pesquisar de forma mais cuidadosa as ofertas feitas pelas empresas e a se deslocar para os locais onde possam realizar compras mais vantajosas (Kotler, 2001). Forma de Compra do Consumidor Final 29 13 6 1 6 5 2 3 4 4 5 NR 87 4.1.11. Necessidade de Crédito do Consumidor Final Quadro 4.1.9 - Necessidade de Crédito do Consumidor Final Necessidade de Crédito Baixa = 1 2 3 4 Alta = 5 NR Total Freqüência Freqüência Relativa 17 01 12 19 09 05 63 27,0% 1,6% 19,0% 30,2% 14,3% 7,9% 100,0% A amostra da pesquisa apresentou alta concentração de respostas nos pontos extremos da escala sobre necessidade de crédito do consumidor final. Empresas cujos consumidores finais tenham elevada necessidade de crédito tendem a fazer uso de intermediários. Tal medida reduz a necessidade de investimentos em crédito da empresa e minimiza os riscos associados à inadimplência dos consumidores finais (Rosenbloom, 1998). Necessidade de Crédito do Consumidor Final 19 17 12 9 5 1 1 88 2 3 4 5 NR 4.1.12. Necessidade de Assistência Técnica do Consumidor Final Quadro 4.1.10 - Necessidade de Assistência Técnica do Consumidor Final Necessidade de Assistência Técnica Freqüência Freqüência Relativa Baixa = 1 2 3 4 Alta = 5 NR Total 21 11 09 09 08 05 63 33,3% 17,5% 14,3% 14,3% 12,7% 7,9% 100,0% Uma grande parcela dos respondentes (50,8%) indicou que seus consumidores finais necessitam de pouca assistência técnica. Tal comportamento parece ser consistente com a familiaridade demonstrada com o tipo de produto (ver 4.1.7). A necessidade de assistência técnica pode influenciar o desenho dos canais de distribuição. Produtos que requerem grande assistência tendem a ser comercializados pelos próprios fabricantes, em função da dificuldade existente para localizar intermediários capacitados para tal tarefa (Rosenbloom, 1998; Cobra, 1994). Necessidade de Assistência Técnica do Consumidor Final 21 11 9 9 8 5 1 2 3 4 5 NR 89 4.1.13. Canais Diretos e Intermediários Utilizados pelas Empresas Quadro 4.1.11 - Canais Diretos e Intermediários Utilizados pelas Empresas Canal / Intermediário Atacadistas Varejistas Força de Vendas Própria Franquias Supermercados Representantes Independentes Lojas Especializadas Internet Telemarketing Catálogo Mala-Direta Outros Intensidade de Uso do Canal Direto ou Intermediário Não Usado Pequeno 42,9% 27 47,6% 30 27,0% 17 90,5% 57 68,3% 43 34,9% 22 61,9% 39 76,2% 48 71,4% 45 90,5% 57 84,1% 53 81,0% 51 20,6% 13 4,8% 03 7,9% 05 4,8% 03 4,8% 03 25,4% 16 14,3% 09 14,3% 09 14,3% 09 3,2% 02 11,1% 07 3,2% 02 Médio Grande NR 11,1% 07 14,3% 09 12,7% 08 0,0% 0 9,5% 06 14,3% 09 4,8% 03 7,9% 05 7,9% 05 1,6% 01 3,2% 02 3,2% 02 23,8% 15 31,7% 20 50,8% 32 3,2% 02 15,9% 10 23,8% 15 17,5% 11 0,0% 00 4,8% 03 3,2% 02 0,0% 0 9,5% 06 1,6% 01 1,6% 01 1,6% 01 1,6% 01 1,6% 01 1,6% 01 1,6% 01 1,6% 01 1,6% 01 1,6% 01 1,6% 01 3,2% 02 Os canais diretos e intermediários mais utilizados pelas empresas são, respectivamente, a força de vendas própria (71,4%), os representantes independentes (63,5%), atacadistas (55,6%) e varejistas (50,8%). Franquias e catálogos de vendas, no entanto, foram citados por apenas 7,9% dos respondentes. Também é possível destacar a ainda baixa presença da internet e do telemarketing como canais diretos entre as empresas fluminenses. 90 Total 100,0% 63 100,0% 63 100,0% 63 100,0% 63 100,0% 63 100,0% 63 100,0% 63 100,0% 63 100,0% 63 100,0% 63 100,0% 63 100,0% 63 A análise dos canais diretos e intermediários mais utilizados, mostra a forte presença da força de vendas própria (50,8%), dos varejistas (31,7%) e dos atacadistas (23,8%). O uso de representantes independentes, neste caso, cai para 23,8%. A internet e a mala-direta não foram citadas por nenhum dos respondentes como canais diretos muito utilizados. Canais de Distribuição Utilizados pelas Empresas 80% 71% 70% 60% 63% 56% 51% 50% 40% 30% 20% 37% 30% 27% 22% 16% 14% 8% 8% 10% 0% 91 4.1.14. Quantidade de Canais Diretos e Intermediários Utilizada pelas Empresas Quadro 4.1.12 - Quantidade de Canais Diretos e Intermediários Utilizada pelas Empresas Quantidade Freqüência 9/8 7/6 5/4 3/2 1 NR Total 05 12 16 24 05 01 63 Freqüência Relativa 7,9% 19,0% 25,4% 38,1% 7,9% 1,6% 100,0% Apenas cinco empresas, ou seja, 7,9% da amostra afirmaram utilizar apenas um canal direto ou intermediário para a distribuição de seus produtos, o que confirma a relevância do estudo. Quantidade de Canais Utilizados pelas Empresas 24 16 12 5 5 1 9/8 canais 92 7/6 canais 5/4 canais 3/2 canais 1 canal NR 4.1.15. Canais Diretos e Intermediários Abandonados pelas Empresas Quadro 4.1.13.1 - Canais Diretos e Intermediários Abandonados pelas Empresas Canal / Intermediário Atacadistas Varejistas Força de Vendas Própria Franquias Supermercados Representantes Independentes Telemarketing Lojas Especializadas Total Freqüência Freqüência Relativa 02 02 3,2% 3,2% 02 3,2% 01 03 1,6% 4,8% 03 4,8% 01 01 07 1,6% 1,6% 11,1% Na amostra pesquisada, sete respondentes (11,1%) afirmaram ter deixado de utilizar algum canal de distribuição ou intermediário. Os canais diretos e intermediários mais citados foram os supermercados e os representantes independentes, que foram descartados por três empresas cada. É importante ressaltar que boa parte da literatura sobre o gerenciamento de canais aborda a questão da dificuldade que existe para a modificação da estrutura dos canais de distribuição, em função das relações de longo prazo estabelecidas entre as empresas que os compõem (McVey, 1960; Kolter, 1993; Day, 1990). Os motivos mais citados para a desistência de canais diretos e intermediários foram: insatisfação com o nível dos serviços oferecidos (6,3%) e busca por redução de custos (4,8%). Cabe destacar que o questionário inicialmente elaborado não abordava a questão de abandono de canais. Tal questão surgiu durante a execução dos pré-testes em 93 função da ocorrência de tal evento em duas das empresas pesquisadas. Os respondentes puderam citar até três motivos para a desistência de canais no questionário. Canais Abandonados pelas Empresas Telemarketing Lojas Especializadas 7% 7% Representantes Comerciais 20% Supermercados 20% Atacadistas 13% Varejistas 13% Força de Vendas Própria Franquias 13% 7% Quadro 4.1.13.2 – Motivo da Desistência dos Canais Diretos e Intermediários Abandonados Motivo da Desistência Busca por redução de custos Insatisfação com nível dos serviços oferecidos pelo canal Busca por redução de conflitos entre canais Mudança no comportamento de compra do consumidor Solicitação/iniciativa do próprio intermediário Outros 94 03 04 Freqüência Relativa 4,8% 6,3% 02 0 3,2% 0,0% 01 01 1,6% 1,6% Freqüência Motivos para o Abandono de Canais Iniciativa do canal 9% O utros 9% R edução de custos 27% R edução de conflitos entre canais 18% Insatisfação com serviços 37% 95 4.1.16. Novos Canais Diretos e Intermediários Adotados pelas Empresas Quadro 4.1.14.1 - Novos Canais Diretos e Intermediários Adotados pelas Empresas Canal / Intermediário Atacadistas Varejistas Força de Vendas Própria Franquias Supermercados Representantes Independentes Lojas Especializadas Internet Telemarketing Catalogo Mala-Direta Outros Total Não Adicionou Adicionou NR Total 95,2% 60 95,2% 60 96,8% 61 98,4% 62 93,7% 59 90,5% 57 93,7% 59 82,5% 52 87,3% 55 98,4% 62 95,2% 60 93,7% 59 55,6% 35 3,2% 02 3,2% 02 1,6% 01 0,0% 0 4,8% 03 7,9% 05 4,8% 03 15,9% 10 11,1% 07 0,0% 0 3,2% 02 4,8% 03 42,9% 27 1,6% 01 1,6% 01 1,6% 01 1,6% 01 1,6% 01 1,6% 01 1,6% 01 1,6% 01 1,6% 01 1,6% 01 1,6% 01 1,6% 01 1,6% 01 100,0% 63 100,0% 63 100,0% 63 100,0% 63 100,0% 63 100,0% 63 100,0% 63 100,0% 63 100,0% 63 100,0% 63 100,0% 63 100,0% 63 100,0% 63 A maioria dos respondentes (55,6%) afirmou não ter adicionado novos canais diretos ou intermediários à sua estrutura de distribuição nos últimos cinco anos. No 96 entanto, pode-se considerar que a quantidade de empresas que adicionou novos canais ou intermediários (42.9%) é bastante significativa. A internet foi o mais citado (15,9%) pelos respondentes, seguido pelo telemarketing (11,1%) e pelos representantes independentes (7,9%). As franquias e as vendas por catálogo não foram citadas por nenhum dos respondentes. Novos Canais de Distribuição Utilizados pelas Empresas Outros 8% Mala-Direta 5% Telemarketing 18% Força de Vendas AtacadistasVarejistas Própria 5% 5% 3% Supermercados 8% Internet 27% Representantes Comerciais 13% Lojas Especializadas 8% Quadro 4.1.14.2 – Motivo para Adoção de Novos Canais Diretos e Intermediários Motivo da Adoção Atendimento a novos segmentos de consumidores Atendimento a novos consumidores dos segmentos já atendidos pela empresa Atendimento a novas regiões geográficas Redução da dependência em relação aos canais tradicionais Busca por redução de custos Busca por maior nível de serviço ou por novos serviços Reação a movimento da concorrência Freqüência Relativa Freqüência 12 19,0% 11 17,5% 13 20,6% 07 11,1% 07 11,1% 07 11,1% 04 6,3% 97 Mudança no comportamento de compra do consumidor Solicitação/iniciativa do próprio intermediário Outros 08 12,7% 02 3,2% 03 4,8% Os motivos mais citados para a adoção de novos canais diretos e intermediários foram o atendimento a novas regiões geográficas (20,6%), o atendimento a novos segmentos de consumidores (19,0%) e o atendimento a novos consumidores dos segmentos já atendidos pela empresa (17,5%). A solicitação do próprio intermediário (3,2%) e a reação a movimentos da concorrência (6,3%) foram os motivos menos citados pelos respondentes. Os respondentes puderam citar até três motivos para a adoção de novos canais diretos e intermediários no questionário. Motivos para a Adoção de Novos Canais de Distribuição Mudança no comportamento de compra 11% Solicitação do intermediário 3% Outros 4% Novos segmentos de consumidores 16% Reação a movimento da concorrência 5% Novos consumidores dos segmentos já atendidos pela empresa 15% Maior nível de serviço 9% Redução de custos 9% 98 Redução da dependência dos canais 9% Novas regiões geográficas 19% 4.1.17. Gerenciamento dos Canais Diretos e Intermediários Quadro 4.1.15.1 - Estratégias de Cobertura de Mercado Estratégia de Cobertura de Mercado Exclusiva Seletiva Intensiva / Massificada NR Total Freqüência 22 15 23 03 63 Freqüência Relativa 34,9% 23,8% 36,5% 4,8% 100,0% A estratégia de cobertura de mercado adotada apresenta distribuição bem equilibrada, com presença pouco mais elevada das empresas que buscam cobertura massificada (36,5%) e das empresas que optam por distribuição exclusiva (34,9%). Estratégia de Cobertura de Mercado Intensiva / Massificada 36% NR 5% Exclusiva 35% Seletiva 24% 99 Quadro 4.1.15.2 - Critérios de Divisão de Mercado Critério de Divisão de Mercado Freqüência Não há Por região geográfica Por tipo de cliente Por tipo de produto Por tarefas executadas Outras 18 30 19 13 0 02 Freqüência Relativa 28,6% 47,6% 30,2% 20,6% 0,0% 3,2% O critério mais utilizado de divisão de mercado entre os canais diretos e intermediários pelas empresas é o geográfico (47,6%), seguido da divisão por tipo de cliente (30,2%). A divisão geográfica é considerada uma das formas mais simples de segmentação em função da facilidade para a delimitação de fronteiras entre os intermediários. É importante ressaltar que um percentual bastante significativo dos respondentes (28,6%) disse não utilizar qualquer critério para delimitar a área de atuação de seus canais diretos e intermediários. Nenhum dos respondentes citou a divisão por tipo de tarefa executada, onde os canais diretos e intermediários funcionariam como uma cadeia vertical, executando atividades complementares e seqüenciais. Critérios para a Divisão de Mercado entre os Canais de Distribuição Por tipo de produto 16% Por tipo de cliente 23% 100 Outras 2% Não há 22% Por região geográfica 37% Quadro 4.1.15.3 - Similaridade da Política de Preços Similaridade da Política de Preços Similar = 1 2 3 4 Diferenciada = 5 NR Total Freqüência 19 08 12 10 06 08 63 Freqüência Relativa 30,2% 12,7% 19,0% 15,9% 9,5% 12,7% 100,0% Um percentual elevado (30,2%) de respondentes afirmou utilizar políticas de preços totalmente similares. Este percentual foi de apenas 9,5% para os respondentes que afirmaram utilizar políticas totalmente diferenciadas de preços. Este grau de similaridade pode representar risco para as empresas e seus intermediários. Diferentes intermediários possuem diferentes estratégias, capacidades e limitações. Atacadistas tendem a exigir preços mais competitivos do que varejistas, em função do conjunto de atividades que eles executam para os fabricantes. Ao praticar políticas de preços similares para diferentes canais diretos e intermediários, a empresa pode estar dando início a uma série de conflitos entre seus canais. Similaridade da Política de Preços Diferenciada = 5 10% NR 13% Similar = 1 29% 4 16% 3 19% 2 13% 101 Quadro 4.1.15.4 - Similaridade da Política Promocional Similaridade da Política Promocional Freqüência Similar = 1 2 3 4 Diferenciada = 5 NR Total 16 06 11 09 09 12 63 Freqüência Relativa 25,4% 9,5% 17,5% 14,3% 14,3% 19,0% 100,0% Pouco mais de 25% dos respondentes afirmou praticar políticas totalmente similares contra 14,3% que afirmou utilizar políticas totalmente diferenciadas. Assim como no caso da política de preços, uma política promocional muito similar pode representar risco na medida em que as necessidades dos diferentes canais podem ser bastante distintas no que diz respeito ao suporte promocional fornecido pelos fabricantes. Este item foi o que obteve o mais alto percentual de não resposta do questionário (19%), o que pode indicar maior dificuldade para coletar dados e avaliar tais políticas por parte dos respondentes. Similaridade da Política Promocional NR 19% Similar = 1 26% Diferenciada = 5 14% 4 14% 102 3 17% 2 10% Quadro 4.1.15.5 - Conflitos entre Canais Conflitos entre Canais Inexistente Medianos Intensos NR Total Freqüência 17 28 14 04 63 Freqüência Relativa 27,0% 44,4% 22,2% 6,3% 100,0% A grande maioria dos respondentes (66,6%) admite a existência de conflitos entre seus canais diretos e intermediários. A maior parte desses respondentes, no entanto, afirma que estes conflitos são apenas medianos. A freqüência de respondentes que afirmam não existir conflitos entre seus canais diretos e intermediários (27%) causa alguma surpresa em função das respostas colhidas nas questões anteriores. É possível que parte dos respondentes não disponha de ferramentas consistentes para detectar a existência de conflitos, bem como para avaliar sua intensidade. Também é possível que algumas empresas resistam a admitir a existência de conflitos, pois estes poderiam indicar uma falha no gerenciamento de seus canais diretos e intermediários. 103 4.2. Teste de Hipóteses H1. As políticas de distribuição adotadas por empresas brasileiras localizadas no Estado do Rio de Janeiro estão associadas a determinadas características das próprias empresas e de seus mercados de atuação. Procurou-se testar, inicialmente, se as políticas de distribuição adotadas pelas empresas estariam associadas a características das empresas e de seus mercados de atuação. Foram testadas três políticas de distribuição: exclusiva, seletiva e intensiva. Para o teste de hipóteses utilizou-se a análise discriminante múltipla, método direto. Foi possível rejeitar a hipótese nula apenas para uma das funções discriminantes (ver quadro 4.2.1). Obteve-se, para a função 1, um lambda de Wilks de 0,3607, quiquadrado de 42,828 e significância de 0,005, inferior, portanto, ao nível adotado de 0,05. No caso da função 2 não foi possível rejeitar a hipótese nula. Função 01 02 Quadro 4.2.1 Teste de Hipótese H1 Lambda de Wilks Qui-Quadrado 0,3607 42,828 1,7948 9,644 Significância 0,005 0,4722 Esses resultados indicam que dois, entre os três grupos analisados, apresentam diferenças significativas entre si. Para verificar as diferenças específicas entre os grupos, foi realizada uma análise discriminante simples dos grupos dois a dois, método direto, para identificar quais dos três grupos de empresas, em função de suas políticas de distribuição, apresentavam diferenças significativas entre si no que diz respeito às suas características e de seus mercados de atuação. Os resultados da análise discriminante dois a dois (ver quadro 4.2.2), utilizando o método direto, mostram, efetivamente, que 104 as diferenças só se mostram significativas para os grupos de empresas que praticam a distribuição exclusiva versus as que praticam a distribuição intensiva. As diferenças existentes entre os grupos de empresas que utilizam estratégias de cobertura de mercado exclusivas e seletivas e entre os grupos que utilizam estratégias seletivas e intensivas não estão associadas às características das empresas e de seus mercados de atuação. Quadro 4.2.2 Teste de Hipótese H1 – Sub-Hipóteses 01 a 03 Lambda de QuiSub-Hipóteses Estratégia de Cobertura Wilks Quadrado 01 Exclusiva x Seletiva 0,5828 12.688 02 Seletiva x Intensiva 0,5828 12.688 03 Exclusiva x Intensiva 0,2995 33.152 Significância 0,3142 0,3142 0,0005 Dessa forma, a hipótese 1 só pode ser rejeitada parcialmente, para o caso específico da distribuição exclusiva comparada à intensiva. Trata-se, evidentemente, das duas estratégias limítrofes, sendo a estratégia seletiva uma espécie de caso intermediário entre as duas, o que pode explicar a não obtenção de resultados significativos quando se compara a estratégia seletiva com as outras duas. As variáveis que melhor discriminam as empresas que usam distribuição exclusiva e intensiva são, nesta ordem, a necessidade de assistência técnica e manutenção do consumidor final, o número de estados atendidos pelas empresas, o número de clientes ativos das empresas, a necessidade de crédito do consumidor final e a freqüência de compra do consumidor final. O quadro 4.2.3 apresenta as médias, os desvios-padrão e os coeficientes discriminantes obtidos na análise. O valor do 105 coeficiente discriminante, independente de sinal, indica o maior ou menor poder da variável em discriminar entre os grupos. As empresas que adotam estratégias de cobertura mais intensiva tendem a possuir maior número de clientes e a atender maior número de estados que as empresas que adotam estratégias exclusivas. Sendo o objetivo da estratégia de cobertura intensiva o de garantir presença no maior número possível de pontos de venda, parece lógico que as empresas que a utilizem estejam presentes em mais estados e atendam a mais clientes. Embora esta variável tenha menor poder discriminante, é interessante perceber que as empresas com estratégias de distribuição intensivas são significativamente maiores que as empresas com estratégias de distribuição exclusivas. Isto pode estar associado ao enfoque estratégico adotado. Embora o uso de diferentes estratégias competitivas genéricas (Porter, 1986) não tenha sido pesquisado no presente estudo, é provável que as estratégias de distribuição exclusivas estejam associadas a estratégias genéricas do tipo enfoque, geralmente praticadas por empresas menores, que escolhem atender a um ou poucos segmentos de mercado. Por outro lado, o uso de estratégias de distribuição intensivas sugere a adoção de estratégias de atendimento ao mercado total (que poderiam ser tanto estratégias competitivas genéricas de diferenciação ou de liderança de custo). Os consumidores das empresas com estratégias intensivas tendem a necessitar de menos assistência técnica e manutenção e menos crédito que os consumidores das empresas com estratégias de cobertura exclusivas. Eles também compram com maior freqüência e de forma menos planejada, embora esta última variável também tenha menor poder discriminante. Isto sugere que as empresas que adotam distribuição 106 intensiva tendem a comercializar produtos de consumo de massa, enquanto as que adotam distribuição exclusiva tendem a comercializar possivelmente produtos de consumo de maior valor unitário, tais como bens duráveis, ou produtos industriais. Tais conclusões são coerentes com a revisão bibliográfica. A freqüência de compra mais elevada e a compra feita de forma pouco planejada estimulam as empresas a buscar presença de seus produtos no maior número possível de pontos de venda para garantir proximidade com o consumidor. A baixa necessidade de crédito e de assistência técnica e manutenção também facilitam a ampliação do número e da variedade de intermediários, ao colocar menos restrições técnicas e financeiras para a venda dos produtos. Quadro 4.2.3 Médias, Desvio-Padrão e Coeficientes Discriminantes da Hipótese 1 (Distribuição Exclusiva x Distribuição Intensiva) Médias Desvios-Padrão Variável Coeficientes Grupo 01 Grupo 02 Grupo 01 Grupo 02 Discriminante Distribuição Distribuição Distribuição Distribuição Discriminantes Exclusiva Intensiva Exclusiva Intensiva Nº de Empregados Nº de Clientes Nº de Estados Nº de Itens Crescimento do mercado Estágio do CVP Quantidade comprada Freqüência de compra Forma de compra Necessidade de crédito Necessidade de assistência técnica 172 949 137 1.125 -0,12095 530 14 785 5.616 21 685 919 09 1,234 10.994 08 1.609 0,91170 (3º) 0,98864 (2º) -0,01697 1,44 1,74 1,09 3,99 -0,31897 3,13 2,95 0,62 0,40 0,08692 2,69 2,53 1,45 0,96 -0,15483 2,88 3,11 1,45 1,29 0,52637 (5º) 4,31 3,42 1,25 1,54 0,21973 3,56 2,00 1,50 1,56 -0,68826 (4º) 3,31 1,68 1,58 1,29 -1,02260 (1º) 107 H2. O uso de canais diretos por empresas brasileiras localizadas no Estado do Rio de Janeiro está associado a determinadas características das próprias empresas e de seus mercados de atuação. A segunda hipótese foi subdividida em cinco sub-hipóteses, cada uma relacionada com um dos canais diretos pesquisados. Para o teste das sub-hipóteses utilizou-se a análise discriminante, método direto. Em cada teste foram utilizados dois grupos: o de empresas que utilizavam esse canal direto e o de empresas que não o utilizavam. Os testes das sub-hipóteses permitiram rejeitar a hipótese nula em três das cinco alternativas. A utilização de força de vendas própria e da Internet não parece estar associada às características das empresas estudadas e de seus mercados de atuação. Os resultados obtidos nos testes são apresentados no quadro 4.2.4. Quadro 4.2.4 Teste de Hipótese H2 – Sub-Hipóteses 2.1 a 2.5 SubLambda de Canal de Distribuição Qui-Quadrado Hipótese Wilks 2.1 Força de Vendas 0,8071 8,999 Própria 2.2 Internet 0,6224 19,913 2.3 Telemarketing 0,5205 27,241 2.4 Catálogo 0,5631 24,116 2.5 Mala-Direta 0,9000 5,006 108 Significância 0,7030 0,0688 0,0067 0,0196 0,0253 Utilização de Força de Vendas Própria No que se refere ao teste da sub-hipótese 2.1, não foi possível rejeitar a hipótese nula, não se tendo atingido o nível de significância de 0,05. Desta forma, não é possível afirmar que as empresas que utilizam força de vendas própria se diferenciem das que não utilizam em função de suas características próprias e das de seus mercados de atuação. Utilização da Internet No que se refere ao teste da sub-hipótese 2.2, não foi possível rejeitar a hipótese nula, não se tendo atingido o nível de significância de 0,05. Desta forma, não é possível afirmar que as empresas que utilizam Internet se diferenciem das que não utilizam em função de suas características próprias e das de seus mercados de atuação. Utilização de Telemarketing O telemarketing é utilizado como canal de distribuição por 27,0% das empresas que compõem a amostra, indicando a rápida aceitação que ele vem obtendo entre as empresas brasileiras. O teste da sub-hipótese 2.3, utilizando a análise discriminante, permitiu rejeitar a hipótese nula, com uma probabilidade de 0,0067, superior ao nível de significância adotado. Assim sendo, também com relação às empresas que utilizam telemarketing como canal de distribuição direto, pode-se afirmar que essas se diferenciam das que não o utilizam por suas características e de seus mercados de atuação. 109 As principais variáveis discriminantes para as empresas que utilizam este canal são, em ordem decrescente de poder discriminante, o número de clientes ativos da empresa, a freqüência de compra do consumidor final, a extensão da linha de produtos da empresa, a necessidade de crédito do consumidor final e o número de estados atendidos pela empresa. O quadro 4.2.5 apresenta as médias, os desvios-padrão e os coeficientes discriminantes utilizados na análise. As empresas que utilizam o telemarketing como canal de distribuição tendem a possuir um número maior de clientes cadastrados e a atender um número maior de estados do que aquelas que não o utilizam. O uso de telemarketing pode estar associado à busca por reduções de custos no atendimento a clientes, principalmente na etapa de negociação (especialmente quando elas forem rotineiras). Tal fato parece ser confirmado pela freqüência de compra mais elevada por parte dos consumidores das empresas que utilizam este canal, associado ao pequeno volume de compras dos consumidores (embora esta variável tenha menor poder discriminante). Outro fator que contribui para a confirmação deste argumento é o de que as empresas que utilizam este canal também tendem a trabalhar com linhas de produtos significativamente mais amplas do que as não-usuárias. Utilizando o telemarketing, a empresa pode concretizar vendas sem a necessidade de manutenção de estoques próximos ao local de consumo, o que tende a se tornar mais oneroso com a ampliação da linha de produtos. Finalmente, outra variável que distingue empresas que utilizam o telemarketing é a necessidade de crédito mais reduzida. Levando em consideração que as compras realizadas pelos consumidores finais tendem a ocorrer com alta freqüência e em 110 pequenas quantidades, é possível concluir que a necessidade de crédito dos mesmos seja pequena, em termos absolutos, já que o valor financiado tende a ser pequeno. Quadro 4.2.5 Médias, Desvio-Padrão e Coeficientes Discriminantes da Sub-Hipótese 3 (Utilização de Telemarketing) Médias Desvios-Padrão Variável Coeficientes Grupo 01 Grupo 01 Grupo 02 Grupo 02 Discriminante Discriminantes NãoNãoUsuários Usuários Usuários Usuários Nº de Empregados Nº de Clientes Nº de Estados Nº de Itens Estratégia de Cobertura Crescimento do mercado Estágio do CVP Quantidade comprada Freqüência de compra Forma de compra Necessidade de crédito Necessidade de assistência técnica 426 720 559 1.205 -0,48663 1.853 17 693 5.346 22 3.491 2.531 10 1.316 12.933 06 6.803 1,20150 (1º) 0,64320 (5º) 0,90138 (3º) 2,03 2,14 0,88 0,77 -0,56493 1,56 1,71 0,96 1,07 -0,34638 3,08 2,71 0,50 0,47 -0,23188 2,78 2,71 1,20 1,49 -0,27847 2,89 3,43 1,30 1,28 1,04656 (2º) 3,81 3,93 1,49 1,07 0,30796 2,97 2,79 1,70 1,25 -0,66303 (4º) 2,39 2,71 1,59 1,44 -0,08830 Utilização de Catálogos As empresas pesquisadas fazem uso bastante limitado de catálogos. Apenas 8% das empresas pesquisadas afirmaram utilizar esta modalidade de canal. Ele pode enfrentar uma série de restrições no mercado brasileiro em função de questões como 111 falta de infra-estrutura adequada para garantir níveis de serviço satisfatórios e o conseqüente aumento dos custos e da desconfiança dos consumidores. O teste da sub-hipótese 2.4 permitiu rejeitar a hipótese nula, obtendo-se lambda de Wilks de 0,5631, qui-quadrado de 24,116, com probabilidade de 0,0196 de se haver erroneamente rejeitado a hipótese nula (inferior, portanto, ao nível de significância de 0,05 adotado no estudo). Pode-se afirmar, portanto, que as empresas que utilizam catálogos se diferenciam das que não utilizam a partir de certas características próprias e de seus mercados de atuação. As variáveis que melhor discriminam os usuários deste canal de distribuição direto são, em ordem decrescente de poder discriminante, a quantidade comprada pelo consumidor final, a extensão da linha de produtos da empresa, a forma de compra do consumidor final, o estágio do produto no ciclo de vida, e a necessidade de crédito do consumidor final. O quadro 4.2.6 apresenta as médias, os desvios-padrão e os coeficientes discriminantes utilizados na análise. As diferenças entre usuários e não-usuários deste canal de distribuição foram bastante significativas. Os consumidores finais destas empresas compram grandes quantidades dos produtos, de forma planejada e com grande necessidade de crédito. A freqüência de compra também tende a ser mais elevada, embora esta variável tenha apresentado menor poder discriminante. Tais características, associadas ao baixo número de empresas que utilizam catálogos, podem sugerir que sua utilização esteja associada à venda para mercados industriais ou institucionais. É possível que a utilização do catálogo surja para suprir 112 deficiências na distribuição para regiões mais remotas e com menor densidade de clientes. Este argumento é reforçado se levarmos em consideração que os produtos comercializados por estas empresas encontram-se, em geral, na fase de maturidade e com crescimento estável da demanda (embora esta variável possua menor poder discriminante), o que pode trazer uma preocupação maior com redução dos custos de distribuição e entrega de produtos apenas sob encomenda. As empresas que utilizam catálogos trabalham com linhas de produtos mais que cinco vezes mais amplas que as das empresas que não os utilizam. Esta característica é consistente com a análise até aqui realizada. Empresas que atendem a mercados institucionais e industriais, fornecendo peças e acessórios, tendem a trabalhar com linhas mais amplas. A amplitude da linha acaba tornando o uso de catálogos ainda mais vantajoso, em função do custo proibitivo de manter estoques ao longo do canal. Finalmente, é interessante notar que as empresas que utilizam este canal tendem a ser bem menores e a possuir menos clientes que aquelas que não o utilizam. Embora estas variáveis tenham baixo poder discriminante, elas podem indicar que empresas de pequeno porte podem recorrer a catálogos em função da dificuldade de acesso aos canais tradicionais e que esta modalidade pode fazer mais sentido para empresas cuja base de clientes seja bem reduzida. 113 Quadro 4.2.6 Médias, Desvio-Padrão e Coeficientes Discriminantes da Sub-Hipótese 4 (Utilização de Catálogos) Médias Desvios-Padrão Variável Coeficientes Grupo 01 Grupo 01 Grupo 02 Grupo 02 Discriminante Discriminantes NãoNãoUsuários Usuários Usuários Usuários Nº de Empregados Nº de Clientes Nº de Estados Nº de Itens Estratégia de Cobertura Crescimento do mercado Estágio do CVP Quantidade comprada Freqüência de compra Forma de compra Necessidade de crédito Necessidade de assistência técnica 530 168 811 202 -0,27285 2.989 18 1.143 350 15 6.706 7.374 09 2.907 278 10 11.512 0,22453 0,35292 0,85230 (2º) 2,06 2,00 0,84 1,00 0,13134 1,64 1,00 0,98 1,00 -0,046754 2,96 3,33 0,51 0,58 0,54173 (4º) 2,66 4,33 1,22 1,15 1,22473 (1º) 3,02 3,33 1,31 1,53 -0,41890 3,77 5,00 1,39 0,00 0,56486 (3º) 2,85 4,00 1,59 1,00 -0,47752 (5º) 2,44 2,00 1,57 1,00 0,04305 Utilização de Mala-Direta A mala-direta é utilizada por apenas 14,3% das empresas da amostra. Este canal provavelmente enfrenta os mesmos tipos de restrições enfrentadas pela venda por catálogo para conquistar maior aceitação por parte dos consumidores e das próprias empresas. O teste da sub-hipótese 2.5 permitiu rejeitar a hipótese nula, com uma probabilidade de 0,0253 de rejeição errônea da mesma, o que sugere que as empresas 114 que utilizam mala direta em sua distribuição podem se diferenciar das que não utilizam essa modalidade. As variáveis que melhor discriminam as empresas que utilizam das que não utilizam mala direta são, nesta ordem, a necessidade de crédito do consumidor final, o número de funcionários da empresa, a taxa de crescimento do mercado, a estratégia de cobertura de mercado e a extensão da linha de produtos da empresa. O quadro 4.2.7 apresenta as médias, os desvios-padrão e os coeficientes discriminantes utilizados na análise. As empresas que utilizam mala-direta apresentam porte significativamente menor que aquelas que não utilizam este canal. Esta variável pode estar associada com a dificuldade que empresas de menor porte tendem a encontrar para ter acesso aos canais diretos e intermediários tradicionais. A estratégia de cobertura destas empresas é menos intensiva do que as das demais empresas. É possível que elas atendam a nichos de mercado bem delimitados. Esta suposição pode ser confirmada pela menor base de clientes que estas empresas possuem (apesar desta variável possuir baixo poder discriminante). Estas empresas trabalham com linhas de produtos mais extensas, o que parece ser um traço em comum das empresas que utilizam canais não-tradicionais de distribuição. Linhas de produtos amplas, aparentemente, tendem a inibir a utilização de canais diretos e intermediários tradicionais, possivelmente em função de dificuldades relacionadas à manutenção de um grande sortimento de produtos em estoque. Os consumidores finais de seus produtos também possuem grande necessidade de fornecimento de crédito. Este fato pode estar associado ao volume de compras mais 115 elevado dos usuários deste canal (embora esta variável possua baixo poder discriminante). Aliás, é interessante notar que existe uma clara distinção entre o comportamento dos consumidores finais das empresas usuárias e não-usuárias deste canal. Além das variáveis já mencionadas, estes consumidores tendem a comprar com maior freqüência, a realizar suas compras de forma planejada e a possuir grande necessidade de assistência técnica. Por fim, cabe mencionar que o mercado em que tais empresas atuam apresentam taxas de crescimento inferiores às dos mercados de atuação das empresas que não utilizam mala-direta. Quadro 4.2.7 Médias, Desvio-Padrão e Coeficientes Discriminantes da Sub-Hipótese 5 (Utilização de Mala-Direta) Médias Desvios-Padrão Variável Coeficientes Grupo 01 Grupo 01 Grupo 02 Grupo 02 Discriminante Discriminantes NãoNãoUsuários Usuários Usuários Usuários Nº de Empregados Nº de Clientes Nº de Estados Nº de Itens Estratégia de Cobertura Crescimento do mercado Estágio do CVP Quantidade comprada Freqüência de compra Forma de compra Necessidade de crédito Necessidade de assistência técnica 116 573 112 835 130 -0,46335 (2º) 3.203 18 1.211 546 17 3.107 7.680 09 3.032 584 07 7.456 -0,14800 0,10980 0,38539 (5º) 2,09 1,85 0,84 0,90 0,44749 (4º) 1,67 1,14 0,97 1,07 -0,46065 (3º) 2,97 3,00 0,51 0,58 -0,15698 2,70 3,14 1,23 1,57 0,31355 3,02 3,14 1,35 1,07 -0,25096 3,72 4,57 1,42 0,79 0,20120 2,72 4,14 1,59 0,69 0,46823 (1º) 2,37 3,14 1,56 1,35 0,29502 H3. O uso de intermediários por empresas brasileiras localizadas no Estado do Rio de Janeiro está associado a determinadas características das próprias empresas e de seus mercados de atuação. A terceira hipótese foi subdividida em seis sub-hipóteses, cada uma relacionada com um dos intermediários pesquisados. Para o teste das sub-hipóteses utilizou-se a análise discriminante, método direto. Em cada teste foram utilizados dois grupos: o de empresas que utilizavam esse intermediário e o de empresas que não o utilizavam. Os testes das sub-hipóteses permitiram rejeitar a hipótese nula em cinco das seis alternativas. A utilização de representantes independentes não parece estar associada às características das empresas estudadas e de seus mercados de atuação. Os resultados obtidos nos testes são apresentados no quadro 4.2.8. Quadro 4.2.8 Teste de Hipótese H2 – Sub-Hipóteses 3.1 a 3.6 SubLambda de Canal de Distribuição Qui-Quadrado Hipótese Wilks 3.1 Atacadistas 0,5159 27,795 3.2 Varejistas 0,4092 37,256 3.3 Franquias 0,7476 13,819 3.4 Supermercado 0,2639 55,946 3.5 Representantes 0,8167 8,503 Independentes 3.6 Lojas Especializadas 0,7299 14,800 Significância 0,0059 0,0002 0,0002 0,0000 0,7447 0,0006 Utilização de Atacadistas Mais de metade (55,5%) das empresas estudadas utiliza atacadistas para distribuir seus produtos, sendo que 23,8% afirmaram fazer grande utilização deste canal. Este canal provavelmente adquire grande importância para as empresas em função da 117 sua capacidade de prover ampla cobertura geográfica para seus produtos e da sua capacidade para adquiri-los em grandes lotes, representando uma boa oportunidade para o escoamento da produção a um custo mais reduzido. Foi possível rejeitar a hipótese nula, no caso da sub-hipótese 3.1, obtendo-se lambda de Wilks de 0,5159, qui-quadrado de 27,795 e probabilidade de 0,0059 de rejeição errônea da hipótese nula. Desta forma, pode-se afirmar que existem diferenças significativas entre as empresas que utilizam e as que não utilizam atacadistas em função de suas características próprias e das de seus mercados de atuação. As variáveis que melhor discriminaram os grupos de usuários e não-usuários deste canal foram, respectivamente, a estratégia de cobertura de mercado, a necessidade de assistência técnica e manutenção do consumidor final, o número de clientes ativos, o número de estados atendidos e a necessidade de crédito do consumidor final. O quadro 4.2.9 apresenta as médias, os desvios-padrão e os coeficientes discriminantes utilizados na análise. As empresas que utilizam atacadistas tendem a possuir uma estratégia de cobertura mais intensiva, uma menor base de clientes, a atuar em maior número de estados e a possuir clientes com menor necessidade de crédito e de assistência técnica e manutenção. O canal atacadista proporciona às empresas que o utilizam grande capacidade de penetração de mercado com investimentos mais reduzidos, já que ele, geralmente, conta com estrutura especializada para o atendimento a clientes institucionais, que inclui força de vendas e estruturas para armazenagem (Rosenbloom, 1998). 118 Esta capacidade permite que as empresas conjuguem cobertura geográfica mais ampla e base mais restrita de clientes. As empresas que utilizam atacadistas atendem, em média, aproximadamente 20 estados (contra 15 das empresas que não utilizam o canal) e possuem uma média de apenas 2.710 clientes (contra 3.028 das empresas que não utilizam o canal). Tais argumentos se tornam mais fortes ao levarmos em consideração a extensão do território e o elevado grau de pulverização do varejo brasileiro, que servem como estímulo adicional para a utilização de atacadistas. A combinação de grande quantidade de clientes, com pequenos lotes de compras, baixa concentração geográfica e elevada distância entre produtores e mercados consumidores favorece a utilização de canais mais longos, onde os atacadistas atuariam como um dos níveis (Mallen, 1996; Meinberg, s/d; Cobra, 1994). O único resultado que se encontra em aparente contradição com as informações coletadas na revisão da bibliografia seria o relacionado ao número de clientes ativos. Os autores pesquisados sugerem que uma base mais ampla de clientes estimula a utilização de canais mais longos. No entanto, a pesquisa de campo identificou que as empresas que utilizam atacadistas possuem menos clientes ativos. É importante ressaltar que não há, necessariamente, contradição neste fato. A pesquisa de campo inquiriu as empresas sobre o número de clientes por elas diretamente atendidos, e não sobre o número total de clientes existentes no mercado. A utilização de atacadistas permite que as empresas trabalhem com uma base menor de clientes, já que o canal assume a responsabilidade pela cobertura do mercado. 119 A necessidade de assistência técnica e manutenção e a necessidade de crédito foram duas outras variáveis discriminantes que mostraram maior poder explanatório a respeito do uso do canal atacadista. Os consumidores finais dos produtos destas empresas requerem menos crédito (média de 2,68 contra 3,32 em uma escala de 01 a 05) e menos assistência técnica e manutenção (média de 1,94 contra 3,37 em uma escala de 01 a 05) do que os das empresas que não utilizam atacadistas. Tais informações são consistentes com as encontradas na revisão bibliográfica. Embora o fornecimento de crédito e a assistência técnica para os consumidores encontrem-se justamente entre as atividades tipicamente exercidas pelo canal de distribuição (Day, 1990), a utilização de canais mais longos (e, portanto, de atacadistas) tende a ocorrer quando os produtos possuem baixa complexidade, que requerem menor assistência técnica, e quando as empresas possuem pequena capacidade financeira e, portanto, menor capacidade de fornecimento de crédito (Meinberg, s/d; Cobra, 1994). Cabe ressaltar que o método de distribuição atacadista tende a estar associado à utilização de outras modalidades de distribuição. Através da análise de correlação de Spearman, foi possível verificar a existência de associação significativa (superior ao nível de significância adotado de 0,05) entre a utilização de atacadistas com o uso de varejistas (r = 0,635), supermercados (r = 0,555) e lojas especializadas (r = 0,352). 120 Quadro 4.2.9 Médias, Desvio-Padrão e Coeficientes Discriminantes da Sub-Hipótese 1 (Utilização de Atacadistas) Médias Desvios-Padrão Variável Coeficientes Grupo 01 Grupo 01 Grupo 02 Grupo 02 Discriminante Discriminantes NãoNãoUsuários Usuários Usuários Usuários Nº de Empregados Nº de Clientes Nº de Estados Nº de Itens Estratégia de Cobertura Crescimento do mercado Estágio do CVP Quantidade comprada Freqüência de compra Forma de compra Necessidade de crédito Necessidade de assistência técnica 363 598 1.004 628 0,18098 3.028 15 1.634 2.710 20 1.380 11.385 09 4.528 2.496 08 3.518 -0,48367 (3º) 0,38357 (4º) -0,10217 1,42 2,45 0,61 0,72 0,85510 (1º) 1,58 1,61 0,96 1,02 0,09866 3,00 2,97 0,58 0,48 0,12752 2,68 2,81 1,57 1,08 0,14069 2,79 3,19 1,47 1,19 0,00945 4,21 3,61 1,27 1,41 0,12021 3,32 2,68 1,42 1,64 0,38221 (5º) 3,37 1,94 1,57 1,26 -0,55368 (2º) Utilização de Varejistas O canal varejista é utilizado por 50,8% das empresas que compõem a amostra. A pesquisa ainda aponta que 37,1% das empresas utilizam este canal de forma intensa. Este canal vem adquirindo grande importância dentro da economia em geral e da brasileira, em particular. De modo geral, é possível observar acelerado processo de concentração do varejo nas principais economias do mundo, acompanhado de gradual processo de ocupação de espaços e atividades antes executadas pelos atacadistas. O conseqüente 121 crescimento do seu poder de barganha junto à indústria em geral dele faz passagem obrigatória para quem pretende garantir presença junto aos consumidores finais. No Brasil, embora esta tendência também esteja presente, ainda é possível observar grande pulverização do comércio varejista. Esta característica torna a sua utilização necessária para as indústrias (em função da possibilidade de maior cobertura de mercado), embora também exija grandes investimentos (em função da estrutura de comercialização e distribuição necessária para o seu atendimento). No que se refere ao teste da sub-hipótese 3.2, foi possível rejeitar a hipótese nula, obtendo-se lambda de Wilks de 0,4092, qui-quadrado de 37,256 e probabilidade de 0,0002 de rejeição errônea da hipótese nula. Assim sendo, pode-se afirmar que as empresas que utilizam varejistas em sua distribuição diferenciam-se daquelas que não os utilizam em função de certas características próprias e de seus mercados de atuação. As variáveis que melhor discriminam os usuários do canal varejista são a estratégia de cobertura de mercado, o número de clientes ativos da empresa, a quantidade comprada pelo consumidor final, o número de funcionários da empresa e a forma de compra do consumidor final. O quadro 4.2.10 apresenta as médias, os desviospadrão e os coeficientes discriminantes utilizados na análise. Assim como no caso do canal atacadista, as empresas que utilizam varejistas tendem a possuir uma estratégia de cobertura mais intensa que aquelas que não o utilizam. Parece clara a necessidade, para uma empresa que deseja possuir uma cobertura intensa no mercado brasileiro, a necessidade de ter seus produtos expostos neste canal, que possui grande capilaridade. 122 Além disso, estas empresas tendem a possuir um número maior de clientes ativos e de funcionários. A explicação para a base mais extensa de clientes parece estar claramente vinculada à própria pulverização do mercado varejista. No entanto, ao analisarmos a questão do maior porte destas empresas, é possível encontrar justificativas na necessidade de uma estrutura mais complexa para o atendimento do mercado (incluindo estrutura comercial e de distribuição) e na dificuldade que muitas empresas de menor porte encontram (inclusive por não possuir reputação no mercado) para conseguir espaço nas gôndolas dos grandes varejistas. Quadro 4.2.10 Médias, Desvio-Padrão e Coeficientes Discriminantes da Sub-Hipótese 2 (Utilização de Varejistas) Médias Desvios-Padrão Variável Coeficientes Grupo 01 Grupo 01 Grupo 02 Grupo 02 Discriminante Discriminantes NãoNãoUsuários Usuários Usuários Usuários Nº de Empregados Nº de Clientes Nº de Estados Nº de Itens Estratégia de Cobertura Crescimento do mercado Estágio do CVP Quantidade comprada Freqüência de compra Forma de compra Necessidade de crédito Necessidade de assistência técnica 335 656 915 649 -0,28230 (4º) 2.607 15 1.383 3.022 21 1.557 10.362 09 4.189 2.461 08 3.694 0,82709 (2º) -0,18428 0,08708 1,48 2,56 0,66 0,64 -1,04888 (1º) 1,61 1,59 0,94 1,05 0,14908 3,00 2,96 0,60 0,44 0,08803 3,17 2,41 1,64 0,69 0,51561 (3º) 3,22 2,89 1,54 1,09 0,19289 4,39 3,37 1,16 1,39 0,20450 (5º) 3,52 2,41 1,41 1,55 -0,12097 3,13 1,93 1,49 1,38 -0,04009 123 A quantidade comprada pelo consumidor final e o seu comportamento de compra (planejada versus por impulso) também discriminam as empresas usuárias do canal varejista. Este canal tende a ser usado por empresas cujos consumidores compram em menores quantidades e de forma menos planejada que os consumidores das empresas que não o utilizam. Se levarmos em consideração que uma das funções do varejista é a de quebrar os pedidos em lotes menores para viabilizar a aquisição por parte dos consumidores finais, parece lógico que ele seja mais utilizado por empresas cujos clientes compram em lotes menores. Da mesma forma, compras de menor volume tendem a ser feitas de forma rotineira, com pouco planejamento e esforço por parte do consumidor final. Através da análise da correlação de Spearman, podemos verificar ainda que a utilização de varejistas está positiva e significativamente associada à utilização de atacadistas (r = 0,635), que provavelmente atuam como intermediários no relacionamento destes com a indústria, e negativa e significativamente associada à utilização de força de vendas própria (r = -0,372), cuja manutenção provavelmente se torna antieconômica quando a base de clientes se torna muito extensa. Utilização de Franquias As franquias são utilizadas como canais de distribuição por 7,9% das empresas que compõem a amostra. Seu uso limitado pode estar associado à maior complexidade gerencial que este modelo requer, bem como à necessidade de maior investimento na construção de marcas capazes de atrair o interesse de possíveis franqueados. 124 O teste da sub-hipótese 3.3 permitiu rejeitar a hipótese nula, com lambda de Wilks de 0,7476, qui-quadrado de 13,819, com probabilidade de 0,0002 de rejeição errônea da hipótese nula. As empresas usuárias de franquias podem ser diferenciadas, portanto, das não usuárias a partir de suas características e das de seus mercados de atuação. As principais variáveis discriminantes para as empresas que utilizam este canal são, em ordem decrescente de poder discriminante, a extensão da linha de produtos da empresa, a estratégia de cobertura de mercado, a quantidade comprada pelo consumidor final, a necessidade de assistência técnica e manutenção do consumidor final e o número de clientes ativos da empresa. É possível perceber, no entanto, que os grupos de usuários e não-usuários não apresentam diferenças muito expressivas na maior parte das variáveis. O quadro 4.2.11 apresenta as médias, os desvios-padrão e os coeficientes discriminantes utilizados na análise. A variável que melhor distingue as empresas que utilizam franquias das que não utilizam é a amplitude da linha de produtos da empresa. As empresas que utilizam franquias tendem a possuir linhas de produtos quase dez vezes mais amplas do que as empresas que não utilizam este canal. A utilização de franquias, então, pode estar associada a uma preocupação de certas empresas em garantir maior comprometimento (inclusive contratualmente) de seus intermediários no esforço de vendas de toda a sua linha de produtos. As empresas que utilizam franquias tendem a possuir uma base de clientes ligeiramente maior que as das empresas que não utilizam este canal. Do mesmo modo, seus consumidores finais tendem a comprar lotes maiores e a necessitar de maior 125 assistência técnica e manutenção, embora suas médias não sejam elevadas. Suas estratégias de cobertura também tendem a ser mais intensivas que as de empresas não usuárias do canal. Quadro 4.2.11 Médias, Desvio-Padrão e Coeficientes Discriminantes da Sub-Hipótese 3 (Utilização de Franquias) Médias Desvios-Padrão Variável Coeficientes Grupo 01 Grupo 01 Grupo 02 Grupo 02 Discriminante Discriminantes NãoNãoUsuários Usuários Usuários Usuários Nº de Empregados Nº de Clientes Nº de Estados Nº de Itens Estratégia de Cobertura Crescimento do mercado Estágio do CVP Quantidade comprada Freqüência de compra Forma de compra Necessidade de crédito Necessidade de assistência técnica 493 757 802 666 0,18236 2.828 18 988 2.867 22 9.133 7.380 09 2.778 2.802 08 9.972 -0,24875 (5º) 0,05706 0,94111 (1º) 2,02 2,67 0,85 0,58 0,49230 (2º) 1,57 2,00 0,99 1,00 -0,13512 3,00 2,67 0,51 0,58 -0,18914 2,74 3,00 1,29 1,00 0,34460 (3º) 3,04 3,00 1,33 1,00 -0,20018 3,85 3,67 1,38 1,53 0,10016 2,94 2,67 1,59 1,53 -0,23257 2,47 2,67 1,57 1,15 0,33789 (4º) Utilização de Supermercados O supermercado é utilizado por 30,2% das empresas pesquisadas. A participação mais reduzida deste método de distribuição por parte das empresas provavelmente está associada ao escopo mais restrito de linhas de produtos comercializadas através dele. Este argumento é evidenciado no quadro 4.3.4, onde vemos que as empresas que 126 utilizam supermercados tendem a possuir linhas de produtos mais estreitas do que as que não o utilizam. No que se refere ao teste da sub-hipótese 3.4, foi possível rejeitar a hipótese nula, obtendo-se lambda de Wilks de 0,4092, qui-quadrado de 37,256 e probabilidade de 0,0002 de rejeição errônea da hipótese nula. Assim, pode-se afirmar que as empresas que utilizam supermercados se diferenciam de suas congêneres que não os utilizam em função de suas características e de seus mercados de atuação. As variáveis que melhor discriminam as empresas que o utilizam são o número de clientes ativos da empresa, a estratégia de cobertura do mercado, o número de funcionários da empresa, a quantidade comprada pelo consumidor final e o número de estados atendidos pela empresa. O quadro 4.2.12 apresenta as médias, os desvios-padrão e os coeficientes discriminantes obtidos na análise. A estratégia de cobertura mais intensa por parte das empresas que utilizam supermercados é coerente com a base mais ampla de clientes que estas empresas possuem e com o maior número de estados atendidos, assim como o já verificado uso simultâneo de outros métodos de distribuição. As empresas que utilizam supermercados têm um número de funcionários mais que duas vezes maior que as empresas que não os utilizam, sugerindo que as empresas de menor porte podem enfrentar aqui as mesmas barreiras já discutidas na análise do uso de varejistas para escoar seus produtos. A quantidade comprada pelo consumidor final tende a ser menor que a comprada pelos consumidores de empresas que não utilizam supermercados. Embora a 127 variável taxa de crescimento de mercado não tenha apresentado um dos maiores coeficientes discriminantes nesta análise, é possível perceber que as empresas que o utilizam tendem a estar situadas em mercados com crescimento mais acelerado, embora este crescimento seja inferior a 5% ao ano. Quadro 4.2.12 Médias, Desvio-Padrão e Coeficientes Discriminantes da Sub-Hipótese 4 (Utilização de Supermercados) Médias Desvios-Padrão Variável Coeficientes Grupo 01 Grupo 01 Grupo 02 Grupo 02 Discriminante Discriminantes NãoNãoUsuários Usuários Usuários Usuários Nº de Empregados Nº de Clientes Nº de Estados Nº de Itens Estratégia de Cobertura Crescimento do mercado Estágio do CVP Quantidade comprada Freqüência de compra Forma de compra Necessidade de crédito Necessidade de assistência técnica 332 884 761 741 -0,90256 (3º) 2.468 17 1.807 3.602 20 774 8.553 09 4.554 2.497 09 1.733 1,22911 (1º) 0.62908 (5º) 0,44025 1,65 2,94 0,69 0,25 -1,22738 (2º) 1,44 1,94 0,96 1,00 -0,51836 3,00 2,94 0,55 0,44 -0,00703 2,91 2,44 1,44 0,73 0,74222 (4º) 3,00 3,13 1,37 1,20 -0,12228 4,15 3,19 1,21 1,52 0,32745 3,44 1,81 1,35 1,47 -0,12456 2,91 1,56 1,52 1,15 -0,24201 Utilização de Representantes Independentes No que se refere ao teste da sub-hipótese 3.5, não foi possível rejeitar a hipótese nula, não se tendo atingido o nível de significância de 0.05. Desta forma, não é possível afirmar que as empresas que utilizam representantes independentes se diferenciem das 128 que não utilizam em função de suas características próprias e das de seus mercados de atuação. Utilização de Lojas Especializadas As lojas especializadas são utilizadas como métodos de distribuição por 36,5% das empresas que compõem a amostra, sendo que 17,5% das empresas afirmaram fazer uso intenso deste canal. O teste da sub-hipótese 3.6 permitiu rejeitar a hipótese nula, com uma probabilidade de 0,0006 de rejeição errônea da mesma, o que sugere que as empresas usuárias de lojas especializadas em seus canais de distribuição podem se diferenciar das que não utilizam essa modalidade. As variáveis que melhor discriminam as empresas que utilizam este canal são, nesta ordem, a estratégia de cobertura de mercado, a forma de compra do consumidor final, a necessidade de crédito do consumidor final, o número de clientes ativos da empresa e a quantidade comprada pelo consumidor final. O quadro 4.2.13 apresenta as médias, os desvios-padrão e os coeficientes discriminantes utilizados na análise. É possível perceber que, embora as empresas que utilizam lojas especializadas possuam uma estratégia de cobertura de mercado mais intensiva, elas possuem menos clientes cadastrados que as não usuárias deste canal. Este fato talvez possa ser explicado pelo uso simultâneo de mais de um canal de distribuição. O consumidor final dos produtos comercializados através das lojas especializadas tende a comprar volumes menores, a necessitar de menos crédito e a comprar de forma menos planejada que os consumidores das empresas que não usam lojas especializadas. 129 Embora estas variáveis tenham menor poder discriminante, foi possível verificar que as empresas que utilizam as lojas especializadas possuem maior cobertura geográfica (consistente com a estratégia de distribuição mais intensiva) e uma linha de produtos mais extensa que as não-usuárias. Esta última variável pode influenciar o uso de lojas especializadas na medida em que essa modalidade pode fornecer maior apoio de vendas. Quadro 4.2.13 Médias, Desvio-Padrão e Coeficientes Discriminantes da Sub-Hipótese 6 (Utilização de Lojas Especializadas) Médias Desvios-Padrão Variável Coeficientes Grupo 01 Grupo 01 Grupo 02 Grupo 02 Discriminante Discriminantes NãoNãoUsuários Usuários Usuários Usuários Nº de Empregados Nº de Clientes Nº de Estados Nº de Itens Estratégia de Cobertura Crescimento do mercado Estágio do CVP Quantidade comprada Freqüência de compra Forma de compra Necessidade de crédito Necessidade de assistência técnica 130 447 601 869 668 -0,10391 2.972 15 820 2.618 23 2.460 9.143 09 1.616 2.242 06 5.772 -0,37195 (4º) 0,31637 0,33556 1,80 2,45 0,85 0,69 0,80405 (1º) 1,63 1,55 0,93 1,10 -0,20878 2,93 3,05 0,52 0,51 0,26515 3,00 2,40 1,36 1,05 -0,34594 (5º) 3,20 2,80 1,40 1,15 0,04845 4,33 3,10 1,06 1,48 -0,68667 (2º) 3,07 2,70 1,64 1,49 0,37879 (3º) 2,73 2,10 1,68 1,25 0,14668 Verificou-se, ainda, utilizando-se o índice de correlação de Spearman, que o uso de lojas especializadas está associado ao uso de atacadistas (r = 0,352), varejistas (r = 0,495), supermercados (r = 0,259), catálogos (r = 0,252) e telemarketing (r = 0,335). Ele também está inversamente associado à utilização de força de vendas própria (r = 0,274). H4. O uso de estratégias de multi-canais por empresas brasileiras localizadas no Estado do Rio de Janeiro está associado a determinadas características das próprias empresas e de seus mercados de atuação. A quarta hipótese foi testada através de análise discriminante, método direto. As empresas foram divididas em dois grupos: as que utilizam estratégias de multi-canais e as que não utilizam tal estratégia. O teste de hipótese não permitiu rejeitar a hipótese nula. Obteve-se um lambda de Wilks de 0,614, qui-quadrado de 20,497 e significância de 0,058, ligeiramente superior, portanto, ao nível adotado de 0,05. Os resultados obtidos no teste são apresentados no quadro 4.2.14. Função 01 Quadro 4.2.14 Teste de Hipótese H4 Lambda de Wilks Qui-Quadrado 0,614 20,497 Significância 0,058 Embora os resultados não tenham atingido o nível de significância estabelecido, a proximidade com o mesmo sugere a provável existência de uma associação entre o uso ou não de estratégia de multi-canais e as características das empresas, de seus 131 mercados de atuação e suas políticas de distribuição. É possível que o tamanho da amostra tenha dificultado a obtenção de resultados significativos. Com o propósito de refinar a análise, realizou-se uma análise discriminante passo a passo, que permite lidar melhor com as restrições relativas ao tamanho da amostra. Nessa análise são selecionadas apenas as variáveis que melhor discriminam entre os grupos. As demais variáveis que estejam correlacionadas com essas são suprimidas da análise. Os resultados obtidos com a análise passo a passo permitiram rejeitar a hipótese nula, obtendo-se um lambda de Wilks de 0,744, qui-quadrado de 13,868, com 2 graus de liberdade e probabilidade de 0,001 de rejeição errônea da hipótese nula (ver quadro 4.2.15). Apenas duas variáveis foram selecionadas: número de estados de atuação da empresa e políticas de distribuição, nesta ordem. As empresas que utilizam estratégias de multi-canais tendem a atender maior número de estados. Seu coeficiente discriminante, contudo, é ligeiramente inferior ao da segunda variável, políticas de distribuição. As empresas que utilizam estratégias de multi-canais, de forma consistente, utilizam mais políticas de distribuição intensiva do que as que não utilizam essas estratégias. 132 Quadro 4.2.15 Médias, Desvio-Padrão e Coeficientes Discriminantes da Hipótese 4 Método passo a passo Médias Desvios-Padrão Variável Coeficientes Grupo 02 Grupo 02 Grupo 01 Grupo 01 Discriminante Discriminantes Não Não Multicanal Multicanal Multicanal Multicanal 20 12 08 08 0,630 Nº de Estados Estratégia de Cobertura 2,27 2,19 0,84 2,36 0,661 H5: A intensidade percebida dos conflitos entre os canais de distribuição às características a determinadas características das próprias empresas, de seus mercados de atuação e de suas políticas de distribuição. Das empresas pesquisadas, 42 (66,7%) afirmaram que existe algum tipo de conflito entre seus canais diretos e intermediários. Destas, apenas 14 (22,2%) afirmaram que os conflitos entre seus canais são intensos. O teste de hipóteses, realizado através de analise discriminante com método direto, não permitiu rejeitar a hipótese nula (ver quadro 4.2.16). Logo, a intensidade percebida dos conflitos entre os canais diretos e intermediários não parece estar associada às políticas de distribuição adotadas pelas empresas. Grupos 01 02 Quadro 4.2.16 Teste de Hipótese H5 Lambda de Wilks Qui-Quadrado 0,3273 42.440 1,7415 11.367 Significância 0,1518 0,7863 133 Quadro 4.2.17 Síntese dos Testes de Hipóteses – Principais Variáveis Discriminantes Hipótese Sub-Hipótese Descrição Variáveis Discriminantes H1 H2 H2 H2 H3 H3 H3 H3 H3 134 03 03 04 05 01 02 03 04 04 Estratégias Exclusivas X Estratégias Intensivas Necessidade de Assistência Técnica Nº de Estados Nº de Clientes Necessidade de Crédito Freqüência de Compra Utilização de Telemarketing Nº de Clientes Freqüência de Compra Nº de Itens Necessidade de Crédito Nº de Estados Utilização de Catálogos Quantidade Comprada Nº de Itens Forma de Compra Ciclo de Vida do Produto Necessidade de Crédito Utilização de Mala-Direta Necessidade de Crédito Nº Empregados Crescimento do Mercado Estratégia de Cobertura Nº de Itens Utilização de Atacadistas Estratégia de Cobertura Necessidade de Assistência Técnica Nº de Clientes Nº de Estados Necessidade de Crédito Utilização de Varejistas Estratégia de Cobertura Nº de Clientes Quantidade Comprada Nº Empregados Forma de Compra Utilização de Franquias Nº de Itens Estratégia de Cobertura Quantidade Comprada Necessidade de Assistência Técnica Nº de Clientes Utilização de Supermercados Nº de Clientes Estratégia de Cobertura Nº Empregados Quantidade Comprada Nº de Estados Utilização de Lojas Especializadas Estratégia de Cobertura Forma de Compra Necessidade de Crédito Nº de Clientes Quantidade Comprada 5. CONCLUSÕES Esta dissertação teve como objetivo estudar as estratégias de canais diretos e intermediários utilizadas por empresas do setor industrial brasileiro, em especial no que diz respeito à adoção de estratégias de multi-canais, ou seja, a utilização simultânea de mais de um método de distribuição. A pesquisa procurou identificar de que forma as características das empresas e de seus mercados de atuação influenciam a formulação de estratégias e o gerenciamento de seus canais diretos e intermediários, inclusive no caso das estratégias de multi-canais. Algumas conclusões gerais puderam ser alcançadas a partir da pesquisa: # A escolha de estratégias de distribuição está associada a determinadas características das próprias empresas e de seus mercados de atuação. As empresas que adotam estratégias de cobertura intensiva diferem significativamente das que possuem estratégias de cobertura exclusiva. Tais empresas se diferenciam por variáveis como o número de clientes e estados atendidos, assim como a freqüência de compra, a necessidade de crédito e a necessidade de assistência técnica de seus consumidores finais. Tais diferenças indicam que as empresas que utilizam estratégias de cobertura intensiva tendem a ser aquelas que atuam em mercados de bens de consumo de massa, enquanto que aquelas que adotam estratégias de cobertura exclusiva tendem a ser aquelas que atuam em mercados industriais, conforme verificado na revisão da literatura. 135 # A seleção de determinados canais diretos e intermediários está associada a determinadas características das empresas e de seus mercados de atuação. Algumas dessas características, como o número de clientes, a estratégia de cobertura de mercado, a necessidade de crédito do consumidor final e a quantidade comprada pelo consumidor final, foram observadas com grande freqüência como variáveis com maior poder discriminante entre as empresas usuárias e as não-usuárias dos canais diretos e intermediários. # Apenas a utilização de força de vendas própria, representantes independentes e Internet não parece estar associada às características das empresas estudadas e de seus mercados de atuação. Curiosamente, a força de vendas própria (71,4%) e os representantes independentes (63,5%) foram os métodos de distribuição mais utilizados pelas empresas, enquanto que a Internet (15,9%) foi o método mais adotado nos últimos cinco anos. Tal fato pode indicar uso indiscriminado de tais métodos por empresas com as mais variadas características. # A estratégia de multi-canais é utilizada pela maioria (65%) das empresas pesquisadas. Os resultados da pesquisa permitem afirmar que as empresas que adotam estratégias de multi-canais são aquelas que atendem grande número de estados e que utilizam políticas de distribuição intensivas. # Também não foi possível identificar qualquer associação entre as características das empresas e de seus mercados de atuação e a percepção da existência de conflitos entre os canais diretos e intermediários. 136 # O ritmo de adoção de novos métodos de distribuição parece ser bastante intenso no Brasil. Quase metade (42,9%) das empresas pesquisadas declarou ter adicionado algum novo método nos últimos cinco anos, sendo que a internet e o telemarketing foram os mais citados pelos respondentes. # A quantidade de empresas que declarou ter abandonado algum método de distribuição foi bastante limitada, tornando difícil identificar variáveis discriminantes. O presente estudo abre oportunidades para futuras investigações sobre as estratégias e o gerenciamento de canais de distribuição no Brasil. # A intensidade de adoção de novos métodos de distribuição sugere a necessidade de novos estudos para detectar o impacto que os mesmos podem trazer para a estratégia de distribuição das empresas brasileiras. # Estudos de caso podem ajudar a identificar como as empresas brasileiras vêm gerenciando arranjos de multi-canais e os resultados que elas vêm alcançando. # Estudos similares podem ser realizados junto a empresas localizadas em outros Estados brasileiros para verificar se os resultados atingidos nesta pesquisa podem ser generalizados. 137 138 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ! AAKER, D. A. KUMAR, V. DAY, G. S. Pesquisa de Marketing. São Paulo: Atlas, 2001. ! ANDERSON, E. DAY, G. S. RANGAN, V. K. Strategic Channel Design. Sloan Management Review, p. 59-69, Summer 1997. ! BOWERSOX, D. J. CLOSS, D. J. 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